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SUMÁRIO

LÍNGUA PORTUGUESA.......................................................................................................9
INTERPRETAÇÃO E COMPREENSÃO DE TEXTOS............................................................................. 9

CONSTRUÇÃO DE SENTIDO E EFEITOS DE SENTIDO (SEMÂNTICA)............................................ 11

DENOTAÇÃO (SENTIDO LITERAL) E CONOTAÇÃO (SENTIDO FIGURADO); RELAÇÕES LEXICAIS..............11

INTERTEXTUALIDADE........................................................................................................................ 14

GÊNEROS TEXTUAIS........................................................................................................................... 16

TIPOLOGIA TEXTUAL......................................................................................................................... 21

LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL.............................................................................................. 25

FUNÇÕES DA LINGUAGEM................................................................................................................. 25

VARIEDADES LINGUÍSTICAS............................................................................................................. 26

TIPOS DE DISCURSO.......................................................................................................................... 27

ACENTUAÇÃO GRÁFICA.................................................................................................................... 28

ORTOGRAFIA....................................................................................................................................... 29

CLASSE DE PALAVRAS (SUBSTANTIVO, ARTIGO, ADJETIVO, NUMERAL, PRONOME,


VERBO, ADVÉRBIO, PREPOSIÇÃO, CONJUNÇÃO, INTERJEIÇÃO).................................................. 30

ESTRUTURA E FORMAÇÃO DE PALAVRAS...................................................................................... 52

SINTAXE............................................................................................................................................... 55

FRASE, ORAÇÃO, PERÍODO, TERMOS ESSENCIAIS, INTEGRANTES E ACESSÓRIOS DA ORAÇÃO;


CONCORDÂNCIA NOMINAL E VERBAL; REGÊNCIA NOMINAL E VERBAL (CRASE).....................................55

COLOCAÇÃO PRONOMINAL.............................................................................................................. 72

COESÃO E COERÊNCIA....................................................................................................................... 72

PONTUAÇÃO....................................................................................................................................... 76

REDAÇÃO...............................................................................................................................85
INTRODUÇÃO À REDAÇÃO................................................................................................................. 85

MATEMÁTICA BÁSICA.................................................................................................. 111


NÚMEROS INTEIROS: OPERAÇÕES E PROPRIEDADES................................................................111
NÚMEROS RACIONAIS, REPRESENTAÇÃO FRACIONÁRIA E DECIMAL: OPERAÇÕES E
PROPRIEDADES................................................................................................................................114

MÍNIMO MÚLTIPLO COMUM............................................................................................................115

RAZÃO E PROPORÇÃO.....................................................................................................................117

PORCENTAGEM.................................................................................................................................120

REGRA DE TRÊS SIMPLES................................................................................................................122

MÉDIA ARITMÉTICA SIMPLES........................................................................................................123

EQUAÇÕES.........................................................................................................................................123

SISTEMA DE EQUAÇÕES..................................................................................................................125

SISTEMA MÉTRICO: MEDIDAS DE TEMPO, COMPRIMENTO, SUPERFÍCIE E CAPACIDADE.....127

RELAÇÃO ENTRE GRANDEZAS: TABELAS E GRÁFICOS...............................................................129

NOÇÕES DE GEOMETRIA.................................................................................................................131

FORMA.............................................................................................................................................................131

PERÍMETRO......................................................................................................................................................132

ÁREA.................................................................................................................................................................132

VOLUME...........................................................................................................................................................134

TEOREMA DE PITÁGORAS..............................................................................................................................136

NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS.......................................................................... 139


DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS........................................................................139

CONCEITOS, HISTÓRICO E GERAÇÕES DOS DIREITOS HUMANOS............................................154

DIREITOS HUMANOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL....................................................................156

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS (DUDH)...................................................162

CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS............................................................172

LEGISLAÇÃO APLICADA À PMERJ.......................................................................... 183


LEI MARIA DA PENHA – LEI Nº 11.340, 2006................................................................................183

ESTATUTO DA PESSOA IDOSA – LEI Nº 10.741, DE 2003............................................................193

ESTATUTO DA INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA – LEI Nº 13.146, DE 2015..............203


NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO.............................................................. 221
PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.................................................................................221

ORGANIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA...........................................................................225

AGENTES PÚBLICOS........................................................................................................................234

ATOS ADMINISTRATIVOS................................................................................................................247

PODERES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.....................................................................................253

CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA..................................................................................257

BENS PÚBLICOS................................................................................................................................262

SERVIÇOS PÚBLICOS.......................................................................................................................266

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO........................................................................................274

NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL....................................................... 281


APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL E PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL....................281

INQUÉRITO POLICIAL ......................................................................................................................283

AÇÃO PENAL.....................................................................................................................................293

DA PROVA..........................................................................................................................................296

DA PRISÃO, DAS MEDIDAS CAUTELARES E DA LIBERDADE PROVISÓRIA................................300


lei, tanto em sede policial quanto judicial, devendo
o tratamento ser específico e humanizado (art. 28);
z Possibilitou ao juiz o decreto de prisão preventiva
do agressor quando houver riscos à integridade

LEGISLAÇÃO APLICADA À
física ou psicológica da vítima (art. 20);
z Estabeleceu uma série de medidas protetivas de
urgência (art. 22), dentre elas a suspensão da posse
PMERJ ou restrição do porte de armas do agressor, assim
como seu afastamento do lar e a proibição da apro-
ximação e do contato;
z Estabeleceu uma série de medidas protetivas de
urgência à ofendida (art. 23), dentre as quais o
LEI MARIA DA PENHA – LEI Nº 11.340, encaminhamento para programa de proteção, a
DE 2006 recondução ao domicílio após o afastamento do
agressor etc.
A Lei nº 11.340, de 2006, amplamente conhecida
por Lei Maria da Penha, nasceu por força de uma Vamos, então, analisar os pontos mais relevantes
recomendação feita ao Brasil pela Comissão de Direi- da Lei Maria da Penha.
tos Humanos da Organização dos Estados America-
nos (CIDH/OEA). Essa recomendação pedia que o país DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
incluísse em sua legislação mecanismos para coibir a
violência doméstica e familiar contra a mulher. Art. 1º Esta Lei cria mecanismos para coibir e
A Lei Maria da Penha tem essa denominação em prevenir a violência doméstica e familiar contra a
homenagem a Maria da Penha Maia Fernandes, uma mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constitui-
farmacêutica bioquímica cearense, que sobreviveu a ção Federal, da Convenção sobre a Eliminação de
duas tentativas de homicídio por parte de seu então Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da
marido: a primeira, com um tiro nas costas que a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e
deixou paraplégica; e a segunda, por eletrocussão no Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros
chuveiro. Após 20 anos sem que houvesse o julgamen- tratados internacionais ratificados pela República
to do agressor, Maria da Penha recorreu à CIDH/OEA Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos
que entendeu que houve grave omissão no caso e con- Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra
denou o Brasil a indenizar a vítima, a promover com a Mulher; e estabelece medidas de assistência e pro-
teção às mulheres em situação de violência domés-
celeridade o julgamento do agressor e a implementar
tica e familiar.
uma legislação protetiva contra a violência doméstica
Art. 2º Toda mulher, independentemente de classe,
e familiar contra a mulher.
raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível
A Lei Maria da Penha foi inovadora em muitos educacional, idade e religião, goza dos direitos fun-
aspectos e influenciou uma série de outras leis. damentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe
asseguradas as oportunidades e facilidades para
INOVAÇÕES TRAZIDAS PELA LEI MARIA DA PENHA viver sem violência, preservar sua saúde física e
mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e
Trata-se de uma lei que tem grande influência social.
sobre outros dispositivos legais, por conta de seu cará- Art. 3º Serão asseguradas às mulheres as condi-
ter inovador, conforme veremos. ções para o exercício efetivo dos direitos à vida, à
segurança, à saúde, à alimentação, à educação, à
Principais Inovações da Lei Maria da Penha, Lei nº cultura, à moradia, ao acesso à justiça, ao espor-
11.340, de 2006 te, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade,
à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e
z Tipificou e definiu a violência doméstica e familiar comunitária.
contra a mulher (art. 5º); § 1º O poder público desenvolverá políticas que
visem garantir os direitos humanos das mulheres
z Definiu as formas de violência doméstica e fami-
no âmbito das relações domésticas e familiares no
LEGISLAÇÃO APLICADA À PMERJ
liar contra a mulher: física, psicológica, sexual,
sentido de resguardá-las de toda forma de negligên-
patrimonial e moral (art. 7º);
cia, discriminação, exploração, violência, cruelda-
z Determinou que a violência doméstica contra a
de e opressão.
mulher independe de classe, raça, etnia, orienta- § 2º Cabe à família, à sociedade e ao poder público
ção sexual, renda, cultura, nível educacional, ida- criar as condições necessárias para o efetivo exer-
de e religião (art. 2º e art. 5º); cício dos direitos enunciados no caput.
z Determinou que a renúncia à representação só Art. 4º Na interpretação desta Lei, serão conside-
pode ser feita em audiência especialmente desig- rados os fins sociais a que ela se destina e, especial-
nada para tal finalidade (art. 16); mente, as condições peculiares das mulheres em
z Nos casos de violência doméstica e familiar contra situação de violência doméstica e familiar.
a mulher, proibiu as penas de prestação de cesta
básica ou outra prestação pecuniária, assim como VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A
a possibilidade da substituição da pena pelo paga- MULHER
mento isolado de multa (art. 17);
z Garantiu às mulheres em situação de violência Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violên-
doméstica e familiar o acesso à Defensoria Pública cia doméstica e familiar contra a mulher qual-
ou à Assistência Judiciária Gratuita, nos termos da quer ação ou omissão baseada no gênero que 183
lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual a aplicação dos dispositivos da Lei nº 11.340, de 2006.
ou psicológico e dano moral ou patrimonial: Em relações homoafetivas masculinas não há previ-
I - no âmbito da unidade doméstica, compreen- são de incidência da Lei Maria da Penha.
dida como o espaço de convívio permanente de Vale ressaltar que o homem pode ser vítima de vio-
pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as
lência doméstica e familiar, porém, não será aplicada
esporadicamente agregadas;
II - no âmbito da família, compreendida como a
a lei Maria da Penha.
comunidade formada por indivíduos que são ou se
consideram aparentados, unidos por laços natu- Art. 6º A violência doméstica e familiar contra a
rais, por afinidade ou por vontade expressa; mulher constitui uma das formas de violação dos
III - em qualquer relação íntima de afeto, na direitos humanos.
qual o agressor conviva ou tenha convivido com a
ofendida, independentemente de coabitação. Conforme o art. 6º, a violência doméstica e fami-
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas liar contra a mulher constitui uma das formas de vio-
neste artigo independem de orientação sexual. lação dos direitos humanos.

De acordo com o art. 5º, a lei não visa a tratar de DAS FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E
qualquer violência contra mulher, mas, sim, a violên- FAMILIAR CONTRA A MULHER
cia contra a mulher ocorrida no âmbito da unidade
doméstica, no âmbito da família, ou ainda em qual- O art. 7º da Lei Maria da Penha apresenta uma
quer relação íntima de afeto.
lista com algumas das formas de violência doméstica
É importante saber que, para que haja a aplica-
e familiar contra a mulher. Note que o caput, do art.
ção da Lei Maria da Penha, você deve observar se a
7º, inclui a expressão “entre outras”, o que deixa cla-
situação se configura em violência doméstica ocor-
ro que se trata de uma lista exemplificativa, podendo
rida nos termos do art. 5º da lei. Assim, no caso de,
por exemplo, ex-namorado que agride a mulher por existir outras hipóteses, mesmo que não previstas nos
causa do fim do namoro, incide a Lei Maria da Penha. incisos.
Entretanto, se a violência ocorreu por motivo que
não envolva o término do relacionamento não inci- Art. 7º São formas de violência doméstica e fami-
dem os dispositivos da Lei Maria da Penha. Ou seja, liar contra a mulher, entre outras:
para que se dê a aplicação da Lei nº 11.340, de 2006, I - a violência física, entendida como qualquer con-
devem estar presentes os seguintes pressupostos de duta que ofenda sua integridade ou saúde corporal;
forma cumulativa: II - a violência psicológica, entendida como
qualquer conduta que lhe cause dano emocional e
z vítima mulher; diminuição da autoestima ou que lhe prejudique
e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise
z violência praticada nos termos do art. 5º, da Lei nº
degradar ou controlar suas ações, comportamen-
11.340, de 2006.
tos, crenças e decisões, mediante ameaça, constran-
gimento, humilhação, manipulação, isolamento,
vigilância constante, perseguição contumaz, insul-
Importante!
to, chantagem, violação de sua intimidade, ridicu-
Em 5 de abril de 2022, a 6ª Turma do Superior larização, exploração e limitação do direito de ir e
Tribunal de Justiça firmou entendimento que a vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à
Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340, de 2006) é saúde psicológica e à autodeterminação;
aplicável quando a vítima é mulher trans. No Jul- III - a violência sexual, entendida como qualquer
gamento do Resp. 1.977.124, o STJ interpretou conduta que a constranja a presenciar, a manter
que a proteção prevista no art. 5º, da Lei Maria ou a participar de relação sexual não desejada,
mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da
da Penha, se aplica ao gênero feminino (mulhe-
força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de
res, crianças, jovens, adultas idosas e, também,
qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de
trans) e não se baseia apenas no sexo biológico.
usar qualquer método contraceptivo ou que a force
Com tal decisão, portanto, a mulher trans deve ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prosti-
ser considerada sujeito passivo para os termos tuição, mediante coação, chantagem, suborno ou
da proteção integral prevista na Lei nº 11.340, manipulação; ou que limite ou anule o exercício de
de 2006. seus direitos sexuais e reprodutivos;
Vale lembrar que este assunto tem relevância IV - a violência patrimonial, entendida como
não só para o estudo da legislação penal espe- qualquer conduta que configure retenção, subtra-
cial, mas, também, para o estudo da criminolo- ção, destruição parcial ou total de seus objetos, ins-
gia, uma vez que se relaciona com a criminologia trumentos de trabalho, documentos pessoais, bens,
queer (teoria que inclui nos estudos criminoló- valores e direitos ou recursos econômicos, incluin-
gicos os diversos tipos de violência cometidos do os destinados a satisfazer suas necessidades;
contra as populações queer — lésbicas, gays, V - a violência moral, entendida como qualquer con-
bissexuais, transexuais, entre outras que não duta que configure calúnia, difamação ou injúria.
sigam o padrão normativo vigente).
Dica
Veja que a incidência da Lei Maria da Penha inde- Em relação às formas de violência, previstas no
pende da orientação sexual dos envolvidos, ou seja, art. 7º, vale uma leitura mais cuidadosa, uma vez
184 também numa relação homoafetiva feminina, haverá que a banca pode exigir a letra da lei.
Veja abaixo as cinco formas de violência domés- nacionalmente, e a avaliação periódica dos resulta-
tica e familiar contra a mulher, acompanhados de dos das medidas adotadas;
alguns exemplos. III - o respeito, nos meios de comunicação social,
dos valores éticos e sociais da pessoa e da família,
z Violência Física: de forma a coibir os papéis estereotipados que legi-
timem ou exacerbem a violência doméstica e fami-
liar, de acordo com o estabelecido no inciso III do
Qualquer conduta que ofenda a integridade ou
art. 1º , no inciso IV do art. 3º e no inciso IV do art.
a saúde corporal da mulher. Exemplos: tapas, socos, 221 da Constituição Federal ;
espancamento, atirar objetos, apertar os braços, IV - a implementação de atendimento policial espe-
estrangular, lesionar com objetos como facas ou cializado para as mulheres, em particular nas Dele-
armas de fogo, queimar etc. gacias de Atendimento à Mulher;
V - a promoção e a realização de campanhas edu-
z Violência Psicológica cativas de prevenção da violência doméstica e fami-
liar contra a mulher, voltadas ao público escolar e
Qualquer conduta que cause dano emocional e à sociedade em geral, e a difusão desta Lei e dos
diminuição da autoestima, entre outras formas de instrumentos de proteção aos direitos humanos
prejuízo à saúde psicológica. Exemplos: ameaças, das mulheres;
perseguição, constrangimento, humilhação, manipu- VI - a celebração de convênios, protocolos, ajus-
tes, termos ou outros instrumentos de promoção
lação, isolamento (proibir de sair de casa ou de falar
de parceria entre órgãos governamentais ou entre
com outras pessoas, inclusive com parentes), vigilân-
estes e entidades não-governamentais, tendo por
cia constante etc.
objetivo a implementação de programas de erra-
dicação da violência doméstica e familiar contra a
z Violência Sexual mulher;
VII - a capacitação permanente das Polícias Civil e
Qualquer conduta que atinja os direitos sexuais Militar, da Guarda Municipal, do Corpo de Bombei-
e reprodutivos. Exemplos: estupro (inclusive entre ros e dos profissionais pertencentes aos órgãos e às
marido e mulher), impedir o uso de anticoncepcio- áreas enunciados no inciso I quanto às questões de
nais, forçar a abortar, obrigar a se prostituir etc. gênero e de raça ou etnia;
VIII - a promoção de programas educacionais que
z Violência Patrimonial disseminem valores éticos de irrestrito respeito à
dignidade da pessoa humana com a perspectiva de
gênero e de raça ou etnia;
Qualquer conduta que configure retenção, subtra-
IX - o destaque, nos currículos escolares de todos
ção, destruição parcial ou total de seus objetos, ins-
os níveis de ensino, para os conteúdos relativos aos
trumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, direitos humanos, à eqüidade de gênero e de raça
valores e direitos ou recursos econômicos. Exemplos: ou etnia e ao problema da violência doméstica e
apropriar-se do salário, controlar o dinheiro, destruir familiar contra a mulher.
documentos pessoais, causar danos a objetos dos
quais a vítima goste etc. No art. 8º, a Lei Maria da Penha determina ao
poder público que sistematize uma política de ações
z Violência Moral integradas em áreas como da saúde, da educação,
da segurança e da justiça visando a dar assistência à
Qualquer conduta que configure calúnia, difama- mulher em situação de violência doméstica. Exemplo
ção ou injúria. Exemplos: rebaixar a vítima por meio dessa integração buscada pela Lei Maria da Penha são
de xingamentos que atinjam sua índole, tentar man- as Delegacias de Defesa da Mulher, onde a mulher
char a reputação, expor a vida íntima etc. vítima de violência doméstica, após o registro da ocor-
rência, dependendo da necessidade, é encaminhada
DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE para a Defensoria Pública (caso precise de esclareci-
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR mento quanto à medida protetiva ou ao divórcio, por
exemplo), para a rede de atendimento do Sistema Úni-
Das Medidas Integradas de Prevenção co de Saúde ou até mesmo para uma casa de abrigo.
LEGISLAÇÃO APLICADA À PMERJ

Além disso, o art. 8º estabelece que o poder público


Art. 8º A política pública que visa coibir a violên- tem o dever de capacitar os profissionais envolvidos
cia doméstica e familiar contra a mulher far-se-á diretamente com o atendimento à violência domésti-
por meio de um conjunto articulado de ações da ca e familiar.
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios e de ações não-governamentais, Art. 9º A assistência à mulher em situação de vio-
tendo por diretrizes: lência doméstica e familiar será prestada de forma
I - a integração operacional do Poder Judiciário, do articulada e conforme os princípios e as diretrizes
Ministério Público e da Defensoria Pública com as previstos na Lei Orgânica da Assistência Social,
áreas de segurança pública, assistência social, saú- no Sistema Único de Saúde, no Sistema Único de
de, educação, trabalho e habitação; Segurança Pública, entre outras normas e políticas
II - a promoção de estudos e pesquisas, estatísticas públicas de proteção, e emergencialmente quando
e outras informações relevantes, com a perspecti- for o caso.
va de gênero e de raça ou etnia, concernentes às § 1º O juiz determinará, por prazo certo, a inclu-
causas, às conseqüências e à freqüência da vio- são da mulher em situação de violência doméstica e
lência doméstica e familiar contra a mulher, para familiar no cadastro de programas assistenciais do
a sistematização de dados, a serem unificados governo federal, estadual e municipal. 185
§ 2º O juiz assegurará à mulher em situação de Merece destaque, ainda, o que consta nos parágra-
violência doméstica e familiar, para preservar sua fos 4º e 5º, ou seja, a previsão de o agressor ser obri-
integridade física e psicológica: gado a ressarcir os custos dos serviços prestados pelo
I - acesso prioritário à remoção quando servido- SUS às vítimas de violência doméstica e familiar, além
ra pública, integrante da administração direta ou dos custos dos dispositivos de segurança eventual-
indireta; mente utilizados (tornozeleiras, braceletes ou chips
II - manutenção do vínculo trabalhista, quando de monitoramento eletrônico, por exemplo).
necessário o afastamento do local de trabalho, por Por fim, vale ressaltar que os parágrafos 7º e 8º,
até seis meses.
incluídos na Lei Maria da Penha em 2019, garantem
III - encaminhamento à assistência judiciária,
a prioridade na matrícula ou na transferência esco-
quando for o caso, inclusive para eventual ajui-
lar dos dependentes da vítima que estejam na educa-
zamento da ação de separação judicial, de divór-
ção básica. Conforme a lei, as informações relativas a
cio, de anulação de casamento ou de dissolução de
união estável perante o juízo competente. esses procedimentos são sigilosas.
§ 3º A assistência à mulher em situação de violên-
cia doméstica e familiar compreenderá o acesso DO ATENDIMENTO PELA AUTORIDADE POLICIAL
aos benefícios decorrentes do desenvolvimento
científico e tecnológico, incluindo os serviços de Art. 10 Na hipótese da iminência ou da prática
contracepção de emergência, a profilaxia das Doen- de violência doméstica e familiar contra a mulher,
ças Sexualmente Transmissíveis (DST) e da Síndro- a autoridade policial que tomar conhecimento da
me da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e outros ocorrência adotará, de imediato, as providências
procedimentos médicos necessários e cabíveis nos legais cabíveis.
casos de violência sexual. Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput des-
§ 4º Aquele que, por ação ou omissão, causar te artigo ao descumprimento de medida protetiva
lesão, violência física, sexual ou psicológi- de urgência deferida.
ca e dano moral ou patrimonial a mulher fica
obrigado a ressarcir todos os danos causados, Tendo em vista que o primeiro contato da vítima
inclusive ressarcir ao Sistema Único de Saúde de violência doméstica e familiar com uma autorida-
(SUS), de acordo com a tabela SUS, os custos rela- de estatal ocorre na Delegacia de Polícia, os arts. 10
tivos aos serviços de saúde prestados para o total ao 12-C trazem as principais condutas que devem ser
tratamento das vítimas em situação de violência tomadas pelos, entre elas:
doméstica e familiar, recolhidos os recursos assim
arrecadados ao Fundo de Saúde do ente federado z a proteção policial;
responsável pelas unidades de saúde que prestarem z encaminhamento ao hospital/IML;
os serviços. z encaminhamento para assistência jurídica;
§ 5º Os dispositivos de segurança destinados z acompanhamento até o domicílio para eventual
ao uso em caso de perigo iminente e disponibiliza- retirada de bens.
dos para o monitoramento das vítimas de violên-
cia doméstica e familiar amparadas por medidas
Destaque para a possibilidade de o delegado de
protetivas terão seus custos ressarcidos pelo
polícia afastar o agressor do lar, domicílio ou local de
agressor.
convivência com a vítima, cláusula incluída pela Lei
§ 6º O ressarcimento de que tratam os §§ 4º e 5º
deste artigo não poderá importar ônus de qual- nº 13.827, de 2019.
quer natureza ao patrimônio da mulher e dos seus É importante notar que, conforme indica o caput,
dependentes, nem configurar atenuante ou ensejar do art. 10, tais medidas podem ser tomadas antes
possibilidade de substituição da pena aplicada. mesmo de a violência ocorrer (na iminência).
§ 7º A mulher em situação de violência domésti-
ca e familiar tem prioridade para matricular Art. 10-A É direito da mulher em situação de vio-
seus dependentes em instituição de educação bási- lência doméstica e familiar o atendimento policial
ca mais próxima de seu domicílio, ou transferi-los e pericial especializado, ininterrupto e prestado
para essa instituição, mediante a apresentação dos por servidores - preferencialmente do sexo femini-
documentos comprobatórios do registro da ocor- no - previamente capacitados.
rência policial ou do processo de violência domésti- § 1º A inquirição de mulher em situação de violên-
ca e familiar em curso. cia doméstica e familiar ou de testemunha de vio-
§ 8º Serão sigilosos os dados da ofendida e de lência doméstica, quando se tratar de crime contra
seus dependentes matriculados ou transferi- a mulher, obedecerá às seguintes diretrizes:
dos conforme o disposto no § 7º deste artigo, e o I - salvaguarda da integridade física, psíquica
acesso às informações será reservado ao juiz, ao e emocional da depoente, considerada a sua con-
Ministério Público e aos órgãos competentes do dição peculiar de pessoa em situação de violência
poder público. doméstica e familiar;
II - garantia de que, em nenhuma hipótese, a
mulher em situação de violência doméstica e
O art. 9º disciplina as formas de prestação de assis-
familiar, familiares e testemunhas terão con-
tência à mulher em situação de violência doméstica
tato direto com investigados ou suspeitos e
e familiar, dentre as quais merecem destaque, em pessoas a eles relacionadas;
primeiro lugar, o encaminhamento, feito pelo juiz cri- III - não revitimização da depoente, evitando
minal, da vítima para a assistência judiciária gratuita, sucessivas inquirições sobre o mesmo fato nos
caso seja necessário o ajuizamento de ações no âmbi- âmbitos criminal, cível e administrativo, bem
to civil (uma ação de divórcio, por exemplo), confor- como questionamentos sobre a vida privada.
me estabelece o inciso III, do parágrafo 2º. § 2º Na inquirição de mulher em situação de vio-
186 lência doméstica e familiar ou de testemunha de
delitos de que trata esta Lei, adotar-se-á, preferen- Procedimentos a Serem Realizados pela Autoridade
cialmente, o seguinte procedimento Policial
I - a inquirição será feita em recinto especialmente
projetado para esse fim, o qual conterá os equipa- Art. 12 Em todos os casos de violência doméstica e
mentos próprios e adequados à idade da mulher em familiar contra a mulher, feito o registro da ocor-
rência, deverá a autoridade policial adotar, de ime-
situação de violência doméstica e familiar ou teste-
diato, os seguintes procedimentos, sem prejuízo
munha e ao tipo e à gravidade da violência sofrida;
daqueles previstos no Código de Processo Penal:
II - quando for o caso, a inquirição será interme- I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência
diada por profissional especializado em violência e tomar a representação a termo, se apresentada;
doméstica e familiar designado pela autoridade II - colher todas as provas que servirem para o
judiciária ou policial; esclarecimento do fato e de suas circunstâncias;
III - o depoimento será registrado em meio eletrôni- III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito)
co ou magnético, devendo a degravação e a mídia horas, expediente apartado ao juiz com o pedido
integrar o inquérito. da ofendida, para a concessão de medidas prote-
tivas de urgência;
O art. 10-A cuida do atendimento da vítima, que IV - determinar que se proceda ao exame de cor-
deve ser feito em local apropriado pelos policiais e po de delito da ofendida e requisitar outros exames
periciais necessários;
peritos especializados. Também deve ser prestado
V - ouvir o agressor e as testemunhas;
de forma ininterrupta e por servidores previamente VI - ordenar a identificação do agressor e fazer jun-
capacitados, preferencialmente do sexo feminino. A tar aos autos sua folha de antecedentes criminais,
mulher vítima de violência doméstica deve ser acolhi- indicando a existência de mandado de prisão ou
da, protegida e respeitada no ambiente policial. registro de outras ocorrências policiais contra ele;
Merece destaque o inciso III, que cuida da revitimiza- VI-A - verificar se o agressor possui registro de
ção, mais especificamente com a vitimização secundária porte ou posse de arma de fogo e, na hipótese de
existência, juntar aos autos essa informação, bem
(também chamada de revitimização ou sobrevitimi-
como notificar a ocorrência à instituição respon-
zação) que ocorre quando o órgão estatal (polícia, MP, sável pela concessão do registro ou da emissão do
Judiciário etc.) fazem o ofendido se tornar vítima nova- porte, nos termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezem-
mente (dessa vez, por ação do Estado, que faz a vítima bro de 2003 (Estatuto do Desarmamento);
reviver, desnecessariamente, a violência sofrida). VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquérito
policial ao juiz e ao Ministério Público.
Art. 11 No atendimento à mulher em situação de § 1º O pedido da ofendida será tomado a termo pela
violência doméstica e familiar, a autoridade poli- autoridade policial e deverá conter:
cial deverá, entre outras providências: I - qualificação da ofendida e do agressor;
I - garantir proteção policial, quando necessário, II - nome e idade dos dependentes;
III - descrição sucinta do fato e das medidas prote-
comunicando de imediato ao Ministério Público e
tivas solicitadas pela ofendida.
ao Poder Judiciário;
IV - informação sobre a condição de a ofendida ser
II - encaminhar a ofendida ao hospital ou pos- pessoa com deficiência e se da violência sofrida
to de saúde e ao Instituto Médico Legal; resultou deficiência ou agravamento de deficiência
III - fornecer transporte para a ofendida e preexistente.
seus dependentes para abrigo ou local seguro, § 2º A autoridade policial deverá anexar ao docu-
quando houver risco de vida; mento referido no § 1º o boletim de ocorrência e
IV - se necessário, acompanhar a ofendida cópia de todos os documentos disponíveis em posse
para assegurar a retirada de seus pertences da ofendida.
do local da ocorrência ou do domicílio familiar; § 3º Serão admitidos como meios de prova os lau-
V - informar à ofendida os direitos a ela confe- dos ou prontuários médicos fornecidos por hospi-
ridos nesta Lei e os serviços disponíveis, inclu- tais e postos de saúde.
sive os de assistência judiciária para o eventual
A maior parte dos procedimentos a serem seguidos
ajuizamento perante o juízo competente da ação
pela autoridade policial (especializada no atendimento
de separação judicial, de divórcio, de anulação de
à mulher ou não), elencados no art. 12, são comuns na
casamento ou de dissolução de união estável.
LEGISLAÇÃO APLICADA À PMERJ
atividade policial: ouvir a vítima, encaminhá-la ao IML
ou serviço de saúde etc. No entanto, merecem destaque:
As providências legais cabíveis a que se refere
o art. 10, encontram-se previstas no art. 11, da Lei z a concessão de medidas protetivas de urgência, a
Maria da Penha, e consistem na proteção policial, pedido da vítima, cujo regramento se encontra
encaminhamento para o exame de corpo de delito, disposto nos arts. 18 e seguintes;
fornecimento de transporte (uma vez que a vítima z a verificação da existência de registro de posse ou
normalmente não tem condições de fazê-lo por conta de porte de arma de fogo por parte do agressor.
própria), acompanhamento até a residência e esclare-
cimento à vítima acerca de seus direitos. Art. 12-A Os Estados e o Distrito Federal, na formu-
Ainda em relação à atuação do Delegado de Polí- lação de suas políticas e planos de atendimento à
cia, convém lembrar duas outras medidas possíveis: a mulher em situação de violência doméstica e fami-
liar, darão prioridade, no âmbito da Polícia Civil,
representação pela prisão preventiva e o afastamento
à criação de Delegacias Especializadas de Atendi-
do agressor do lar pela autoridade policial, que serão mento à Mulher (Deams), de Núcleos Investigativos
estudadas mais adiante. de Feminicídio e de equipes especializadas para o
atendimento e a investigação das violências graves
contra a mulher. 187

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