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L z
Sai às Quintas
DIRECTOR EDITORIAL:
Douglas Madjila
"A arte de iluminar"

Quinta-Feira, 23 de Fevereiro de 2023 | Edição nº: 45 | Ano: 01


DO PENSAMENTO

Eng.º Leonardo Nhanala sobre as inundações de Maputo


“A água corre fora das sarjetas”

Pag. 12
Paco Planelles
“Políticos e governantes
Pag. 03 não são vitalícios”
Atira Mirange aos governantes africanos
“Roubam e deixam o
Choram as crianças deslocadas do terrorismo
“Nós somos órfãos e
acima de tudo
pobres” Pag. 10 povo a salivar”
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Quinta-Feira, 23 de Fevereiro de 2023


2 Luz
DO PENSAMENTO
DESTAQUES

“Aumentar e colocar lá canais e tubos


maiores para escoarem a água
com muita facilidade”
sujas. Então, por essa velocidade a água fica
acumulada.
LP: Será que esta situação tem al-
guma saída segundo os seus conhe-
cimentos de engenharia de constru-
ção?
LN: Sim essa situação tem algumas saídas.
LP: Na sua opinião o que se deve fa-
zer para inverter o actual cenário de
alagamento na Baixa da Cidade de
Maputo nos dias de chuva?
LN: Portanto, antes de tudo seria, limpar
todas as sarjetas para que a água possa es-
correr facilmente e aumentar o número de
canais que levam a água ao mar. Por causa
da diferença da água que chega e a água
que quer saída lá da baixa. Essa diferença
faz com que a água se acumule, então, de-
via se aumentar os canais que levam a água
Em conversa com Leonardo Nhanala, Salientar que esta água chega por cima, ao mar. Entretanto, só as obras que podem
engenheiro de construção civil e docente mas, em condições normais ela devia entrar fazer questão de abrir as estradas, aumentar
universitário afecto em várias universida- por baixo até chegar ao mar. Entretanto, en- e colocar lá canais e tubos maiores para es-
des da cidade de Maputo foi possível com- trando pela superfície quando chega a 25 de coarem a água com muita facilidade.
preender as razões das enchentes frequen- Setembro, ela encontra a água que é mes- LP: Se por acaso a limpeza das sar-
tes nesta cidade e suas possíveis soluções. O mo da chuva da 25 de Setembro mas aquela jetas e o aumento dos canais, não
engenheiro afirma categoricamente a pos- que vem lá de cima. Isto faz com que, em produzirem efeitos desejados existi-
sibilidade de se resolver os problemas da pouco tempo estas duas águas se juntem e ria outra alternativa para inverter o
baixa da cidade relativamente as inunda- levantem o nível. Este é o motivo pelo qual actual cenário?
ções egarante que os custos não seriam tão imediatamente a água fica com um nível
elevados. Essa entrevista é dada a tv ciscam elevado. LN: E, se isso não produzir efeitos de-
e o nosso jornal julgou pertinente tendo em sejados, há uma outra solução, que é a de
conta o terror da chuva nos dias actuais. LP: O Engenheiro Leonardo Nha- montar e instalar ao longo de toda a 25 de
nala explicou que as águas que vêm Setembro, toda baixa, bombas para bom-
LP: Engenheiro Leonardo Nhanala. da parte direita da Avenida Eduardo bagem de água. Portanto essas bombas ha-
Porquê que sempre que chove a bai- Mondlane concentram-se na Avenida viam de forçar a água praticamente à che-
xa da cidade fica totalmente inunda- 25 de Setembro. Porquê que as águas gar ao mar. Então, assim a água não havia
da? não continuam a escorrer o mar? de se acumular.
LN: A água que vem da parte direita da LN: O que acontece, mesmo em inclina- LP: A montagem de bombas para
Avenida Eduardo Mondlane (considero parte ção das estradas que vão a 25 de Setem- escoarem a água da chuva não acar-
direita partindo do princípio que Avenida Eduardo bro, saem da Eduardo Mondlane até a 25 retaria elevados custos?
Mondlane parte da estátua e vai para o Museu.) de Setembro, a inclinação é muito elevada.
Toda a água da parte direita portanto pas- Isso faz com que a água venha com muita Obviamente, visto assim, parece uma des-
sando pela avenida Ahmed Sekou Touré, velocidade e em grande quantidade. Mas, pesa muito elevada, mas, em tudo, não se-
24 de Julho, Ho Chi Min, Sommerschield, da 25 de Setembro até ao mar, portanto a ria assim tanto porque essas bombas só iam
portanto, a água corre fora das sarjetas, isto inclinação muda, isso quer dizer que re- funcionar nos dias de chuva. Logo, durante
é, não corre debaixo da estrada como devia duz a velocidade. Então, quer dizer que a os dias normais estariam paradas. E, só nos
ser, porque estas sarjetas estão sujas e en- água que entra na 25 de Setembro vem em dias de chuvas intensas é que seriam postas
tupidas. Então, o que acontece, essa água grande velocidade e a água que sai da 25 em funcionamento. Nesse caso, isto havia de
correndo por cima da estrada, quando de Setembro para o mar já tem uma velo- minimizar à enchente que se verifica sempre
chega a baixa, na Avenida 25 de Setembro, cidade reduzida. Então isso faz com que a na baixa. Portanto esta é a minha opinião, o
praticamente enche imediatamente a rua. água se acumule ali na 25 de Setembro e, ponto de vista sobre o que se deve faz para
Até por isso que fica inundada logo. também porque todas as sarjetas dali estão escoar as águas de chuva para o mar.
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OPINIÃO Luz
DO PENSAMENTO
3

A CONTROVERTIDA LEI DO
ABORTO LIVRE
Paco Planelles / Espanha

• Quando a vida do "nasciturus" é decidida Geral, Municipal e Autónoma Eleições'2023. doçura e futuro de um ser humano recém-
por outros • Decididamente, os políticos e governantes -gerado, de um embrião cheio de vida que se
Com a aprovação do presidente do recém espanhóis de ambos os lados do arco parla- desenvolve em paz, calma e compreensão no
remodelado Tribunal Constitucional, magis- mentar não são vitalícios. Eles estão prestes a caloroso ventre materno.
trado Cándido Conde-Pumpido e aos gritos abortar o que foi engendrado. Você é patrimônio de todos. Todos nós sor-
de "Cándido locuta, causa finita!"; bem como, Portanto, com critérios racionais indepen- rimos quando você sorri. Todos nós sofremos
com as alterações parlamentares introduzidas dentes e coração sensível; De forma "pessoal quando você sofre.
na norma da Lei do Aborto pelo inefável ex- e intransferível", tentarei sensibilizar a opinião Vocês, os pequenos, e nós, os mais velhos,
-presidente do Governo espanhol, José Luís pública, os legisladores e nossos governos so- fizemos um pacto. Dás-nos a tua franqueza,
Rodríguez Zapatero para voltar aos - meno- bre o drama que a prática do aborto acarreta. iluminas-nos com a tua graça e emprestas-nos
res de 16 / 17 anos, a decisão de abortar sem Drama que se materializa na morte de criatu- o engenho que nos falta. Nós, mais fortes, te
necessidade para consentimento dos pais e ras inocentes, na perversão da nobre prática damos nossa proteção; Alimentaremos e ves-
também, com a recente reforma na mesma po- da medicina e na falta de ajuda às grávidas tiremos seus corpinhos frágeis e os cobriremos
lêmica Lei chamada: Saúde Sexual e Reprodu- aqui ou fora das nossas fronteiras que também com nosso amor... com um amor intenso que
tiva / Interrupção Voluntária da Gravidez,... se tornam vítimas do aborto. A eles e seus fi- quer protegê-los de todo mal. Mas hoje, meu
chega ao Diário Oficial do Estado e entra em lhos (“nasciturus”), dirijo a seguinte carta que querido “nasciturus”, estou atravessado pela
vigor, com os 185 votos favoráveis ​​de um só- encontrei num velho baú no sótão. dor, uma dor amarga, uma dor infinitamente
cio parlamentar maioria comunista presente • “Querido nascituro, amarga.
no Hemiciclo das Cortes Gerais do Reino da Você não fala ainda. Você é um embrião no Hoje, também me envergonho: a casta políti-
Espanha; maioria dos políticos, ministros e ventre de sua mãe. Você apenas balbucia. Você ca do atual arco parlamentar espanhol e outras
governantes de um governo de coalizão popu- fala com os olhos e com a expressão de todo o Os governantes, legisladores, juízes e magis-
lista, feminista radical e bolivariana na triste corpo. Seu dedo indicador vai em direção à trados governantes e triunfantes aqui, ou além
sessão de posse do atual e inefável presidente sua boca e, ao mesmo tempo, você dá alguns de nossas fronteiras, nos dizem que não estão
espanhol, Pedro Sánchez Pérez-Castejón, em chutes suaves Então você olha para sua mãe aqui para a vida: estão prestes a abortar o que
face das rejeições apresentadas à referida lei para perguntar se ela o entendeu. Você quer foi engendrado.
por ao Partido Popular, Ciudadanos e Vox por viver!...Você tem o direito de viver! Como é possível que pessoas eruditas e adul-
estarem seriamente empenhados na sua defe- Essa tua bela expressão que vejo nas eco- tas legislem e aprovem certas leis para destruir
sa total do direito à vida dos "nascituros" mas, grafias, tecida de balbucios, gestos, pontapés e seu corpinho! Como é possível que adultos
hoje, já! Aceitam a contundente veredicto do olhares, é a janela que me abres para que eu (pais, médicos e parteiras; legisladores, políti-
novo presidente do Tribunal Constitucional possa contemplar um ser humano vivo com a cos e governantes vão nos sangrar a todos com
e bendizem a referida "falha" de uma Lei há alma puríssima. Não preciso iluminá-la, por- seu sangue inocente!
muito apelada, gritando "Cándido locuta, cau- que ela irradia luz no seio quente de uma mãe.
sa finita!". Lá dentro, nós, os mais velhos, adivinhamos PONTO FINAL
Que hipocrisia, amigos! Porque há alguns toda a franqueza do mundo, tranquilos, espe-
anos num intenso debate ético, político, reli- rando o momento de fluir suavemente para • Hoje, querido “nasciturus”, quero me di-
gioso e moral - ainda existente na sociedade fora com as dores do parto. Bem, você sabe rigir a você - em meu nome e em nome de
espanhola - o chamado Marianista e secular muito bem pequeno "nasciturus" que a dor nossa ONGD & Fundación S.O.S. Crianças /
Partido Popular e até o novo líder conserva- nada mais é do que o Amor. Espere um pouco Espanha e dizer-lhe que, todos os seres huma-
dor, o galego Núñez Feijóo, foram plenamente e você poderá verificar isso! nos de boa vontade; Adultos e crianças, nós os
identificado e a favor do direito à vida do "nas- Você não é apenas o tesouro de sua mãe. amamos, sempre os amaremos... Vocês têm o
citurus"; algo que agora tentam resolver com Você é o tesouro de todos, de toda a huma- direito de viver!
a sua "saída do fórum" e o polémico arquiva- nidade. Filhinhos como vocês, os "nasciturus"
mento da questão do próprio Partido Popular que ainda não saíram do ventre de suas mães, Com a mão estendida,
para virar a página e dedicar-se às suas novas pertencem a nós. Em seus corpinhos fracos Saudaçôes
estratégias políticas para a próxima Assembleia e em suas almas limpas está toda a bondade, Kharimambo swinene

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4 Luz
DO PENSAMENTO
PRESIDENTE ELEITO

"Conduzir o país com o fim de alcançar o


bem-estar e progresso do povo"

ciada no ensino básico para valores morais e universais.


melhoria e fortalecimento de Conduzirei o país com o fim
recursos humanos nacionais, último de alcançar o bem-estar
especializados e que garantam e progresso do povo e prioriza-
competitividade para o alcance rei o contacto permanente com
do desenvolvimento do país. o povo e/ou seus representan-
Reforçar, alocar e subsidiar, tes para busca de informação
os transportes públicos para sobre os problemas, necessida-
garantir a mobilidade dos cida- des, sugestões para ultrapassá-
dãos e consequentemente o seu -los.
desenvolvimento. Estabelecerei um elo de liga-
Adopar uma estratégia de in- ção entre o governo e o estado
teracção e auscultação perma- de modo a facilitar a difusão e
nente com o povo; troca de informação.
Inclusão participativa das Desenvolverei um sistema go-
mulheres na intervenção e me- vernativo inclusivo com vista
diação dos conflitos à todos os garantir e/ou fortalecer o sen-
níveis de segurança, processos tido de pertença popular, atra-
de tomada de decisões, contri- vés da comunicação e interacti-
buição para a manutenção da vidade, facilitando os meios de
paz efectiva. participação directa em maté-
Salientar que como presi- rias de interesse colectivo.
dente, eleito, priorizarei por Prestar providência social às
uma presidência mais inclusi- pessoas idosas e vulneráveis e
Ermelinda Momad va, democrática, assentada na pessoas vítimas de enxurradas
responsabilidade social, com e/ou calamidades.
Começarei por subsidiar os lhorar o sistema de defesa e a missão de alcançar o desen- Massificar o apoio ao despor-
transportes públicos e reduzir segurança do país, a segurança volvimento pessoal, familiar, to (todas as modxalidades) à
o preço dos combustíveis para fronteiriça e transfronteiriça, comunitário e social na defesa, nível nacional e internacional e
garantir a mobilidade dos cida- com vista o alcance do desen- promoção da justiça social, sem impulsionar as premiações das
dãos e tornar a vida dos cida- volvimento e progresso do povo distinção de raça, género, cultu- competições.
dãos menos problemática; e do país. ra, religião, proveniência, nível Intensificar intercâmbios
Comprometo-me junto do Investir num sistema de edu- académico, tornando o povo culturais, diálogos, seminários
povo e com o apoio de todos cação, ensino e aprendizagem responsáveis para a consolida- capacitações e muito mais, ao
os actores sociais, parceiros de baseada na educação vocacio- ção da paz, soberania assente nível nacional e internacional e
cooperação, a inverter e me- nal e profissionalizante, ini- no conhecimento, princípios, outras actividades.
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EDITORIAL Luz
DO PENSAMENTO
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Um governo Marginal

As recentes mudanças na direcção lação ou então de relações de ca- depende da terra por exemplo, o país
da Imprensa Nacional de Moçambi- maradagem, na verdade esperamos não produz, triste. Recursos minerais
que chamam-nos bastante atenção a nós que o presidente tenha notado o nesse país são explorados de forma
o que deve ser o objectivo central da quão potente é aquela instituição e se tão singular como se fossem perder
actual governação deste país. Foi pre- tenha empenhado então em indicar se o fizessem pela via estatal e não
miado desta vez, o ex-Secretário de para o topo da sua direcção um indi- só, o business de tais recursos é tão
Estado de Niassa, como presidente víduo capaz de fazer a Imprensa Na- levianamente tratado que esses diri-
do conselho de administração da da- cional produzir à altura, pois a espe- gentes não se importam que isso não
quela instituição, enquanto focamo- rança é a última que morre, verdade beneficie Moçambique e os moçam-
-nos em dá-lo os parabéns, é certo é que muitas vezes esperançámos e bicanos, terrível, isso é um bando de
que nos ocorra também a possibilida- dessas tantas vezes, maior parte delas terroristas e não um governo.
de do seu sucesso no desempenho de continuamos à espera até hoje, tris- Falando mesmo em terroristas, o
tais funções e nesse mesmo instante te, a verdade é que a esperança ainda ministério da defesa não tem um mí-
pensamos no que será provavelmente que seja a última, ela também morre, nimo de patriotismo a ponto de ter no
o seu trabalho e então nos questio- que não seja desta, esperançamos. seu seio dirigentes capazes de vender
namos, porque precisamos refrescar Como pode o manual do aluno por para morte os seus co-cidadãos, pa-
as memórias. Qual é que é afinal a exemplo aguardar por importações triotas, entregar posições para uma
função da Imprensa Nacional no seu por via de privados, sem qualificação festa mortal pelos insurgentes, nego-
todo? ainda, para tamanha responsabilida- ciar órgãos de cidadãos que morre-
Até aqui se pode dizer de maneira de, quando existe uma coisa da ca- ram pela pátria, mas é o abismo do
tão resumida que tem a função de pu- tegoria da imprensa? Como pode o terrorismo, portanto, a Imprensa Na-
blicar boletins e mais um pouco para INATRO remeter-se a um jugo hu- cional é só uma gota neste oceano da
além do sumário, umas cadernetas e milhante com privados para impres- desgraça ondulada por Filipe Nyusi
alguns cartões, algo que bem anali- são de cartas de condução quando e outros.
sado tudo fica demasiado pouco, ou existe a Imprensa Nacional, mas que Este país tem até dificuldade de ter-
seja, são muitos directores e adminis- paradoxo, uma imprensa que não minar com brilho projectos quaisquer
tradores mais o PCA na Imprensa pode imprimir. de sua autoria ou de seu interesse, ja-
Nacional para gerirem apenas esses Enfim, a imprensa é só um deta- mais termina efectivamente, acaba
pequenos artigos. lhe em tudo que nos abisma, não é sempre aos farrapos, o de Filipe Nyu-
Há questões mais sérias neste país na verdade o nosso assunto, a nos- si então, é absolutamente irresponsá-
que poderiam muito bem ser geridos sa desilusão é muito maior, a forma vel, diz o que não se devia dizer, e
pela imprensa e jamais constituírem desorganizada com que se organiza ao desdizer, é ele próprio com a mais
os problemas que tem chovido tor- questões candentes da nação é de sa- lavada cara como se tal povo fosse
rencialmente sobre o Estado moçam- livar de nervos, a forma apátrida pela constituído um arem de seus animais
bicano e, dessa mudança, esperamos qual se dirige o país, confunde-se de estimação, valha-nos Deus, por fa-
que se esteja a tratar de algo muito com uma sabotagem governamental. vor demitam-se. Povo nenhum mere-
para além de um prémio de conso- Nada se leva a sério, até mesmo o que ce um governo tão marginal.

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FICHA TÉCNICA
Director Editorial: Douglas Madjila
Administração: Hélio Pinto ; Contactos: 841385148 / 87 3017860
Redacção: Benta Edith, Orlando Júnior, Jéssica Monteiro Redacção : 87 5308210/ 82 3308210
Numero de Registro de Entidade Legais: DISP.67/GABINFO-DEPC/210/2022
Endereço: Av. Amílcar Cabral, 1542 10 andar ; Cidade de Maputo Email: luzdopensamentomz@gmail.com
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DO PENSAMENTO
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VOZ FEMININA Luz
DO PENSAMENTO
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Inundações em Moçambique:
Um Problema sem Solução?
Laura A. Nhaueleque

Os primeiros dias de Fevereiro foram mar- à TV CISCAM (https://www.youtube.com/ Maputo? E sobretudo, será que as autoridades,
cados pelas chuvas intensas que atingiram a watch?v=YcVa5pmqj6o) . Bussotti cita episó- quer municipais, quer provinciais e as demais,
Cidade capital e a província de Maputo. O dios dos anos de 1907 assim como da década já se colocaram a questão de como resolver esta
desastre natural já está a provocar grandes des- de 1960 a partir de retratos fotográficos que situação, ao invés de correr atrás de uma natu-
truições não somente de bens e moradias, mas mostram a baixa inundada; ressalvando que reza cada vez mais madrinha e não mãe?
também de vidas humanas, produções agríco- nos últimos anos há uma tendência cada vez Vale também a pena recordar que a corrup-
las e pecuária. maior de estes desastres aparecerem com mais ção difusa que caracteriza há muito tempo Mo-
Só para termos uma ideia, já está a se falar força e frequência. çambique atingiu o próprio INGD. Apesar de
de 6 pessoas mortas, algumas já foram dadas Será que existe uma solução humana para as este instituto se ter mostrado insatisfeito com
como desaparecidas e cerca de 36 mil estão inundações que sempre estiveram presentes em os meios e recursos que possui para efectuar os
afectadas e sem abrigo. Há uma grande pos- Moçambique? O próprio prof. Bussotti expli- resgates às famílias afectadas, ano passado, o
sibilidade destes números virem a subir, de- ca que é possível minimizar o sofrimento das Banco mundial viu-se forçado a cortar o apoio
vido a duas razões essenciais: 1. Se as chuvas pessoas durante os meses húmidos através de que prestava ao INGD porque descobriu-se
continuarem a cair com a mesma intensidade uma intervenção de tipo político na estrutura que alguns funcionários usaram 32 milhões de
nos próximos dias, a possibilidade de as águas da Cidade de Maputo e outras zonas que, fre- meticais – cerca de 470 mil euros – para bene-
aumentarem de nível e atingirem novas zonas quentemente, têm sofrido este tipo de episódios fícios pessoais como na edificação de imóveis e
actualmente não afectadas, é certa; 2. O núme- ao longo dos anos. Ainda nesta linha de pensa- compra de carros. Em suma, uma parte da aju-
ro de pessoas que estão à espera do resgate em mento, Bussotti criticou o tipo de intervenção da humanitária foi para práticas de corrupção,
zonas afectadas ainda continua maior. Nesta que vem sendo feita em Moçambique, que é de mostrando, além de uma ética pública duvido-
sequência, o próprio Instituto Nacional de Ges- tipo emergencial que visa, portanto, resolver o sa, a total falta de respeito para com os próprios
tão e Redução do Risco e de Desastres (INGD), problema de forma pontual, e sem nenhuma concidadãos que se encontram em situações de
já mostrou a sua fraca capacidade em termos preocupação em resolvê-lo definitivamente. perigo e precisam de auxílio emergencial ime-
de meios de resgate que são a base de peque- Por outra, como também pode-se ler na edi- diato.
nas embarcações (provavelmente degradadas) ção deste jornal, o Eng. Leonardo Nhanale Finalmente, uma última questão: se o Banco
e que estas não conseguem resgatar as pessoas apontou soluções simples, mas ao mesmo tem- Mundial chegou a suspender o financiamento
que se encontram por exemplo, refugiadas em po potencialmente eficazes, pelo menos para li- no âmbito da ajuda humanitária (o que quase
locais altos como nos tetos das casas ou árvores. mitar as consequências de fenómenos naturais nunca acontece, nem com relação aos países
Para alcançar estes locais altos, como reconhe- extremos, como os que o Sul de Moçambique mais liberais), que tipo de prestígio e reconheci-
ce o INGD, seria indispensável o uso de meios está vivendo nesses dias. Será que alguma vez mento internacionais devem ter as nossas insti-
de resgate como aeronaves, que certamente o já foi feita uma limpeza profunda e completa tuições, mesmo as que lidam com emergências
instituto não possui. das drenagens na conurbação Maputo-Matola? e ajuda humanitária?
Os eventos de desastres naturais em Moçam- Será que – como sugere o Eng. Nhanala – não Iniciar a responder a tais questões poderia
bique sobretudo na zona da baixa da Cidade seria possível encontrar meios económicos para representar, se calhar, o início da resolução de
de Maputo não são novos, tal como confirma o facilitar o escoamento das águas para o mar, problemas tanto antigos quanto ao alcance de
académico Prof. Luca Bussotti numa entrevista ao invés de elas ficarem estagnadas na baixa de gestores públicos capazes e conscientes.

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8 Luz
DO PENSAMENTO
CULTOS&LIVRES

Modelos e Referências a
serem seguidos

Por Cândida Muvale


Nos últimos dias vejo toda geração seguem e interiorizam comportamentos nunca ouviram falar e sequer leram um
a se perder sem modelos e referências não adequados, muita luxuria, consu- poema de um dos maiores poetas que
para seguir, aliás têm a tendência de se- mo excessivo de álcool e outras drogas, o país já teve: José Craveirinha e livros
guir modelos e referências não necessa- iPhone da última geração vivem o aqui da primeira mulher africana a ganhar o
riamente no meu ponto de vista as me- e agora e não pensam no amanhã, isso maior e mais prestigiado prémio de li-
lhores. me deixa muito indignada. teratura da lusofonia (Prémio Camões)
Não falo eu de referências bibliográfi- A verdade é que cada um é livre de que felizmente é moçambicana: Pauli-
cas e muito menos de modelos de pas- gostar que qualquer pessoa, mas é da na Chiziane
sarelas e modelos fotográficos, mas sim responsabilidade de cada um buscar A verdade é que ninguém é perfeito
de pessoas influentes ou não que cons- pessoas de boa índole embora sejam es- mas há ainda em Moçambique e no
truíram e/ou constroem um legado que cassas nos tempos actuais. mundo fora pessoas que vale a pena se
vale a pena os ter como referência para Talvez podemos atribuir parte desta inspirar e as ter como modelo não pelo
fazermos melhores escolhas para a nos- culpa a geração passada (8 de Março) que têm materialmente mas a história
sa vida. que não passou bem o legado, que não de vida e todo legado que construíram.
Sempre digo que o ser humano preci- transmitiu bem a informação dos gran- Quero com este texto alertar a todos
sa de outro para viver e sobreviver des- des ícones de Moçambique, que não para reflectirem sobre em quem se ins-
de a concepção até a morte e durante transmitiu valores como o ser patriota, piram, que podem ser figuras públicas,
este percurso ele aprende por imitação que talvez com a interferência da tec- famosos e ou pessoas do anonimato,
e não só como conviver em sociedade nologia a nova geração foi engolida por que valores estás pessoas transmitem,
e se vai moldando a cada situação que ela ao ponto de neste contexto global será que este modelo me torna um ser
surge pela experiência e também pela aculturar novas figuras e menosprezar melhor para os que me rodeiam e um
aprendizagem com o outro. as antigas, será?! cidadão melhor para a minha pátria.
Na primeira infância as crianças têm Devemos estar cientes que aquilo que Caso a resposta seja não pelo facto da
os seus pais ou cuidadores como heróis, consumimos no entretenimento, litera- complexidade da vida os modelos não
a medida que crescem vão mudando tura, academia e outras áreas em parte são estáticos, nós sempre evoluímos e
de e/ou ampliando o seu campo de in- define quem somos, por isso devemos podemos mudar os nossos modelos de
teresse pelas outras áreas e pessoas da ser vigilantes sempre com quem o que acordo com as aspirações que temos
música, política, dança, cinema etc. escutamos, por exemplo é triste ver ado- que podem ser diferentes das de ontem.
O que acontece nos dias atuais é que lescentes e jovens que não conhecem e Termino por dizer diga-me quem são
muitos jovens e adolescentes têm como nem escutam certos cantores nacionais os teus modelos e eu direi quem tu és e
referência pessoas que deixam a desejar como: Fanny Pfumo, Mingas, etc; que quiçá quem serás no futuro.

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Fevereiro de 2023

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OPINIÃO Luz
DO PENSAMENTO
9

REPENSANDO NAS ESTRATÉGIAS DE COMBATE A


EVENTOS EXTREMOS EM MOÇAMBIQUE: CASO DA SECA

Por: Celestino Gaspar


Escrever artigo sobre a seca no auge da neses e por conseguinte a redução da sua por um lado a guerra civil que envolvia a
época chuvosa e num momento em que capacidade combativa à situações de fome Renamo e o governo e por outro a seca. A
uma parte do país está sendo assolada por ao mesmo tempo que os mais abastados ti- seca que fustigou o sul de Moçambique no
inundações, pode parecer um paradoxo. ram proveito da situação. início da década de 1980 veio agravar a si-
Mas, em Moçambique, a seca é a calami- Diferentemente dos ciclones e cheias que tuação da população rural por um lado e
dade natural mais comum que mais afecta têm um início repentino e são de curta du- por outro inviabilizou a implementação da
o país, sobretudo a região meridional com- ração, a seca tem um início lento e pode estratégia de desenvolvimento traçada pelo
posta pelas províncias de Inhambane, Gaza durar vários anos e, devido a esta carac- governo que tinha como base a agricultu-
e Maputo. Quando ocorre, afecta e mata terística, ela é reconhecida tardiamente ra. A combinação dos efeitos da guerra e
muito mais pessoas em termos de números fazendo com que a intervenção das auto- da seca, agravou os efeitos do processo de
absolutos se comparada com os demais de- ridades possibilite apenas uma mitigação socialização do campo e acabou por desar-
sastres extremos que afectam esta região, limitada das suas consequências. Logo após ticular completamente o mundo rural mo-
sendo que as mortes estão geralmente as- a independência, o país foi assolado por çambicano, criando uma situação estrutu-
sociadas à fome e doenças nutricionais. uma guerra civil que envolveu a Resistên- ral negativa que viria a durar mais de dez
Este fenómeno tem sido responsável por cia Nacional de Moçambique (RENAMO) anos.
prejuízos avultados em vários sectores da e o Governo. A guerra foi desencadeada no Os efeitos na economia foram catastrófi-
economia particularmente na agricultura meio rural e causou consequências drásti- cos, agravados pela deterioração acentuada
do sector familiar para além de provocar cas para o campesinato. Adicionalmente à dos termos de troca no mercado interna-
deslocações forçadas da população à pro- guerra civil, o país foi fustigado por uma cional. Estimativas indicam que no período
cura de água e alimentos. série de calamidades naturais sobretudo as entre 1981 a 1984 havia no país cerca de
O estudo de Áragon et al (1998), os rela- cheias e posteriormente secas cuja interac- 1.320 mil pessoas sofrendo dos efeitos da
tórios do então Ministério para a Coorde- ção agravou as condições de vida da popu- seca e mais de 100 mil pessoas já haviam
nação da Acção Ambiental (1997 e 2002) lação no meio rural uma vez que, resultou morrido da mesma nas províncias do sul
mostram que Moçambique tem sido vítima na destruição parcial ou total das suas co- de Moçambique (Aragon 1998). Parado-
particular de mudanças climáticas bruscas lheitas privando deste modo o acesso aos xalmente, os anos de 1980 e 1981 foram
sofrendo regularmente o flagelo das secas. recursos básicos de sobrevivência e agra- caracterizados por um desenvolvimento
Sendo um país essencialmente agrícola com vando a pobreza a que estavam sujeitas. económico invejável no país sendo o ano de
uma população maioritariamente depen- É nesta perspectiva que o presente artigo 1982 o último em que Moçambique conse-
dente da agricultura, qualquer obstáculo de opinião pretende trazer subsídios sobre guiu pagar o serviço da sua dívida externa.
na produção agrícola tem impacto negativo a resposta do governo e da comunidade lo- Este desenvolvimento deve-se em parte às
imediato na segurança alimentar da popu- cal à seca no sul de Moçambique no perío- doações em petróleo feitas pelo Iraque e
lação sobretudo a do meio rural. Todavia, do entre 1981/1991/2 tentando analisar as Argélia.
pouco depois da independência de Mo- políticas adoptadas, os problemas enfren- Para reduzir os efeitos nefastos da seca, o
çambique em 1975, o país foi assolado por tados durante a canalização da ajuda ali- governo traçou um programa de emergên-
uma guerra civil envolvendo a Resistência mentar às populações afectadas pela seca cia que foi desenhado a partir da experiên-
Nacional de Moçambique (RENAMO) e o e as lições que devemos tirar com os erros cia do próprio governo em realizar acções
governo e posteriormente eclodiu uma das do passado. Através das experiências com de socorro às vítimas das cheias de 1977 e
secas mais drásticas que se abateu sobre as eventos calamitosos anteriores, julgo que o 1978 no Vale do Zambeze através da sen-
províncias de Inhambane, Gaza e Maputo artigo pode ajudar aos actores envolvidos sibilização das populações afectadas para
colocando milhões de vidas em risco, agra- a repensarem as suas acções em situações se concentrarem em aldeias (Ratilal 1989).
vando o estado nutricional das populações actuais como no caso dos centros de reas- Note-se porém, que esta “sensibilização
e sobretudo causando o desalojamento e sentamento dos deslocados de guerra em da população” geralmente foi coerciva e
deslocação da população a procura de ali- Cabo Delgado e neste exacto momento nos enquadrava-se nos esforços do governo em
mentos e água. centros de reassentamento provisório dos socializar o meio rural, como uma tentativa
Estudos recentes como os de Manghezi afectados pelas inundações no distrito de de controlar administrativamente as popu-
(1983), Amartya Sen (1991), Gregor Ma- Boane. lações o que na prática acabava desarticu-
ddox (1996), Bagoff (2004), e outros, mos- lando o mundo rural na medida em que as
tram que contrariamente à concepção A resposta do governo à seca em comunidades eram retiradas das suas ter-
convencional que vê a seca como um fe- Moçambique independente: lições ras habituais para novos espaços escolhidos
nómeno natural, esta geralmente tem sido do passado e erros do presente. pelo governo sem consulta aos beneficiários
causada por más estratégias de desenvolvi- da tal medida.
mento e políticas associadas, traçadas pelos As duas últimas décadas do século XX fo- Foi no contexto dessa retirada coerciva das
governos que causam a vulnerabilidade das ram caracterizadas em Moçambique e par- populações que o governo criou em 1980 o
populações. Estas políticas, por um lado re- ticularmente na região sul pela ocorrência Departamento para a Prevenção e Comba-
duzem a capacidade produtiva dos campo- de dois fenómenos altamente devastadores, te às Calamidades Naturais (DPCCN), que
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POBREZA: FONTE DE RIQUEZA PARA OS


LÍDERES AFRICANOS

Por: Arsal José Minrage1

Em África vive-se uma extrema quem beneficia dessas verbas é a pobreza vivida em Moçambique é
pobreza, e o povo subjugado a dor minoria? Ou a elite que desvia es- injustificada, pois, é tanto dinheiro
de viver no sofrimento somente ses fundos? E mais uma vez o quê que existe e é doado. E para onde
passa a vida resmungando e nun- o povo faz? Nada! O povo fica es- esse dinheiro vai? Claramente que
ca lhes surge a solução. Esta po- perando por um Moisés com um é nos bolsos dos que estão na fren-
breza não é justificada por falta de cajado que possa vir os tirar das te de tudo.
condições, mas sim por conta de mãos desses abutres, e acaba se es- Em Cabo Delgado concreta-
um sistema vicioso de desvios dos quecendo que eles têm o poder de mente em Pemba, se vive uma
fundos do Estado, o que leva todo mudar este cenário. Pois, a demo- tremenda falta de consideração e
cidadão a almejar subir no trono cracia é o que está nas nossas leis, respeito aos munícipes, pois, pelo
para encher os seus bolsos. Vive- e pouco tem-se usado esta ferra- que se vive parece que não exis-
-se um cenário de mendicidade menta. te uma entidade responsável pelo
precoce, nacionalmente e inter- Para o contexto do meu belo saneamento do meio, ou pelo or-
nacionalmente, pois são verifica- Moçambique diria que este cená- denamento territorial. As vias de
dos pedidos incessantes cujo rosto rio é dos piores, pois, há um gran- acesso estão esburacadas a título
usado para tais pedidos é o rosto de desrespeito a vida humana. A de exemplo mais crítico é o tro-
do povo. A miséria causada pela cada mandato vivemos crises dife- ço ANE-Chuiba, lixo existente
insuficiência de alimentação pre- rentes. Até parece que os gover- até nos quintais, bairros com falta
judica a população quer a nível nantes antes de serem empossados de água potável, sistemas de dre-
de saúde, aprendizado, profissio- já têm em mente as modalidades nagem com cheio de lixo e areia,
nal, etc., etc., e o povo o que faz? de desvio dos fundos, e que a sua ruas com erosão, etc., etc., e a per-
Nada! Porquê digo que o povo não tomada de posse é o passo da con- gunta que não quer calar é: Será
faz nada? Porque compactua com cretização do seu projecto. Criam que há falta de fundos para este
essas atrocidades. Thomas Mann uma rede de amigos que estão ap- cenário ser resolvido? Convido ao
dizia “a tolerância é um cri- tos a desviar e enriquecer de for- caro leitor a apresentar uma pos-
me quando o que se tolera é ma despercebida, mas a verdade sível resposta reflexiva a respeito
a maldade”, e é isto que se veri- é que nem tudo sai como o pla- desta pergunta. Pemba é a terceira
fica, o povo tolera tanto ao ponto nejado, porque no final das contas maior baía do Mundo, facto que
de ser subjugado a uma pobreza são descobertos, pez embora são indubitavelmente contribui de
injustificada. beneficiados pela lei, pois são eles forma exorbitante para a rique-
Ora pois, tudo começa lá de cima! que controlam tudo. za nos cofres do Estado, porque a
Passam a imagem de mendigos a Venâncio Mondlane nos seus cidade atrai vários turistas e não
nossa existência. Isto porque, os lives tem-nos mostrado tantos só, mas também, os munícipes pa-
governantes usam o rosto do povo crimes contra o povo, que são gam impostos. Mas mesmo com
para pedir dinheiro ou emprésti- protagonizados pelos nossos go- isso verifica-se uma debilidade na
mo lá fora mentindo que é para vernantes, e a cada live explica o gestão da própria cidade.
acções humanitárias ou resolução que está por detrás destes crimes, Este cenário todo vivido no nos-
de problemas do povo, mas não é assim como os valores monetá- so belo continente cria grande
essa a finalidade do dinheiro doa- rios que são orçados para comba- vergonha não só para um deter-
do ou emprestado, porque eles ter estes cenários. Entretanto, o minado país, mas sim, para a áfri-
roubam e deixam o povo a salivar que se verifica é que esses valores ca toda. Armando Emílio Guebu-
e no fim do cabo o país fica endi- monetários são desviados e nun- za disse que “Os Jovens devem ter
vidado e é considerado de dívida ca responsabilizados os responsá- vergonha da Pobreza”, e eu digo
pública. Mas afinal qual é a defi- veis pelos desvios, porquê? Afinal que “Os Governantes devem ter
nição exacta de dívida pública? Se o que está havendo neste país? A vergonha da Pobreza”.
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OPINIÃO Luz
DO PENSAMENTO
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passou a ser a instituição responsável no sal- agências doadoras. Portanto, a resposta do operações de socorro às populações afecta-
vamento de vidas humanas em situação de governo e da comunidade internacional à das pela seca. Veja-se por exemplo que das
emergência em Moçambique. Contudo, há seca em Moçambique nas décadas de 1980 916 mil toneladas de cereais solicitadas em
medida em que os anos se iam a situação e 1990 resumiu-se em operações de socorro 1989, apenas 295 mil é que foram enviadas
de emergência no país ia ganhando novos na qual foram organizados meios logísticos a Moçambique para comércio e distribui-
contornos pressupondo desta forma novos para efectuar a distribuição gratuita de ali- ção gratuita (Jornal Notícias, 5 de Julho de
desafios por parte do governo como uma mentos em grande escala, assistência sani- 1989). Esta constatação fundamenta a nossa
resposta interna redobrada a começar por tária às populações afectadas e em última argumentação segundo a qual a resposta do
uma estrutura nacional com experiência instância tentativas de fazer face à ruptura governo e da comunidade internacional à
para lidar com emergências complexas do tecido social e protecção de alguns gru- seca na zona sul do país entre 1981-1991/2
Desta feita, o governo desenhou um pro- pos vulneráveis da população. A resposta foi fraca.
grama de emergência na qual considerava do governo não foi abrangente uma vez que Aliado ao facto da satisfação parcial das
como algo de interesse nacional pressupon- limitou-se às áreas controladas pelo gover- necessidades do governo, as operações de
do dois níveis de actuação: por um lado o no e a certos grupos privilegiados em detri- emergência foram acompanhadas por inú-
programa de emergência composto por ac- mento dos mais necessitados. meros obstáculos como por exemplo a in-
tividades de emergência no sentido mais lato Na minha opinião, a resposta não devia segurança nas vias de acesso, a falta de
do termo e operações de socorro e cuidados ter-se limitado apenas na distribuição de transporte, combustíveis, e elevada corrup-
primários às populações afectadas e por alimentos às populações afectadas, uma vez ção. Assim, no período ente 1990/1991 o
outro lado actividades gerais de emergên- que acaba enriquecendo os mais favoreci- governo e as Nações Unidas reconheciam
cia compreendendo a reabilitação da vida dos em detrimento dos mais necessitados, que para além dos problemas acima referi-
das famílias, reintegração dos deslocados, mas sim devia direccionar-se na criação de dos havia ainda o problema do desvio dos
reconstrução de infra-estruturas e desenvol- condições para que as vítimas pudessem donativos destinados às vítimas da seca para
vimento de projectos de abastecimento de tornar-se auto-suficientes. Era suposto que o mercado negro. Por exemplo no ano de
água potável às populações afectadas pela a resposta do governo e da comunidade 1989 alguns membros envolvidos nas ope-
seca (Ratilal 1989). Esta era a forma prática internacional visasse expandir opções das rações de emergência na província de Ma-
do governo em termos de resposta à seca comunidades locais e suportar a maneira puto foram julgados e condenados por es-
em que o programa visava em primeiro lu- como esta adopta certas estratégias de so- tarem envolvidos nos esquemas de desvios
gar traçar acções rápidas e eficazes em ter- brevivência perante a seca pois, as expe- de donativos destinados às vítimas da seca
mos de operações de socorro às populações riências históricas mostram que a falta de (Jornal Noticias 8 de Novembro de 1989).
afectadas e posteriormente a reabilitação da articulação entre os saberes convencionais A existência de evidências de que os desvios
vida das famílias, reintegração dos desloca- e os tradicionais tem sempre resultado num de donativos eram acções organizadas, con-
dos, reconstrução das infra-estruturas e o fracasso. duziu o governo a criar uma Comissão de
desenvolvimento de pequenos projectos de Para além de a resposta do governo não Inquérito para averiguar a questão de rou-
abastecimento de água potável às popula- ter sido abrangente, outras fontes como o bos da ajuda alimentar. Esta foi criada em
ções, esquemas de irrigação e barragens. Jornal Notícias argumentam que apesar dos conexão com 246 casos de roubos dos quais
Com estas acções, o governo pretendia as- esforços empreendidos pelo governo e pela 189 haviam ocorrido em comboios. Vale
segurar a implementação e gestão do pro- comunidade internacional, no período en- ressaltar que apesar de o artigo estar a re-
grama de emergência ao nível nacional, tre 1991/2 verificava-se o incremento do tratar situações do século passado, o mesmo
provincial e distrital recorrendo-se ao uso número pessoas afectadas pela seca e para cenário de desvio de donativos verificam-se
do pessoal e instituições governamentais além disso, até 1989 a ajuda humanitária na actualidade um pouco por todo pais a
para evitar que o mesmo fosse uma simples internacional satisfazia apenas 60% das ne- começar pelos centros de acolhimento dos
soma de programas do governo com os das cessidades requisitadas pelo governo para deslocados de guerra em Cabo Delgado.

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OPINIÃO

MENDICIDADE EM MOÇAMBIQUE: Um
exercício de sobrevivência na cidade de Montepuez

Por: Gerson Francisco Marques


O crescimento da população dos lugares idosos assentam-se nos passeios da cidade, situação de mendicidadeforçada envolvendo
urbanos em Moçambique é, de acordo com nos portões das lojas, mesquitas e outras or- crianças são:Não ter acesso aos respectivos
Araújo (1997), resultante de quatro pro- ganizações sociais, pedindo esmola a qual- pais ou tutores legais;Viver, como membros
cessos que podem actuar semelhantemen- quer indivíduo que se mantem perto deles do grupo de crime organizado, com adul-
te: crescimento natural positivo, migração e, as autoridades locais, mesmo observando tos que não são os respectivos pais;Não ter
rural-urbano dentro do país, migrações in- esse cenário mostram-se indiferentes. acesso à educação;Parecer intimidadas e
ternacionais em direcção as áreas urbanas Uma entrevista empreendida por Manuel, comportar-se de uma forma que não cor-
e expansão territorial dos lugares urbanos Raúl e Gomes (2021, p.14), na cidade de responde ao comportamento típico das
através da redefinição dos seus limites ou da Montepuez, que sobretudo objectivou en- crianças da sua idade;Não ter tempo para
urbanização das áreas rurais circundantes. tender as razões da mendicidade infantil na brincar;Viver separadas de outras crianças
Este crescimento demográfico tem ocasio- cidade de Montepuez, vislumbrou o seguin- e em instalações sem condições;Apresentar
nado maior pressão pelos recursos e serviços te: sinais de maus tratos/ negligência; e Apre-
urbanos e, famílias impossibilitadas no usu- “Eu estou aqui principalmente na sextas-feiras sentar deficiências físicas que aparentem ser
fruo dessas oportunidades, acabam por ade- porque acompanho a minha avó a pedir esmola, não o resultado de mutilação.
rir a práticas não tão desejáveis, sobretudo temos o que comer, somos oriundos das zonas afecta- Os indicadores acima descritos, não cons-
para a sua sobrevivência, e, a mendicidade é das de terrorismo e aqui não temos constate assistên- tituem prova da existência de mendicidade
nesta senda tida como um refúgio de subsis- cia, afirmou o entrevistado. forçada, mas são um ponto de partida para a
tência dessas famílias. Estamos aqui pedindo esmola para ajudar a nossa sua sinalização. Eles podem ajudar a identi-
Entretanto, desde o ano 2017 que a pro- mãe, nós somos órfãos e acima de tudo pobres, o meu ficar uma situação de saída de crianças para
víncia de Cabo Delgado começou a registar pai perdeu a vida quando nos atacaram em Mocím- a exploração laboral, também aplicáveis nos
os primeiros episódios de ataques terroris- boa da praia no meados de 2020, e nós conseguimos casos de mendicidade forçada.
tas, a maioria das famílias das áreas ataca- fugir para cá e, no início havia ajuda constate, mas Como solução, sugere-se neste texto que
das, como Mocimboa da Praia, Muidumbe, agora não temos assistência nenhuma e nós precisa- o governo e as organizações não-governa-
Quissanga, abandonaram as suas residên- mos de comida, eis a razão de estar aqui na rua a mentais redobrem esforços na distribuição
cias, locomovendo-se à outros distritos, a pedir esmola, salientaram as crianças entrevis- e alocação de serviços e suplementos às fa-
procura de acolhimento e de melhores con- tadas. mílias deslocadas. E, que oportunidades de
dições de vida, e, a cidade de Montepuez é Neste sentido, com a intensificação dos ata- emprego sejam inclusivas, por forma a aju-
um dos pontos que ainda agrega deslocados ques terroristas na província de Cabo Del- dar as famílias deslocadas que, na maioria
de terrorismo. gado, as famílias, ainda dirigem-se a cidade da vezes, abraçam a mendicidade como um
Tão grave, é o facto de essas famílias pro- de Montepuez, e, por falta de mecanismos exercício de sobrevivência. Que se crie um
curarem Biscates e sem sucesso, optarem acertados de sobrevivência, acabam men- núcleo que possa agregar crianças desfavo-
pela mendicidade como Práxisde subsistên- digando o pão. Portanto, de acordo com a recidas, garantindo, desta forma, o seu de-
cia. Em cada sexta-feira, crianças, adultos e OTSH (2013, p. 10), os indicadores de uma senvolvimento físico e mental.

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