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CULTURA, CIDADANIA E

D El\,tO C RAC IA

A TRANST0RlüAÇ40 D0S DISCURS0S E

PRÁTICAS NA ESQUERDA LATINO.AlúERICANA

Evelino Dognino*
a

oobjetivoprincipaldestecapítuloéidentificarmudanças1
nas abordagens feitas pela esquerda latino-americana sobre 7
a rclação entre cultura e polítíc4 em conseqüência do amplo
t .,
processo de renovaçao áa esquerda q,r. tá iniciou no final \rj5,t\ví''
ào, ,.rot 70. Além disso, discutirei as novas direções que i

surgem de contextos políticos concretos, a saber, o processo


de àemocratizaçáo e, em particular, o papel crucial desempe- f
nhado pelos.movimentos sociais nesse processo' "'
Em primeiro lugar, vou me referir brevemente a tendências
teóricas anteriormente dominantes nas abordagens marxistas,',,
tradicionais da relação entre cultura e políticat Em seguida,
!
discutirei o surgimento de um marco teórico altêrnativo, cons-
truído sob a influência de Gramsci, que contribuiu decisivamente
para romper os modos anteriores de pensar essa relação' Em
ierceiro lúgar, analisarei as redefinições recentes de democracia
':tiãããínia que emergiram das lutas dos movimentos sociais
e que contribúíram decisil4;nente para novas visões das relações
entre cultura e políticu5'S- última instância, essas visões
expressam uma confluência entre novas influências teóricas
e novas orientações políticas que surgem de contextos concretos.
(I') Por fim, explorarei os resultados de pesquisa sobre as
concepções dos movimentos sociais de democracia e cida-
dania a fim de substanciar essas novas orientações' Vou
sugerir que a ênfase na transformação cultural como elemento
da estraiegia dos movimentos sociais não está confinada à
sociedade çivil como um lugar privilegiado da política, mas cla argumentação apresentada. Nesse sentido, o processo de
estende-se tafnbém ao Estado e à institucionalidade política. renovação político-teórica da esquerda não só contribuiu deci-
sivamente para romper a camisa-de-força que o marxismo
tradicional havia imposto à análise da cultura e de seu papel
Relacionad as aoamplo ;;rr" de renovação político- na transformaçáo social, como também trouxe mudanças
teórica que, desde o início dos anos 70, afetou as concepções conceituais significativas no campo específico da anâlise culrural.
da esquerda na América LaÍina, surgiram noyas formas de
Um impulso fundamental para esse processo de renovaEão
pensar as relações entre cultura e política. Embora este tenha
teórica veio dos próprios movimentoÀ sociais e de iuas lutas
sido um processo global, as especificidades de nossa experiência
concretas. Com isso, não estou simplesmente reéonfiêôãiião
histórica e tradição teórica certamente justificam um tratamento
que essa transformaçâo náo pode; obviàmerite, se-r éii1([ãi-ôa
particular.
como endógena ao campo da teoria. EIa constitui uma resposta
Os principais focos desse processo já são bem conhecidos à di nâ mic a c oncre-ta. da_ sq.ç i ed a de lati no -americana*e-glohà 1,
(Castafreda, 7994; McCaughan , 7995; Garcia, 1986; Burgos, bem como aos desa,fjos--q impas_s*es da-;-1*l-3J$ça"da
1.994). A linearidade das leis que regem o desenvolvimento esquerd4. Mas, mais do que_isso, quero e\f?Llizry_o_ppel
histórico, o determinismo econômico, a concepção da classe propositivo dos movi-menroq so-ci4is âo colo*c-ar novas_qusstoes
operâria como sujeito privilegiado da história, o papel da à gàrrr novas direções para i-iiàlis€ téArii-q:W)Uru. t,
vanguarda e sua relação com as massas, a noção de revoluÇão redefinição da noção de cidadaniá', óomo discutiremos mais adi-
e o papel do Estado e da sociedade civil, foram as questões ante, exemplifica esse papel afirmativo dos movimentos sociais.
mais importantes submetidas a debate e revisão. Além disso, Em conseqüência dessa renovação, a problemática cultural é
uma nova visão de democracia veio integrar esse marco teórico vista hoje sob uma nova luz por parte significativa da esquerda.
redefinido e desempenhar um papel cadavez mais fundamental Antes de examinar essa questão, vou referir-me às abordagens
na prâtica política e na teoria (Coutinho, 19g0; Weffort, 1.9g4; marxistas tradicionais das relações entre cultura e política.
Garcia, 1986; Lechner, 1986).
I

I A relação entre cultura e política não foi, em si mesma,


uma questão central ou privilegiada no debate da esquerdal DO REINADO DA IDEOLOGIA E DO ESTADO AO
Condenada à subordinação e à negatividade, aprisionada en\ APOGEU DA HEGEMONIA E DA SOCIEDADE CIVIL
seu eterno papel de coadjuvante e confinada a rápidos capítulos
finais, onde sua importância é retoricamente reiterada, a Até a inflexão produzida pela renovação, o marco conceitual
problemática cultural não desempenhou um papel visível, predominante na anâlise das relações entre cultura e política
fundamental, na dinâmica desse debate. porém, embora estava subordinado a algumas premissas básicas derivadas
de modo menos espetacular do que temas como democracia do marxismo clássico, reforçado pelo althusserianismo que
e sujeito histórico, é possível afirmar e identificar uma consolidou sua influência na América Latina nos anos 70.,_q
transformação substancial nas formas de pensar essa relação, conceito marxista de ideolo-gia rgir.rafa qob.g14no çg{tro insrru-
como parte integrante da renovação da esquerda. -p1íüiIí-SE g
me nt o t e ó ri c ô o_ p a rcç a n al i s aÍ-,e-s sa§-Je I a ço e5-- e

Se a cultura e suas relações com a política não foram o separ açào entre infra-estrutuf a e superestruÍuca,r-.a*deterfl0t:
centro visível dessa renovação, quais foram as condições em naçã,o da supeieStrutúra pela infra-estrutura- 9c-9o-ômica--q. a -
que se deu a transformação de seu estatuto teórico? Gostaria concepção -do têrreÀô aàs--iàêias- ce-gtg{gfl gxo*ou imagem
de introduzir a ídéia de que essa problemâÍica sempre esteve invertida da realidade foqlam os princípiosiãÀlllt"tf"os Aa
subjacente à crítica renovadora da esquerda relacionada com ideologia (§7i11iàms, 197D. A ôültura, especialmente a populai,
essas questões, seja como uma premissa nem sempre explici- era o domínio da alienação, da falsa cõnsciência e da mistifi-
tada, seja como uma conseqüência nem sempre intencional caçào; em suma, o reino"ifa ldêôIogia.

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sociedade. Como centro privilegiado da atençáo na anâlise da
A primazia do conceito de ideologia acabort construindo
políticá e da transformação política, o Estado foi considerado
uma armadilha para os estudos culturais da qual poucos ana-
listas da esquerda latino-americana escaparam. Seu principal a (tnica arerra decisiva das relações de poder e, portanto, o
impacto foi impregnar o domínio da cultura de uma dupla único lugar e alvo relevante da luta política, no que veio a
ser conhecido como uma visão "estatista" da pgljti:a1A culgula
negatividade, Em primeiro lugar, uma negatividade derivada
do determinismo econômico, que retirou da cultura quakiúêi
possibilidade de dinâmica prípria, estabelecendo-a como uma
esfera separ ada, umljnsllslplg§llg -epifenomenal cie- ü6p
"essência",econômica.] Em segundo lugar,',a cultura foi aprjsrq;
lada na negatividade hô sentido de qqe {s idéias, e a própria' populistas,_ nacionalistas e desegyolvimen1igtas. Examinar as
cultura, eram c ons-ide ra das p re do miq4ntem.ente - coruo ob-stã--
re l a dó.e s- enrre. -cuttuiã- ê pó litiça n秧 g s .1e-1q g s- ipp-lieav a u ma
culos à transformação 3õciá1, qúê deveri4_1n- Ç!!ãoser eliminados-
,ras massai e substituídos-pelor^conhecimento -ve-rdadeiro ", pela aniri.ise do uso da cultura colno instrum911o. "$e"{ffry.iqqç39
"consciência de classe", por meio das açôes iluminadas de seus As estratégias das classes dominantes pareciam ocupar poÍ
verdadeiros portadores: os intelectuais, a vanguarda, o partido. completo os espaÇos culturais, não deixando lugar para
qualquer outro efeito significativo que não fosse sua aceitaçâo
José Nun refere-se a essa esÍratégia, embutida na teoria marxista
da ideologia, como uma "terapia radical" para a classe operária: passiva. O impacto da escola de Frankfurt e sua análise dos
meios de comunicaçào de massa, assim como as influentes
teorias reproducionistas na educaçáo (Canclini, 1988), só
Com respeito a eles [os trabalhadores], o marxismo não pode
fazer menos que propor uma terapia radical seu discurso deve contribuíram nessa mesma direção. O conceito de aparato
desalojar o discurso falso que as idéias dominantes instalaram ideológico do Estadoz atingiu seu clímax na medida em que,
nas cabeças desses trabalhadores; e deve desalojá-lo inteiramente. ao consumar o casamento entre os conceitos de Estado e
(...) as idéias verdadeiras devem penetrar nas consciências para ideologia, parecia dar cofila adequadamente da dinâmica
dissolver as distorções que as afetam. (1989 17) da sociedade.
Uma conseqüência importante desse marco teórico foi o forta-
Além disso, o reducionismo de claqse transformou _gm
lecimento no campo das ciências sociais de uma concepção
categorias analític-as a s dico-toglias-hem " conhecidas que
subordinada e marginal do próprio tema da cultura. Com
opõem, eorno dois blccos- ponolítlcos elternos um ao g*U!Lq,
exceção dos antropólogos, para os quais a cultura sempre foi
cultu ras dominantes -e do pina d3 s, !dç ol o" gta-b--U tggg*S:Ul,tula
operâria, exemplos ae qu§-Çglglill ,(]laQ) _qlama de aborda-
um tema constitutivo e fundamental, mas que nem sempre
gàns dedutivistas aa anâise i"rtúãilà í.;ádã dêpên-dêfleít; tÍataram adequadamente as conexões entre a cultura e as
relações de poder, sociólogos e cientistas políticos da esquerda
formulada por latino-americanos num esforço para ajustar a
análise de classe marxista à complexidade dos novos desen- acadêmica latino-americana consideravam a cultura um tema
volvimentos da economia política internacional, manteve esse menor e secundário.3
enfoque dicotômico.1 De u ma p ersp e ctiva estritamente çç ó-r!ç.4,," umxrú.m".ÇI9""iig"n1_-_ ___ .

as rclaçôeseqtqcultura e política foram aborda4as_plçdg:- ficativo de autores e influênçias- -C--o--qtgQgiu. paç 4ue--aE..*
_Se relações errtre cultura e política pudessem ser reexaryln3da,r ----
mlnanlernerrte--a"rrav-és*C4-s-"Ig.qgg-dg_l"q@
p rópria" polítiça fpi eguipara-da.eidÇngfi.Çâdtucom"-outtasqIr5glg,--
em uma multiplicidade de novas dirêçõês. Não-é mdü propósito
dominante; o Estade. §p}-a-ferteinfluêrcia-{q_§stryturalistl examinar todas. .essas. influênciaç {.IQC"1-é- artigo' mas pode-se
marxista, o Estado foi concebido como uma condensação das afirmar com segurança que a toqt{pgição a. Àáto"ió Giáãisôi
.+
i--'-.-.
relações-d-e-põ-dq1gçgmoomCzCespa.ífi eo-dad@.-qaeáoí" e a influência que exerceu na dsré+iea-ratlnâlap1êsentaiam

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64
. uma ruptura fundamental nas formas de abordar_qs.p-4§ relações entre cultur4 ç p91-i!-ça, na qual a ptimeita se torna radicalmente
dentro dâ esquerda. Essa influência ,,em sempre foi direta constitutiva da segunda.
ou explícita, mas é possível identificar vários g+{+pa[e indi- rll ,,o €rs€ü
n ôqp o nto ref e-re - s e a o c o n c_e i t-o- g la msÇ iano de-t-ry4L5.-
víduos que foram claramente inspiraclos po. brurnrü pr., formação-soeial, no quaf a rev-oluq[q lao---é-rn319 sc!§991da
um grande número de intelectuais de esquerda, suas-idéias como um ato insüTre-cional de tom-1da-do--podçf d-q El-rã",
passaram a integrar um novo conjunto diversificado de refe- ma s c o m o u m p r o c e s s o r n9 S§31 -q*lgl9"f SA-lpJS l-.-^. lYgl .p* glsgt
rências teórico-políticas em desenvolvimento. Nesse sentido, é parte integial, ém 19,1de.,' qlfplesmç-nre-uma conseqliênei+
como sustentarei adiante, a sua obra serviu como veículo, possível. Na medida em_qu-e,arevolução Ç*v_!9_13_como o pro-
catalisador e pretexto para uma discussão renovadora dentro ..rro de'êonstru*çãõ aé uma nova hegcm""it; ;q-urc--irnplióa
da esquerda, que incluiu vârias outras influências e ajudou a uma nôvâ ôôíCepçã-ô-deãúndo, o papel das idéiã-s-õ?a cul-
consolidar um conjunto de concepções alternativo ao marxismo tura assume ,m catàtei positivó.- f)uas formulaçoes funda-
tradicional. mentais estão na base dçqsa conôepçào de çr44gfg:ç-EtEã"
O papel desempenhado pelo conjunto da obra de Gramsci social. A primeira refere-se à própria noção de poder, enten-
no amplo processo de renovaçã,o da esquerda seguramente dido por Gramsci gã9 como umâ'instituição, uma "c9isa" a
qualificou a sua contribuição ao campo específico das relações ser tomada, mas como uma relação entre forças sociais que
-riõ"-CaTâJêf
entre cultura e política. Em outras palavras, o impacto mais deve s e r transforma da. 5 A ss gg,qd. 4 é-u m-a" "fp,!tp ê nfâ Sê
amplo de seu trabalho carregou no seu bojo, desde logo, uma !e con-s-q1ução históriôa da transformaçáo social, diferente de
contribuição significativa para alt-erar o estatuto teórico-polí- um proCê§sô làúüsÍa 9"predêtêrminado. Em conseqüência, a
questão da agência, ou da constituição de sujeitos, é prívilegiada
tico dessas relações. A base paÍa o impactg._1-e-la,r3dp_r do
pensamento gramsciano encontra-se em sua crítica poderosa em relação à dinâmica das estruturas sociais "objetivas" e o
papel atribuído a elementos "subietivos", tais como vontade,
ao reducionismo econômico. Essa crítica afirma um_1igi-i4càçao
paixáo e fé, recebeu em Gramsci uma consideração sem prece-
profunda entre cultura, política e economia e estàb-élece uma
-c-illtüfãiS-dentro dentes no marxismo.
equiva lência entre forças mate ria is e elementô
dç uma visão ig1_ggrada da sociedade çomg um todo. Á partir
,dessa premissa, a obrà de Gramsci se desdobra numa reflexào
,/i
complexa e abrangénte, cuja relevância para nossa discussào
se expressa em vários pontos.
. iOFImãilNç mais óbvio é o conceiro de hege-monla, um novas direções que se abriram para a esquerda na América
processo de articulaçào de diferente-s intere_sses em torno dã Latina, implicando não somente uma revisão do papel até
gradual e sempre reneyada implementação dê üiií projelo de então atribuído ao Estado, como também uma ampliação do
transformaça.g ae:_"gi:91"É9,"ê dimensão da culrura é crucial terreno político e da pluralidade das relações de poder. Essa
para o proçesso h.e,gçmô-nic_g por doiq motivos fundamentais. expansão do político estabelece novos parâmetros pata a
Primeiro, ela requer" num sentido m-Ai-qg forte, o que Gramsci reflexão sobre as relações entre cultura e política.
chamou de fgfurna intelectuaTe moral.f,m segundo lugar, e
/,n influência exercida por esse coniunto de idéias atingiu
mais importante {eã6óiã;êmS conheciào ou devi- sdu auge na América Latin1 no período que vai da metade da
jbxaggte_enfatizado), é no terreno áa cultura que o§íníãni4 década de 1970 aos anos B0fO impacto de Gramsci, que assumiu
Wt:4!t!go modo específico de operação da hegelnonia, características distintas n6s diferentes países, foi analisado
que define o conceito e o distingue da dominaçáo, é produzido por vários estudiosos,6 Uma evidência interessante de sua
(ou não).a É, portanto, por meio do conceito_ de hegemonia vigorosa difusão encontra-se em um relatório dos serviços de
que Gramsci formula uma nova maneira de_pensalg§13çLo* inteligência, apresentado na XVII Conferência dos Exércitos

('6 67

\.
I
Americanos , realizada em Mar del Plata em 7987, que conferiu boom gramsciano. Esse ambiente particular parece ter alimentado
a ele o status de "ideólogo da nova estratégia do Movimento uma forte ênfase na possibilidade progressista ou "revolucionária"
Comunista Internacional"f O relatório acrescentava: "Para da hegemonia como projeto de transformaçào da sociedade'e
Gramsci, o método nào er{ a'tomada revolucionária do poder', Tal ênfase contrasta com outras leituras do conceito; os teóricos
mas a subversão cultural da sociedade como passo imediato europeus, por exemplo, exploraram predominantemente sua
a fim de alcançar o poder de forma progressiva, pacífica e aplicaçào para a anâlise da manutenção do status quo e das
oermanente."/ relações de poder dominantes.lo
I
, ;i*; Várias ra7ões exp-licam a ampla §isseglnlgã.o_.d4:lJle-ias_
de Gramscí.'ilrlqr_eiro,lelas abriram, para-'üiriâ esquüãã em
crise, a possibilidade de explorar noyas dífeçÕgs teôri*ã§í
políticas sem ter de enfrentar uma ruptura tfaumátrça. Comõ
disse José Aricó, um dos primeiros entusiastas argentinos do lrta unt"iióres fera-m.rcdefinidqs-.@3-rros, 1 986). É emblemáti co
marxista italiano, "Gramsci era paÍa nós aquele ponto de apoio '
dessa ruptura o reconhecimento generalizado de que, no debate
sólido a partir do qual podíamos entrar, sem abdicar de nossas político e intelectual, a idéia de democracia tenha substituído a
idéias socialistas e da confiança na capacidade crítica do de revolução (Lechner, 1988; Veffott, L984; Coutinho, 1!80;
marxismo, nas mais diversas construções teóricas" (Aricó, Barros, 1986; Garcia, 1986). A relação com as massas, as formas
1988: 39). Nas palavras de um brasileiro, Gramsci tornou de organízaçáo, caracterização dos sujeitos políticos, o papel
possível à esquerda "ser tranqüilamente heterodoxa", assim ^
do Estado e a própria concepção de política foram obieto de
"suavizando a renovação de uma esquerda que estava dis-
debateerevisão.pf grtalg-c14ge*tlqd4sqciedadg-çr-r-itlqi-gg-Tj
posta a abandonar o'marxismo-leninismo"' (Nogueira, 7988:
der4do_Juuç!amentalpaÍa.3._991*ryça*o*§,4de-m-o*ei-a-çig:__yTa
1.35, 137).8
visão refo-rçadãp-ç-E$pp que a çrit-içq ggÇ-gc-a- ae*!q1gp 3,yto-
Ém Se gu ndo lu gfr ;.a obra {9 *G11 mqgr_9&Ixc_eu_?_g!gu gIla
' ritârio lev.qyg,_,.c-oqo _ngtog -Lec!rpe--1, a ulna çríÍiÇa das ço*ncepçoes
latjno-apelicana um quadro-das refeiência apropriado pãa (iechne.,7988:27).
examinar a especificidãde históiiôa dê suas próp1ias_sc_ciãdãdqt, "ttulita-t-de-f_o-(tSaf
em especial, as foÍmáslarticulares das relaçõer .rtrÉ"l".idu. Í Nao é difícil vistalízar como os conceitos gramscianos de

e-ntre Estadõ e-soeiedade. i;essa forma, "a busca-,da:eüdad"


hegemonia, sociedade civil, intelectuais orgânicos, vontade
nacional"- enc-ontrou ?m Gramsci uma fértil base de apoio coletiva e reforma moral e intelectual proporciolaÍam meios
(Córdova, 7987 : 99 ; Aricó, 1 988a : 41. ; P otantiero, I9TT Coutinho, adequados paÍa a construção intelectual e a açào política no
1980: 56-60; Coutinho e Nogueira, 1988: 106). Categorias formu- novo cenário\A notável incorporação dessas palavras ao voca-
ladas por Gramsci em sua análise da história italiana, tais como bulário político geral dos anos 80 indica um amplo reconheci-
"nacional-popular", "revolução passiva" e "transformismo", mento de sua pertinência , ainda que não necessariamente do
tornaram-se fontes de estudos dedicados a analisar experiências entendimento de seu significado conceitual preciso.
como o populismo e o papel do Estado na configuraçáo das . 'h noção abrangente de hegemonia forneceu um quadro
sociedades latino-americanas, para as quais a contribuição do cle referêncü' ããp§Eí"'a[ãã"r']o A-a ql4Fi possÍvet rwisar*
marxismo tradicional era considerada insuficiente. velh oq p!oble-1!"a-s-e"-mar-s imporranre ai\d?, eta minâr o,qJa s
Mas foi no sentido da compreensão dos novos processos questõ g-s_ e_ in-tgg-14- las em um, cQniunto -coere'ete. O debate
p o I ít i c o s q u e e s t a v a clurante o seminário sobre "Hegemonia e Alternativas Políticas
_ç !q njA o_ !o m a n d o fo+ma,-e d o s _des a f1q s
políticos que represeÀtavam, que as rotas abertas pela influência na América Latina", realízado em Morelia, México, em
de Gramsci começaram a ser cadavez mais explorádãs. Às§ím, a f,evereiro de 1980, tomado por alguns como um emblema da
problemática da democracia e todo o conjúnto dê-nôvás questões clifusão da influência de Gramsci na América Latina (Aricó,
que ela implicava constituíram o cenário em que se manifestou o 1988b: J1), girou

68 69
tl
I

em torno do conceito gramsciano de hegemonia, sua validade construÇão desde baixo de uma vontade coletiva expressaria
como instrumento teórico e político para reconsiderar, da pers- a busca de "uma unidade dentro da diversidade" de sujeitos
pectiva do presente, as limitações da teoria marxista da política políticos coletivos autônomos (Coutinho, 1980: 31).1a
e do Estado; as reelaboraçôes mediante as quais tal teoria poderia
reconquistar seu potencial crítico e sua capacidade de produzir Para uma parcela significativa-da-.ç9gue-1Ça, a lüta contra
estratégias de transformação no terreno concreto da realidade os Estados autoritários se desdobro.Ll nuÍna" luta' coiltÍa*rÔ-da§
latino-americarrai e, finalmente, a relação de continuidade ou as formas de autoritarismo e reforçou a reeusa das ealegorias ('

ruptura que se poderia estabelecer entre os conceitos de Gramsci conceituais ortodoxas e rígidas na anâlise polític.a.1a Além í;'
e a tradiçào leninista. (Aricó, 1985: 1,2) disso, a crescente diferenciação e a compl,exidadedaʧa-çi9-q?qes
latino-americanas náo pareciam se encaixar mais nas Çat-ego-fia§-
A compreensão desses conceitos estava e aifida está e formas tradicionais de fazer política. Os erros da experiência
longe de ser homogênea ou unívoca. É um - lugar-comum -
concreta passada somaram-se à crise teórica e estimularam
reconhecer a multiplicidade de leituras inspiradas pelas notas interpretações inexploradas e combinações heterodoxas, Uma
fragmentârias, assistem âticas, inacabadas e, com freqüência, op ç-. na f ç
ad [i-d3$ xlb,i e
-4a -*dive.rs i d
ê n f a s g- I u Ii sm--o- e". I
preliminares, dos Cadernos do Cárcere. Os usos de Gramsci, 1 1a
inspiiõú nàô sôménte a particular 1p1o9-riaçã9 do p9191T91to
não por acaso o título de um dos primeiros estudos gramscianos ae ôam§çi:e-orr-ró tàmbém l1r3 mlstuiâ àôm vários outros áüôiês,
produzidos na América Latina,ll foram muitos. Porém, çLe_i_o rnarxistas e não-marxistas. Oé n'ôúôáült a Cornelius Castoriadis
que a leitura predominante de Gramsci dentro da esouerda e Agnes Heller, de Claude Leffort a Jürgen Habermas, Norberto
Ia ti n o - a me ri cân ã-s u bffi t.-e s--íãããFci a s Bobbio, Tocqueville e Hannah Arendt, a renovaçáo da esquerda
dife rente s: a c rid| a-1e_99r! dõra dõ mí,üúüro -údi;id'-,al;
se abriu para um ecletismo antiautoÍitário que torna difícil
ênfase na construção {emoiraciã, êom__seu correlato fortaleci-
-da distinguir influências particulares.l5 Ainda assim, como mencio-
mento da socieáaã. ciüi---.*-l"tÍúãtôs das àua]--
nado antes, para uma parte representativa da esquerda, Gramsci
uma nova abordagem da relação entre cultura,-e-paliuea.12
serviu de base sólida a pafiiÍ da qual se tornou mais fácil
Nesse sentido, o uso dado aos conceitos gramscianos permitiu integrar vârias outras influências consideradas apropriadas p^ra
e fomentou essa conÍluência. Em 1985, num debate no Brasil enfrentar os novos tempos.,A neeessidade de dar conta da nova
sobre esquerda e democracia, Francisco lVeffort e Carlos Nelson realidade e.de fo{mular novas estratéqias de aeão.constituiu a
Coutinho, na época os proponentes mais importantes da princi.pal -f.orça-subia-c"e-nrç Írão apenes ao impuls*o regqy4dg1
democracia na esquerda intelectual brasileira, ambos gramscianos daesquerda,-'-l]-13§.-.te-!gLéJn-àleitu4-paricuJar*de"*Grasu,çi-que
conhecidos, reagiram a questões sobre a natureza inerentemente fez parte desse impuls-9.16
democrática da hegemonia de um modo que reconhecia clara-
' \p papel a ser desempenhado pela -so-cieda-de- ciyil na cons-
mente essa postura seletiva em relação à obra de Gramsci.
Depois de destacar a muito esquecida distinção gramsciana trufçbo da hê§emonia foi fundamental para sua adoção p-ela
esquerdã ôônto um mareo"de referêneã@-iopri rí a luÍa
entre hegemonia e dominação, §íeffort afirmou:
pela demoêiacial-A necessidade de análise teórica e compre-
ensão política do conjunto de forças sociais que surgiu
A meu ver, se a noção de hegemonia pode ter um significado clurante a luta contra os Estados autoritários era crucial para a
antidemocrático, deve-se buscar para ela um sentido demo-
esquerda. A caracterízaçãojA§egledaqaglY1l-çgl1g tt* a arena
crático. (...) O que estou propondo é que inventemos, se não
existe, uma noção de hegemonia que seja democrática. clapolitlca*e*caqlffi s-dgg.esf o-rço-s.he8çmÔRjço§,pemcomo
urn t"riã.,o privileelad,ç de Jêiô;B?,-lqqç|Eçfual e. moral-e--dã -'
Por sua vez, Coutinho defendeu a necessidade de articular construção-q?-yql.t4-49-§-o]çtiya"lSrnc*csi-fu {1311-T-!asanalíti93s-
a idéia de hegemonia com a de pluralismo, para fortalecer o e orientaçõgg pg!ític1g par-V\tQar com um eleÍnenú.elrcE§ISg
elemento contratual já presente nela (Garcia,7986:86, 98). que não,se en?31?Ia ry_q vJ-1!-o§-Iuod-ç-1p§*Bem familiarizada com
Ademais, concebida sob essa articulação, a hegemonia como o "ata(úê frontalt, a-ésquêrda tinha que aprender a conduzir uma

70 7l
LL
sentido'
como terreno necessá{o da lut1 p-qlitiga No mesmo
"guerra de posições" e a operar na multiplicidade de trincheiras
áãfi"r, á socíedade ctoit có*ó *.iu ã át"" da luta política pela
que esse conflito imPlica. nqcçssariamente reconhecer sua na|n)reza
hegemonia significa
-e
lloe acordo com §7effort, "a descoberta de que na polític4 .oã,rudirória heterogênea e recusar sua mistificação como
,t hH algo mais do que o Estado" começou como ufiIa-experiência pólo virtuoso con-trà üm Estadó diab1lkoy'
'
, pessoal para a esquerda, quando as vítimas da represq!-o e relaçào entre
Se ofereceu uma nova forma de concéber a
r da perseguição pólítica êncontraram proteção não nos p-aftld-g9
Estado e sociedade civil, o conceito de hegemonia contribuiu
políticos ou no sistema 1ydlcial, mas na \$eta caróLica*-los na dinâmica
também parffiTcompreensão das transformações
amigos e ffiiarésl Ôs primeiros sinais da sociedade civil sociais' expres-
dessa últimal$ s-qrgimento dos- 1-ngvimentos
se apresentaram como uma defesa eontra o-il+errcrrimtg de
sando-,uma*pú-f].Oe-q.*Q9lltçiq,qff-.sr..ç:a Çi:§-:à5rje- h.e!g-o"-s.f---
Estado", como uma reaçáo contra a paralisia do medo, me:!1o ãã-í dade s l ati n o - a m e ri ç4n a s
para aqueles que não esraYal! enYolvidos em política (\íeffort, ,reiaá# -:ã"*pf e-xia--ãàê so c ie
p4t a a
aprofu ndaram um-.d esafio te órico-p glitiÇg fund4mqnl4l
1984: 93). A resistência contra os Estados autoritários gradual- dos s-ujeitos p-o\itiços/
esquerda: a quesÍão.d ? çWacr:gllzação
mente foi tomando forma através da organização crescente
da sociedade civil. Essa característica açqbqy p-r-ornovendo Há.u.g1.ry-r-gl-o*1g991!-"-.-ingf rtp--ds-qggaÍeoriadahegemonia
.. uma visão que 9p_yt!lfgig?]a."!9_'9ç1e-@d-e 91"-il-a qg$õ' implica uma ruptur, .o* ã ";çãá ã" q"e-tl"Ío-§p-qlíliêõÉ-:prõ-
-p*P: -o
z i d o s d e po-si Ç*Q-ç^q, !,o*
c o nst i tuíd os* p ode m s e r d e du
s

Jorge Castaõeda, em sua análise da esquerda, considerou


que essa visão disjuntiva contradizia as tendências européias de p!ôduÇãô ê-eÕnôlhica poi meio !e um reducionismo*{e
mais avançadas, tais como o pensamento de Foucault. Atri- .ruriã (sàiiós, 1986; Aricó, 1985, 1988b' Nun'.tfaj; coutinho'
buiu também a Gramsci "a ressurreição da velha dualidade 1980; Riz, Ipola, 1985; Laclau, Mouffe, 1985X -q?T!-::!.'"
hege-mônica tç-que1-'la pb!§1ção dç 9ry1 g4jdadé
'C.ulrurãI-§o-Cial'
Estado/sociedade civil", com seus riscos de mal-entendidos de yontadç-g dis_Pe1s;ts,
e confusão (1994: 171). Na realidade, essa dicotomia tinha -Jair.rr" á q"à1 um4 r,nultiplicidade-oldada s untas c'Qln" m
obiê.gios -t tt**gen-ç -o-q, - §-ã-9- -s
j

um significado concreto preciso numa situação em que havia . o rn "p

um claro antagonismo entre Estados repressivos autoritários, objetivo único, com base numa me§rrla e comum tont"ng!-
de um lado, e aúnica fonte possível de resistência, de outro: a de mundo" (Gramsci, 1971: 34D/L hegemonia' enquanto-
sociedade civil. Nesse sentido, o que essa dicotomia ex-pressava, procê§so de articuiação dos difeÉntçs .in!çrç-ss-es' necessarlos
'mais do que uma separaç1o leQlica iadiçal.entre Estado e para construit yma "vontade coletiva" e alcançar um -çÔ-n§eai*
,.,.t'
sociedade civil, era a distinçãó ent{e duas pq§-içqe§ políticas iimento atívo;, é ela mesma um piocesso de constituiçãode
{ sujeitos. Esse processo ocorre em um campô
quã ná<i?'tfefinicio
,:tí antagônicas. A(trg disso, se, nessa situação,,1 s-g:giedade c-ivil por um
foi alguma vez considerada uú ator hom-ogê-neo e unitário, o estritamente por forças econômicas estruturais' mas
Dessa
desdobramento da luta pel{depogr-4ci1 .log",o- 9,ç encarregou processo mais amplo de reforma moral e intelectual'l8
?'or*n, a capacidade de transcender interesses corporativos
e
de dissolver essa ilusão láttica.
particularei, de fazer compromissos e negociar' são catacle-
d"1I Em termos teóricos, a ênfase da tgotia da hegemonia na que tornam
iísticas hegemônicas fundamentais, na medida em
sociedade civil como atçqa política nao implicíumáãiôótôm-ia" interesses (Gramsci'
possível eisa articulação de diferentes
.

mas precisamànte uÀa continuidadê entrstsudo e sociedade de m,n-qt -


civil.17 sm spciçd-e_des q11Ç_g _!3 j:.gr-e_ 'I-e'tlç-ào adeg.yy)4-§.ntre
i97L, t6l',182). o "objetivo único" e al'eonceP§49
. comum,, não são pontos-de. parIid.a,-assegqradqq p-or--ligfeilps e
Estado e sociedade civil"' o Estado é "apenas -uma trinche'ira ,
'avançada, ' ;;;;g; pãá"1rniÇ-9s,-ma9-,.y,*"3 co-qsi.ItrçaB em ptocei3õ;
atrás-da"qgal havia um poderoso sistema defatalezas renovaçâQr-
uma aiticülação semfre submetida à 1ee!abg14gào e
e casamatas" (Gramsci, L977: 238)' Porlanto, é exatamente
co.,c"Uiaá.órnoUrtã'p^\a1't)YaÇãO*g9-!Íticls-9tJ-t'.-"-3-l19ltSSe9
po. ir.ru dessa continu_id19: os, es_foreos
-q". -pela.constru-liilo*de da rransf,qulação-social, Além disso,,g§§a ço4ç-epça-9 -9e lege-
uma nova hegemonià ne§§{s-§9c-1e-@{Q! rião podem privilê§ía r
monia como articulação permite a consideraçâo da autonõõiã-"
o Estado .o-o único orletivo ã- minimiZai â ióóiêdaáá civil
73
72
dos diferentes sujeitos e dos processos de conqlrug{-o-.dg s,uas e superestrutura e a relaçâo de determinação entre elas, a
próprias identidades coletivas. A elaboração coletiva dã base ideoiogia como reflexo invertido da realidade, foram substi-
que torna possível essa articulação encarna o núcleo e o grande tuídas por uma visão que acenÍuava os processos sociais como
desafio de uma construção hegemônica. um todo e que reforçaYa a concepção de cultura como ineren-
. temente constitutiva deles, emYez de uma instância separada
Essa visão predominante da hegemonia como terreno de cons-
.
d" "U-!gSg-@
e subordinada.2o O conceito
.. tituição de sujeitos políticos, críticadé-*C-raltfrí*"
ancorada na
reducionismo econômico e sua ênfase na primazia da política
por meio do qual ele suiiénú-a indisgo-lJb,iliclacls- lq4giça
àntrenf úçsqmaieriaiei'eli4gql@§-IíüE.q-q.1va|ê$ç-itule19-11
., . entendida como um processo ético-eultural;-constffüíüurrir instrumento cruciãl na virada teóliqa" gue-iedefiniu o estatutg
base integradora a parÍir da qual foi possível tratar dos movi-
negativô, süUôrdinadô, dá- cul1u1a. A idéia Qe-eulurr2--cCImo...-
mentos sociais emergentes,-bem-corno da uúlfffiIiç-dad9 dê
materialídade, que Althusser tinha tomado de Gramsci para
preocupações e interesses que esses movimsglg§_tlggxeram
f u n da men tar s e u s a p a rato s i d eológ-r cO§ -dá'ffiaqq EF
-
para a çena política. Para seus defensores, essa visão expressa q""/, .-9lP-115
perada parL-afirmar não somente o fato a",
vârias motivações, entre elas o desejo de romper com o reducio-
expressa sen-1pre po-r meio de práticas e institúiçõ9g,Jrc-ory
nismo econômico sem cair no pluralismo liberal e a necessidade
também sua integraçào em um processo so9r3!m419rial/
de dar conÍa da diferença sem deixar de lado a preocupação
o áí"tá- *reo de -refeçêneia"-â.re-14çao--9ntr9
histórica da esquerda com a igualdade. Ademais, o tralannento ""t-
cultura e política "ôr"
perde sua externalidlÇe: enquanto as abor-
\i..de s s e s novo s ?to Les esrav-4. i ntima mente liga d_o-=|__çxp e cta tiva <lagens u.ttê.ior.t buscavam a"'"politizaçào" da cultura, o que
",;,de fazer avançar a socializaçáo da política na sociedade civil
geialmente significava inserir elementos de consciência de
(.t
' como base de uúá §ocíàli2açà,o radicalmente democrática do
' poder. Nesse sentido, sua leitura da concepção de hegemonia ãlrrr" na cultura popular, a cultura, tal como enfalizada por
Horacio Tarcus e Blás Santos (1990), é entendida como inter-
foi prêsidida por aqueles elementos teóricos considerados
namente constitutiva da Política:
apropriados para essas motivações.le
Na medida em que teve sua validade e relevância estabe-
À política cultural 4ã9.é-uma-matétia optativa' a r'natéria'etetna-
lecidas no processo de renovação da esquerda latino-americana, '' màr,," pe ndq nt-e dos pr-ogr-aÍnaq-!-9 e-squç 1da, ma: u ma
.m1!9.r !a
essa interpretaçã.o da hegemonia gramsciana facilitou uma tal que não resiste a ser simpléímente 4dicionada a ç-le-q'-§19a
nova compreensão das relações entre cultura e política que mera Presens3-q*"!t,9tta e .obriga a lefoJmr1l1r a ts!e!-d?-dg 90
ia mais além dos limites do campo específico da aníiise cultural. modo como se coricele-ç-!é pptiça a p-ql-í!i"ça. Pgis 1f+t-!g 9S-
A não-subordinação dqs relações culturais e a-tm_b_ffçação uma política para a culturq l?- ggqggrdS- rçs-ê""a tg!!q-aç qqlli?
paÍa um compartimento estanque do social, pata um4 -â1ea
constirutiva entre- cultu_ra- -Ç p.-olítica, csra,belac'td4§ c,omo
delimitada e recortável, mas um sintoma, nem mais nem m-enos'
' princípios pela teoria da hegemonia, levaram os qgg bgç_ce-""g1?, de uma fàLta de Política tgÍaL-
' .

.abordagens novas a fazer de Gramsci refeiênóá"óbrrgatQía_gq


campo dos estudos da cultura. Mas, porque esses dois princípios Se a concepção gultu14 c-amo-a-1gfbuição de significados
' Qç_
são intrínsecos e centrais ao próprio núcleo do argumento da cmbutida eú todas ãJ práticas sociais foi-estãtiãêei@o
hegemonia, como tentei mostrar, a influência da hegemonia em cla antropologiá, o que a Íéoiià- dá hegemonia iluminqu-fgll9-
outros campos trouxe consigo uma contribuição decisiva paÍa a Í'ato de que essa atribuição de significados ocorre em um
generalização desses princípios, como parte do processo de contextoÇa-r491ey14u!epplç-o-*llipl-.-fêtaço-*s-tl'r-e""3ç:Ngq-s3-
renovação da esquerda. sentido, a luti poi significadô é É-o.,t gu-em1-e-T o direito de
Em conseqüência desse processo, as ênfases anteriores no trtribuí-los nào é apenas, em si mes1ai uTa 19.?: p-çliÍtca,
tratamento da cultura foram abandonadas ou minimizadas. nras é também inerente e constitutivá dê'toda política
(ver a
Categorias importantes como a separação entre infra-estrutura I ntroclução deste volume)'

75
74

ü.
r /,
/ coloca a "ârd;ra questão de que se é possível - e
como
O novo estatuto teórico conferido às relações culturais e
não
-
permi-
. seu papel na definição da política e da transformaçáo social , conseguir a conveigêncía e a unidade dessas lutas'
("')
conseqüências para o campo da anâlise eu{ural./ tl.rdo"qr. se dispersem ou se esgotem no particularismo'
Átçy_"*:*1113:
/Primeiro\uve uma mudança significativa na abordagem da' .r- prábl".na que o outro reducionismo não soluciona' mas
,r) 1 pfópria cuJtura pgpu!{A negârividade implícita na análise simplesmenÍe nega" (Nun, 7989: 50-51')'
Essa mudança teórica permitiu também que a
,marxista tradiç!-o-ga] foliübstitu{da por uma+isão-p."siii"â qu" esquerda
i,
ignoradas
enfatizava a autonomia ér:iativa, a capaadade de reelaboração levasse legitimamente em cànsi deraçào as dimensões
cuja relevância
simbólica e a negociação, como traços das práticas culturais pelas anáúses marxistas tradicionais, dimensões
dos setoressuba[erqg*s. Em um padrão não incomum na hisi-ót:iâ política se tornou inquestionável na cena latino-americana eÍrr
intelectual, em que posições antitéticas polarizam temporaria- mudança dos anos Aô. por um lado, a crescente heterogenei-
mente o debate, essa positivi dade apareceu, em algumas versões, dade e complexidade das sociedades latino-ameticanas'
por
como uma pura celebraçáo da "yoz do povo,,, ou como a encar- impulsionadui po, uma modernidade cadavez mais definida
uma vasta pluralidade de
naçào essencialista da verdade, acompanhando o basismo ,rrà, .o.t""ões globais, engendraram
gradual dos
que sucedeu e reagiu às formas populistas e autoritárias de novos temas culturais. Poi outro lado, o desgaste
tornaram
organizaçãopopular.fmou-rrasv_e1sõeq,_c-q!u-$1-,lh9S3mô$cas,, Estados autoritários e a Íratsiçào para a democracia
dos
possível que a capacidade de iniciativa e de invenção
r e lsúaltp_rla s _1_i g p I e s_m e n te s e .tra nsf oÉmerarpê rn ãoyas_ den o - múltipla
grupos sociais na sociedade civil revelasse a dinâmica
min-açQes para 4s vêlh'ái e momolÍticas dicot_o_mias-ã éàutlrrirtrs. fotma' uma atenção
-
áas relações entre cultura e política' Dessa
Mas uma verrente §ignificativa na análise _çü[iü;ar levou sem precedentes a temas càmo vida cotidiana' subjetividade'
cultura jovem e consumo, começou a tomar forma dentro
. ad111_teas lições gr4ry_sci4g4 s de ai.àliàçao ieatista ê- ,t""i, da
da culüra dái massãs itálianas comà u-, concepçào de mundo, Como diz
esquerdá (Canclini, 1987; Nun, 1989; Lechnet,7988)'22
pertinência
-car?ptgU4qdapçlg!ç_!91og_eng!@d9,frsgmentação,ambigüidade Feinando Calderón, ao concluir seu artigo sobre a
e contradiçõ-e9, b1m co_m_g p_gr lo1m39 específicaq _d-ç_.çonheei- do pensamento de Gramsci no contexto boliviano'
mento expre*sq4,q nas noções -de_folc-ló_re, .senso comum,, e
"bom senso". Essa visão afirmou o caráter piüral, descontínuo estou convencido de que enquaflto não interpretarmos
realmente
e complexo do processo de constituição de sujeitos sociais que move u, pa"oá' a íazer e sonhar' o que fazem e sonham
o
"contra todas as formas de simplificação reducionista,, (Riz, a cada dia, isto é, compreendere aceitar em sua plenitude as
múltiplas e diversas manifestaçôes sócio-culturais' é
impossÍvel
Ipola, 79851 6L). sociedade'
estabelecer metas de direção intelectual e moral da
As noções de senso comum e bom senso fundamentaram (1987: 18)
a crítica da redução de racionalidades necessariamente múltiplas
àquela da concepção marxista de consciência de classe e de Essa rrcY+=po§tu{a . m--f a c e das-relaçàe-s *e !!le 94!y"-ç
'^'

seu portador privilegiado, a vanguarda, no que Nun chamou p olítica e steve, como ií f oi me nç-14-Í]ad-ointuna@
t'tt Ttgadu
de "o outro reducionismo". Subjacente a ,,uma abordagem à o suryiiricnto da construção hesçmÔrr-iça-da deneUaal;
o
lo
autoritâria e vertical da política,,, esse ,,outro reducionismo,, proietJ da esquerda. Para aquÇl? P*art: signili:1tiYi dli.tq-}f
rejeit.a também uma guerra de posições que, nas complexas ôôrío dêsafiô'cêntfâI
ã;; ..,gu;À n9s9-e eryieigr 9-9.19Jóú-se
'; (iiá,8) à'""" á";'f i"'ã'i4ç-
sociedades do Ocidente às quais se referia Gramsci, precisa- a reela1oraç,ão do q;ãié;liÀ*
rência.9-lg*tly3l-r-S1l-e.f-=9-.--çáú'-'j31-§da:Íitffi e;;ffi
mente "...exige o abandono de qualquer idéia fixa de estados r'a
maiores ou exércitos ou discursos pré-constituídos, e sua substi- clemocrátjcáI'ÃT"i;*ffiãi,iãs."õãto"&sautori[ári4sdes-sa1e-f.9,-
a vaqgg-11{â'
tuição pela idéia de destacamentos e significados diferenciados, rência coletiva previamente existentes --- o Estado-'
que vão surgindo e se transformando, nos múltiplos espaços o partido fàram postas sob suspeita ou rejeitada§ cgp!]e
onde se dão os antagonismos". Como reconhece Nun, isto
-,
tamente, Obviamente, repudiou-se também o mercado
como

77
/b
a referência universal proposta pelo neoliberalismo
em sua responderam a uma tendência global, mas foram fortemente
versão despolitizadora do coletivo.
determinadas pelas características e demandas específicas dos
Além disso, na América Latina, a construÇão processos de construção democráÍ.ica no cenário particular
de uma refe_
rência coletiva democrática desde a perspectiva de cada país. Assim, as novas abordagens.da-s.relaçôes entre
da esquerda
dificilmente poderia apoiar-se em uma
redenção de elementos cultura g políqça e as novas visões da política nas quais estão \n

históricos do passado. Não por acaso, embutidas expressamlma -confluênciq eg1çç--a-q" iell_r1Ê!çirs,
a elaboraçào de uma
"gramâÍica nova" para a poútica é teórica§ 4iscutidas-ate.aqui e as direçÕes políticas que il1r-g11am- r',
uma metâfora recorrente ,

usada pelos analis_tas para expressar nos contextos políticos concretos da democratização.23 A fim
o carâter fundacional
atribuído ao desafio (Ipola, portantiero , l9g4; cle itústrartsíáargumento, discutirei ô pzipefiÍi§ movimentos
_democrático
Lechner, 1988; Telles,79g4b).A buscaã. u-u nova linguagem, sociais no processo de democratizaÇào no Brasil e as direções
u* novo conjunro de remas, regrás políticas que surgiram de suas lutas concretas.
" o;";úêà*;L,
.", 3"
rormas de tazer política, resumida freqüentemente
na àêmariaa
por uma nova cultura política_ às
vezes, par*qfna'ttoy, .ükuru
. tout coutÍ delineia o a.lcance a* t*nrtãili*, DEMOCRACIA E CIDADANIA: A POLÍTICA
- democrático.
nesse projeto "_O;àr,
_- CULTURAT DOS MOVIMENTOS SOCIAIS
' sujeitos e espaços a serem eqvolvidos
em sua co{rstru.ção e a Como na maioria das sociedades latino-americanas, as lutas
substituição, elp-1g§-1 pela hegemonia,
de uma ,,1ógica dê políticas no Brasii ãe hoje são tiàvadas eh to*o d" p-1"à;
guerra" por uma ,,Iógica de pg-lítica,,
que impõe o reconheci_
menro múruo dos diferentes iujeitos (t..hn"r,
alternativo§dêd ia. Como está dito na introdução destê
i-llAA;-Zi_)U, volume, "o que está fundamentalmente em disputa são os parâ-
' c-onsrituem os principais t.açoi percebidos como quahriáo.es lnetros da democracia, as próprias fronteiras do que deve ser
desse desafio. Todas
"rrr, .àrr.t.rir,i.^
necessidade de uma compreensão
up;;;;;
político_cultural am aif._
, /)
clefinido como a arena política: seus participantes, instituições,
processos, agenda e campo deaçáo". Os movimentos sociais tl ,ll
renças, sem a qual sua articulação
pode jamais ser concebida.
hegemônica coretiva não lrarticiparam profundamente dessa luta desde o começo du [ (4
. Nesse senrido, resistência ao regime autoritário, no início dos anos 70. I \t
? :ova pe-1cepçio do slgnjfic4Qo* poltiço
da cultura, de sua igrbricação
Embora o papel positivo dos movimentos sociais na transição 1

corriiii.rtiua com a polírica, foi,


r pura a democracia tenha sido amplamente
reconhecido pelos I
em larga-medida, uma
çgnieqüência de muaanÇ;r;;;;.;;;. desde o retorno ao domínio civil em 1985 §ua cop11i-f
g e ra l s obr eo si g ni fi óãci ô -.d a p.l_op-
lunalistas,
ç_a;-*onde,_ ce_!1r o, .[lruição real ou potçnç-laf parà-ã éi§anpão é aprofundarnento da
l_rl-t
*l_A_pg
por quem e sobre s q\le a
es sas interro gações postas,
-polítiôiã&S_--r-gtfsim^com todas -ri[clemocracia foi questionada. Ao discutir esse questionamç4lo,"
áá *r"*" i."p."rasprop.ggciçr4ada
tanto pela teoria c9_ry93ela prâtica, ffàuxera_m s, |rrstentado tanto pelos principais teóricos da "consolidação
Irl c m o c r á t i c a ", c o
uma compre_ rriõ-por - a[guns-. an-alista s "dos*mevirrrerit-dã-
ensão nova da réi1ea9 .ulrrr, .15ã
9n'tr. quando o rereno o c i a i s, s u g e ri m o S qü ã ê rc" Sê s-e zIVã
-fr ü rfr ã,-ͧã-õ;que*p i lv i -
da culrura é reconh:éêião como poftià "'potiçi.3' f,s

llcgiava a áimensão instituciorial do põêeiio democrático,


à como lócus da consti_
tuiçào de diferenres sujeiros políiicos,
quando ;, ;;i;;;;;., s m ov i m e n t o s s o ci ais s ão- apr esggllêgqçqgf q gt-e-|çJ ?lll..e"q. ê
culturais são visras como alvos da lutip"flçi.-, « r

g", i*, ."t"*,


|

como insrrumenro para a mudança f


rrtédesestabilizadoresparaainslitu-ciona\r-za,çj'_o*!e;y_oq!lüça,
páritiôâ, .itá ém marcha
uma nova definição da relação entiá fou como incapazes de adapta-r-s_g -à g9va.4re.na políúcaf.ormal
cultu.á lrcpresentativa. O que essas objeçÕes nào conseguem reconhecer
Para aquela parte da esquerd a laúno-americana "6iirr"r.-.'''
uma revisão de suas próprias concepções,
aberta a lé precisamente a existência da disputa entre con-cepções (. I
essas mudanças laltcrnativas de democracià e da arena política. Como a ênfase '.' t[' 'í '(
78
' ,':,{,,í,,
79
,),
(/
--\
e d;ligualdade' Em segundl
qa le{ggnhauajrr-oÉt-u_c ionall l*e fr-a ço-ns o l i d a ç ã o grqq o p o l i z o u em relaç-Qes sociais de exclusão
-dos-anaiisras-
_

tugar;stlsteÍiçité.id;;:ry::?::::#:::*"i*i3tr'ff
, a maior paltq do§- gsforçq,q intelectuais do
'J.tU:;;;'
p ro c e s s o de democra tização.r, Á-é ricu Latina_
\e _gr ande partei
ff ":â;.;a" 1"1ua3'dl"]:,ryj*}
- ^-r^c:-:^a^ à+
5"#
q]ryi@@-',I'=
rr-r-tcàode cidadan!4 e de
das energias de seus recnocraiâs políticoi), õütráj-áim-ensosclu rç_{-e!}j
fundamentais dó processq, v3loiiTadas pelor. fuisto_ricamen-1 a ntl9t+q§s Y,,:,:""' -{':= ', --- *, -otpqi" qa_llt"jayra_
excluídos da democracia representativa tradicional, sls
i
r".i" auàà-rro-;Lrtplc
sociedad-e-rúo a. cÀní-af irm av a u I
freqüentemente ignoradas. ;;;;':;**."i*'lte19q'l?'-':'$"'"--t:fj=:#ffi
d'ô Es*di;mas.;to
a

l-iftfl-A quest4g !ágr_c,1_que euÇtg..{isc_utir_ nesta seção é comol


#i;#";;i;ãradical'de--srvLlran§'fotmação'
.-.J"at.áçâo- - ^^, .

,: i,,,' \ : os movimentos sociais no Bra-sil contribuíiãm p4!4-Q6r povol Como os-glov-i-rnentos sociais não constituem atores soclals
pela
, 't'significado às relaçôes entre cultura e política em suas lutasl mas se caracterizam
'.
, \i' pela democratizaçào. Há pontos clarৠde cônÍIüêncltãÀtrêt I "*]*i",t"";"-úticos homogêneos' discutidas âqui
\"1
-\,i ! Jaiveisiaaae' ᧠concepÇões
\
.-r.1,, os principais processos de renovação da esquerda e as direções ' h.t"ro g.neidade ia'íuá'=i-t*" da enorme
políticas indicadas pelas lutas dos movimentos sociais. De hào devem-*"l. lgqr"ientativas
fato, essa confluência resulta do entrelaçamento de influências m,üí**-u:g*Íd:,., :U:l'#t",
que ocorre dentro de um campo ético-político comum. As práticas autorltarlas e LrtÇrrLUrro'l^^^
-1^-ienarivns também
significativos tamb
espaços
brasileira certamente encontram
A noção de um campo ético-político dos Ao_v_imentos sociais que não sào' pormnto'
no campo ao' tt"tãt'i"tentos sociais'
i* , fo! desenvolvida para dar qli4 g.p_to_dução e circulaçào de - a elas' furu" é verdade que uma t-"111j*:,?:3:
;;:"t"coletivas como encarnações
imunes
,fl" ''i "um campo co-ú- ãé i.r.êãôia;ããifêrend4s- pqt;:z-ÀçãÁ ';IffiX:fi da virtude
\ ' coletiva e a contestação pàtiti.u" (Baierle, t992, tD. Em análises política, portadoras de todas as
esperanÇas
novas de transfor-
isso não deve ser
\recentes da ação coletiva dos movimentos sociais, essa noçào maçáosocial, deve ser avaliada
criticamente'
lfoi relacionada ao surgimento de "teias" ou redes de movi- as mudanças moleculares
feito negando-se ou obscurecendo-se
;íllmentos sociais, para indicar a construÇão coletiva que resulta q". t"tíftrm das práticas desses movimentos'
altern4lw a na anâlise da
pglitica
'outros
I
A adoçào ds-Ulu4-p9.§p-eçti.v1 de
setores e organizações, como partidos políticos e orga- ae aiàkí$-o-dó- âlcance
. nizações de esquerda, algreja católica, a universidade, ONGs, cultural ao, -p-ou;ç9-ããios-§oei'ai,s-e
(2 svàslutas pela de;;í;;;;ç^o da so-ciedade pretende iluminar
sindicatos etc. (Alvarez, 1993; Alvarez, Dagnino, 1995; Doimo, tot freqüência' negligenciadas
1995; Teixeira, 7995; Scherer-§íarren, 7993). Por m-eio .dD-- implicações aano':""i'iã' "'
" Oessas ur.auro ut implicaçÕes o't*tlt,:tqTt:t::::;:;
IUL14J. Enfali
dessas lutas.
intercâmbio de discursos _e práqicas, ''uq1 processo ativ_o_{_e 'u' ,soeiais..dg.p-f-gjliz-ir {
elaboração que refl ete as*dinâmicas d.e*m"1{!-iplas p_ráticas ,rh..", a. capacidade d.os rnovimentos m'a:.'1lf:****#
, emergentes concretas dg lutá e seus conflitos internos" acontece õ e s \rs
vrsosb
novas vis
"
;;
d" urrra ;;i9 àa de- de
"":^--'---
-----iro [u. "t"t identifiçam,4 gidt* =r,tç çgmo-]r11114Ora
:::'3::Ti'-inreresses.
iúrior tetái, configuiándo,'üm-caryrp*o eticá.p-olítico
degqag---------------- Embora
distintivo.25 e exclud
: Ern pfiméíro lugar, argumentarei que os movimentos sociais- il';ãã
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" 1 .I T l
desenvolveram uma cgfr_c_qpçAg d-e democraci2 rlue. ffan-scendq -
os limites ta nto da s i nst itu içÕe-q lolítiç4§ eqqqaqto*_ Jl_Ad,§ioryl_ o significado e os limites
mente concebidas, gomo d.,q_.modelo das "demo*cr4çiqg_{çalme,r:fç
ffir"I:H:,*.t;it^o-' "atrt"t'
clapróPria Política'
. existentçs". O traço dlstiniivo deqp4_ q-o_qcepção, que aponta
-ãêããclãcã,- da- sociedade brasileira'--ê
peJcepgto
para a extensão e aprofundamento aa ê o faio- Para os setores excluídos
de que sua referênciabás,ica, mais do que a democratização .r,;.fiil;;ãirJ#J;;-;r6trttaaee'úruã.:""'!ltt9:',11:

n tidiars- como
âsÕ c

o ruia^-tã.t
ni; ;A p utte d--e §t'. " :d1 :
do regime político, é a democrutizaçáo da sociedadç- cqq1-o-,-- - p^raodaaAmérica
cxemplar, que se poaã glt"tuliiar
facrlmeíÍe
um todo, incluindo, portanto, as práticas culturais encafl:adas--
81
80
Í ll
i,, -1 l,r,
Latina, a sociedade brasileira apresenta uma desigualdade ,r, N. r, s e rjitgilQp- psl-q dirç-rla-aleldire ilo s'
ntid o,' a lu ta, p o

econômica e níveis extremos de pobreza que têm sido apenas


"
revelou o qüe, aalíto, il.th, qtl" ser uma luta política
contra
os aspectos mais visíveis de uma organização desigual e hierár- .r*, .ulturà air.,r, clo aúóritarismci socizl; estâbêrece5§.:
quica das relações sociais em seu conjunto o que pode ser base para que os movimentos popularçs urbanos êstabele-
-
chamado de autoritarismo social. Diferenças de classe, raça e cessem uma conexao à.rt." cultuia e política coúó
Côfrstiüütiüa
gênero constituem a base principal de uma classificação social de sua ação coletiva. Essa conexão foi um
fü11d1úêritã
-elemento
que impregnou historicamente a cultura brasileira, estabelecendo para oestabelecimento dé úm càmpo ôômym de ârtiôulaçaq ç.9"3
diferentes categorias de pessoas hierarquicamente dispostas àrrtro, movimentós sÓclâis mài§ obviàmg$q c-ullurai ' -têi§-ç9'l]1'g*
em seus respectivos "lugares" na sociedade. Sob a aparente á, eini.or, de mulheres, de homossexllSi1 -ecg.lQg'tqq q dç
em
cordialidade da sociedade brasileira, a noçâo de lugares sociais direitos humanos, na busca de rélàçôes ma'is"igualitárt4s
distintivá'
constitui um código estrito, muito visível e ubíquo, nas ruas todos os níveis, ajudando a demaicat uma visão
e nas casas, no Estado e na sociedade, que reproduz a desi- ampliada, de democracia.
gualdade das relações sociais em todos os níveis, subjazendo t irn insrru mç nlo fu n§am g!!41 dos -mqyjmç q!oq- -9.qÇ1-a§. ç{n \
às práticas sociais e estruturando uma cultura autoriÍâria. sua lura ."..ni" pét, o"Àác1^Lizaçàa foi a ap-rp-pda§ãg 9u I
(Dagnino, 1994)26 amRliada
noção de cidadania, qu.e torna operacional t'u. "^'.tã:. \
A percepção da necessidade de mudanças culturais como d e d em ocrac i a. As oti g.n t al rrY,]-a"-Ç39 §eft Pad'ç+ | +
elemento essencial no processo de democratizaçào foi obviamente nova cidadania podem ser ffqcialnlenlç encontÍadaÊ""t5;
fundamental para os movimentos de mulheres, homossexuais, riência co ncreta doi móvlmentos s I -cia i.s- n*o !::*Ol SO*** I
urDanos'
negros e outros. De fato, grande parÍe da sua luta política é 1970 e nos anos 80. Para os movimentos populares
dirigida no sentido de confrontar essa cultura auÍoritária. a percepção das carências sociais como direitos representou
Contudo, se o reconhecimento de suas lutas como política .r,, purrá crucial e um ponto de inflexão em sua luta' Para
cultural é mais aceiÍâvel, existem ainda resistências em reco- outros movimentos sociais, como o ecológico e os conduzidos
nhecer seu significado na reconfiguraçâo da sociedade como por mulheres, negros e homossexuais, a luta pelo direito
à
um todo e nas redefiniçÕes do político que elas implicam. igualdade e à difeiença encontrou claro apoio na noção
rede-

. No entanto, o que taÍas


yezes se reconhece é_,o-fato*de úian a" cidadania.-um4 p3te-srsule{iva dess3-ex@gia
que os movimentos populares urbanos alcanç'amrrressa Alçr[3 co mu m fo! pela elabo ração- de novã si?Íe-91ldadessslno
-c91s1i1uída
comp re e ns ã o da i mb ri caçào e ntre cu ltu ra e .p 9!í!"ga .a,q_s_i-4.r--qu e sujeitos, como portàdáies dê diieito§, coino-ôItíaOaos-igua§;
perceberam que não tinham que lutar apenas po^r se*u: direitos
Esse ponto de inflexão representou uml"IyP!.y1*c-oIl*§
- social lãpiiiúi"
sociais moradia, saúde, eduàação etc. máõ,pi ntes d e or ganizaçTo:pe{ftkã*dos gto-tqs
direito a- ter direitos. Como pàrtê da oidênação
s
e st raté g às p red om i na
tlg5_
i
autotiÍâÍia,
popula-res, caracLerizadas pelas relaçÔes de tef1ryl"
hieraiqüi€a-aa::ffia.aade brasileira, ser pobre significa não
iir*o pela tutela e subordinação' Essas estrat'égias' evlden-
apenas privação econômica e material, mas também ser subme- "
temente àlnda vigentes, encontràrí suporte na cultura
attoritâtia
tido a regras culturais que implicam uma completa falta de seus
clominante e a reforçam, na medida em que não confrontam
reconhecimento das pessoas pobres como sujeitos, como hierarquias básicas'
portadores de direitos. No que Telles (199, chamou de "incivili- sistemas de classificação e exclusão e suas
por Teresa
dade" embutida nessa tradição, a pobreza é um sinal de infe- São estratégias que legitimam a mâxima, reproduzida
se pede" e
rioridade, uma forma de ser na qual os indivíduos perdem Sales, de que "no grasil, ou bem se manda ou bem
que ainda
sua capacidade de exercer seus direitos. Essa, privação cultural expressam uma conce pçáo oligâtquica da política'
obstaculiza a organizãção política dos excluídos e amplia a
imposta pela ausência absoluta de direitos, que em úliiõa- volume)'
i ns tâ n c ia- s e e xirae S§â--co tro
-u
mr. uir€ããío da d ign idade autonomia política aas Ltitei (ver a Introdução deste
da
humana, torna.§e então-eõilstiiútiva da privação {nat_ei?.\ g da Uma ênfase mais ampla na extensão e no aprofundamento
exclusão polítrea,?1 clemocracia veio reforçar a experiência concreta dos
movimentos

83
82

\
,..4
"
sociais enquanto uma luta por direitos iguais. Essa ênfase, , diferente-s contendores às redefinições aprg.senta.Q4-q-P=gloq""
como já se discutiu, estava relacionada não somente ao novo lmovimentos sociais. Mas umà tll.dlipgta rqqu-e{ também um
estatuto político e teórico que a questão da democracia adquiriu
/f esforço para clarificar a noção referida aqui comó "nôVã-*
' cídadania"
em todo o mundo, como também à crise do regime autoritário .2e

no Brasil e às novas direções tomadas pela esquerda brasileira O primeiro elemento crucial e distintivo nessa noção ployém
e latino-americana. da própria cancepÇào de democracia que tent-a pôr em ação:
A partir do início dos anos p0, o uso do termo "cidadania" a noríorJ,aània busca implementãr uma estraiég1ã-êlê õont-
trução democrática, de transfoima§ão f g"yé iúÉ}F-* ttg1-.
se difundiu cadavez mais pela sociedade brasileira. Enquanto ".-iel,-
I aç o cb-iístítítívó êiiiie cultura' e"p ôIitió a. I nc o rpo ra ndo c a rac-
a noção redefinida continuou subjacente às lutas populares
e às prátícas políticas de partidos políticos como o PT, e ONGs terística§-le ioàieaaaê§ co"iêni'põiâneas, tâis como o papel
como as congregadas na Associação Brasileira de Organizaçóes das subjetividades, o surgimento de sujeitos sociais de um
Não Governamentais (ABONG), a cidadania esteve também por novo tipo e de direitos também de novo tipo, bem como a
trás de campanhas de solidariedade voltadas para a mobilização ampliação do espaço da política, essa estratégia reconhece e
da classe média, tais como a Ação da Cidadania contra a Fome, enfatiza o carâter intrínseco da transformaçào cultural com
liderada por Herbert de Souza (Betinho), ou as associações de respeito à construção da democracia. Nesse senj!Ç--o-,-a,n-ova*
empresários progressistas, tais como a CIVES (Associação Brasi- "cidadan_ia,idearif ica-qo*nstrusws-cu1ÍuraiL-c-eÍIlo-.assújaçe4lç§-
I

leira de Empresários pela Cidadanía). Essa difusão se acentua I uo,ag!gtt!aisp_o*_.qe_c-g-L_9s*-o__?_1y9: _g.eJitici.s-ls"da!sç"81s


I da d e mo-c rcliza&a* quç-a-redefi ojção- da-noçao*d-ç.,
ao longo da década e hoje a apropúação do termo cidadania -L,..* ed-r-qp-
o çg is, e x p r_es s a n ã o
da nia, Jo rmulada p€lo sJn-ovi194loq-s
se generalizou, com sentido e intenções obviamente muito Ic id a

yma estr?tégia política" mç lamleq-r-,ü-gl_qgÍE-


diferentes.2s \rorn".rt.
tcultúral.
-As .versões neoliberais de cidadania, ctiadas em conexão
comaimplemêntaôaoae"ri-ô-liticâ§d*Ellg_ejônQr{Ç-ç,í§llçia1 l, ,.f .Na Améric^ L^-1\13,.?.."9lPlggl"1g*p--gl!giçasulrural:"d-ç*1.igna
que hoje prevàiecem em toda a AméticaLatjn..$ol*'rrt pa+tieu rr
'' normalmente ᧠aÇões do Esta-do""gu--de outras instituiçoes
ú.-"ní.éneiÉiõás"ein,»-ua§..f çl4,úe..ãirgslr"lur*sao+niÍú ,o* rela-ção ài óú*rt".ã, cõitií.rada um idreÍro espe-Amo e
p olítico e seus partic.lp 3 g-te_q, bas ea-d-4s- nu !q?-§9[99pç-ão miqi "sep iueqis4l-.-r@iilõã
malista do Estado e--! " {"-p-"ga-qla*-(ver Introdução destê produção e consu.mo dg F"Sgl çy_ltglSig.i-art-e-. c-in__eg_1" t9Sjlo
volume).p"f etc.Aqui,3-1]!za!ag_q* jp-olÍtica-culrural"para_çE.gl?-aç!ç39
"*-iããõ-ã.ns-p-[Pj-f+]Sng-g-1p.-alha-qoglgr
visão de cidadania como uma t"d[rôrait'tSri;aôão individu p ar aoo c o ns titutivo_ e nttç- Çu ltuÍa "e p" g'Lít jca-e+a.ra-a-redef i=*-
l aç

;;"à;. p.t lado. arua tit,áÀãii.r*àr,t" pr* a elimilaçào niçào de política que essaJisãojmB]4e Esse laço con§-tgulivo
""r-
dos direitót c"àiõiiãados, transformando s-eus porta{o1es7 si gni íiõàQTre
-a-cuft
u rA;-enÍ€ndidâ-€offio-conce gã+d+murrdq
ci dadãos n-o§ lo-vpsr6s§
como conjulto de sig$f]94_d-oq gqç illteg{?ryr P_ú!ic_?9*-qq-çiais,
reformas políticas que pretendem diminuir as;çspo-nsabili- não pode ser entendiàâ ãdequadaÍ-nçnte- sqm A- çg-lliq9-faça*o
dades dó ÉÀtà.d-ó.-ÃõémáIs;ó-s gâstôiloõiãis são dirigidos para das lelagÕe-s {e p_gd_e_r embutidas nessas prâticas, Por outro
a reversão daquilo que foi o grande pa§so na organização dos lado, a compreensào da cõnTi§üTã(ãõ--dêSSm relações de
movimentos sociais, que tornou possível o próprio surgimento poder não é possível sem o reconhecimento de seu caráter
da nova cidadania, a definição de necessidades como direitos: cultural ativo, na medida em que expresiam, produzem e
transformados em caridade pública para os carentes, os gastos comunicam significados.
sociais governamentais são decididos sem nenhuma participaçã'o , r Ahirma r a no çgo qqSf alaryia çqrrro -umaç§!{4t-égl4*pe]Ig

real da sociedade civil (Oliveira, 1996). (Wiener, 1992) significa enÍalize_{ §g!_çarátel + gonstruç3g
A-disputa-simb-oJiçae-r-n."q,o-$-o,dosigrif ic"ad.o-da^cidada-nia
histótica que expressa interêsses e práticas concretas q*u.e nio
prova sua relevância política e a importância atribuída pelop são definidas previamente poi úma essãntia*ünlVêrsal dada.

85
84
rr1

Nesse sentido, seus conteúdos e significados não são previamente do-capi+ahs'qg.3r A nova cidadania requer é inclusive pensada
ãon o consistindo nesse processo
-
a constituição de sujeitos
definidos e delimitados, mas constituem uma resposta à dlnà- -
mica dos conflitos reais e da luta política vivida por uma sociedade sociais ativos (agentes políticos), definindo o que ôonSidéiam
em particular em um momento histórico dado. Essa perspectiva ser seus direitos e lutando para seu reconhecimento enquanto
histórica torna necessário distinguir a nova cidadania dos anos tais. Nesse sentido, é uma esÍraÍégia dos não-cidadãos, dos
90 da tradição liberal que cunhou esse termo no final do século excluídos, uma cidadania "desde baixo".
XVIII. Surgindo como uma resposta do Estado a reclamações I a. O terceiro ponto é a idéia de que a nova cidadania trans-
dos setores sociais excluídos, a versão liberal de cidg.d_ania fende uma referência central no conceito liberal: a reivindicação
acabou essencializando o conceiro, apesr d" _4glg1gpgqtgr, ao acesso, inclusão, participaçào q Eiltencimentca um sigçep-a
hoje em dia, funções totalrnente diferentes da.qu_elas que carac- político iá dado. O que está em jogo, de f?!9' e q dit-eitq de-
terizaram sua origem. p ar tidr$ a. r na p i ó p r ia d e fi n í ç ã. e dê s q é-§ i"s t ema,- p.?-14" d--e,fi{Lil--q9"-

De forma muito preliminar, é possível indicar alguns pontos


que queremos ser membios, isto é, a invenção de uqra--4o-y-4
-gocieãade. O reconhecimento dos direito§ de cidããania,
lal
que esclarecem essa distinção. Há uma semelhança no voca-
àomo é definida por aqueles que são excluídos dela no Brasil de
bulário que expressa referências comuns, sendo a mais óbvia
hoje, aponta para transformações radicais em nossa sociedade e
a própria questão da democracia e a noção de direitos,
em sua estrutura de relações de poder. Prâticas políticas-r'ecentes
elementos centrais em ambas as concepções. Mas, para além
i n s p i r a d a s p e I a n o y a q tdtdq]ldp-.laiç c o-m q-4§,!l e e.-s-u,tgqlL Íras-
dessas semelhanças, é necessário identificar em que medida as
ci d a de s governad as pelo Partido dos Trabalh-ad,olqs/El9-Dles
diferenças políticas que emergem dos diferentes contextos histó- -e §úas organizações
Populares; onds os setores "populards
ricos são também expressas como diferenças conceituais.
I abriram espaço paÍa o controle democrático do EStado mediante'.
I ' 1. O primeiro ponto se refere à noção mesma de-dircitos.A a parlicipaçào efetiva dos cidadãos no poder, ajuda-m a visua-
lnova cidadania assume uma redefinição da idéia_de_direitos, cujo lizar possibilidades futuras.
ponto de partida é a concepçào de üm"dgeito a ter direitos. O Conselho do Orçamento Participativo de Porto Alegre,
Essa concepção não se limita a provisões legai_q--1o acesso. a iniciado em 1989, é provavelmente a mais bem sucedida dessas
direitos definidos previam_ent-e ou à efetiva imBlementaç1g_ experiências alternativas (ver Baierle, neste volume). Mas
de direitos formais abstratos. Ela inclui a inaenÇão/c-li3ção 't foito A.legre é apenas um exemplo entre muitos. Existe hoje
de novos direitos,-q-ue surgem de lutas. espqçiflgsê de suas no Brasil uma proliferação de microexperiências que não
prâticas concreta§. Nesse sentido, a própria determinação do 4 podem ser ignoradas, pois revelam possibilidades importantes
significado de "direito", e a afirmação de algum valor ou ideal àe mudança em conseqüência do processo de construção de
como um direito, são, em si mesmas, objetos de luta política. cidadania (Llvarez, Dagnino, 199r. Ademais, essas experiências
O direito à autonomia sobre o próprio corpo, o direito à pro- mostram o esforço de adaptação dos próprios movimentos
teção do meio ambierite, o direito à moradia, são exemplos sociais à nova institucionalidade democrática. Isso implicou
(intencionalmente muito diferentes) dessa criação de direitos uma mudança qualitativa em suas prâticas que contesta algumas
novos. Além disso, essa redefinição inclui não somente o direito interpretações bem conhecidas sobre o carâter de sua partici-
à igualdade, como também o direito à diferença, que especifica, paçáo política, tais como a predominància de interesses corpo-
aprofunda e amplia o direito à igualdade.3o rativistas que forçariam os movimentos sociais a competir entre
eles pelos recursos do Estado, ou seu relacionamento meramentel
'"i, O segundo pg1!q_gy_e impli,ca o direito a ter direiros, é
| que a nova cida danà ]õ-õóáiííiío a9 ou tras *Çetcepções,_n ã_o clientelista com o Estado ou com quem possa satisfazer suas I
!
está vinculada a uma estratégia das c[4sqes dominantes e «lemandas.
do Estado de incorporaçào poiítica gradual dos setoie3 Não há contradição em enfatizar essas experiências de
excluídos, com o objetivo de..uma maior integração socia-l-iíÉ intervenção popular no Estado depois de ter enfatizado a
como uma condição legal e pglítica necessária para a instalação importância da sociedade civil e da transformação cultural

86
['
como espaços essenciais das lutas políticas pela construção da érica da vida social, Esse tipo de projeto questiona não somente
cidadania. Essas experiências mostram mudanças não somente o autoritarismo social como modo básico de ordenamento social'
nos modos de tomada de decisões dentro do Estado, como no Brasil, como também os discursos neoliberais mais recentgó,
também nas formas de relacionamento entre Estado e sociedade. que estabelecem o interesse privado como medida de tüdo,

d Além disso, nào hâ dúvida de que essas experiências expressam


e contribuem parareforçar a existência de cidadàos-sujeitos e de
uma cultura de direitos que inclui o direito a ser co-participante em
goyernos locais. Ademais, esse tipo de experiência contribui
negando a alteridade e, portanto, obstruindo as possibilidades
de uma dimensão ética da vida social.32
Il5" nrm concepçâ@implica, em
tro n r ra s r e cojn a-vjsãsJi.beralrque.-alida daniaEE-§l@ t
para a criaçã.o de espaços públicos onde os interesses comuns confinada dentro dos !ipi_t-çg.4a,ç"fç-lg""g-9es com- o._-!_q1a_p_o"-,-9u
e privados, as especificidades e as diferenças podem ser entre Estádó e iqdivíduo"-ma*s -de,v-q .l-ef .esiabéle"ç1Q3 no !.nt-çq!.gr
.

expostos, discutidos e negociados (ver Telles e paoli neste daprópria socig$3{9. o proc_ery@
volume). como afirmaçio e rÇÇgnhecimçttg 9: direitos é, especialmente.
Obviamente, existem dificuldades reais para que os setores n a s o c i edade--brasilqita,. ]l ql-gr-a-ç-9*§-§---o--i e tra n s f o rm a çáo d e
populares possam desempenhar esse novo papel. A maioria p ráti cas ar r ai ga d,es ry""*iã.ffif-gg pe u t^"- iôaô. sôs á ê s tr até §iã
delas sê refere às desigualdades em termos de informação, política imp[cá üma reforma mõial e inteleôÍüal: um processo
usos da linguagem e conhecimentos técnicos. Contudo, essas de aprendizagem social, de construção de novos tipos de
dificuldades não estão servindo como desculpas para eliminar relações sociais, que requer, obviamente, a constituição de
o novo papel dos setores populares, mas estão sendo desafiadas cidadãos como sujeitos sociais ativos. Mas, para a sociedade
por práticas concretas. em seu conjunto, requer também aprender a viver em termos
t:
diferentes com esses cidadãos emergentes que se recusam a
| 41. A ênfase no proces,so de. consriruição _dfegl-eiJgs_-9-gl_
"tornar-se cidadàs", na difusão de uma "cu-lçg_q1ç!ç_§llç11p5", -. permanecer nos lugares definidos social e culturalmente para
coloca nov-aÍrre nte- a qu estã o d a cultura de moç-f áJica_{qggç-ig- eles. Esse é um dos pontos em que o radicalismo da cidadania
nada anteriorme,nte, e. apgnta_ para uÍna .op_t_14*.d!q_!-!11ç,ãg como política cultural parece bastante claro.
fundamental: a ampliação do alcance da ngy-a eidada_q-t"a, çUiq Alguns dos resultados de um estudo sobre cultura democrá-
significado está longe de ficar limftâdo_à Aqulsjçãa._[-ç'.rm"?l/e _ tica e cidadania, de que participei em Campinas, São Paulo, em
le gal de um conj u nlo de. direito5 e,- portanlo*agslQlÇgfa pSIíJÉç 1993, podem aitdar a dar substância aos argumentos analíticos
jurídico. A norza cid?§?!ia -é*um projeto para uma nova sociábi- desenvolvidos acima sobre as concepções de cidadanía e
-- ;:5<-:: no sistemã pãíril
lidade: não somente a incorpor4çAg democracia apresentadas pelos movimentos sociais.33 A pesquisa
_.-.=.--:' "*
s e nti d o e st{i t o,._m_a sJilg_]pJrn a go*11p_i s i güãlif ã ii ô ãê reiãõ6é s destinava-se a investigar até que ponto as percepções que
enfaÍizam a democratizaçáo das relações sociais como um
todo, especialmente a recusa das prâticas sociais e culturais
responsáveis pelo autoritarismo social, estavam presentes em
social etc.). Um formato mais igualitário de relações sociais diferentes setores da sociedade civil. Outro motivo subjacente
em todos os níveis implica o "reconhecimento do outro como à pesquisa foi que a ênfase na necessidade de mudanças
sujeito portador de interesses válidos e de direitos legítimos,, culturais hoje no Brasil, onde o aprofundamento das desigual-
(Telles, 1994b: 46; ver também Telles e paoli, neste volume). dades econômicas, a fome e a extrema pobteza transformaram
Isso implica também a constituição de uma dimensão pública da o autoritarismo social em apartheid social, violência e genocídio,
sociedade, em que os direitos possam consolidar-se como parâ- tem freqüentemente sido considerada inapropriada. Porém,
metros públicos para a interlocução, o debate e a negociação de quando a crise econômica determina o que tende a ser um
conflitos, tornando possível a reconfiguração de uma dimensão certo "reducionismo econômico" na anâlise da questáo da

88 89
TABELA 2.1
paÍece
democracia, enfatizat a dimensão cultural da cidadania
ainda mais importante.34 Assim, queríamos investigar especial-
DIMENSÕES DA DEMOCRACIA (O/O)
mente como a conexão entre o autoritarismo social, enquanto
modelo histórico do ordenamento social no Brasil' e a alotal
class mov. mov. âmo$ra
sindicâtos Vseadorcs
empreúri6 urbano s@iais geml
médias
que
situação de privação vivida pela maioria da população'
político, era percebida pelas lo lugâr
pur.Lin clari no nível teórico e
lideranças políticas da sociedade civil' panidos polític 12.5 "\2.5 14.3 5.8

Foram entrevistados 51 membros de setores organizados alimentzção "t2.5 25.O 10.0 11.1 20.o 14.3 15.4

da sociedade civil, tanto de movimentos populares urbanos' e momdia


(tais como
como de movimentos sociais de catâlet mais amplo tÉtamento igual 50.0 50.0 60.0 66.7 70.0 42.9 57.7

de
movimentos de mulheres, de negros e ecológicos), sindicatos participaéo em
)))
trabalhadores e de classe média, associaçÔes de empresários'
r0.0 14.1 9.6
sindietos e 12.5

questões asrcciações
bem como vereadores da cidade de Campinas' Uma das liberdade de
pedia que os entrevistados selecionassem, de uma lista de expÍesão
12.5 1,2.5 10.0 10.0 14.3 9.6

para
dimensões da democracia, qual era a mais importante 20 lugâr
que um país fosse considerado democrático' As alternativas
12.5 11.1 14.3 7.7
partidos políticos 12.5
eram:
r Que existam vários partidos políticos' âlimentação e
momdia
25.O 37.5 10.0 22.2 40.0 zB.6 26.9

o Que todos tenham alimentação e moradia' 11.1 20.0 't4.3 1).4


u"tamento igual 25.0 t2.5 10.0

o Que brancos, negros, homens, mulheres, pobres e 11COS,


paíicipação em
todos seiam tratados igualmente' sindiGtos e 12.5 72.5 30.0 1 1.1 20.0 14.3 17.3

o Que as pessoas possam participar de sindicatos e assciâçôes


liberdade de (il.0 10.0 14.3 28.8
25.O 37.5
ciações. expresão

o Que se possa criticar e protestar. \ ücrlral 100 100 100 100 100 100 100

Nossa expectativa era que a desigualdade social e econômica


seria avassaladoramente escolhida, tendo em vista a situação
econômica crítíca naquele momento e as reivindicações econô- Pergunta: "Na sua opinião, o que é mais importante para se
micas que caracte tizam as atividades políticas das associações clizer que um País é democrático?"
pesquiiadas. No entanto, 580/o da amostra selecionaram o FoNTÉ: Pesquisa CULTURÂ DEMoCRÁTICA E CIDADANIA
tratamento igualitário para brancos, negros, homens, mulheres'
ricos e pobres como o mais importante (ver Tabela 2'1)' O
que A distribuição dessa preferência entre os vários setores
esses .àsultados indicam é que a existência do autoritarismo entrevistados é também muito significativa: ela parece ser
social e a hierarquizaçào das relações sociais são percebidas'
mais do que a desigualdade econômica o! a inexistência
liberdade de expressão e organização de partidos e
de
sindicatos'
,j mais importarfie paÍa os movimentos sociais, a cuja experiência
se associa o surgimento da nova noção de cidadania' Até
mesmo os movimentos populares urbanos, o setor da amostra
como um obstáculo sério para a construção da democracia' certamente mais afetado pela desigualdade econômica, desta-
câram um $digo cultural igualitário nas relações sociaDlomo
climensão áais importante da democracia' Embora sejam

t 90
91
Tr-

certamente menos afetados pelas práticas culturais do autori- na cidade; referiu-se a seu próprio status como de "cidadãos de
tarismo social, empresários e membros de sindicatos de classe segunda classe"l e se queixou de maus tratos por causa de sua
média identificaram claramente suas conseqüências para as raça ou por não estar bem vestido. O Estado foi repetidamente
possibilidades de democratização da sociedade. Os vereadores mencionado como responsável por esse tratamento, principal-
mente através de referências ao abuso policial e à ausência de
eleitos da Càmara Municipal, onde os partidos mais conser-
serviços básicos para os pobres. Embora 90%o dos entrevistados
vadores eram majoritârios, parecem ser os menos sensíveis a
desses setores afirmem que não são tratados ou reconhecidos
essa dimensào igtalítâria da democracia. De forma significativa,
como cidadãos, eles consideram a si mesmos como tais
os movimentos sociais de ambos os tipos e os sindicatos de (movimentos sociais mais amplos, 80%; movimentos popu-
trabalhadores afirmaram claramente sua posição sobre a impor- lares urbanos, 88%o; sindicatos de ttabalhadores, 60%o), princi-
tància reduzida dos partidos políticos para a democracia, igno- palmente porque "lutam por seus direitos".
rando completamente essa caÍegoria.
Outro conjunto de perguntas da pesquisa se referia à natureza
Esses dados parecem indicar que as dimensões clássicas da da política (quem a faz, quem deveria fazet etc.). os dados
democracia liberal liberdade de expressão e de organizaçào mostraram que os membros dos movimentos sociais e sindicatos
- são percebidas como jâ garantidas e
e existência de partidos têm uma concepção ampla da atena política e acreditam que
-
a ênfase é posta na necessidade de aprofundar e estender a a sociedade civil e suas organizaçóes, inclusive os próprios
democracia. A existência profundamente arraigada do autori- movimentos sociais e sindicatos, são espaços e sujeitos fun-
tarismo social como modo cultural dominante das relaçÕes damentais da democratizaçào, mas que ainda estão por ser
sociais, nos diferentes níveis da sociedade e, em segundo lugar, reconhecidos como tais pela esfera pública oficial.
a desigualdade econômica (que recebeu 15o/o das respostas) A ênfase na sociedade civil e nas prâticas culturais que;
constituem as duas questões centrais, claramente relacionadas, subjazem às relações sociais como arenas de luta dos movi- J

em torno das quais se organiza a luta dos movimentos sociais mentos sociais pela democratizaçáo não deve ser entendida{
pela cídadania no Brasil atual. como uma opção restritiva que excluiria, novamente, o Estadol
Algumas perguntas abertas nos permitiram reunir dados e a institucionalidade política como arenas secundária' A expe-
qualitativos que confirmaram, nos membros de organizações riência concreta dos movimentos sociais na transiçáo para a
subalternas, a percepçáo da contradição entre as prâticas democracia no Brasil está cheia de exemplos que mostram ^
culturais autoritárias que permeiam as relações sociais em falsidade dessa dicotomia entre Estado e sociedade civil como
todos os níveis e a construçã,o da cidadania e de uma sociedade arenas da luta política. (Alvatez, Dagnino, 1995).
democrática. Perguntados se eram ou não tratados como Essa pesquisa mostrou que os participantes dos movimentos
cidadãos, os membros de movimentos sociais de ambos os sociais, ao contrário de boa parte da população brasileira, têm
tipos e de sindicatos de trabalhadores revelaram percepções uma visão rnuito positiva das instituições políticas' Enquanto
muito diferentes das dos outros dois setores entrevistados. os movimentos sociais, tanto os populares urbanos como
Enquanto a classe média e os empresários destacaram fatos aqueles de carâÍer social mais amplo (de negros, de mulheres
tais como "pagar impostos", "ter uma profissão", "votar", ou e ecológicos), valorízam claramente os partidos políticos (89
até mesmo "ter dinheiro" como evidências de sua cidadania e 80%0, respectivamente), pesquisas nacionais mostraram que
2o/o da população em geral consideram que "os partidos polí-
(63 e 75o/o desses setores, respectivamente, se consideraram
tratados como cidadãos), os membros de movimentos sociais
v) icos apenas dividem as pessoas"; somente 350/o os vêem como
indispensáveis para a democracia"; 61o/o disseram que os
e sindicalistas ressaltaram que sua não existência como cidadãos
partidos defendem apenas os interesses dos políticos"; e 50%o
estava relacionada com o modo como são tratados socialmente:
cre<litam que os "partidos políticos tornam mais difícil a
a grande maioria deles mencionou a falta de respeito, a discrimi-
articipação politica" .35
nação e o preconceito como parte de sua experiência cotidiana

93
92
il'
Além disso, tanto os movimentos populares urbanos como luta. Na verdade, foi exatament€-€ontrâa "esquizofrenial' das
os movimentos sociais de carâter mais amplo se identificam análises políticas da democraÍizaçào que segregam o insti-
ou estão afiliados a partidos políticos (89 e 700/o, respectiva- tucional do não:insrituçiq!ú _o*.E*stado- da sociedade civil, o
mente), consideram o voto um instrumento importante de político do cultural que degid! tr,abalhar no,sentid"o de urn
participaçáo na sociedade e votariam mesmo que o voto não
-
marco teórico capaz de dar conta.d.essa complexa multiplicidade,
fosse obrigatório (78 e B0o/0, respectivamente). sem obscurecer o que_me p.4{gc_iam ser aspectos concretos e
cruciais da açâo-cóietiva dos moviinaütós soôiais.
Ao formular uma visão ampliada de democracia e operaciona-
lizâ-la em termos de luta pela cidadania, os movimentos sociais
também transmitem uma visão alternativa do que é conside-
rado político nas sociedades latino-americanas. A própria
existência dos movimentos sociais afetou as noções domi-
nantes de sujeitos e espaços políticos, como demonstraram
as redefinições teóricas ocorridas na renovação da esquerda.
Na medida em que participam da disputa entre os diferentes
projetos de democracia, junto com outros atores políticos que
compartilham da mesma perspectiva, os movimentos sociais
democrático, os movimentos sociais e membros de sindicatos oferecem novos parâmetros para essa disputa e reagem contra
parecem estar dizendo não apenas que a mera existência deles as concepções reducionistas da democracia e da própria política.
não é um indicador suficiente ou relevante de democracia, Ao politizar o que não é concebido como político, ao apresentar
mas também que os partidos, tais como os que existem no como público e coletivo o que é concebido como privado e indi-
Brasil, não constituem garantia de democracia. Além disso, vidual, eles desafiam a aÍena política a alargar seus limites e
para esses setores, a insatisfação com os partidos políticos ampliar sua agenda. Para além da consideração dos sucessos
nào é passiva. A eliminação das relaçÕes pess-oa-is e cliente- ou fracassos que possam resultar deles, os efeitos culturais
listas como critério para a opção eleitoral, o fortalecimento de tais esforços sobre essa disputa e sobre o imaginário social
das relaçôes entre os representantes eleitos e os eleitores e a devem ser reconhecidos como políticos.
adoção de mecanismos de controle sobre os representantes
eleitos a fim de assegurar sua responsabittdade; por-exemplo, (Tradução de Pedro Maia Soares, revista pela autora)
foram apontados tanto como práticas concretas de memtjfosdos * Agradeço a Raúl Burgos por sua generosa ajuda bibliográ-
movimentos sociais, quanto como exemplos de suas demandàs fica e pelas valiosas idéias para a discussão sobre a esquerda
quanto ao funcionamento das instituições democráticas fôrmàis. latino-americana; a Sonia Alvarez por uma parceria intelectual
Essas afirmações sugerem que os movirnentos sociais, ao'-_ muito estimulante e proveitosa, da qual surgiram vârias das idéias
enfatizar a transformaçáo das relações sociais autoritâiiâs ê aqui discutidas; ao apoio de pesquisa do Conselho Nacional de
as práticas culturais no interior da sociedade como funda- Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPq.
mentais na c onstru çã q da demoemcia_,.,n-ã o estã o s ele ci o iraa§-q-
,.alvos exclu,sivos-ou-dando,4s coqtas às instituições po_líticas.
Ao contrário, eles percebem que sua política cultural poàe e NOTAS
deve estender-se às arenas po-l{ieas rep-resentatiyas. fo-rma_io.
Em termos teóricos, a p_erspeçIina explora{4_.4ÇU_i çqrtamente 1 Para um exemplo, em meu próprio trabalho, ver Dagnino,l)72.
nào pretende reproduzir a compartimentaç{o e hierarquizaçáô 2
Por meio de instituições como a lgreja, a família, os sindicatos, os sistemas
das múltiplas dimensões d1 democraçia e de suas form3§ educativo, legal, político e de comunicações, os aparatos ideológicos do
lde

94 95
Ir Estado funcionam "massiva e predominantemente por ideolo gia,' para assegurar ,,a uma parte úgnificativa do processo de renovação dentro da esquerda, Ver
reprodução das relações de produção, isto é, as relações de produção capitalistas,, Coutinho, 1980, \ríeffort,1,984, Barros, 1986, Garcia, 1986, Chauí, 1981,
mediante a "sujeição à ideologia dominante,, (Alrhusset l97l:133, l4Í., 154). Toledo, 1994.
3 Em relação a isso, seria interessante investigar o número de mulheres inte- ra Ver, por exemplo, Riz e Ipola, 1985. Os autores defendem uma postura

lectuais trabalhando sobre questões culturais nas décadas de 1960 e 1,970. "flexível" em relação à teoria, que nega "aos esquemas teóricos o exorbitante
aO
silêncio sobre esse componente fundamental do conceito de hegemonia direito de fixar'para sempre'o sentido exato e as Íegras de uso das ferra-
é notável, por exemplo, em Laclau e Mouffe (1985). mentas conceituais e lhes outorga, em troca, o ruzoâvel direito de manter
5 Essa formulação é de aberÍa a discussão sobre os vários sentidos e as múltiplas possibilidades de
Juan Carlos pofiantiero (7977), um dos primeiros
gramscianos latino-americanos, membro de pasado y presente, um grupo de um uso fecundo dessas ferramentas". Além disso, essa mesma postura é reafir'
gramscianos que teve uma influência político-cultural muito significativa, mada em relação ao pensamento de Gramsci (p'45).
surgido na Argentina em7963 e exilado no México em1976. para um relato It Um bom exemplo dessa mistura e da dificuldade de isolar influências
detalhado da experiência de Pasado y presente, ver Burgos (199». particulares é uma crítica de Tomás Vasconi, referindo-se a uma suposta
6 A chegada das
obras de Gramsci na América Latina ocorreu primeiro na substituição da "lôgica da contradição" pela "lógica do conflito" na crítica
Argentina, entre 1958 e 7962, depois no Brasil, entre 1966 e 796g, e no renovadora da esquerda: "Devemos enfalizar que, embora os autores invo-
México em 1970 (embora houvesse uma tradução anterior, esgotada, publicada quem as idéias de Gramsci, os conceitos que verdadeiramente fundam essas
no final dos anos 50). Para uma "geografia,, de Gramsci no continente, ver formulações inspiram-se em Foucault" (1990: 27).
Aricó, 1988a, 1988b, Nogueira, 1988, Coutinho e Nogueira, 1988, Córdova, 16
Para um exemplo explícito dessa abordagem autodenominada "ptagmâtica"
1987, Burgos,7999. das categorias gramscianas, ver Riz e Ipola, l9B5:45.
7 Citado por 17 Ver Gramsci (7971,: 257-264). A continuidade entre Estado e sociedade
Clóvis Rossi, Folba de S.paulo,25 de set-embro de 1988.
8
A ruptura com o Partido Comunista, ao qual pertenciam, faz parte da tajetóúa civil é também Úalada pelo conceito gramsciano de Estado integral.
dos intelectuais gramscianos mais significativos, tanto na Argentina (1963) 18 Ver Gramsci, 7971: 733, para a visão gramsciana dos vínculos entre a
como no Brasíl (1,973). reforma econômica e a reforma moral e intelectual.
e Ver Burgos (7994) para uma discussão da influência da concepção de hege- re De acordo com Riz e Ipola, a condição para que o pensamento de Gramsci
monia gramsciana no Partido dos Trabalhadores (pr) do Brasil e na Frente seya capaz de estabelecer um novo modo de análise das realidades sociais
Farabundo Martí de Liberación Nacional (FMLN) de El Salvador. latino-americanas de uma perspectiva marxista consiste em não "sacralizâ'lo":
r0 Esta última tendência parece
ter se desenvolvido mais nas sociedades "Isto é, se não se fecha um pensamento e, ao contrário, se trabalha com ele
capitalistas avançadas. Em alguns casos, o potencial revolucionário da hege- e a parÍir dele (e, às vezes, contra esse pensamento) a fim de dar conta de
monia, tão importante no próprio pensamento de Gramsci, foi simplesmente realidades sociais concretas..." (Riz, Ipola, 1985: 61; ênfase minha). Porém,
ignorado e o conceito foi reduzido a designar um ,,dado,, inerente a qualquer essa leitura conscientemente seletiva nem sempre é explicitada. Assim, por
tipo de exercício de poder dominante nas modernas sociedades capitalistas exemplo, a afirmaçào isolada de Gramsci de que a capacidade hegemônica está
não autoritárias. Assim, sua distinção com respeito à dominação e sua especi- restrita às "classes fundamentais", que poderia ser vista como problemâtica para
ficidade enquanto modo particular de exercício de poder não foram levadas aafirmaçáo da pluralidade de sujeitos políticos ep?;r^acríÍicaao reducionismo
em conta. uma outra diferença relevante nas leituras de Gramsci é a importância econômico, não foi adequadamentetralada pelos autores que examinamos.
atribuída na América Latina to conceito de crise de begemonia, freqüentemente 20
Ver Riz e Ipola paÍa o que é considerado uma ruptura entre GÍamsci e esta
usado para descrever a ausência de hegemonia em nossas sociedades e raras
"lógica de separação". Ver também Mires, 1984.
vezes aplicado nos países capitalistas avançados.
rr Ver Portantiero, 1977.
21
Gramsci (1971:377). Sobre essa equivalência, ver também p. 165: "Esqueceu-se
12
também outra proposição da filosofia da práxis: que as'crenças populares'e idéias
Para um exemplo da não-intercambialidade dessas três tendências, ver
semelhantes são elas mesmas forças materiais."
Vasconi, 1990.
13
22
Lechner (1986: 3) assinala como a própria experiência do autoritarismo
Essa última afirmaçào expressa uma preocupação não somente com a asso-
contribuiu para desenvolver uma nova sensibilidade entre os intelectuais Qe
ciação entre hegemonia e democracia, mas também com a afirmação de um
esquerda com respeito a assuntos relacionados à subjetividade e às práticar-\
vínculo indissolúvel entre democracia e socialismo. De acordo com coutinho,
culturais que orientam a vida cotidiana. \
a busca de unidade dentro da diversidade, encoberta e mistificada pelo dos )
liberalismo, não é apenas um objetivo tático imediato na luta contra regimes
23 Esse tipo particular de confluência entre a esquerda e as práticas
movimentos sociais não é a única possível, como mostra o capítulo de Jeffrey
autoÍitários; na medida em que implica a elevação da democracia a um nível ,/
superior, é também um objetivo estratégico a construção de uma sociedade Rubin neste volume.
2a Yer Alvarez e Dagnino, 1995.
socialista baseada na democracia política (l9BO:40-41). O debate em torno da
crÍtica da concepção "instrumental" de democracia da esquercla e o estabele- 21
"Como a'maÍriz discursiva' analisada por Sáder nas origens dos movimentos
cimento de um vínculo intrínseco entre democracia e socialismo constituíram sociais nos anos 70, um campo ético-político se refere a distintas'maneiras de

96 97

I'
abordararealidade,queimplicamdiferentesatribuiçõesdesignificado" BIBLIOGRAFIA
,elaboração de experiências previamente silenciadas ou intefpre-
derivando da
tadas de forma diferente' (Sáder, 1988: 19)' A abertura
para incluir o novo' State Apparatuses'
ser vista como uma ALTHUSSER, Louis. 1971. Ideology and ldeological
para o qual não havia categorias prévias, pode, então' Press'
de um câ*po ético-político. Isso sugere, de um ln: Lenin and Pbilosopby' New York: Monthly Review
caracteristica definidora
e' por outro Popular Movement
lado, sua pluralidade interna e sua natureza nào homogênea' ALVAREZ, Sonia E. l993."Deepening Democrary":
especial-
lado, seu carítÍet opositor em relação a campos políticos existentes' Regimes in
(Alvarez, Dagnino, 7995: 14)' Nelworks, Constituüonal Reform, and Radical Urban
-".,i. o dominanie" (Ed')' Mobilizi n I
sua Contemporary Btazil. In: FISCHER, R', KUNG' J'
26
A referência às raizes históricas do autoritarismo não deve obscurecer Global City'
constante renovação e reelaboração, com o surgimento de novas formas de tbe Community' Local Politics in the Era of the
social'
exclusão e violência, por meio das quais esse modo de ordenamento Newbury Park, Calif': Sage Publicaüons'
.n transformações geradas pela, moderni-
proi""àr*"", e aíiado, se adapta ás
da'democracia
zaçeo, epós-moderniz açáo, d^sáciedade brasileira Àssim' se uma legislação ! , AIVAREZ. Sonia E'' DAGMNO, Evelina 1995'Panalém
--
,'elevadores de serviço" ctdadania e a
Íecente proscÍeveu a exisiência geaeralizadados +-+
realmente existente,: movimentos sociais, a nova
mas com muita Trabalho apre-
reserrrados aos "não cidadãos" (empregadas, funcionários' configuração de espaços públicos alternativos'
pessoas negras e/ou pobres)' o fechamento das
Nacional de Pós-
freqüência, simplesmente sentado na )(X Reunião Anual da Associação
.rm pum o trâniito público em bairros de classes média e alta' por supostas (ANPOCS)' Caxambu:
cidades' Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais
razõés de ,"g,rrrrrçr, iá é um hábito disseminado nas grandes
27
A percepção dos movimentos populares urbanos do entrelaçamento dessas MinasGemis.
mutuamente
áimensões de exclusão e privação e como se afetam CAMPO' J' L' (Ed')'
ARICO, José. 1985. Prólogo. In: MARTÍN DEL
difeientes
ficou evidente pela primeiru r.,, pà'u mim, na experiência da Assembléia olíti c as e n Anxéri c a Latina' México :

do Povo, um movimento de favelados que se organizou em Campinas'


em H ege moní a y a' lt er n a'tiud s p

uso da terra", sua primeira iniciativa Siglo)O('


1979. No início da luta pelo "direito ao
pública foi pedir aos meios de comunicação que divulgassem o resultado
de
COUTINHO'
'urrru
das favelas, feita por eles mesmos, a fim de mostrar à cidade
p.rqrisa
que l9}8a.Geografia de Gramsci na América l-auoa' In:
(Ed')' Gran'tsci e a Aruérica Latina' Sáo
nao éraÃr^gubundos, marginais ou prostitutas, como são geralmente conside- C. N., NOGUEIRA, M'
rados os favãlados, mas cidádãos deóentes e trabalhadores.
ver Dagnino, 1995. -. Paulo: PazeTetta'
neste volume, sobre como essa reapropriação está
28Ver Verónica Schild,
1988b . La cola d'el diablo: itinerario de Gramsci en América
ocorrendo no Chile com respeito ao movimento de mulheres'
29Adiscussãoqueseseguesobreoselementosdistintivosdessanoção Latina. Buenos Aires: Puntosur'
redefinida de ciáadania sà apóia fortemente em Dagnino' 1994'
-. princípio ético-político:
30 Para uma discussão sobre cidadania e a conexão entre o direito à diferença
BAiERLE, Sérgio Gregório. 7992' t'lm nouo
urbanos em
prâtícasocial e *itito nos movimentos populares
e o direito à igualdade, ver Dagnino, 1994' (Tese' mestrado)'
3lParaoutrasconcepçõesdecidadaniaapresentadaspelasclassesdominantes Pofio Alegre nos anos 80' São Paulo: Unicamp'
(Santos,
na história brasileira recente, ver as noções de "cidadania regulada" 1986. The Left and Democracy: Recent Debates
in
(Sales, 1994) e também Catvalho' 7997' BARROS, Robert.
1979), "cidadania concedida"
32 Para'lera Telles (1994a), a ausência dessas dimensões públicas e éticas' Latin America. Telos63: 49-70'
disponíveis
que deixam os códigos morais da vida privada como únicos espaços BURGOS, Raúl' 1994. As pertpécias de Gramsci
entre Gulliuer e o
dos dramai individuais e coletivos da vida cotidiana,
para a formulação e solução (Tese' mestrado)'
poli-cial Pequeno Polegar' SááPaulo: Unicamp'
àrtá c.rtame.té por trás áa criminalidade, da iustiça privada' da violência
e de vários tipos de preconceitos que infestam nossa sociedade
não-civil' e poiítica na expe-
1999. Os grantscianos na Argentina' Culilra
33 para a análise completa dos resultados da pesquisa, ver Dagnino.et al', (Tese'
,,cidadaniaeculturaDemocrática",opiniã.oPública,v.Y,n.l,novembrode riência de pasado y presente' São Paulo: iFCH/Unicamp'
-. doutorado em Ciências Sociais)'
1998, CESOP, CamPinas, SP.

Ironicamente, esse "reducionismo econômico" é sustentado não


somente en Bolivia'
CAIDERÓN, Fernando. 1987' El camino de la uansformación
3a

pela esquerda tradicional, como também pelos neoliberais que tratam de


La Ciudail Futura 6: 17 -18'
,e.olr.r'adesigualdadesocialreduzindoapobtezaaníveissuportáveis'
popuiaq Gramsci
35Fonte:CESoP(CentrodeEstudosdeopiniãoPública,Unicamp):DAT/ CANCLINI, Néstor G.1'987. Cultura y organización
BR90. Mar-00219,1990. 1:
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99

I 98
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(mais incertas ainda) de um projeto de futuro capaz de conjugar
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Brasiliense. encerrou-se, no entanto, com o espetáculo de uma pobreza
\['IENER, Antje. 1992. Cítizenship, New Dynamics of an Oid Concept: talvez, jamais vista em nossa história republicana, uma pobreza
A Comparative Perspective on Current Latin American and engendrada na convergência problemâtica de uma pesada
European Political Strategies. Trabalho apresentado no XVII
tradição excludente, de uma crise econômica prolongada e os
Intemational Congress of the Latin American Studies Association,
efeitos perversos da modernização econômica e uma reestru-
turação produtiva, Por outro lado, entramos nos anos 90 com
setembro, Los Angeles.
uma democracia consolidada, aberta ao reconhecimento formal
\flLLIAMS, Raymond. 1977. Marxism and Literature. OxÍord: Oxford (le direitos sociais, garantías civis e prerrogativas cidadãs reivindi-
Universiry Press. cados, mas que convive cotidianamente com a violência e a
reiterada violação dos direitos humanos mundo que
encena o avesso da cidadania e das regras da civilidade, um

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