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- o que estuda: identificar mudanças nas abordagens feitas pela esquerda latino-
americana sobre a relação entre cultura e política, em conseqüência do amplo procesos
de renovação da esquerda que se iniciou no final dos anos 70. Se discutirá as novas
direções que surgem de contextos políticos concretos, a saber, o processo de
democratização e, em particular, o papel crucial desempenhado pelos ms nesse
processo.
- Objetivo: 1º referencia das tendências marxistas, tradicionais sobre a relação cultura e
política. 2º marco teórico alternativo, sob influencia de Gramsci. 3º redefinições
recentes de democracia e cidadania que emergiram das lutas dos ms e contribuíram para
novas visões da relação cultura e política. 4º visões expressam uma confluência entre
novas influencias teóricas e novas orientações políticas que surgem de contextos
concretos. 5º os resultados de pesquisa sobre as concepções dos ms de democracia e
cidadania a fim de substanciar essas novas orientações.
- Espaços: que a ênfase na transformação cultural como elemento da estratégia dos ms
não esta confinada à sociedade civil como um lugar privilegiado da política, mas
estende-se também ao estado e à institucionalidade política.
- Debates na esquerda: a linearidade das leis que regem o desenvolvimento histórico, o
determinismo econômico, a concepção de classe operaria como sujeito privilegiado da
historia, o papel da vanguarda e sua relação com as massas, a noção de revolução e o
papel do estado e da sociedade civil, foram as questões mais importantes submetidas a
debate e revisão.
- Relação entre cultura e política foi desprivilegiada pela esquerda: condenada à
subordinação e à negatividade, aprisionada em seu eterno papel de coadjuvante e
confinada a rápidos capítulos finais, onde sua importância é retoricamente reiterada, a
problemática cultural não desempenhou um papel visível, fundamental, na dinâmica
desse debate. A renovação da esquerda gerou interesse pelo papel transformador da
cultura, renovou conceitos, a visão de cultura e rompeu com a camisa-de-força do
marxismo.
Um impulso para a renovação veio dos próprios ms e de suas lutas.
- Porque renovação aconteceu: resposta à dinâmica concreta da sociedade latina e
global, bem como aos desafios e impasses da pratica política da esquerda. Mas, mais do
que isso, quero enfatizar o papel propositivo dos ms ao colocar novas questões e gerar
novas direções para a analise teórico-politica.
Do reinado da ideologia e do estado ao apogeu da hegemonia e da sociedade civil
- Que reinava: o marco predominante conceitual na analise das relações entre cultura e
política estava subordinado ao marxismo clássico, reforçado pelo althusserianismo. A
cultura, especialmente a popular, era o domínio da alienação, da falsa consciência e da
mistificação; em suma, o reino da ideologia.
- Impacto do conceito de ideologia na cultura: impregnou o domínio da cultura de
uma dupla negatividade. 1º uma negatividade derivada do determinismo econômico,
que retirou da cultura qualquer possibilidade de dinâmica própria, estabelecendo-a
como uma esfera separada, uma mera expressão epifenomenal de uma essência
econômica. 2º a cultura foi aprisionada na negatividade do sentido de que as idéias, e a
própria cultura, eram consideradas como obstáculos à trasnformacao social, que
deveriam então ser eliminados nas massas e substituídos pelo conhecimento verdadeiro,
pela consciência de classe, por meio de ações iluminadas dos intelectuais, da vanguarda
e do partido.
- Política: sob a influencia do estruturalismo marxista, o estado foi concebido como
uma condensação das relações de poder e como o lócus especifico da dominação na
sociedade. A única e decisiva arena das relações de poder e, portanto, o único lugar e
alvo relevante da luta política, no que veio a ser conhecido como uma visão “estatista”
da política. Cultura estava em 2º plano, era menor e secundaria.
- Cultura política latina ajudou a esse argumento: a concepção de estado forte e
intervencionista reforçou, pois essa idéia estava nas verões conservadoras ou
progressistas – dos projetos nacionalistas, desenvolvimentista e populistas.
- Novas definições e influencias no debate cultura/política: a contribuição de
Gramsci revelou uma ruptura nas visões da esquerda. Ajuda a compreender as relações
estabelecidas entre estado e sociedade, novos aportes teóricos e políticos.
- Base para suas contribuições: critica poderosa contra o reducionismo econômico.
Afirma uma imbricação profunda entre cultura, política e economia e estabelece uma
equivalência entre forças materiais e elementos culturais dentro de uma visão integrada
de sociedade como um todo.
- Hegemonia: processo de articulação de diferentes interesses em torno da gradual e
sempre renovada implementação de um projeto de transformação da sociedade.
- Cultura para hegemonia: é no terreno da cultura que o consentimento ativo, o
modo especifico de operação da hegemonia, que define o conceito e o distingue da
dominação, é produzido ou não.
- Transformação social: a revolução não é mais concebida como um ato insurrecional,
mas como um processo, no qual a reforma intelectual e moral é parte integrante, se cria
uma nova concepção de mundo, uma nova hegemonia.
Assim, o papel das idéias e da cultura assume um caráter positivo:
1º refere-se à própria noção de poder não como uma instituição, mas como uma relação
entre forças sociais que deve ser transformada.
2º ênfase no caráter de construção histórica da transformação social, diferente de um
processo fatalista e predeterminado.
- Guerra de posições: em vez da guerra de manobras ou ataque frontal ao estado.
Revisão do papel até então atribuído ao estado, como também uma ampliação do terreno
político e da pluralidade das relações de poder.
- Hegemonia: resistência no campo da cultura, democracia substituiu revolução:
avançar na socialização da política na sociedade civil como base de uma socialização
radicalmente democrática do poder.
- Importância dos conceitos de Gramsci: vontade coletiva, reforma moral e
intelectual, intelectual orgânico, sociedade civil, hegemonia, proporcionaram meios
adequados para a construção intelectual e a ação política no novo cenário.
- Método de estudo da cultura: a não subordinação das relações culturais e a
imbricação constitutiva entre cultura e política, estabelecidas como princípios pela
teoria de hegemonia, levaram os que buscavam abordagens novas a fazer de Gramsci
referencial obrigatório.
- Transformações: a busca de uma nova linguagem, de um novo conjunto de temas,
regras e procedimentos, novas formas de fazer política – às vezes, por uma nova cultura
– delineia o alcance das transformações embutidas nesse projeto democrático.
Democracia e cidadania: a política cultural dos ms
- Lutas no Brasil hj: são travadas em torno de projetos alternativos de democracia.
Disputa por parâmetros de democracia, as próprias fronteiras do que deve ser definido
como a arena política: seus participantes, instituições, processos, agenda e campo de
ação. MS lutam por democracia da sociedade como um todo, além da engenharia
instuticional.
- Discutira: como os ms no Brasil contribuíram para dar novo significado às relações
entre cultura e política em suas lutas pela democratização.
- MS: 1º desenvolveram uma concepção de democracia que transcende os limites tanto
das instituições políticas enquanto tradicionalmente concebidas, como do modelo das
democracias tradicionalmente existentes.
2º a operacionalização dessa concepção de democracia está sendo levada adiante por
meio de uma redefinição da noção de cidadania e de seu referente central, a noção de
direitos.
3º Essa ênfase na sociedade não implica, como afirmava uma parte da literatura anterior
sobre ms, uma recusa da institucionalidade política e do estado, mas, ao contrario,
implica uma reivindicação radical de sua transformação.
- MS: como os ms não constituem atores sociais ou sujeitos políticos homogêneos, mas
se caracterizam pela heterogeneidade e diversidade.
- Outro olhar para Ms: enfatizar as implicações culturais significa reconhecer a
capacidade dos ms de produzir novas visões de uma sociedade democrática, na medida
que eles identificam a ordem social existente como limitadora e excludente com relação
a seus valores e interesses.
- Mudança cultural: elemento essencial no processo de democratização foi obviamente
fundamental para os movimentos de mulheres, homossexuais, negros e outros.
- Inovações nos Ms: não tinham que lutar por seus direitos sociais, mas pelo próprio
direito a ter direitos, na ditadura. Ruptura com clientelismo, tutela e subordinação.
- Instrumento fundamental: apropriação da noção de cidadania, amplia visão de
democracia.
- Neoliberalismo usa cidadania: criadas em conexão com a implementação de
políticas de ajuste econômico e social que hoje prevalecem em toda a AL, foram
particularmente enérgicas em suas tentaivas de redefinir o domínio político e seus
participantes, baseadas numa concepção minimalista de estado e democracia.
- Disputa simbólica pelo uso da cidadania: prova sua relevância política e a
importância atribuída pelos diferentes contendores às redefinições apresentadas pelos
ms.
- Nova cidadania: nessa noção provem da própria concepção de democracia que tenta
por em ação: a nova cidadania busca implementar uma estratégia de construção
democrática, de transformação social, que impõe um laço constitutivo entre cultura e
política. Como o papel das subjetividades, o surgimento de sujeitos sociais de um novo
tipo e de direitos também de novo tipo, bem como a ampliação do espaço da política,
essa estratégia reconhece e enfatiza o caráter intrínseco da trasnformacao cultural com
respeito à construção da democracia.
- Política cultural: chamamos atenção para o laço constitutivo entre cultura e política e
para a redefinição de política que essa visão implica. Esse alço significa que a cultura,
entendida como concepção de mundo, como conjunto de significados que integram
praticas sociais, não pode ser entendida adequadamente sem a consideração das relações
de poder embutidas nessas praticas.
- Diferenças da nova cidadania para a liberal d século XVIII: 1º se refere à noção
mesma de direitos. A nova assume uma redefinição da idéia de direitos, cujo ponto de
partida é a concepção de um direito a ter direitos. Inclui a invenção e criação de novos
direitos, que surgem das lutas especificas e de suas praticas concretas.
2º não está vinculada a uma estratégia das classes dominantes e do estado de
incorporação política gradual dos setores excluídos, com o objetivo de uma maior
integração social ou como uma condição legal e política necessária para a instalação do
capitalismo.
3º a nova transcende uma referencia central no conceito liberal: a reivindicação ao
acesso, a inclusão, participação e pertencimento a um sistema político já dado. O direito
de participar na própria definição desse sistema, para definir de que queremos ser
membros.
4º A ênfase no processo de constituição de sujeitos, em tornar-se cidadão, na difusão de
uma cultura de direitos, coloca novamente a questão da cultura democrática, e aponta
para uma outra distinção fundamental: a ampliação do alcance da nova cidadania, cujo
significado está longe de ficar limitado à aquisição formal e legal de um conjunto de
direitos e, portanto, ao sistema político-juridico.
5º Cidadania não está mais confinada dentro dos limites das relações com o estado, ou
entre estado e individuo, mas deve ser estabelecida no interior da própria sociedade.
- Síntese: não pretendemos reproduzir a compartimentação e hierarquização das
múltiplas dimensões da democracia e de suas formas de luta. Contra a esquizofrenia das
analises políticas da democratização – que segregam o instuticional do não instuticional,
o estado da sociedade civil, o político do cultural, que decidi trabalhar no sentido de um
marco teórico capaz de dar conta dessa complexa multiplicidade, sem obscurecer o que
me pareciam ser aspectos concretos e cruciais da ação coletiva dos ms.
Quando os ms disputam os projetos de democracia, oferecem novos parâmetros para
essa disputa e reagem contra as concepções reducionistas de democracia e política. Ao
politizar o que não é concebido como político, ao apresentar como público e coletivo o
que é concebido como privado e individual, eles desafiam a arena política a alargar seus
limites a ampliar sua agenda.