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Cultura e política nos movimentos sociais latino-americanos: Novas leituras

Sonia Alvarez, Evelina Dagnino, Arturo Escobar

* Introdução: o cultural e o político nos movimentos sociais latino-americanos


Sonia Alvarez, Evelina Dagnino, Arturo Escobar

- Luta na américa latina: é precisamente sobre os possíveis projetos alternativos para a


democracia que se trava boa parte da luta política na américa latina de hoje. O que esta
fundamentalmente em disputa são os parâmetros da democracia, são as próprias
fronteiras do que deve ser definido como arena política: sues participantes, instituições,
processos, agenda e campo de ação.
- Neoliberalismo: concepção minimalista de estado e da democracia. Os cidadãos
devem fazer-se por seus próprios esforços particulares e a cidadania é cada vez mais
equiparada à integração individual no mercado.
- Movimentos propõe outra democracia: redefinir o próprio sentido de noções
convencionais de cidadania, representação política e participação e, em conseqüência,
da própria democracia.
Um novo conceito do cultural nas pesquisas sobre movimentos sociais latino-
americanos
Da cultura à política cultural
- Objetivo: investigação sobre a relação entre cultura e política. O potencial dessa
política cultural para promover a mudança social.
- Política cultural: laço constitutivo entre cultura e política. A cultura estendida como
concepção de mundo, como conjunto de significados que integram praticas sociais, não
pode ser entendida adequadamente sem a consideração das relações de poder embutidas
nessas praticas. O cultural se torna fato político.
- Ms produzem cultura: estudos culturais não deram importância suficiente aos ms
como aspecto vital da produção cultural. Cultura é dimensão de todos os campos da
sociedade.
- Laço cultural/política ocorre na pratica: ms são arena crucial para a compreensão
de como esse entrelaçamento, talvez precário, mas vital, do cultural e do político ocorre
na pratica.
Da política cultural à cultura política
- Cultura: luta pela reconfiguração na democracia, desafio à política dominante ou
novas interpretações. Tudo é cultura, logo tudo é política. Para Jordan e Weedon cultura
não é uma esfera, mas uma dimensão de todas as instituições – econômicas, sociais e
políticas.
- Prática das políticas culturais: são também postas em ação quando os movimentos
intervêm em debates políticos, tentam dar novo significado às interpretações culturais
dominantes da política, ou desafiam praticas políticas estabelecidas.
Política cultural é o processo posto em ação quando conjuntos de atores sociais
moldados por e encarnando diferentes significados e praticas culturais entrem em
conflito uns com os outros. Supõe-se que significados e praticas – em particular aqueles
teorizados como marginais, oposicionais, minoritários, residuais, emergentes,
alternativos, dissidentes e assim por diante, todos concebidos em relação a uma
determinada ordem cultural dominante – podem ser a fonte de processos que devem ser
aceitos como políticos.
A cultura é política porque os significados são constitutivos dos processos que, implícita
ou explicitamente, buscam redefinir o poder social. Isto é, quando apresentam
concepções alternativas de mulher, natureza, raça, economia, democracia ou cidadania,
que desestabilizam os significados culturais dominantes, os movimentos poe em ação
uma política cultura.
- Impacto: o ângulo mais importante para analisar as políticas culturais dos ms talvez
seja em relação com seus efeitos sobre as culturas políticas. Definimos cultura política
como a construção social particular em cada sociedade do que conta como político. A
cultura política é o domínio de praticas e instituições, retiradas da totalidade da
realidade social, que historicamente vêm a ser consideradas como propriamente
políticas (da mesma maneira que outros domínios são vistos como propriamente
econômicos, culturais e sociais).
- Cultura dominante X MS: as políticas culturais dos ms tentam amiúde desafiar ou
desestabilizar as culturais políticas dominantes.
O que está em questão para os ms, de um modo profundo, é uma transformação da
cultura política dominante na qual se movem e se constituem como atores sociais com
pretensões políticas. Se os ms pretendem modificar o poder social e se a cultura política
também abrange campos institucionalizados para a negociação do poder, então os ms
necessariamente enfrentam a questão da cultura política. Em muitos casos, os ms não
exigem inclusão, mas antes buscam reconfigurar a cultura política dominante.
- América latina: as culturas políticas daqui são influenciadas pela europa e américa do
norte: universalismo, racionalismo, individualismo. Esses princípios combinaram-se
com outros princípios destinados a garantir a exclusão social e política e até a controlar
a definição do que conta como político em sociedades extremamente hierarquizadas e
injustas.
- Populismo: as elite latino-americanas criaram mecanismos para uma forma
subordinada de inclusão política na qual relações personalizadas com os lideres
políticos garantiam o controle e a tutela sobre uma participação popular heterônoma.
- Estado: o promotor de mudanças, a partir de cima e assim, como o agente primário da
transformação social, o ideal de um estado forte e intervencionista, cujas funções eram
vistas como incluindo a “organização” – e, em algumas concepções, a própria “criação”
da sociedade, passou a ser compartilhado por culturas políticas populistas, nacionalistas
e desenvolvimentistas, em suas versões tanto conservadoras como de esquerda.
- Ms além da democracia liberal e do autoritarismo: versões plurais de uma cultura
política que vão muito além do (re) estabelecimento da democracia formal liberal. Novo
significado às noções de direitos, espaços públicos e privados, formas de sociabilidade
ética, igualdade e diferença. Re-significacao!
A reconceituação do político no estudo dos ms latino-americanos
- Político dos Ms: algo mais que um conjunto de atividades especificas (votar, fazer
campanha ou lobby) que ocorrem em espaços institucionais claramente delimitados, tais
com parlamentos e partidos. Ela deve ser vista como abrangendo também lutas de poder
realizadas em uma ampla gama de espaços culturalmente definidos como privados,
sociais, econômicos, culturais e assim por diante.
- poder: uma relação social difusa por todos os espaços.
- Proposta do livro: lançar nova luz sobre o modo como os discursos e praticas dos ms
podem desestabilizar e assim – pelo menos parcialmente – transformar os discursos
dominantes e as praticas excludentes da “democracia realmente existente”.
- Política cultural: a posta em pratica pelos ms, ao contestar e dar novo significado ao
que conta como político e quem – alem da elite democrática – define as regras do jogo
político, pode ser crucial, sustentamos, para promover culturas políticas alternativas e,
potencialmente, ampliar e aprofundar a democracia na américa latina.
- Novo conceito de democracia: os movimentos populares, ao lado das feministas,
afro-latino-americanos, lésbicas e homo, assim como ambientalistas, foram
instrumentais na construção de uma nova concepção de cidadania democrática, que
reivindica direitos na sociedade e não apenas do estado e que contesta as rígidas
hierarquias sociais que ditam lugares fixos na sociedade para seus não cidadãos com
base em critérios de classe, raça e gênero.
- Analises predominantes da democracia: centram-se no que os cientistas políticos
batizaram de “engenharia institucional”.
- Negligencia: ainda que as analises das relações dos ms com os partidos, o estado e
com as instituições frágeis, elitistas, particularistas e corruptas dos regimes civis da
américa latina mereçam atenção, elas negligenciam com freqüência a possibilidade de
que arenas públicas não-governamentais ou extra-institucionais – inspiradas ou
construídas principalmente por ms – possam ser igualmente essenciais para a
consolidacao de uma cidadania democrática significativa para grupos e classes sociais
subalternos. Ao chamar a atenção para as políticas culturais dos ms e outras dimensões
menos mensuráveis e, às vezes, menos visíveis ou submersas, da ação coletiva
contemporânea, nossos autores oferecem leituras alternativas da maneira como os ms
contribuíram para a mudança cultural e política desde que o neoliberalismo econômico e
a democracia representativa (limitada e em larga medida protoliberal) se converteram
nos pilares da dominação na América Latina.
- Contribuições do livro: ajudam a transcender algumas das insuficiências inerentes às
leituras dominantes do político e lançar uma luz diferente sobre suas imbricações com o
cultural nas praticas dos ms latino-americanos. Entre esses estão os recentes estudos
culturais, feministas e os debates pós-marxistas e pós-estruturalistas sobre cidadania e
democracia, bem como conceitos correlatos como redes ou “teias” de ms, sociedade
civil e espaços ou esferas publicas.
Cultura e política nas redes ou teias de ms
- Síntese e como analisar: uma maneira frutífera de explorar como as intervenções
políticas dos ms se estendem para dentro e para além da sociedade política e do estado é
analisar a configuração das redes ou teias dos ms. Chamamos atenção para as praticas
culturais e redes interpessoais da vida cotidiana que sustentam ms ao longo dos fluxos e
refluxos de mobilização e que infundem novos significados culturais nas praticas
políticas e na ação coletiva.
- Movimentos sociais e vida cotidiana: os ms não apenas dependem e se baseiam em
redes da vida cotidiana, mas também constroem e configuram novos vínculos
interpessoais, inter-organizacionais e político-culturais com outros movimentos, bem
como com uma multiplicidade de atores e espaços culturais e institucionais. Esses
vínculos expandem o alcance cultural e político dos movimentos para muito além das
comunidades locais e pátios familiares e, alguns de nossos autores sustentam, ajudam a
contrabalancear as supostas propensões paroquiais, fragmentarias e efêmeras dos
movimentos.
- Abrangência: muitas redes de movimentos são cada vez mais regionais e
transnacionais no seu alcance.
- Teia: imaginar mais vividamente os entrelaçamentos em múltiplas camadas dos atores
dos movimentos com os terrenos natural-ambiental, político-instuticonal e cultural-
discursivo nos quais estão incrustados.
As teias dos movimentos abrangem mais do que suas organizações e seus membros
ativos, elas incluem participantes ocasionais nos eventos e ações do movimento e
simpatizantes e colaboradores de ONG`s, partidos, universidades, instituições, a igreja e
ate o estado. Quando examinamos o impacto dos movimentos, devemos então avaliar a
extensão em que suas demandas, discursos e praticas, circulam de modo capilar, como
numa teia.
- Método para analisar: devemos levar em conta também como a dinâmica e os
discursos dos movimentos são moldados pelas instituições sociais culturais e políticas
importantes que atravessam as redes ou teias e como os movimentos, por sua vez,
modelam a dinâmica e o discurso daquelas instituições.
Os movimentos sociais e a revitalização da sociedade civil
- Sociedade civil também se renova: ela tornou-se a celebridade política de muitas
transições latino-americanas recentes do regime autoritário e foi uniformemente vista
como um ator significativo na literatura da democratização.
- Sociedade civil quem é: constituiu amiúde a única esfera disponível ou a mais
importante para organizar a contestação cultural e política. Porem, eles também
chamam a atenção para 3 ressalvas importantes, mas nem sempre exploradas.
1º destacam que a sociedade civil não é uma família ou uma aldeia global homogêneas e
felizes, mas um terreno de luta, minado às vezes por relações de poder não democráticas
e pelos problemas constantes de racismo, hetero/sexismo, destruição ambiental e outras
formas de exclusão.
2º advertimos contra o aplauso ingênuo às virtudes da sociedade civil em suas
manifestações locais, nacionais, regionais ou globais.
3º examinamos como a fronteira entre a sociedade civil e estado fica embaçada muitas
vezes nas praticas dos ms latino-americanos.
Os movimentos sociais e a transformação do público (nexo entre cultura e politica)
- Observar ação dos ms em todos os espaços: abranger também outros espaços
públicos – construídos ou apropriados pelos ms - nos quais políticas culturais são postas
em pratica e se modelam as identidades, demandas e necessidades subalternas.
Globalização, neoliberalismo e a política cultural dos ms
- Afetaram ms: por um lado, a globalização e seu conceito correlato, o
transnacionalismo, parecem ter aberto novas possibilidades para os ms (ativismo à
distancia).
- Responsabilidade: investigar as relações entre as versões neoliberais de cidadania,
ajuste social e a politica cultural dos ms.
- Indagação: Permitem avaliar simultaneamente ambos: referenciais teóricos e as
questões políticas que estão em jogo.

Cultura, cidadania e democracia: a transformação dos discursos e praticas na


esquerda latino-americana
Evelina Dagnino

- o que estuda: identificar mudanças nas abordagens feitas pela esquerda latino-
americana sobre a relação entre cultura e política, em conseqüência do amplo procesos
de renovação da esquerda que se iniciou no final dos anos 70. Se discutirá as novas
direções que surgem de contextos políticos concretos, a saber, o processo de
democratização e, em particular, o papel crucial desempenhado pelos ms nesse
processo.
- Objetivo: 1º referencia das tendências marxistas, tradicionais sobre a relação cultura e
política. 2º marco teórico alternativo, sob influencia de Gramsci. 3º redefinições
recentes de democracia e cidadania que emergiram das lutas dos ms e contribuíram para
novas visões da relação cultura e política. 4º visões expressam uma confluência entre
novas influencias teóricas e novas orientações políticas que surgem de contextos
concretos. 5º os resultados de pesquisa sobre as concepções dos ms de democracia e
cidadania a fim de substanciar essas novas orientações.
- Espaços: que a ênfase na transformação cultural como elemento da estratégia dos ms
não esta confinada à sociedade civil como um lugar privilegiado da política, mas
estende-se também ao estado e à institucionalidade política.
- Debates na esquerda: a linearidade das leis que regem o desenvolvimento histórico, o
determinismo econômico, a concepção de classe operaria como sujeito privilegiado da
historia, o papel da vanguarda e sua relação com as massas, a noção de revolução e o
papel do estado e da sociedade civil, foram as questões mais importantes submetidas a
debate e revisão.
- Relação entre cultura e política foi desprivilegiada pela esquerda: condenada à
subordinação e à negatividade, aprisionada em seu eterno papel de coadjuvante e
confinada a rápidos capítulos finais, onde sua importância é retoricamente reiterada, a
problemática cultural não desempenhou um papel visível, fundamental, na dinâmica
desse debate. A renovação da esquerda gerou interesse pelo papel transformador da
cultura, renovou conceitos, a visão de cultura e rompeu com a camisa-de-força do
marxismo.
Um impulso para a renovação veio dos próprios ms e de suas lutas.
- Porque renovação aconteceu: resposta à dinâmica concreta da sociedade latina e
global, bem como aos desafios e impasses da pratica política da esquerda. Mas, mais do
que isso, quero enfatizar o papel propositivo dos ms ao colocar novas questões e gerar
novas direções para a analise teórico-politica.
Do reinado da ideologia e do estado ao apogeu da hegemonia e da sociedade civil
- Que reinava: o marco predominante conceitual na analise das relações entre cultura e
política estava subordinado ao marxismo clássico, reforçado pelo althusserianismo. A
cultura, especialmente a popular, era o domínio da alienação, da falsa consciência e da
mistificação; em suma, o reino da ideologia.
- Impacto do conceito de ideologia na cultura: impregnou o domínio da cultura de
uma dupla negatividade. 1º uma negatividade derivada do determinismo econômico,
que retirou da cultura qualquer possibilidade de dinâmica própria, estabelecendo-a
como uma esfera separada, uma mera expressão epifenomenal de uma essência
econômica. 2º a cultura foi aprisionada na negatividade do sentido de que as idéias, e a
própria cultura, eram consideradas como obstáculos à trasnformacao social, que
deveriam então ser eliminados nas massas e substituídos pelo conhecimento verdadeiro,
pela consciência de classe, por meio de ações iluminadas dos intelectuais, da vanguarda
e do partido.
- Política: sob a influencia do estruturalismo marxista, o estado foi concebido como
uma condensação das relações de poder e como o lócus especifico da dominação na
sociedade. A única e decisiva arena das relações de poder e, portanto, o único lugar e
alvo relevante da luta política, no que veio a ser conhecido como uma visão “estatista”
da política. Cultura estava em 2º plano, era menor e secundaria.
- Cultura política latina ajudou a esse argumento: a concepção de estado forte e
intervencionista reforçou, pois essa idéia estava nas verões conservadoras ou
progressistas – dos projetos nacionalistas, desenvolvimentista e populistas.
- Novas definições e influencias no debate cultura/política: a contribuição de
Gramsci revelou uma ruptura nas visões da esquerda. Ajuda a compreender as relações
estabelecidas entre estado e sociedade, novos aportes teóricos e políticos.
- Base para suas contribuições: critica poderosa contra o reducionismo econômico.
Afirma uma imbricação profunda entre cultura, política e economia e estabelece uma
equivalência entre forças materiais e elementos culturais dentro de uma visão integrada
de sociedade como um todo.
- Hegemonia: processo de articulação de diferentes interesses em torno da gradual e
sempre renovada implementação de um projeto de transformação da sociedade.
- Cultura para hegemonia: é no terreno da cultura que o consentimento ativo, o
modo especifico de operação da hegemonia, que define o conceito e o distingue da
dominação, é produzido ou não.
- Transformação social: a revolução não é mais concebida como um ato insurrecional,
mas como um processo, no qual a reforma intelectual e moral é parte integrante, se cria
uma nova concepção de mundo, uma nova hegemonia.
Assim, o papel das idéias e da cultura assume um caráter positivo:
1º refere-se à própria noção de poder não como uma instituição, mas como uma relação
entre forças sociais que deve ser transformada.
2º ênfase no caráter de construção histórica da transformação social, diferente de um
processo fatalista e predeterminado.
- Guerra de posições: em vez da guerra de manobras ou ataque frontal ao estado.
Revisão do papel até então atribuído ao estado, como também uma ampliação do terreno
político e da pluralidade das relações de poder.
- Hegemonia: resistência no campo da cultura, democracia substituiu revolução:
avançar na socialização da política na sociedade civil como base de uma socialização
radicalmente democrática do poder.
- Importância dos conceitos de Gramsci: vontade coletiva, reforma moral e
intelectual, intelectual orgânico, sociedade civil, hegemonia, proporcionaram meios
adequados para a construção intelectual e a ação política no novo cenário.
- Método de estudo da cultura: a não subordinação das relações culturais e a
imbricação constitutiva entre cultura e política, estabelecidas como princípios pela
teoria de hegemonia, levaram os que buscavam abordagens novas a fazer de Gramsci
referencial obrigatório.
- Transformações: a busca de uma nova linguagem, de um novo conjunto de temas,
regras e procedimentos, novas formas de fazer política – às vezes, por uma nova cultura
– delineia o alcance das transformações embutidas nesse projeto democrático.
Democracia e cidadania: a política cultural dos ms
- Lutas no Brasil hj: são travadas em torno de projetos alternativos de democracia.
Disputa por parâmetros de democracia, as próprias fronteiras do que deve ser definido
como a arena política: seus participantes, instituições, processos, agenda e campo de
ação. MS lutam por democracia da sociedade como um todo, além da engenharia
instuticional.
- Discutira: como os ms no Brasil contribuíram para dar novo significado às relações
entre cultura e política em suas lutas pela democratização.
- MS: 1º desenvolveram uma concepção de democracia que transcende os limites tanto
das instituições políticas enquanto tradicionalmente concebidas, como do modelo das
democracias tradicionalmente existentes.
2º a operacionalização dessa concepção de democracia está sendo levada adiante por
meio de uma redefinição da noção de cidadania e de seu referente central, a noção de
direitos.
3º Essa ênfase na sociedade não implica, como afirmava uma parte da literatura anterior
sobre ms, uma recusa da institucionalidade política e do estado, mas, ao contrario,
implica uma reivindicação radical de sua transformação.
- MS: como os ms não constituem atores sociais ou sujeitos políticos homogêneos, mas
se caracterizam pela heterogeneidade e diversidade.
- Outro olhar para Ms: enfatizar as implicações culturais significa reconhecer a
capacidade dos ms de produzir novas visões de uma sociedade democrática, na medida
que eles identificam a ordem social existente como limitadora e excludente com relação
a seus valores e interesses.
- Mudança cultural: elemento essencial no processo de democratização foi obviamente
fundamental para os movimentos de mulheres, homossexuais, negros e outros.
- Inovações nos Ms: não tinham que lutar por seus direitos sociais, mas pelo próprio
direito a ter direitos, na ditadura. Ruptura com clientelismo, tutela e subordinação.
- Instrumento fundamental: apropriação da noção de cidadania, amplia visão de
democracia.
- Neoliberalismo usa cidadania: criadas em conexão com a implementação de
políticas de ajuste econômico e social que hoje prevalecem em toda a AL, foram
particularmente enérgicas em suas tentaivas de redefinir o domínio político e seus
participantes, baseadas numa concepção minimalista de estado e democracia.
- Disputa simbólica pelo uso da cidadania: prova sua relevância política e a
importância atribuída pelos diferentes contendores às redefinições apresentadas pelos
ms.
- Nova cidadania: nessa noção provem da própria concepção de democracia que tenta
por em ação: a nova cidadania busca implementar uma estratégia de construção
democrática, de transformação social, que impõe um laço constitutivo entre cultura e
política. Como o papel das subjetividades, o surgimento de sujeitos sociais de um novo
tipo e de direitos também de novo tipo, bem como a ampliação do espaço da política,
essa estratégia reconhece e enfatiza o caráter intrínseco da trasnformacao cultural com
respeito à construção da democracia.
- Política cultural: chamamos atenção para o laço constitutivo entre cultura e política e
para a redefinição de política que essa visão implica. Esse alço significa que a cultura,
entendida como concepção de mundo, como conjunto de significados que integram
praticas sociais, não pode ser entendida adequadamente sem a consideração das relações
de poder embutidas nessas praticas.
- Diferenças da nova cidadania para a liberal d século XVIII: 1º se refere à noção
mesma de direitos. A nova assume uma redefinição da idéia de direitos, cujo ponto de
partida é a concepção de um direito a ter direitos. Inclui a invenção e criação de novos
direitos, que surgem das lutas especificas e de suas praticas concretas.
2º não está vinculada a uma estratégia das classes dominantes e do estado de
incorporação política gradual dos setores excluídos, com o objetivo de uma maior
integração social ou como uma condição legal e política necessária para a instalação do
capitalismo.
3º a nova transcende uma referencia central no conceito liberal: a reivindicação ao
acesso, a inclusão, participação e pertencimento a um sistema político já dado. O direito
de participar na própria definição desse sistema, para definir de que queremos ser
membros.
4º A ênfase no processo de constituição de sujeitos, em tornar-se cidadão, na difusão de
uma cultura de direitos, coloca novamente a questão da cultura democrática, e aponta
para uma outra distinção fundamental: a ampliação do alcance da nova cidadania, cujo
significado está longe de ficar limitado à aquisição formal e legal de um conjunto de
direitos e, portanto, ao sistema político-juridico.
5º Cidadania não está mais confinada dentro dos limites das relações com o estado, ou
entre estado e individuo, mas deve ser estabelecida no interior da própria sociedade.
- Síntese: não pretendemos reproduzir a compartimentação e hierarquização das
múltiplas dimensões da democracia e de suas formas de luta. Contra a esquizofrenia das
analises políticas da democratização – que segregam o instuticional do não instuticional,
o estado da sociedade civil, o político do cultural, que decidi trabalhar no sentido de um
marco teórico capaz de dar conta dessa complexa multiplicidade, sem obscurecer o que
me pareciam ser aspectos concretos e cruciais da ação coletiva dos ms.
Quando os ms disputam os projetos de democracia, oferecem novos parâmetros para
essa disputa e reagem contra as concepções reducionistas de democracia e política. Ao
politizar o que não é concebido como político, ao apresentar como público e coletivo o
que é concebido como privado e individual, eles desafiam a arena política a alargar seus
limites a ampliar sua agenda.

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