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CURSO DE DIREITO

ANTROPOLOGIA JURÍDICA

Prof. Dr. Napoleão Marcos de Moura Mendes


Aula 6 18/11/2020

Aula 07
NOVOS ATORES E MOVIMENTOS
ÉTNICO-CULTURAIS
INTRODUÇÃO

A Antropologia, na atualidade, vai


além de seu enfoque original nas
“sociedades primitivas, analisando
sob a perspectiva da alteridade
grupos diferenciados do meio
urbano reconhecidos como novos
atores sociais..
INTRODUÇÃO
No cenário atual da globalização econômica e cultural,
além das demandas relativas à esfera econômica e à
prestação de serviços por parte do Estado, os
movimentos sociais de hoje clamam pelo
reconhecimento de direitos diferenciados como:
direitos culturais, livre orientação sexual e direitos
identitários..
INTRODUÇÃO

“O Direito, com base na teoria do pluralismo


jurídico, busca transformar seu caráter
historicamente conservador, por meio do qual
produziu velhas injustiças sociais com suas normas
gerais e abstratas, deixando de contemplar as
especificidades culturais de diversas identidades
existentes no Estado”.
INTRODUÇÃO

“O estudo dos movimentos


étnico-culturais no Direito tem
a possibilidade prática de
instrumentalizar o estudante e o
jurista para a compreensão de
questões teóricas e de situações
fáticas relacionadas aos direitos
diferenciados”.
1. AÇÃO COLETIVA E A DINAMICIDADE
DO JURÍDICO
O Estado Democrático de Direito é dinâmico: os conceitos de
“democracia” e “direitos fundamentais” devem ser
constantemente “enriquecidos”, conforme as necessidades da
sociedade civil.

Isso pode ser identificado pela própria CF/88, que permite a


inclusão de novos direitos e garantias em seu art. 5º (§ 2º),
sem excluir outros direitos decorrentes do próprio regime
democrático, dos princípios constitucionais e dos tratados
internacionais.
1. AÇÃO COLETIVA E A DINAMICIDADE
DO JURÍDICO
Em um regime democrático, “a validade das
normas depende não somente do atendimento
ao procedimento formal previsto no ordenamento
estatal, mas também de aceitação social”.

“Habermas trata da tensão existente entre a


validade formal e a aceitação social da
norma, na qual está presente um espaço
que deve ser preenchido pela legitimação”.
1. AÇÃO COLETIVA E A DINAMICIDADE
DO JURÍDICO

Monismo Jurídico Moderno:


-Normas jurídicas emanadas a partir de um único
centro, o Estado;
-Com legitimidade burocrática em função do
processo de racionalização do Estado;
-O Estado atende diretamente a burguesia.
1. AÇÃO COLETIVA E A DINAMICIDADE
DO JURÍDICO
Sociedade Civil
-Responsável por captar os ecos dos problemas
sociais e os transmite para a esfera pública;
-Promovendo a autonomia dos atores sociais para
que possam operar diferentemente do monismo.
-São sujeitos capazes de canalizar importantes
temas para a esfera pública;
-Exerce pressão para o sistema político;
-Ganhando espaço e ampliando direitos.
1. AÇÃO COLETIVA E A DINAMICIDADE
DO JURÍDICO

Para que seja possível pensar em um


novo Direito não basta examinar a
formalidade de instrução que
garantam a legalidade, sendo
preciso considerar o pluralismo
social, cultural, político e jurídico
existente sob o teto do Estado-nação.
2. A NOVA ABORDAGEM DOS
MOVIMENTOS SOCIAIS

O adjetivo “novos” atribuído pelas


Ciências Sociais aos movimentos
sociais surgidos a partir da década de
60 na Europa foi usado para descrever
sua desvinculação dos movimentos
marxistas, centrado nas questões
econômicas.
2. A NOVA ABORDAGEM DOS
MOVIMENTOS SOCIAIS

“Com a eclosão dos movimentos de gênero,


pacifista, ecológicos e das minorias étnicas, os
teóricos dos novos movimentos sociais entendem
que a análise da ação coletiva centrada no conflito
baseado na relação capital e trabalho era
insuficiente para dar conta da complexidade
das demandas na sociedade pós industrial”.
2. A NOVA ABORDAGEM DOS
MOVIMENTOS SOCIAIS

“Os novos atores põem em


debate a dominação social,
questionando a utilização dos
recursos e modelos culturais
existentes e pleiteiam o direito
a diferença”.
2. A NOVA ABORDAGEM DOS
MOVIMENTOS SOCIAIS

“Os novos movimentos sociais são considerados


‘movimentos culturais’, uma vez que suas ações
coletivas buscam transformar a sociedade,
defendendo o reconhecimento de valores culturais
alternativos e, ainda, de direitos específicos de
grupos diferenciados”.
2. A NOVA ABORDAGEM DOS
MOVIMENTOS SOCIAIS
“Os movimentos sociais
surgidos entre 1960 e 1980
visavam especialmente a
afirmação de suas
identidades específicas, o
reconhecimento público de
seus valores, o respeito às
diferenças culturais e a
conquista de novos direitos”.
2. A NOVA ABORDAGEM DOS
MOVIMENTOS SOCIAIS

“Os sujeitos dos novos movimentos sociais


não se limitam à atuação partidária ou
sindical, eis que a ação coletiva dos novos
atores é difusa e não hierarquizada, baseando-
se numa lógica solidária e, assim, são
considerados verdadeiros atores sociais”.
2. A NOVA ABORDAGEM DOS
MOVIMENTOS SOCIAIS
“Uma das características dos novos movimentos
sociais é que a política não está presente somente
nos aparelhos estatais, encontrando-se dispersa na
vida social e cultural”.

Estes novos atores promovem a politização de


novos temas, como: Violência doméstica; e o
Reconhecimento civil da união entre pessoas do
mesmo sexo.
2. A NOVA ABORDAGEM DOS
MOVIMENTOS SOCIAIS

“Em razão de sua identidade


diferenciada ou por confrontarem valores
culturais hegemônicos, fazem resistência
às diferentes formas de opressão e
dominação cultural e pleiteiam o
reconhecimento de sua alteridade e o
direito de vivenciá-la livremente”.
2. A NOVA ABORDAGEM DOS
MOVIMENTOS SOCIAIS

“O movimento feminista luta contra uma


cultura dominante sexista e discricionária
e as questões que traz não dizem
respeito apenas às mulheres, podem
afetar diretamente também a
autocompreensão das pessoas do sexo
masculino”.
2. A NOVA ABORDAGEM DOS
MOVIMENTOS SOCIAIS
“No caso das lutas de minorias
étnicas e culturais pelo
reconhecimento de sua própria
identidade, a superação da opressão
cultural pressupõe igualmente
mudanças nas concepções de
mundo da cultura majoritária”.
2. A NOVA ABORDAGEM DOS
MOVIMENTOS SOCIAIS

“Os novos movimentos sociais surgem


do conflito sobre os modelos culturais,
buscando promover mudanças nos valores
dominantes e alterar situações de
discriminação, principalmente dentro de
instituições da própria sociedade civil”.
3. MOVIMENTOS ÉTNICO-CULTURAIS E
AUTOCONSCIÊNCIA DE GRUPOS

Ainda que a questão étnica possa “ser


entendida como um foco irradiador de
problemas sociais, tomando por base as
guerras travadas com base na intolerância”,
deve se considerar “que, dentro de um
regime político democrático, de respeito às
diferenças, a identidade étnica pode ser
vista como fonte de riqueza cultural”.
3. MOVIMENTOS ÉTNICO-CULTURAIS E
AUTOCONSCIÊNCIA DE GRUPOS

“Em uma ótica pluralista de respeito as


diferenças, a etnicidade pode representar a
formação da autoconsciência do indivíduo e do
grupo sobre suas expressividades culturais,
formando identidades, sem que isso arranhe os
direitos fundamentais já consagrados pela
humanidade”.
3. MOVIMENTOS ÉTNICO-CULTURAIS E
AUTOCONSCIÊNCIA DE GRUPOS

Inicialmente, a etnicidade era vista como uma


qualidade essencial transmitida pelo grupo,
independia das relações externas; desconsiderava o
contexto econômico e político ao qual estavam
submetidos os grupos sociais. A partir de Max
Weber, se ampliou a compreensão do papel
desempenhado pelas comunidades étnicas.
3. MOVIMENTOS ÉTNICO-CULTURAIS E
AUTOCONSCIÊNCIA DE GRUPOS
A antropologia pode indicar
ao Direito que a etnicidade se
apresenta de forma relacional
e simbólica, estabelecendo
fronteiras entre ‘nós’ e ‘eles’ e
revelando as dimensões de
resistência e de reivindicação
cultural.
4. NOVOS ATORES NA CENA PÚBLICA
BRASILEIRA

“O potencial inovador dos novos movimentos


sociais no Brasil coincide com o fim da ditadura
militar, em meados nos anos 70, e toma como
pleito, além do restabelecimento formal do
sistema de direitos e garantias liberais, a própria
reinvenção radical da democracia”.
4. NOVOS ATORES NA CENA PÚBLICA
BRASILEIRA

“Trata-se da ação coletiva da população


carente que se organiza para demandar
por creches, moradias, assistência
médica, denominados pelos
cientistas sociais brasileiros como
movimento popular ou movimento
social urbano”.
4. NOVOS ATORES NA CENA PÚBLICA
BRASILEIRA
“Ao lado desses movimentos
sociais urbanos, ao longo dos anos
80, desenvolveram-se aqueles
ligados à demanda pelo
reconhecimento da identidade de
determinados grupos sociais,
como os movimentos étnico-
culturais, em especial o
movimento negro e indígena”..
4. NOVOS ATORES NA CENA PÚBLICA
BRASILEIRA

“A Constituição Federal de 1988 inclui a expressão


‘fontes de cultura nacional’ para garantir a todos o
pleno exercício dos direitos culturais, protegendo as
manifestações populares, indígenas e afro-
brasileiras e de outros grupos participantes do
processo civilizatório nacional”.
4. NOVOS ATORES NA CENA PÚBLICA
BRASILEIRA
A lei ainda dispõe sobre a fixação de datas
comemorativas que tenham significação aos
diferentes segmentos étnicos nacionais.

“Além das reivindicações pelo reconhecimento das


múltiplas identidades culturais, os novos
movimentos sociais unidos em torno de outras
tantas questões culturais não exclusivamente
étnicas, também alcançam êxito”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Numa sociedade
reconhecidamente plural a
atuação dos novos atores dos
movimentos sociais contribui
para que o Direito e a
Democracia aproximem-se de
suas fontes de legitimidade
social”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

“A etnicidade, o gênero e a
orientação sexual têm a
forma de aglutinar grupos
sociais que exigem do
Direito uma nova cultura,
de base plural e
interdisciplinar”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

“A antropologia jurídica hoje serve como aporte ao


diálogo do Direito com a realidade política e social,
com a multiplicidade cultural e étnico, a fim
de quem, compreendendo melhor o processo
dinâmico das identidades culturais
contemporâneas, possa caminhar rumo a uma nova
cultura pluralista”.

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