Você está na página 1de 2

O tratamento odontológico é mundialmente associado ao medo e à ansiedade.

Esses
sentimentos dificultam o trabalho do cirurgião-dentista durante o atendimento e
comprometem a continuidade do tratamento de alguns pacientes. (Kanegane et al.,
2003; Rocha, 2000). Então, devido à necessidade de reduzir o impacto emocional
durante as consultas odontológicas, o uso de medicamentos colabora para que os
pacientes visitem o dentista com maior regularidade (SEBASTIANI, DYM, WOLF,
2016). O que pode ser ratificado por uma pesquisa realizada nos Estados Unidos por
Dionne et al. (2006), na qual 18% dos adultos iriam ao dentista com maior frequência
caso tivessem sua ansiedade reduzida por meio de medicamentos. Nesse viés, a Lei n°
5.081, de 24 de agosto de 1966, através do Artigo 6º, regulou a permissão para
o cirurgião-dentista “empregar a analgesia e hipnose, desde que comprovadamente
habilitado, quando constituírem meios eficazes para o tratamento”.
Em alguns casos, apenas o auxílio comportamental não é suficiente para ajudar
paciente com níveis de ansiedade de moderado a alto, sendo necessário uma abordagem
farmacológica, portanto, é iminente a necessidade do cirurgião-dentista entender sobre
sedação e saber como ela deve ser feita e quais razões para seu uso. Em seus estudos,
Mawhinney e Hope (2020) definiram sedação como sendo a depressão deliberada da
consciência, sendo induzida por drogas capazes de reduzir a ansiedade associada a
procedimentos desagradáveis.
Sendo assim, a sedação é indicada para pacientes que dificultam/impedem a
realização do atendimento odontológico devido medo/fobia e ansiedade, de forma mais
específica, estão incluídos neste grupo pacientes com capacidade cognitiva
comprometida, crianças pequenas ou que possuem problemas emocionais, pacientes
com disfunções motoras, como o caso de indivíduos que possuem engasgos
incontroláveis, além de situações que o paciente é submetido a cirurgias extensas ou
procedimentos em que a anestesia local é insuficiente para o controle da dor. (DIONNE
et al., 2006)
Ademais, tendo em vista o grau de complexidade envolvido nos procedimentos
de sedação, é primordial que a anamnese seja realizada de forma detalhista, buscando
entender o perfil do paciente e seu histórico médico e odontológico, sendo fundamental
para reduzir possíveis complicações. Logo, é preciso que sejam avaliados aspectos
referentes à medicação atual que o paciente faz uso, especialmente anticoagulantes,
doses diárias, alergias, reações adversas, histórico de uso de drogas alternativas, vícios
(tabaco e álcool), histórico de cirurgia e reações à anestesia. Com relação ao exame
físico, deverá ser avaliado a condição das vias aéreas do paciente (caso de apneia
obstrutiva do sono), nível de obesidade, além de parâmetros relacionados com fobia e
transtornos de pânico, distúrbios de motilidade, entre demais quadros que possam
influenciar no transcorrer da sedação e seu pós-operatório. (DATTA et al., 2022)
Dessa forma, diferentes níveis de sedação podem ser atingidos, visto que
qualquer droga usada para ansiólise (sedação mínima) pode levar ao nível de sedação
mais avançado. Logo, a ansiólise corresponde ao nível de consciência deprimido em que
o paciente tem controle independente e contínuo das vias aéreas, mantendo toques e
comandos verbais.  Já com relação a sedação moderada ou consciente, temos a
capacidade de resposta verbal, contudo, a frequência respiratória e os níveis de
saturação de oxigênio no sangue são reduzidos. Portanto, as drogas e técnicas utilizadas
na sedação consciente precisam de uma ampla margem de segurança. Os métodos
farmacológicos de sedação consciente ocorrem pelo uso do óxido nitroso e de
benzodiazepínicos. (“Benzodiazepines to Manage Dental Anxiety”, 2022)
O óxido nitroso (N2O), que foi descoberto pelo químico inglês Joseph Priestley
(1733-1804), é um gás inalatório, incolor, não irritante e de baixa solubilidade, também
conhecido como gás hilariante ou gás do riso (RANG et al., 2004). Possui
propriedades analgésicas (em menor proporção) e sedativas e tranquiliza o paciente de
forma segura, diminuindo a sua sensibilidade à dor (CALDAS et al., 2004). É um
método seguro porque o próprio dentista consegue controlar as concentrações dos gases,
além de ter rápido início de ação, cerca de 2 minutos após a administração por via
inalatória e, também, rápido término de ação (FRAGA, 2021). Não existe
contraindicação absoluta, porque o paciente continua acordado e responsivo
(LADEWING; 2016). Porém, seu uso pode ser repensado nos casos de intolerância à
máscara nasal e dificuldade de cooperação com a respiração nasal, ansiedade severa,
doença pulmonar obstrutiva crônica, obstrução nasal, pacientes tratados com bleomicina
e no primeiro trimestre da gravidez. (TASSO et al., 2022).
Basicamente, a técnica de sedação com óxido nitroso consiste na inalação de
oxigênio a 100% durante três a cinco minutos e, em seguida, é feita a avaliação dos
sinais vitais. Logo depois, o cirurgião-dentista escolhe o volume de óxido nitroso que
será inalado pelo paciente, verifica a adaptação da máscara nasal e inicia a liberação de
10% de N2O a cada minuto (tendo como limite a concentração de 70%), já que a
sedação consciente é alcançada com baixas porcentagens de N2O (PRIMOSCH et al.,
1999). É válido ressaltar que acima de 70% de N2O o paciente pode ter sensação de
flutuação, intensificação da sedação, risada incontrolável e choro, respiração bucal
involuntária, náusea, sensação de frio, sonolência e tontura, aumento da frequência
cardíaca e respiratória e da pressão sanguínea. (PATEL; 2010)
Já os benzodiazepínicos apresentam efeitos sedativos, ansiolíticos e hipnóticos.
São os fármacos de primeira escolha para o controle da ansiedade no consultório
odontológico porque possuem boa eficácia e segurança, além de baixa incidência de
reações adversas, são de fácil administração e baixo custo. Normalmente, são
administrados por via oral, mas também podem ser utilizados por via intramuscular,
intranasal, intrabucal ou endovenosa (HOSEY, 2002). Como efeitos farmacológicos
tem-se a redução da ansiedade e da agressividade, redução do tônus muscular, do fluxo
salivar, efeito anticonvulsivante, manutenção da pressão arterial e da glicemia em
diabéticos. (COKE et al., 2009). Apesar de alguns efeitos adversos poderem estar
relacionados, como dor de cabeça, náusea, vômito, geralmente eles não ocorrem. Mas
em pacientes com problemas respiratórios, deve-se ter maior cuidado na administração
desses fármacos porque podem diminuir a corrente de ar para os pulmões e a frequência
respiratória. (ARMONIA et al; 2001)
O paciente deve ingerir o fármaco benzodiazepínico uma hora antes do
procedimento odontológico, porém, em pacientes extremamente ansiosos, pode-se
prescrever a mesma dose na noite anterior ao atendimento odontológico, visando
proporcionar uma noite de sono mais tranquila e redução do estresse pré-consulta. Ao
final do atendimento, o paciente deve estar acompanhado de um responsável, ter
repousado por seis horas e não fazer uso de outras drogas depressoras do sistema
nervoso central, para não potencializar os efeitos do benzodiazepínico (ARMONIA et
al; 2001). Os tipos mais comumente empregados na clínica odontológica são: diazepam,
lorazepam, alprazolam, triazolam e midazolam. (COGO et al., 2006)

Você também pode gostar