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UNIVERSIDADE TIRADENTES

CURSO DE ODONTOLOGIA

PRINCIPAIS INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS ASSOCIADAS


A ANESTESIA LOCAL NA PRÁTICA ODONTOLÓGICA

THAYNARA CEZAR BARRETO

Aracaju/SE
Dezembro/2013
UNIVERSIDADE TIRADENTES
CURSO DE ODONTOLOGIA

PRINCIPAIS INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS ASSOCIADAS


A ANESTESIA LOCAL NA PRÁTICA ODONTOLÓGICA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a


Coordenação do Curso de Odontologia da
Universidade Tiradentes como parte dos
requisitos para obtenção do grau de bacharel em
odontologia.

THAYNARA CEZAR BARRETO


PROF. DR. PAULO ALMEIDA JÚNIOR

Aracaju/SE
Dezembro/2013
THAYNARA CEZAR BARRETO

PRINCIPAIS INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS ASSOCIADAS


A ANESTESIA LOCAL NA PRÁTICA ODONTOLÓGICA

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado a Coordenação do Curso de
Odontologia da Universidade Tiradentes
como parte dos requisitos para obtenção
do grau de bacharel em odontologia.

APROVADA EM ____/____/____

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________________
PROF. DR. PAULO ALMEIDA JÚNIOR
ORIENTADOR/PRESIDENTE DA BANCA

_________________________________________________________
1º EXAMINADOR

_________________________________________________________
2º EXAMINADOR
ATESTADO

Eu, Paulo Almeida júnior, orientador da discente Thaynara Cezar Barreto atesto que o
trabalho intitulado: “Principais interações medicamentosas associadas a anestesia local na
prática odontológica” está em condições de ser entregue à Supervisão de Estágio e TCC, tendo
sido realizado conforme as atribuições designadas por mim e de acordo com os preceitos
estabelecidos no Manual para a Realização do Trabalho de Conclusão do Curso de Odontologia.

Atesto e subscrevo,

Prof. Dr. Paulo Almeida Júnior

Orientador(a)
“E guardemos a certeza pelas próprias
dificuldades já superadas que não há mal
que dure para sempre.”Chico Xavier
AGRADECIMENTOS

proteção e por ter iluminado meu caminho. Sem sua presença em minha vida eu não teria
chegado até aqui.
Aos meus pais, agradeço por todo amor, doação e apoio em todos os momentos. Dedico esta e
todas as minhas conquistas a vocês.
Agradeço também a todos os meus professores que me acompanharam durante a graduação, em
especial ao Prof. Dr. Paulo Almeida Júnior que com paciência e sabedoria me orientou.
Aos meus colegas da graduação, pelo carinho diário.
E a todos que colaboram de alguma forma para o meu crescimento, muito abrigada!
PRINCIPAIS INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS ASSOCIADAS
A ANESTESIA LOCAL NA PRÁTICA ODONTOLÓGICA

Thaynara Cezar Barreto a, Paulo Almeida Júnior b

(a)
Graduanda em Odontologia – Universidade Tiradentes; (b) PhD. Professor Titular do Curso de
Odontologia – Universidade Tiradentes

Resumo:
É cada vez mais comum nos consultórios odontológicos, o atendimento a pacientes que fazem uso contínuo de
medicamentos, ou de drogas ilícitas. Quando a anestesia local é utilizada nesses pacientes há possibilidade de
interação medicamentosa que é a alteração nos efeitos farmacológicos em decorrência de modificações na
farmocinética ou na farmacodinâmica dos fármacos. Pode haver também, interação medicamentosa de adição entre
anestésicos usados pelo cirurgião dentista no próprio consultório. As interações medicamentosas são classificadas
de acordo com a gravidade dos resultados adversos e com base na qualidade e quantidade de documentação
científica. Para prevenir essas interações o cirurgião dentista deve ter um bom diálogo com seus pacientes a fim de
coletar informações sobre o possível uso de medicamentos e de drogas ilícitas e a partir da conclusão da anamnese
e verificação dos sinais vitais, traçar um plano de tratamento adequado para cada paciente. O objetivo desse
trabalho foi analisar interações medicamentosas entre anestésicos locais diferentes e destes com antidepressivos
tricíclico, β-bloqueadores, cocaína e opióides.

Palavras-chaves: anestesia local; interações de medicamentos; efeitos adversos

Abstract:
It is increasingly common in dental offices, attending to patients who use continuous medication, or illicit drugs.
When local anesthesia is used in these patients for possible drug interactions is the change in pharmacological
effects due to changes in pharmacokinetics or pharmacodynamics of drugs. There may be also added drug
interaction between anesthetics used by dentists in private practice. Drug interactions are classified according to the
severity of adverse outcomes and based on the quality and quantity of scientific documentation. To prevent these
interactions the dentist must have a good dialogue with their patients in order to gather information on the possible
use of drugs and illicit drugs and from the conclusion of the interview and checking vital signs, draw a suitable
treatment plan for each patient. The aim of this study was to analyze drug interactions between local anesthetics
different and these with tricyclic antidepressants, β-blockers, cocaine and opioids.

Keywords: anesthesia, local; drug interactions; adverse effects


1 Introdução anestésico local, vasoconstritor, agente
redutor, agente conservante, fungicida e
É crescente o número de solução carreadora (BAHL, 2004).
pacientes que procuram tratamento A maioria dos sais anestésicos
odontológico que esteja utilizando de utilizados atualmente na odontologia
forma contínua medicamentos apresenta característica de provocar
(CHIOCA et al., 2010). Portanto, o vasodilatação periférica, por relaxar a
estudo das possíveis interações musculatura vascular. Desse modo, a
medicamentosas e suas complicações, adição de vasoconstrictores aos
constitui-se em um aprendizado anestésicos locais trouxe inúmeras
indispensável da prática odontológica vantagens, porque, como própria
(MORE et al., 1999). definição, eles fazem vasoconstrição no
Define-se interações local em que são injetados. Tal fato
medicamentosas como uma resposta reduz sua absorção sistêmica,
farmacológica ou clínica, causada pela prolongando o efeito do anestésico e
combinação de medicamentos, diferente tornando necessária a administração de
dos efeitos de dois medicamentos dados uma quantidade menor deste, o que
individualmente. O resultado final pode
diminui o risco de toxicidade. Outra
aumentar ou diminuir os efeitos
vantagem dos vasoconstrictores é a
desejados e, ou, os eventos adversos.
Podem ocorrer entre medicamento- hemostasia durante a realização de
medicamento, medicamento-alimentos, procedimentos invasivos, porém em
medicamento-exames laboratoriais e regiões de circulação limitada a injeção
medicamento-substâncias químicas de vasoconstrictores pode causar
(ANVISA, Resolução - RDC nº 140, de hipóxia irreversível e necrose tecidual
29 de maio de 2003). (CHIOCA et al., 2010, MALAMED,
Algumas medidas preventivas 2013).
podem ser tomadas para evitar essas O uso de vasoconstritores pode
interações farmacológicas na clínica gerar efeitos adversos em pacientes que
odontológica, como uma boa anamnese, fazem uso de antidepressivos tricíclicos
escolha do anestésico ideal para o (ATC), β-adrenérgicos, anestésicos
paciente, injeção lenta e com duração
voláteis, cocaína e outros produtos
suficiente para o procedimento cirúrgico
e aspirações frequentes durante a vasoconstritores (ABUBAKER;
anestesia (MALAMED, 2013). Os BENSON, 2004). Assim sendo, deve-se
anestésicos locais são fármacos que, em usar a palavra efeito adverso (efeito
contato com a fibra nervosa, impedem a indesejável) ou reação adversa ao
propagação do impulso nervoso. medicamento (RAM), em qualquer
Quando injetado em terminações resposta a um medicamento que seja
nervosas ou em troncos nervosos prejudicial, não intencional, e que
condutores de sensibilidade, bloqueiam ocorra nas doses normalmente utilizadas
transitoriamente a transmissão do em seres humanos para profilaxia,
potencial de ação em todas as diagnóstico e tratamento de doenças, ou
membranas nervosas excitáveis para a modificação de uma função
(PAIVA e CAVALCANTI et al., 2005,
fisiológica (ANVISA, Resolução - RDC
ABUBAKER; BENSON, 2004,
nº 140, de 29 de maio de 2003).
ANDRADE, 2006, MALAMED, 2013,
GOLAN et al., 2009). Moore et al. (1999) avaliaram,
Os tubetes de solução anestésica por meio de uma escala de avaliação de
são compostos por: o sal do agente significância, as possíveis interações
medicamentosas odontológicas, levando também possam ocorrer com as drogas
em consideração as interações e a ilícitas (cocaína, crack).
gravidade dos resultados adversos.
Nesta base, avaliou-se as interações 1. Revisão da Literatura e
como estabelecida, provável, suspeita, Discussão
possível e improvável. Além disso, A certeza de uma interação
foram avaliadas também quanto a
medicamentosa verdadeira, baseia-se na
gravidade, como sendo: importante
qualidade e quantidade de
(grave), moderada e de menor
documentação científica disponível na
importância. Ambas avaliações foram
literatura. Algumas reações são
utilizadas para estabelecer a escala de
conhecidas há muito tempo e estão bem
classificação das interações
documentadas, já outras, foram
medicamentosas odontológicas (Quadro estabelecidas por extrapolação, a partir
I).
de informações clínicas limitadas.
Algumas interações sugeridas são, de
Escala de Classificação de Significância
das Interações entre Drogas fato, teoricamente, com base na
compreensão dos mecanismos de
Taxa de Classificação Classificação
Significância Quanto a Quanto a
drogas, mas nunca foram relatadas em
Gravidade Documentação uma situação clínica. Muitas reações
envolvem agentes terapêuticos
1 Maior Estabelecida,
odontológicos, mas ocorrem em
Provável ou
Suspeita circunstâncias que não são comuns a
prática odontológica (MOORE et al.,
2 Moderada Estabelecida,
1999).
Provável ou
Suspeita Moore et al. (1999), com base na
qualidade da documentação tentaram
3 Menor Estabelecida, discutir as reações classificando como
Provável ou
Suspeita
estabelecida, provável, suspeita,
possível ou improvável. Além disso,
4 Maior ou Possível devido a importância de gravidade
Moderada
potencial de uma reação, três graus de
5 Totalmente Possível ou gravidade estão incluídos na
Menor Improvável classificação: maior, moderado e menor.
Quadro I: Escala de Classificação de O quadro dois fornece definições para
Significância Entre Drogas (Fonte: Yagiella, ambas as classificações bem como, uma
1999). avaliação acumulada. Este sistema de
classificação clínica atribuiu maior
O foco deste trabalho é discutir,
importância para reações graves que são
através de uma revisão da literatura, as
bem documentadas e menor importância
principais interações com maior
para interações menores e mal
gravidade (com taxa de significância 1)
documentadas.
entre diferentes tipos de anestésicos
Ao criar esse sistema de
locais e estes com alguns fármacos
classificação Moore et al. (1999), não
utilizados pelos pacientes (B-
consideraram o uso de drogas por via
Bloqueadores, antidepressivos
intravenosa e terapias dentais com
tricíclicos, opióides), bem como
duração de algumas semanas e não
descrever as possíveis interações que
incluíram interações que são
importantes para o médico clínico geral.

Avaliação de Significância para as Interações Medicamentosas em Odontologia

Classificação Quanto a Gravidade Classificação Quanto a Documentação


Maior Potencialmente fatais ou Estabelecida Provou ocorrer em ensaios clínicos
capazes de causar danos bem controlados
permanentes
Provável Muito provável, mas não provou
Moderada Poderia causar a deterioração do clinicamente
estado clínico dos pacientes; o
tratamento adicional ou Suspeita Poderia ocorrer, existem alguns bons
hospitalização pode ser dados; mas são necessários mais
necessário. estudos

Menor Efeitos Leves que são Possível Poderia ocorrer; os dados são muito
incómodos ou despercebidos; limitados
não deve afetar
Improvável Duvidoso; não há evidência
significativamente os resultados
consistente e confiável de um efeito
terapêuticos
clínico alterado

Classificação Acumulada

Taxa Definição

1 Reações maiores que se estabelecem, provável ou suspeita

2 Reações moderadas que são estabelecidas, provável ou suspeita

3 Reações menores que são estabelecidas, provável ou suspeita

4 Reações maiores ou moderadas ou que são possíveis

5 Reações menores que são possíveis; todas as reações que são improváveis.

Quadro II: Classificações cumulativas, baseados na severidade da reação e na qualidade da documentação


referente às interações (Fonte: Moore, 1999).

2.1 Interações com transtornos depressivos maiores e em


fases depressivas na doença bipolar. São
Antidepressivos Tricíclicos
extremamente efetivos no tratamento da
Antidepressivos tricíclicos são dor crônica, distúrbios de dor orofacial,
prescritos para tratar pacientes com déficit de atenção e de hiperatividade
(GOULET; PÉRUSSE; TURCOTTE, uso de fios de retração gengival
1992, YAGIELA, 1999). contendo epinefrina (MALAMED,
Pacientes que estão recebendo 2013, MORENO; MORENO;
tratamento psiquiátrico para depressão SOARES, 1999, ANDRADE, 2006,
podem ser resistentes em informar YAGIELA, 1999).
durante a anamnese, por causa do
estigma associado com doença mental.
O cirurgião dentista deve mostrar a seus
pacientes que tais informações serão
mantidas confidenciais e que são
indispensáveis para a prestação do
atendimento odontológico seguro
(FRIEDLANDER; WEST, 1991).
Através do bloqueio dos
transportadores da recaptação da
serotonina(5HT) e da noradrenalina(Ne)
os ATC inibem a recaptação da 5HT e
Ne da fenda sináptica. Assim, com o
maior tempo de permanência destes
dois neurotransmissores na fenda
sináptica ocorre a uma ativação
aumentada dos receptores, por tanto, os
inibidores da recaptação produzem uma
intensificação das respostas pós
sinápticas, como mostra a figura 1
(GOLAN et al., 2009). Foi sugerido que
esses antidepressivos facilitam
indiretamente a transmissão
dopaminérgica no prosencéfalo,
podendo contribuir para a ação de Figura 1: Mecanismo de ação dos
elevação do humor (TRIPATHI, 2006). antidepressivos tricíclicos (Fonte: GOLAN et
Esses fármacos são em sua al., 2009)
maioria, agentes anticolinérgicos Vários estudos experimentais e
potentes que provocam ressecamento da revisões da literatura demonstraram
boca, visão embaçada, constipação, uma interação significativa entre os
tontura, palpitações e hesitação urinária antidepressivos tricíclicos e
como efeitos colaterais. E os efeitos vasoconstritores adrenérgicos
cardiovasculares são: taquicardia, (BOAKES et al., 1973, GOULET;
hipotensão postural e possível PÉRUSSE; TURCOTTE, 1992,
desenvolvimento de arritmias cardíacas. YAGIELA, 1999, ANDRADE, 2006,
(TRIPATHI, 2006, MAGGIONI et al., MALAMED, 2013).
2008). Esses efeitos podem ser Através de um estudo em
possivelmente potencializados pela indivíduos saudáveis, sexo masculino,
injeção intravascular acidental, pela que ingeriram imipramina agente
administração em doses elevadas de tricíclico, 25mg, três vezes ao dia,
vasoconstritores como adrenalina, durante cinco dias e receberam infusão
intravenosa de fenilefrina, noradrenalina
noradrenalina e fenilefrina e ainda pelo
e adrenalina, Boakes et al., (1973) 1999 revisaram as evidências
demonstraram que havia potenciação de disponíveis, em 1983, e concluíram que
2 a 3 vezes dos efeitos pressores da não havia nenhuma evidência clínica de
fenilefrina, de 4 a 8 vezes da interações significativas entre os
noradrenalina e de 2 a 4 vezes da antidepressivos tricíclicos e anestésicos
adrenalina. Verificaram também, locais odontológicos contendo
elevação da pressão arterial após
adrenalina.
infusão intravenosa de fenilefrina,
Goldman et al., (1972) apud
noradrenalina e adrenalina e que o
efeito da noradrenalina foi maior do que Boakes et al.,(1973), mostraram que não
os outros dois vasocontritores. Além havia potenciação da ação pressora da
disso, observou-se arritimia cardíaca em felipressina em cães pré-tratados com
indivíduos que receberam adrenalina. desmetilimipramina. Desta forma,
Houve também potenciação de deixou claro também que felipressina é
bradicardia durante a infusão de mais seguro do que o vasoconstritor
noradrenalina, em contraste, a noradrenalina em pacientes que tomam
bradicardia durante infusão de tricíclicos. Boakes et al., (1973) também
fenilefrina foi menos pronunciada. relataram que o vasocontritor
Também, em outro trabalho de felipressina é mais seguro do que
revisão de 15 casos, reações adversas adrenalina em pacientes que tomam
como dor de cabeça severa e alteração
antidepressivos tricíclicos. Além disso,
na pressão arterial, ocorreram em 5
indivíduos em tratamento com Boakes et al.,(1972) apud Boakes et al.,
antidepressívo tricíclico após anestesia (1973) afirmaram que o uso do
local contendo noradrenalina 1:25.000, vasoconstritor felipressina seria a
(BOAKES et al.,1972 apud BOAKES et melhor escolha para usuários de
al., 1973). tricíclicos.
Svedmyr, (1968) apud Goulet; Quando o cirurgião-dentista
Pérusse; Turcotte, (1992), também optar pelo uso de anestésico com
observou que em indivíduos adrenalina na concentração de
normotensos pré-tratados por quatro 1:100.000 em pacientes que fazem uso
dias com protriptilina agente tricíclico, de tricíclico, o emprego deste deve ser
20 mg, três vezes ao dia havia um em torno de 1/3 da dose máxima
aumento importante na pressão arterial recomendada. A administração de
sistólica e diastólica após a infusão noradrenalina, levonordefrina e fios de
intravenosa de pequenas doses de retração gengival contendo grandes
norepinefrina e que após infusão de quantidades de adrenalina, devem ser
epinefrina alterações hemodinâmicas evitadas nestes pacientes (MALAMED,
semelhantes foram observadas, mas a 2013, YAGIELA, 1999).
uma dosagem três vezes maior. Ficou
claro a partir dos resultados desses
estudos que os efeitos vasoconstritores 2.2. Interações Com β-
da noradrenalina, adrenalina e Bloqueadores
corbadrina são seriamente potenciados Os beta bloqueadores são
pelo ATC. Embora este aumento seja de fármacos prescritos por seu poder
cinco a dez vezes para noradrenalina e antihipertensores, antiarrítmicos e
corbadrina ele não é tão dramático para antianginal. São utilizados também para
a adrenalina e fenilefrina. Porém, tratamento de tremores involutários e
Cawson et al., (1983) apud Yagiela,
dores de cabeça vasulares (GOULET; estimulação dos receptores α-
PÉRUSSE; TURCOTTE, 1992, adrenérgicos. Além do mais, a
BOSCO; BRAZ, 2001). epinefrina estimula os receptores β1-
Quanto a sua seletividade são adrenérgicos no coração, o que resulta
diferenciados como cardiosseletivos ou em taquicardia. A injeção intravascular
não seletivos. Os β-Bloqueadores acidental ou de grande quantidade de
anestésicos contendo epinefrina em
cardioseletivos inibem
pacientes tratados com β-bloqueadores
preferencialmente os receptores β1, não seletivos, pode induzir à elevação
presentes em maior parte no coração, no da pressão arterial provocada pela ação
sistema nervoso e nos rins, causando nos receptores α, pois os receptores β2
redução do cronotropismo (frequência encontram-se bloqueados. Quando isso
cardíaca) e do inotropismo (força de ocorre, segue-se uma bradicardia reflexa
contração) cardíaco determinando assim mediada pelo arco aórtico inervado pelo
a redução no consumo de oxigênio do nervo vago e barorreceptores da
miocárdio. Os β- bloqueadores não carótida. Em pacientes sob tratamento
seletivos inibem também os receptores com os β-bloqueadores cardiosseletivos
β2, encontrado nos músculos lisos, nos esse quadro parece não ocorrer
pulmões e nos vasos sanguíneos, (GOULET; PÉRUSSE; TURCOTTE,
1992, ANDRADE, 2006).
aumentando a resistência bronquiolar e
Hjemdahl, et al. (1983), apud,
vascular periférica. Os exemplos mais
Goulet; Pérusse; Turcotte, (1992),
utlizados desta categoria são também, não observaram nenhum
propranalol, nadolol, timolol e pindolol efeito diferencial relativo ao
(GOULET; PÉRUSSE; TURCOTTE, mecanismo das epinefrinas e
1992, BOSCO; BRAZ, 2001, GOMEZ- norepinefrinas pelo β-bloqueador
MORENO et al.,2009). cardiosseletivo metoprolol. Porém o
Os beta bloqueadores agem mecanismo de movimentação da
bloqueando competitivamente a epinefrina era maior que o da
estimulação dos receptores β por norepinefrina pelo propranolol, β-
catecolaminas endógenas, tais como a bloqueador não seletivo. Além disso, o
epinefrina e norepinefrina. Eles também aumento do nível de epinefrina no
bloqueiam a ativação do receptor β– plasma após a infusão de propranolol
foi maior do que com o uso de
adrenérgico quando medicamentos
metoprolol. De acordo com esse autor
adrenérgicos são exogenamente
nenhuma evidência relevante impede o
administrados. Esses fármacos reduzem uso de anestésico local com
a pressão arterial nos pacientes vasoconstritor para os pacientes tratados
hipertensos, porém carecem de efeitos com β-bloqueadores cardiosseletivos.
nos indivíduos normotensos Dado o potencial perigo em
(YAGIELA, 1999, GOLAN et al., odontologia, alguns trabalhos relataram
2009). interação entre anestésico local com
No sistema cardiovascular a vasoconstritor e β-bloqueadores não-
epinefrina desempenha pelo menos duas seletivos (GOULET; PÉRUSSE;
funções farmacológicas. Ela causa TURCOTTE, 1992, ANDRADE, 2006,
vasodilatação das arteríolas nos GOMEZ-MORENO et al., 2009,
músculos esqueléticos por meio da
YAGIELA, 1999).
estimulação β-adrenérgico e causa
Foster e Aston (1983) apud,
também vasoconstrição dos vasos
arteriais em muitos órgãos pela Goulet; Pérusse; Turcotte (1992)
notaram que em seis pacientes que adicional. Caso não haja alteração
tomavam propranolol um β-bloqueador cardiovascular, tubetes adicionais
não seletivo, após a administração de podem ser injetados individualmente em
anestésico local contendo epinefrina em cinco minutos com monitoramento nos
uma cirurgia plástica na pálpebra intervalos (YAGIELA, 1999). Também,
ocorreu uma elevação grave da pressão de acordo com Goulet; Pérusse;
arterial e bradicardia. As reações Turcotte, (1992) o risco de uma
ocorreram dentro de poucos minutos, complicação potencial existe para os
com a quantidade variando entre 0,04 e pacientes que fazem uso de β-
0,32 mg de epinefrina, portanto, bloqueadores não seletivos e, até que
equivalente a injeção de 4 a 32 ml de mais estudos estejam disponíveis,
anestésico local com epinefrina acredita-se que os cirurgiões dentistas
1:100.000). Em um outro estudo devem ser mais cautelosos e evitar a
Dzubow, (1986) apud, Yagiela, (1999) administração de anestésico local com
observou que anestesia local com vasoconstrictor adrenérgicos em
adrenalina injetada na pele produz pacientes que fazem uso desses β-
geralmente interações leves. Porém, bloqueadores.
Mackie; Lam, (1991), apud, Yagiela, Estudos demonstraram que
(1999) em um estudo com 6 indivíduos, continuar o tratamento com β-
entre 39 e 48 anos concluíram que a bloqueadores até o dia da cirurgia,
injeções intravenosa de 5/6 de um diminui a frequência cardíaca, não
tubete contendo adrenalina 1:100.000, altera significativamente o equilíbrio
em pacientes de meia idade tratados hemodinâmico do paciente durante a
anestesia geral, diminui a pressão
com β-bloqueador não seletivo, resulta
arterial e a pressão da artéria pulmonar
em acentuada bradicardia. (PRYS-ROBERTS; FOEX; BIRO, 1988
Reações adversas, incluindo apud BOSCO; BRAZ, 2001,
parada cardíaca que ocorreram após POLDERMANS et al., 1999) porém,
injeção de dois tubetes de lidocaína a Brummet (1984) apud Goulet; Pérusse;
2% com epinefrina 1:50.000 também Turcotte, (1992) sugerem suspender a
documentam a relevância clínica da medicação por pelo menos três dias
interação entre β-bloqueadores não antes de usar anestésico com
seletivos e adrenalina vasoconstritor. Por causa de relatos da
(HANSBROUGH; NEAR, 1980, apud, piora nos batimentos cardíacos,
YAGIELA, 1999, FORTER; isquemia e morte súbita após a
ASTON,1983 , apud, YAGIELA, interrupção abrupta da terapia crônica
com β-bloqueadores, isso só deve ser
1999).
feito com o consentimento e prescrição
Epinefrina ou levonordefrina
do médico (MILLER et al., 1975,
pode ser usado em pacientes que tomam FRISHMAN et al., 1978 apud
β-bloqueadores não seletivos, no GOULET; PÉRUSSE; TURCOTTE,
entanto a dose inicial pode ser mantida 1992). Se o medicamento não pode ser
a um mínimo, como metade de um interrompido ou alterado, um
tubete com epinefrina 1:100.000, e anestéscico local sem vasoconstritor
injetado com cuidado para evitar a deve então ser administrado para evitar
administração intravascular. interação com a droga (GOULET;
Monitoramento dos sinais vitais do PÉRUSSE; TURCOTTE, 1992).
paciente antes da injeção e cinco Tal como acontece com os ATC,
minutos após, vai ditar a administração nem epinefrina 1:50.000, tão pouco o
fio de retração gengival contendo ser dissolvida em água e injetada por
epinefrina deve ser usado em pacientes via venosa ou, mais comumente, usada
que estão fazendo uso de β- por aspiração. Ambas as formas têm
bloqueadores não seletivos (YAGIELA, alto potencial de desenvolver o vício.
1999). Após administração venosa, sua meia
Diversos estudos evidenciam vida plasmática varia entre 60 e 90
que há reação adversa grave entre beta
minutos, porém pode ser ainda maior
bloqueadores não seletivos e
após administração oral ou nasal. Por
vasoconstrictores adrenérgicos, no
entanto, se o cirurgião dentista optar via venosa, atinge a circulação
pelo seu uso, deve-se usar uma dose encefálica entre 12 e 16 segundos,
mínima e ter cautela durante a quando inalada, entre 6 e 8 segundos.
administração, fazendo sempre uma Os picos de concentração plasmática
injeção lenta e aspirações frequentes são atingidos em 60 minutos e persiste
durante a anestesia e ainda, fazer por até 6 horas (LUFT; MENDES,
controle da pressão arterial do paciente 2007, GOULET; PÉRUSSE;
(GOULET; PÉRUSSE; TURCOTTE, TURCOTTE, 1992). Enquanto o efeito
1992, YAGIELA, 1999, da cocaína ainda é ativo ou observado,
POLDERMANS et al., 1999). há um grande risco de uma interação
Uma outra opção a ser adversa, caso um vasoconstritor
considerada é a associação de
adrenérgico seja inadvertidamente
prilocaína a 3% com felipressina a 0,03
UI/ml, sendo considerada segura para injetado no sistema vascular sanguíneo,
ser utilizada em pacientes hipertensos causando inicialmente um aumento
(SUNADA et al., 1996). brusco da pressão arterial e taquicardia,
seguida de fibrilação ventricular, infarto
2.3 Interações com do miocárdio, eventual parada cardíaca
Cocaína e óbito (ANDRADE, 2006).
A cocaína, mediante bloqueio
A cocaína é hoje reconhecida dos transportadores de
como uma das mais perigosas drogas neurotransmissores que medeiam a
ilícitas de uso comum e mais recaptação das monoaminas dopaminas,
frequentemente associada a óbitos norepinefrina e serotonina para as
(LUFT; MENDES, 2007, GOULET; terminações pré-sinápticas,
PÉRUSSE; TURCOTTE, 1992). Os
potencializam a neurotransmissão
usuários de cocaína correm risco
serotonérgica, dopaminérgica, e
potencial para todos os tipos de
complicações cardiovasculares adrenérgica. A cocaína é mais potente
(ANDRADE, 2006, GOULET; no bloqueio do transportador dopamina
PÉRUSSE; TURCOTTE, 1992). (DA), embora concentrações maiores
Durante a avaliação pré- bloqueiem os transportadores da 5HT e
operatória, a história sobre o vício da NE (figura 2). Drogas como a
precisa ser obtida para que o cocaína, que potencializam as ações da
profissional possa planejar o manuseio norepinefrina inibindo a recaptação do
desse paciente (LUFT; MENDES, neurotransmissor, provocam aumento
2007). da excitação e vigilância. Por isso, é
Essa droga é apresentada em considerado psicoestimulante. Essas
duas formas, base livre (crack) e drogas podem causar paranóia e
cloridrato (pó). A forma cloridrato pode delírius, esquizofrenia, aumento da
frequência cardíaca e da pressão arterial um dia (GOULET; PÉRUSSE;
(GOLAN et al., 2009). TURCOTTE, 1992).
Kaufman et al., (1998) através
de uma pesquisa mostraram que após o
uso, a cocaína provoca aumento de 4 a
6% do número de glóbulos vermelhos,
que uma vez na circulação aumentam a
viscosidade do sangue e o risco de
trombose e provoca também constrição
do baço. Além disso, parece induzir
uma maior produção do fator Von
Willebrand, um importante fator de
coagulação que aumenta em até 40%,
contribuindo ainda mais para a
formação de coágulos intravasculares.
Em um outro estudo, Zhou et al., (2004)
mostraram que de 38 pacientes com
oclusão arterial periférica aguda, 5
parecem ter sido induzidos pela cocaína,
sendo que dois desses pacientes haviam
consumido a droga por meio de inalação
intranasal, e outros três haviam fumado
crack. O tempo médio entre o uso da
cocaína e o início da trombose arterial
aguda foi de aproximadamente 9 horas.
Chiu et al., (1986) apud Yagiela,
(1999), documentaram que foi usado em
uma paciente jovem, cocaína tópica
para cirurgia nasal e após injeção de
lidocaína com epinefrina a jovem
desenvolveu angina e sofreu um ataque
cardíaco.
Devido ao potencial risco que
eles representam para os cirurgiões
dentistas, devem ser tomadas Figura 2: Mecanismo de ação da cocaína (Fonte:
precauções para identificar usuários de GOLAN et al., 2009)
drogas ilícitas, principalmente aqueles
usando cocaína e substâncias derivadas É unamine entre os autores, que
como o crack. Estes profissionais há um grande risco de interação
devem educá-los sobre os riscos adversa, caso um vasoconstritor
médicos e nunca injetar anestésico local adrenérgico seja administrado em um
ou usar fio retrator impregnado com indivíduo que tenha usado cocaína.
epinefrina, a menos que eles declarem Portanto, os procedimentos
não ter usado a droga nas últimas 24 odontológicos que necessitam de
horas. Como medida preventiva, quando anestesia com vasoconstritores
a declaração for suspeita, os tratamentos adrenérgicos devem ser evitados
dentários devem ser adiados por mais (GOULET; PÉRUSSE; TURCOTTE,
1992, LUFT; MENDES, 2007, pequenas doses de fentanil, sufentanil
ANDRADE, 2006, KAUFMAN et al., ou alfentanil são administrados
1998, ZHOU et al., 2004). precisamente antes da intubação
traqueal e da laringoscopia direta para
2.4 Interações com atenuar a pressão sanguínea e a
Opióides frequência cardíaca provocada como
resposta a esses estímulos
Analgésico é uma droga que
(ABUBAKER; BENSON, 2004).
alivia seletivamente a dor, ao agir nos
O uso de anestésico local é
mecanismos periféricos da dor ou no
essencial durante a sedação consciente.
sistema nervoso central (SNC), sem
A terapia de sedação consciente pode
alterar significativamente a consciência.
proporcionar uma analgesia adequada,
Esses fármacos são divididos em dois
equilibrando o uso de anestésico local
grupos: Analgésicos opióides/
(MOORE, 1999). Os opióides (como
Narcóticos/ Semelhantes à morfina e
morfina, meperidina e fentanil) podem
analgésicos não-opióides/Não
causar efeito aditivo num anestésico
narcóticos/ Semelhantes a
local tipo amida, devido á similaridade
aspirina/Antipirético ou anti-
de suas estruturas químicas (são aminas
inflamatório (TRIPATHI, 2006).
lipofílicas básicas). Isso ocorre
Os opióides agem como
principalmente nas populações
agonistas por meio de interações
geriátricas e pediátricas (ABUBAKER;
complexas com receptores mu(μ),
BENSON, 2004).
delta(δ) e kappa(κ) no SNC. Na região
Sedação consciente em adulto
supra-espinal os receptores μ são
representa um problema menor porque
responsáveis por analgesia, náusea,
doses relativamente baixas dessas
vômitos, retenção urinária, euforia,
drogas são recomendadas. No entanto,
depressão da respiração e bradicardia.
quando há necessidade de sedar uma
Os receptores δ e κ são ativos em nível
criança (geralmente crianças pré-
espinal, mediando a analgesia, sedação
escolares) não cooperativa, um
e miose. Além disso, os opióides podem
narcótico é frequentemente utilizado
agir pré-sinapticamente para interferir
como agente sedativo primário, doses
com a liberação de neurotransmissores,
relativas são significativamente mais
tais como dopamina, norepinefrina,
elevadas e como a administração
acetilcolina e substância P
intravenosa não é usada, a reversão
(ABUBAKER; BENSON, 2004,
rápida não é possível. Interações
TANAKA E MOSS, 2008).
medicamentosas a anestésicos locais
Clinicamente seu uso inclui a
tornam-se significativas devido ao
provisão de analgesia antes ou após a
menor tamanho do corpo. O uso de
cirurgia. São usados para indução, e
opióides como parte de um regime de
manutenção da anestesia geral e
sedação pediátrica tem sido relacionado
inibição da atividade do sistema
com os relatos de reações de toxicidade
nervoso simpático reflexo.
a anestésicos locais. O mecanismo desta
Normalmente são administrados
interação é provavelmente
intermitentemente em baixas doses
multifacetado (MOORE, 1999,
durante a manutenção da anestesia ou
como infusões contínuas para aumentar MOORE, GOODSON, 1985).
A consciência de interação
os anestésicos inalados. Muitas vezes,
medicamentosa entre opióides e
anestésicos locais foi relatada outra consulta. Na 2ª consulta uma
primeiramente por Smudsk et al (1964) injeção submucosa de 14 mg de
apud Moore, Goodson (1985). Neste alfaprodina mais 0,2 mg de atropina foi
trabalho, os autores investigaram os realizada. O procedimento foi iniciado,
efeitos da meperidina após 10 minutos após essa administração o
administração de lidocaína em paciente respondeu aos estímulos
camundongos, esta demonstração verbais embora se tenha observado uma
sugere que os anestésicos locais e diminuição na taxa de respiração. Um
opióides podem interagir, e assim minuto após, a via aérea tornou-se
aumentar a toxicidade de uma reação. obstruída e observou-se roncos sonoros.
Graves reações adversas O paciente tornou-se progressivamente
incluindo casos fatais envolvendo sem resposta aos estímulos verbais e
anestésicos locais e analgésicos táteis, necessitando interrupção do
opióides, foram relatados. Pelo menos 4 procedimento e manobra para fornecer
fatores parecem contribuir para essas ventilação as vias aéreas. 0,2 mg de
reações: a administração de múltiplas naloxona foi administrado por injeção
drogas, dosagem excessiva, a falta de intramuscular profunda. A frequência
fiscalização e atendimento de cardíaca e pressão arterial mantiveram-
emergência ineficaz (MOORE, se estáveis durante todo o período de
GOODSON, 1985). apnéia. Após 5 minutos da
Moore, Goodson (1985) administração de naloxona, a depressão
relataram que, em uma criança de 15,8 respiratória foi revertida, a pressão
kg, foram administrados 25 mg de positiva de ventilação foi interrompida,
hidroxizina e 50 mg de mepiridina via observou a criança por 1 hora e a
oral, 1 hora e 40 minutos após 2 tubetes liberou após verificação dos sinais vitais
de mepivacaína 3% foram injetados, a (FINDER, SCHWARTZ, BENNETT,
paciente perdeu a consciência, ocorreu 1985 apud MOORE, GOODSON,
obstrução da respiração (apnéia) e, 1985)
apesar de tentativas de reanimar, Munson (1973) apud Moore,
morreu. Relataram também, que em Goodson (1985) relata que uma criança,
uma criança de 16,3 kg foi administrada de 8 anos de idade, pesando 24,5 kg foi
por via oral 25 mg de hidroxizina, como admitida no hospital para uma biópsia
a sedação inicial não foi suficiente, uma renal e urografia excretora. A criança
injeção suplementar de 6 mg recebeu 25 mg de meperidina e 50 mg
alfaprodina foi administrada por via de pentobarbital por via intramuscular ,
subcutânea, mais ou menos 2 tubetes de 60 minutos após foi levada a sala de
mepivacaína a 3% foram injetados operação para os procedimentos
localmente. Pouco tempo depois as agendados. Um cateter foi colocado em
convulsões ocorreram, seguida de uma veia periférica para a injecção de
inconsciência e depressão respiratória. um corante radiopaco. No entanto, 15
As tentativas para reanimação, ml de uma solução de mepivacaína a
incluindo a naloxona eram ineficazes. 2% (300mg) sem epinefrina foi
Em um outro caso documentado, administrado inadvertidamente em vez
um menino de 3 anos, pesando 18, 2 kg, disso. Quase imediatamente, convulsão
recebeu a dose de 10 mg de alfaprodina generalizada tônico-clônicas ocorreu. O
e mais 0,2 mg de atropina, como o grau tratamento incluiu diazepam (10 mg por
de sedação foi insuficiente foi marcada via intravenosa ) , intubação , ventilação
com O2, e aspiração de secreções anestésico local a uma criança é
traqueais. Atividade de apreensão equivalente a 5 tubetes de anestésico
imediatamente cessou. Uma hora mais local para um adulto. Para uma criança
tarde, o cateter endotraqueal foi de 3 anos, pesando 15 kg, a redução da
removido, a criança estava alerta e dosagem de meperidina de 16,5 para 8,
capaz de conversar com os presentes. 25 mg ou de alfaprodine 9 para 4,5 mg
Os diagnósticos foram realizados dois pode não ser eficaz para sedação. Isso
dias depois e o paciente recebeu alta levanta a questão a saber se esta
hospitalar no dia seguinte, sem qualquer combinação de drogas podem ser
sequela neurológica . usadas como toda segurança e eficácia
Haja vista os casos abordados em sedação de crianças (MOORE,
acima, observou-se que os pacientes GOODSON, 1985).
podem sobreviver a overdoses, a
diferença parece estar relacionada com a
Morte ou Dano Cerebral
administração rápida e correta dos
A recuperação Total
cuidados de emergência imediatamente
disponíveis (MOORE, GOODSON,
1985). 4
(múltiplos do MRD)
Doses de opióides
Considerando a dose combinada
de analgésicos opióides e anestésicos 3
locais como principal fator à toxicidade 2
a figura 3 proporciona um meio para
determinar as recomendações quando 1
anestésicos locais e analgésicos
opióides são administrados 1 2 3 4
simultaneamente. Quando administrada
Dose de anestésico local
sozinha, a toxicidade irreversível é
(múltiplos do MRD)
notada quando a dose máxima
recomendada (MRD) exede o fator 3.
Quando administrada em combinação, Figura 3: Interações relatada entre anestésicos
toxicidade irreversível é esperada no locais e terapia de sedação com opióides em
uma série de casos de reação adversa em
ponto médio da linha diagonal, isto é, a odontopediatria. Doses são ajustadas as doses
150% da MRD de anestésico local e máximas recomendadas, para cada agente. A
150% da MRD do analgésico narcótico. linha diagonal sugere uma interação puramente
Para manter um nível similar de risco de aditiva. Limitando a dose do anestésico local
terapia de combinação (dose tóxica/ quando for usar opióide para sedação pediátrica
(Fonte: Moore, Goodson 1985).
MRD ≤ 3), as doses máximas
De acordo com a literatura, em
recomendadas para os anestésicos locais
ambientes de clínica geral essa
e analgésicos narcóticos necessitam de
interação pode ser particularmente
ser diminuídas para 50% da MRD
importante, por causar convulsões e
(MOORE, GOODSON, 1985).
depressão respiratória que podem ser
Deste modo, ao invés de dois
fatais e difíceis de gerir fora de um
tubetes, apenas um tubete de lidocaína a
ambiente hospitalar (MOORE, 1999).
2% é recomendado para uma criança de
Cirurgiões-dentistas em consultórios
15 kg. Embora isso pareça ser uma
particulares podem se deparar com uma
pequena quantidade de anestésico local,
emergência médica dessa magnitude,
deve ser lembrado que um tubete de
apenas uma vez durante sua vida (GOLAN et al., 2009). A concentração
profissional. A melhor forma de de um anestésico tópico é tipicamente
prevenção é ajustar para baixo doses de maior que a do mesmo anestésico
anestésicos locais quando optar por administrado por injeção. Como eles
sedação com opióides principalmente não contém vasoconstrictores e os
em crianças, pois, está claro que a anestésicos locais são vasodilatadores, a
dosagem está relacionada com a absorção vascular de algumas
toxicidade na terapia combinada formulações típicas é rápida, e os níveis
(DIONE et al., 2006, MOORE, sanguíneos podem alcançar rapidamente
GOODSON, 1985). aqueles atingidos por administração
intravenosa direta, aumentando assim os
2.5 Interações por Adição riscos tanto de toxicidade local, quanto
entre Anestésicos Locais sistêmica (MALAMED, 2013).
A dose total de ambos os
Anestésicos locais são fármacos anestésicos locais não deve exceder a
que induzem a anestesia a nível local, menor das duas doses máximas de cada
sem causar inconsciência (MALAMED agente individualmente. É improvável
2013, ANDRADE, 2006). que se atinjam as doses máximas nos
Os fármacos com mecanismos pacientes odontológicos, contudo, as
de ação idênticos e sítios receptores crianças e os idosos apresentam risco
semelhantes comumente irão ter efeitos potencialmente elevado com níveis
aditivos quando administrados em sanguíneos muito altos de anestésico
combinação (MOORE, 1999). A local. O quadro III ilustra a dose
resposta da combinação será a soma das máxima recomendada de cada
ações das drogas individualmente anestésico local individualmente.
(ANDRADE, 2006). (MALAMED, 2013). Grande parte dos
As interações medicamentosas procedimentos odontológicos, até
de somação com anestésicos locais é mesmo procedimentos que envolvem
uma preocupação aos cirurgiões vários quadrantes, podem ser
dentistas quando: crianças estão sendo concluídos utilizando esses volumes de
tratadas, quando anestésico adicional é anestésicos locais (MOORE, 1999).
necessário para completar os A dose de anestésicos locais
procedimentos odontológicos de longa combinados que excedem as doses
duração, quando anestesia tópica máximas recomendadas pode causar
excessiva é necessária para suplementar reações clássicas de toxicidade como
a anestesia regional ou quando um convulsões, excitação do sistema nervo
anestésico local de longa duração é central, depressão e até parada cardíaca
administrado para o manejo de dor pós (MOORE 1992 apud MOORE 1999).
operatória (MOORE, 1999). A grande Segundo Ilyas (1969) apud
dúvida é a determinação da dose de Moore (1999), há interação
cada anestésico local administrado. A medicamentosa somatória com
administração da dose máxima lidocaína e procaína. Quando
recomendada é baseada no peso administrados em doses elevadas por
corporal (MALAMED, 2013). infusão intravenosa para tratamento de
Anestésicos locais tópicos arritmias cardíacas, a combinação
proporcionam alívio da dor a curto desses dois agentes anestésicos locais,
prazo, quando aplicados às mucosas
poderia produzir uma interação aditiva, Observa-se que a interação entre
e subsequentemente a toxicidade. vasoconstrictores adrenérgicos e
antidepressivos tricíclicos pode ser
Dose Máximas Recomendadas de Anestésicos nocivo para os pacientes. Assim sendo,
Locais o uso desses vasoconstrictores precisa
ser evitado ou usado de maneira
Anestésicos Locais Doses Máximas
Recomendadas Pelo cautelosa. O uso do vasoconstritor
Autor felipressina é a melhor escolha para
mg/kg mg/Ib MRD usuários de ATC.
(mg) Há reação adversa grave entre β-
bloqueadores e vasoconstritores
Articaina adrenérgicos, portanto, deve-se ter
Com vasoconstritor 7,0 3,2 500 cautela durante a administração deste
vasoconstritor. A maneira mais segura é
Bupivacaina
fazer o uso de felipressina.
Com vasoconstritor 1,3 0,6 90 A administração de um
vasoconstritor adrenérgico em um
paciente usuário de cocaína/crack trará
Lidocaina grandes complicações, sendo assim os
Sem vasocontritor 4,4 2,0 300
Com vasoconstritor 6,6 3,0 300 procedimentos odontológicos que
necessitam de anestesia com
Mepivacaína vasoconstritores adrenérgicos devem ser
Sem vasocontritor 6,6 3,0 400 adiados.
Com vasoconstritor 6,6 3,0 400
Quanto a interação entre opioides e
Prilocaína
anestésicos locais, percebe-se que
Sem vasocontritor 6,0 2,7 400 melhor forma de prevenção é reduzir as
Com vasoconstritor 6,0 2,7 400 doses de anestésicos locais quando
optar por sedação com opióides.
Quadro III: Dose Máxima Recomendada de A interação por adição de
Anestésico Local(Fonte: Malamed, 2013)
anestésico local demanda a limitação da
De acordo com a literatura,
dose total de anestésico local
interação por adição de anestésico local
é prevenida limitando a dose total de administrado, utilizando sempre a
anestésico local administrado. Essa menor das doses máxima recomendada.
interação é raramente encontrada pois
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