Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Sistema de Protocolos
Objetivos:
Padronizar a sedação para procedimentos e exames em crianças e adolescentes
Autores e Afiliação:
Renato Lucas Passos de Souza (HCFMRP-USP), Fabio Carmona (FMRP-USP), João Abrão
(FMRP-USP)
Diagnóstico:
O paciente deve ser cuidadosamente avaliado pelo médico que será responsável pela
sedação. Esta avaliação deve incluir anamnese dirigida e exame físico, buscando
identificar fatores de risco, tais como: idade < 6 meses, prematuridade, falta de
experiência do profissional, classificação ASA > III, dismorfismos faciais, úvula não visível
sem fonação (Mallampati III e IV), tonsilas grandes, doença cardíaca ou de vias aéreas,
massa mediastinal, aparelhos dentários ou dentes soltos, anomalias cromossômicas,
obesidade, apneia do sono, alergia a medicamentos, problemas prévios com sedação ou
anestesia, presença de via aérea difícil, e presença de infecção ou doença respiratória
atual.
Exames Complementares:
1/9
Anestesiologia - Sedação para Exames e Procedimentos Fora do Centro Cirúrgico em Crianças e
Sistema de Protocolos
Tratamento:
Medicamentos
A cetamina, um antagonista do receptor NMDA, é uma droga eficaz para sedação,
analgesia e amnésia e tem sido amplamente utilizada como alternativa ao uso de agentes
inalatórios para reduzir a incidência de agitação do sevoflurano e com a vantagem de não
causar depressão respiratória. A dexmedetomidina, um agonista alfa-2 altamente
específico, também apresenta efeitos sedativos, analgésicos e ansiolíticos, sem depressão
respiratória significativa em doses clínicas.
A dexmedetomidina recebeu aprovação inicial da Food & Drug Administration (FDA) nos
Estados Unidos em 1999, para a sedação de adultos durante a ventilação mecânica e,
posteriormente, em 2009, para anestesia assistida (MAC) monitorada em adultos. Apesar
de não ter uma indicação específica aprovada pelo FDA em bebês e crianças, ela tem sido
usada com sucesso em vários cenários clínicos incluindo sedação durante ventilação
mecânica, sedação de procedimento, suplementação de analgesia pós-operatória,
prevenção de delírio, controle de tremores pós-anestésicos e tratamento da retirada de
várias substâncias, incluindo opioides e benzodiazepínicos.
A combinação de dexmedetomidina com dextrocetamina pode ser usada para fornecer o
nível ideal de sedação e analgesia com efeitos limitados sobre a função respiratória e
cardiovascular. Essa mistura, também conhecida como KETODEX, equilibra os efeitos
simpatolíticos da dexmedetomidina, enquanto atenua concomitantemente os efeitos
indesejáveis causados pela cetamina no sistema nervoso central.
A cetamina inibe a bradicardia e a hipotensão esperadas com o uso da dexmedetomidina,
enquanto a última inibe a sialorreia e os efeitos alucinatórios da cetamina, com a
vantagem de não levar a depressão respiratória e hiperreatividade brônquica.
Preparo do Paciente
Para procedimentos não dolorosos, os objetivos da estratégia de sedação são a redução
da ansiedade e o controle motor. Para os dolorosos ou invasivos, os objetivos são além
dos já citados, conforto, analgesia e amnésia. Para atingir estes objetivos, algumas etapas
devem ser obrigatoriamente cumpridas, conforme se segue.
Pessoal e equipamento
Idealmente, deve haver um médico para realizar o procedimento, e outro médico para
realizar a sedação e monitorar o paciente. Pelo menos um desses profissionais deve ter
treinamento em atendimento a urgências e emergências pediátricas, incluindo manejo
avançado de vias aéreas.
Tenha disponível material de urgência apropriado para a idade e o peso do paciente, bem
como um carrinho de urgência equipado com desfibrilador-cardioversor elétrico e
medicamentos de urgência. O equipamento deve incluir, obrigatoriamente, balão auto-
inflável com válvula (ambu), máscaras faciais para ventilação, e material para aspiração
da via aérea. O local em que a sedação será realizada deve contar com fonte de oxigênio
e de vácuo, ou aspirador portátil.
Se a via de administração do sedativo escolhida for a intranasal ou intramuscular, deve
haver material para punção venosa disponível facilmente.
Jejum
Para procedimentos eletivos o tempo de jejum deve ser seguido de acordo com o
guideline recomendado pela Sociedade Americana de Anestesiologia e Academia
2/9
Anestesiologia - Sedação para Exames e Procedimentos Fora do Centro Cirúrgico em Crianças e
Sistema de Protocolos
Monitorização
Durante o procedimento, o paciente deverá ser monitorado com, no mínimo, oximetria de
pulso e pressão arterial, mas idealmente também com monitor cardíaco e CO2 exalado. A
profundidade, ou nível, da sedação, pode ser facilmente avaliada por meio da escala
Pediatric Sedation State Scale (PSSS) (Tabela 2).
Tabela 2. Escala de Sedação para Crianças: PSSS (Pediatric Sedation State Scale)
Dexmedetomidina
Frasco 100 mcg/mL
Propriedades. Efeito sedativo, analgésico e ansiolítico. Não causa depressão respiratória
significativa. Útil nos casos de síndrome de abstinência por opioide e/ou
benzodiazepínicos. Alternativa para pacientes tolerantes a opiode ou com dificuldade de
sedação (p.ex., síndrome de Down). Comparada à clonidina, possui maior especificidade
para receptores 2 que 1-adrenérgicos e meia-vida mais curta (2–3 h vs. 8–12 h).
Doses. EV contínuo: 0,2–2 mcg/kg/h. Início de ação: 30 min.
Metabolismo. Metabolismo hepático com excreção renal.
Efeitos colaterais. Tonturas, enjoo, boca seca, desmaios e constipação. Hipotensão arterial
e bradicardia, devido à redução do tônus simpático e ao aumento do tônus vagal. Efeito
rebote (hipertensão arterial, taquicardia e agitação), se suspensão abrupta após uso
prolongado (> 5 dias).
3/9
Anestesiologia - Sedação para Exames e Procedimentos Fora do Centro Cirúrgico em Crianças e
Sistema de Protocolos
Dextrocetamina
Ampola 100mg / 2 mL
Propriedades. Sedação, analgesia e amnésia. Broncodilatador. Droga de escolha para
intubação e sedação de pacientes asmáticos. Efeito limitado na mecânica respiratória.
Preserva estabilidade cardiovascular. Alternativa na depressão miocárdica por
benzodiazepínicos ou opiodes. Uso associado a benzodiazepínicos em procedimentos
invasivos (causa menos depressão respiratória).
Doses. EV: 0,5–2 mg/kg em bolus (em 1 min.). Pico de ação: 1 min. Duração: 10–15 min.
EV contínuo: 0,5–2 mg/kg/h. IM: 2–6 mg/kg. Retal: 6–10 mg/kg Pico de ação retal e IM:
5–20 min. VO: 6–10 mg/kg. Intranasal: 6 mg/kg.
Metabolismo. Eliminação hepática.
Efeitos colaterais. Bradicardia, hipotensão arterial, depressão respiratória, ataxia,
confusão, depressão, incontinência urinária, erupção cutânea, trombose venosa, flebite
local, boca seca.
4/9
Anestesiologia - Sedação para Exames e Procedimentos Fora do Centro Cirúrgico em Crianças e
Sistema de Protocolos
Efeitos Adversos
Depressão respiratória, dessaturação, queda de base de língua ou outros eventos
respiratórios são raros com o uso desta associação, mas normalmente carecem de
intervenção.
Efeitos hemodinâmicos mais comuns, porém, sem maiores repercussões, são: discreta
diminuição da frequência cardíaca e discreta elevação da pressão arterial nos primeiros
minutos. Normalmente as medidas retornam aos valores basais, sem necessidade de
intervenção.
Episódios de agitação e alucinação são raros com a associação de dexmedetomidina e
dextrocetamina. Em casos de agitação importante, utilizar dexmedetomidina 1 µg/kg
intranasal, intramuscular ou endovenosa em bolus. Em caso de refratariedade ou se
acesso venoso prévio, utilizar midazolam ou propofol via endovenosa em doses tituladas.
Secreção nasal em excesso pode diminuir absorção e resultar em falha da sedação.
A sedação com ketodex pode resultar em retardo do despertar em alguns casos,
comparado com a sedação convencional.
Recuperação
Depois de finalizado o procedimento, o paciente deverá permanecer em observação com
monitorização cuidadosa até que recupere totalmente a consciência e possa ser liberado.
Os critérios de alta do paciente que foi sedado são:
• Retorno das vias aéreas, dos sinais vitais e da oximetria de pulso à linha de base
• O paciente pode falar ou segue comandos apropriados à idade;
• O paciente está hidratado e tolera líquidos orais;
• O paciente pode ser despertado e tem reflexos da via aérea;
• O paciente é capaz de sentar-se sem ajuda (de acordo com a idade).
5/9
Anestesiologia - Sedação para Exames e Procedimentos Fora do Centro Cirúrgico em Crianças e
Sistema de Protocolos
6/9
Anestesiologia - Sedação para Exames e Procedimentos Fora do Centro Cirúrgico em Crianças e
Sistema de Protocolos
7/9
Anestesiologia - Sedação para Exames e Procedimentos Fora do Centro Cirúrgico em Crianças e
Sistema de Protocolos
Anexos:
Tabela 1: Tabela 1. Duração do jejum prévio a um procedimento eletivo em paciente
hígido de acordo com a American Academy of Pediatrics (APA).
Tabela 1. Duração do jejum prévio a um procedimento eletivo em paciente hígido de
acordo com a American Academy of Pediatrics (APA).
Tabela 2: Tabela 2. Escala de Sedação para Crianças: PSSS (Pediatric Sedation State
Scale)
Tabela 2. Escala de Sedação para Crianças: PSSS (Pediatric Sedation State Scale)
8/9
Anestesiologia - Sedação para Exames e Procedimentos Fora do Centro Cirúrgico em Crianças e
Sistema de Protocolos
9/9