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(52) A Doutrina da Igreja
atividade menos poderosa do Espírito Santo n a vida da maioria dos crentes. A evangelização
eficaz das nações havia sido reduzida, a expulsão de demônios 2 era desconhecida, as curas
miraculosas eram incomuns (embora t e n h a m acontecido de m o d o especial no ministério
de Elias e Eliseu), a profecia era restrita a p o u c o s profetas ou a p e q u e n o s g r u p o s de
profetas, e o " p o d e r d a ressurreição" sobre o p e c a d o no sentido de R o m a n o s 6.1-14 e
Filipenses 3.10 era raramente experimentado.
M a s e m vários pontos o Antigo Testamento aponta para u m t e m p o em que haveria
u m a capacitação maior do Espírito Santo que se estenderia a todo o povo de Deus. Moisés
disse: "Tomara todo o p o v o do S E N H O R fosse profeta, que o S E N H O R lhes desse o seu
Espírito!" (Nm 11.29). E o Senhor profetizou por meio de Joel:
E acontecerá, depois,
que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne;
vossos filhos e vossas filhas profetizarão,
vossos velhos sonharão,
e vossos jovens terão visões;
até sobre os servos e sobre as servas
derramarei o meu Espírito naqueles dias (J1 2.28-29).
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(52) Os Dons do Espírito Santo: (1) Perguntas Gerais
Pedro reconheceu que a profecia de Joel estava sendo cumprida, pois disse "o que ocorre
é o que foi dito por intermédio do profetaJoel" (At 2.16) e depois citou a profecia de Joel
(v. 17-21). Pedro reconheceu que a capacitação do Espírito Santo que pertence à nova
aliança tinha chegado sobre o povo de Deus e a era da nova aliança havia começado
como resultado direto da atividade de Jesus no céu, pois disse:
A este Jesus Deus ressuscitou, do que todos nós somos testemunhas. Exaltado, pois,
à destra de Deus, tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou
isto que vedes e ouvis (At 2.32-33).
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(52) A Doutrina da Igreja
Por fim, ao escrever aos efésios, ele especifica que, q u a n d o Cristo a s c e n d e u ao céu,
c o n c e d e u d o n s " c o m vistas ao aperfeiçoamento dos santos p a r a o d e s e m p e n h o d o seu
serviço, p a r a a edificação do corpo de Cristo" (Ef 4.12).
P o r é m , os d o n s espirituais n ã o só e q u i p a m a igreja p a r a o p e r í o d o até a volta d e
Cristo, mas t a m b é m proporcionam um antegozo da era vindoura. Paulo l e m b r a aos coríntios
que eles foram "enriquecidos"em toda a palavra e em todo o conhecimento, e que c o m o
resultado desse enriquecimento não lhes faltava " n e n h u m d o m espiritual" (ICo 1.5, 7).
É claro que esse enriquecimento em sua palavra e conhecimento não lhes deu a palavra
perfeita ou o conhecimento perfeito que teriam n o céu, mas somente u m antegozo ou a
garantia da perfeição celestial. De m o d o semelhante, Paulo lembra aos coríntios que os
dons espirituais são "imperfeitos", e q u a n d o vier o caminho "perfeito" do conhecimento
p o r ocasião d a volta de Cristo, esses dons d e s a p a r e c e r ã o ( I C o 13.10). Assim c o m o o
próprio Espírito Santo é nesta era u m a "garantia" (2Co 1.22, NVI; cf. 2 C o 5.5; Ef 1.14) da
o b r a mais c o m p l e t a d o Espírito Santo d e n t r o d e nós n a era v i n d o u r a , os d o n s que o
Espírito Santo nos dá são u m antegozo parcial da operação mais completa do Espírito Santo
que será nossa n a era vindoura.
Desse m o d o , os dons de p e r c e p ç ã o ^ d e discernimento prefiguram o discernimento
muito maior que teremos q u a n d o Cristo voltar. O s dons de conhecimento e de sabedoria
prefiguram a sabedoria muito maior que será nossa q u a n d o "conheceremos como tam-
b é m somos conhecidos" (cf. I C o 13.12). O s dons de cura proporcionam u m antegozo da
cura perfeita que será nossa q u a n d o Cristo nos conceder u m corpo ressurreto. Paralelos
semelhantes p o d e m ser encontrados para todos os dons do Novo Testamento. Mesmo a
diversidade de dons deve conduzir-nos a maior unidade e interdependência n a igreja (veja
I C o 12.12-13, 24-25; Ef 4.13), e essa diversidade n a unidade será em si u m antegozo da
u n i d a d e que os crentes terão n o céu.
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Além disso, há certo grau de superposição entre os dons alistados em vários lugares.
Sem dúvida, o dom de governo (kybcrnõsis, ICo 12.28) é semelhante ao dom de liderança
(hoproistamenos, R m 12.8), e provavelmente ambos os termos p o d e m ser aplicados a
muitos que têm o ofício de pastor-mestre (Ef 4.11). Além disso, em alguns casos Paulo
alista u m a atividade e, em outros casos, um substantivo relacionado que descreve a pessoa
(tal como "profecia" em Rm 12.6 e ICo 12.10, mas "profeta" em I C o 12.28 e Ef 4.11).'J
O u t r a razão p a r a pensar que Paulo poderia ter feito listas muito mais longas se
quisesse é que alguns dons alistados têm muitas expressões diferentes à medida que são
encontrados em pessoas diversas. C o m certeza o dom de servir (Rm 12.6) ou de prestar
ajuda (ICo 12.28) assumirá muitas formas diferentes em situações diversas e entre pessoas
distintas. Alguns p o d e m servir ou ajudar d a n d o conselho sábio, outros p r e p a r a n d o
refeições, outros cuidando de crianças ou amparando u m necessitado dentro da igreja.
Esses dons diferem grandemente. Entre aqueles que possuem o d o m de evangelização,
alguns vão b e m em evangelização pessoal entre os vizinhos, outros se destacam n a
evangelização escrevendo folhetos e literatura cristã, e outros em evangelização por meio
de grandes campanhas e reuniões públicas. Outros ainda vão b e m em evangelização por
meio de rádio e televisão. Esses dons evangelísticos não são todos idênticos entre si,
mesmo que sejam classificados na categoria mais ampla de "evangelização". O mesmo
poderia ser dito sobre dons de ensino ou de administração. 1 " Tudo isso significa simples-
mente que não há duas pessoas cujos dons sejam exatamente iguais.
Então, quantos dons diferentes existem? Simplesmente depende do quão específicos
desejamos ser. Podemos fazer u m a lista muito curta com somente dois dons como Pedro
faz em IPedro 4.11: "todo aquele que fala"e "todo aquele que serve". Nessa lista de apenas
dois itens Pedro inclui todos os dons mencionados em todas as demais listas, pois todos
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eles encaixam-se em u m a dessas duas categorias. Por outro lado, podemos tomar os ofícios
de profeta, rei e sacerdote, do Antigo Testamento, e ter u m a lista de três espécies de dons:
os d o n s proféticos (nesse sentido mais amplo) incluiriam q u a l q u e r coisa que envolva
ensinar, e n c o r a j a r , e x o r t a r ou r e p r e e n d e r os outros. O s d o n s sacerdotais incluiriam
qualquer coisa que envolva mostrar misericórdia e cuidado para aqueles e m necessidade
ou que envolva intercessão diante de Deus (tal como orar em línguas). O s dons reais envol-
veriam qualquer coisa que tenha a ver com administração ou governo ou ordem n a igreja.
Outras classificações de dons são dons de conhecimento (tais c o m o discernimento de
espíritos, palavra de sabedoria e palavra de conhecimento), dons de poder (tais como cura,
milagres e fé) e d o n s de palavra (línguas, interpretação e profecia). 11 E então d e novo
poderíamos fazer u m a lista muito mais longa, tal como a lista de vinte e dois dons enume-
rados acima. Mas mesmo essa lista não inclui todos os dons possíveis (nenhuma lista inclui
u m d o m de oração intercessória, por exemplo, que p o d e ser relacionado ao d o m de fé,
mas que não é a m e s m a coisa que esse d o m ; n e n h u m d o m musical é incluído em nenhu-
m a lista, e t a m b é m n e n h u m d o m de expulsão de demônios, e m b o r a Paulo devesse saber
que alguns cristãos eram mais eficazes do que outros nessa área). E se desejássemos dividir
as diferentes espécies de serviço ou administração ou evangelização ou ensino, poderíamos
c o m muita facilidade ter u m a lista com cinqüenta ou m e s m o cem itens. 12
O objetivo de tudo isso é simplesmente dizer que Deus d á à igreja u m a variedade
admirável de dons espirituais, e todos eles derivam de sua multiforme graça. De fato, é
isso m e s m o que Pedro diz: "Servi uns aos outros, cada u m conforme o d o m que recebeu,
c o m o b o n s despenseiros d a multiforme graça de Deus" (IPe 4.10; a palavra "multiforme"
aqui é poikilos, cujo significado é "que possui muitas facetas ou aspectos; que possui rica
diversidade").
O resultado parcial dessa discussão é que d e v e m o s estar dispostos a reconhecer e
apreciar as pessoas que t ê m d o n s diferentes dos nossos, m e s m o que esses dons não
c u m p r a m nossas expectativas com relação a como eles devem ser. Além disso, u m a igreja
sadia terá u m a grande diversidade de dons, e essa diversidade não deve levar à fragmen-
tação, mas à maior unidade entre os salvos n a comunidade. O ponto principal de Paulo
n a analogia do corpo com muitos m e m b r o s ( I C o 12.12-26) é dizer que Deus nos colocou
n o corpo com essas diferenças de modo que possamos depender uns dos outros. "Não podem
os olhos dizer à mão: N ã o precisamos de ti; n e m ainda a cabeça, aos pés: N ã o preciso
de vós. Pelo contrário, os m e m b r o s do corpo que parecem ser mais fracos são necessários"
( I C o 12.21-22; cf. v. 4-6). Vai contra o m o d o de pensar d o m u n d o dizer que desfrutamos
maior unidade quando nos juntamos intimamente com aqueles que são diferentes de nós,
m a s é exatamente isso que Paulo enfatiza e m 1 Coríntios 12, d e m o n s t r a n d o a glória da
sabedoria de Deus em não permitir que alguém tenha sozinho todos os dons necessários
p a r a a igreja, exigindo de nós que d e p e n d a m o s uns dos outros p a r a o funcionamento
a d e q u a d o d a igreja.
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lhe: "... admoesto que reavives o d o m de Deus que h á em ti" (2Tm 1.6). Era possível
Timóteo deixar seu d o m enfraquecer, aparentemente pelo pouco uso, e Paulo lembra-
lhe que devia avivá-lo, mediante uso e conseqüente fortalecimento. Isso não nos deve
surpreender, pois percebemos que muitos dons têm sua força e eficiência aumentadas à
m e d i d a q u e são utilizados, c o m o os d e e v a n g e l i z a ç ã o , e n s i n o , e n c o r a j a m e n t o ,
administração ou fé. Apolo tinha um grande dom de pregação e ensino, pois lemos que
ele era "poderoso (gr. dynatos) nas Escrituras" (At 18.24). E Paulo aparentemente tinha
u m d o m de falar em línguas muito eficaz, usado com muita freqüência, pois diz: "Dou
graças a Deus, porque falo em outras línguas mais do que todos vós" (ICo 14.18).13
Todos esses textos indicam que os dons espirituais podem variar quanto ao poder. Se
pensamos em qualquer dom, seja ensino ou evangelização por um lado, seja profecia ou
cura por outro, devemos perceber que em qualquer igreja é provável que no exercício
de determinado d o m haja pessoas muito eficazes (talvez por meio de longa utilização e
experiência), outros com força moderada e ainda outros que provavelmente possuem o
dom, mas estão apenas começando a usá-lo. Essa variação no poder dos dons espirituais
d e p e n d e de u m a combinação de influência divina e h u m a n a . A influência divina é a
operação soberana do Espírito Santo que distribui os dons "como lhe apraz, a cada um,
individualmente" (ICo 12.11). A influência h u m a n a vem da experiência, treinamento,
sabedoria e capacidade natural no uso daquele dom. E m geral, não é possível saber em
que proporção as influências divina e h u m a n a combinam-se em determinado momento,
n e m é r e a l m e n t e necessário saber isso, pois m e s m o as aptidões que p e n s a m o s ser
"naturais" são de Deus (ICo 4.7) e estão sob seu controle soberano (veja sobre a provi-
dência de Deus e a responsabilidade h u m a n a no capítulo 16).
Mas isso nos leva a u m a pergunta interessante: em que nível de poder deve mani-
festar-se um talento para que venha a ser considerado um dom espiritual? Por exemplo,
quanta capacidade para ensino alguém deve possuir para poder dizer que tem dom de
ensino? O u quanta eficiência n a evangelização alguém deve ter para que possamos
reconhecer nela o d o m de evangelização? O u com que freqüência alguém devfe obter
resposta às suas orações por cura para que se possa dizer que tal pessoa tem dom de curar?
As Escrituras não respondem diretamente a essa pergunta, mas o fato de Paulo falar
desses dons como úteis para a edificação da igreja (ICo 14.12) e o fato de Pedro dizer de
m o d o semelhante que cada pessoa que recebeu algum dom deve se lembrar de empregá-
lo para servir "uns aos outros" (IPe 4.10) dão a entender que tanto Paulo como Pedro
pensavam em dons como talentos fortes o suficiente para funcionar em benefício da igreja, seja
em relação à igreja reunida (como a profecia ou o ensino), seja em relação a indivíduos
da igreja em determinados momentos (como socorros ou encorajamento).
Provavelmente, não se pode traçar n e n h u m a linha definida nessa matéria, mas Paulo
lembra-nos de que ninguém tem todos os dons e não há nenhum dom que seja comum a todos. Ele
é b e m claro quanto a isso n u m a série de perguntas que pressupõem a resposta "não" a
cada ponto: "Porventura, são todos apóstolos? Ou, todos profetas? São todos mestres? Ou,
o p e r a d o r e s de milagres? T ê m todos dons de curar? Falam todos em outras línguas?
Interpretam-nas todos?" (ICo 12.29-30). O texto grego (com a partícula mê antes de cada
pergunta) pressupõe claramente um "não" como resposta a todas as perguntas. Portanto,
n e m todos são mestres, por exemplo, e também n e m todos possuem dons de curar ou
falam em línguas.
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Mas mesmo que n e m todos tenham o d o m de ensinar, é verdade que todas as pessoas
"ensinam" em algum sentido d a palavra ensinar. M e s m o q u e m n u n c a sonharia em ensinar
u m a classe de escola dominical lê histórias bíblicas para seus próprios filhos e explica-lhes
o significado - n a verdade, Moisés ordenou aos israelitas que fizessem exatamente isso
c o m os filhos (Dt 6.7), e x p l i c a n d o - l h e s as p a l a v r a s d e D e u s e n q u a n t o e s t i v e s s e m
assentados em casa ou a n d a n d o pelo caminho. Dessa forma, devemos dizer por u m lado
que n e m todos têm o dom de ensino. Mas por outro lado devemos dizer que h á alguma
capacidade geral r e l a c i o n a d a ao d o m de ensino q u e todos os cristãos p o s s u e m . O u t r a
m a n e i r a de expressar isso seria dizer que não h á n e n h u m d o m espiritual que todos os
crentes possuam, m a s há u m a capacidade geral semelhante a todo d o m que todos os
cristãos têm.
Podemos ver isso em vários dons. N e m todos os cristãos têm o d o m de evangelização,
mas todos têm a capacidade de compartilhar o evangelho com seus vizinhos. N e m todos
os cristãos têm dons de curar (na verdade, como veremos abaixo, algumas pessoas dizem
que n i n g u é m hoje tem dons genuínos de cura); contudo todos os cristãos p o d e m orar e
o r a m a Deus para que cure amigos ou parentes. N e m todos os cristãos têm o d o m da fé,
mas todos os crentes têm alguma m e d i d a de fé, e e n t e n d e m o s que ela vá crescendo na
vida de u m cristão normal.
P o d e m o s até dizer que outros dons, tais c o m o profecia e falar e m línguas, n ã o só
variam quanto ao poder entre aqueles que os possuem, mas t a m b é m encontram contra-
parte em algumas capacidades que se v ê e m n a vida de todo cristão. Por e x e m p l o , se
e n t e n d e r m o s profecia (de acordo com a definição d a d a no capítulo 53)14 como "relato
de algo que Deus traz à m e n t e de m o d o espontâneo", então é v e r d a d e que n e m todos
e x p e r i m e n t a m isso c o m o u m d o m , pois n e m todos e x p e r i m e n t a m Deus lhes trazendo
coisas à m e n t e de f o r m a espontânea com tal clareza e força que se sintam à vontade para
falar delas n u m g r u p o de cristãos. Porém, p r o v a v e l m e n t e todo salvo tem de vez em
q u a n d o a consciência de que Deus está lhe trazendo à m e n t e a necessidade de orar por
um amigo distante ou de escrever ou de falar por telefone u m a palavra de ânimo a alguém
distante, p a r a mais tarde descobrir que aquilo era e x a t a m e n t e a coisa necessária no
m o m e n t o . Poucos n e g a r i a m que Deus de m a n e i r a s o b e r a n a e e s p o n t â n e a lhe trouxe
aquela necessidade à mente, e, e m b o r a isso não possa ser c h a m a d o d o m de profecia, é
u m a c a p a c i d a d e g e r a l p a r a r e c e b e r d i r e ç ã o especial ou o r i e n t a ç ã o d e D e u s , fato
semelhante ao que ocorre no d o m d a profecia, ainda que n u m nível m e n o s intenso.
P o d e m o s ainda considerar o d o m de falar em línguas a partir dessa perspectiva. Se
pensarmos no falar em línguas como oração em sílabas que não são entendidas por quem
fala (veja I C o 14.2, 14),15 então é verdade que n e m todos os cristãos têm o d o m de falar
em línguas (e deve ser dito mais u m a vez que alguns cristãos p o d e m a r g u m e n t a r que
ninguém tem esse d o m hoje, u m a vez que a era dos apóstolos j á acabou). Mas, por outro
lado, d e v e m o s r e c o n h e c e r que todos os cristãos têm p e r í o d o s d e o r a ç ã o e m que se
expressam não só em palavras e sílabas inteligíveis, como t a m b é m em forma de suspiros,
gemidos ou prantos que sabemos serem entendidos e ouvidos pelo Senhor, e manifestam
necessidades e interesses do nosso coração que não conseguimos traduzir plenamente em
palavras (cf. R m 8.26-27). De novo, não p o d e m o s chamar isso d o m de falar em línguas,
mas parece tratar-se de u m a capacidade geral em nossa vida cristã que em certa medida
está relacionada com o d o m de falar em línguas, no qual a oração se expressa em sílabas
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que não entendemos plenamente, mas que o Espírito Santo transforma em oração eficaz
ouvida por Deus.
O objetivo de toda essa discussão é simplesmente dizer que os dons espirituais não
são tão misteriosos e "coisa do outro mundo" como as pessoas às vezes os retratam. Muitos
deles são apenas intensificações ou exemplos altamente desenvolvidos de fenômenos que
a maioria dos cristãos experimenta em sua vida. Outro ponto importante a ser estabe-
lecido a partir dessa discussão é que mesmo que tenhamos recebido dons de Deus, ainda
temos a responsabilidade de usá-los eficazmente e de procurar crescer no seu uso de tal
maneira que a igreja possa receber mais benefício daqueles dons dos quais Deus permitiu
que sejamos mordomos.
Por fim, o fato de que os dons p o d e m variar quanto ao poder permite-nos reconhecer
que o d o m de u m a pessoa (como o de ensino ou de administração, por exemplo) pode
não ser desenvolvido o suficiente para funcionar em benefício da igreja como um todo
n u m a grande comunidade em que muitos já têm desenvolvido o dom n u m grau elevado.
Mas é possível que essa m e s m a pessoa, m u d a n d o para u m a igreja menor e mais jovem,
em que poucos têm o d o m de ensino ou de administração, descubra que seu dom está
sendo muito necessário e p o d e ser exercido para o benefício de toda a congregação.
(Nesse sentido, algo considerado a p e n a s u m a aptidão geral n u m contexto p o d e r i a
corretamente ser considerado um dom espiritual em outro ambiente.)
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para o seu povo de Israel, mas as questões dos dons do Espírito Santo no sentido de
ICoríntios 12-14 não estão em foco em Romanos 11.29. E em qualquer caso, esta oração
com certeza não seria verdadeira como u m a declaração totalmente irrestrita concernente
a dons espirituais, pois é óbvio que devido a uso incorreto, negligência ou tristeza causada
ao Espírito Santo, as pessoas p o d e m ter seus dons diminuídos ou removidos por escolha
soberana de Deus.
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Contrastando com essa perspectiva, as Escrituras afirmam que "todos" os dons são
produzidos em nós pelo m e s m o Espírito Santo, o m e s m o Senhor e o m e s m o Deus ( I C o
12.4-6). A cosmovisão das Escrituras pressupõe a continuidade e contínua interação entre
o mundo visível, que p o d e m o s ver e tocar, e o mundo invisível, que a Bíblia nos diz que existe
e é real. Deus opera em ambos, e prestamos a nós mesmos e à igreja u m grande desserviço
ao separar esses aspectos da criação em "sobrenatural" e "natural".
Por fim, devemos buscar os dons mais extraordinários ou miraculosos ou d e v e m o s
buscar os dons mais comuns? Mais u m a vez, as Escrituras não fazem esse tipo de distinção
quando nos dizem que espécie de dons devemos procurar. Paulo diz aos coríntios: "Assim,
t a m b é m vós, visto que desejais dons espirituais, procurai progredir, para a edificação da igreja"
(ICo 14.12). Isso significa que devemos aprender quais dons são mais necessários n a igreja
de que participamos e então orar para que Deus dê aqueles dons para nós mesmos ou para
outros. Se esses dons são considerados miraculosos ou não miraculosos não é de m o d o
n e n h u m o que realmente importa. 2 0
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ou pela constatação de bênção cada vez maior n u m a área de ministério. E Paulo mostra
que em alguns casos pode haver profecia indicando um dom específico, pois ele diz a
T i m ó t e o : "Não negligencie o dom que você tem, o qual lhe foi dado mediante profecia com
imposição de mãos do conselho de presbíteros" ( l T m 4.14, tradução do autor).
Por fim, a pessoa que pergunta quais são os seus dons deve simplesmente começar
a tentar ministrar em várias áreas e ver onde Deus abençoa. Ensinar numa classe de escola
dominical ou em estudos bíblicos nos lares é u m a excelente maneira de começar a usar
o d o m de ensino. Toda c o m u n i d a d e tem oportunidades para maior uso do d o m de
evangelização. As pessoas que pensam que talvez tenham dom de cura poderiam pedir
oportunidades de acompanhar os presbíteros quando estes forem orar pelos doentes. As
pessoas que pensam que talvez tenham dom de fé ou de oração intercessória poderiam
começar a perguntar a alguns amigos cristãos se não teriam necessidades específicas pelas
quais orar. E m tudo isso, as igrejas p o d e m dar incentivo e oportunidades para que as
pessoas experimentem vários dons e também fornecer ensino e treinamento prático sobre
os métodos adequados de uso. Aliado a isso, as igrejas devem continuamente orar para
que Deus permita que as pessoas encontrem seus dons e, depois, sejam capacitadas para
usá-las. E m tudo isso, o alvo é que o corpo de Cristo em cada local cresça até a matu-
ridade, n u m processo em que "todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de
toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a
edificação de si mesmo em amor" (Ef 4.16).
Acima da questão da descoberta dos dons que cada um tem está a questão da busca
de mais dons espirituais. Paulo ordena aos cristãos "procurai, com zelo, os melhores dons"(ICo
12.31) e diz mais tarde: "Segui o amor e procurai, com zelo, os dons espirituais, mas prin-
cipalmente que profetizeis (ICo 14.1). Nesse contexto, Paulo define o que ele quer dizer
com "melhores dons" ou "maiores dons", pois em 1 Coríntios 14.5 repete a palavra que
em 12.31 foi traduzida por "melhores" (gr. meizõn), q u a n d o diz: "... quem profetiza é
superior ao que fala em outras línguas, salvo se as interpretar, para que a igreja receba
edificação"(ICo 14.5). Aqui os "melhores" dons são aqueles que mais edificam a igreja. Isso
é coerente com a declaração de Paulo alguns versículos depois, onde ele diz: "... visto que
desejais dons espirituais, procurai progredir, para a edificação da igreja" (ICo 14.12). O s
melhores dons são aqueles que mais edificam a igreja e trazem mais benefício aos outros.
Mas como devemos procurar mais dons espirituais? Primeiro, devemos pedi-los a Deus.
Paulo diz de m o d o direto que "o que fala e m outra língua deve orar para que a possa
interpretai (ICo 14.13; cf. Tg 1.5, em que Tiago diz às pessoas que devem pedir sabedoria
a Deus). E m seguida, pessoas que buscam mais dons espirituais d e v e m ter motivações
corretas. Se os dons espirituais forem buscados só para que a pessoa seja mais proeminente
ou tenha mais influência ou poder, isso com certeza está errado aos olhos de Deus. Tal
era a motivação de Simão em Atos 8.19, quando disse: "Concedei-me também a mim este
poder, para que aquele sobre quem eu impuser as mãos receba o Espírito Santo" (veja a
repreensão de Pedro nos v. 21-22). De modo semelhante, Ananias e Safira buscaram glória
para si mesmos quando fingiram estar dando à igreja todo o produto d a venda de sua
terra, mas isso não era verdade e ambos perderam a vida (At 5.1-11). É algo terrível desejar
dons espirituais ou proeminência na igreja só para nossa glória, e não para a glória de
D e u s e benefício dos outros. Portanto, aqueles que buscam d o n s espirituais d e v e m
primeiro perguntar a si mesmos se os estão buscando por amor aos outros e pelo interesse
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em ser capazes de ministrar-lhes e m suas necessidades; pois se alguém tiver grandes dons
espirituais, mas "não tiver amor", n ã o será "nada" aos olhos d e Deus (cf. 1 C o 13.1-3). É
por isso que Paulo diz "segui o amor" e só depois acrescenta "e procurai, com zelo, os dons
espirituais" ( I C o 14.1). Ele repete o m e s m o t e m a q u a n d o diz: "... visto que desejais d o n s
espirituais, procurai progredir, para a edificação da igreja" (ICo 14.12). Toda pessoa que buscar
em Deus mais u m d o m espiritual deve sondar seu coração com freqüência, p e r g u n t a n d o
por que deseja esse d o m específico. É realmente por a m o r aos outros e pelo desejo d e
edificar a igreja e ver Deus glorificado?
Depois disso, é b o m procurar oportunidades para experimentar o dom, a exemplo d e u m a
pessoa que tenta descobrir o seu d o m , c o m o foi explicado acima. Estudos bíblicos e m
p e q u e n o s grupos ou reuniões d e oração nos lares muitas vezes p r o p o r c i o n a m u m b o m
ambiente em que as pessoas p o d e m experimentar dons d e ensino ou oração intercessória
ou exortação ou profecia ou cura, por exemplo.
Finalmente, aqueles que buscam mais dons espirituais d e v e m continuar a usar os dons
que já possuem e ficar satisfeitos se Deus resolver não lhes dar mais. O senhor aprovou o servo
cuja mina "rendeu dez", mas condenou aquele que escondeu sua mina n u m lenço e n a d a
fez c o m ela (Lc 19.16-17, 20-23) — c o m certeza nos m o s t r a n d o que temos a responsa-
bilidade de usare tentar aumentar qualquer talento ou aptidão que Deus tenha concedido
a nós, seus m o r d o m o s .
Para equilibrar essa ênfase n a busca dos d o n s espirituais e n o crescimento nessa
matéria, d e v e m o s lembrar t a m b é m que Paulo diz de m o d o claro que os d o n s espirituais
são distribuídos pelo Espírito Santo a cada pessoa individualmente, "como Uie apraz"{ICo
12.11) e que " D e u s dispôs os m e m b r o s , c o l o c a n d o c a d a u m deles n o c o r p o , como lhe
aprouve" ( I C o 12.18). Ele diz que D e u s colocou vários d o n s n a igreja e n e m todos são
apóstolos ou profetas ou mestres ( I C o 12.28-30). Dessa forma, l e m b r a aos coríntios que
em última análise a distribuição d e dons é assunto d a vontade soberana de Deus, é para
o b e m d a igreja e para o nosso b e m que n i n g u é m possui todos os dons, e precisamos
d e p e n d e r continuamente dos outros que têm dons diferentes dos nossos. Essas conside-
rações devem fazer que nos contentemos se Deus resolver não nos dar os outros dons que
procuramos.
872
(52) Os Dons do Espírito Santo: (1) Perguntas Gerais
conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade" (Mt 7.22-23). Não é quejesus
os tenha conhecido u m a vez e mais tarde não os conhecia mais; ele diz: "... nunca vos
conheci". Eles nunca foram cristãos, apesar de terem realizado muitas obras notáveis.
Portanto, não devemos avaliar maturidade espiritual com base nos dons espirituais. A maturidade
vem quando se anda perto de Jesus, e resulta em obediência às suas ordens na vida diária:
"... aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou"
( l j o 2.6).
Por que então o Espírito Santo nos dá dons espirituais? Eles são dados para a obra
do ministério e constituem simplesmente ferramentas a serem usadas para esse fim. Não
devem nunca ser u m a fonte de orgulho pessoal por parte daqueles que os possuem nem
devem ser encarados como sinal de maturidade. Devemos lutar simplesmente por nos
destacar em amar os outros, cuidar dos necessitados, edificar a igreja e viver u m a vida de
conformidade com o padrão da vida de Cristo. Se assim fizermos, e se Deus decidir dar-
nos os dons espirituais que nos equipem para essas tarefas, devemos agradecer-lhe e orar
para que ele nos guarde do orgulho por causa dos dons que não merecemos e nos foram
dados livre e graciosamente.
1. Será que ICoríntios 13.8-13 nos diz quando os dons miraculosos desapa-
recerão? Paulo diz:
873
(52) A Doutrina da Igreja
Agora, conheço em parte; então, conhecerei como também sou conhecido. Agora,
pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é
o amor (ICo 13.8-13).
874
(52) Os Dons do Espírito Santo: (1) Perguntas Gerais
Dessa forma, os estreitos laços entre as declarações se tornam claros pela repetição
de dois termos essenciais, "desaparecer" e "imperfeito".
Sem dúvida, Paulo pretendia incluir t a m b é m no sentido do versículo 9 as línguas
como u m a das atividades "imperfeitas", mas omitiu a repetição excessivamente pedante
por razões estilísticas. Contudo, as línguas devem ser entendidas como parte do sentido
do versículo 9, que constitui a explicação do versículo 8, como mostra a palavra "porque"
(gr. gar). Dessa maneira, o versículo 9 deve dar a razão pela qual as línguas vão cessar,
tal como o conhecimento e a profecia. De fato, a repetição de "se [...] se [...] se" no versí-
culo 8 sugere que Paulo poderia ter alistado mais dons aqui (sabedoria, cura, interpre-
tação?) se quisesse.
Portanto, ICoríntios 13.10 poderia ser assim parafraseado: " Q u a n d o vier o que é
perfeito, profecia e línguas e outros dons imperfeitos desaparecerão". O único problema que
resta é determinar o tempo a que se refere a palavra "quando". Vários fatores no contexto
mostram que Paulo tem em mente a época da volta do Senhor.
(1) Primeiro, o significado do versículo 12 parece exigir que o versículo 10 esteja
falando acerca da época da segunda vinda do Senhor. A palavra "então" (gr. tote) no
versículo 12 refere-se ao tempo em que virá "o que é perfeito" no versículo 10. Isso fica
evidente ao se examinar o versículo 12: "Porque, agora vemos obscuramente, como em
espelho; mas então, veremos face a face. Agora, conheço em parte; então, conhecerei
como também sou conhecido" (tradução do autor).
Q u a n d o veremos "face a face"? Q u a n d o conheceremos "como t a m b é m somos co-
nhecidos"? Esses eventos só p o d e m ocorrer quando o Senhor voltar.
A frase "ver face a face" é usada várias vezes no Antigo Testamento para se referir ao
fato de ver a Deus pessoalmente 2 4 — não de m o d o pleno ou exaustivo, pois n e n h u m a
criatura finita jamais pode fazer isso, mas assim mesmo de m o d o pessoal e verdadeiro.
Por isso, quando Paulo diz "então, veremos face a face", quer dizer claramente: "mas então
veremos a Deus face a face". Na verdade, essa será a grande bênção do céu e nossa maior
alegria por toda a eternidade (Ap 22.4: "contemplarão a sua face").
A segunda metade do versículo diz: "Agora, conheço em parte; então, conhecerei
como também sou conhecido". A segunda e a terceira palavra traduzida por "conhecer"
— a que é usada em "então, conhecerei como também sou conhecido" — é u m termo um tanto
mais forte para o ato de conhecer (gr. cpiginõskõ), mas com certeza não implica conhe-
cimento infinito ou onisciência. Paulo não espera conhecer todas as coisas e não diz
"então, conhecerei todas as coisas", algo que teria sido fácil dizer em grego." Antes, ele
quer dizer que, quando o Senhor voltar, espera se ver livre das interpretações incorretas
e da incapacidade de entender (em especial de entender Deus e sua obra), coisas que são
parte da vida no presente. Seu conhecimento vai ser parecido com o conhecimento que
Deus tem dele no presente, pois não conterá nenhuma falsa impressão e não será limitado
ao que p o d e ser percebido nesta era. Mas tal conhecimento só vai ocorrer quando o
Senhor voltar.
O r a , a que se refere a palavra "então" no versículo 12? Paulo diz: "Porque, agora
vemos obscuramente, como em espelho; mas então, veremos face a face. Agora, conheço
875
(52) A Doutrina da Igreja
em parte; mas então, conhecerei como t a m b é m sou conhecido" (tradução do autor). Sua
palavra "então" só p o d e se referir a algo nos versículos anteriores que ele j á explicou.
O l h a m o s primeiro para o versículo 11, mas p e r c e b e m o s que n a d a ali p o d e ser a época
futura a que Paulo se refere como "então": " Q u a n d o eu era menino, falava como menino,
sentia c o m o menino, pensava como menino; q u a n d o cheguei a ser h o m e m , desisti das
coisas próprias de menino". Tudo isso se refere ao passado, não ao futuro. Fala de eventos
passados n a vida de Paulo à título de ilustrações h u m a n a s naturais do que ele havia dito
n o versículo 10. Mas n a d a no versículo fala de u m a época futura e m que algo irá acon-
tecer.
Assim, olhamos mais para trás, para o versículo 10: " Q u a n d o , p o r é m , vier o que é
perfeito, então, o que é em parte será aniquilado". Aqui temos u m a declaração acerca do
futuro. Paulo diz que, em algum ponto do futuro, virá "o que é perfeito" e "o que é em
parte" irá desaparecer, irá se tornar inútil. Q u a n d o isso vai acontecer? Isso é o que se
explica por meio d o versículo 12. Então, no tempo em que vier o que é perfeito, veremos
"face a face" e conheceremos "como t a m b é m somos conhecidos".
Isso significa que o t e m p o em que virá "o que é perfeito" deve ser o t e m p o d a volta
de Cristo. 2 ' ׳Portanto, p o d e m o s parafrasear o versículo 10: "Mas quando Cristo voltar, o que
é imperfeito desaparecerá". 27 Ou, para usar nossa conclusão acima de que "o que é imper-
feito" inclui profecia e línguas, p o d e m o s parafrasear: "Mas quando Cristo voltar, profecia e
língua (e outros dons imperfeitos) desaparecerão". Dessa forma, temos e m ICoríntios 13.10 u m a
declaração definida acerca do t e m p o de desaparecimento dos dons imperfeitos como a
profecia: eles vão "se tornar inúteis" ou "desaparecer" quando Cristo voltar. E isso implica
que eles vão existir e ser úteis à igreja através da era da igreja, incluindo hoje, e exatamente
até o dia e m que Cristo voltar.
(2) O u t r a razão pela qual o t e m p o em que virá "o que é perfeito" deve ser o tempo
em que Cristo vai voltar evidencia-se a partir do propósito d a p a s s a g e m : Paulo está
tentando enfatizar a grandeza do amor e, ao fazê-lo, deseja estabelecer que "o amor jamais
acaba" ( I C o 13:8). Para provar isso, alega que o amor p e r m a n e c e r á além d a época em
que o S e n h o r voltar, ao contrário dos d o n s espirituais d o presente. Isso constitui u m
argumento convincente: o amor é tão fundamental aos planos de Deus p a r a o universo
que p e r m a n e c e r á além d a transição desta era para a era vindoura por ocasião da volta
de Cristo — continuará por toda a eternidade.
(3) U m a terceira razão pela qual esta passagem se refere ao tempo da volta do Senhor
p o d e ser encontrada n u m a declaração mais geral de Paulo acerca do propósito dos dons
espirituais na era do Novo Testamento. E m ICoríntios 1.7, Paulo associa a posse de dons
espirituais (gr. charismata) à atividade de esperar a volta do Senhor: "... de m o d o que não
lhes falta n e n h u m d o m espiritual, enquanto vocês aguardam que o nosso Senhor Jesus
Cristo seja revelado" (NVI).
Isso sugere que Paulo via os dons c o m o provisão temporária feita para equipar os
crentes para o ministério até que o Senhor volte. Assim, esse versículo fornece u m paralelo
b e m próximo ao p e n s a m e n t o de ICoríntios 13.8-13, em que a profecia e o conhecimento
(e sem dúvida as línguas) são vistos, de m o d o semelhante, como úteis até a volta de Cristo,
mas desnecessários depois disso.
Portanto, ICoríntios 13.10 refere-se ao t e m p o d a volta de Cristo e diz que esses dons
espirituais irão p e r m a n e c e r entre os crentes até essa hora. Isso significa que temos u m a
876
(52) Os Dons do Espírito Santo: (1) Perguntas Gerais
clara afirmação bíblica de que Paulo esperava que esses dons continuassem através de
toda a era da igreja e fossem exercidos para o benefício da igreja até que o Senhor volte.
Paulo não pretende especificar o tempo em que alguma modalidade particular irá
desaparecer. O que ele afirma é o fim do conhecimento presente e fragmentado
do crente [...] quando vier "o que é perfeito". O tempo do desaparecimento da
profecia e das línguas é uma questão não concluída nessa passagem e terá de ser
decidida com base em outras passagens e considerações.2U
877
(52) A Doutrina da Igreja
imperfeitos ainda serão válidos e úteis. Finalmente, é precário colocar muito peso e m
alguma coisa que p e n s a m o s que Paulo poderia ter dito, mas que n a realidade não disse.
Dizer que Paulo poderia ter incluído a "escrituração" nessa lista significa que ele poderia
ter escrito: " Q u a n d o Cristo voltar, a escrituração cessará". M a s n ã o consigo crer de
maneira n e n h u m a que Paulo poderia ter escrito tal declaração, pois ela teria sido falsa —
na verdade, u m a "falsa profecia" segundo as palavras das Escrituras. Pois a "escrituração"
cessou h á muito tempo, q u a n d o o livro de Apocalipse foi registrado pelo apóstolo J o ã o .
Portanto, a o b j e ç ã o d o Dr. Gaffin n ã o p a r e c e d e r r u b a r nossas conclusões sobre
ICoríntios 13.10. Se "o que é perfeito" se refere ao t e m p o d a volta de Cristo, então Paulo
diz que os dons tais c o m o a profecia e as línguas desaparecerão nesse tempo, implicando
dessa f o r m a que eles continuarão através d a era d a igreja.
878
(52) Os Dons do Espírito Santo: (1) Perguntas Gerais
R e y m o n d observa que ele não está dizendo que "o que é perfeito" designa exata-
m e n t e o cânon das Escrituras (p. 32). E em resposta ã objeção de que a frase "então, ve-
remos face a face" no versículo 12 refere-se à visão de Deus face a face, diz que ela pode
não querer dizer isso, mas simplesmente que veremos "de maneira plena" em oposição
ao "obscuramente" (p. 32).
E m resposta, pode ser dito que esse argumento, embora cuidadoso e coerente em si,
ainda d e p e n d e de u m a pressuposição que é o ponto realmente em debate em toda essa
discussão: a autoridade da profecia e dos dons relacionados do Novo Testamento. U m a
vez que Reymond dá por certo que a profecia (e línguas e o tipo de "conhecimento" men-
cionado aqui) é revelação com caráter de Escritura, todo o argumento torna-se aparen-
temente razoável. O argumento poderia ser refundido como segue:
(a) Profecia e línguas são revelações com caráter de Escritura.
(b) Portanto, essa passagem em seu todo trata da revelação com caráter de Escritura.
(c) Portanto, "o que é perfeito" refere-se à perfeição ou ao completar da revelação com
caráter de Escritura, ou ao completar das Escrituras.
N u m a r g u m e n t o c o m o esse, a pressuposição inicial determina a conclusão. En-
tretanto, antes que essa pressuposição possa ser feita, precisa ser demonstrada a partir de
análise indutiva dos textos do Novo Testamento sobre a profecia. 32 Todavia, pelo que eu
saiba, não foi feita n e n h u m a demonstração indutiva de que a profecia nas igrejas do Novo
Testamento tinha autoridade de Escritura.
Além disso, há alguns outros fatores no texto de 1 Coríntios 13.8-13 que dificilmente
p o d e m ser harmonizados com a posição de Reymond. Continua sem explicação o uso
regular, no Antigo Testamento, da visão de Deus "face a face" como expressão não apenas
da experiência de ver de m o d o claro, mas da experiência de ver pessoalmente a Deus (veja
acima). E o fato de que Paulo inclui a si mesmo nas expressões "então, veremos face a face"
e "então, conhecerei como também sou conhecido" torna difícil ver essas frases como
referências ao t e m p o em que as Escrituras estarão completas. Será que Paulo pensa
m e s m o que, quando os outros apóstolos finalmente terminarem suas contribuições para
o Novo Testamento, ele vai adquirir de repente u m a m u d a n ç a notável em seu conhe-
cimento de modo que conhecerá como é conhecido e passará da visão obscura como num
espelho para a visão face a face?
Além das posições de R e y m o n d e Chantry, tem havido outras tentativas de ver
" q u a n d o vier o que é perfeito" como algum t e m p o antes da volta de Cristo, mas não
vamos tratá-las em detalhes aqui. Todas essas visões sucumbem no versículo 12, em que
Paulo indica que os crentes verão a Deus "face a face" "quando vier o que é perfeito". Isso
não p o d e ter sido dito acerca do tempo sugerido em n e n h u m a dessas outras propostas.
A proposta acerca do fechamento do cânon das Escrituras do Novo Testamento (o
grupo de escritos que vieram a ser incluídos no Novo Testamento) também não consegue
se adequar ao propósito de Paulo no contexto. Se considerarmos 90 d.C. como a data
aproximada do registro de Apocalipse, o último livro do Novo Testamento a ser escrito,
então o fim da escrituração da Bíblia deu-se trinta e cinco anos depois de Paulo produzir
ICoríntios (cerca de 55 d.C.). Mas seria convincente argumentar como segue: "Podemos
estar certos de que o amor nunca acaba, pois sabemos que ele vai durar mais de trinta e
cinco anos"? Isso dificilmente seria u m argumento convincente. O contexto exige que
Paulo faça contraste entre a era presente e a era vindoura e diga que o amor vai perma-
879
(52) A Doutrina da Igreja
Significa que você e eu, que temos as Escrituras abertas diante de nós, conhecemos
a verdade de Deus muito mais que o apóstolo Paulo. [...] Significa que nós todos
somos superiores [...] até mesmo aos próprios apóstolos, incluindo o apóstolo
Paulo! Significa que estamos agora numa posição em que [...] "conhecemos como
também somos conhecidos" por Deus [...] Realmente, só existe uma palavra para
descrever tal ponto de vista: absurdo. 33
880
(52) Os Dons do Espírito Santo: (1) Perguntas Gerais
hoje, por exemplo, falassem palavras que soubéssemos serem verdadeiras palavras de
Deus, então elas seriam iguais às Escrituras em autoridade, e seríamos obrigados a registrá-
las e acrescentá-las à Bíblia sempre que as ouvíssemos. Mas se estamos convencidos de
que Deus parou de fazer com que as Escrituras fossem registradas quando o livro de
Apocalipse se completou, então temos de dizer que essa espécie de discurso, declarando
as verdadeiras palavras de Deus, não p o d e ocorrer hoje. E qualquer alegação de ter
"nova" Escritura, "novas" palavras de Deus, deve ser rejeitada como falsa.
Essa questão é muito importante, pois a alegação de que a profecia das igrejas do
Novo Testamento tem autoridade igual à das Escrituras é a base de muitos argumentos
a favor do desaparecimento dos dons. Contudo, deve ser observado que as próprias
pessoas contrárias ao desaparecimento não parecem ver a profecia desse modo. George
Mallone escreve: "Pelo que eu saiba, ninguém do cristianismo histórico que é contra o
desaparecimento alega que a revelação hoje seja igual às Escrituras". 37 Talvez fosse bom
para aqueles que argumentam contra a continuidade da profecia hoje ouvir com mais boa
vontade os autores carismáticos mais responsáveis, simplesmente com o propósito de
serem capazes de responder àquilo em que os carismáticos realmente crêem (mesmo que
isso n e m sempre seja expresso de forma teologicamente exata), em vez de responder
àquilo que os cessacionistas dizem que os carismáticos acreditam ou devem acreditar.
Além disso, com exceção da questão da prática ou crença corrente, argumentei de
m o d o b e m extenso em outro lugar que a profecia normal nas igrejas do Novo Testamento
não tinha a autoridade das Escrituras. 3 " Ela não era proferida em palavras que eram as
palavras do próprio Deus, mas em meras palavras humanas. E como ela tem essa auto-
ridade menor, não há n e n h u m a razão para pensar que não continuará na igreja até Cristo
voltar. Ela não ameaça as Escrituras nem compete com a Bíblia em autoridade; antes, está
sujeita às Escrituras b e m como ao julgamento maduro da congregação.
881
(52) A Doutrina da Igreja
Profecias que dizem a outras pessoas o que elas devem fazer — precisam ser enca-
radas com muita suspeita. 41
882
(52) Os Dons do Espírito Santo: (1) Perguntas Gerais
E Robert Reymond define iluminação como "capacitação do Espírito Santo dada aos
cristãos em geral para que possam entender, trazer de volta à mente e aplicar as Escrituras
que estudaram". 4 5
Mas se esses escritores admitem a atividade presente do Espírito Santo capacitando
os cristãos para "entender" ou "trazer à mente" ou "aplicar" ou "compreender" os ensinos
das Escrituras, então não parece haver em princípio u m a diferença tão grande entre o que
eles dizem e o que muitos no movimento carismático fazem (mesmo que provavelmente
p e r m a n e ç a m algumas diferenças sobre a maneira exata pela qual a orientação funciona
- isso não é tanto u m a diferença acerca da profecia, mas acerca da orientação em geral
e, em particular, sobre a maneira pela qual a direção das Escrituras se relaciona com a
orientação por meio de conselho, recomendação, consciência, circunstâncias, sermões,
etc.). O maior problema é este: o que Gaffin e Reymond chamam aqui "iluminação", o
Novo Testamento parece chamar "revelação", e o que eles chamariam relato falado de
tal iluminação, o Novo Testamento parece chamar "profecia".
Assim, eu m e pergunto se não poderia haver mais reflexão teológica conjunta nessa
área. O s carismáticos precisam perceber que os cessacionistas são céticos quanto ao
escopo e freqüência de tal "iluminação", se é correto chamá-la profecia do Novo Testa-
mento, se ela realmente tem valor para a igreja e se deve ser procurada. E os cessacionistas
precisam perceber que sua doutrina altamente desenvolvida e cuidadosamente formulada
da suficiência das Escrituras para orientação não é n o r m a l m e n t e compartilhada nem
m e s m o entendida por muitos evangélicos, incluindo os que fazem parte do movimento
carismático. Porém, talvez a idéia r e f o r m a d a de "iluminação" leve e m conta o que
acontece na profecia hoje e possa proporcionar um meio de entendê-la que não seja visto
como u m desafio à suficiência das Escrituras.
Q u e devemos concluir então acerca da relação entre o dom de profecia e a suficiência
das Escrituras? Devemos dizer que admiramos o desejo dos cessacionistas de proteger a
unidade das Escrituras e de não admitir que algo venha a competir com a autoridade delas
em nossa vida. Devemos ser gratos também pelo desejo deles de que os cristãos entendam
e sigam princípios sadios de orientação em sua vida diária e não caiam n u m a área de
subjetivismo excessivo sem o controle das Escrituras. Por outro lado, há com certeza um
perigo que a c o m p a n h a o ponto de vista cessacionista, se ele errar aqui. É o perigo muito
real de se opor a algo que Deus está fazendo na igreja hoje e não lhe dar glória por essa
obra. Deus tem ciúmes de suas obras e por meio delas busca glória para si mesmo, e
d e v e m o s orar continuamente não só para que ele nos guarde de aprovar o erro, mas
t a m b é m para que nos guarde de nos opor a algo genuinamente dele.
883
(52) A Doutrina da Igreja
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(52) Os Dons do Espírito Santo: (1) Perguntas Gerais
Deve ficar bem claro também que ao dizer "quando, porém, vier o que é perfeito, então,
o que é em parte será aniquilado" (ICo 13.10), Paulo não estava falando sobre a freqüência
relativa dos dons miraculosos na história da igreja. Isso estaria sujeito a grande variação,
dependendo da maturidade espiritual e vitalidade da igreja nos diversos períodos, o grau
em que esses dons eram buscados como bênção ou rejeitados como heresia, a freqüência
com que as reuniões da igreja normalmente proporcionavam espaço para o exercício desses
dons, o grau em que a natureza desses dons era corretamente entendida e, acima de tudo,
a obra soberana do Espírito Santo na distribuição de dons à igreja.
Paulo está falando, porém, sobre a abolição total e definitiva desses dons que será
efetuada por iniciativa divina por ocasião da volta de Cristo. E ele diz pensar que até o
tempo da volta de Cristo esses dons permanecerão disponíveis para uso pelo menos em
alguma medida, e o Espírito Santo continuará a distribuí-los às pessoas. Calvino observa
a abundância dos dons espirituais nos dias de Paulo e então comenta (sobre ICo 14.32):
Hoje vemos nossos próprios recursos insuficientes, nossa pobreza de fato; mas isso
sem dúvida é a punição que merecemos como recompensa para nossa ingratidão.
Pois as riquezas de Deus não estão esgotadas nem a sua liberalidade se tornou
menor; mas não somos dignos de sua generosidade nem capazes de receber tudo
o que ele dá generosamente. 52 ׳
6. Os dons miraculosos hoje são iguais aos dons miraculosos nas Escrituras?
Ainda outra objeção à continuação dos milagres hoje é que os supostos milagres de hoje
não são iguais aos milagres bíblicos, pois são muito menores e com freqüência são apenas
parcialmente eficazes. E m resposta a essa objeção devemos perguntar se de fato é impor-
tante que os milagres hoje sejam exatamente tão portentosos como os que ocorreram na
época do Novo Testamento. Para começar, temos b e m pouca informação sobre os tipos
de milagres realizados por cristãos normais nas diversas igrejas, tais como os cristãos da
i g r e j a e m C o r i n t o ou d a s i g r e j a s d a G a l á c i a . A l é m disso, e m b o r a os m i l a g r e s
extraordinários realizados por Jesus estejam registrados na Bíblia, quando Jesus curava
"toda sorte de doenças e enfermidades" (Mt 9.35), isso deve ter incluído muitos com
doenças menos sérias. D e v e m o s perguntar t a m b é m qual é o benefício esperado pela
objeção de que os milagres hoje não são tão poderosos como os da Bíblia. Se hoje apenas
trezentas pessoas se c o n v e r t e r e m n u m a r e u n i ã o evangelística em vez dos três mil
convertidos no dia de Pentecostes (At 2.41), devemos dizer que o pregador não tem de
fato o d o m de evangelização, u m a vez que o d o m não operou de m o d o tão poderoso
como ocorreu com os apóstolos? O u se apenas 30% das pessoas pelas quais oramos com
respeito a enfermidade física são plenamente curadas em vez dos 100% na vida de Jesus
ou dos apóstolos, devemos dizer que este não é o d o m de cura do Novo Testamento?'' 1
Devemos lembrar que os dons p o d e m variar em força e n e n h u m deles é perfeito nesta
era. Mas isso significa que devemos parar totalmente de usar esses dons, ou nos opormos
quando os vemos funcionando com algum grau de eficácia? Não devemos louvar a Deus
se 300 são convertidos em vez de três mil, ou se são curados 30% em vez de 100%
daqueles pelos quais oramos? A obra do Senhor não está sendo feita? Se a quantidade não
é tão grande como nos tempos do Novo Testamento, então podemos pedir ao Senhor
885
(52) A Doutrina da Igreja
mais graça ou misericórdia, mas não parece apropriado desistir de usar esses dons ou nos
opor àqueles que os usam.
886
(52) Os Dons do Espírito Santo: (1) Perguntas Gerais
NOTAS
887
(52) A Doutrina da Igreja
as pessoas são dadas à igreja por Jesus Cristo, é apropriado que ambos sejam designados em
várias partes dessas listas.
10. Veja a excelente discussão em John R. W. Stott, Batismo e Plenitude do Espírito Santo (São
Paulo: Vida Nova, 1986), p. 65-66.
11. Essa classificação é de Dennis e Rita Bennet, The Holy Spirit and You (Plainfield, NJ.:
Logos International, 1971), p. 83. Na realidade, a categorização dos Bennet é dons de revelação,
dons de poder e dons inspirativos ou de comunhão, e eles os alistam em ordem inversa à que
apresentei aqui.
12. Essa variedade na maneira de classificar os dons permite-nos dizer que são possíveis
muitos tipos de classificação para propósitos didáticos, mas devemos nos acautelar contra
qualquer alegação de que determinado modo de classificar os dons é a única maneira válida,
pois as Escrituras não nos limitam a nenhum esquema de classificação.
13. Veja também ICo 13.1-3 em que Paulo dá exemplos de alguns dons desenvolvidos no
mais alto grau que se pode imaginar, exemplos que ele usa para mostrar que mesmo esses dons
não trariam nenhum benefício se não houvesse o amor.
14. Veja no capítulo 53, divisão A, uma análise do dom da profecia na igreja.
15. Veja também a discussão sobre o dom de falar em línguas no capítulo 53, divisão E.
16. E evidente que não podemos levar a metáfora do corpo longe demais, pois as pessoas
recebem outros dons, e Paulo mesmo encoraja os leitores a buscar mais dons espirituais (ICo 14.1).
Mas a metáfora dá a entender algum nível de estabilidade ou permanência na posse de dons.
17. Embora o ensino principal dessa parábola se relacione com as recompensas no
julgamento final, ela não obstante incentiva a fidelidade na mordomia daquilo que foi dado à
pessoa, e não é absurdo concluir que Deus aja conosco dessa maneira, pelo menos em princípio,
também nesta vida.
18. Veja a discussão de várias definições da palavra milagre no capítulo 17, p. 286-288.
IS). Veja capítulo 17, p. 286.
20. Veja no capítulo 17, p. 298-300, uma discussão da objeção de que é errado buscar dons
miraculosos ou milagres hoje.
21. Muitos que dizem sim, como este autor, acrescentariam a ressalva de que "apóstolo" é
um ofício, não um dom, e que o ofício de apóstolo não existe mais hoje (veja a argumentação
no capítulo 47, divisão A.l).
22. O termo cessacionista refere-se a alguém que pensa que certos dons miraculosos
especiais cessaram há muito tempo, quando os apóstolos morreram e as Escrituras se comple-
taram.
23. A discussão no restante desta seção sobre o debate cessacionista foi adaptada de Wayne
Grudem, The Gift of Prophecy in the New Testament and Today (Eastbourne: Kingsway, and
Westchester, 111. Crossway, 1988), p. 227-52, e usada com permissão.
24. Veja, por exemplo, Gn 32.30 e j z 6.22 (exatamente a mesma fraseologia de ICo 13.12
no grego); Dt 5.4; 34.10; Ez 20.35 (fraseologia muito parecida); Êx 33.11 (o mesmo conceito e
a mesma fraseologia de algumas das passagens anteriores no hebraico, mas desta vez com
fraseado diferente na tradução grega da Septuaginta).
25. O grego epignõsomai tu panta significaria "conhecerei todas as coisas".
26. Expresso-me dessa forma porque, para sermos mais exatos, "o que é perfeito" em
1 Coríntios 13.10 não é o próprio Cristo, mas um método de adquirir conhecimento tão superior
ao conhecimento e à profecia do presente, que os torna obsoletos. Pois quando vier esse
"perfeito", ele tornará inútil o que é imperfeito. Mas só o tipo de conhecimento que Paulo espera
para a consumação final de todas as coisas poderia ser tão diferente qualitativamente do
conhecimento presente a ponto de propiciar essa espécie de contraste e ser chamado "o que é
perfeito" em oposição a "o que é imperfeito".
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(52) Os Dons do Espírito Santo: (1) Perguntas Gerais
27. D. A. Carson, Showing the Spirit: A Theological Exposition of 1 Corinthians 12-14 (Grand Rapids:
Baker, 1987), p. 70-72, dá várias razões similares pelas quais o tempo em que virá "o que é perfeito"
deve ser o tempo da volta de Cristo (com referências a outros pontos de vista e à literatura
relevante).
Entre os cessacionistas (aqueles que sustentam que os dons como profecia "desapareceram"
e não são válidos hoje), alguns, mas nem todos, concordam que o tempo em que virá "o que é
perfeito" deve ser o tempo da volta de Cristo: veja John F. MacArthur, Jr., The Charismatics: A
Doctrinal Perspective (Grand Rapids: Zondervan, 1978), p. 165-6G, e Richard B. Gaffin, Perspectives
on Pentecost (Phillipsburg, NJ.: Presbyterian and Reformed, 1979), p. 109.
28. Richard B. Gaffin, Perspectives on Pentecost, p. 109-10.
29. Ibid., p. 111.
30. Robert L. Reymond, What About Continuing Revelations and Miracles in the Presbyterian Church
Today?(Phillipsburg, NJ.: Presbyterian and Reformed, 1977), p. 32-34. Kenneth L. Gentry,Jr., Vie
Charismatic Gift of Prophecy: A Reformed Analysis (Memphis, Tenn.: Whitefield Seminary Press, 1986),
p. 31-33, alista tanto esse ponto de vista como o do Dr. Gaffin (veja a primeira objeção) como opções
aceitáveis.
31. Walter Chantry, Signs of the Apostles, p. 50-52 (publicado no Brasil pela PES sob o título
Sinais dos Apóstolos).
32. Veja no capítulo 53, divisão A, uma discussão mais completa sobre o dom da profecia; veja
também Wayne Grudem, The Gift ofProphecy in the New Testament and Today.
33. Alguns argumentam que a fé e a esperança não permanecerão no céu e, dessa forma, ICo
13.13 só quer dizer que a fé e a esperança durarão até a volta de Cristo, não além dela. Entretanto,
se a fé é dependência de Deus e confiança nele, e se a esperança é a expectativa confiante nas
bênçãos futuras a serem recebidas de Deus, então não há razão para se pensar que deixaremos
de ter fé e esperança no céu. (Veja a boa discussão de Carson sobre a fé, a esperança e o amor como
"virtudes eternamente permanentes" em Showing the Spirit, p. 74-75.)
34. Gaffin, Perspectives, p. 109; cf. Max Turner, "Spiritual Gifts Then and Now", Vox Evangélica
15 (1985), p. 38.
35. D. Martyn Lloyd-Jones, Prove All Things, ed. Christopher Catherwood (Eastbourne,
England: Kingsway, 1985), p. 32-33.
36. João Calvino, The First Epistle ofPaul the Apostle to the Corinthians, trad. J. W. Fraser, ed. D.
W. Torrance e T. F. Torrance (Grand Rapids: Eerdmans, 1960), p. 281 (sobre ICo 13.10). No Brasil
o comentário foi publicado pela Editora Paracletos sob o título 7 Coríntios.
37. George Mallone, ed., Those Controversial Gifts (Downers Grove, 111.: InterVarsity Press,
1983), p. 21.
38. Veja discussão adicional sobre a autoridade do dom de profecia no capítulo 53, divisão
A. Veja também Wayne Grudem, The Gift ofProphecy in 7 Corinthians; Wayne Grudem, The Gift
of Prophecy in the New Testament and Today, D. A. Carson, Showing the Spirit: A Theological Exposition
of 7 Corinthians 12-14, p. 91-100; Graham Houston, Prophecy: A Gift For Today? (Downers Grove,
111.: InterVarsity Press, 1989). (Pontos de vista alternativos foram anotados na discussão no
capítulo 53; veja em especial o livro de Richard Gaffin, Perspectives on Pentecost.)
39. John F. MacArthur, Jr., The Charismatics: A Doctrinal Perspective, capítulos 2-6; veja
especialmente as p. 27ss. MacArthur expandiu suas críticas numa edição atualizada, Charismatic
Chaos (Grand Rapids: Zondervan, 1992), p. 47-84. Uma crítica séria e extensa a MacArthur
encontra-se em Rich Nathan, A Response to Charismatic Chaos (Anaheim, Calif.: Association of
Vineyard Churches, 1993).
40. Alguns podem objetar que a profecia tem potencial maior para abusos do que outros
dons, pois a idéia de que Deus pode revelar coisas a pessoas hoje (em profecias) leva inevi-
tavelmente à competição com a autoridade das Escrituras. Em resposta, três pontos podem ser
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(52) A Doutrina da Igreja
destacados: (1) o ensino sobre a natureza falível de todas as profecias contemporâneas não tem
sido tão difundido quanto é necessário para evitar abusos, especialmente no nível popular, entre
grupos que admitem profecias hoje. Dessa forma, tem havido mais uso incorreto da profecia do
que se deve. Mesmo quando tem-se pregado muito cuidado, raramente tem havido explicação
de como a profecia pode ser de Deus e ainda assim não ser igual às palavras de Deus em
autoridade - ou seja, bem poucos escritores pentecostais ou carismáticos têm explicado a
profecia como um relato humano de algo que Deus trouxe à mente de modo espontâneo (o ponto
de vista que defendo no capítulo 53, divisão A). (Entretanto, veja as advertências úteis de vários
escritores carismáticos nos parágrafos seguintes.) (2) Simplesmente não é verdade que ensinar
a uma congregação que a profecia deve sempre estar sujeita às Escrituras leva as pessoas de modo
inevitável a exaltar as profecias acima das Escrituras. Isso ocorre quando esse ensino é
negligenciado, não quando propagado. (3) Se a Bíblia de fato ensina que se pode esperar que a
profecia continue hoje numa forma que não desafie a autoridade das Escrituras, então não temos
a liberdade de rejeitá-la por reconhecer um potencial para abusos. (Outros dons têm potencial
para abusos em outras áreas.) Antes, devemos estimular o dom e fazer o máximo para nos
guardar de abusos.
41. Michael Harper, Prophecy: A Giftfor the Body of Christ (Plainfield, NJ.: Logos, 1964), p. 26.
42. Dennis e Rita Bennet, The Holy Spirit and You, p. 107.
43. Donald Gee, Spiritual Gifts in the Work of Ministry Today (Springfield, Mo.: Gospel
Publishing House, 1963), p. 51-52.
44. Gaffin, Perspectives, p. 120.
45. Reymond, What About...?p. 28-29.
46. Veja no capítulo 17, divisão D, uma discussão da questão de estarem ou não os dons
miraculosos limitados aos apóstolos e companheiros próximos.
47. Veja no capítulo 17, divisão C, uma discussão dos propósitos dos milagres.
48. Veja no capítulo 53, p. 896, uma discussão de ICo 14.36.
49. London: Banner of Truth, 1972 (reimpressão da edição de 1918). Deve ser observado que
o argumento de Warfield, embora citado com freqüência, é na realidade uma pesquisa histórica,
não uma análise de textos bíblicos. Além disso, o propósito de Warfield não era refutar qualquer
uso de dons espirituais entre os cristãos semelhantes àqueles de boa parte do movimento
carismático hoje, cuja doutrina (em todas as matérias com exceção de dons espirituais) e cuja
filiação à igreja os colocam no protestantismo evangélico histórico. Antes, Warfield estava
refutando a alegação espúria de milagres que vieram de diferentes ramos do catolicismo romano
em vários períodos na história da igreja e de várias seitas heréticas (Warfield inclui uma discussão
sobre os seguidores de Edward Irving [1792-1834], que se perdeu em ensinos excêntricos e foi
excomungado da Igreja da Escócia em 1833). E uma questão a ser discutida se os cessacionistas
de hoje estão certos ao invocar o apoio de Warfield, uma vez que se opõem a algo muito diferente
em doutrina e vida daquilo a que Warfield se opunha.
50. A posição de Warfield tem sido submetida à crítica por recentes estudos evangélicos:
veja Max Turner, "Spiritual Gifts Then and Now", Vox Evangélica 15 (1985), p. 41-43, com notas
a outra literatura; Donald Bridge, Signs and Wonders Today (Leicester: Inter-Varsity Press, 1985),
p. 166-77; e Ronald A. Kydd, Charismatic Gifts in the Early Church (Peabody, Mass.: Hendriksen,
1984). Evidências significativas de dons miraculosos na história da igreja primitiva encontram-
se em Eusebius A. Stephanou, "The Charismata in the Early Church Fathers", The Greek Orthodox
Theological Review 21:2 (Summer, 1976), p. 125-46.
Um estudo abrangente mas acessível da história dos dons miraculosos na igreja encontra-
se em Paul Thigpen, "Did the Power of the Spirit Ever Leave the Church?" Charisma 18:2 (Sept.
1992), p. 20-28. Mais recentemente, veja Jon Ruthven, On the Cessation of the Charismata: The
Protestant Polemic on Post-Biblical Miracles (Sheffield: Sheffield University Academic Press, 1993);
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