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O Expansionismo Europeu

1. O pioneirismo de Portugal na expansão

1.1 Situação da Europa no século XIV e XV

No início do século XV, a Europa recuperava de uma época de devastação devido à crise que
sofreu no século XIV.

No século XIV a crise que se abateu sobre a Europa deviam-se à:

 Fome (devido aos maus anos agrícolas)


 Peste negra
 Guerras

Esta profunda crise económica levou à escassez de:

 Ouro
 Cereais
 Mão-de-obra

No século XV assistiu-se a um período de recuperação devido:

 Ao aumento da população (crescimento demográfico)


 Ao desenvolvimento da produção agrícola (crescimento económico)
 À reanimação do comércio

Mas a recuperação económica de Portugal necessitava do alargamento dos mercados interno


e externo. Mas para tal era necessário obter metais como o ouro e a prata para produzir a
moeda para comprar sedas, especiarias e outros produtos de luxo do oriente. Estes produtos
chegavam à Europa através de mercadores muçulmanos através de rotas terrestres e que
eram distribuídos a partir de Génova e Veneza.

Mas Portugal tinha falta de ouro e prata e por isso teve a necessidade de encontrar novas
rotas comerciais que lhes permitissem ter o acesso directo aos produtos do oriente e de África,
como as sedas, as especiarias, os cereais e as porcelanas.

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1.2 Condições que possibilitaram o arranque da expansão portuguesa

No inicio de século XV, Portugal reuniu condições que lhe permitiram satisfazer as suas
necessidades através da expansão marítima:

Condições geográficas e Tradição Marítima

 Situado no sudoeste da Europa, junto ao oceano atlântico, Portugal está próximo do


Norte de África e do acesso ao mediterrâneo
 Possui uma extensa costa marítima
 Possui muitos portos naturais
 Graças à pesca e ao comércio marítimo, tinha muitos navegadores experientes que
conheciam os ventos e as correntes do oceano atlântico.

Condições científicas e técnicas

 Tínhamos herdado dos Judeus e dos Árabes, conhecimentos de astronomia e


instrumentos de navegação – bússola, astrolábio, balestilha e quadrante
 Os portugueses desenvolveram a navegação astronómica, que através de
instrumentos e observação dos astros permitia estabelecer a latitude do local onde se
encontravam as embarcações
 O bom conhecimento de construção naval permitiu-lhes a construção de naus
(embarcações de longo curso com grande capacidade de armazenamento) e de uma
nova embarcação, a caravela (embarcações com leme fixo à popa e com velas
triangulares que navegavam à bolina, isto é, em ziguezague, permitindo navegar
contra os ventos e as correntes).
 Desenvolvimento das cartas de marear que permitiam um navegar para mais longe da
costa.

Condições Politicas

 Portugal passava um período de relativa estabilidade política e paz após a crise de


1383-1395
 D. João tinha o apoio de todos os grupos sociais

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1.3 Motivações para o arranque do processo de expansão

As motivações para o arranque do processo de expansão europeu foram:

Motivações Politicas

 D. João I queria reforçar o seu poder junto da nobreza e do clero e de outros monarcas
europeus
 A conquista de novos territórios e a aquisição de novas fontes de riqueza aumentariam
o prestígio da sua dinastia

Motivações económicas

 Procura de novos mercados e novos produtos


 Procura de mão-de-obra
 Procura de metais preciosos

Motivações Sociais

 O Clero pretendia combater os muçulmanos e difundir a fé cristã


 A nobreza queria conquistar e colonizar novos territórios, queria retomar as suas
funções militares e queria obter mais terras, cargos e títulos
 A Burguesia queria aceder a novos mercados e a novas rotas comerciais
 O povo via na expansão a possibilidade de melhorar as suas condições de vida

Motivações religiosas

 Difusão da fé cristã e a evangelização dos povos das terras conquistadas


 Combate ao “infiel”, ligado ao espírito de Cruzada, através das conquistas no Norte de
África

1.4 A Conquista de Ceuta

Em 1415, os portugueses, sob o comando do infante D. Henrique (filho de D. João I)


conquistam Ceuta (Norte de África). Esta conquista é vista como uma solução para os
problemas dos portugueses.

Ceuta era uma cidade muito importante porque:

 Era o local por onde passavam as principais rotas comerciais (rota do ouro, rota das
cidades italianas e rota das especiarias)
 Era uma cidade bem localizada em termos estratégicos, localizada entre duas vias
marítimas e dois continentes,
 Era uma terra fértil em pão, vinho, frutas, carnes, peixe, etc.
 Militarmente permitia controlar a pirataria muçulmana no estreito de Gibraltar
 Dava-nos acesso aos cereais, às especiarias e produtos vindo do oriente
 Possibilitava o acesso às rotas do ouro, das especiarias e outros produtos vindo do
Oriente
 Permitia a expansão do cristianismo

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A conquista de Ceuta foi um êxito militar, mas foi um fracasso económico, pois quando os
portugueses lá chegaram depararam-se com:

 Campos de cultivo abandonados e destruídos devido aos ataques frequentes à cidade


 As rotas do ouro e de outros produtos de luxos tinham sido desviadas pelos
muçulmanos
 Para conseguirmos manter a cidade, os portugueses tiveram que fazer um grande
esforço económico e militar, o que se tornou muito dispendioso a defesa deste
território

Em conclusão:
A conquista de Ceuta não teve grande proveito económico devido aos elevados custos com a
defesa contra os ataques muçulmanos e devido ao desvio das rotas comerciais

2. Rumos e principais etapas da expansão Henriquina

Após o fracasso económico de Ceuta a Coroa portuguesa tinha duas opções, dois rumos que
poderia tomar:

 Prosseguir com as conquistas no Norte de África (opção defendida pela nobreza)


 Realizar viagens ao longo da costa ocidental africana (opção defendida pela burguesia)

Acabaram por optar pela segunda opção e Portugal partiu à descoberta e exploração de novos
territórios.

2.1 Etapas da expansão Portuguesa

1ª Etapa – Infante D. Henrique (1434-1460)

Redescoberta dos Arquipélagos da Madeira e dos Açores

O Rei D. João I atribui grande responsabilidade ao Infante D. Henrique para as viagens no


Atlântico.

As primeiras viagens de exploração levaram à redescoberta da Madeira e dos Açores, que


apesar de sabermos da sua existência nunca as tínhamos explorado.

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Arquipélago da Madeira:

1418 – João Gonçalves Zarco e Tristão


Vaz Teixeira reconhecem a ilha de Porto
Santo

1419 – João Gonçalves Zarco, Tristão


Vaz Teixeira e Bartolomeu Perestrelo
desembarcam na ilha da Madeira

Arquipélago dos Açores:

1427 – Diogo de Silves alcançou a ilha de Santa Maria

1452 – Diogo Teive chegou às ilhas das Flores e do Corvo

Depois de redescobertas, o infante D. Henrique organizou a sua colonização segundo um


sistema de capitanias. Assim, dividiu as ilhas em domínios e a cada domínio atribuiu um
capitão-donatário para que procedessem ao seu povoamento e promovessem o seu
desenvolvimento económico.

Capitão-Donatário Capitania Arquipélago


Tristão Vaz Teixeira Machico Madeira
João Gonçalves Zarco Funchal Madeira
Bartolomeu Perestrelo Porto Santo Madeira
Santa Maria
Gonçalo Velho Açores
S. Miguel
Jácome de Bruges Terceira Açores

Colonização e Exploração económica dos Arquipélagos Atlânticos

Madeira Açores
Sistema de Administração Capitanias-donatárias (3) Capitanias-donatárias (7)
Pequena nobreza portuguesa Pequena nobreza portuguesa
Colonos portugueses Colonos portugueses e
Povoamento
Escravos estrangeiros
Escravos
Agricultura Agricultura e Pecuária
Cerais Cereais
Exploração económica
Açúcar Gado
Vinho Plantas tintureiras

Exploração da costa ocidental africana

Em 1434 Gil Eanes conseguiu dobrar o cabo Bojador. Desta forma, abria-se o caminho para a
exploração marítima e geográfica da costa ocidental africana.

Depois desta primeira conquista:


 1436 - Afonso Baldaia chega ao rio do Ouro

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 1441 – Antão Gonçalves e Nuno Tristão chegam ao Cabo Branco
 1443 - Nuno Tristão chega a Arguim
 1444 – Dinis Dias a Cabo Verde
 1455-1456 – Luis de Cadamosto ao arquipélago de Cabo Verde
 Guiné
 1460 - Pedro Sintra chega à Serra Leoa

Em Arguim criou-se uma feitoria para estabelecer contactos e comércio com as populações
locais. A esta feitoria chegavam escravos, ouro, marfim e malagueta.
O Infante D. Henrique passou a deter o monopólio comercial a sul do cabo Bojador.

Em 1460 o infante D. Henrique morreu e a chegada à Serra Leoa marcou o fim da expansão
henriquina (1434-1460)

2ª Etapa – Arrendamento a Fernão Gomes (1469/1475)

Depois da morte do Infante D. Henrique sobe ao poder D. Afonso V. Este rei tinha um interesse
diferente e abranda o ritmo da exploração marítima e interessa-se mais pelas conquistas no
Norte de África, salvaguardando, os antigos interesses da nobreza.

Em 1458 conquista Alcácer Ceguer e em 1471 Conquista de Arzila e de Tânger.

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Durante o seu reinado, D. Afonso V resolver arrendar a exploração marítima e o direito ao
comércio da costa litoral africana a Fernão Gomes.

Fernão Gomes era um rico mercador de Lisboa. O contrato, de 5 anos, que fez com o rei D.
Afonso V permitia-lhe fazer comércio nas terras que descobrisse e em troca tinha de :
 Pagar uma importância em dinheiro
 Descobrir, para sul, em cada ano, cem léguas de costa

Fernão Gomes descobriu todo o território desde a Serra Leoa até ao Cabo de Santa Catarina.
Explorou todo o Golfo da Guiné, incluindo a costa da Mina, onde adquiriu bastante ouro. Em
Mina criou a feitoria de São Jorge da Mina onde chegavam ouro, malagueta, escravos e
marfim.
Descobriu:
 Ilha de Fernando Pó em 1472
 Ilha de São Tomé e Príncipe em 1472

3ª Etapa – Fase de exploração da costa africana – Política de D. João II

D. Afonso V faleceu em 1481 e o seu filho D. João II assumiu o poder.

D. João II retomou a exploração da costa africana recuperando o monopólio da exploração


marítima.

A rivalidade ibérica pela posse de colónias

Em 1474, D. João II assumiu o comando da exploração da costa africana e ordenou a


construção da feitoria-fortaleza de S. Jorge da Mina. Esta feitoria-fortaleza tinha como
objectivo de servir de defesa e também de comércio, de forma a consolidar a presença
portuguesa no Golfo da Guiné.

Esta ambição expansionista portuguesa criou rivalidade entre Portugal e Castela. Ambos
queriam controlar os territórios ricos em ouro e escravos como os da Guiné e Mina na costa
africana e as Canárias.

Como solução assinaram o Tratado de Alcáçovas-Toledo em 1479-1480, onde Portugal


reconhece a Castela o direito às Canárias e Castela reconhece o direito a Portugal de todos os
territórios a sul daquelas ilhas.

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O grande objectivo de D. João II era chegar à Índia por via marítima , contornado o continente
africano. Para que tal acontecesse era necessário continuar as descobertas no continente
africano. Assim:

 1483 – Diogo Cão chegou à foz do rio Zaire


 1486 - Diogo Cão atingiu o Cabo Padrão
 1487-1488 – Bartolomeu Dias dobrou o Cabo das Tormentas (mais tarde D. João II
alterou o nome para Cabo da Boa Esperança)

Depois de dobrado a Cabo das Tormentas em 1488 estava aberto o caminho marítimo para a
Índia.

Ao mesmo tempo em que decorriam as descobertas marítimas, D. João II ordenou que 2


exploradores e geógrafos – Pêro da Covilhã e Afonso de Paiva - fossem até à Índia por via
terrestre para recolherem informações sobre a Ìndia.

Tratado de Tordesilhas

Em 1477 Cristóvão Colombo pediu a D. João II que financiasse o seu projecto para chegar à
Índia. Como o rei português negou o pedido, Cristóvão Colombo apresentou o seu projecto aos
reis de Castela, D. Isabel e D. Fernando, que o aceitaram.

Em 1492 Cristóvão Colombo chegou às Antilhas (América), pensando que tinha chegado à
Índia. Como as Antilhas, segundo o tratado de Alcáçovas-Toledo pertenciam a Portugal, D.
João II reclamou o direito a essas terras.

Esse assunto levou a um grade conflito entre Portugal e Castela, que chegou a ter o Papa como
intermediário das negociações. Assim, em 1494 assinaram o Tratado de Tordesilhas:

 Este tratado dividiu o mundo em dois hemisférios a partir de um meridiano, que por
insistência de D. João II, passava a 370 léguas a ocidente de Cabo Verde.
 Portugal ficava com as terras descobertas e a descobrir a oriente dessa linha e Castela
com as que fossem descobertas a ocidente.
 Desta forma, o tratado formaliza o conceito de mare clausum, isto é, a navegação e a
exploração de determinadas áreas marítimas passam a ser exclusivo de um Estado.

No entanto, D. João II morreu em 1495 sem conseguir realizar o seu sonho.

Sucedeu-lhe D. Manuel I. E foi no seu reinado que os portugueses conseguiram alcançar a


Índia por via marítima através da viagem de Vasco da Gama em 1498.

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No entanto, quando lá chegamos a recepção não foi muito boa, pois o povo português
representava uma ameaça para a actividade comercial da região.

Sendo assim, D. Manuel I com o objectivo de reforçar a presença portuguesa na Índia resolveu
enviar para lá uma poderosa armada. Esta armada era comandada pelo capitão Pedro Alvares
Cabral. Mas esta armada comandada pelo capitão Pedro Álvares Cabral, por razões que ainda
hoje não são claras, desviou-se da rota indicada por Vasco da Gama e a 22 de Abril de 1500
chegou ao Brasil.

Todas estas novas descobertas permitiram “dar a conhecer novos mundos ao mundo” e
Portugal criou um imenso império colonial.

Como se estabeleceu o monopólio português no Indico?

D. Manuel I nomeou vice-reis no Oriente.

Eram:

 Indivíduos de origem nobre


 Assumiam o governo do território em nome do rei
 Garantiam a administração e a defesa dos territórios
 Garantiam a administração do comércio na Índia

De entre todos os vice-reis, destacaram-se dois:

D. Francisco de Almeida

 Nomeado em 1505
 Construiu feitorias-fortalezas na costa indiana
 Com o apoio de armadas fortes conseguiu impedir o comércio das populações locais
com outros povos
 Garantiu o comércio colonial das especiarias
 Dividiu o território em 15 capitanias-donatárias

D. Afonso de Albuquerque

 Implementou uma politica baseada não só no controlo do mar, mas também na


conquista de cidades como Goa (devido ao fácil acesso às especiarias), a Ormuz (porto

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de passagem das embarcações muçulmanas na rota do levante) e Malaca (controlo da
circulação das mercadorias vindas do Extremo Oriente)

Desta forma formou-se o Império Português no Oriente:

 que tinha uma base comercial e marítima


 cujos produtos eram: especiarias, sedas, porcelanas, entre outros
 estes produtos chegavam a Lisboa através da rota do cabo, passavam pela Casa da
Índia e eram vendidos nos mercados europeus

No reinado de D. João II, os portugueses chegaram também à China e ao Japão, cujas


populações locais tinham conhecimentos superiores aos dos Europeus.

4ª Etapa – Descoberta do Brasil

Em 1500 na sequência da viagem de Vasco da Gama, D. Manuel I enviou uma segunda armada
para a Índia. O principal objectivo era garantir o domínio o domínio português do comércio das
especiarias.

A amada comandada por Pedro Alvares Cabral era composta por 13 navios para assim impor a
presença dos portugueses no Oriente.

Desde Lisboa até Cabo Verde, Pedro Alvares Cabral seguiu a mesma rota que Vasco da Gama
tinha utilizado. Mas quando se afastou da costa africana, para apanhar as correntes e ventos
favoráveis do Atlântico, distanciou-se um pouco mais da costa e acabou por avistar terra.
Descobriu assim o Brasil em 1500.

Inicialmente deram o nome de Vera Cruz ao Brasil.

Pedro Álvares Cabral após a descoberta do Brasil, enviou uma embarcação de volta a Portugal
com uma carta de Pedro Vaz de caminha a visar o rei D. Manuel I sobre a descoberta do Brasil.
A restante armada volta ao objectivo inicial e dirigiu-se para a Índia.

A dúvida vai persistir para sempre: a descoberta do Brasil terá sido obra do acaso ou terá sido
intencional?

 A mudança de rota pode ter resultado de uma tempestade que obrigou a um maior
desvio da costa?
 Ou pode ter sido um desvio intencional de modo a reclamar a posse de um território
que já tinha sido descoberto em viagens anteriores?

A segunda hipótese pode ter uma justificação no fato de:

No tratado de Tordesilhas de 1494, D. João II defendeu o deslocamento da linha, que dividia


os territórios de Portugal e de Castela, para 370 léguas a oeste de Cabo Verde. Desta forma,

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Portugal ficava com o direito
ao território do Brasil que só
foi oficialmente descoberto
em 1500.

Colonização e exploração económica do Brasil

Quando os portugueses chegaram ao Brasil, o território era ocupado por indígenas, com um
modo de vida recoletor.

Até 1534, a coroa portuguesa deu prioridade ao comércio com o Oriente e como tal entregou
a exploração do Brasil a particulares. Neste altura, o pau-brasil era o principal produto
comercializado para a Europa.

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