Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
E OBRAS
HIDRÁULICAS
PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK
Diretor Geral | Valdir Carrenho Junior
“
A Faculdade Católica Paulista tem por missão exercer uma
ação integrada de suas atividades educacionais, visando à
geração, sistematização e disseminação do conhecimento,
para formar profissionais empreendedores que promovam
a transformação e o desenvolvimento social, econômico e
cultural da comunidade em que está inserida.
Av. Cristo Rei, 305 - Banzato, CEP 17515-200 Marília - São Paulo.
www.uca.edu.br
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma
sem autorização. Todos os gráficos, tabelas e elementos são creditados à autoria,
salvo quando indicada a referência, sendo de inteira responsabilidade da autoria a
emissão de conceitos.
HIDROLOGIA E
OBRAS HIDRÁULICAS
PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK
SUMÁRIO
AULA 01 CICLO HIDROLÓGICO 05
AULA 06 INFILTRAÇÃO 45
AULA 07 EVAPOTRANSPIRAÇÃO 52
INTRODUÇÃO
AULA 1
CICLO HIDROLÓGICO
AULA 2
BACIA HIDROGRÁFICA
2.1. DEFINIÇÃO
Bacia hidrográfica é uma superfície compreendida por um conjunto de terras, por onde
corre um rio principal e seus afluentes, incluindo cabeceiras, ou nascentes, divisores
d’ água, cursos d’água principais, afluentes, subafluentes, entre outros (Figura 2.1).
A água escoa dos pontos altos em direção aos mais baixos e o terreno da bacia é
gerado pelo desgaste que a água exerce sobre o relevo de determinada área, podendo
resultar em diversas formas: vales – depressões nas montanhas, planícies mais ou
menos largas, maior ou menor quantidade de nascentes (VIEIRA, 2006).
Para Tucci (2012), a definição de bacia se estende para uma área de captação
natural da água de precipitação que converge o escoamento para um único ponto de
saída. Entendendo que, a bacia hidrográfica é composta de um conjunto de superfícies
vertentes e de uma rede de drenagem formada por cursos de água que confluem até
resultar em um leito único no seu exutório. Da mesma forma, Silva (1995) refere-se
à bacia hidrográfica como uma compartimentação geográfica natural delimitada por
divisores de água, drenada superficialmente por um curso d’água principal e seus
afluentes.
Quando a bacia hidrográfica é adotada como unidade de gestão dos recursos
hídricos, é definido um espaço geográfico a fim de auxiliar o planejamento regional,
controlar o aproveitamento dos usos da água na região, proteger e conservar as
fontes de captação nas partes altas da bacia e discutir com diferentes pessoas e
setores as soluções para os conflitos (VIEIRA, 2006). É necessário destacar que a
bacia hidrográfica está relacionada ao espaço físico e não político, isso faz com que
fronteiras entre municípios, estados, ou até mesmo países, não interfira na delimitação
da área de uma bacia.
As diferentes utilizações dos recursos hídricos e sua necessidade vital para o homem
faz com que ocorra uma exploração prejudicial destes recursos que podem gerar graves
problemas ambientais ao longo do tempo, visto que a necessidade de utilização destes
recursos pode resultar em uma ação não planejada, favorecendo a degradação do
meio ambiente. Com base nesta premissa, os estudos relacionados à caracterização
fisiográfica em bacias hidrográficas, apresentam-se com um papel fundamental, a fim
de tornar a utilização destes recursos em uma ação consciente dos recursos naturais.
Para caracterização fisiográfica de uma bacia hidrográfica entende-se que são todos
aqueles dados que podem ser extraídos de mapas, fotografias aéreas e imagens de
satélite. Basicamente são áreas, comprimentos, declividades e coberturas do solo
medidas diretamente ou expressas por índices mais utilizados (TUCCI, 2012).
Os principais impactos produzidos por alterações no uso e na cobertura do solo
em bacias são: a diminuição da capacidade de infiltração, o aumento do escoamento
superficial e, consequentemente, dos processos erosivos, a diminuição da cota do leito
dos rios e, portanto, o aumento de cheias e inundações (GROVE et al., 1998).
bacia podem ser obtidas através de imagens de satélite, fotografias aéreas e mapas
de hidrografia. Para Moura (2008) a caracterização fisiográfica e o conhecimento dos
dados de vazões, permite o maior planejamento e controle sobre obras de engenharia,
que resulta na adequada utilização dos recursos hídricos.
A determinação das características fisiográficas se apresenta de forma quantitativa,
sendo que Alves e Castro (2003) concluem que os resultados obtidos desta determinação
possibilitam a qualificação das alterações ambientais presentes nas bacias.
Fator forma (Kf): o Fator Forma (Kf) é determinado através da razão entre a largura
média da bacia e o seu comprimento axial. Andrade et al. (2008) complementam que
esse fator é obtido com a medição do comprimento desde a desembocadura até a
cabeceira da bacia. O cálculo desse fator é determinado pela equação:
A
Kf= __2
L
Onde: Kf = Fator de Forma (adimensional); A = Área (km²); L = Comprimento do eixo
principal (km).
Índice de circularidade (Ic): Esse índice possui uma variação de acordo com o
formato da bacia. Tende para unidade em bacias circulares e diminui em bacias com
formatos alongados. Segundo Andrade et al. (2008), esse índice relaciona o perímetro
da bacia e a sua área. A determinação desse fator utiliza a seguinte equação:
(12,57∙A)
Ic= __________
P2
Ordem dos cursos d’água: este parâmetro diz respeito à classificação do grau de
ramificações e/ou bifurcações observados na bacia hidrográfica. A classificação de
ordenamento dos cursos mais utilizada é a proposta por Horton (1945) e modificada
por Strahler (1957).
O tempo de concentração pode ser definido como o tempo necessário para que
toda a bacia contribua para o escoamento superficial em uma seção considerada. De
forma simplificada, é o tempo que leva uma gota de água mais distante, até o trecho
considerado na bacia, ou seu exutório (FENDRICH, 2008). Sendo assim, devido à
urbanização, quanto maior a impermeabilização das áreas, menor será o tempo de
concentração da bacia (REZENDE; ARAUJO, 2015). Segundo Tomaz (2002) existem
somente três maneiras para a água ser transportada em uma bacia, que são: escoamento
superficial, escoamento em tubos e escoamento em canais incluso sarjetas.
As fórmulas para determinar o tempo de concentração têm como fatores de cálculo,
de modo geral, as características morfométricas da bacia hidrográfica como área,
comprimento do talvegue, rugosidade do córrego ou canal e a declividade. Para o
cálculo do tempo de concentração existem diferentes equações, que para a avaliação
do seu critério de uso devem ser considerados fatores como a amostragem de bacias
para a elaboração da equação, localidade do estudo, que influencia a taxa de infiltração
e permeabilidade do solo, e o ano do estudo, que é verificado para poder selecionar
as equações adaptadas que fornecem maior abrangência para os cálculos do que
suas equações originais.
As recomendações para a utilização de determinada equação variam conforme a
extensão da Bacia, região em que ela está localizada e deve ser escolhida a partir de
uma avaliação criteriosa, como afirmam Souza e Sobreira (2017), a determinação do
tc ocorre através de fórmulas empíricas, podendo ocorrer imprecisões e incertezas por
não considerar a variabilidade espacial e temporal da bacia.
Entre as diferentes fórmulas para a determinação, este estudo avaliará a utilização
dos métodos de Kirpich (1940), Ven Te Chow (adaptado por Wilken, 1978), Témez
(1978), Doodge (1956) e Giandotti (1953), que serão apresentadas a seguir.
A equação de Kirpich (1940) onde inicialmente foi desenvolvida, segundo Moreira,
(2005) para a correção de ajuste de parâmetros nos tempos de percurso (tp) baseando-
tc=21,88A0,41 S-0,17
AULA 3
BALANÇO HÍDRICO
sendo:
ΔS = variação de armazenamento hídrico (volume);
Δt = variação de tempo;
Qe = afluência hídrica (descarga); e
Qs = efluência hídrica (descarga).
sendo:
ΔS = variação do armazenamento na superfície do terreno;
P = precipitação;
INT = interceptação (geralmente considerada irrelevante);
E = evaporação;
I = infiltração; e
ES = escoamento superficial.
O balanço hídrico para grandes rios toma por base a área de drenagem que abriga
o curso d’água principal e seus afluentes, ou seja, a sua bacia hidrográfica. Em geral é
utilizado para avaliar a disponibilidade hídrica para determinado uso e é calculado na escala
anual, na qual se pode considerar a variação do armazenamento de umidade desprezível.
0=P-(INT+E+T+ES+EB)
ET=1326 (mm/ano)-450,9648(mm/ano)
ET=875 mm/ano
875
ET/P= _____ =0,66=66%
1326
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 20
HIDROLOGIA E
OBRAS HIDRÁULICAS
PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK
Resolução:
Antes da construção do reservatório:
Antes da construção do reservatório os componentes do balanço hídrico podem
ser postos em conformidade com o esquema da Figura 3.3:
A aplicação da equação do balanço hídrico conduz
a:
Q s = q.A ⇒ Q s = 16.10 −4 m 3 /s
VP .A − Q s .∆t Q .∆t
⇒E
T = =P− s =E
T = 795,4 mm/ano
Figura 3.3 Componentes do balanço hídrico após A A
a criação do reservatório
como A L = 1/3A,
′
Q s .∆t = P.A − ET.(2/3.A) − E.(1/3.A)
′
Qs − Qs
∴Ä
Q s (%) = .100 = −23,4 %
Qs
O balanço hídrico de curto prazo para corpos d’água é usado para prever as
consequências de afluências e retiradas hídricas do corpo d’água. Geralmente, considera
curtos períodos de tempo, para os quais a variação do armazenamento na superfície
do terreno (ΔS) deve ser levado em conta. São exemplos a passagem de uma onda de
cheia e a reconstituição de vazões afluentes naturais a sistemas de aproveitamentos
hídricos dotados de reservatórios.
O registro de sequências temporais de vazões em diversos pontos de um curso d’água
é muitas vezes necessário para a modelagem do processo de sucessão de vazões e
realização de previsões futuras. Entretanto, a partir do instante em que aproveitamentos
hídricos (reservatórios, retiradas hídricas, irrigação, etc.) são construídos ao longo dos
cursos d’água, a avaliação das afluências naturais, denominada reconstituição, só é
possível através do balanço hídrico. Observe a Figura 3.5, correspondente ao balanço
hídrico realizado na base diária para os reservatórios do Sudeste/Centro Oeste do Brasil
(bacias do Tietê, Paranapanema, Paraná e Paraíba do Sul), onde se pode constatar
que a reconstituição das afluências naturais depende do conhecimento dos dados
operacionais das usinas hidrelétricas em operação ao longo dos cursos d’água.
Figura 3.5 Afluências e defluências - valores verificados em 31/05/2004 nas usinas do Sudeste/Centro Oeste do Brasil
Fonte: adaptado da ONS (2004).
AULA 4
PRECIPITAÇÃO (PARTE 1)
4.1 INTRODUÇÃO
Figura 4.1 – Tipos de chuva segundo a origem do processo de formação das nuvens
Fonte: Blog Observatório Histórico Geográfico (2021)
Em que: PXm, PAm, PBm e PCm são as precipitações médias nos postos X, A, B e C,
respectivamente; PX é a precipitação no posto X a determinar; PA, PB e PC são as
precipitações nos postos A, B e C, respectivamente, no intervalo de tempo referente
àquele da precipitação no posto X a determinar.
Devido à grande variabilidade temporal e espacial da precipitação, o método da
ponderação regional não é recomendado para correções em séries de dados diários,
sendo normalmente empregado para correções em séries mensais ou anuais.
A frequência dos totais precipitados pode ser analisada segundo diferentes aspectos,
uma delas consiste em verificar a frequência com a qual os eventos ocorreram
historicamente, tendo como base os dados observados disponíveis.
Neste método bastante simples, chamado método empírico, os dados são dispostos
em ordem decrescente, e é atribuído a eles um número de ordem (m) – m = 1 para o
maior valor, m = 2 para o segundo maior valor, e assim sucessivamente até o menor
valor disponível, representado por n, que é o tamanho da série de dados. A frequência
percentual ou probabilidade de ocorrência pode ser determinada pelo método Califórnia
ou pelo método Kimball.
m
f= __ Método Califórnia
n
m
f= ____ Método Kimball
n+1
Em que PA, PB, PC, PD, são as precipitações nos postos A, B, C e D, respectivamente,
e Pm é a precipitação média na bacia.
Figura 4.5 - Postos com dados disponíveis para estimativa da precipitação média da bacia do exemplo
Fonte: o autor
suas áreas de influência. A partir da disposição espacial dos postos, são traçados os
polígonos de Thiessen, os quais definem a área de influência de cada posto.
Considerando quatro postos com informação disponível (postos A, B, C e D), a
precipitação média estimada por esse método é:
A ∙P +A ∙P +A ∙P +A ∙P
Pm= _________________________
A A B B C C D D
Figura 4.6 - Exemplo do traçado dos polígonos de Thiessen, para estimativa da precipitação média na bacia, com base nos dados dos postos A, B, C e D.
Fonte: o autor
Figura 4.7 - Definição dos polígonos de Thiessen e das áreas de influência dos postos A, B, C e D para estimativa da precipitação média na bacia do
exemplo
Fonte: o autor
AULA 5
PRECIPITAÇÃO (PARTE 2)
EXEMPLO 1
O quadro abaixo apresenta os totais anuais precipitados na cidade B, no período
de 1949-1963:
ANO P (mm)
1949 1185
1950 1205
1951 1630
1952 1386
1953 2165
1954 1234
1955 1267
1956 1432
1957 1683
1958 1408
1959 1167
1960 1197
1961 1730
1962 1462
1963 1470
A área total abaixo da curva Z, vale 1. Sendo 0,5 para cada lado da origem.
Analisando a tabela que apresenta a área da curva Z, verifica-se que a área entre a
origem (Z = 0) e (Z = -1,62) é 0,4474, conforme pode ser verificado a seguir.
b. Determinar a precipitação que ocorrerá, pelo menos, uma vez a cada 100 anos.
Em que:
i = intensidade da precipitação (mm/h)
t = duração da precipitação (min)
Tr = período de retorno (anos)
K, a, b e C – constantes de ajuste locais, obtidas pelo ajuste dos dados.
As curvas IDF são diferentes em diferentes locais. Dessa forma, a curva IDF da
estação E, vale para a região próxima a ela. Não dispomos de longas séries de dados
pluviométricos em todas as cidades brasileiras, dessa forma, muitas vezes, é necessário
considerar que a curva IDF de um local é válida para uma grande região do entorno.
No Brasil existem estudos de chuvas intensas com curvas IDF para a maioria das
capitais dos Estados e para algumas cidades do interior, apenas. Na Tabela 5.1 são
apresentados os coeficientes para algumas cidades do estado de São Paulo.
Tabela 5.1 – Coeficientes para a equação de chuvas intensas para diversos municípios do estado de São Paulo
Fonte: PLUVIO 2.1
EXEMPLO 2
Estimar a intensidade de precipitação para uma chuva com 5 minutos e período de
retorno de 10 anos, para os municípios de Araraquara, Botucatu e Garça.
Solução:
Araraquara:
Botucatu:
Garça:
Nota-se que, mesmo aplicando o mesmo tempo de retorno (Tr) e mesmo tempo de
duração da precipitação (t), as intensidades das precipitações calculadas são muito
diferentes entre as cidades avaliadas no exercício. Portanto, a escolha da IDF deve
ser feita com cautela quando se objetiva dimensionar uma estrutura hidráulica.
EXEMPLO 3
Determine o tempo de retorno (Tr) para que a chuva de projeto, cuja duração é 10
minutos, não ultrapasse 100 mm/h na cidade de Ubatuba/SP.
Ubatuba:
AULA 6
INFILTRAÇÃO
Em que Q é o fluxo de água (m³/s); A é a área (m²) que é o fluxo de água por unidade
de área (m/s); K é a condutividade hidráulica (m/s); h é a carga hidráulica (m) e x a
distância percorrida pelo escoamento (m).
A condutividade hidráulica K é fortemente dependente do tipo de material poroso.
Assim, o valor de K para solos arenosos é próximo de 20 cm/h. Para solos siltosos
este valor cai para 1,3 cm/h, e em solos argilosos este valor cai ainda mais para 0,06
cm/h. Portanto, os solos arenosos conduzem mais facilmente a água que os solos
argilosos, e a infiltração e a percolação da água no solo são mais intensas e rápidas
nos solos arenosos que nos solos argilosos.
instante, sob tais condições. A taxa de infiltração, por sua vez, representa a taxa efetiva
com que está ocorrendo, naquele instante, a infiltração no solo. Percebe-se, então, que:
Figura 5.2 - Perfis de umidade do solo: (a) transcorrido algum tempo do início da precipitação; (b) e algum tempo depois de cessar a precipitação.
Fonte: o autor
Em que:
f = taxa de infiltração num instante qualquer (ou no instante t) (mm/h).
fc = taxa de infiltração final (capacidade de infiltração na condição de saturação)
(mm/h).
fo = taxa de infiltração inicial (valor de f para t=0); taxa de infiltração quando o solo
está seco (mm/h).
t = tempo (horas ou minutos).
k = constante de decaimento da infiltração (deve ser determinado a partir de
medições no campo).
Tal equação representa o decaimento da taxa de infiltração ao longo do tempo, sendo
válida para uma precipitação sempre superior à capacidade de infiltração (TUCCI, 2012).
Tucci, Porto e Barros (1995) apresentam alguns valores de referência para
determinados tipos de solo (Tabelas 6.1). Sendo os solos do tipo A = arenosos profundos
com pouca argila; B = Arenoso menos profundo que A e com permeabilidade acima da
média; C = Solo com teor acima da média de argila e; D = Solo com argila expansiva
e pouco profundo.
Parâmetro Solo A Solo B Solo C Solo D
fo 250 200 130 80
fc 25 13 7 3
k 2 2 2 2
Tabela 6.1 - Valores dos parâmetros fo e fc (em mm/h) e k de acordo com o tipo de solo
Fonte: Tucci, Porto e Barros (1995)
EXEMPLO 1
Usando a equação de Horton, encontre a taxa de infiltração de água em um solo
do tipo argila expansiva e pouco profundo (D), no tempo de 30 minutos.
Solo tipo D:
fo = 80
fc = 3
k=2
t = 30 min = 0,5 h
AULA 7
EVAPOTRANSPIRAÇÃO
7.1 INTRODUÇÃO
No ciclo hidrológico, o retorno da água para a atmosfera ocorre por meio do processo
da evapotranspiração. Esse processo restou mal compreendido até o início do século
XVIII, quando Sir Edmond Halley comprovou que a água evaporada da superfície
terrestre era suficiente para abastecer os rios, na forma de precipitação.
A evapotranspiração é o conjunto de dois processos: evaporação (processo físico)
e transpiração (processo fisiológico).
Evaporação é o processo físico de transporte da água na fase líquida (lagos, rios,
reservatórios, poças, e gotas de orvalho) para a atmosfera na forma de vapor.
A umidade do solo (água presente nos espaços intergranulares) é também transferida
para a atmosfera por evaporação. No entanto, é mais comum neste caso o transporte
por meio de transpiração.
A transpiração, por sua vez, está ligada à fotossíntese. Um processo que começa
pela retirada da água do solo pelas raízes das plantas, transporte através do caule e
folhas até a passagem da água para a atmosfera através dos estômatos, na forma
de vapor.
7.1 EVAPORAÇÃO
A evaporação ocorre quando a água passa da fase líquida para a fase gasosa. As
moléculas de todas as substâncias que não estão na temperatura de 0 K (zero Kelvin
ou zero absoluto) estão em constante movimento, seja no estado líquido ou gasoso.
No caso das moléculas de água, algumas delas dispõe de energia suficiente para
romper a barreira da superfície, deixando a massa líquida e passando para a atmosfera,
enquanto outras moléculas de água, inicialmente na forma de vapor, retornam ao
líquido, fazendo o caminho inverso, devido à alguma perda de energia. A evaporação
ocorre quando a taxa de moléculas que deixam a massa líquida é maior do que a que
taxa que retorna.
As moléculas de água no estado líquido estão relativamente unidas por forças de
atração intermolecular. No vapor, as moléculas estão muito mais afastadas do que na
água líquida, e a força intermolecular é inferior. No processo de evaporação é exigida
grande quantidade de energia para realizar o trabalho de afastar as moléculas entre
si, as quais estão ligadas por forças intermoleculares. A quantidade de energia que
uma molécula de água no estado líquido precisa para romper a superfície e evaporar
é chamada calor latente de evaporação. O calor latente de evaporação pode ser dado
por unidade de massa de água, conforme equação abaixo:
b) Temperatura do ar
A temperatura do ar é diretamente proporcional à sua capacidade de retenção de
vapor d’água.
Quanto maior a temperatura, menor a pressão de saturação.
c) Umidade do ar
A umidade do ar representa a quantidade de vapor de água presente no ar, interferindo
na pressão exercida por essa quantidade de vapor. Quanto maior a umidade, tem-se
que a quantidade de vapor presente é mais próxima da quantidade máxima possível
(saturação) e, portanto, mais próxima é a pressão exercida por essa quantidade de
vapor em relação à pressão de saturação (ou seja, menor é o gradiente), é menor é
a evaporação;
d) Velocidade do vento
O ventor renova o ar úmido que está em contato com a superfície líquida. Como
o transporte de vapor na atmosfera ocorre por difusão, o gradiente (diferença entre
a quantidade de água no ar e na superfície) é mandatório nesse processo. Tanto a
convecção natural como a forçada podem promover o deslocamento das massas de ar.
Existem diversos métodos para estimar a evaporação que ocorre em uma determinada
bacia hidrográfica, sendo os principais:
7.2 EVAPOTRANSPIRAÇÃO
ET=P-Q
AULA 8
ESCOAMENTO SUPERFICIAL
Durante boa parte do século XX, os estudos hidrológicos sobre rios tiveram como
objetivo avaliar a viabilidade de construções de barragens e reservatórios para geração
de energia elétrica, ou canalização e retificação de rios para acelerar o escoamento
superficial.
Mais recentemente, o rio passou a ser estudado como um local onde ocorrem
múltiplos eventos físicos, químicos e biológicos, através de uma abordagem sistêmica
(SCHWARZBOLD, 2000).
Parte das substâncias que aporta no rio é transformada por ele: fisicamente, ocorre
a transformação dos materiais em solução por dissolução ou por abrasão (atrito
com o leito do rio e com outras partículas em suspensão); quimicamente, ocorre a
transformação dos nutrientes, a formação de soluções eletrolíticas, a oxidação de
moléculas etc.; biologicamente, no rio também ocorre oxirredução de compostos pela
atividade bacteriana.
É possível caracterizar um rio em três regiões distintas, a saber:
i. curso superior ou terras altas: corresponde à região da cabeceira da bacia, onde
nasce o rio e o terreno apresenta maiores declividades;
ii. curso médio: região de transição entre o curso superior e o curso inferior;
iii. curso inferior ou terras baixas: parte mais baixa da bacia com menor declividade.
O rio tende a apresentar maior largura nessa região, formando grandes planícies
de inundação (várzeas).
Figura 8.2 - Ilustração da topografia do terreno ao longo do rio, caracterizando as partes alta (1), média (2) e baixa (3).
Fonte: adaptado de EPA (1998)
Na Figura 8.3 é apresentada uma seção transversal do rio, formada pela calha
principal e pela planície de inundação. Durante a maior parte do tempo, o fluxo de água
fica contido na calha principal do rio. Na época de cheias, no entanto, o fluxo aumenta,
juntamente com o nível da água. Havendo extravasamento da água além da calha
principal, serão inundadas as planícies vizinhas ao rio. Nas planícies de inundação
as velocidades de escoamento são inferiores às velocidades na calha principal, em
função da resistência que a vegetação e as rochas impõem ao escoamento.
Figura 8.3 - Seção transversal de um rio, com indicação da calha principal e da planície de inundação, onde: (a) nível da água no rio quando o escoamento
está apenas na calha principal; (b) nível da água no rio na época de cheia, ocupando a planície de inundação.
Fonte: o autor
Figura 8.4 - Indicação das variáveis profundidade, largura, área e velocidade do escoamento em uma seção transversal de um rio
Fonte: adaptado de EPA (1998)
8.1 CURVA-CHAVE
A vazão de um rio está associada a uma seção transversal específica, visto que o rio
continua recebendo contribuição da bacia hidrográfica ao longo de todo o seu trajeto.
Dessa forma, o primeiro passo na medição de vazão constitui a escolha da seção
transversal. O objetivo do estudo vai determinar em que trecho do rio é necessária a
caracterização do regime fluvial, mas a escolha de qual seção propriamente dita vai
se dar conforme uma série de fatores, podendo-se enumerar os seguintes (SANTOS
et al., 2001):
• Seção localizada em um trecho preferencialmente retilíneo;
• Margens bem definidas e livres singularidades que possam perturbar o
escoamento;
• Natureza do leito preferencialmente rochoso, reduzindo probabilidades de
alterações;
• Obras hidráulicas existentes;
• Facilidade de acesso ao local;
• Presença de observador em potencial.
Tais fatores podem ser vistos como critérios para garantir que a geometria da
seção transversal escolhida permaneça praticamente constante ao longo do tempo,
o que permite comparações entre as medições em diversas épocas. Uma vez que o
escoamento na seção não é influenciado por características específicas daquele local,
ele pode ser considerado representativo do escoamento no trecho do rio.
A velocidade do escoamento varia ao longo da altura da coluna de água (profundidade)
e ao longo da largura do rio (Figura 8.6). Por esse motivo, determinados métodos
baseiam-se na medição da velocidade da água em vários pontos, ao longo da seção
transversal.
Figura 8.6 - Exemplo do comportamento da velocidade do escoamento dentro de três seções transversais
Fonte: adaptado de EPA (1998)
Esse método é geralmente adotado para rios de pouca profundidade e com leito
rochoso, onde o uso de molinete é dificultado, e consiste em injetar uma substância
concentrada e medir a concentração em um certo ponto a jusante. A partir das
concentrações injetadas e medida a jusante é determinada a vazão do rio. A escolha
da substância deve levar em conta os custos de aquisição, não ser corrosivo nem
tóxico, ser de fácil medição da concentração, ser bem solúvel e não estar presente
naturalmente na água do rio (SANTOS et al., 2001). Segundo tais autores, o bicromato
de sódio é bastante usado, além de isótopos radiativos (Na, Br, P) ou mesmo sal
comum (NaCl).
8.3 HIDROGRAMA
É muito difícil delimitar com precisão as linhas divisórias dos diversos componentes
de um hidrograma. Entretanto, há alguns métodos empíricos simples, que permitem
separar esses componentes com o propósito de análise do hidrograma.
a) Definição dos pontos de início e término do escoamento superficial direto
O início do escoamento superficial direto é facilmente identificável no hidrograma,
pois nota-se uma elevação repentina na vazão. O ponto de término, por outro lado, pode
ser mais complexo de identificar, pois a curva de depleção apresenta um decaimento
suave, tornando difícil definir com exatidão o ponto em que o escoamento deixa de
ser direto e passa a ser básico.
O trecho do hidrograma em que há apenas escoamento básico segue uma lei de
decaimento exponencial com o tempo. Portanto, o término do escoamento superficial
pode ser determinado pelo seguinte processo:
- Inicialmente determina-se a faixa onde provavelmente está o término do escoamento
superficial direto;
- Quando o decaimento exponencial é expresso na escala logarítmica, o gráfico
gerado é uma reta, portanto plotam-se os pares de valores, tempo vs vazão em escala
mono-log, definindo uma reta que representa o escoamento básico;
- O ponto onde a reta do escoamento básico separa-se do hidrograma define o
ponto C na Figura 8.6.
AULA 9
HIDROGRAMA UNITÁRIO
9.1 PRINCÍPIOS DO HU
O hidrograma unitário para regiões onde não há dados históricos é estimado pelo
hidrograma unitário sintético, o qual possui algumas variáveis características que
permitem a sua determinação como o tempo de pico, tempo de base e a vazão
de pico. É através da regionalização destas variáveis com base em características
físicas que se pode estimar o HU para regiões sem dados observados e este recebe
a denominação de hidrograma sintético.
Em que:
L = comprimento do rio principal (km).
Lcg = distância do centro de gravidade da bacia em km, medido ao longo do curso
principal, desde a seção considerada até a projeção do centro de gravidade sobre o rio.
Ct = coeficiente numérico, variável entre 1,8 e 2,2, sendo os menores valores para
bacias com grandes inclinações.
A partir da observação do gráfico declividade vs tempo de pico para a região dos
Montes Apalaches, Snyder estabeleceu que Ct está compreendido entre 1,8 e 2,2. No
Brasil, algumas pesquisas foram feitas para a Bacia do Ribeirão das Motas, para este
caso obteve-se Ct = 0,82.
Quando a duração da chuva é corrigida para t’r, corrige-se também o tp:
Em que:
A = área de drenagem em km2.
Cp = coeficiente numérico variável entre 0,56 e 0,69. Para a Califórnia, Linsley
constatou valores entre 0,35 e 0,50.
O tempo de base do hidrograma unitário é estimado por:
onde:
tb = é expresso em horas;
tp = em horas;
A = área da bacia em km2;
qp= m3/s;
W50 e W75 em horas.
As larguras (W75 e W50) são muito úteis, já que sem elas, o hidrograma plotado se
baseia em apenas três pontos o que causaria grande imprecisão.
EXEMPLO 1
Determine a vazão de pico, através do hidrograma unitário SCS para a chuva de
duração de 10 minutos em uma bacia de 3,0 km² de área de drenagem, comprimento
do talvegue de 3100 m, ao longo do qual existe uma diferença de altitude de 93 m.
AULA 10
PREVISÃO DE VAZÕES
Figura 10.1 - Vazões máximas em um posto fluviométrico genérico. Comparação entre o ajuste normal e log-normal
Fonte: o autor
De acordo com Almeida e Serra (2017), o Método Racional foi proposto por Mulvany
por volta de 1850, com o objetivo de prever a vazão máxima decorrente de um evento
de chuva. Esse método tem registros na literatura no fim do século XIX, devido a suas
aplicações nos projetos de redes de esgoto. Como descreve Batista (2010), o método
racional é o mais utilizado pelos profissionais de engenharia, é o que apresenta valores
mais desfavoráveis, ou seja, aqueles que devem ser utilizados no dimensionamento
dos órgãos de drenagem, e que garantem maior segurança em casos extremos.
O método racional estima a vazão máxima de escoamento superficial direto de
uma determinada área, submetida a uma precipitação cuja intensidade é calculada
para o tempo de duração igual ao tempo de concentração da bacia. A equação abaixo
resume o método racional.
EXEMPLO 1
Determine a vazão de projeto para a obra de uma pequena barragem, instalada no
exutório de uma bacia em Piracicaba/SP. Adotar Tr = 100 anos.
Dados da bacia:
Área = 3,5 km²
Comprimento do curso d’água principal = 600 m
Cota da nascente = 880 m
Cota do exutório = 850 m
Composição da bacia: 25% superfícies impermeáveis; 25% terreno estéril e ondulado;
50% solos cultivados em zonas altas.
O método Ven Te Chow, segundo Bianchi et al., (2012) permite analisar áreas que
não possuem dados fluviométricos, calculando vazões de enchentes decorrentes da
precipitação incidente, atribuindo um tempo de retorno, estabelecendo assim, relação
com o risco hidrológico para a determinada chuva crítica ou vazão de projetos na
previsão de enchentes e elaboração de obras hidráulicas. Neste método a chuva
efetiva, ou seja, a chuva excedente ou escoamento superficial é a maior responsável
pelas vazões de cheias em pequenas bacias urbanizadas.
O método proposto por Ven Te Chow empregou o Método do Soil Conservation
Service (SCS) para a avaliação da chuva efetiva (Pe). O coeficiente de escoamento
O tempo de retorno (Tr) é decidido pelo risco hidrológico aceitável para a comunidade;
para obras hidráulicas o Tr já é estipulado e seu valor varia de acordo com o tipo de
ocupação da área (FENDRICH, 2008).
O grupo do solo é um parâmetro determinante para estabelecer o coeficiente de
Deflúvio ou escoamento superficial (N). A Tabela 10.2 determina o valor do número
de Deflúvio (N).
O objetivo deste estudo é determinar a forma geral dos hidrográficos para pequenas
bacias hidrográficas1 por meio de uma expressão matemática contendo certos
parâmetros que podem ser correlacionados com características físicas identificáveis
e de fácil obtenção da bacia hidrográfica (WU, 1963). Pode-se então desenvolver um
hidrográfico de projeto para áreas não amontoadas a partir da precipitação de projeto
desejada e certas características da bacia hidrográfica que podem ser determinadas
a partir de um mapa topográfico da bacia.
Os fatores avaliados para o método de I-PAI WU são, como já revisados anteriormente:
Área de drenagem (A); Comprimento da corrente principal (L); Inclinação média do
talvegue (S); fator de forma da bacia hidrográfica (f). A fórmula neste método é expressa
da seguinte maneira:
1 Pequenas bacias hidrográficas são aquelas com menos de 100 milhas quadradas de área (WU, 1963)
Exemplo 2
Calcule a vazão no exutório da bacia, pelos métodos racional e I-PAI-WU, para a
bacia hidrográfica com as seguintes características:
• Área - A = 20000 ha (200 km²)
• Coeficiente de runoff - c = 0,30 (grau de impermeabilidade baixo)
• Comprimento do talvegue - L = 35 km
• Diferença de cotas entre nascente e exutório - Δh = 60 m
• Período de retorno - T = 50 anos
Equação idf:
1902,39.Tr 0,152
i = ______________
(t+21)
0,893
L3
tc = 57∙( ___ )0,385
H
35 3
tc = 57∙( ___ )0,385
60
i = 9,5 mm/h
Método Racional
(c∙i∙A)
Q= ______
360
0,30⋅9,5⋅200
Q= _____________
3,6
Q=158 m³/s
Método I- PAI-WU
Segundo Batista et al., (2002) a fórmula de McMath pode ser utilizada em bacias
maiores que 50 ha, porque seu fator de correção impede que a vazão aumente na
mesma proporção que a área da bacia. Entretanto a fórmula não abrange bacias de
grandes dimensões, como acima de 800 ha, por apresentar valores pequenos a partir
desta área. A equação é descrita como:
AULA 11
TRANSPORTE DE SEDIMENTOS
o ciclo hidrossedimentológico passou a ser estudado com mais rigor, haja vista sua
relação com o ciclo hidrológico. Ademais, o transporte de sedimentos está associado
a riscos de degradação dos solos, leitos dos rios e dos ecossistemas fluviais, bem
como riscos de contaminação dos sedimentos por produtos químicos, com sérios
impactos ambientais.
Pode-se enumerar algumas questões problemáticas correlatas ao transporte de
sedimentos:
a) Carreamento de solos. A depender do tipo de solo, do uso e da ocupação
(florestas, plantações ou áreas urbanas), pode haver carreamento de solos em
maior ou menor grau, arrastando consigo fertilizantes, pesticidas, e demais
produtos que eventualmente tenham sido lançados sobre o solo;
b) Recobrimento de áreas cultiváveis por sedimentos estéreis. Sedimentos carreados
pelo próprio rio de áreas a montante das lavouras podem prejudicar o crescimento
vegetal no curso médio e, sobretudo, nas planícies de inundação;
c) Assoreamento de reservatórios. A construção de reservatórios potencialmente
obstrui o transporte natural de sedimentos pelos rios. Em função da redução
da velocidade do escoamento, as partículas que estão sendo transportadas se
depositam no fundo, causando o assoreamento. O reservatório pode perder boa
parte de sua capacidade de armazenagem de água, dependendo da intensidade
com que esse processo ocorre. Os sedimentos retidos no fundo do reservatório
podem ser necessários em alguma seção de jusante.
d) O acúmulo de sedimentos depositados no fundo dos canais e dos reservatórios
prejudica o seu funcionamento. Torna-se então necessária constante manutenção
e/ou dragagem;
e) Quanto maior a concentração de sólidos (dissolvidos ou em suspensão) na
água de rios e lagos, maiores os prejuízos à qualidade da água, decorrendo em
aumentos nos custos de tratamento para a água de abastecimento público e
industrial;
f) Erosão de rodovias, ferrovias e oleodutos;
g) Com a passagem da onda de cheia, os sedimentos depositados em áreas
inundadas precisam ser removidos.
Uma partícula recém sedimentada apenas irá cessar seu movimento se ocorrer
deposição e posterior consolidação. Ela pode, portanto, tocar o fundo do rio, parar por
poucos instantes, e voltar a se mover.
O transporte de sedimentos pelo rio se trata de um processo complexo, dependente
do aporte de material sólido, originado pela erosão das superfícies vertentes e da
energia disponível para o escoamento.
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 91
HIDROLOGIA E
OBRAS HIDRÁULICAS
PROF. GUILHERME ARAUJO VUITIK
Figura 11.1 - Principais regiões do sistema natural de produção de sedimentos em uma bacia hidrográfica.
Fonte: o autor
AULA 12
CONTROLE DE ENCHENTES
O principal tipo de ocupação nas áreas sujeitas a inundações é feito de forma irregular
pela população mais carente. Essa população prefere então ocupar as áreas ribeirinhas,
mesmo às vezes sabendo do risco de inundações. Enquanto isso, a população com
melhores condições financeiras ocupa áreas da bacia geralmente com pequeno risco
de inundação. Como consequência, as enchentes trazem prejuízos mais acentuados
à população de maior vulnerabilidade social.
É importante ressaltar que a ocupação das áreas ribeirinhas também está associada
à frequência de ocorrência das cheias. Cada região tem um regime pluviométrico
específico que condiciona a ocorrência periódica de precipitações mais intensas e,
consequentemente, de inundações. A despeito da aleatoriedade do regime de chuvas e
de vazões no rio, estatisticamente, há uma tendência de que as enchentes ocorram com
uma certa frequência, caracterizando o tempo de retorno, ou seja, o tempo estimado
para que um determinado evento seja igualado ou superado pelo menos uma vez. No
caso de enchentes associadas a tempos de retorno relativamente altos, como 10 ou
20 anos, por exemplo, o que ocorre muitas vezes é que a população “ganha confiança”
de que a área é segura e ignora avisos e esforços das autoridades competentes
para removê-los. As pessoas têm a percepção errada das enchentes, supondo que,
por habitarem o local há vários anos e nunca terem presenciado alguma enchente,
duvidam que ocorram inundações ali.
São propiciados pela bacia no seu estado natural (relevo, forma da bacia, tipo de
precipitação, cobertura vegetal, capacidade de drenagem, tipo de solo, etc). Além
das características físicas da bacia, como as já enumeradas, há características
climatológicas que influenciam o processo, com destaque para a distribuição
temporal e espacial da precipitação (ou seja, onde ocorre a precipitação e como ela
se desenvolve ao longo da sua duração). Geralmente, as precipitações mais intensas
atingem justamente pequenas áreas localizadas.
As áreas mais planas nas margens dos rios estão mais sujeitas à ocorrência de
inundações, também sendo geralmente as preferidas para ocupação pela população.
Conforme as características da rede de drenagem (dimensões das seções transversais
dos arroios e rios, grau de ramificação, sinuosidade dos rios, etc.), pode ocorrer a
subida do nível da água de vários metros em um curto intervalo de tempo, até mesmo
em poucas horas.
A presença da cobertura vegetal natural aumenta a infiltração de parte da precipitação
e protege o solo contra erosão, já que o impacto das gotas de chuva é o principal fator
natural de desagregação das partículas do solo, tornando-as expostas ao escoamento
superficial (ver capítulo sobre Transporte de Sedimentos). O aporte de sedimentos em
excesso aos cursos d’água provoca assoreamento, diminuindo sua capacidade de
escoamento, na medida que os sedimentos depositados no fundo diminuem a seção
transversal disponível para o escoamento.
AULA 13
REGULARIZAÇÃO DE VAZÕES
Os reservatórios não são descritos apenas pelo seu volume útil, relacionado a
um nível. Outras parcelas do volume de água acumulada (e seus respectivos níveis)
são relevantes no dimensionamento desta obra hidráulica, a saber: volume morto;
volume máximo; nível mínimo operacional; o nível máximo operacional; o nível máximo
maximorum.
Outras obras hidráulicas carecem de ser previstas juntamente com o projeto da
barragem em si, a depender do porte da barragem: vertedores, eclusas, escadas de
peixes, tomadas de água para irrigação ou para abastecimento, etc.
13.1.1 Vertedores
toda a barragem é dimensionada para esse evento, portanto essa situação deve ser
evitada.
O nível da água nessa situação se chama máximo maximorum
O período de estiagem mais crítico será aquele que resultar no maior volume de
reservação. Por esse motivo, é necessário calcular a capacidade do reservatório para
diferentes períodos de estiagem e adotar o maior valor encontrado.
Seja, por exemplo, um ano com hidrograma dado conforme a Figura 13.2. Suponha-
se que se queira atender à lei de regularização total: y = 1. Isso significa que se deseja
obter uma vazão regularizada constante e igual à vazão média Q. Nota-se que, para
essa lei de regularização, o período crítico é definido pelos meses de maio a outubro,
inclusive. O volume necessário para manter a vazão Q durante os meses de maio a
outubro (período crítico) é:
Com os valores de Volnec e Volaf, a capacidade mínima do reservatório, Cr, pode ser
calculada. Esta capacidade crítica corresponderá, naturalmente, à área representada
em cinza na Figura 13.2.
AULA 14
BARRAGENS
Na Figura 14.1 é apresentada uma seção esquemática de uma barragem com alguns
dos diversos esforços atuantes, bem como os diagramas de pressão correspondentes.
As barragens em arco podem ser classificadas como barragem com centro constante
com centro variável.
As barragens com centro constante adaptam-se principalmente aos vales em
forma de “U”. A face montante, nesse caso, geralmente está na vertical. As barragens
com centro variável, também conhecidas como de raio variável ou ângulo constante,
possuem os raios decrescentes da crista ao pé, sendo adequada aos vales em “V”.
A construção das barragens em arco obedece essencialmente às mesmas indicações
das barragens de gravidade, sendo que cuidados especiais devem ser tomados no
tocante às fundações, tendo em vista as tensões elevadas que devem ser suportadas
pelo solo adjacente.
Em geral, as obras relativas às barragens são executadas nos leitos dos cursos
d’água, tornando necessário assim o seu desvio no período de construção, de modo
a permitir a execução dos trabalhos a seco, no interior das ensecadeiras. Este desvio
temporário dos cursos d’água pode ser obtido por meio da obstrução completa do
leito do rio, resultado do desvio total por meio de canais, galerias ou túneis. Em alguns
casos o desvio parcial do curso d’água pode ser suficiente para permitir a execução
das obras por etapas
A definição do tipo de desvio a ser adotado está intrinsecamente ligada ao arranjo
geral da barragem, influenciando a sua própria concepção. De modo geral, para um dado
local, o esquema de desvio depende, principalmente, das características topográficas
e geológicas da área, do regime hidrológico do curso d’água e, finalmente, do tipo e
das características das obras definitivas a serem construídas.
AULA 15
CANAIS
15.1 DIMENSIONAMENTO
Adotando:
m = razão de aspecto e Z = inclinação dos taludes, onde:
Deve ser levado em conta nos projetos dos canais a faixa de velocidades de
funcionamento do canal, tanto no que diz respeito às velocidades mínimas quanto
às velocidades máximas.
Com relação às velocidades máximas, mesmo considerando que o revestimento
do canal seja estável, deve-se atentar para que a velocidade de escoamento não seja
tão elevada de forma a acarretar abrasão na parede ou deslocamento do material
do revestimento. Para o concreto, por exemplo, recomenda-se um valor máximo de
velocidade da ordem de 4,50 m/s.
É necessário, também, observar a velocidade mínima de escoamento de modo a
garantir que não ocorra deposição de material transportado e evitar o crescimento de
vegetação nas margens. Velocidade da ordem de 0,60 m/s em geral é recomendada
em canais com possibilidade de carreamento de material.
Borda livre é a distância vertical entre o topo do canal e a superfície da água nas
condições de projeto. Esta distância é prevista como uma faixa de segurança adicional
na altura da obra face às incertezas no dimensionamento hidráulico. As bordas livres
justificam-se também em função da possibilidade de formação de ondas superficiais
devido a irregularidade das paredes, presença de obstáculos, sedimentação etc.
Os canais gramados são interessantes, tanto pelo seu baixo custo de implantação
como pelo aspecto estético. Da mesma forma que canais em solo, os principais
inconvenientes para seu emprego prendem-se às dificuldades de manutenção e as
baixas velocidades de escoamento admissíveis, implicando seções transversais de
porte mais significativo. As velocidades máximas permissíveis, variáveis de acordo
com as espécies vegetais utilizadas e com o solo adjacente.
de canais podem ser utilizados dois tipos distintos de gabiões: tipo manta ou colchão
e tipo caixa.
Conforme Escarameia (1998), os gabiões manta permitem velocidades máximas de
escoamento de 2 a 3,5 m/s para mantas com espessura de até 150 mm e de 4 a 5,5
m/s para espessuras de até 300 mm. Para gabiões caixa as velocidades admissíveis
vão de 5 a 6 m/s, podendo eventualmente admitir velocidades superiores, de acordo
com a qualidade da construção e montagem.
Os taludes admissíveis para canais revestidos com gabiões manta são compatíveis
com os taludes associados ao solo adjacente, tendo em vista que os gabiões não
exercem função estrutural. Os gabiões caixa admitem taludes com maiores inclinações,
incluindo a vertical (𝝰 = 90º ou Z = 0).
Conforme a concepção adotada, os canais em gabiões podem apresentar boa
inserção ambiental e social, adquirindo um aspecto de canal natural. Todavia, cuidados
devem ser tomados quanto à manutenção, tendo em vista a possibilidade de retenção
de resíduos sólidos e o crescimento desordenado de vegetação.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
GIANDOTTI, M. Considerazioni idrologiche sulle piene del Po: con speciale riguardo
alla piena del novembre 1951 [a cura della Commissione d’organizzazione del Congresso
presso il Consiglio superiore dei lavori pubblici in Roma]. Istituto poligrafico dello Stato,
1953.
GROVE, M.; HARBOR, J.; ENGEL, B. Composite vs. distributed curve numbers: effects
on estimates of storm runoff depth. J. of the Amer. Water Res. Assoc., Michigan, v.
34, n. 5, p. 1015-1023, 1998.
NASCIMENTO, E.F.; CAMPECHE, L.F.S.M.; BASSOI, L.H.; SILVA, J.A.; LIMA, A.C.M.;
PEREIRA, F.A.C. Construção e calibração de lisímetros de pesagem para determinação
da evapotranspiração e coeficiente de cultivo em videira de vinho cv. Syrah. Irriga, v.
16, n. 3, p. 271-287, 2011.
PINTO, N.L.S. et al. .Hidrologia básica. Editora Edgard Blücher, São Paulo – SP,
278p., 1976.
SCHWARZBOLD, A., 2000. O que é um rio? Revista Ciência e Ambiente, n. 21, 2000.
VIEIRA, A. DE R. Água Para a Vida Água Para Todos. Brasília: WWF-Brasil, 2006.
VILLELA, S.M.; MATTOS, A. Hidrologia aplicada. São Paulo: Mcgraw Hill, 1975. 250p.
YANG, C.T. Sediment transport – theory and practice. New York: McGraw-Hill, 1996.
396p.