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06/07/2022 Tatuagem e piercing: a quem eu adoro com o meu corpo?

FORMAÇÃO

AT EN Ç ÃO!

Tatuagem e piercing: a quem eu adoro com o meu corpo?

“Não fareis incisões na vossa carne por um morto, nem fareis figura alguma no vosso corpo. Eu sou o
Senhor” (Lv 19,28). No livro do Levítico, Deus proíbe o povo de Israel de fazer incisões na pele. Para
não cairmos em fundamentalismos, temos que ir ao contexto, buscar a essência e ver se o livro do
Levítico pode nos ajudar nesse assunto.

O que sabemos é que essas incisões eram práticas usadas em cultos idólatras dos povos pagãos que
circundavam Israel. Israel cultua o Deus dos patriarcas, e por isso a idolatria politeísta é
incompatível com o culto ao Deus Uno. Deus, então, para proteger Israel da religiosidade pagã,
idólatra, proíbe as incisões. Nós, cristãos, cultuamos esse mesmo Deus Uno de Israel. Ora, assim
como para o povo de Israel, para o cristão, o corpo não deve ser usado como um espaço de
expressões idólatras, ou seja, que de alguma maneira cultue outro deus senão o Deus de Israel.
Tatuagem e piercing têm alguma coisa a ver com isso?

“A expressão piercing tem sido usada para designar um tipo de adorno inserido por perfuração em
certas partes do corpo. Já a tatuagem é a pintura da pele com pigmentos insolúveis e definitivos”
(1).

Olhando assim, de forma objetiva, parece que a tatuagem e o piercing não têm nada de censurável.
De fato, a Igreja (https://formacao.cancaonova.com/igreja/) não tem nenhuma posição oficial sobre
isso, o que não significa que o cristão deva permanecer na superficialidade, não refletindo, à luz da
Palavra de Deus, se é adequado à sua vida cristã. Proponho uma breve reflexão.

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06/07/2022 Tatuagem e piercing: a quem eu adoro com o meu corpo?

Foto: Portra by Getty Images / iStock.by Getty Images

Tatuagem e piercing: significados que esses sinais carregam


É necessário buscar o significado cultural, o que tatuagens e piercings comunicam na cultura
ocidental. Para isso, é preciso lembrar, por exemplo, que até há pouco tempo tatuagem era código
de marginalidade. Por mais que se queira, um símbolo não muda seu significado cultural em tão
pouco tempo. O piercing é um pingente tantas vezes usado em lugares do corpo que contém um
contexto erótico, por exemplo, no umbigo, nos lábios, na língua, no mamilo e até mesmo junto às
genitálias. Mesmo que não seja intencional a quem o usa, tatuagens e piercings, na nossa cultura, é
carregado de significado de irreverência, vaidade e sensualidade. Nesse sentido, o texto do Levítico
enraizado no contexto histórico do seu tempo, parece dizer algo para nós, pois irreverência,
vaidade e sensualidade (poder, ter e prazer) são verdadeiros deuses a quem o homem moderno
presta culto e realiza sacrifícios inescrupulosos.

Não nos enganemos, pois tudo o que fazemos com nossas coisas, especialmente com o nosso corpo
(https://formacao.cancaonova.com/series/entenda-a-teologia-do-corpo/voce-sabe-o-que-e-
teologia-do-corpo/), comunica valores e transmite mensagens, boas ou ruins. A intenção interior

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não muda o que o sinal comunica. A verdade é que vivemos uma revolução cultural que quer
reengendrar os valores da sociedade e, nesse sentido, piercings e tatuagens espalhados nos corpos
das massas servem como ferramenta de destruição dos valores que o mundo assegurava até então.
Os corpos desenhados tornaram-se outdoors que anunciam que a pureza do passado era mera
hipocrisia de uma sociedade reprimida.

Sendo assim, ainda que a intenção primeira não seja essa, e a tatuagem seja uma imagem singela e
até piedosa, ingenuamente o usuário ajuda a construir um mundo novo, uma Nova Era que superou
a simplicidade e a pureza cristãs, e agora é livre para usar seu corpo como bem lhe convém.

Alguém pode questionar que outras práticas normais, como o uso de brincos e maquiagens, também
podem ter um significado de culto à vaidade, sensualidade e irreverência. Culturalmente, esses
pingentes, se usados com moderação, não mais que embelezam a mulher. O mesmo vale para a
moda. Mas essa exortação serve também nesses casos, porque as práticas comuns, sem a virtude
(https://formacao.cancaonova.com/series/virtudes-morais-cardeais/) da temperança, podem nos
dispor a essas ciladas.

Um significado espiritual?

É significativo que, na maioria das culturas, especialmente o piercing tenha um sentido religioso e
espiritual. “A ideia hinduísta desse objeto é que ele representa um contato, uma abertura para a
atuação de divindades nas mais variadas áreas da vida humana, cada uma representada por uma
parte do organismo. É interessante observar que o uso do piercing está tão ligado a essas crenças
hinduístas, que os locais de colocação (lábios, umbigo, nariz, sobrancelhas entre outros)
correspondem, exatamente, aos pontos correspondentes aos chamados “chakras”, ou seja, centros
de energia onde se daria a interação entre o corpo e a mente, de onde se poderia estabelecer o
controle sobre eles” (2).

Será, então, que o uso dessas práticas, mesmo na cultura ocidental pós-moderna, não vem
carregado de um sentido espiritual? Será que não expõe, de algum modo, a pessoa a realidades
espirituais, uma vez que “vosso adversário, o demônio
(https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/cura-e-libertacao/como-desmascarar-a-
astucia-do-demonio-em-nossas-vidas/), anda ao redor de vós como o leão que ruge, buscando a
quem devorar” (1Pd 5,8)?

Leia mais:
.:Impulsos sexuais: a carne é fraca? (https://formacao.cancaonova.com/series/the-church/impulsos-
sexuais-carne-e-fraca/)

https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/tatuagem-e-piercing-quem-eu-adoro-com-o-meu-corpo/ 3/6
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.:Por que a catequese não trouxe um resultado melhor para a Igreja?


(https://formacao.cancaonova.com/series/the-church/por-que-catequese-nao-trouxe-um-
resultado-melhor-para-igreja/)
.:O que a Igreja diz sobre homossexualidade? (https://formacao.cancaonova.com/series/the-
church/o-que-igreja-diz-sobre-homossexualidade/)
.:O que a Igreja diz sobre o feminismo? (https://formacao.cancaonova.com/series/the-church/o-que-
igreja-diz-sobre-o-feminismo/)

Respeito ao corpo

Outra questão a se considerar é o respeito ao corpo, templo do Espírito. Essa é uma forte exortação
de São Paulo em 1Cor 6,12-20, e também do Catecismo da Igreja Católica
(https://loja.cancaonova.com/livro-catecismo-da-igreja-catolica). Este, quando trata do quinto
mandamento da Lei de Deus (“Não matarás”), além do evidente, fala também sobre a necessidade
do respeito à saúde (§§ 2288-2291) como um apelo moral do cristão. Nesse sentido, o piercing e a
tatuagem também não se harmonizam com esses valores.

De maneira geral, os profissionais da saúde contraindicam o uso dessas marcas em nosso corpo, pois
elas o expõem a uma série de complicações, desde a transmissão de doenças contagiosas, no
momento da aplicação, como da Hepatite B (HBV), da Hepatite C (HCV) e do vírus da
Imunodeficiência Humana (HIV (https://formacao.cancaonova.com/atualidade/saude-
atualidade/qual-o-posicionamento-da-igreja-em-relacao-prevencao-da-aids/)), Sífilis etc., como
complicações posteriores: infecções diversas, dermatites, alergias e até há relatos de casos
registrados de endocardite infecciosa (uma infecção grave na camada interna do coração). Isso
tudo, sem contar que, no caso das tatuagens, a remoção posterior é difícil, podendo expor a pessoa a
novas complicações.

Quanto ao piercing, alguém pode perguntar se há alguma diferença entre ele e o brinco usado nos
lóbulos das orelhas. Sob o ponto de vista da saúde
(https://formacao.cancaonova.com/atualidade/saude-atualidade/), há muita diferença. O lóbulo da
orelha é a região que apresenta melhores condições, porque tem vascularização adequada (nem
muito, como a língua e lábios; nem pouco, como as cartilagens), é arejado, pouco exposto ao suor e
às secreções e é de fácil higienização. Trata-se, assim, de uma região do corpo com improváveis
chances de complicações. Outra é a situação dos diversos locais do corpo em que se costuma usar
piercing, em que a exposição a riscos é muito maior. Aliás, veja-se como a tradição de culturas
civilizadas tem valor. Nela se escondem sabedorias que nem imaginamos. O verdadeiro progresso
social e cultural está em um novo que parte da tradição.

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Respeito à natureza do corpo

Especialmente a tatuagem, que marca o corpo de forma estável ou permanente, parece comunicar
que ele não é tão bom assim, ele não é tão digno nem tão belo, e precisa ser melhorado (isso seria
diferente de uma prótese, que visa justamente a restaurar, em determinado corpo, a integridade
perdida, que é própria do corpo humano). Nesse  sentido, a tatuagem vai na linha de uma revolução
cultural, como a ideologia de gênero e até mesmo a legalização do aborto, que quer superar toda
moralidade que a natureza do corpo comunica e exige. A ideia é a mesma: a natureza fez o homem e
a mulher assim, seus corpos desse jeito, mas cada um escolhe como serão as coisas. O jargão “o
corpo é meu e eu decido sobre ele”, curiosamente é o mesmo usado pelas feministas ao defender a
ideologia de gênero (https://formacao.cancaonova.com/atualidade/ideologiadegenero/ideologia-
de-genero-e-a-desconstrucao-da-familia/) e aborto, e os que se dão o direito de usar seu corpo para
o que bem entenderem. Isso não é coincidência, porque, na verdade, o pano de fundo é o mesmo.
Agindo assim, o homem se torna o deus de si mesmo, supera as leis e as formas criadas pelo Criador,
cultuando não mais o Deus de Israel, nem mesmo os deuses pagãos, mas cultua a si mesmo, a
genuína e verdadeira idolatria.

Já dizia o apóstolo: “O corpo, porém, não é para a impureza, mas para o Senhor” (1Cor 6,13b). As
intenções do coração só Deus pode julgar e, em meio a marcas no corpo e pingentes, elas podem ser
as melhores. Que a consciência de cada um possa sempre se perguntar: a quem eu adoro com o meu
corpo? A quem eu sirvo através do meu corpo?

Referências:

1. Dra. Mannoun, “Piercing e tatuagens na adolescência, o que você precisa saber”.

2. Marcia Rezende, “O que a Bíblia diz sobre o piercing”.

(https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/)

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Botelho de Andrade é casado e pai de três filhos. Com formação em Teologia e
Filosofia Tomista, Andrade é fundador e moderador geral da comunidade católica
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Pantokrator, à qual se dedica integralmente.
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