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Resumo
Bertha K. Becker foi uma importante geógrafa brasileira com uma vasta produção científica e
intelectual sobre a região da Amazônia. Seu trabalho é referência mundial no tema. O presente
texto apresenta aspectos de sua vida e obra.
Abstract
Bertha K. Becker was an important Brazilian geographer with a vast scientific and intellectual
production about the Amazon region. Her work is a world reference on the subject. This text
presents aspects of her life and work.
Introdução
Este artigo apresenta de forma resumida a vida e obra desta grande professora
e geógrafa brasileira, numa primeira aproximação com sua pesquisa e trajetória de
vida. O texto nasce no contexto da disciplina Epistemologia da Geografia, ofertada
pelo professor Clézio Santos no curso de pós-graduação em geografia na
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro PPGGEO UFRRJ, quando a turma foi
provocada a pesquisar a respeito das matrizes brasileiras do pensamento geográfico.
Para Bertha Becker, Geografia não era a descrição da Terra, como a etimologia
da palavra indica, e sim o designer da Terra, tendo um sentido mais profundo, onde
podemos participar na elaboração de um projeto melhor para o planeta, no caso de
Bertha, buscava um projeto melhor para o Brasil, tendo dedicado especificamente na
Geografia do Brasil.
Bertha Becker atribui o seu despertar pela pesquisa de campo ao Prof. Hilgard
O’Reilly Sternberg, mestre que teve grande importância na sua trajetória. Durante sua
formação na graduação fez excursões como secretária do professor, o que possibilitou
o reconhecimento de diversas partes do território e a fez ter contato com a realidade
viva estimulando-a a focar em problemas reais. Sternberg também ensinou a
importância das relações com geógrafos internacionais e o quanto essa troca era
necessária para a atualização do conhecimento sobre Geografia e o mundo. A convite
do professor, foi secretária da Comissão de Recepção no Congresso Internacional de
Geografia da UGI, em 1956 e secretária do Curso de Altos Estudos Geográficos. A
partir desses dois eventos Bertha foi convidada a ingressar na Universidade do Brasil
como Auxiliar de Ensino do Prof. Sternberg.
A Direção do IRB montou então o “Projeto Cisne” a fim de levar os alunos para
conhecer as regiões da fronteira Brasil-Bolívia e Bertha foi convidada a acompanhar.
Nessa viagem pôde observar a magnitude da natureza, o quanto algumas regiões de
fronteira já estavam bem povoadas e que havia diferentes formas de povoamento, os
conflitos inerentes a esse processo de migração e as disputas de terras. Começou ali
o interesse na Amazônia e o aprofundamento nos estudos sobre a região e seu
processo de ocupação.
Em 1976 foi convidada pelo Diretor do IGEO para ser Diretora Adjunta do Curso
de Pós-Graduação e Pesquisa do Instituto, cargo de chefia que assumiu por 10 anos
com grandes contribuições para o IGEO, no fortalecimento de outros programas de
Pós-Graduação do Instituto e na unificação do mesmo. Em 1988 criou o Laboratório
de Gestão do Território (LAGET) com objetivo de desenvolver análises e estudos
sobre as mudanças ocorridas no território brasileiro sob impacto das novas tecnologias
de produção.
Em Defesa da Amazônia
Prêmios e Títulos
Sua obra
Bertha Becker tem uma vasta produção acadêmica. Em seu currículo lattes3 há
registro de mais de 200 publicações, além de participação em bancas e orientações de
estudantes, além de eventos acadêmicos dos mais diversos. A maioria dos trabalhos
publicados versa sobre a Amazônia. Mas não só. Aparece muito em sua obra o
conceito de território, a dimensão do planejamento e da gestão pública, além de
análises profundas sobre o território amazônico e sobre um modelo de
desenvolvimento regional que seja baseado no manejo sustentável.
3
http://lattes.cnpq.br/9164795594647563
Seu último livro publicado tratou do papel das cidades na região, em "A Urbe
Amazônida”, de 2013, a autora questiona o modelo de desenvolvimento urbano para a
Amazônia a partir do seu olhar enquanto pesquisadora que dedicou mais de 40 anos
de vida à pesquisa sobre o território onde desde os anos 2000 cerca de 70% da
população está vivendo no contexto urbano.
Sobre o último trabalho publicado por Bertha Becker, sua amiga e pesquisadora
Ima Célia Guimarães Vieira e outros amigos pesquisadores do INPE e da UFPA, em
artigo onde abordam a respeito do legado da professora, nos dizem que:
Para Becker os povos tradicionais e populações locais devem ter sua voz e
suas participações consideradas na condução dos projetos. Em suas principais obras
“a autora expõe sua compreensão: a fronteira não é um limite, mas um espaço social e
político” (VIEIRA, MANN DE TOLEDO, ROCHA, OLIVEIRA SANTOS, 2014, p. 3). Para
Bertha Becker o chamado “Arco do desmatamento” é na verdade o “Arco do
povoamento”, onde a ocupação está consolidada e a atividade de agropecuária faz
uso de tecnologia em busca de mais rentabilidade e lucro. Tratando da apropriação do
conceito de fronteira na obra de Becker, Ima Vieira, Peter Toledo, Gilberto Rocha e
Roberto Jr vão nos dizer que:
Conclusão
Desde quando foi pela primeira vez à Amazônia, em 1970 com os alunos do
Instituto Rio Branco, Bertha não saiu mais de lá. Foram mais de 40 anos da sua vida
dedicados à pesquisa e atuação na região. Buscava ouvir todos os grupos sociais,
desde índios e ribeirinhos a empresários, Igreja e governo, pois assim conseguia
compreender melhor as demandas da população. Seu objetivo como cientista era
apontar soluções para as problemáticas relacionadas à ocupação do território e à
dinâmica espacial. Acreditava que a integração territorial só aconteceria se fossem
resolvidos primeiro os problemas sociais.
Era assim que Bertha enxergava a Geografia, como uma ciência política onde
podemos participar na elaboração de um projeto melhor para o planeta, e o projeto
dela para construir um país melhor era utilizando o conhecimento adquirido para tentar
encontrar uma solução para os problemas do país e atender as demandas da
sociedade.
Referências
ISMAEL, Ricardo; FORMIGA, Marcos; D’AGUIAR, Rosa Freire. Bertha Becker. In:
Cadernos do Desenvolvimento, Rio de Janeiro, v. 7, n. 10, p.252-267, jan.-jun. 2012