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SOLO-CIMENTO

Danilo Vinícius Carlos de Noronha

O solo-cimento é o material alternativo, de baixo custo, resultante da mistura


homogênea, compactada e curada de solo, cimento e água em proporções adequadas,
resultando num produto com características de durabilidade e resistências mecânicas bem
definidas, além de bom índice de impermeabilidade e baixo índice de retração volumétrica. O
solo é o componente mais utilizado para a obtenção desse material. O cimento entra em uma
quantidade que varia de 5% a 10% do peso do solo, o suficiente para estabilizá-lo e conferir as
propriedades de resistência desejadas para o composto.
Este tipo de material de construção chegou para suprir boa parte das necessidades de
instalações econômicas na maioria das regiões rurais e suburbanas no Brasil. Praticamente
qualquer tipo de solo pode ser utilizado para a composição, entretanto os solos mais
apropriados são os que possuem teor de areia entre 45% e 50%, solos com mais argila que areia
precisam de uma maior concentração de cimento podendo inviabilizar o material. Somente os
solos que contêm matéria orgânica em sua composição que não podem ser utilizados (aqueles
solos de tonalidade escura). A grande vantagem é que o solo a ser utilizado na mistura pode ser
extraído do próprio local da obra.
O solo-cimento é uma evolução de técnicas de construção do passado, como o adobe e
a taipa. Onde pega aglomerantes naturais, de características variáveis e instáveis e os
substituem pelo cimento, produto industrializado e de qualidade controlada.
Há duas grandes áreas onde o solo-cimento pode ser uma solução muito interessante. A
primeira está nos loteamentos populares, onde a própria comunidade pode produzir tijolos e
pisos com maquinário simples e a baixíssimo custo. Outra área, mais sofisticada e tão
importante quanto, são os condomínios onde a ecologia e a sustentabilidade ditam regras.
Nestes empreendimentos, o solo-cimento pode ser produzido igualmente no local, diminuindo
o custo da construção, agredindo muito menos o meio ambiente, usando mão-de-obra da região
e produzindo habitações com um conforto térmico insuperável, ajudando a diminuir a
necessidade de ar condicionado e calefação, de modo geral, ajudando o meio-ambiente e
diminuindo a demanda por energia.
Na construção civil, o solo-cimento pode ser usado de quatro maneiras diferentes: em
tijolos ou blocos (onde são produzidos manualmente ou em pequenas prensas, dispensando a
queima em fornos, só precisam ser umedecidos para se tornar muito resistentes e com excelente
aspecto), nos pisos e contra pisos (é compactado no local, com o auxílio de formas, mas em
uma única camada, o piso fica constituído por placas maciças, totalmente apoiadas no chão),
em paredes maciças (técnica similar à taipa de pilão usada no período colonial, a massa é
compactada diretamente na forma montada no próprio local da parede, em camadas sucessivas,
no sentido vertical, formando painéis inteiriços sem juntas horizontais) e também ensacado (a
mistura de solo-cimento, em formato de uma “farofa úmida”, é colocada em sacos que
funcionam como formas, esses sacos têm a boca costurada, depois são colocados na posição
de uso, onde são imediatamente compactados, um a um, seu resultado é similar à construção
de muros de arrimo com matacões, isto é, como grandes blocos de pedra).
A alvenaria estrutural com tijolos de solo cimento é um sistema construtivo
racionalizado. Os próprios tijolos auxiliados por pequenos pilaretes e vigas são elementos que
desempenham a função estrutural, executadas a partir do preenchimento de furos e canaletas,
com vergalhões, conforme especificado no projeto de estruturas. Os pilares e vigas são
desnecessários, pois as paredes distribuem a carga uniformemente ao longo da fundação. Na
alvenaria estrutural de blocos de concreto existe uma simplificação do processo construtivo,
reduzindo etapas e mão-de-obra, com consequente redução do tempo de execução e dos custos.
Existindo também tipos de tijolos de solo cimento maciço para uso estrutural, a diferença é que
como não possuem furos, a alvenaria não conta com elementos de concreto armado para o
auxílio na estruturação das paredes. Para este tipo de tijolo, recomenda-se utilizar laje em
concreto armado para amarração das paredes, com vão nunca maiores que 4 metros.
As vantagens da utilização do desde material alternativo são: a execução simplificada,
proporcionando maior rapidez à construção; Não necessita de formas para vigas e pilares;
Redução de mão-de-obra e tipos de materiais; Facilidade de projeto, detalhamento e supervisão
da obra; Técnica de execução simplificada; Eliminação de rasgos para embutir instalações;
Redução de espessuras de revestimentos; Resistência ao fogo, além de bom isolamento térmico
e acústico; Durável, exigindo pouca manutenção; Racionalização da execução das obras e
maior velocidade; Redução de quebras, desperdícios e entulho na obra. As desvantagens são
as mesma de uma alvenaria estrutural convencional: Exige controle de qualidade eficiente tanto
dos materiais empregados como do componente alvenaria; Mão de obra qualificada e bem
treinada e uma constante fiscalização são imprescindíveis; O usuário não tem a mesma
flexibilidade para remover paredes a fim de se aumentar um determinado ambiente.
O emprego da tecnologia dos tijolos de solo-cimento gera uma contribuição para a
diminuição do déficit de moradias no Brasil, através de programas de construção de novas
moradias para famílias residentes em áreas de risco, favelas e até nas ruas. Devido à facilidade
do processo construtivo sem o emprego de mão-de-obra especializada, a tecnologia estimula o
treinamento de futuros moradores, reduzindo custos e contribuindo para o aprimoramento
profissional dos participantes. Porém, a alvenaria de solo-cimento deve ser incentivada também
nas construções para médio e alto padrão.
Os tijolos e blocos de solo-cimento possuem alta resistência à compressão e baixa
absorção de água, requisitos fundamentais para a sua aplicação na construção civil. Porém,
percebe-se ainda uma dificuldade em sua utilização devido ao preconceito por parte das pessoas
que relacionam o uso do solo com a construção de habitações de interesse social e baixa
durabilidade.

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