Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
O texto desenvolve a importância do Plano Nacional de Educação (PNE) para as políticas
educacionais no Brasil, em uma perspectiva pós-crítica, baseado no conceito de justiça social
de Nancy Fraser (2006), realizando um diálogo entre a autora e o documento produzido na II
Conferência Nacional Popular de Educação (CONAPE), intitulado Carta de Natal. O objetivo
é evidenciar aproximações entre as contribuições fraserianas sobre o conceito de justiça social
e o campo da política educacional no Brasil na atualidade. Adotou-se a abordagem qualitativa
a partir de análise documental e revisão bibliográfica. A Carta é fruto de uma jornada da
sociedade brasileira em resposta aos desdobramentos do Golpe de 2016 e seus efeitos deletérios
à educação pública, em especial, aos espaços públicos de deliberação das políticas
educacionais, em consequência de ações e programas implementados pós-golpe (ARAÚJO,
2022). A ascensão de Temer à Presidência da República representou o início de um processo
de desdemocratização, materializada na destituição de representantes de entidades do
movimento educacional que, até então, tinham assento no Fórum Nacional de Educação (FNE)
(ARAÚJO, 2022), implicando no fortalecimento de uma agenda educacional de conteúdo
neoliberal-conservadora. O desmonte do FNE comprometeu a agenda de realização das
Conferências Nacionais de Educação (CONAE’s), impulsionando a organização da sociedade
para a criação do Fórum Nacional Popular de Educação (FNPE), que organizou a CONAPE
2020/2022. Desde a aprovação da EC nº 95/2016, uma agenda austericida é imposta à educação
pública. Após as eleições de 2018 e, em especial, no contexto pandêmico, estes movimentos de
retrocesso negligenciaram o direito à vida, resultando em prejuízos à gestão articulada da
educação entre os entes federados. O processo de desdemocratização exigiu pensar as políticas
educacionais a partir de marcadores de classe e de identidades. É possível constatar em vários
pontos da Carta as duas dimensões constitutivas da concepção fraseriana de justiça social,
redistribuição e reconhecimento. Nos cinco primeiros itens da Carta, há aproximações com o
sentido “redistributivo”, tendo em vista que todos os itens são atravessados pela ideia de
repartição da riqueza coletivamente produzida, destacando-se a proposição do item 3: “reforma
tributária redistributiva e taxação das grandes fortunas” (CONAPE, 2022). Quando analisada a
dimensão de “reconhecimento”, há aproximações em vários itens, dos quais o 23 chama atenção
por articular um diálogo estreito com a teoria da bidimensionalidade de justiça social de Fraser,
pois integra os aspectos da eliminação da pobreza a igualmente importante necessidade de
eliminação de toda “e qualquer tipo de discriminação, preconceito, violência, intolerância e
violação de direitos que devem ser entendidos/as como injustiças sociais a serem superadas,
com políticas de Estado.” (CONAPE, 2022, p.3). A partir da análise reafirma-se a importância
do PNE como política de Estado com potencial para contribuir com a justiça social no Brasil.
Palavras-chave: Plano Nacional de Educação. Justiça Social. Nancy Fraser. Carta de Natal.
Participação social.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Heleno. A CONAPE como espaço de mobilização e luta pela educação. Acesso
em: 22 de jul. 2022. Disponível em: <https://fnpe.com.br/artigo-a-conape-como-espaco-de-
mobilizacao-e-luta-pela-educacao/>.