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Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Submissão dos impostos ao Direito é a uma medida de justiça, controlável pelos tribunais
desde o início do séc. XX – substitui a relação autoritária e ajurídica entre o Estado e o sujeito
submetido a obrigações fiscais.
➢ Direito Fiscal surge com a Lei Geral Tributária alemã, de 1919, Enno Becker – pela
primeira vez uma lei atribui direitos ao sujeito passivo na relação com o sujeito ativo,
tornando a obrigação tributária (que era entendida como uma relação de poder) numa
relação jurídica de Direito Público.
Albert Hansel sistematiza os elementos da relação jurídica do imposto tal como os encontramos
hoje, tendo um caráter universal – Tatbestand Sistemático de Imposto
• Sujeito Passivo: quem tem obrigação de pagar o imposto
• Sujeito Ativo: ente público que entra na relação e tem direito de exigir o cumprimento
das obrigações tributária
• Objeto/Incidência Objetiva: sobre o que é que se paga imposto
• Elementos que contribuem para a quantificação do imposto
• Taxa/Alíquota: percentagem do valor do objeto que será deduzida como imposto
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Princípio interpretativo, dirigido também ao legislador, do princípio da legalidade (para assegurar a
Segurança Jurídica) e o princípio da igualdade (para assegurar a justiça na tributação).
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A harmonização do IVA está prevista no art. 113º TFUE pois este imposto é um recurso da UE,
uma vez que uma percentagem deste imposto vai para o Orçamento da União, cabendo a sua
gestão e cobrança aos Estados-membros.
➢ Só formalmente é um imposto nacional, pois os seus elementos essenciais estão
harmonizados, existindo uma pequena margem de discricionariedade legislativa
deixada aos Estados-membros.
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Conceito que nos EUA tem significado oposto ao que tem na UE: Tea Party Americano invoca esta noção
quando advoga impostos muito baixos e pouca intromissão do Estado.
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Os Estados enfrentam um grande conflito entre o objetivo de manterem a sua soberania, a qual
depende dos impostos, e ao mesmo tempo atraírem investimento através de políticas fiscais
competitivas (reduzindo ou eliminando impostos, de forma genérica ou seletiva).
À partida, uma medida orçamental que vá aumentar a tributação sobre um imóvel é uma
medida que vai produzir receita, pois o imóvel não se deslocaliza. Todavia, quando estamos
numa situação de investimento forte no imobiliário (através de sociedades anónimas), o
imposto pode vir a não produzir receita porque uma tão forte tributação pode parar a
atividade de investimento.
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TRIBUTOS
Conceito de Tributos
→ Receitas criadas e cobradas pelo Estado ou outras entidades públicas para a satisfação
de necessidades públicas e sem função sancionatória.
Conceito APD é mais amplo que a maioria da doutrina: fala em finalidades públicas e não
meramente financeiras, porque pode ter objetivos extra-fiscais.
➢ Ex: 10 cêntimos sacos de plástico – objetivo principal não é financeiro, mas sim
necessidade pública de reduzir impacte ambiental.
➢ Se objetivo financeiro foi cumprido então a política falhou – não se alcançou a finalidade
desse tributo.
Nem a CRP nem a Lei Geral Tributária (LGT) dão uma definição de tributo, mas, através dos
preceitos constitucionais e legais relacionados com os tributos podemos averiguar se a definição
referida é válida no nosso ordenamento jurídico-constitucional.
Art. 103º/1 CRP: Sistema fiscal = conjunto de impostos disciplinados pelo ordenamento jurídico
português.
Art. 165º/1/i CRP: Sistema fiscal = Sistema dos impostos (conjunto dos impostos e princípios e
regras aplicáveis a todos os impostos), por contraposição à segunda parte da alínea que se refere
a outros tributos.
➢ Portanto, a CRP não tem conceito de tributos, mas o art. 165º/1/i faz referência aos
tipos ou categorias de tributos.
O art. 165º/1/i CRP e o art. 3º/2 LGT contêm as 3 categorias de tributos reconhecidos no
ordenamento jurídico-constitucional português.
➢ Tripartição dos tributos que consta também do art. 4º LGT.
o Impostos; Taxas, Contribuições Especiais.
▪ Qualquer um destes tributos visa assegurar a satisfação das
necessidades financeiras do Estado e de outras entidades públicas,
correspondendo à função/definição clássica.
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Conceitos para melhor controlar a constitucionalidade dos tributos – temos de estar atentos aos
elementos e características que podem ter os tributos Fiscais, Parafiscais e Extrafiscais
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Alguma vaguidade de alguns termos não pode significar que se deixe de retirar da CRP categoria
e os princípios constitucionais que regem os tributos.
➢ Categorias híbridas ou novas têm de ser bem enquadradas para não trazer consigo a
desproteção do contribuinte, o que não é compatível com o Estado de Direito.
Desde meados do séc. XX que se juntaram outras finalidades aos tributos, ligadas à orientação
de comportamentos, como a prossecução de fins ambientais e a alteração de comportamentos
individuais com ou sem externalidades negativas ou para si e terceiros, ou para si e o ambiente.
Deve ser interpretado como o critério de distribuição do montante total do imposto por cada
sujeito, i.e, como um critério de igualdade ou de capacidade contributiva de cada sujeito, que
deve ditar a quantificação de cada imposto.
➢ Isto significa que o sistema português deve assentar nos impostos, mas, também que os
impostos sobre o rendimento e o património devem ter um lugar de relevo, porque são
eles que melhor permitem assegurar a tributação segundo o princípio da igualdade ou
da capacidade contributiva.
= art. 5º/1, 2ª parte LGT
Estas disposições indicam como deve ser aplicada a receita dos impostos: correção de
desigualdades.
➢ Aqui já estamos a considerar o lado orçamental das despesas e a abandonar o campo
restrito do Direito Fiscal como o Direito das receitas.
Não é necessário que cada imposto prossiga uma finalidade financeira, essa finalidade
predomina no sistema fiscal no seu conjunto.
➢ Este sistema fiscal é um pressuposto do Estado de Direito.
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Impostos
• Tributos unilaterais, materializados por prestações pecuniárias cuja finalidade
seja a arrecadação de receitas a título principal ou secundário por parte de
entidades públicas (fim fiscal), ou até a prossecução de quaisquer outras
finalidades públicas (fins extrafiscais) que não tenham por base uma infração e
correspondente sanção.
o Legitimidade dos impostos com exclusivas finalidades extrafiscais deve ficar
dependente de uma justificação material bastante, sob pena de se subverter a
função dos impostos do EDD (que é o Estado Fiscal).
▪ Para continuar a ser imposto não se pode consignar a receita que se
possa vir a obter (se o tributo falhar nos objetivos extrafiscais).
4. Exigidos por Entidades Públicas: os sujeitos ativos são entidades públicas (art. 18º LGT).
• Em regra, são o Estado, Regiões Autónomas e Municípios, pois as restantes entidades
públicas são normalmente financiadas através de taxas ou contribuições especiais.
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APD: deve ver-se todos os bens públicos a serem financiados e escolher os mais importantes.
➢ Tem de se ter em conta a política fiscal e se o bem é divisível (só beneficia quem o
utiliza).
➢ Sempre que os bens públicos são divisíveis, devem ser financiados por taxas (quem os
utiliza) e não por impostos (todos os outros contribuintes).
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Por oposição ao Sujeito Ativo -> ente público que entra na relação e tem direito de exigir o cumprimento
das obrigações tributária.
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Apesar de não se relacionar com o rendimento do sujeito, ele já é um sujeito passivo.
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Elementos que contribuem para a quantificação do imposto
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PORTANTO,
Nos EDD, devido ao seu caráter unilateral, a definição dos (elementos essenciais dos)
impostos estão sujeitos a Reserva de Lei e devem tributar a capacidade económica,
por isso assentam em critérios ad valorem.
1. Reserva de Lei: única forma de controlo, por parte dos sujeitos passivos7 – origem no “No
taxation without representation” da revolução americana.
• Não é inerente ao conceito de imposto, pois o seu significado e alcance varia consoante
as exigências e práticas constitucionais.
• Em Portugal, só é imposto se tiver sido criado pela AR ou pelo Governo com autorização
legislativa – art. 165º/1/i CRP
O TC tem conceito mais restritivo de imposto, do qual não faz parte a extrafiscalidade.
➢ O TC não opera somente com o critério estrutural de imposto e delimita esse conceito
através de um critério finalístico, centrado sobre a razão de ser ou o objetivo das
receitas em causa.
o APD: nos casos analisados pelo TC o que parece mesmo que é exigido é que a
finalidade fiscal seja a principal (Acórdão nº 70/92).
▪ O TC também admite que algumas receitas extrafiscais, como os
diferenciais de preços, podem ser financeiramente impostos quando
constituam receita da entidade que prossegue finalidades públicas, pois
há prestação pecuniária a favor de entidade pública sem se receber
nada em troca.
Alberto Xavier, Diogo Leite Campos: função imediata do tributo, incluindo o extrafiscal, deve ser
financeira
António Braz Teixeira, Casalta Nabais, Saldanha Sanches, Soares Martinez: defende os fins
públicos dos impostos, aludindo ao critério teleológico de “realização de fins públicos” com a
principal utilização de receitas para a cobertura de despesas públicas.
Ana Paula Dourado: um imposto, para efeitos de reserva de lei, tanto é o “imposto fiscal” (cuja
finalidade principal é a obtenção de receitas) como os “impostos extrafiscais” (cuja finalidade
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Se não concordar com a afetação dos impostos às despesas públicas só pode haver uma reação política
(nas eleições), através dos programas eleitorais.
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3. Critérios ad valorem
RENDIMENTO (art. 104º/1 e 2): organiza-se em IRS (sobre o rendimento das pessoas singulares)
e em IRC (sobre o rendimento das pessoas coletivas).
• No caso das pessoas singulares assenta no rendimento universal dos residentes.
• No caso das pessoas coletivas assenta em rendimentos obtidos no território nacional.
Dada a mobilidade atual dos fatores de produção (em especial o capital), tem havido estudos
propondo a substituição do IRC baseado na tributação do lucro, por um imposto no destino dos
bens ou serviços (baseado na locação dos consumidores).
➢ Proposta para ultrapassar as perdas de receita neste imposto, resultado da livre
circulação de capitais trazida pela globalização.
➢ Também afetou as pessoas singulares pois, nas últimas décadas, avultados montantes
de rendimentos de capitais têm sido colocados em territórios de baixa ou nula
tributação (os “paraísos fiscais”8 = não cooperantes, pois não fornecem informações aos
Estados de residência dos sujeitos que aí colocam as suas poupanças).
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Desde 2009 que tem havido pressões globais para que se tornem territórios cooperantes e troquem
informações.
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São considerados os impostos mais justos pois têm em conta os proveitos, mas, também as
despesas associadas à sua obtenção – Rendimento Líquido9.
➢ Inclui-se também alguns elementos redistributivos associados ao Estado Social
➢ Quanto às empresas deve tributar-se o seu rendimento real.
CONSUMO (art. 104º/4): incidem sobre o consumo geral de bens e serviços (IVA) e sobre o
consumo específico de certos bens (imposto sobre o consumo de álcool, tabaco, produtos
petrolíferos e etc.).
➢ Impostos gerais sobre o consumo são considerados menos justos do que os impostos
sobre o rendimento – incidem sobre todos os sujeitos na mesma medida,
independentemente da capacidade económica de cada um.
o Mas são considerados mais neutros para o funcionamento da economia, porque
implicam menos distorções, nas opções acessíveis aos contribuintes.
Não existem Impostos Gerais Sobre o Património em Portugal pois entende-se ser impossível
encontrar um momento ou conjunto de momentos durante o ano fiscal que possa traduzir com
rigor o valor dos ativos mobiliários (dada a flutuação do valor destes11) e imobiliário.
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E não bruto, porque não dá uma imagem real da capacidade contributiva
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Incide sobre as transmissões onerosas do direito de propriedade ou de figuras parcelares desse direito,
sobre bens imóveis situados no território nacional de imóveis, qualquer que seja o título por que se
operem.
Este imposto é devido pelas pessoas para quem se transmitam os bens imóveis, pois como adquirentes
manifestam riqueza.
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TC Alemão considerou arbitrária a avaliação destes ativos e declarou inconstitucional o imposto geral
sobre o património.
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REAIS: impostos que se centram na manifestação da riqueza, sem considerar outros elementos
diferenciadores ligados à capacidade económica do sujeito.
• Foco é o objeto de tributação – o que releva é o valor do objeto e não a capacidade
contributiva do sujeito – tributa-se o valor do bem
• Não interessa a capacidade contributiva – ela tem de existir, senão não se compra o
bem nem se paga imposto, mas, não interessa fazer diferenciações quanto à capacidade
contributiva.
IVA é imposto real – o que interessa é o valor do bem e é sobre isso que incide o imposto (sobre
o consumo); é uma percentagem do valor desse bem e difere consoante os bens.
Mas, hoje em dia, os Impostos Reais têm elementos de pessoalidade e o legislador faz
valorações atinentes à capacidade contributiva
Estas diferentes alíquotas fazem distorção pois dão incentivos a consumir certo
produto em vez de outro.
➢ Provou-se que taxas mais baixas não fazem diminuir o preço – o consumidor não
é afetado e são os profissionais que beneficiam.
➢ Legislador orienta as opções dos contribuintes, mas, muitas vezes, os seus
objetivos não são cumpridos.
3 taxas do IVA são fatores distorcivos da neutralidade do imposto real, mas, são opção
da UE.
➢ Há países (Nova Zelândia, Canadá, Taiwan e etc.) que conseguem garantir a
neutralidade e os princípios fundamentais do IVA enquanto imposto sobre o
consumo.
Na UE, já não se pode dizer que o IVA é um mero Imposto Real: à partida é um Imposto
Real mas, a nível europeu, existem elementos pessoalizantes que já têm em conta a
capacidade contributiva das pessoas e, por vezes, objetivos extrafiscais.
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PESSOAIS: impostos que se centram na riqueza do sujeito, mas em que o foco de atenção é a
capacidade contributiva do mesmo12.
• Têm em conta alguns elementos diferenciadores relacionados com a capacidade
contributiva do sujeito, estando ligados a um conceito mais fino de justiça mas podendo
revelar-se menos eficientes, por provocarem mais distorções.
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Todos os impostos são pagos por pessoas, a diferença é o foco sobre o qual incide esse pagamento.
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Estados, para serem competitivos, abdicaram da tributação idêntica de todas as categorias de
rendimentos e, na prática, tributam de forma mais favorável (mais baixa) os rendimentos com maior
mobilidade – capitais, juros, dividendos, mais valias, rendimentos trabalhadores mais qualificados
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APD: conceito em crise – ex: Imposto Robles é um imposto ad hoc sobre o rendimento que
manifesta o desespero dos Estados em tributar os que têm maior capacidade contributiva.
Sujeitos passivos com maior riqueza patrimonial é devido a património imobiliário e mobiliário,
portanto, agravar os impostos sobre o património imobiliário é tentar atingir uma parte da
riqueza, mas, não existe função de imposto pessoal porque toda a riqueza mobiliária fica de fora.
➢ Quando se fala em tributação ao património, essa noção é truncada e discriminatória
– há parte elevada de riqueza (mobiliária), que fica de fora.
o APD: O que justifica este aumento de tributação ao património é o facto de se
tributar imóveis – consegue-se efetivamente tributar em Portugal, pois ela não
se movimenta para territórios de tributação mais baixo.
➢ Não há verdadeiros argumentos de justiça, mas apenas o de se conseguir tributar aquela
riqueza, enquanto, em contrapartida, não se consegue tributar a riqueza móvel que
pode ser deslocalizada.
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o Num Estado Social tal pode não ser suficiente para assegurar a justiça fiscal, que
é Redistributiva.
• Impostos reais são normalmente associados a taxas proporcionais
Classificação no art. 6º LGT e art. 112º e 113º TFUE – adoção de critério financeiro, atendendo
ao objeto do imposto
➢ Classificação Económica
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Já põem em causa a Autonomia Privada e a Autonomia Empresarial – torna-se imposto confiscatório
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Como os Impostos de Capitação/Per Capita/Lump-sum Taxes – avançados por Margaret Tatcher nos
anos 80 mas que não entraram em efetividade.
➢ Vantagem de ser uma forma de imposto menos distorciva, havendo uma eficiência parateana
o Cada um e todos pagam a mesma coisa – em termos absolutos pagam o mesmo, mas
ao comparar com o rendimento do indivíduo, o mais pobre paga maior percentagem (à
medida que o rendimento aumenta, o peso do imposto diminui).
➢ Problema é que não seria possível existirem bens públicos nem alcançar uma justiça
redistributiva num Estado Social.
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APD: classificação falha, no caso do IVA, uma vez que a autoridade tributária tem informações
sobre os sujeitos que têm as obrigações perante o fisco.16
OBRIGAÇÃO ÚNICA: aqueles cujo facto tributário nasce e se extingue com um ato ou negócio
jurídico – consumo, importação, aquisição onerosa ou gratuita.
PERIÓDICOS: aqueles cujo facto tributário se renova por diferentes períodos fiscais, dando
origem a obrigações declarativas, enquanto não se informa a administração tributária da
extinção desse facto ou da atividade económica.
➢ O facto tributário nasce e extingue-se ao fim de um determinado período fiscal (ano
fiscal ou período mais curto definido pela lei), mas a continuidade da relação jurídica
tributária faz nascer relações jurídicas que adquirem um caráter de permanência até
que se verifique a alteração ou cessação da situação.17
o Permitem o controlo da situação fiscal do sujeito passivo por parte da
administração tributária, facilitando a arrecadação de receitas.
o Criam deveres declarativos ao sujeito passivo mas também evitam o
cumprimento renovado dos mesmos, pois presume-se que a relação jurídica
tributária continua inalterada, cabendo apenas apurar o valor do rendimento
ou património em cada período fiscal.
➢ Retenções definitivas não configuram imposto periódico mas estão inseridas num
periódico.
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Isto devido à forma como o Imposto está configurado – em que são os sujeitos passivos, que
desenvolvem uma atividade de prestação de serviços, que se relacionam com o fisco (abrindo atividade e
prestando informação sobre ela) e entregam o IVA do consumidor ao Estado.
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Enquanto existir a situação subjacente que faz surgir a obrigação, ela repete-se anualmente.
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• Formação Sucessiva – situação atual no Código IRS e Código IRC – mais valia de uma
transação é um dos elementos do facto tributário, mas, se tiver havido várias transações
ao longo do ano fiscal, o que se tem de apurar é o resultado dessas transações.
o Pode haver mais valias ou menos valias, nesse resultado.
o É imposto de formação sucessiva porque não se tem em conta o resultado
individual de cada uma das transações.
▪ Os impostos periódicos podem assumir esta faceta – vão sendo
formados ao longo do ano.
Taxas
Sendo verdadeiras Taxas, não há sujeição ao princípio da Reserva de Lei e podem ser criadas
pelos Municípios.
➢ Não precisam de ser criadas pela AR. Art. 165º/1/i CRP apenas exige uma lei com o
Regime Geral das Taxas – existe o das autarquias (Lei 53-E/2006).
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Nos vários acórdãos que proferiu (nomeadamente no Acórdão nº 313/92, nº 63/99, nº 166/09) o TC
sempre foi considerando como organicamente inconstitucional a criação de tributos que não incidissem
sobre bens públicos, semipúblicos ou do domínio público, como é o caso dos reclamos publicitários. Esta
remoção de obstáculos jurídicos sobre bens privados foi apelidada de “licença fiscal” por TEIXEIRA
RIBEIRO, uma vez que era artificial a existência de uma taxa e o que estava em causa, tal como o TC
concluiu, era um imposto oculto, cuja competência seria da Assembleia da República, nos termos do art.
165º/1/i.
No entanto, o Acórdão nº 117/2010 traz uma nova abordagem ao assunto pelo TC. Desde esse
acórdão, o Tribunal já não considera inconstitucional a taxa sobre remoção de obstáculos jurídicos se tais
obstáculos tutelarem reais interesses públicos. Neste caso, os anúncios estão na via pública, portanto, o
tributo pela remoção de um obstáculo jurídico ao exercício de uma atividade por parte dos particulares
(art.4º/2, parte final), está a tutelar um real interesse público que se prende na “configuração do ambiente
de vivência urbana das coletividades locais”.
ANA PAULA DOURADO alerta para a insegurança jurídica criada por esta solução, uma vez que
“nem a reserva de lei nem o princípio da cobertura de custos está a ser aplicado ao controlo da
constitucionalidade das taxas” e SALDANHA SANCHES afirma que na “cobrança de taxas pela mera
utilização do domínio público, sem qualquer atividade por parte do detentor desse mesmo domínio
público, não há um custo a cobrir e as receitas serão afetas às necessidades gerais do sujeito ativo”,
configurando, então, um imposto.
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Lógica do sinalagma jurídico – tem de haver uma contrapartida, pela qual se paga por se
beneficiar do bem ou serviço.
• Não pode ser ad valorem (não pode estar relacionado com o valor do bem, rendimento,
etc.) e tem de estar relacionado com o custo e o benefício (Princípio da Cobertura dos
Custos).
2. As taxas também se caracterizam por serem bens ou serviços individualizáveis, que tenham
uma existência presente, não podendo ser futuro
• Os bens/serviços são Divisíveis e cada um paga a sua utilização
• Tributa-se pela utilização individual do bem – se o pagamento do tributo trouxer
externalidades então perde o cariz individual e não pode ser considerado uma taxa.
Ex: Propinas
• As que pagamos têm de ser para nós, na licenciatura, não podem financiar os mestrados.
• Não podem ser cobradas propinas para financiar alargamento da biblioteca porque o
bem é futuro e podemos vir a não beneficiar dele.
• Mas, pagar logo as propinas do ano todo não é pagar por um bem futuro, porque tudo
indica que esse ano vai funcionar e que o estudante está inscrito e vai beneficiar desse
ano todo.
Não havendo reserva de lei, o controlo constitucional destes tributos tem de assentar na
sinalgmaticidade, ou no princípio da cobertura de custos.
➢ As taxas têm um sinalagma jurídico e económico.
A bilateralidade da taxa também tem de ser aferida pelo montante cobrado e não se pode
separar o sinalagma jurídico da quantificação da taxa.
• Só há bilateralidade se os custos pelo bem utilizado, serviço prestado ou remoção do
obstáculo não excederem o benefício recebido por parte do particular – Princípio do custo-
benefício.
o A taxa pode ser inferior ao custo, caso em que o referido custo tem de ser
também financiado por transferências de impostos. Ex: proposta de
financiamento dos transportes públicos
o Mas o valor a cobrar pela taxa nunca pode ser superior ao da utilidade prestada,
sob pena de se estar a sair da bilateralidade e estarem a ser cobrados impostos
cuja competência está sujeita a reserva de lei.
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TC (Acórdão 68/200719 e Acórdão 215/2005): utilizar o valor patrimonial de imóveis para cobrar
taxas tem subjacente que, apesar desse valor patrimonial também ser uma manifestação da
capacidade contributiva, isso reflete o custo e a utilidade necessária para a quantificação das
taxas.
➢ Mas tal não pode ser alheio ao custo-benefício20, e o resultado não pode ser
manifestamente desproporcional.
➢ APD: Controlo pela negativa e tutela frágil dos contribuintes
Legislação evoluiu para definir um teto máximo para o emolumento, que é bilateral
Em Itália e na Alemanha há o entendimento que as Taxas devem ser sujeitas a Reserva de Lei,
de forma a que haja um controlo jurisdicional da aplicação do princípio Custo-Benefíco.
➢ APD: entre nós, a desproteção do contribuinte em matéria de taxas é clara – o princípio
do custo-benefício não é aplicado pelos tribunais; a ausência de leis deixa uma margem
ampla de discricionariedade às entidades públicas.
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Onde afirma expressamente que apenas se exige um Sinalagma Jurídico.
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Não se pode ter em conta elementos completamente alheios ao custo-benefício – como o atender aos
rendimentos, pois isso é pura capacidade contributiva
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Outro Exemplo: Ponte 25 de Abril e aumento das portagens nos anos 90
➢ Problema principal era estar a aumentar-se a portagem para financiar a outra ponte.
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1. Há regulamento geral de taxas municipais e previa-se que os municípios podiam criar taxas
relacionadas com os serviços de proteção civil.
➢ As competências da proteção civil são muito amplas e ocorrem em todo o território,
mas estão delimitadas em cada município.
Portanto, à partida seria possível criar num município esta taxa, pois elas são delimitadas
espacialmente – quem beneficia são os residentes em Lisboa.
➢ Mas não são somente os residentes Lisboa que beneficiam da taxa -> há turistas,
pessoas que vêm trabalhar e etc.
o Há externalidades, o que caracteriza os impostos e não as taxas.
Em Lisboa seriam só os proprietários de imóveis a pagar.
➢ Ainda mais limitado o tributo é e ainda mais gente beneficia enquanto externalidade
(arrendatários e etc.)
Tribunal Constitucional concordou que objeto de incidência era demasiado limitado para ser
uma taxa.
3. Também havia um problema no cálculo do valor a pagar – era relacionado com o valor
patrimonial dos prédios que constava do IMI.
➢ Portanto, tinha uma lógica ad valorem típica dos impostos.
o Taxas têm lógica diferente: montante a pagar por uma taxa não pode ser ad
valorem e tem que ver com o custo-benefício.
Na taxa de proteção civil o montante teria de estar relacionado com o valor dos serviços
prestados.
➢ APD: para ser uma taxa, valor a pagar teria de ser distribuído sobre todos ou alguns
residentes e esse montante teria de estar relacionado com o custo dos serviços
prestados pela proteção civil e não poderia ser superior a esses serviços prestados.
o Não era relacionado com o benefício de passar aquela ponte – era um custo para
pessoas que não iam ter o benefício futuro.
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Contribuições Financeiras
Após a revisão CRP 1997 terminou a dicotomia entre impostos e taxa e introduziu-se uma
terceira categoria de tributos.
• Casalta Nabais: esta não é uma 3ª categoria de impostos e reconduz-se às outras duas.
• Ana Paula Dourado: é uma 3ª categoria e tem características próprias.
As Contribuições que têm sido criadas podem ser agrupadas em algumas categorias, tal como a
doutrina as tem sistematizado:
1. Serviços de Interesses Difusos – beneficiam concretamente alguns grupos de destinatários,
mas com externalidades positivas. Ex: prevenção de riscos naturais
➢ Sinalagma Difuso: não é bilateral nem unilateral e provoca externalidades positivas
As taxas de regulação económica24 têm vindo a proliferar e são essenciais para financiar as
despesas e garantir a independência das entidades reguladoras – serviços prestados por
privados que ainda têm algum interesse público e/ou pretendem evitar a concorrência desleal.
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Elemento importante da parafiscalidade.
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A parafiscalidade está relacionada com a regulação económica
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Que o TC evitou qualificar tributariamente no Acórdão 613/08, embora reconhecendo que se
aproximavam de taxas.
Ana Paula Dourado enquadra nas contribuições especiais.
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Paula Rosado Pereira: também as quotas para as ordens profissionais são contribuições financeiras, tal
como as “taxas” de audiovisual.
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A parafiscalidade está relacionada com o sinalagma difuso e de grupo
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Para não violarem os princípios constitucionais têm de respeitar os seguintes critérios materiais:
A. Contribuintes devem constituir grupo homogéneo
B. Contraprestação deve ser suportada pelo grupo de destinatários/beneficiários dos
serviços – pode ser o “conjunto dos regulados”
C. Deve existir uma utilidade do grupo
D. Montante deve suportar o teste de proporcionalidade/equivalência – por se
caracterizarem através de um sinalagma difuso, tem de se atender ao Princípio da
Equivalência que se traduz em:
• Benefício do grupo tem de ser repartido igualmente por todos os beneficiários,
presumindo-se uma utilidade ou benefício potencialmente idênticos, mesmo
que em cada ano fiscal esse benefício possa variar em concreto.
o O grupo de beneficiários deve pagar uma contraprestação igual – tem
de se presumir/assumir a igualdade, pois o sinalagma é difuso. Ex:
Gastos totais da Reguladora a dividir IGUALMENTE pelas Reguladas.
• Quantificação do montante do tributo é através da utilidade do grupo.
Correspondência entre o montante a cobrar e os custos da entidade reguladora,
observando-se os princípios da objetividade, transparência e não discriminação.
• Deve fixar-se o montante máximo do tributo a cobrar a cada operador, sob pena
de não existirem limites para os custos das entidades reguladoras e/ou de se
criarem tributos confiscatórios.
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Benefícios Fiscais
Desagravamentos fiscais que introduzem exceções à incidência tributária, prosseguindo
finalidades extrafiscais.
➢ A situação da vida recairia nas normas de incidência, mas estas são afastadas devido a
uma lei que introduz um regime mais benéfico.
o Por serem excecionais violam o princípio da igualdade – têm de ser justificados
por princípios que se sobreponham à igualdade e, em regra, ter duração
limitada.
Art. 2º/1 Estatuto Benefícios Fiscais define este conceito: “Consideram-se benefícios fiscais as
medidas de carácter excecional instituídas para tutela de interesses públicos extrafiscais
relevantes que sejam superiores aos da própria tributação que impedem.”
• “Interesses públicos extrafiscais relevantes” é concretizado através dos princípios
materiais legitimadores dos benefícios fiscais:
27
Se não o for, estamos perante um Imposto, que pode ter finalidades extrafiscais cuja consequência da
sua falha é a arrecadação de receitas.
26
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
• Finalidades Políticas – atendendo aos fins, tem de haver uma ideia de reciprocidade.
o Ex: isenções do pessoal diplomático e das embaixadas, com base na convenção
de Viena sobre Direito Diplomático – só há essa isenção quando a embaixada
exerce a sua atividade no sítio da isenção.
Finalidades Religiosas: art. 21º -> exercício do culto e dos ritos, de assistência religiosa, de
formação dos ministros do culto, de missionação e difusão da confissão professada e de ensino
da religião.
➢ Quem prossegue estas finalidades são igrejas ou comunidades religiosas, sendo, à
partida pessoas coletivas que pagam IRC
28
Quando o escopo e a incidência desses Benefícios Fiscais são muito limitados tem de se ponderar se se
justifica a violação da igualdade.
29
Muitas vezes os Benefícios Fiscais com finalidades económicas são atribuídos com base em Contratos
Fiscais.
➢ São contratos entre o Ministro das Finanças e o contribuinte que beneficia dos Benefícios Fiscais.
o Como são celebrados com cada uma das entidades, eles devem ser públicos para
escrutinar a sua constitucionalidade – não podem ser contratos secretos. Ex: como
aconteceu com os acordos secretos entre a Google/Apple/Amazon e a Irlanda
o De um ponto de vista constitucional, o secretismo coloca sempre problemas de
igualdade
27
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
No entanto, há certas prestações que estão livres de impostos (art. 31º) e estas igrejas
beneficiam de certos benefícios fiscais (art. 32º).
Montantes cobrados pelas igrejas podem ir para 2 fins, estando livres de impostos: art. 31º/1/a
ou art. 31º/1/b
E se as coletas públicas (art. 31º/1/b) forem afetas à criação de uma SGPS para prosseguir
atividades lucrativas, também se pode isentar de imposto? A coleta inicial, ao ser passada para
uma SGPS, perde os benefícios fiscais?
• Essa SGPS pode estar mediatamente relacionada com os fins religiosos -> criação de um
canal TV para difundir a mensagem
• Essas SGPS podem ter outra atividade lucrativa qualquer
APD: pode ser criada a SGPS, pode ter muito lucro, mas, depois, tem de se fazer um controlo
dos lucros e para onde é que eles são canalizados.
E se esses montantes forem afetos à compra de apartamentos de luxo para certos membros da
igreja?
➢ APD: atendendo ao art. 103º RGIT, a obtenção indevida de benefícios fiscais pode
constituir uma fraude fiscal.
o Não deve ser atribuído o benefício se houver essa afetação à compra de
apartamentos de luxo sem a comunicação ao fisco.
➢ É uma situação de abuso de confiança – há apropriação indevida dos montantes pois
eles eram destinados à Igreja/Comunidade Religiosa e foram canalizados para certas
pessoas específicas para as quais não se dirigiam.
Sem o art. 31º haveria muitas situações que cairiam na capacidade contributiva e seriam
tributadas em sede IRC.
➢ Esta norma vem excecionar o âmbito da incidência, tendo de ser justificada por
princípios superiores à violação da igualdade e trazer um contributo de bem-estar
geral na sociedade.
28
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Relação Jurídica Tributária – relação de Direito Público entre sujeito ativo e sujeito passivo e,
como tal, confere a estes últimos direitos e deveres.
• Lei Geral Tributária: tem por objeto a disciplina dos direitos e deveres dos sujeitos
passivos, na sua relação jurídica tributária, contendo também o procedimento
tributário.
30
Sucessão de atos dirigidos à declaração de direitos tributários
31
Pode ser o Estado, as Regiões Autónomas, as Autarquias Locais, ou qualquer entidade pública de base
não territorial.
29
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
1. Contribuinte
= contribuinte direto = contribuinte originário = substituído = devedor do imposto
2. Substituto Tributário
Sujeito que tem obrigações conferidas por lei, relacionadas com a retenção do imposto do
contribuinte e que tem de ser entregue ao fisco.
➢ Sujeito passivo que, por imposição da lei, está obrigado a cumprir prestações
materiais e formais da obrigação tributária em lugar do contribuinte – art. 20º/1 LGT
30
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
o É sujeito passivo, mas não é contribuinte – quem está a ser tributado não é o
substituto, ele apenas auxilia a tributação do substituído.
Figura que surgiu no Reino Unido, no final do séc. XIX, como um meio de prevenir a evasão fiscal
– sucesso mundial e adotada em muitos Estados.
• O fisco recorre a uma entidade privada – A)devedora de rendimentos e B)com
contabilidade organizada (de modo a permitir o controlo das retenções e entrega do
imposto retido) – para o auxiliar a liquidar e cobrar receitas fiscais32.
o 1º Dever: retenção
o 2º Dever: entrega ao fisco
• Recaem normalmente deveres de retenção na fonte sobre as entidades empregadoras,
as entidades que prestam serviços, as entidades financeiras que pagam rendimentos de
A entrega de tributo por parte do substituto ao fisco, sem ter existido retenção do mesmo,
confere direito de regresso por parte do substituto em relação ao substituído, a exercer nos
termos da lei civil.
32
Mecanismo da Substituição é útil para garantir a capacidade financeira do Estado – retenção na fonte
diminui o risco e aproxima o facto pelo qual se cobra o imposto e a sua entrada nos cofres do Estado
33
Prevenir a evasão fiscal aliado ao princípio da praticabilidade (dado o Direito Fiscal ser um direito de
atos-massa).
31
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Pode ser:
A. A título definitivo
• Imposto de Obrigação Única – no ato do pagamento do imposto extingue-se a
obrigação. Ex: juros34
Substituição Total
• Não-Residentes: há logo obrigação do substituto de reter definitivamente na fonte, com
taxa liberatória
o Retenção a Título Definitivo, devido a ser difícil tributar o não-residente, pelo
facto de que quem tem informação para tributar o imposto pessoal é o Estado
da residência.
• Residentes (Categora E, IRS): há taxa liberatória que libera o contribuinte de qualquer
outra obrigação de contribuição – caso dos juros que recebe do banco
o Retenção a Título Definitivo, devido a tal não ser englobável.
Quanto ao trabalho dependente, só é uma Retenção por Conta se o Sujeito Passivo for
RESIDENTE em Portugal.
Substituição Parcial
• Há uma aproximação ao imposto final – Contribuinte ainda depois vai ter
responsabilidade de verificar o acerto (pagar ou receber), não está liberado
Se não houve retenção, substituído recebeu montante bruto do salário (livre de imposto) – é
sobre ele que o Fisco vai agir, pois é sobre ele que recai obrigação de imposto.
➢ Se ele não tiver património suficiente vai haver lugar a Responsabilidade Tributária –
entidade empregadora violou o seu dever, sendo a consequência que ela se torna
responsável tributária.
34
Diferença entre os jutos e o rendimento do trabalho dependente é que o rendimento do trabalho
(categoria A, IRS) é englobado e sujeito a progressividade e o rendimento de capitais (categoria E, IRS) é
tributado a uma taxa fixa e não são englobados.
32
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Responsável tributário é o sujeito passivo que violou deveres legais e a quem é exigido, na
sequência dessa violação, o pagamento de uma dívida tributária de outrem (sujeito passivo
originário = contribuinte = substituído), não atempadamente paga – art. 22º/4 LGT
➢ Pelo facto de a responsabilidade tributária ser uma responsabilidade pela dívida de
outrem35, ela não deve ser reconduzida à responsabilidade civil. Também não é
responsabilidade criminal.
Entidade empregadora reteve e não entregou – Fisco vai à entidade empregadora pedir.
➢ Presunção da lei que trabalhador não consegue saber se o retido foi entregue – ele não
tem domínio da situação e a sua responsabilidade extinguiu-se quando recebeu
rendimento líquido.
Responsabilidade tributária efetiva-se por reversão do processo de execução fiscal (art. 23º/1
LGT).
➢ A reversão contra o responsável subsidiário depende da fundada insuficiência dos bens
penhoráveis do devedor principal e dos responsáveis solidários, sem prejuízo do
benefício da execução (art. 23º/2 LGT).
35
Especificidade da responsabilidade tributária: obrigação por dívida de outrem.
33
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Art. 105º RGIT – pode gerar abuso de confiança, quando se desviam os montantes das suas
finalidades.
Art. 28º/2 – Não retenção na fonte do imposto por conta (e consequente não entrega)
→ Responsabilidade: Substituído e, subsidiariamente, Substituto
Art. 28º/3 – Não retenção na fonte a título definitivo (e consequente não entrega)
→ Responsabilidade: Substituto
Substituto tem responsabilidade originária pelo pagamento do tributo não retido e respetivos
juros compensatórios.
➢ Ao substituído cabe apenas responsabilidade, pelo cumprimento da sua própria
obrigação tributária, a título subsidiário.
o Em casos de retenção definitiva é mais difícil a Autoridade Tributária recuperar
o montante devido junto do substituído37:
36
APD: não é “responsabilidade tributária” mas sim a obrigação de pagar imposto que sobre ele recai.
37
APD: Lógica da praticabilidade e de quem é mais fácil alcançar
34
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Parte-se do art. 28º e só se a pessoa coletiva não tiver património é que se vai para o art. 24º
• Caso de Sociedade em que há decisão tomada por um dos gestores de não entrega dos
montantes ao fisco no prazo exigido por lei.
o Contribuinte ficou liberto da sua obrigação porque houve retenção.
o Há responsabilidade tributária da entidade empregadora, cujo património vai
ser executado.
▪ Mas Sociedade não tem património suficiente.
➢ Pode haver uma responsabilização do gestor – art. 24º LGT.
➢ Responsabilidade é do gestor que tomou a decisão ou do que
no momento do pagamento não o efetuou?
Tem de se provar que o património da pessoa coletiva não se tornou insuficiente para a
satisfação das dívidas por culpa do gestor.
38
Gestor de Facto vs. Gestor de Direito
➢ De facto – pode ser responsabilizado
➢ De direito – discussão na jurisprudência
o E se na prática esteve ausente e não teve contacto com a Sociedade?
▪ Negligência não liberta de culpa quanto à responsabilidade tributária.
o E se tinha o pelouro mas não sabia de nada?
o Tem de se avaliar caso a caso e ver se pode ser liberto de responsabilidade.
▪ APD: só fica liberto de responsabilidade se houver gestor que de facto assumiu
essas funções. Não pode é haver presunção de gestão de facto – a gestão tem
de ser aferida no caso e a jurisprudência que advoga essa presunção merece
crítica.
35
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
A) Caso em que o facto constitutivo das dívidas tributárias verificou-se no período em que
gestor exerceu o cargo e o prazo legal de pagamento/entrega terminou depois deste cessar
funções
• Não existe presunção de culpa se o prazo legal de pagamento/entrega terminou depois
do exercício do cargo.
• Na dúvida, o ónus da prova funciona a favor do gestor.
O ónus da prova pode correr contra o substituto-responsável tributário (art. 24º/1/b LGT).
➢ Mas essa culpa do substituto tem de ser apurada, apesar do disposto no art. 28º LGT
Noção funcional de culpa: não é juízo de mérito do gestor, mas sim aferição se o gestor cumpriu
ou não os deveres tributários e tinha ou não competência legal ou factual para tal.40
Averiguação de culpa:
1º. Identificação do responsável pela decisão de não cumprir o dever tributário de retenção
e/OU entrega do tributo41;
2º. Ter em conta os deveres de diligência e a relação existente entre o presumível
responsável e o sujeito passivo originário.
a. No caso de Sociedades, deve indagar-se acerca da boa organização da sociedade
e se havia um departamento responsável pelas obrigações tributárias – permite
saber se essa boa organização lhe permite cumprir devidamente as suas
obrigações ou se é defeituosa42.
39
Presunção da alínea b), que só depois de ilidida é que se pode indagar da presunção da alínea a)
40
Deve ter-se em conta o estado de necessidade, a situação de impossibilidade absoluta, consentimento
da instituição credora, erro desculpável e etc.
41
Temos de ver quem tomou a decisão e o porquê de ela ter sido tomada – pode haver uma explicação,
nos termos da lei, que evita que o gestor se torne responsável tributário.
42
APD: Devido à crise de 2008, há uma necessidade de os departamentos de compliance da Sociedade
estarem bem delimitados e perceber-se bem quem pode ser responsabilizado.
➢ Apura-se melhor se a responsabilidade do gestor.
36
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Na apreciação dos deveres de diligência há que ter em conta que decorre um período entre a
retenção e a entrega, durante o qual o particular substituto não deve ser visto como um fiel
depositário
➢ APD: apesar de implicitamente ser isso que a jurisprudência entende.
➢ Os montantes são fungíveis, podendo ser movimentados durante esse período – gestor
tem de os gerir de forma razoável.
o Pois a pessoa coletiva não é proprietária do património, que é do Fisco, pelo que
o gestor deve tratá-lo como montante alheio.
3º passo: para averiguar a culpa é necessário indagar por que razão o património da sociedade
se tornou inexistente para pagar a dívida do imposto.
➢ Ou seja, saber se o gestor contribuiu para essa insuficiência ou inexistência.
o Não é um julgamento de mérito e é saber se o comportamento do gestor foi
diligente, ou não, tendo sempre em vista assegurar o cumprimento de todos
os deveres fiscais da sociedade.
Se não houve crime fiscal (fraude; abuso de confiança e etc.) e não havia intenção de ocultar e
desviar, tem de se perguntar qual o risco assumido por parte do gestor.
Ex: gestor deposita montante numa instituição financeira, que depois fica insolvente – não podia
prever isto, portanto, o risco corrido ao se depositar lá os montantes é baixo.
37
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Se for afeto a pagar outras obrigações fiscais também pode não ter risco elevado.
➢ Ex: pagou IRC da empresa, pois à partida os reembolsos do IVA iam fazer retornar o
montante.
o Lógica de compensação em sentido amplo.
➢ Não havia muito risco porque o gestor contou que o Estado fosse um devedor fiável –
mas para isso tem de se ter em conta as condições económicas atuais do Estado.
APD: ponderação tem de ser feita caso a caso, tendo em conta o risco concreto do gestor
➢ Análise de substância da culpa vale para o que tomou a decisão e para o que estava no
cargo no momento do pagamento.
Resumo:
• À partida, quando à situação de crime automaticamente há responsabilidade tributária
– os pressupostos do crime são mais exigentes.
• Não existindo situação de crime fiscal (como a fraude fiscal), tem de se averiguar a
culpa, que implica saber se a sociedade estava bem organizada, com departamento
responsável pelo cumprimento das obrigações tributárias, quem eram os gestores desse
departamento e aqueles que, em concreto, foram responsáveis pela decisão.
• A partir desses gestores, temos de aferir como se tomou a decisão e se eles assumiram
um risco elevado ou se a decisão de não pagar imediatamente não corria risco.
2. Património da sociedade não é suficiente para pagar dívida de IRS ou montantes para a
segurança social retidos.
3. Património da sociedade não é suficiente para pagar dívida de IRC da sociedade – este caso
não é de Responsabilidade, a dívida é da Sociedade.
44
Não foi entregue o montante ao fisco porque, numa situação de crise, o gestor teve de pagar salários
evitando despedir trabalhadores – argumento que normalmente não é aceite, todavia é muito invocado.
➢ art. 103º/1, 2 e 104º vs. art. 59º/1/a CRP.
➢ Esta justificação não faz sentido no IVA, imposto externo em que sujeito passivo é mero
depositário.
38
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Diferença entre o IRC e o IVA + IRS é que nestes últimos temos impostos de outrem, que tinham
de ser geridos com diligência por parte da Sociedade, cujo gestor tinha a responsabilidade por
esse tratamento.
➢ No caso do IRC, é um imposto que é devido pela própria sociedade – portanto, se o
património falhou, desde que não tenha havido crime (delapidação danosa do
património) não há reversão da execução do património.
Aos Responsáveis Técnicos cabe assegurar o respeito pela lei civil ou fiscal.
• Se tiver havido violação dos deveres de entrega e de cooperação por parte dos gestores
da sociedade, cabe aos responsáveis técnicos revelar tais factos, desde que devam
tomar conhecimento deles na tarefa de certificação de contas das sociedades ou
pessoas coletivas que auditarem.
• Os responsáveis técnicos também podem ser responsabilizados por falsas declarações
fiscais.
39
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
45
Conceito que surge relacionado com o Direito Fiscal Internacional
40
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Se promotor não for residente ou não tiver havido promotor, cabe ao utilizador proceder à
sua comunicação ao diretor-geral de impostos.
5. Sucessão Tributária
Art. 29º/2 LGT – pode haver transmissão das obrigações tributárias em caso de sucessão
universal por morte.
➢ Esta transmissão pode corresponder a obrigações tributárias originárias ou subsidiárias,
o que significa que cobre a responsabilidade tributária.
O seu incumprimento, consoante a sua gravidade, dá origem a sanções nos termos do RGIT.
46
O escândalo dos Panama Papers revelou que havia escritórios de advogados que faziam esquemas de
planeamento fiscal agressivo
41
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
47
Remonta a Hensel e tem funções de organização do Direito Fiscal.
42
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Doutrina de Alberto Xavier, que discuti se a obrigação tributária nasce com o ato administrativo
de determinação da matéria tributável está ultrapassada.
APD: o que é relevante é assegurar a possibilidade de defesa do sujeito passivo contra
ilegalidades cometidas pelo Fisco, através de reclamação, recurso ou impugnação judicial (art.
268º/4 CRP + art 9º/2 LGT)
43
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
1. Tributação de Multinacionais
▪ Não se pode ter em conta o grupo e cada Estado apura quanto à
entidade que opera no seu território.
▪ O regime específico quando há transferência de um ordenamento
jurídico para outro é específico e complexo (STA: não são correções
quantitativas pois a correção da matéria tributável “para mais” num
Estado implica a correção simétrica “para menos” noutro Estado).
2. Grupo Empresarial que opere somente em Portugal
▪ Tributação devia ser do resultado do conjunto – o lucro devia ser
apurado em relação a todo o grupo, sem o dividir entre as partes do
grupo económico, cujo interesse, em termos de tributação, seria o
apuramento global/consolidado do grupo48.
▪ Direito Fiscal resolve esta situação vendo cada uma das pessoas
coletivas como um sujeito passivo.
Transações entre as empresas do mesmo grupo têm de ser tratadas como se de empresas
independentes se tratasse (está previsto no art. 63º CIRC) – princípio das entidades
independentes/princípio da plena concorrência.
• Art. 63º CIRC e regime da Portaria 1446-C/2001 contêm regras específicas na
determinação da matéria tributável de entidades que realizam operações comerciais
com outras entidades com as quais mantêm relações especiais.
48
APD: é o que faz mais sentido, pois se se tributar autonomamente cada uma das partes do grupo pode
haver lucro num lado e não noutro.
44
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
45
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Perdões fiscais têm de ser justificados por finalidades extrafiscais que, no caso concreto, se
sobreponham à igualdade.
➢ Têm de ter uma aplicação excecional.
➢ Devem ser acompanhados de reformas fiscais para evitar a repetição do
comportamento de fuga de capitais, no futuro.
o Pode aprovar-se regime com a justificação de falta de investimento e poupança
em Portugal, tentando que os capitais retornem ao país para contrariar essa
situação.
o Para respeitar o princípio da igualdade dever-se-ia indagar se existem outras
medidas fiscais que acompanham este regime excecional. Ex: redução para
futuro da tributação de capitais – estímulo legislativo ao repatriamento dos
capitais e medida geral que envia sinal de que o que se pretende é que a
46
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
APD: é duvidoso que os RERT tenham tido um objetivo de repatriamento de capitais, dada a
sua sequência temporal e dado o facto de o último não ter excluído os paraísos fiscais. Além
disso, não foi introduzida uma tributação menos gravosa do investimento e poupança.
➢ A comparabilidade entre contribuintes faltosos e cumpridores exige que a separação
temporal entre os regimes que estabelecem perdões fiscais vá muito além de cada
ano/exercício fiscal.
➢ APD: a partir da aprovação de um regime excecional de perdão fiscal tem de se ter em
conta o período de prescrição das dívidas fiscais até eventual aprovação de novo
perdão fiscal, para evitar uma nova violação do princípio da igualdade.
o Senão, isto é sinal a todos os contribuintes de que vale a pena não pagar as suas
obrigações fiscais – espera-se 1 ou 2 anos e vem aí outro perdão fiscal.
o Responsabilidade é do TC verificar se existem princípios superiores que
justifiquem e se passou um período mínimo para que não haja aproveitamento.
Não existindo esse pagamento voluntário, passa-se à fase do pagamento Coercivo – art. 40º
LGT, art. 78º CPPT
• Cobrança coerciva é desencadeada com a emissão de um Título Executivo: certidão de
dívida ou outro título enunciado no art. 162º CPPT.
o Certidão de dívida é extraída findo o prazo legal de pagamento voluntário e
contém todos os elementos identificadores necessários à cobrança da dívida
(art. 88º CPPT).
• Órgão da execução fiscal é a Administração Tributária (art. 149º CPPT), competindo-
lhe instaurar o processo (art. 178º e ss.) e aos tribunais decidir os incidentes (art.
151º).
47
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
o Estado pode penhorar os bens mas nada garante que eles são vendidos e que o
produto da venda cobra todo o montante da dívida fiscal.
Art. 264º e 265º permitem o pagamento voluntário durante o processo de execução – tutela
interesse do sujeito ativo em conseguir pagamento voluntário.
A caducidade do poder de liquidação por decurso do prazo decorre dos princípios gerais de
Direito, destinados a assegurar que as situações de incumprimento de obrigações não fiquem
eternamente pendentes.
• A segurança e a paz jurídicas recomendam harmonização de prazos de caducidade, que
não podem ser demasiado longos.
A formação da dívida tributária após a liquidação validamente notificada faz correr o prazo de
pagamento voluntário e o prazo de prescrição – começa a contar a partir do momento em que
ocorre o facto tributário, e quando atingido o limite do prazo, a prescrição abrange a dívida,
juros compensatórios (art. 35º/1 LGT) e juros de mora (art. 44º LGT).
➢ Também podem ser devidos juros indemnizatórios – obrigação quase simétrica dos
juros compensatórios (Saldanha Sanches) – nos termos do art. 35º
48
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Princípios Constitucionais de Direito Fiscal já vêm desde o séc. XIX e das Monarquias
Constitucionais – garantia dos cidadãos contribuintes relacionado com o princípio da segurança
jurídica.
A justiça fiscal implica a escolha dos impostos segundo um princípio do benefício, determinando
a matéria tributável e os limites da carga fiscal.
• No Estado Fiscal, os limites da carga fiscal estão relacionados com as tarefas estaduais.
• No quadro da UEM, os Estados que não conseguem ter competitividade, veem os seus
limites da carga fiscal sem estar politicamente relacionado com a lógica do Estado Fiscal.
TC não tem sido muito ativo quanto à emissão de juízos de compatibilidade das leis fiscais com
os princípios fiscais materiais.
• No entanto, no período do Memorando de Entendimento com a Troika houve alguma
proatividade.
o A ausência de representatividade democrática supranacional, quer do FMI, quer
das entidades que representaram a UE, fez com que os princípios
constitucionais fiscais materiais prevalecessem quando o TC avaliou a
compatibilidade das medidas adotadas ao abrigo do Memorando de
Entendimento com a CRP.
o Muitas das medidas foram declaradas inconstitucionais – apesar dos
compromissos perante os credores terem de ser respeitados, por serem
compromissos internacionais, os Memorandos de Entendimento têm de ser
concretizados respeitando as Constituições nacionais.
49
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Todos estes princípios têm de ser interpretados à luz das liberdades fundamentais do TFUE
Portanto:
1. Princípio da Legalidade
2. Princípio da Proibição da Retroatividade
3. Princípio da Igualdade Fiscal
➢ IRS
4. Princípio da Tributação do Rendimento Real
➢ IRC
5. Caracterização do Sistema Fiscal Português – outros impostos
➢ IVA
➢ Impostos sobre o Património
6. Princípios Interpretativos do Sistema Fiscal Português
➢ Praticabilidade
➢ Proibição do Abuso
50
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Princípio fiscal formal com origem nas monarquias constitucionais, assegurando que a
interferência na propriedade privada resulta de discussão e aprovação parlamentar.
• No taxation without representation – princípio democrático
o Os impostos são pressupostos do Estado e fundamentam-se na representação
popular.
• A lei é o ponto de partida para garantir a segurança jurídica, por ser aprovada pelos
representantes parlamentares, servindo a igualdade por ser geral e abstrata.
Função garantista da reserva de lei parlamentar está em crise desde a segunda metade do séc.
XX, porque o aumento de intervenção do Estado na sociedade tem sido acompanhado pelo
aumento das competências técnicas governamentais e por uma menor capacidade de discussão
parlamentar das matérias a aprovar.
➢ A crise da função garantista da reserva de lei parlamentar significa a crise (relativa) do
princípio da legalidade fiscal.
49
Na prática os tributos já não são criados no Parlamento, tout cour, mas a sua aprovação e discussão
tem de ser em Plenário da AR.
➢ Só assim se garante a função de indirizzo (orientação) da AR.
50
APD critica argumentação do Governo: mesmo que as alterações aprovadas por DL sejam mais
benéficas para o cidadão, se tal não constava da autorização legislativa então não podia ser feito.
51
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
É o Princípio Democrático que fundamenta e postula a reserva de lei parlamentar, não sendo
suficiente a reserva de lei formal (no sentido de ato legislativo51).
➢ Manifesta-se no procedimento legislativo parlamentar, que permite a discussão pública
da lei e o contributo da oposição (desacordo ou consentimento).
Ser Reserva Relativa está associado à afirmação corrente de que os governos dispõem de
legitimação democrática por emanarem dos Parlamentos
➢ Reis Novais: homogeneização política da AR e do Governo
51
Sérvulo Correia: este princípio impede que a reserva de lei se reconduza a uma simples reserva de
norma jurídica, uma vez que nem a Constituição concebe um poder que se não funde no povo, nem o
seccionamento da ligação entre a vontade popular e a emissão de normas deixaria de por em causa a
bondade do conteúdo destas.
52
APD: que também acontece entre Portugal e a UE – há transferência dos Governos para o Conselho da
União Europeia (art. 113º e 114º TFUE), no quadro de uma harmonização fiscal europeia.
52
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
➢ APD: Hoje em dia, no princípio da legalidade há uma inversão – é governo que tem
iniciativa legislativa53 e pede a AR autorização legislativa.
o Esta inversão tem a ver com a tecnicidade das matérias. A nível parlamentar há
somente uma discussão política dos assuntos. Desde que haja debate
parlamentar não está em risco o princípio da legalidade.54
o Há vários Estados em que Governo não tem poderes legislativos – há um maior
cumprimento da Reserva de Lei (ex: Holanda, EUA) com uma maior discussão
parlamentar.
O Governo tem sido o órgão legislativo por excelência, dominando a atividade legislativa em
relação ao Parlamento.
➢ Mas, em matéria de impostos e sistema fiscal, a competência legislativa ordinária do
Governo depende de autorização legislativa parlamentar.
o Tem sempre de haver discussão na AR para garantir os direitos dos
contribuintes.
Leis de autorização legislativa não poder ser cheques em branco – têm de ter uma determinação
mínima do sentido
• Acórdão TC 358/92: os elementos constantes dos preceitos da autorização legislativa
têm de encerrar, em si mesmos, um critério orientador do uso dos poderes delegados.
o Tem de haver rigor na determinação do sentido da autorização em causa, por
forma que o preceito autorizador cumpra uma tripla função: conteúdo material
bastante da lei de autorização; linha de orientação do legislador delegado; elemento de
informação genérica das inovações a introduzir no ordenamento para os particulares.
o Sem isto, estamos perante uma autorização em branco, esvaziando a função
habilitante que ao Parlamento cabe assumir num processo legislativo especial
como é o das autorizações legislativas.
53
Após proposta dos Serviços, que apresentam proposta já com trabalho preparado.
54
Em Portugal, muitas leis fiscais não são discutidas a fundo porque são aprovadas no Orçamento de
Estado.
53
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
O sentido dado pela lei de autorização legislativa deve ter uma Tripla Vertente/Função (António
Vitorino + TC 358/92), por referência ao art. 103º/2:
a) Conteúdo material bastante: para quê?
• Finalidade da concessão dos poderes delegados, numa ótica do delegante. Ex:
para tornar IRS mais justo
b) Linha de orientação genérica do legislador: de que modo?
• Indicação genérica dos fins que o delegado deve prosseguir, numa ótica do
delegado. Ex: o que pode ser alterado no IRS
c) Informação genérica das novidades
• Sujeitos passivos devem poder fazer juízo de prognose de qual a alteração no
Ordenamento Jurídico – ele não tem de saber logo à partida qual o tributo que
vai ser pago, mas tem de haver amplitude restrita acerca desse montante a ser
pago. Ex: alteração dos escalões do IRS têm de ser num ou outro escalão e entre
certo valor.
Lei de Autorização Legislativa é diferente quando se está a falar de impostos ou outro tributo
A Tripla Vertente é diferente quando se trata de impostos.
➢ Lei de autorização legislativa deve versar sobre o An e o Quantum
An – incidência
• Em sentido amplo (não só objetivo e subjetivo): todos os elementos que servem para a
quantificação do imposto.
• Todos os elementos que podem interferir com os DLG dos contribuintes deve constar da
lei de autorização.
Quantum – taxa
Sousa Franco e Jorge Miranda: art. 165º/2 e art. 103º/2 devem ser conjugados
➢ O Parlamento tem de dar o seu acordo político sobre todos os elementos essenciais
dos impostos, dos benefícios fiscais e das garantias dos contribuintes, tal como
enumerados no art. 103º/2.
54
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Com a revisão da CRP de 1982 introduziu-se o poder tributário próprio das regiões autónomas,
tendo sido desdobrado, em 1989, em Poder Tributário Próprio e Poder de Adaptação.
Art. 227º/1/i CRP – as Regiões Autónomas dispõem, então, de poder tributário próprio, nos
termos da lei, e podem também adaptar o sistema fiscal nacional às especificidades regionais,
nos termos da lei-quadro da AR.
➢ Trata-se de um poder ou soberania tributária originária, pois é atribuída pela
Constituição.
o Casalta Nabais: quer o poder tributário do Estado quer o poder tributário das
regiões autónomas têm origem na Constituição, e nesse sentido são originários
e não derivados, pois o seu reconhecimento não depende de lei estadual. No
entanto, o poder tributário regional tem os seus limites fixados em maior ou
menor medida na lei (é apenas Poder Originário e não Originário Primário).
o Maria Luísa Duarte<3: poder tributário estadual é Originário (é inerente à
soberania do Estado); poder tributário regional é Derivado (pois é limitado e é
concessão do Estado)
B. Tese dos Centralistas – admitem somente um poder de adaptação dos impostos nacionais
➢ Sousa Franco, Saldanha Sanches
55
Tendência que surgiu nas Constituições dos meados do séc. XX em que se atribui soberania
(competência originária) fiscal às Regiões Autónomas ou Estados Federados – há legitimidade
democrática que justifica a soberania tributária.
56
Resulta do espírito da CRP que as Assembleias Legislativas Regionais não podem legislar/tributar em
sentido contrário ao da CRP
➢ Tem de ser dado grau de discricionariedade, mas dentro de ser amplitude, sob pena de
descaracterizar o sistema fiscal.
55
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Art. 57º/3 Lei das Finanças Regionais faz enumeração exemplificativa dos impostos que podem
ser criados pelas Assembleias Legislativas Regionais e limita-se a contribuições de melhoria e a
tributos extrafiscais de caráter ambiental.
➢ Em teoria, as Regiões Autónomas podem criar quaisquer tipos de impostos, desde que
não incidam sobre matéria objeto de incidência por impostos nacionais.
➢ Art. 112º/4 CRP faz menção à reserva de competência de certas matérias aos órgãos de
soberania, clarificando as proibições de as Regiões Autónomas extinguirem impostos
nacionais e de criarem impostos regionais com o mesmo objeto de impostos nacionais
em vigor.
➢ Art. 57º/1 e 2 LFR confirma isto.
As Regiões Autónomas podem dispor das receitas provenientes dos impostos nacionais e que
tenham conexão com o território daquelas, e uma vez que o espetro dos impostos nacionais
cobre todas as manifestações de riqueza, não é de estranhar que o poder de criação de
impostos pelas regiões, previsto na lei, seja quase insignificante.
➢ A disciplina do PODER DE ADAPTAÇÃO confirmam as teorias do Federalismo Financeiro
sobre a distribuição vertical de competências, pois é fundamentalmente dirigida à
concorrência fiscal, à concessão de benefícios fiscais sobre os impostos nacionais.
o MLD: pode levar à criação de paraísos fiscais
o APD: poder de adaptação pode revelar-se mais prejudicial para o Estado Fiscal
e princípios materiais fiscais do que a criação de impostos novos e adicionais
aos existentes.
56
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
ART. 238º/4 CRP, introduzido pela revisão de 1997, consagrou expressamente um poder
tributário dos municípios a exercer nos termos da lei, cujo alcance ainda não está delimitado.
➢ Não se trata de criar e adaptar impostos nacionais.
➢ Apenas legitima a atribuição legal de discricionariedade aos municípios, quanto a
elementos essenciais dos impostos.
o Casalta Nabais: art. 238º/4 não acrescenta nada de novo à adequada
compatibilização ou concordância prática do princípio da legalidade fiscal com
o princípio da autonomia local, pois o princípio da autonomia local sempre
permitiu que o legislador concedesse tais poderes tributários.
Alarga o objeto do art. 165º/1/i – além das taxas e de outras contribuições financeiras a favor
de entidades públicas, os impostos e o sistema fiscal, inclui na reserva de lei os benefícios fiscais
e as garantias dos contribuintes.
• O princípio da tipicidade dos impostos diz respeito ao An e ao Quantum dos mesmos –
exige-se que o objeto do imposto, o sujeito passivo, a base tributável (elementos que
concorrem para a determinação da medida do imposto) e a taxa do imposto sejam
definidos por lei formal.
• Benefícios Fiscais não fazem parte da incidência, porque prosseguem outras finalidades
– são normas extrafiscais. São normas de despesa fiscal.
57
No Direito Fiscal, quando os conceito jurídicos são vagos e indeterminados começa uma margem de
livre apreciação do Governo-legislador.
➢ Jurisprudência consolidada diz que a vaguidade dos conceitos não implica a indeterminação da
lei.
57
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
• As garantias dos contribuintes, na parte não coberta pelo art. 165º/1/i, é o corolário da
tipicidade do imposto e encontra a sua justificação no EDD (art. 268º/4 e 5 CRP).
i. TABESTAND DE GARANTIA
Incidência
An e Quantum da Obrigação Tributária – incidência em sentido amplo
• A incidência não se pode limitar ao facto tributário em sentido estrito e ao sujeito
passivo58 – risco de a reserva de lei fiscal não cumprir a sua função.
o Tem de abranger também todos os aspetos da quantificação – legalidade fiscal
tem funções garantistas e os impostos, mesmo que entendidos que entendidos
como deveres fundamentais, são limites imanentes ao direito de propriedade
individual.
o Também fazem parte as Normas de Conexão Unilaterais – definem os
rendimentos tributáveis de sujeitos passivos residentes e de não residentes.
o Também fazem parte as Normas Unilaterais de Atenuação de Dupla Tributação
– pois afetam o quantum do imposto a pagar.
58
Senão estaria em causa a definição do tipo fiscal – não se percebe até onde vai aquilo que está sujeito
a tributação.
59
Desenvolvimento do objeto – regras previstas para apurar objeto
60
Paula Rosado Pereira: variam de imposto para imposto.
• IRS: heteroliquidação
• IRC: autoliquidação
58
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Um exemplo de equívocos dos termos Lançamento e Liquidação tem surgido pelo caso da “taxa”
de comercialização de produtos de saúde.
Tribunal Tributário de 1ª Instância de Lisboa recusou aplicar uma disposição legal, por
inconstitucionalidade, na parte em que ela determinava que a taxa sobre a comercialização de
produtos de saúde incidia sobre o volume de vendas de cada produto, tendo por referência o
respetivo preço de venda ao público.
Referência valorativa só faria sentido num sistema de preços fixos e que o introdutor no
mercado (responsável pelo pagamento do tributo) sabe de antemão qual irá ser o valor do preço
de venda ao consumidor final.
• APD: concorda com este entendimento que a autoliquidação estava relacionada com os
elementos da quantificação do tributo, estando sujeitos a reserva de lei fiscal, sendo
que a base de quantificação ou de incidência era insuficientemente determinada.
Taxa/Alíquota
Art. 103º/2 – faz parte dos elementos essenciais do imposto
• Não apenas os limites mas a definição precisa da taxa de imposto tem de estar na lei.
• Outros princípios ou disposições constitucionais podem legitimar uma margem (estreita
ou não muito alargada) de discricionariedade quanto ao montante exato da mesma –
princípio da autonomia local; art. 238º/4 e etc.)
59
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Casalta Nabais: a consagração expressa da reserva de lei para os benefícios fiscais justifica-se
para evitar equívocos ou dificuldades de interpretação, sobretudo se se tiver em conta que os
benefícios fiscais são, por via de regra, medidas extrafiscais.
➢ Sendo extrafiscais estão sujeitas às regras do Direito Económico Fiscal, entre as quais
a reserva de lei parlamentar e, em parte, a regras flexíveis de adaptação à economia do
Direito Económico.
o Não são um elemento do tipo de imposto, relativos à determinação do an e
do quantum.
Diferente das normas fiscais stricto sensu (destinadas à obtenção de receitas fiscais), cuja
reserva de lei parlamentar está relacionada com preocupações garantistas e com o princípio do
Estado de Direito democrático, a reserva de lei parlamentar para os benefícios fiscais encontra
a sua justificação capital no facto de eles restringirem o princípio do Estado fiscal (justamente
porque este se caracteriza como o Estado cujas necessidades financeiras são essencialmente
cobertas por impostos) e de se desviarem do princípio da igualdade, na vertente da capacidade
contributiva, sendo esta um limite material constitucional ao legislador ordinário.
Inclusão dos benefícios fiscais no art. 103º/2 traduz a convicção de que a reserva de lei é um
dos instrumentos para garantir, simultaneamente, o legítimo afastamento dos princípios
constitucionais materiais do Estado fiscal e a observância dos princípios a que os benefícios
fiscais estão submetidos.
➢ Os benefícios fiscais podem esvaziar o tatbestand de garantia, portanto tem de haver
um controlo apertado para a exceção não ser a regra.
60
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
A função garantista da reserva de lei nunca foi entendida como dizendo respeito apenas às
normas desfavoráveis, mas sim a quaisquer alterações de regime, por estar em causa a
previsibilidade do montante do imposto (e da situação fiscal) e a tutela de confiança do
contribuinte.
➢ Mesmo as normas procedimentais e processuais têm de estar sujeitas a reserva de lei,
pois esse sistema de garantias, instituído por lei parlamentar ou DL autorizado, poderia
ser neutralizado (defraudado) pelo executivo por DL não autorizado.
o Se a alteração for substancial, tem de constar de lei – prazos têm de constar de
lei, pois eles contendem com direitos fundamentais, são questões substantivas.
o Se alterar questão meramente procedimental, não tem de constar de lei –
tecnicidades sobre o tamanho das folhas, declaração em papel, declaração
eletrónica e etc.
Determinação e Indeterminação
O princípio da legalidade fiscal exige que todas as leis em sentido formal (lei da AR; DL
autorizado; DLegislativo Regional) sejam suficientemente determinadas, de modo que os
particulares possam entender e prever as atuações da administração tributária (TC 233/94).
➢ Legalidade Fiscal Material exige que a lei seja suficientemente determinada, senão
teríamos uma legalidade vazia.
➢ O art. 103º/2 é uma concretização que vai além do art. 165º/2 – é uma aplicação deste
último artigo à matéria tributária.
o Todos os elementos do Tatbestand de Garantia têm de estar suficientemente
determinados na lei – senão havia uma espécie de fraude à CRP, pois acabar-se-
ia por não se cumprir as exigências da reserva de lei.
61
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Indeterminação da lei fiscal, devido às exigências da reserva de lei fiscal, postula uma
concretização progressiva da lei formal, através de DL, regulamentos, orientações genéricas e
etc.
➢ Na verdade, a indeterminação da lei fiscal raramente aconselha o juízo discricionário,
segundo as circunstâncias do caso.
o A indeterminação legal resolvida através de soluções individuais coloca em
causa o princípio da igualdade.
o Cabe sempre aos tribunais exercerem o controlo dos limites internos e externos
à margem de livre apreciação e à discricionariedade e por isso os acordos
secretos são proibidos.
Incidência Objetiva stricto sensu (Objeto do Imposto) – além da definição e enumeração das
manifestações típica de riqueza que cada imposto pretende atingir (pela técnica da tipicidade
tendencialmente fechada e através de tipos jurídicos estruturais ou reais), podem ser
consagradas cláusulas residuais que abram a tipicidade e atinjam manifestações de riqueza
semelhantes
61
PRP: Caso do art. 2º CIRC – tem 15 números e diversas alíneas. Se fosse exaustivo seria muito maior e
provavelmente cresceria de mês a mês.
62
PRP: podiam surgir outros problemas – como o facto de deixar de ser lei, por deixar de ser geral e
abstrata.
62
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Incidência Subjetiva (Sujeitos Passivos) – enumeração dos sujeitos não tem de ser taxativa, mas
exemplificativa, de modo a evitar que determinadas entidades, pela forma jurídica que
assumam, escapem do âmbito de incidência.
TJUE (C-282/12, Itelcar) já decidiu que havia normas portuguesas (do CIRC) que não eram
suficientemente determinadas para efeitos do Direito Europeu
63
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Não são inconstitucionais os DL Simples ou Regulamentos que não criem uma nova categoria de
incidência – isso acontece quando a norma não trata do critério definidor do tipo de deduções
à matéria coletável.
É também compatível com o princípio da legalidade, a atribuição por lei de uma margem de
apreciação à administração, na aplicação de critérios técnicos ao caso individual.
A densificação das leis fiscais tem de ser conjugada com o princípio da igualdade, o que significa
que as exigências de densificação não são absolutas, justificando-se que o legislador possa
recorrer a conceitos jurídicos indeterminados, com o objetivo de facilitar a aplicação da lei a
casos idênticos
Consagra um direito de resistência face a todos os tributos que não tenham sido criados de
acordo com a CRP e a lei.
➢ Também já resultava do art. 2º e art. 3º/2 CRP.
64
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
RETROSPETIVIDADE – quando a lei nova é aplicada a um facto com início no passado, mas que
ainda está a decorrer.
➢ Nos casos em que o facto tributário ainda está a decorrer estamos perante
Retroatividade Inautêntica
➢ É proibida se violar a proteção da confiança.
o Ainda valem os critérios do Tribunal Constitucional, pois não há proibição
objetiva da CRP, mas sim subjetiva, atendendo aos princípios da confiança.
O que significa factos futuros e factos passados varia consoante se trate de leis procedimentais
ou leis substantivas e de fatos tributários de obrigação única ou de factos tributários de
formação sucessiva.
63
Sónia Reis: Parece que a proibição da retroatividade se restringe à categoria do tributo Imposto – CRP
não dá resposta e também não define o que significa “imposto retroativo”.
• Generalidade das Constituições dos outros Estados não têm positivada a proibição da
retroatividade – exceto a da Suécia
• Ideia de introduzir o princípio da retroatividade estava no Parecer 25/81, pois antes era sempre
admitida se não ferisse as legítimas expetativas dos contribuintes.
• Esta norma não traz muito e permite ao TC uma margem de interpretação discricionária muito
grande.
65
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Art. 12º/3 LGT – normas de procedimento e de processo são de aplicação imediata, sem prejuízo
das garantias, direitos e interesses legítimos anteriormente constituídos dos contribuintes.
• As garantias e os direitos e interesses legítimos constituídos são aqueles em relação aos
quais já decorreu o prazo de caducidade e de prescrição, ou tenha havido caso julgado.
o Contribuintes = sujeitos passivos em sentido amplo, pois mesmo que não sejam
contribuintes são protegidos pela proibição da retroatividade.
Acórdão TC 592/2012
➢ As expetativas dos contribuintes na manutenção em bloco das causas de interrupção
e suspensão dos prazos de prescrição vigentes não assumem a magnitude necessária
para que se verifique uma violação do princípio constitucional da proteção da
confiança.
Leis Substantivas
Devem distinguir-se normas fiscais consoante elas contenham factos tributários de formação
sucessiva ou de obrigação única.
➢ Distinção quanto ao objeto da lei fiscal.
o Consenso na doutrina tributária segundo o qual, no quadro da lei tributária,
tem de se distinguir se já existe facto consumado que requeira a proteção da
confiança do contribuinte ou se esse facto ainda não está consumado.
o Se não estiver consumado temos de nos perguntar se há razões para proteger
a confiança dos destinatários, caso ela exista.
66
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Quando fazemos esta distinção introduzem-se valorações sobre o que deve ou não ser protegido
ao abrigo da lei antiga.
IMPOSTOS PERIÓDICOS – facto tributário tem início no primeiro dia do ano (ou período fiscal) e
só está concluído/consolidado no último dia desse ano (ou período).
• São factos tributários de formação sucessiva, que só estão concluídos quando termina
o ano/período fiscal, fazendo esse período o parâmetro para aferirmos o próprio
conceito de retroatividade.
• Proibição da retroatividade assume contornos próprios, relacionados com a formação
sucessiva do facto tributário e com a existência de anos/períodos fiscais que separam
as obrigações tributárias por períodos64.
Mais-Valias
Factos tributários de formação sucessiva ou factos tributários de obrigação única?
➢ Consoante esta caracterização vamos ter respostas diferentes quanto à proibição da
retroatividade.
APD: As mais-valias tributárias em IRS também só podem ser apuradas no final do ano
• Código do IRS diz que a tributação incide sobre o saldo entre mais valias e menos valias.
o Há englobamento do saldo, portanto tem de ser um imposto de formação
sucessiva.
64
Parâmetro é o ano fiscal – havendo lei fiscal nova a meio do ano não causa problemas de Retroatividade
Autêntica, só de Retrospetividade. Só seria problema de Retroatividade Autêntica se se estabelecesse que
entrava em vigo no ano seguinte mas com efeitos para o ano atual (ex: através do OE)
67
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
65
Discussão na jurisprudência foi suscitada devido à Lei 15/2010 – que não estabelecia regime transitório
e entrava logo em vigor no dia seguinte.
• Até julho 2010 estabelecia-se quando se detivesse ações por período superior a 12 meses, ao
alienar essas ações, a mais valia estava excluída da tributação (delimitação negativa de incidência
– não é benefício fiscal);
• Após julho 2010 determinou-se que essa mais valia estava sujeita a tributação.
Quanto ao momento da venda das ações – sujeita-se a tributação todas as mais valias ao longo daquele
ano, mesmo as antes da entrada em vigor da Lei?
• AUTORIDADE TRIBUTÁRIA: Sim – tem de se ter em contra o cômputo das mais valias no ano
inteiro, nos termos do art. 1º/1 e 43º/1 CIRS
o Apuramento das mais valias é no final do ano (diferença entre as mais-valias e as menos-
valias), portanto, neste cenário havia casos de retroatividade inautêntica.
o Questão nesse caso é a tutela da confiança.
• STA: Não – as mais valias são de obrigação única, nos termos do art. 10º/3 (norma de incidência
quanto a mais valias), logo, Autoridade Tributária estava a violar a proibição de retroatividade
autêntica.
o Foi logo discutido no STA pois estava em causa puras matérias de direito – houve
recurso per saltum
o Invocava o art. 10º/3 (norma de incidência) pois art. 43º é norma de determinação do
rendimento coletável.
▪ Art. 10º/3 define quando há incidência – quando há facto tributário – e só se
pode calcular pelo art. 43º se se considerar que há facto tributário (apurado
pela norma de incidência do art. 10º/3).
▪ PRP concorda
o Menção no acórdão ao art. 12º LGT é possível pois a Lei 15/2010 não o derrogava e
havia somente uma única liquidação que se aplicava tanto às que surgiram havendo já
norma de incidência como as que surgiram quando não havia.
Quanto ao momento da aquisição e período de detenção – está em causa uma situação de violação das
expetativas dos contribuintes
• Houve situações que, em termos históricos do IRS, em que as expetativas foram tuteladas tendo
em conta o momento de aquisição.
o Art. 5º DL 442-A/88 – se vender imóvel adquirido antes de 1989 (quando entrou em
vigor o CIRS) não se é tributado.
o Se se adquire algo não estando sujeito a tributação (não havendo norma de incidência)
então não pode ser tributado na venda – Lei 15/2010 não tinha regime transitório a
tutelar isso como havia no DL que aprovou o CIRS
68
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
TRIBUTAÇÕES AUTÓNOMAS
➢ Os factos tributários objeto de tributação autónoma constituem factos tributários de
obrigação única
o Tributação Autónoma incide sobre despesas avulsas e não sobre o rendimento
acréscimo.
o Despesas que não são úteis à atividade da empresa. Ex: pagar viagem a pessoas
da empresa; pagar espetáculos e etc.
o Quando essa despesa é incorrida o facto tributário nasce e morre naquele
momento – portanto, apesar de IRC ser imposto periódico, vai assumir uma
feição única.
▪ Portanto, há problema de Retroatividade Autêntica quando há
mudança a meio do ano fiscal e quer abranger o ano todo (mesmo as
tributações autónomas passadas).
Lei nova só deve ser aplicada a factos tributários que ocorram após a sua entrada em vigor, sob
pena de ser retroativa e, por conseguinte, inconstitucional.
• STA (830/11) reconhece que estas tributações autónomas, embora formalmente
inseridas no Código IRC66, sempre tiveram um tratamento próprio, uma vez que não
incidem sobre rendimento, cuja formação se vai dando ao longo do ano, mas antes
sobre certas despesas avulsas que representam factos tributários autónomos sujeitos
a taxas diferentes da de IRC.
66
PRP: inserção no CIRC ou no CIRS é por mera comodidade administrativa e facilidade da gestão do
imposto
69
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
67
Jurisprudência entendeu que se devia fazer raciocínio de retroatividade inautêntica, pois as regras de
tributação autónoma estão num código que diz respeito a um imposto periódico – tributação autónoma,
como se incluía num imposto de formação sucessiva, aplicava-se entendimento de retrospetividade, pois
era o entendimento para esses impostos.
70
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
APD: a nossa legislação fiscal consagra as tributações autónomas como factos tributários de
obrigação única, uma vez que a tributação incide sobre cada ato de despesa, e o facto de a
tributação autónoma estar sistematicamente incluída nos códigos do IRS e do IRC não a torna
uma tributação de factos de formação sucessiva.
➢ Assim sendo, as leis novas mais onerosas devem aplicar-se a factos tributários futuros.
o Pois há retroatividade autêntica.
o Se fossem enquadradas como retroatividade inautêntica, como é considerado o
aumento das taxas durante o período de tributação, como nos impostos de formação
sucessiva, então não era proibido pelo art. 103º/3 CRP.
APD: tem de se distinguir com muito cuidado se a lei nova é verdadeiramente interpretativa ou
não.
➢ Lei verdadeiramente interpretativa não pode trazer elementos inovadores e somente
esclarecer as situações passadas.
o Controlo feito pelos tribunais tem de ser o de saber se a lei nova está
verdadeiramente a interpretar ou se está a alterar a lei antiga.
o Se for mesmo interpretativa não está abrangida pela proibição da
retroatividade.
Quando existem muitas dúvidas e litígios quanto à interpretação de uma lei, não existe
segurança jurídica nenhuma.
• Não se deve dizer que a lei interpretativa, então, só deve vigorar para o futuro devido ao
princípio da segurança jurídica – não é assim, porque na verdade não havia segurança
jurídica.
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Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Enquanto para o consumidor final o IVA é um imposto de obrigação única, para o sujeito
passivo ele é um facto tributário de formação sucessiva68.
➢ Como o IVA é suportado pelo consumidor final, a aplicação da lei nova no tempo, em
matérias de IVA, não pode colocar em causa o imposto já pago pelo consumidor final.
o Assim, o aumento do IVA a meio do ano fiscal só se pode aplicar aos factos
tributários (consumo, prestação de serviços ou importação) futuros (que
ocorram após a entrada em vigor da lei nova), sob pena de se colocar em causa
o montante de IVA cobrado anteriormente em cada elo da cadeia.
A proibição da retroatividade não se confunde com o princípio da legalidade, pois uma lei
parlamentar ou DL autorizado retroativos passam o teste de legalidade.
APD: Art. 103º/3, introduzido na revisão CRP 1997, não trouxe nada de fundamentalmente
novo quanto ao significado e alcance da proibição da retroatividade fiscal.
• Por um lado, porque não se explica o que são impostos retroativos, cabendo ainda ao
intérprete (nomeadamente o TC), delimitar esse conceito.
• Por outro lado, porque quer o conceito de impostos retroativos quer a proibição destes
devem ser ainda e sempre fundamentados no princípio da tutela da confiança como
manifestação da segurança jurídica.
68
Art. 7º CIVA dá o momento relevante para se apurar o montante e é por esta referência que se faz juízo
de retroatividade.
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Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
APD: quando concluímos que uma lei fiscal é retroativa ou retrospetiva, já fizemos um juízo sobre
a violação da proteção da confiança e considerámos que a retroatividade autêntica implica uma
violação mais forte da proteção da confiança do que a retrospetividade.
• A proteção da confiança está sempre ínsita na análise a retroatividade de uma lei fiscal
– é o seu princípio interpretativo.
69
É um acórdão de plenário = consenso TC
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Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Dado que os factos tributários de formação sucessiva só estão concluídos no final de um ano
ou período tributário, cabe saber se as expetativas que as leis novas mais gravosas só entrem
em vigor depois de o período fiscal estar em curso estar concluído são protegidas
constitucionalmente pelo Princípio da Proteção da Confiança.
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Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Ponto de partida do TC é que o contribuinte não pode contar com a estabilidade e constância
da lei de imposto no decurso do ano fiscal, a não ser que tal estabilidade fosse anunciado.
➢ Princípio da autoreversibilidade das leis sobrepõe-se às expetativas de estabilidade, e o
contribuinte deve sempre contar com a alteração dos impostos ao longo do ano.
TC acaba por admitir que o princípio da tutela da confiança não tem, em regra, autonomia do
princípio da proibição da retroatividade.
➢ A tutela da confiança só proíbe a retroatividade em sentido próprio.
➢ Só excecionalmente tem autonomia, fora da Retroatividade Autêntica
o Quando há erro político grosseiro quanto à criação pública de expetativas e
quando não exista interesse público na alteração da lei.
➢ Isto significa que só excecionalmente a retrospetividade poderá ser considerada
contrária à tutela da confiança.
APD: esta jurisprudência pode ser perigosa e contribuir para orçamentos negligentes, pois os
governos e as maiorias parlamentares sabem que em qualquer altura do ano fiscal o interesse
público pode justificar um agravamento de impostos de formação sucessiva com efeitos a partir
de 1 de janeiro desse mesmo ano.
NORMAS DESONERADORAS – são nomas mais favoráveis, pelo que não colocam questões de
proteção de confiança.
➢ Ou seja, se a lei nova desoneradora não era esperada, a confiança existente não precisa
de ser protegida e o sujeito passivo agradece ser surpreendido pela lei nova.
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Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Art. 12º/2: factos tributários de formação sucessiva, perante lei nova, vão ser submetidos a lei
nova apenas quanto ao período decorrido a partir da entrada em vigor.
➢ Está a dividir-se o tempo de aplicação das leis.
o Se TC tivesse seguido este raciocínio, até certo momento tributava-se de acordo
com lei antiga e a partir do momento em que entra em vigor a lei nova, tributa-
se à luz da lei
Para o TC, o que tem valido é o art. 103º/3 CRP e ignorado o art. 12º/2 LGT
• Grande objeção ao art. 12º/2 é que este é mais complexo de aplicar – princípio da
praticabilidade no Direito Fiscal recomenda que não haja distinção entre dois períodos;
o É incorreto tributar o mesmo facto tributário de forma diferente entre dois
períodos do ano porque isto pode falsear o tributo (ex: metade do ano com
lucro e a outra metade com prejuízos).
O que significa lei no art. 103º/3? É o mesmo sentido que o do art. 103º/2? ´
Parece que operação de liquidação e cobrança não está sujeita a reserva de lei, pois se estivesse,
estaria no art. 103º/2.
➢ APD: o art. 103º/3 é preferência/precedência de lei (uma outra vertente do princípio
da legalidade) e não está relacionado com reserva de lei – autoridade tributária está
sujeita à lei em sentido formal.
o TC veio dizer que atividades de liquidação (= quantificação) não estavam
submetidas a Reserva de Lei – APD discorda pois quantificação tem de estar
submetida à Reserva de Lei, senão esta Reserva não está preenchida (não dá
segurança jurídica).
o Contribuinte consegue prever quanto vai pagar no final do ano devido à
reserva de lei e à proibição da retroatividade, i.e., proteção da confiança.
▪ No entanto, no IRS, a proteção da confiança não está garantida até ao
final do ano porque o facto tributário ainda não está concluído.
76
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Legislador da LGT quis clarificar que as normas de quantificação são normas de incidência, em
sentido amplo.
➢ Para não haver dúvidas quanto ao sentido e conteúdo de certas normas
(nomeadamente o art. 103º/2 e 103º/4).
➢ Ou seja, liquidação dos impostos tem a ver com quantificação e para efeitos de
retroatividade não são normas de procedimento.
o Não se aplica imediatamente a lei nova e tem de ser feita as valorações que são
feitas às normas substantivas (da Retroatividade Autêntica e Inautêntica).
Como a LGT não tem valor reforçado, as suas normas são meramente indicativas e só são
aplicáveis se forem conformes aos princípios constitucionais de proibição da retroatividade
fiscal e de tutela da confiança.
➢ PRP: quando há lei nova que pretende que o regime se aplique ao ano todo, elas têm o
mesmo valor que a LGT, prevalecendo a lei que dispõem quanto ao caso concreto (desde
que respeite a CRP)
Cláusulas Antiabuso
Tribunal Central Administrativo Sul, 31/1/2012: o abuso de formas jurídicas, com vista à
obtenção de vantagem fiscal indevida, nem sempre consubstancia um único ato e pode ser uma
cadeia de atos.
➢ TC 77/2013: não se pode concluir que o TCA Sul tenha aceitado a aplicação retroativa
dos preceitos em causa, sempre que os factos se integrem numa cadeia de atos em que
nem todos ocorreram já no seu domínio de vigência.
77
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Este princípio é a medida de igualdade económica que rege a tributação dos impostos.
➢ Aplica-se ao universo de sujeitos que mostram essa capacidade e não apenas a alguns.
o A tributação de alguns sujeitos, deixando outros de fora, tem de ser justificada
por um princípio constitucional que, no caso concreto, legitime a violação do
princípio da igualdade.
o A regra é a tributação de todos os sujeitos passivos segundo o princípio da
igualdade e a exceção são as isenções ou tributação diferente.
78
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
70
Antes havia uma estrutura dualista composto por impostos cedulares/parcelares e um complementar
de sobreposição.
71
Conceção próxima do conceito de fruto no Direito Civil (art. 212º CC)
79
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
1. Princípio da Igualdade
O critério de repartição do encargo tributário entre os contribuintes tem de ser norteado por
considerações de justiça material.
SEMI-DUALIZAÇÃO DO IRS
Pelo facto de alguns tipos de rendimentos estarem sujeitos a tributação por taxas especiais de
tributação autónoma (art. 72º CIRS) ou liberatórias (art. 71º CIRS), ao passo que outros,
quando obtidos por sujeitos passivos residentes são de englobamento obrigatório, sendo-lhes
aplicáveis taxas gerais progressivas de IRS (art. 68º CIRS).
➢ Esta situação não assegura uma igualdade horizontal na tributação, uma vez que
contribuintes com o mesmo rendimento líquido podem ser tributados de forma bastante
distinta e sujeitos a níveis de tributação díspares, se a capacidade contributiva for
revelada mediante a obtenção de diferentes tipos de rendimento.
É a conjugação com o princípio da praticabilidade que justifica esta situação pois há necessidade
de assegurar competitividade no sistema fiscal.
72
O art. 1º/1 CIRS admite a tributação de rendimentos que provenham de atos ilícitos (sendo considerado
incremento patrimonial pelo art. 10º) – lógica pragmática em que legislador entendeu que se há
capacidade contributiva, não há por que não ser tributado.
➢ Se não tributasse seria quase como conferir uma vantagem a quem obtenha rendimentos de
forma ilícita.
80
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
• Na consagração de uma base de incidência tão ampla quanto possível – visando abarcar
a generalidade dos rendimentos auferidos pelas pessoas singulares, culminando na
tributação do rendimento global do contribuinte.
• Na adoção do rendimento-acréscimo – inclui as mais-valias , mas o legislador foi
seletivo e não inclui no campo de incidência os ganhos com bens móveis, deixando de
fora ganhos que poderiam representar manifestações de capacidade contributiva
devido à dificuldade de controlo deste tipos de ganhos.
• Na repartição do encargo tributário segundo o critério da força económica efetiva do
contribuinte
• Na personalização do imposto
• Na consagração de um mínimo de existência – art. 70º CIRS determina a não tributação
de valores que se revelem essências para a subsistência básica do indivíduo e do
agregado familiar73.
o Paula Rosado Pereira: Tem um caráter demasiado restrito e não protege todos
os contribuintes que dele necessitariam (apesar de estar menos restritivo
devido à inclusão das atividades no âmbito do art. 151º CIRS ex vi Portaria
1011/2001).
o APD: Mínimo de existência é conceito de Direito Fiscal que implica a não
tributação de certos sujeitos quando a lei entende que eles não atingem um
mínimo de capacidade contributiva.
▪ Da aplicação das taxas não pode resultar um valor inferior ao valor
anual da retribuição mínima mensal mais 20%
▪ Determina-se a matéria tributável, vê-se qual é o escalão. Quando se
determina a coleta (aplicando as taxas à matéria tributável), se o rendimento
líquido for inferior ao valor mínimo anual de retribuição mais 20%, então o
sujeito não é tributado.
▪ Não tem capacidade contributiva
73
Rendimento líquido inferior ao valor anual de retribuição mínima mensal não é tributado – mínimo de
existência.
➢ Isto não constitui uma exceção à capacidade contributiva, pois fica abaixo desta – o critério de
comparabilidade de capacidades contributivas não lhe é aplicável.
81
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Art. 25º e ss. CIRS – deduções ocorrem na fase determinação do rendimento coletável e
constituem deduções específicas ao rendimento bruto de cada categoria, estando na fase
analítica do imposto.
➢ Nem todas as categorias admitem deduções específicas – não se admite no rendimento
de capitais nem nos incrementos patrimoniais (excetuando as mais valias).
Implica a existência de uma correção monetária (art. 50º/1 CIRS) que permite a tributação de
mais-valias apenas sobre a valorização real do bem e não sobre o aumento nominal do seu valor,
em resultado da desvalorização monetária.
82
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Características do IRS
1. Imposto sobre o Rendimento
Incide sobre a capacidade contributiva das pessoas singulares revelada através do rendimento
– art. 4º/1 LGT
➢ Os rendimentos tributáveis estão tipificados – art. 1º/1 CIRS
APD: Imposto Único e Progressivo que tenha em conta os Rendimentos do Agregado Familiar
Único é noção que remonta ao final do séc. XIX e XX
➢ Numa lógica de justiça o que faz sentido é tributar o rendimento global – quando
falamos do princípio da igualdade no geral temos de encontrar um elemento de
comparação entre os vários contribuintes.
o Critério mais rigoroso é ter em conta todo o seu rendimento – rendimento
global é o mais justo para comparar.
2. Imposto Pessoal
Tem em conta as características específicas do sujeito passivo que são determinantes na
configuração do regime, atendendo ao elemento subjetivo da incidência.
➢ Formação do imposto é fortemente marcada pelas características específicas dos
sujeitos passivos, ao nível pessoal, económico e social.
Coerente com o art. 104º/1 CRP e 6º/1 LGT – deve ter-se em conta as necessidades e os
rendimentos do agregado familiar.
Há casos em que o IRS se assemelha a um imposto real (art 71º e 72º CIRS), onde os elementos
personalizantes do imposto não têm aplicação.
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Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Tipificação dos rendimentos tributáveis com recurso a seis categorias de rendimento, baseadas
na respetiva fonte geradora.
➢ Manifesta-se ao nível da incidência real, com a tipificação das categorias de
rendimento, mas também se manifesta quanto à determinação do rendimento líquido
dessas categorias de rendimento, prevendo deduções específicas para cada uma delas
PRP: O que compromete o caráter unitário do IRS não é a sua conceção de base cedular, mas sim
a contraposição entre rendimentos sujeitos a englobamento obrigatório e outros excluídos.
4. Imposto Periódico
É um imposto periódico de base temporal, caracterizado pela formação sucessiva do facto
tributário objeto da previsão legal.
➢ Art. 1º/1 CIRS
5. Imposto Único
Mas não Unitário74
Apesar disto, o IRS não prescinde de definir a sua incidência real com recurso a diversas
categorias de rendimento, organizadas em função da providência ou da natureza dos
rendimentos – há regras distintas para cada categoria de rendimentos.
➢ PRP: Isto não prejudica a característica de ser um imposto único/sintético pois após
uma Fase Analítica em que são aplicáveis regras específicas para cada categoria de
imposto, segue-se uma Fase Sintética caracterizada pela aplicação de um único
conjunto de regras fiscais.
Portanto, não há aqui uma tributação unitária pois não há a tributação da generalidade dos
rendimentos líquidos do sujeito passivo de acordo com um mesmo figurino similar.
➢ Apesar de ser imposto único – incidente sobre todos os rendimentos do sujeito passivo,
com um único Código, regras de tributação e estrutura normativa – não é unitário.
74
PRP: é único porque tributa todo o rendimento de uma só vez mas não é unitário porque o regime de
cada categoria é diferente
84
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
75
Art. 22º contém englobamento, que é necessário para aplicação das taxas progressivas.
76
Não está sujeito a englobamento; há retenção na fonte a título definitivo e sujeito passivo fica libertado
do englobamento
➢ Aplicam-se aos residentes com certo tipo de rendimentos, não-residentes com rendimentos de
trabalho dependente e pensões e etc.
77
Foram sendo acrescentadas pelo legislador com base em razões diferentes de política fiscal.
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Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Devido ao art. 71º/1/e, os Rendimentos Prediais estão sujeitos a uma taxa proporcional –
passagem desses rendimentos do regime de englobamento obrigatório e de taxas progressivas
para a tributação proporcional com taxas especiais.
Isto aprofunda a semi-dualização do IRS, não sendo aplicadas às diversas categorias de
rendimentos as mesmas taxas de tributação.
Isto leva a que não seja assegurada uma igualdade horizontal – contribuintes com idêntica
capacidade contributiva podem ser tributados de forma distinta.
➢ Esta situação é agravada dados os rendimentos sujeitos a essas taxas proporcionais,
dado serem aqueles são mais frequentes e de valor mais significativos nos contribuintes
com capacidade contributiva superior.
➢ PRP: o atual IRS, com o seu sistema semi-dual apresenta até características de
regressividade
Casalta Nabais: Esta característica semi-dual justifica-se pelo princípio da praticabilidade pois
se assim não fosse havia soluções impossíveis de levar à prática e economicamente
insustentáveis.
APD: Art. 104º/1 CRP não está a ser observado pelo legislador, mas há boas razões para isso –
observar o disposto na CRP teríamos efeito perverso de na prática não se conseguir tributar
certos rendimentos
➢ Unicidade não está a ser aplicada em substância pelo IRS – formalmente há um único
código, mas com diversas categorias (não há englobamento para todas as categorias)
APD: Na prática, no CIRS há imposto dual pois há uns rendimentos que são englobados e outros
que não.
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Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
• Hoje em dia, IRS é disciplinado por um único código mas não é um imposto único e
progressivo, no sentido do art. 104º/1 CRP.
o APD: é um imposto dual
o Combina tributação sobre rendimentos obrigatoriamente englobados (art.
22º e 68º CIRS) e sujeitos a progressividade com uma tributação não sujeita a
englobamento obrigatório de outros rendimentos (art. 71º e 72º CIRS).
6. Imposto Progressivo
Aumenta o nível de tributação do contribuinte à medida que aumenta o próprio rendimento
coletável.
➢ As taxas são progressivas por escalões e o imposto funciona com limites nas deduções
à coleta.
Mas além destas taxas progressivas, o CIRS consagra algumas taxas proporcionais (art. 71º, 72º,
73º CIRS).
➢ O regime da opção pelo englobamento traz algum equilíbrio e coesão ao imposto mas
é insuficiente para a resolução de todos os problemas de que o IRS padece em termos
de falta de respeito pelo princípio da igualdade horizontal entre contribuintes.
7. Imposto Direto
Coincidência entre o sujeito passivo contribuinte e a pessoa que deve suportar o encargo
económico do imposto.
87
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
4º. Rendimentos líquidos auferidos por sujeitos passivos residentes são objeto de
englobamento, havendo alguns excluídos – art. 22º
5º. Após o englobamento apura-se o rendimento líquido/coletável do sujeito passivo.
Considera-se valores de imposto aquilo que o sujeito passivo pagou ao longo do ano a título de
retenções na fonte.
Isto leva a que ainda se possa ter imposto a pagar ou reembolso de imposto a receber
(retenções na fonte como os pagamentos por conta são deduzidos à coleta do IRS e, quando
superiores ao devido, conferem direito ao reembolso da diferença – art. 78º/2 e 3 CIRS).
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Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Incidência Pessoal
São sujeitos passivos de IRS as pessoas singulares que residam em território português e as que,
embora aí não residindo, obtenham rendimentos considerados como obtidos em território
português – art. 13º/1 CIRS (+ art. 6º/1 LGT)
Quanto aos não-residentes, como o vínculo ao território é mais fraco, a comparação não está
relacionada com o rendimento global mas apenas com o rendimento obtido dentro do território.
78
APD: Nacionalidade não é relevante – só nos EUA é que releva a nacionalidade
79
Art. 104º/1 CRP só se aplica aos residentes.
➢ Parâmetro de comparabilidade para efeitos de apurar a capacidade contributiva é apenas dos
residentes, porque só em relação aos residentes é que existe vínculo suficientemente forte por
parte do Estado na lógica da troca de utilidades.
o Impostos justificam-se com base na troca de utilidades entre o que o Estado fornece a
um sujeito passivo e o que recebe dele através dos impostos.
o São bens e serviços públicos – é mais forte/intenso/permanente quando o sujeito é
residente, por isso é que é legítimo o Estado tributar o rendimento universal desse
residente (obtidos dentro e fora do território) e submeter esses rendimentos à
progressividade, que tem finalidades distributivas.
90
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Residência
A par da fonte do rendimento é um dos elementos de conexão que definem os termos de
aplicação da lei fiscal no espaço, quando nos encontramos perante situações com um elemento
internacional relevante.
APD: Critério mais importante é o critério objetivo – número de dias em território português80
(de seguida ou interpolados).
➢ Também pode haver indício de critérios objetivos – ver se há casa de morada de família
e intenção de estar naquela casa de forma permanente.
o Mas isto não significa dar relevância a elementos subjetivos.
o Temos de procurar indícios objetivos que concretizem esse conceito vago (ex:
há ligação de internet, água, jardineiro, correspondência periódica, família
habita na casa).
o Mesmo que esteja só em Portugal no Natal e na Páscoa pode ser tributado pelo
rendimento universal, se a casa de morada de família for mantida.
Sujeição ao IRS vai abranger todos os rendimentos, mesmo aqueles obtidos fora do território
português – art. 15º/1 CIRS
➢ PRINCÍPIO DA TRIBUTAÇÃO UNIVERSAL: podem ser tributados em Portugal todos os
rendimentos obtidos por um residente, independentemente do local onde tais
rendimentos sejam obtidos.
o Excetuam-se os casos em que se aplicam Convenções de Dupla Tributação
80
Residência em região autónoma também permite o planeamento fiscal.
➢ Não é muito recomendável termos vários conceitos de residência para o território nacional, o
que permite abusos.
o Podem declarar residência numa região autónoma por ser carga fiscal mais baixa,
quando na realidade a residência cairia no continente.
➢ É difícil averiguar e provar que a residência não é na região autónoma.
o Concretização dos 183 dias é através de 2 elementos que podem ser facilmente
manipulados: permanência habitual e registo para números fiscais (obtenção de NIF
numa região autónoma)
91
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Fonte de Rendimento
Um não residente é sujeito passivo de IRS quanto aos rendimentos que obteve somente em
território português – art. 15º/2 CIRS
Art. 18º elenca os rendimentos que se consideram obtidos em território português, podendo
ser tributados em sede de IRS, mesmo quando auferidos por um não residente.
Tem de se ter em atenção se há Convenção de Dupla Tributação que impede o Estado Português
de tributar.
Remunerações Tributáveis
Art. 2º/2 não define remuneração mas efetua uma enumeração exemplificativa bastante ampla
dos principais tipos de pagamento e prestações que constituem rendimentos do trabalho
dependente.
➢ Procura-se integrar todos os rendimentos que, de alguma forma, sejam recebidos em
contrapartida do trabalho dependente.
Art. 2º/3 contribui para a certeza e segurança jurídica dos contribuintes, através de uma maior
previsibilidade relativamente aos abonos e benefícios sujeitos a tributação.
➢ Reduz significativamente o campo de potenciais dúvidas acerca da incidência de IRS
sobre os diversos abonos e benefícios previstos nesta disposição legal, fomentando a
sua tributação efetiva pelas entidades pagadoras, levando a uma aplicação mais
homogénea das regras de incidência – fundamental para assegurar a igualdade
horizontal e vertical entre os contribuintes que auferem rendimentos deste tipo.
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Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Muitas das remunerações acessórias do art. 2º/3/b são remunerações em espécie, não
correspondendo a um pagamento mas sim à oferta de um bem, atribuição do direito à utilização
pessoal e etc.
➢ Tem de se recorrer ao art. 24º CIRS para efeitos da determinação da respetiva
equivalência pecuniária.
Dificuldade surge com a distinção, no caso concreto, entre remunerações em espécie (efetivas
vantagens económicas para o trabalhador, tributados na categoria A) e outro tipo de situações
que não devem ser tributadas em IRS.
A. Instrumentos de Trabalho proporcionados ao Trabalhador
Resulta da possibilidade destes bens proporcionados ao trabalhador serem passíveis de dupla
utilização – fins profissionais e pessoais.
Ex: computador, carro
Alargamentos Subjetivos
Art. 2º/10 e 11 efetua um alargamento subjetivo da figura da entidade patronal e do sujeito
passivo dos benefícios de forma a que se evite a subtração abusiva de remunerações
relacionadas com o campo do trabalho de incidência tributária.
Ex: pagar viagem ao empregado e à sua família
Deduções Específicas
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Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Art. 25º/1/a – valor standard que não pressupõe qualquer encargo incorrido pelo trabalhador
e existe de forma a que esta categoria não seja assim tão desfavorável.
➢ Dedução fixa
➢ Mas se as contribuições obrigatórias excederem esse limite, a dedução é realizada pelo
montante total dessas contribuições (art. 25º/2).
Regime de Tributação
Rendimento líquido do trabalho dependente apurado por sujeitos passivos residentes é sujeito
a englobamento obrigatório – art. 22º/1 e 22º/3/b a contrario CIRS
Há casos que não estão sujeitos a englobamento obrigatório: gratificações auferidas pela
prestação ou em razão da prestação de trabalho, quando não atribuídas pela entidade patronal
(ex: gorjetas dos profissionais de banca nos casinos) – art. 72º/3 CIRS
Ao rendimento global líquido aplicam-se as taxas gerais de IRS do art. 68º CIRS – taxas de
imposto progressivas, por escalões.
Ao valor da coleta calculada mediante a aplicação das taxas gerais de IRS são efetuadas
deduções à coleta – art. 78º e ss. CIRS.
Os residentes não habituais são sujeitos a taxa especial de tributação autónoma de 20% - art.
72º/6 CIRS
➢ Podem ser englobados por opção do sujeito passivo não residente – art. 72º/8 CIRS
➢ Mas eles estão excluídos do regime de englobamento – art. 22º/3/a CIRS
Os não residentes têm tributação por retenção na fonte a título definitivo – art. 71º/4/a CIRS
Retenções na Fonte
O valor destas retenções, que têm natureza de adiantamento por conta do imposto devido em
termos finais, é dedutível à coleta – art. 78º/2 e 3 CIRS
94
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Não residentes: natureza de retenção na fonte a título definitivo – tributados a taxa liberatória
de 25% (art. 71º/4/a)
Incidência Real
→ Art. 3º/1 e 2 CIRS
Isto significa que, não obstante preencherem as condições de incidência das respetivas
categorias, as rendas, juros ou mais-valias que sejam imputáveis a atividades empresariais e
profissionais são “atraídos” para a categoria B ou por esta absorvidos.
➢ Tributa-se pela categoria B e não pela categoria que a priori integrariam, em virtude das
suas características e natureza.
➢ Categoria B prevalece imperativamente sobre as outras
95
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Vai levar a que se pressuponha que o imóvel gerador das rendas é objeto de afetação aos ativos
de uma atividade empresarial ou profissional, tributada no âmbito desta categoria – art. 29º/1
CIRS
• Caso o imóvel provenha do património particular do sujeito passivo, a respetiva
afetação aos ativos empresariais/profissionais gera uma mais valia suspensa (art.
10º/1/a e 10º/3/b)
• A transferência do imóvel do património empresarial para o particular constitui uma
mais valia, tributável na categoria B (art. 3º/2/c)
96
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Dedução de Perdas
Quando for apurado um resultado líquido negativo na Categoria B81, com contabilidade
organizada, a perda é reportável nos anos seguintes – art. 55º CIRS
Regime de Tributação
O rendimento tributável da categoria B obtido por sujeitos passivos residentes, quer seja
apurado através da Contabilidade Organizada ou Regime Simplificado, é objeto de
englobamento obrigatório – art. 22º/1 e 22º/3/b a contrario CIRS
Ao rendimento global líquido aplicam-se as taxas gerais de IRS do art. 68º CIRS – taxas de
imposto progressivas, por escalões.
Ao valor da coleta calculada mediante a aplicação das taxas gerais de IRS são efetuadas
deduções à coleta – art. 78º e ss. CIRS.
Os residentes não habituais são sujeitos a taxa especial de tributação autónoma de 20% - art.
72º/6 CIRS
• Podem ser englobados por opção do sujeito passivo não residente – art. 72º/8 CIRS
• Mas eles estão excluídos do regime de englobamento – art. 22º/3/a CIRS
Os não residentes têm tributação por retenção na fonte a título definitivo – art. 71º/4/a CIRS
Há regimes especiais para os cidadãos UE – art. 17º-A, 71º/8 a 11 CIRS
Retenções na Fonte
81
Existe comunicabilidade das perdas entre algumas categorias: nas categorias A, G e H, é dedutível ao conjunto dos
rendimentos líquidos sujeitos a tributação o resultado líquido negativo apurado em qualquer categoria de
rendimentos.
➢ Na categoria F só pode ser deduzido dos resultados positivos dessa mesma categoria.
97
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
O valor destas retenções, que têm natureza de adiantamento por conta do imposto devido em
termos finais, é dedutível à coleta – art. 78º/2 e 3 CIRS
Não Residentes: natureza de retenção na fonte a título definitivo – tributados a taxa liberatória
de 25% (art. 71º/4/a)
Saldanha Sanches: o rendimento prototípico desta categoria é o Juro – tem por base o
rendimento periódico que deriva de um outro direito ou de um certo ativo financeiro, podendo
ser recebido sem que isso afete a substância do bem que o produz.
➢ Rui Duarte Morais: havendo alienação da fonte que produz o rendimento de capital, o
rendimento que produz é uma mais-valia.
o Estes são rendimento-produto (ao passo que as mais-valias são rendimento-
acréscimo) pois surgem em períodos sucessivos com uma certa regularidade.
Incidência Real
→ Art. 5º/1 e 2 CIRS
Procura-se fazer face a uma realidade complexa em que os contratos subjacentes à obtenção
dos rendimentos em causa são múltiplos, variados e atípicos – tipificação é tão ampla quanto
possível.
98
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
• São rendimentos passivos, que o titular aufere sem recorrer a uma atividade destinada
à sua obtenção
o Este é um critério que os distingue das outras categorias (pois se estes
rendimentos fossem obtidos no âmbito de uma atividade empresarial e
profissional seriam considerados rendimentos da Categoria B e não da E).
Regime de Tributação
Aplicação de retenção na fonte a título liberatório – o regime do englobamento obrigatório
deixou de se aplicar no âmbito da Categoria E.
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Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Se não estão sujeitos a retenção na fonte (ex: por não haver em Portugal uma entidade que
possa cumprir a função de substituto tributário), a taxa também é de 28% - art. 72º/1/d
Se forem residentes em Portugal podem optar pelo englobamento, para efeitos de tributação
– art. 71º/6 CIRS
➢ Também aqueles rendimentos sujeitos a tributação autónoma a taxa especial podem
ser englobados – art. 72º/8 CIRS
A opção é do sujeito passivo (art. 22º/5), sendo que a retenção na fonte assume a natureza de
pagamento/adiantamento por conta do imposto devido a final (art. 71º/7).
Art. 40º-A CIRS atenua esta dupla tributação económica, permitindo um englobamento parcial
do rendimento e causa
• Lucros recebidos são apenas considerados em 50% do seu valor, no caso de opção pelo
englobamento.
• Se não optar pelo englobamento eles são tributados pela taxa liberatória de 28% que
incide sobre os 100% do valor dos lucros.
Benefícios Fiscais
No contexto da tributação dos rendimentos de capitais há que aferir da existência de benefícios
fiscais que sejam aplicáveis ao rendimento em apreço.
➢ Há vários benefícios fiscais relativos aos rendimentos de capitais: art. 20º, 20º-A, 21º,
22º-A, 23º
Obrigações Acessórias
Quando sujeitos passivos não optem pelo englobamento ficam dispensados de apresentar a
declaração anual destes rendimentos – art. 58º/1/a CIRS
➢ Isto não abrande os que optam pela tributação conjunta – art. 58º/3/a CIRS
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Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Incidência Real
→ Art. 8º CIRS
Hoje em dia a dedutibilidade, em sede de IRS, do IMI pago, contribui para atenuar a alegada
“sobretributação”, mitigando o efeito da sobreposição entre a tributação dos rendimentos
prediais e a tributação patrimonial estática dos prédios arrendados.
➢ Art. 41º/5 CIRS prevê que o IMI e Imposto de Selo pagos em determinado ano apenas
são dedutíveis aos rendimentos prediais brutos quando respeitem a prédio ou parte
de prédio cujo rendimento seja objeto de tributação nesse ano fiscal.
Sublocação
Art. 8º/2/c não admite qualquer dedução (art. 41º/6).
101
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Dedução de Perdas
O resultado líquido negativo da categoria F, apurado em determinado ano, só pode ser deduzido
aos rendimentos líquidos positivos desta mesma categoria, apurados nos 6 anos seguintes
àquele a que respeita a perda – art. 55º/1/b CIRS.
Impossibilidade de compensação entre ganhos e perdas apurados pelo sujeito passivo num
mesmo ano, mas em diferentes categorias de rendimento.
→ Não existe comunicabilidade horizontal de perdas entre as categorias de rendimento
do IRS
Rendimentos prediais não são somados aos rendimentos de outras categorias – daí ser uma
tributação autónoma e não um regime de englobamento.
➢ Ao valor dos rendimentos prediais, já líquidos das deduções de gastos do art. 41º é
aplicada a taxa especial do art. 72º/1/e (28%).
➢ Seguindo este regime de tributação autónoma não há deduções à coleta dos art. 78º e
ss. CIRS
Retenção na Fonte
Rendimentos prediais encontram-se sujeitos a retenção na fonte apenas quando as rendas
forem pagas por pessoa singular ou coletiva que disponha ou deva dispor de contabilidade
organizada – art. 101º/1 CIRS
➢ Esta retenção é a 25% (art. 101º/1/e) e tem natureza de adiantamento por conta do
imposto devido em termos finais.
Obrigações Acessórias
102
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Art. 115º/5 CIRS – titulares de rendimentos da Categoria F são obrigados a passar recibo de
quitação, em modelo oficial, de todas as importâncias recebidas dos seus inquilinos, pelo
pagamento de rendas nos termos do art. 8º/2/a-e CIRS
Em suma: aquando da afetação do imóvel gerador de rendas aos ativos de uma atividade
empresarial por si exercida em nome individual (tributando-se na Categoria B), o sujeito
passivo é suscetível de apurar uma mais-valia. Contudo, esta fica suspensa até que o imóvel
em causa seja alienado a terceiro ou reafectado ao património particular do seu titular (sem
ser para arrendamento de bem imóvel habitacional, onde nesse caso a suspensão se
manteria).
Integrado na Categoria B, a venda do imóvel vai gerar uma mais-valia profissional que se apura
pelo art. 46º CIRS.
➢ Não se aplica o art. 43º/2 (que é só para a Categoria G) e são tributados em 100% do
seu valor.
103
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Alojamento Local: enquadra-se no art. 4º/1/h, pois inclui serviços complementares como
limpeza e receção.
➢ Mas o alojamento local é uma figura que pode ter diferentes enquadramentos fiscais.
Art. 9º CIRS
→ Caráter taxativo
104
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
São “windfall gains”82 – valorização fortuita de bens não dependente de uma atividade do
sujeito passivo orientada para a obtenção do ganho.
Art. 10º não define Mais-Valia e procede a uma enumeração casuística dos ganhos sujeitos a
tributação como Mais-Valias.
➢ Este artigo assume o caráter residual83 da qualificação de um ganho como mais-valia e
constrói uma incidência seletiva bastante restrita.
o Seleção dos tipos de bens e direitos tem critérios subjacentes como a frequência
da situação, expressão económica, facilidade de controlo do facto gerador e
determinabilidade dos valores em causa.
Dado o caráter residual, o art. 10º/1 tem uma delimitação negativa expressa, que afasta da
Categoria G os rendimentos que, embora resultantes de factos ou situações especificamente
previstas nas alíneas do art. 10º/1, sejam de considerar, por natureza, rendimentos empresariais
e profissionais, de capitais ou prediais.
➢ Isto denota uma prevalência das Categorias B, E e F relativamente à Categoria G, em
termos de atração de rendimentos à categoria
82
Ganhos trazidos pelo vento
83
Quando o ganho resultar de alienação onerosa de bens ou direitos pertencentes ao ativo afeto a
atividade empresarial ou, mesmo não estando afeto, ocorre no âmbito dessa atividade a tributação é na
Categoria B (art. 3º/2/c, 3º/1/a CIRS)
105
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Mais-Valias Imobiliárias
Art. 5º DL 442-A/88 tem regime transitório na Categoria G – os ganhos derivados da alienação
a título oneroso de prédios, mesmo que constituam mais-valias tributáveis pelo art. 10º CIRS,
só ficam sujeitos a IRS se a aquisição dos bens ou direitos a que dizem respeito tiver ocorrido
já depois da entrada em vigor do CIRS (1/1/1989)
• Isto constitui uma exclusão de incidência (não uma isenção).
• Não se aplica à alienação onerosa de lotes de terreno para construção
Mais-valia imobiliária resulta da diferença positiva entre o valor obtido com a transmissão do
imóvel (valor de realização) e o valor pago aquando da aquisição do mesmo (valor de
aquisição).
➢ Se a diferença entre o valor de realização e o valor de aquisição for negativa, temos
menos-valia.
➢ Se for positiva, temos mais-valia.
O saldo entre mais-valias e menos-valias realizadas no mesmo ano, por residentes, quer seja
positivo ou negativo, é apenas considerado em 50% do seu valor – art. 43º/2 CIRS
➢ Somente se aplica a residentes e apesar do Caso Hollman (TJUE, C-443/06, 2017),
Portugal não alterou o artigo no sentido de alargar esse regime de tributação apenas de
50% do valor aos residentes de outro Estado-Membro da UE.
106
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Ex:
107
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Não visa tributar os ganhos meramente nominais que não correspondam a uma valorização real
do bem, mas apenas um aumento nominal do valor do bem em resultado da desvalorização
monetária.
→ Art. 50º CIRS
Na Categoria G não são feitas quaisquer deduções aos rendimentos qualificados como
incrementos patrimoniais excetuando-se as mais-valias – art. 42º CIRS
➢ Elas beneficiam da dedução de despesas e encargos (art. 51º)
108
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Não Residentes com Estabelecimento Estável: tributa-se o valor total da mais-valia pelo art.
72º/2/a
Obrigações Acessórias
Sujeitos passivos residentes encontram-se obrigados à apresentação da declaração anual de
rendimentos Modelo 3 de IRS – art. 57º CIRS
➢ Mesmo que só tenha rendimentos da Categoria G tem esta obrigação pois não cabe nas
situações de dispensa de apresentação de declaração (art. 58º).
Mais-Valias Mobiliárias
Com a entrada em vigor do CIRS passou a prever-se a tributação das mais-valias mobiliárias.
Exclusão de Tributação
Art. 5º DL 442-A/88 exclui de tributação, em sede de IRS, as mais-valias mobiliárias resultantes
da alienação de partes sociais adquiridas antes de 1/1/1989.
➢ Aplicação pouco frequente.
Quando a AT considerar que existe uma divergência entre o valor de alienação declarado e o
valor de transmissão, aplicam-se as presunções legais do art. 52º CIRS.
109
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Residentes podem optar pelo englobamento (art. 72º/8), ficando obrigado a englobar a
totalidade dos rendimentos da mesma categoria (art. 22º/5).
Os Acréscimos Patrimoniais Injustificados não têm deduções (art. 42º) mas se o valor não
exceder os 100 000€ é sujeito a englobamento obrigatório e tributado às taxas gerais deste
imposto.
➢ Se o valor for superior a 100 000€ então a tributação é autónoma e à taxa especial de
60% (art. 72º/11).
CATEGORIA H – PENSÕES
Conceito amplo de Pensões – art. 11º/1 CIRS
APD: Há partida não há nenhuma diferença entre as pensões e os rendimentos de trabalho
dependente (Categoria A).
➢ Já foi discutido se não se devia eliminar a categoria H.
110
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Regime de Tributação
Rendimento de englobamento obrigatório – art. 22º/1 e 22º/3/b, a contrario
➢ Há uma situação de rendimentos da Categoria H, recebido por residentes, que não
segue o regime do englobamento obrigatório – art. 83º-A CIRS (tributados
autonomamente pelo art. 72º/5).
Residentes não habituais: podem estar isentos de tributação em Portugal, nos casos do art.
81º/6.
Não-Residentes: excluídos do englobamento (art. 22º/3/a) sendo tributados pelo art. 71º/4/c.
Retenção na Fonte
Incide sobre o valor das pensões líquidas da dedução prevista no art. 53º CIRS.
➢ Funciona nos termos do art. 99º/1/b CIRS.
111
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Ou seja, para distinguir dos rendimentos de capitais que é detenção de ativos, os incrementos
patrimoniais têm a ver com a alienação de ativos.
EXEMPLO:
Rendimento que só é auferido no final de certo período de detenção – OBRIGAÇÕES DE CUPÃO
ZERO.
➢ Quando vence, recebe rendimento e capital acrescido.
➢ Fundação está isenta de tributação de rendimento (havendo juros, tal não é tributado).
Portanto sujeito passivo aliena a essa fundação as suas obrigações, antes de elas
vencerem.
➢ Após isso vencer, a fundação revende os ativos ao sujeito passivo.
Sujeito passivo tem obrigações de cupão zero (ativos cujo rendimento vence no momento em
que é resgatado o próprio ativo – não são rendimentos periódicos, mas sendo as obrigações
compradas por um período de 3 anos a remuneração será atribuída no momento do reembolso
da própria obrigação).
E se aliena essa obrigações de cupão zero for alienada a uma Fundação B que está isenta de
tributação no momento do vencimento dos juros.
➢ Depois ela revende ao sujeito passivo A.
112
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Temos de saber como se calculou, para aquele produto financeiro, o rendimento – temos de
ver como se calculou e se tal era fruto da detenção de um ativo patrimonial ou se aquele
rendimento derivava da alienação.
• Esta situação é aferida perante o método do cálculo.
o Tem de se ver a natureza dos juros – ver como é que aquele montante é
calculado.
▪ Se variasse consoante o valor de mercado, então no momento de
alienação o rendimento que era auferido dependia dessa avaliação no
dia em que foram alienados – nesse caso seria mais valias (dadas pela
diferença entre o valor da aquisição e o valor da alienação).
▪ Tribunal concluiu que a remuneração era contabilizada dia a dia, o que
significa que sujeito A recebe a remuneração menos 1 dia. Recebe o
montante que estava acordado com as instituições financeiras menos o
dia que estava acordado para o vencimento. Tratava-se de juros
(rendimentos de capitais).
➢ APD concorda
Temos de interpretar, segundo caso concreto, fazendo prevalecer a substância sobre a forma –
não interesse de onde derivou o rendimento, o que interessa é olhar para a substância do negócio
e se o rendimento derivou de uma forma de apuramento que é típica dos juros então estamos
na categoria E.
Art. 5º CIRS aponta para os rendimentos capitais como categoria residual. Mas no art. 10º há
a mesma situação.
➢ Redação não permite resolver a situação – qual é a residual?
o Única maneira é perceber qual a função das categoriais.
113
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Sujeito passivo A entendeu que eram mais valias, daí estar isento, portanto alienou antes do
prazo.
• Como ainda não estava vencido o rendimento (era só a 31 de dezembro), para não ser
tributado o sujeito passivo alienou (a 25 dezembro) a uma fundação para estar isento
de tributação da mais valia – esquema de planeamento fiscal.
• Quando o rendimento foi vencido estava na detenção da fundação B, que é sujeito
passivo isento, portanto não seria tributado.
• Vencido o rendimento os rendimentos foram novamente alienados aos detentores
iniciais.
• Tribunal veio averiguar como é que os sujeitos A calcularam o montante que tinham a
receber da venda do ativo – se esse montante correspondesse ao valor de mercado no
dia da alienação eram mais valias, e estavam isentas; se esse montante era a soma dos
dias de detenção então eram juros, pelo que devia ter havido retenção na fonte pois os
juros não estavam isentos.
Ligando à existência de imposto único é que a vantagem deste imposto é tratar de forma
neutra os vários rendimentos – evita distorções e planeamento fiscal.
➢ Se todas as categorias fossem tratadas da mesma forma havia neutralidade e era mais
fácil tributar.
Rendimentos de Capitais
Definição do conceito no corpo do art. 5º CIRS, tendo depois uma enumeração exemplificativa.
Temos de ter em atenção que a enumeração é meramente exemplificativa – interpretação
correta implica voltarmos sempre ao corpo do artigo.
Caso de lavagem de cupões também está relacionado com esta técnica legislativa – pois não
estava previsto expressamente as obrigações de cupão zero.
➢ APD: não é preciso estar previsto. Não podem estar todos os exemplos enumerados84,
tem de se interpretar a partir do artigo. Estes são exemplos padrões que permitem, em
conjunto com o corpo do artigo, dizer as características.
84
Instrumentos financeiros estão constantemente a ser criados e não é possível a lei prevê-los a todos.
Nem é desejável pois causa maior dificuldade à interpretação.
114
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Incrementos Patrimoniais
No art. 42º e 43º prevê-se o apuramento do saldo entre mais valias e menos valias
➢ Por esta razão, APD defende que não se pode falar em retroatividade em sentido
próprio relativamente às mais valias apuradas de forma individual, elas seguem o
regime do CIRS e é uma situação diferente que a tributação autónoma.
Residentes são tributados pelo rendimento universal, o que significa que mesmo o rendimento
obtido no exterior tem de ser declarado em território português. Se não foi declarado, em
termos puramente fiscais, montantes colocados em contas no exterior e que não tenham sido
declarados o sujeito passivo tem direito a audição para explicar a sua proveniência e se não
explicar é tributado ao abrigo desta categoria.
• APD: princípio de justiça muito importante para não premiar rendimentos obtidos
ilicitamente.
115
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Englobamento
Representa a passagem da Fase Analítica para a Fase Sintética do imposto.
Através do Englobamento apura-se o rendimento global líquido ou rendimento coletável do
sujeito passivo residente, mediante a adição dos rendimentos líquidos das várias categorias –
art. 22º/1 CIRS
Não é aplicável a todos tipos de sujeito passivo de IRS nem a todos os tipos de rendimentos
auferidos.
➢ IRS tem sistema de tributação semi-dual
Há rendimentos isentos que não são englobados para efeitos da tributação – mas quando a lei
imponha têm de ser obrigatoriamente englobados para se determinar a taxa a aplicar aos
restantes rendimentos, havendo aí uma isenção com progressividade (art. 22º/4)
➢ Ex: art. 81º/7 CIRS, 37/3, 38º/2, 39º/4, 39º-A/6 EBF
Taxas de IRS
Taxas gerais constam do art. 68º/1 CIRS
➢ Aplicam-se ao rendimento coletável constituído pelo conjunto de rendimentos
auferidos num determinado ano, sujeitos a englobamento obrigatório ou opcional.
➢ São taxas progressivas por escalões
Art. 68º/2
➢ À parte do rendimento coletável igual ao limite do maior dos escalões que nele
couber, aplica-se a taxa da coluna B correspondente a esse escalão;
➢ Ao excedente, aplica-se a taxa da coluna A respeitante ao escalão imediatamente
superior.
116
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Quociente Conjugal
A regra é a da tributação separada, sendo a tributação conjunta aplicável apenas quando haja
opção de ambos os cônjuges ou unidos de facto nesse sentido – art. 13º/2 CIRS
Optando pela tributação conjunta dos seus rendimentos, antes da aplicação das taxas gerais
progressivas IRS, há operações inerentes ao mecanismo do quociente conjugal – art. 69º CIRS
➢ Determina-se assim os ajustamentos necessários à aplicação da tabela de taxas gerais
do art. 68º
Justificação deste regime é que, no caso de existir um agregado familiar há uma poupança
relacionada com as economias de escala – portanto faz sentido juntar os rendimentos.
Ana Paula Dourado: Todavia as exigências de um imposto pessoal sobre o rendimento não
recomendam a tributação conjunta – pois a capacidade contributiva é individual.
• Maioria da legislação OCDE já não tributam os cônjuges mas cada um separadamente e
só as dos filhos é que são repartidas pelos dois.
É compatível com a CRP que a regra deve ser a tributação individual e a referência ao agregado
familiar é apenas uma referência quanto aos filhos ou ascendentes.
117
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Com a reforma de 2014 mudou-se este sistema para uma tributação individualizada, o que é
mais coerente com a existência de um imposto pessoal.
• O que se tem em conta é a capacidade contributiva de cada um.
• Este entendimento tem levado a que Estados da OCDE tenham vindo a tributar
separadamente os casais – para não haver distorções.
Tributação conjunta provoca distorções pois se um dos cônjuges tiver elevada capacidade
contributiva e outro não trabalhar isto vai levar à descida do escalão do primeiro cônjuge.
➢ Isto pode levar a planeamento fiscal e levar a que se opte que um deles não trabalhe.
Questão muito discutida nos países nórdicos e ficou resolvida nos anos de 1970 – este tipo de
opção de tributação conjunta dos casais levava a que as mulheres não trabalhassem.
➢ Sensibilidade à igualdade de género levou a que se terminasse com isto, pois a
tributação estava a fomentar a desigualdade.
Opção em Portugal foi uma solução ambígua: em cada caso as pessoas optam por tributação
singular ou conjunta.
➢ Hoje em dia há possibilidade de optar – situação única; não há nenhum regime em que
se permite esta opção.
o APD: opção muito questionável porque coloca em causa o princípio da
igualdade – se cada casal opta pela solução mais favorável (prevendo o
montante de imposto) há uma situação de planeamento o que vai implicar uma
alteração no critério único que altera a igualdade que tinha de haver entre todos
os sujeitos submetidos ao IRS.
➢ O imposto é apurado individualmente, mesmo quando exista agregado familiar –
imposto é apurado em relação a cada cônjuge ou unido de facto e aos seus dependentes
que não administrem os seus bens.
o Este é um imposto pessoal com finalidades redistributivas, pelo que o
parâmetro de comparação deve ser a capacidade contributiva individual e não
a tributação conjunta.
85
Englobam-se os rendimentos dos cônjuges e equiparáveis e faz-se o coeficiente conjugal – apura-se a
matéria coletável globalmente de ambos, divide-se por dois e depois é que se aplica o escalão (a taxa
progressiva).
118
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Deduções à Coleta
Art. 78º/1 e 2 CIRS
São feitas depois de se aplicar os escalões da progressividade, pelo que já não interferem com a
capacidade contributiva86.
➢ São deduções diferentes e aparecem num momento diferente daquele do apuramento
da matéria tributável – estão relacionadas com o conceito de Estado social (saúde,
educação, encargos com lares e etc.)
o Também podem ser deduções de caráter técnico que estejam relacionadas com
o funcionamento do imposto (ex: art. 81º CIRS)
Elenco heterogéneo que tem vindo a sofrer alterações ao longo dos anos.
➢ Sistematizam-se em deduções que constituem elementos de personalização do IRS;
deduções de caráter mais técnico e com finalidades específicas; benefícios fiscais que
operam por dedução à coleta.
Art. 78º/7 tem limites máximos para a soma de um conjunto de deduções à coleta.
➢ Os contribuintes que tenham um rendimento coletável igual ou inferior ao valor do
primeiro escalão são os únicos que não se encontram sujeitos a limite máximo para o
referido conjunto de deduções à coleta.
➢ Por outro lado, os contribuintes quem têm rendimento coletável superior ao valor do
último escalão têm como limite máximo de deduções 1 000€
A Lei do Orçamento de Estado para 2009 veio converter os abatimentos ao rendimento líquido
total em deduções à coleta, sendo tal mais adequado para evitar tendenciais efeitos regressivos
da consideração fiscal de despesas pessoais realizadas pelos sujeitos passivos.
➢ Tem mais vantagens, de uma forma geral.
Retenções na Fonte
Tributação do rendimento no IRS pauta-se por um princípio de aproximação entre o momento
do facto tributário e o da entrada do imposto nos cofres do Estado.
➢ Concretiza-se neste mecanismo conforme o disposto nos art. 98º a 101º-D CIRS
86
Se fizéssemos estas deduções antes de apurarmos o escalão estávamos a baixar indevidamente a
capacidade contributiva.
➢ A capacidade contributiva para efeitos de apuramento do escalão está apenas relacionada com
o conceito de rendimento líquido.
119
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Há retenções na fonte por conta do imposto devido em termos finais – têm a natureza de
adiantamento por conta do imposto devido em termos finais, constituindo um mecanismo e
substituição tributária parcial.
➢ Art. 101º CIRS – se a entidade obrigada a reter o imposto disponha ou deva dispor de
contabilidade organizada.
Declaração de Rendimentos
Os sujeitos passivos devem apresentar anualmente uma declaração de rendimentos – art. 57º
a 61º CIRS
Liquidação do IRS
Corresponde à aplicação da taxa ou taxas de imposto à matéria coletável, assim tornada certa
e líquida a obrigação de imposto.
➢ É realizado pela Autoridade Tributária, sendo um Imposto Heteroliquidável.
o Art. 75º a 77º CIRS
120
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Quando se fala da diferença entre proveitos e gastos estamos a falar de gastos que foram
incorridos para se obter aquelas receitas.
➢ Rendimento real significa rendimento-acréscimo – rendimento líquido entre as
diferenças e os gastos legalmente dedutíveis, o que significa que os gastos relacionados
com a atividade da empresa devem ser dedutíveis.
o Tem de sempre haver relação com a atividade empresarial.
Rendimento real baseia-se na contabilidade dos sujeitos passivos – pressupõe que sujeitos
passivos cumpram deveres acessórios (de cooperação com o Fisco).
➢ Contabilidade organizada para AT conseguir apurar.
o Conceito atual de rendimento líquido/acréscimo/real depende do cumprimento
dos deveres por parte dos sujeitos passivos.
o Sem o cumprimento desses deveres a AT não consegue tributar segundo o
rendimento real.
Métodos indiretos são aplicáveis quando sujeito passivo não cumpre as suas obrigações legais
declarativas, nomeadamente as de contabilizada organizada.
➢ Nesses casos, o Fisco não consegue aferir corretamente qual o rendimento real.
87
APD: discorda de Teixeira Ribeiro, que admite que a tributação indireta possa estar inserida no
rendimento real
121
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Lei fiscal restringe a dedutibilidade dos gastos contabilisticamente comprovados àqueles que,
além de estarem comprovados pela contabilidade, sejam “indispensáveis” para a realização
dos rendimentos tributáveis ou para a manutenção da fonte produtora – isto antes da reforma
de 2014
Indispensável:
• Relação necessária entre gastos suportados e rendimentos obtidos
o APD: interpretação inaceitável por implicar juízo de mérito sobre as decisões
empresariais e desconsiderar o risco empresaria
• Juízo de conveniência
• Relação entre gastos e o interesse da empresa – business purpose
o Seguido pela jurisprudência do STA (15/6/11, 049/11; 24/9/14, 779/12) –
perceção da relação de causalidade económica entre a assunção de um custo e
a sua realização no interesse da empresa, atento o objeto societário do ente
comercial em causa89.
88
Art. 104º/2 – Empresas são tributadas fundamentalmente pelo Rendimento Real
➢ Fundamentalmente não significa exclusivamente – podemos ter tributação de rendimentos
empresariais com base em métodos indiretos (presuntivos) que se contrapõe à tributação do
rendimento real.
89
Ex: existe protocolo cultural entre Portugal e outro Estado segundo o qual as atividades culturais de
difusão da língua por parte desse outro Estado em território português estão isentas. País tem embaixada
cultural (pessoa coletiva) onde há várias atividades culturais pagas de difusão (cinema, apresentação de
livros, música e etc.) e ensino da língua. Como é que os rendimentos são tributados ao abrigo do IRC? São
tributados como lucro ou como rendimento global ou temos de distinguir entre as várias situações?
➢ Para saber se é atividade empresarial temos de perceber se há concorrência com outras – todas
essas atividades têm fim lucrativo. Instituições de ensino estão em concorrência com outras, portanto
é uma atividade que visa o lucro.
➢ As outras não são atividade empresarial portanto haverá remissão para o CIRS.
APD: as atividades empresariais devem pagar imposto, se não ficava tudo isento e não é essa a
finalidade da lei.
➢ Normalmente a atividade das fundações são tributadas segundo o rendimento global e não como
atividade empresarial.
122
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Dedutibilidade de Juros
Juros suportados pelos sujeitos passivos de IRC como remuneração de empréstimos e demais
encargos financeiros associados são dedutíveis como gastos no apuramento do lucro tributável
– art. 23º/1/c CIRC
➢ A dedutibilidade de juros devidos pela obtenção de fundos por uma sociedade, para
financiar a aquisição de ativos próprios, não suscita dúvidas – desses mesmos ativos se
esperam benefícios económicos futuros para a sociedade.
À partida são dedutíveis os gastos que estão relacionados com a atividade da empresa – temos
de atender à finalidade empresarial e assim, pelo Método Direto, determinamos o rendimento
coletável.
Gastos podem ser relativos a atividades não produtivas – encargos de natureza financeira. Ex:
se sociedade precisa de financiamento, esses encargos são à partida dedutíveis, mesmo não
sendo afetos à atividade produtiva – se sociedade pedir financiamento para si própria.
A dedutibilidade de juros devidos pela obtenção de fundos por uma sociedade para financiar
uma entidade com ela relacionada, através de suprimentos gratuitos é questionável.
É discutível se a obtenção onerosa de fundos para financiamento gratuito de uma afiliada deve
ser interpretada como uma atuação da empresa da qual se esperam benefícios futuros, de uma
atuação com finalidade lucrativa (no interesse da empresa) e no exercício da atividade.
• Interpretação STA (10/7/02, 0246/02) – não admite;
o Os custos previstos no art. 23º CIRC têm de dizer respeito à própria sociedade
contribuinte, pelo que para determinada verba ser considerada custo daquela
sociedade, é necessário que a atividade respetiva seja por ela desenvolvida, e
não por outra sociedade, ainda que em relação de domínio.
o Jurisprudência tem vindo a ser confirmada
o APD: não são subsumíveis pois não se trata de juros de capitais alheios aplicados
na própria exploração90
Se não existir grau de permanência suficiente em território português que permita ter um
Estabelecimento Estável, o rendimento obtido em território português não é tributado como EE, é
tributado através dos rendimentos das diversas categorias tal como elas são no IRS.
90
Se sociedade-mãe pedir financiamento para uma das sociedades do grupo (sendo ela a pedir por razões
não fiscais ou outras) tal não é dedutível pela sociedade-mãe porque os sujeitos passivos são distintos.
Sociedade-mãe é tributada pelo seu próprio rendimento e as filiais também.
➢ Em termos jurídicos, para efeitos de IRC, não há tributação de grupo e cada uma é tributada por
si, pelo que não pode haver uma transferência de rendimentos de um lado para outro.
➢ Isto está relacionado com a prevenção de comportamentos abusivos – para evitar estes
comportamentos, não se permite estas transferências.
123
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
sociedades. Nestes casos, como a sua atividade está relacionada com este objeto daí poder ser
deduzido.
➢ APD discorda – deve analisar-se caso a caso.
o Se participada não conseguir financiamento, pode ir a SGPS.
o Se razões para SGPS se endividar for puramente fiscais então não devia ser
possível deduzir.
Tributação segundo método Direto: IRC permite dedução de gastos que estejam relacionados
com a atividade da empresa.
➢ Esses gastos não têm de coincidir com os admitidos para efeitos fiscais e aqueles
admitidos segundo as regras gerais de contabilidade.
Além disso, os códigos de imposto sobre os rendimentos estabelecem limites à dedução dos
gastos – para prevenir comportamentos abusivos e/ou evitar que haja indiferenciação entre
a esfera empresarial e pessoal.
➢ Não deve haver valoração quanto ao significado de gasto no interesse da empresa – AT
não deve substituir-se ao juízo do empresário.
o Não pode haver um limite relacionado com o juízo de mérito.
91
O que está em causa é: quando os tribunais questionam se podem ser deduzidos os suprimentos na
esfera da sociedade mãe, o que estão a fazer é um juízo formal (não atende à necessidade de
financiamento das afiliadas).
➢ Isto é questionável porque apesar da natureza ser a gestão de prestações sociais pois nas SGPS
é difícil ter a certeza se as afiliadas têm atividade efetiva ou são meras caixas postais.
124
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Tem de se fazer uma interpretação caso a caso para ver se está relacionada com a atividade.
➢ Isto significa que a tributação do rendimento real é um conceito normativo e que implica
limites à dedução de gastos por parte do legislador, nos termos da CRP.
➢ Ex: dedutibilidade de juros por parte de um sujeito passivo de IRC – caso ainda por
decidir92
➢ Tribunais não fazem teste de saber se o financiamento era necessário para uma atividade
relevante por parte da afiliada.
o APD: não bastaria uma dedução automática e teria de se fazer teste ulterior e verificar
para que fins foram afetos os montantes financeiros transferidos para as participadas.
STA é muito rígido quanto às Sociedades que não são SGPS e demasiado brando quanto
às SGPS.
92
Os códigos de imposto têm normalmente limites à dedução de juros – estes limites foram introduzidos
para reduzir um enviesamento na forma de financiamento das sociedades.
• Em termos fiscais tem havido um entendimento que é mais favorável ao endividamento.
• Quando há lucro há tributação e quando há distribuição de dividendos aos acionistas há nova
tributação – dupla tributação económica (tributação do mesmo rendimento).
o Existe nova tributação porque há 2 passivos com 2 capacidades contributivas
autónomas.
o Do ponto de vista económica isto é desvantajoso porque é o mesmo rendimento que
está em causa.
o Se sociedade optar por recorrer ao crédito o tratamento fiscal é mais vantajoso, pois
esses juros são dedutíveis e vão reduzir o lucro.
Tratamento fiscal esteve na origem da crise financeira de 2008, porque juros eram pagos a entidades
situadas em paraísos fiscais.
➢ Financiamento ocorre dentro dos grupos societários mas quem o faz está situado em Estados
não cooperantes.
➢ Isto significava que a sociedade que se endividava estava num território de tributação normal e
que emprestava estava num território de tributação baixa ou nula (esse rendimento, portanto,
não era tributado).
➢ Reação a esta situação foi introdução de normas nos códigos de imposto que limitem esta
situação. Regras no código até 1 milhão de € ou 30% - regras EBTIDA que orientam o
comportamento das empresas.
Isto está ser analisado no Tribunal Constitucional Alemão – se se decidir pela sua inconstitucionalidade,
as normas em Portugal do EBTIDA também vão sofrer porque são inspiradas.
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Métodos Indiretos
Esses métodos vulgarizaram-se a partir dos anos 70 mas em Portugal eles só foram incluídos no
final da década de 90 – devido às circunstâncias históricas.
São métodos subsidiários (art. 81º, 83º, 85º LGT) de determinação da matéria tributável, a
aplicar quando não é possível determinar com fiabilidade o rendimento real, ou quando o
sujeito escolhe ser tributado com base no regime simplificado.
➢ Administração só pode recorrer a estes métodos se não puder ser aplicado o método
direto, i.e., a tributação do rendimento real com base nos deveres de contabilidade e
declarativos do sujeito passivo
o Quando o contribuinte não cumpre os seus deveres legais (acessórios) de
cooperação com o Fisco, o Fisco pode tributar através de outros métodos que
se podem reconduzir à figura dos métodos tipificantes (tributação segundo tipo
médio/frequente).
o São métodos presuntivos – designação doutrinal que a legislação não acolhe
pois eles existiam antes da reforma fiscal e estavam associados a uma situação
de injustiça.
▪ Métodos presuntivos/tipificantes = métodos indiretos
➢ TC 84/2013, 43/2014: não é inconstitucional (não são contrários ao art. 104º/2 CRP93)
Para não serem inconstitucionais devem aproximar-se o quanto possível do que seria a situação
real.
Utilização subsidiária deve ser interpretada em sentido estrito e só pode ser utilizada se
estiverem verificados os pressupostos dos art. 87º e ss. LGT.
1. Violação de deveres formais ou de cooperação por parte do Sujeito Passivo (art.
87º/1/b, e)
2. Discrepância não justificada entre o valor declarado e os valores de referência (art.
87º/1/d, f)
➢ As manifestações de fortuna também podem dar lugar à tributação segundo
métodos indiretos.
➢ As manifestações de fortuna e desvios do rendimento padrão são indícios legais
de que há uma ocultação material de informações – contêm uma presunção de
que a informação sobre os rendimentos efetivamente obtidos pelo sujeito
passivo é deficiente ou insuficiente
i. PRP: essas manifestações de fortuna têm de ser adequadas – têm de ser
adequadas a uma revelação estrutural da capacidade contributiva (da
força económica do contribuinte)
Há estas 2 situações previstas na lei que se aplicam quer a sujeitos passivos de IRS quer a sujeitos
passivos de IRC.
➢ Casos de uma situação de non-liquet em que a tributação conforme à declaração
apresentada pelo sujeito passivo fracassa
o Fisco não consegue apurar o rendimento real pois a declaração do contribuinte
ou não foi apresentada, ou foi apresentada com insuficiências, ou não foi
acompanhada pelos instrumentos exigidos por lei, ou há manifestações de
93
Temos de ter sempre presente que dada a exigência do art. 104º/2 estes métodos são de aplicação
excecional.
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Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
fortuna que não se consegue comprovar como foi obtido o rendimento para a
sua aquisição.
A aplicação destes métodos implica uma diminuição da medida da prova por parte da AT (art.
74º/3 LGT) e a limitação do princípio do inquisitório e da verdade material (art 58º, 99º/1 LGT).
➢ Aplicação de métodos indiretos só se justifica quando existe impossibilidade por parte
da AT segundo os métodos diretos e não deve existir nenhum juízo de mérito por parte
da autoridade tributária – são factos objetivos.
Pode haver também uma tributação pelo rendimento padrão – rendimento de referência que
orienta a Administração tributária para o desvio no caso concreto.
➢ Sujeito passivo pode sempre explicar e justificar.
Os métodos indiretos são uma solução de segundo ótimo, justificando-se apenas quando
violados os deveres de contabilidade, pois estes são o pressuposto e condição da tributação do
rendimento real
As despesas não documentadas são a figura que ocupa a lógica da tributação do rendimento
real (tendo absorvido a antiga categoria de despesas confidenciais).
➢ A autonomização das despesas não documentadas tem razões históricas.
Hoje em dia, a ausência de prova documental exigida para efeitos fiscais, implica não apenas
a sua indedutibilidade mas também a sua tributação autónoma.
➢ Esta é uma figura jurídica criada pelo legislador português que não tem muita
semelhança com outros regimes de Direito Comparado, sendo utilizada para tributar
rendimentos que não conseguem ser tributados na esfera do contribuinte, dados os
seus contornos variáveis, difíceis de caracterizar e voláteis.
94
Primeiro temos de ver se há fundamento para a AT utilizar os métodos indiretos;
Depois vemos como a AT aplicou esses métodos indiretos
➢ Dos elementos do art. 90º LGT ainda temos uma indicação que a AT vai tentar perceber qual a
situação exata a ser tributada, dentro dos seus limites e recursos
o AT não pode impor uma percentagem, tem que tentar chegar o mais perto possível da
tributação real.
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Imposto cedular, de taxas proporcionais ou progressivas que incide sobre despesas do sujeito
passivo.
➢ Formalmente incluída nos códigos de impostos sobre o rendimento mas formalmente
não corresponde a rendimento. Incide sobre despesas do sujeito passivo.
Este é um imposto inserido no CIRS (art. 73º) e no CIRC (art. 88º) mas que é diferente do IRS e
IRC
➢ É um imposto cedular, de taxa proporcionais ou progressivas, incidindo sobre despesas
do sujeito passivo.
o Estas despesas constituem rendimentos que presumivelmente não
conseguiram ser tributados na esfera do contribuinte (ou porque não se sabe
quem é, dada a não documentação; ou porque existe dificuldade em separar a
esfera privada da profissional).
o Existe, então, uma responsabilização tributária do sujeito passivo que paga os
rendimentos.
A evolução deste regime tem demonstrado uma finalidade penalizadora, a par de uma razão
estritamente fiscal, relacionada com a não dedutibilidade
➢ Subjacente a este regime está uma finalidade sancionatória – devia ser alheia à
tributação, pois não faz parte do conceito de tributo/imposto, mas é expressamente
referida pelo TC 18/2011
95
APD: paralelo a este instituto porque a responsabilidade tributária é quanto a dívidas de outrem. Aqui
é mais ou menos o mesmo.
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Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
STA e TC reconhecem que esta é uma forma de tributação, formalmente inserida no CIRS e CIRC,
mas que não têm a ver com a tributação do rendimento e sim com a tributação de certas
despesas.
➢ Mas, o TC (18/11) aponta uma finalidade “penalizadora” e de “desmotivar práticas”
que podem envolver situações de ilicitude penal ou de menor transparência fiscal.
o Associa a uma finalidade antiabuso.
▪ APD: argumento interpretativo ilegítimo no Direito Fiscal.
Finalidade antiabuso – como se não consegue tributar o beneficiário dos rendimentos vai-se
tributar quem efetua a despesa, desincentivando essa despesa.
➢ Quem fica submetido à tributação autónoma é quem efetua a despesa – se despesa não
foi efetuada não se transmitiu rendimento para um sujeito em que não se consegue
apurar e tributar.
o No contexto de violação de dever parece que tem finalidade de repreensão –
sanção pode ser avançada com maior aquidade do que nos outros casos (ex:
não faz sentido a lei repreender a aquisição de uma viatura ligeira ou despesas
de representação – o máximo que se pode fazer é limitar a dedutibilidade)
Mas a tributação autónoma de despesas não documentadas pode resultar numa violação do
princípio do ne bis in idem, pois art. 117º RGIT já contém uma contraordenação que versa
sobre o incumprimento do dever de entrega, exibição ou apresentação de despesas
documentadas.
Esta tributação autónoma das despesas não documentadas pretende compensar o pagamento
oculto de rendimentos a outro sujeito passivo não identificável pela AT.
• É uma forma de recuperar a receita que não consegue ser tributada na esfera do
beneficiário.
• Esta tributação assenta numa presunção inilidível de abuso.
Tributação autónoma dos art. 88º CIRC e art. 73º CIRS cria uma responsabilidade tributária e
por isso não assenta nos métodos diretos de tributação (não assenta na tributação do
rendimento acréscimo ou rendimento real líquido).
130
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Há esta tributação porque é difícil traçar a fronteira entre o business purpose e outros, pelo que
assim se garante alguma tributação apesar de tudo.
APD: regime da tributação autónoma devia ser eliminado – surgiu por facilidade de
arrecadação de receita, mas essa não pode ser o fundamento dos impostos.
➢ Num EDD nunca podemos dizer que um imposto se justifica porque o Estado precisa de
arrecadar receitas, tem de o fazer dentro dos limites constitucionais e seus princípios.
131
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
RESIDENTES:
• para aqueles que desenvolvem atividades empresariais o objeto do IRC é o lucro
tributável;
• para aqueles que desenvolvem atividades não empresariais são tributados pelo
rendimento global (que corresponde à soma algébrica das categorias do IRS).
NÃO RESIDENTES: temos de distinguir dos que têm Estabelecimentos Estáveis em Portugal e os
que não têm
• Estabelecimentos Estáveis – tributação incide sobre o lucro (equiparado aos residentes
dado a ser atividade com caráter de permanência).
o Tributam-se os rendimentos que não sejam tributáveis em IRS
o Se houver instalação fixa através da qual é exercida a atividade de uma
sociedade não residente (ex: sucursal), ou se houver uma sociedade que envia
um dos seus trabalhadores por um período limitado no tempo, então também
esse não-residente é tributado em IRC se não for uma situação que caia no
âmbito do IRS. Sabemos isso se se tratar de uma sociedade noutro Estado, que
vai ser tributada como não-residente em território português. Temos de
atender ao estatuto jurídico do não residente à luz do nosso código.
• Estabelecimentos Não Estáveis – tributação é sobre rendimentos das diferentes
categorias por remissão para o CIRS
96
O que interessa é a sede estatutária – sendo constituída com a sede principal em Portugal ela é
residente.
➢ Mesmo não tendo a sede, se desenvolver a sua atividade principal em Portugal ela é considerada
como residente.
Ex: pode acontecer que haja processo de investigação que ocorre em Portugal e que gera uma patente
(ou algo equiparado). Sociedade vai procurar regime fiscal mais favorável e regista a patente no Panamá
ou Irlanda. Com esse registo, a invenção resultante da investigação vai ser considerada residente no
Panamá/Irlanda, tendo lá a sua sede. Mas como a investigação que originou a patente foi em Portugal,
Portugal é que terá direito a tributar os rendimentos dessa patente pois a atividade efetiva foi em
Portugal.
132
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Tributa-se o Rendimento Real – conceito normativo que traduz métodos diretos na tributação
do rendimento líquido – art. 17º CIRC98
➢ Ocorre quando há contabilidade organizada e cabe ao sujeito passivo fazer a liquidação
na declaração periódica de rendimentos (autoliquidação), com base na matéria
coletável aí apresentada.
Art. 23º CIRC prevê a dedutibilidade de gastos e perdas incorridos ou suportados pelo sujeito
passivo para obter ou garantir os rendimentos sujeitos a IRC – têm de ser documentados e
incluem várias situações.
Art. 23º-A CIRC consagra os encargos não dedutíveis
Pode haver uma limitação à dedutibilidade de gastos de financiamento – limites podem ser
justificados de forma orientar o comportamento das empresas no sentido de recorrerem ao
mercado de capitais (evitando o sobre-endividamento – para evitar um tratamento mais
vantajoso dos juros em relação aos dividendos); combater o abuso fiscal; garantir uma simetria
na dedução de gastos e correspondente tributação (pois esta regra é especialmente dirigida ao
endividamento externo das empresas).
→ Art. 67º
Reporte de prejuízos é permitido com base na mesma lógica de simetria entre dedução de
prejuízos e tributação do lucro.
Estabelecendo limites ao reporte de perdas os Estados aceitam participar das perdas das
empresas (não as tributando), por um número determinado de anos.
→ Art. 52º
97
Se esta base não for idónea para calcular utilizam-se os métodos indiretos
98
Para APD: só é tributação do rendimento real quando tal ocorre com base na declaração de
contabilidade das empresas e não quando se recorre a métodos indiretos.
Para PRP: mesmo com métodos indiretos ainda é tributação do rendimento real – atende-se à
substância e não à forma.
133
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
➢ Alguns sujeitos passivos de IRC podem optar pelo regime simplificado de determinação
da matéria coletável
o Residentes não isentos nem sujeitos a um regime especial de tributação, que
exerçam a título principal uma atividade de natureza comercial, industrial ou
agrícola e que não ultrapassem um certo montante líquido de rendimentos –
art. 86º-A
O IRC tem uma incidência ampla e não cedularizada, pelo que uma menos-valia pode engolir o
lucro – entende-se que esta menos-valia pode ser em fraude para não se ter matéria coletável
que faça funcionar a norma de incidência.
➢ Admite-se reporte para o mesmo ano
Para não ser inconstitucional só pode ocorrer em casos e condições expressamente previstos
na lei, designadamente na impossibilidade de apuramento do rendimento real, o que significa
que ela só pode ocorrer quando o contribuinte violou os seus deveres formais de modo a
impossibilitar a tributação segundo a contabilidade organizada, ou quando apresentou um
acréscimo patrimonial não justificado.
Taxa
2017: 21%
➢ Deveria ser única, mas introduziram-se taxas diferentes nos últimos anos
134
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
No final do séc. XIX já havia uma espécie de IVA num Estado federado dos EUA.
IVA foi criado em França e adotada pelo Tratado de Roma como imposto a ser aplicado por todos
os Estados-Membros da UE.
É imposto de sucesso e tem vindo a ser implementado em cada vez mais países do mundo.
➢ Imposto de grande sucesso e é aquele que gera mais receita em Portugal (38,2% em
2015).
o IVA gera mais receita que o IRC (em vários Estados da UE, como Portugal).
o Na Europa tem aumentado o IVA pois os impostos diretos têm vindo a diminuir
– devido a dificuldade em cobrar IRC e concorrência fiscal entre Estados.
o Compensa a diminuição de receitas nos outros impostos diretos.
o À partida IRS e IRC seriam mais justos – impostos diretos incidem sobre
situações em que é mais fácil verificar a capacidade contributiva.
▪ IVA não consegue prosseguir objetivos de justiça.
Imposto de base alargada, sobre a venda de bens e incluindo pelo menos o estádio de
manufatura, com sistemática creditação do imposto cobrado sobre bens comprados como
inputs – excetuando os bens de capital – e contra os devidos outputs
➢ Definição FMI
99
Sistema Fiscal Português começou a ser estruturado em 1985 como exigência constitucional e da
Comunidade Económica Europeia.
• No final dos anos 80 surgiu a primeira reforma fiscal – iniciada em 1985 com a introdução do IVA,
continuada em 1988/89 com a aprovação do IRS e IRC.
• No final dos anos 90 surge a LGT e o Código de Procedimento e Processo Tributário.
• No início dos anos 2000 surge o RJIT.
• Mais recentemente, em 2011, surgiu o RJAT (Regime Jurídico da Arbitragem Tributária).
100
Os Impostos sobre o Consumo são divididos num imposto geral sobre o consumo (IVA) e impostos
especiais sobre o consumo.
135
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Incide sobre todas as fases do processo produtivo (todas as transações económicas a título
oneroso), e atinge os atos de consumo através do método subtrativo indireto (liquidação e
dedução do imposto em cada fase do circuito económico), das faturas e do crédito de imposto.
• Isto significa que sobre cada fase do processo de produção vai se deduzir IVA e deduzir
os gastos que se teve para se acrescentar valor.
o Receita que entra menos os gastos necessários para adicionar o valor.
• É o consumidor que paga o preço total.
Sujeito passivo não é o consumidor, pois ele não entra na relação jurídica com a autoridade
tributária – o consumidor é o contribuinte de facto.
➢ Sujeito passivo não é contribuinte, pois quem suporta o imposto é o consumidor final.
Técnica que só existe no IVA – técnica muito sofisticada que permitiria controlar a evasão fiscal
pois evita que um setor de atividade fuja aos impostos.
• Problema é que na prática só funciona com muita fiscalização da AT
o Quando não se consegue permanentemente estar a fiscalizar, o IVA vai implicar
uma grande perda de receita fiscal (há proteção interna dos setores e se
nenhum passar fatura então não há pagamento do IVA).
o Emissão de fatura é um pressuposto para o bom funcionamento do IVA.
• Depende da boa organização da AT e dos ministros responsáveis pela pasta da
fiscalidade.
Objeto do Imposto
Definido no art. 1º CIVA e a nível interno dependem da qualidade do sujeito:
→ estão sujeitas a imposto as transmissões de bens e as prestações de serviços efetuadas
em território português e a título oneroso, desde que tais transações sejam efetuadas
por um sujeito passivo.
Não são sujeitos passivos de IVA o Estado e outras pessoas coletivas de direito público que
realizem operações tributáveis em IVA.
Neutralidade do Imposto
Pressupõe que não haja isenções e quanto menos taxas houver, menor o impacto nas decisões
empresariais e consequente neutralidade do imposto.
IVA deve ser imposto Neutro – é assim que nasce, definido e configurado.
➢ Ou seja, por ser imposto indireto não devia estabelecer a diferença entre setores, pois
tal introduz distorções no mercado
o Estado não devia privilegiar certas atividades em função de outras.
Neutralidade devia ser assegurada por uma taxa única (Nova Zelândia, Austrália e Taiwan)
136
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Imposto é neutro se não tiver impacte nas decisões comerciais (em sentido amplo) – decisões
sobre o tipo de atividade a ser exercida.
➢ Na UE essa eficiência e neutralidade estão abaixo da média
o Mas seria possível desde que o imposto seja configurado dessa forma.
APD: A diferença entre a base real e a base potencial é justificada, em alguns casos, por
objetivos sociais ou redistributivos, conduzindo à diferenciação de taxas do imposto e à
isenção de entidades do setor público ou de entidades de caridade (isenção de mérito).
101
APD: argumento falacioso porque há países que tributam as operações financeiras em IVA, UE também
o poderia fazer
137
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
➢ Se tivéssemos uma taxa única no IVA, havia neutralidade, mas, como todos os
consumidores pagariam o mesmo imposto independentemente da capacidade
contributiva significava que os contribuintes com maior capacidade contributiva
estariam a pagar um menor imposto do que aqueles com menor capacidade
contributiva.
o IVA totalmente neutro seria regressivo porque não tinha em conta capacidade
contributiva.
APD: argumento falacioso porque não compete ao IVA prosseguir objetivos de redistribuição
• Argumentos estão a ser introduzidos no imposto errado – não há esta lógica de justiça
redistributiva no IVA.
o Basta este aspeto para se assegurar que não há uma inconstitucionalidade.
• Questões perdem racionalidade porque são discutidas a nível político
Único argumento que pode ter acolhimento é o facto de ser muito difícil atualmente arrecadar
receitas em matéria de imposto societário dada a livre circulação de capitais
➢ Pelo que se vai buscar receita fiscal a outros impostos (ao IVA e impostos estáticos do
património) – há uma compensação.
o E já que há essa compensação então tem de se lhe dar uma feição mais
redistributiva.
▪ APD: pode fazer sentido quanto a bens essenciais mas é discutível
noutros
Taxas do IVA
Este imposto é harmonizado ao nível da UE, que mantém um sistema de taxas múltipla –
permite uma taxa normal (não inferior a 15%) e outras mais reduzidas.
➢ Regras deixam muita margem de liberdade aos Estados-Membros.
IVA europeu é um IVA que não é recomendável como modelo para fora da UE – as 3 taxas
destroem a neutralidade do IVA
➢ Introduz fator de progressividade em imposto que não deve ter essas preocupações
(que está ligada à prosseguição de justiça fiscal).
➢ Introduzem juízos valorativos que não devem estar associados ao IVA – todas as
distinções jurídicas vão gerar distorções. Ex: touradas
138
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Em 2003 a Comissão Europeia veio dizer que a redução do IVA não tem efeitos no preço ao
consumidor, não aumenta o emprego nem reduz o mercado informal.
➢ Discussão da redução para as atividades culturais e outras não devia existir –
consumidor não vai beneficiar em nada quanto a essa redução; ele suporta o mesmo
custo e há é mais margem de lucro para o produtor.
139
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Conclusão
É muito difícil simplificar o IVA europeu e seria mais simples criar de novo todo o imposto, desde
o início, com uma taxa única.
➢ APD: isto não vai acontecer na UE
Taxa do IVA vai aumentando, devido a não se conseguir cobrar IRC, mas também por se irem
introduzindo várias taxas de isenções.
140
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Os impostos gerais sobre o património têm a função principal de controlo102 dos impostos sobre
o rendimento das pessoas singulares e, por essa razão, por serem estáticos e periódicos, a sua
taxa é baixa a alíquota tem de ser muito baixa para não atingir a fonte da riqueza.
➢ Em Portugal não existe nenhum imposto geral sobre o património e somente existem
impostos parcelares.
o Sousa Franco tentou introduzir para contribuir para a igualdade entre os
cidadãos, dando abrigo à exigência constitucional.
o Teria funções redistributivas.
➢ Não foi criado devido à livre circulação – imposto geral implicava tributar bens
mobiliários e imobiliários o que levava a fuga de capitais para o exterior.
➢ Havia também sigilo bancário em muitos dos Estados da OCDE – não era possível obter
informação sobre riqueza situada no exterior.
➢ Imposto destinado ao fracasso e que não atingia a sua função.
Se estamos sujeitos à tributação do património imobiliário, qual a função que este imposto
serve?
APD: imposto parcial sobre o património não deve prosseguir objetivos redistributivos porque
se o fizer está a fazê-lo de forma arbitrária.
➢ Não se pode aplicar critério de igualdade se o critério é numa base truncada – ser só
imobiliário e não mobiliário afeta a igualdade.
IMI
Imposto Municipal sobre Imóveis incide sobre o valor patrimonial tributário dos prédios
rústicos e urbanos situados no território português, constituindo receita dos municípios onde os
mesmos se localizam.
102
Permite controlar a declaração de rendimentos se aquilo que é declarado corresponde ao património
que é detido pelo sujeito.
➢ Se houve discrepância é possível ouvir o sujeito passivo e questionar qual a fonte dessa riqueza
e etc.
Função é de controlo, que contribui para uma função redistributiva – não é exercida diretamente pelo
imposto geral mas complementa os impostos pessoais.
141
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Taxas do IMI são utilizadas para prosseguir múltiplas finalidades fiscais e extrafiscais mas não
prosseguem objetivos redistributivos pois tal só poderia ser prosseguido por um imposto geral
sobre o património e não por impostos parcelares.
Chegados ao fim do art. 104º CRP podemos verificar que atualmente há uma destruturação
dos sistemas fiscais.
➢ Devido à globalização o que existe é uma tributação crescente do imobiliário e a nível
do IVA.
➢ Solução deste problema é a coordenação internacional.
142
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Princípio da Praticabilidade
O Direito Fiscal é um ramo de Direito de atos massa, pelo que se caracteriza pela tipificação
legal, por contraposição à individualização.
Há situações que podem ser fixadas por Portaria (ex: art. 33º/2 CIRS)
• Casalta Nabais: dada a reserva de lei fiscal e as exigências de determinação, defende
expressamente a tipificação legal, como uma forma recomendável de simplificação da
lei fiscal, considerando-a preferível à tipificação administrativa.
143
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
144
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Planeamento fiscal enquadra-se nas liberdades de iniciativa económica e da empresa (art. 61º,
80º/c e 86º CRP).
➢ É lícito – a compatibilização entre os princípios constitucionais da liberdade de iniciativa
e económica da empresa e os princípios constitucionais materiais dos art. 103º/1 e 104º
CRP não põe em causa o planeamento fiscal em sentido próprio.
Moralidade fiscal não é um princípio jurídico, pelo que não pode ser utilizada como princípio
interpretativo da lei fiscal.
145
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Estas lacunas não intencionais devem distinguir-se das lacunas não intencionais resultantes
da conjugação de dois ou mais ordenamentos jurídicos (disparidades).
• As lacunas não intencionais proporcionam elisão fiscal.
• As disparidades proporcionam dupla não tributação e consequente planeamento fiscal
conducente a esse resultado.
103
Estas soluções não eliminam as lacunas intencionais nem o devem fazer, dado serem intencionais
146
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
As situações de elisão fiscal podem ser resolvidas por interpretação da lei fiscal ou, quando esta
não é suficiente, por cláusulas antiabuso.
Como a lei fiscal deve ser interpretada segundo os critérios de interpretação da lei, nestas
situações o elemento teleológico da norma desempenha uma função valiosa para reconstruir
o significado da lei na sua materialidade e razão de ser.
➢ Mas a lei fiscal não pode ser interpretada com base no princípio da capacidade
contributiva – esse é um princípio constitucional de repartição da carga tributária e a
sua concretização cabe ao legislador, o qual tem discricionariedade legislativa.
o Ou seja, a lei fiscal escolhe os factos a tributar e por isso a finalidade de
arrecadação nunca pode orientar a interpretação da lei fiscal.
Neste caso a requalificação foi feita através da interpretação: eram juros para efeitos fiscais
(apesar de não o serem para o Direito Civil pois ainda não tinham vencido).
147
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
A elisão fiscal em sentido amplo pode ser colmatada pelas regras de interpretação.
A elisão fiscal em sentido restrito é corrigida pela aplicação de cláusulas antiabuso.
➢ Abuso Fiscal é sinónimo de Elisão Fiscal: significa um comportamento que é conforme à
letra da lei mas desconforme ao espírito e muitas vezes o contribuinte utiliza um
esquema artificial para conseguir os seus objetivos.
148
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
Só podem fundir-se por razões económicas válidas – conceito indeterminado – se houver estas
razões económicas válidas pode haver uma dedução dos prejuízos.
• Que razões se enquadram aqui? De forma a que autoridade tributária permita deduzir
esses prejuízos?
104
Fradulento = esquemas artificiosos que revelam a ausência de finalidade económica ou comercial
(business purpose test).
105
Escândalos com multinacionais (movimento BEPS – base erosion profit shift) levaram alguns Estados a
aplicar sanções. Ex: Espanha, EUA
106
Lei isentava as mais-valias de ações, como aconteceu durante um tempo no CIRS, para aquelas detidas
superiores a um período de 12 meses – mas não se falava das sociedades por quotas, por isso havia uma
transformação da sociedade.
➢ A pergunta é qual a finalidade da transformação daquela sociedade numa sociedade por quotas
– se for um objetivo só de não pagar o imposto, temos de perguntar se há conformidade entre o
espírito e a letra da lei.
➢ Porque é que o legislador isenta mais valias decorrentes das ações e não das quotas? Há
elemento normativo que temos de apurar para este tipo de atuação do contribuinte.
o Se se tentar atingir só as sociedades anónimas estamos perante lacuna intencional –
planeamento do contribuinte é legítimo.
o Se for não intencional – a letra da lei é cumprida mas o espírito não (pode não ter como
objetivo somente isentar as sociedades anónimas).
149
Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
o Sociedade incorporada tem valor intrínseco dado aos seus ativos intrínsecos em
si que são valiosos. Sociedade que faz fusão entende que são recuperáveis e
podem beneficiar a sociedade fundida.
o Se razões forem fundamentalmente fiscais não pode haver dedução de
prejuízos, se forem razões económicas válidas pode.
o Este conceito indeterminado funciona como regra anti-abuso107: permite-se a
dedução dos prejuízos se houver uma substância económica para a operação,
se essa operação não for meramente artificial.
A aplicação do art. 38º/2 não contém uma presunção de abuso, mas cabe ao fisco demonstrar
que a vantagem fiscal foi uma das finalidades essenciais ou principais do negócio ou ato
jurídico (nos termos do art. 63º CPPT).
• Se houver situação de artificialidade o fisco pode requalificar
o Há uma desqualificação e depois uma requalificação
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APD: São regras complementares às regras de interpretação das leis fiscais.
• Há autores que dizem que não eram necessárias e bastava-se uma interpretação teleológica.
• Elas existem fundamentalmente devido à reserva de lei – contribuinte fica com maior ideia de
como a AT vai aplicar a lei fiscal e quais os limites ao planeamento.
108
Quanto às sociedades-mãe, houve regras que surgiram nos EUA no final dos anos 60, pois percebeu
que havia muitas filiadas a serem constituídas em paraísos fiscais que não distribuíam dividendos e
portanto EUA nunca tributavam.
➢ Regras CFC – sociedades estrangeiras controladas
o Desconsidera-se a personalidade jurídica e tributa-se diretamente.
o Funcionava como uma presunção inilidível.
o Na Europa não podem haver estas regras – não podem haver presunções inilidíveis.
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Sebenta Fiscal – 2018/2019 DNB
DL 29/2008
Ordem Jurídica portuguesa foi das primeiras a introduzir o conceito de Planeamento Fiscal
Agressivo, ao exigir a comunicação às autoridades fiscais de esquemas que consistam em tais
planeamentos por parte das entidades que os recomendam ou por parte dos beneficiários desses
esquemas.
➢ O regime é justificado com o objetivo de trazer de volta a integridade e a justiça ao
sistema fiscal, reduzir o efeito perverso de desencorajar o contribuinte cumpridor a
observar as suas obrigações ficais e a reduzir os enormes custos administrativos com a
fiscalização.
▪ TJUE não permite que estas presunções sejam inilidíveis e tem de haver uma
possibilidade para o particular contrariar a presunção.
▪ É muito difícil aplicar cláusulas anti-abuso na lógica internacional.
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