Você está na página 1de 6

Egúngún -

O Ancestral que vence a Morte (Esquecimento)

*Bàbá Egúngún,

Se você amigo, deseja realmente entender um pouco mais sobre isso, viaje comigo nesta leitura e
desvende alguns dos vários mistérios que envolvem essa Divindade: EGÚNGÚN.

Egúngún é um termo só, mas que representa muitas coisas, primeiramente é preciso entender que
Egúngún é o culto aos ancestrais veneráveis do sexo masculino, note que a palavra venerável designa
pessoas veneráveis, ou seja, não é qualquer ancestral. Na visão tradicionalista yorùbá, um homem, para
se tornar um ancestral venerável, precisa concluir algumas etapas na vida material e espiritual. Algumas
delas são: Ser iniciado, especialmente em Ifá, que é o grande revelador do destino humano, ter
cumprido as determinações de Ifá, ter sido um devoto ou sacerdote de òrìsà sério e comprometido, ter
após seu falecimento, sido submetido aos rituais de ajéjé (rituais fúnebres). No campo material ele
necessita de algumas coisas como, ter adquirido casa própria, constituído família (ter muitos filhos), ter
atingido idade avançada (mais de 60 anos de idade), ter uma influência social e familiar muito grande.
Esses são alguns dos requisitos necessários para que um homem, após seu falecimento, seja considerado
pela sociedade yorùbá, um ancestral venerável, ou seja, um homem digno de culto, um membro da
sociedade Egúngún.

Ora, eu disse sociedade Egúngún certo? Certo! Pois é isso que Egúngún é, uma sociedade que representa
os ancestrais masculinos dignos de culto.

Além disso, a palavra Egúngún representa um òrìsà, ou seja, uma divindade que lidera e representa essa
sociedade. Muitos dizem que Egúngún não é òrìsà, o que é um grande equivoco, pois, na visão yorùbá,
tudo aquilo que é cultuado para trazer benefícios aos seres humanos, é considerado òrìsà. Assim como,
tudo aquilo que é APENAS (veja, APENAS) apaziguado para não prejudicar o homem é considerado um
Ajògún.

Sendo, Egúngún um òrìsà, porque razão seu culto é diferente das demais divindades? Eu digo! Pelo
simples fato de que nenhum culto é igual ao outro! Ifá é òrìsà, porém possui um culto e símbolos
diferentes das demais divindades, assim como Ògún, Òsàlá, Òsun e muitas outras divindades. Todas
possuem suas particularidades, logo, é preciso entender que a iniciação visa muito mais que fazer uma
festa no domingo e apresentar o Ìyàwó (Adósù, Elégùn, Awòrìsà) a comunidade, a iniciação em qualquer
òrìsà, tem como objetivo principal tornar aquela pessoa um membro do culto daquela determinada
divindade. No Brasil, talvez pelo egoísmo de nosso povo, foi aglomerado, num mesmo sacerdote, várias
funções, que faz com que o mesmo, independente de ser iniciado ou não em determinado òrìsà, inicie
outras pessoas, não condeno isso, porém isso foge do principio de que, só podemos dar aquilo que
temos. Sendo assim, só posso dar o àse de Òsun para alguém, se eu tiver este àse, se não, o máximo que
posso fazer é indicar alguém de confiança que o tenha. Na Nigéria é assim que funciona, uma pessoa
pode perfeitamente, ser iniciada em quantas divindades quiser e PUDER, para isso existe Ifá, para
mostrar a necessidade daquele determinado Orí (cabeça).

Logo, qualquer culto tem seu grupo de devotos e sacerdotes, que podem adorar outras divindades, sem
problema, mas, sabendo que cada culto e cada divindade tem sua forma e suas particularidades.

Voltando à Egúngún, bem, já sabemos que além de tudo, Egúngún é um òrìsà com um culto
diferenciado, mas é uma divindade que auxilia o ser humano em seu desenvolvimento material, mental
e espiritual, agora nos resta saber pra que serve essa energia, certo?

Bem, Egúngún pode ser saudado, evocado e reverenciado por vários motivos, alguns deles são:

Òkànràn méjì: Mostra a necessidade de se cultuar Egúngún para que o ancestral não fique em
esquecimento e para que a vida de seus descendentes seja de alegria e felicidade.

Òfún méjì: Mostra a necessidade de agradar Egúngún para evitar que o espirito de uma criança abortada
(propositalmente) retorne na forma de Àbíkú.

Òwónrín méjì: Mostra a necessidade de cultuar Egúngún para que a pessoa volte a dormir bem, pois
pode estar sendo vítima de algum ègún (espírito maléfico).

Lembrando que, Egúngún representa a divindade e o culto, em quanto Égún representa um determinado
ancestral venerável, já a palavra Ègún representa qualquer espírito que esteja perdido e que se alimenta
da energia vital das pessoas, causando à elas insônia e outros tipos de problemas.
Egúngún também é muito cultuado para que a pessoa tenha longevidade, saúde e resistência. É usado
também para solucionar problemas na família, ou seja, o espírito continua orientando os descendentes
nos assuntos familiares. Egúngún também pode quebrar com certas negatividades que perseguem uma
mesma família por 7 gerações, ou seja, se aquela família sofre muito com mudanças por 7 gerações, o
problema pode estar em algum erro cometido por algum ancestral, que só será solucionado através do
culto de Egúngún.

Por último, desejo falar sobre a polêmica: MULHER X EGÚNGÚN, PODE OU NÃO PODE?

SIM, PODE! O porquê, eu explico:

Mulheres também possuem pai, avô, bisavô e etc...

Certo? Certo!

Logo, o que as impediria de terem contato com o culto de Egúngún? Nada!

Na Nigéria, algumas mulheres, por orientação de Ifá, precisam cultuar Egúngún e são iniciadas neste
culto, esta são as Ìyá-agan.

Elas possuem uma responsabilidade igual a dos Òjè e Olójè, a diferença é que as mulheres não podem
vestir a roupa, isso a tarefa para os homens.

No Brasil este interdito foi criado por algum motivo, que realmente desconheço, talvez pelo fato de
terem associado aqui, Egúngún à uma outra energia que representa os ancestrais masculinos, esta
chamada de Orò, que de fato, as mulheres não podem ter nenhum tipo de envolvimento.

Há uma cantiga de Orò que a tradução seria mais ou menos assim:


“A mulher pode descobrir o awo de Gèlèdè,

Elas podem descobrir o awo de Egúngún,

Elas podem descobrir o awo de Ìgúnnukò

Elas podem assistir Agemo

Porém, elas não podem descobrir o awo de Orò.”(...)

Awo é uma palavra que possui vários sentidos, nesse seria segredo.

Ìgúnnukò e Agemo são outros tipos de culto aos ancestrais.

Para Egúngún podemos oferecer de tudo, uma comida que algum ancestral nosso gostava, bebidas e
etc...

Porém, as oferendas prediletas do Òrìsà Egúngún são: Èko (akassa), Àkàrà (acarajé), Obì, Orógbó, Otí
(Gyn) e Àgbò (carneiro).

Lembremos que, a religião dos orixás é uma religião INICIÁTICA, ou seja, para fazer certas coisas é
necessário ter INICIAÇÃO, pois só através dela que se adquiri o axé para colocar em prática certos
conhecimentos e até se aprofundar mais. E no que se diz respeito à Egúngún, isso deve ser levado muito
a sério, há uma orin (cântico) que explica bem isso:
“Bàbá ímàlè

Mo le o,

Bàbá ímàlè

Ogberi to l’oun fé seré awo

Bàbá ímàlè le o!” (...)

“O pai dos imalé,

É bravo!

O pai dos imalé,

Com o não iniciado que quer descobrir o awo (segredo)” (...)

Ousar a praticar atos que você nunca viu, ou a evocar e alimentar energias que você desconhece, é um
risco muito grande!

Tudo tem seu tempo e sua hora, por isso, tenha Súùrú (paciência).

Eu Ally Nebarackk (Òlóje ikú iké obárainan) espero que este texto tenha lhe ajudado a desvendar um
pouco, dos muitos mistérios criado em torno desta energia...

Desejo a todos que o Àse de Egúngún os acompanhe por toda a vida!

Ire o!

Você também pode gostar