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MARINHA DO BRASIL

DIRETORIA DE HIDROGRAFIA E NAVEGAÇÃO


SUPERINTENDÊNCIA DE ENSINO
CURSO DE APERFEIÇOAMENTO EM HIDROGRAFIA PARA OFICIAIS

UTILIZAÇÃO DO SONAR DE VARREDURA LATERAL PARA A LOCALIZAÇÃO


DE OBJETOS SUBMERSOS.

FILIPE DE OLIVEIRA LOPES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao corpo


docente e técnico da Diretoria de Hidrografia e Navegação da
Marinha do Brasil (DHN/MB), como parte dos requisitos
necessários à obtenção do grau de Oficial Hidrógrafo.

Niterói-RJ, Brasil
Outubro de 2019

Orientadora: Fernanda Monteiro Passamani


UTILIZAÇÃO DO SONAR DE VARREDURA LATERAL PARA A LOCALIZAÇÃO
DE OBJETOS SUBMERSOS.

FILIPE DE OLIVEIRA LOPES

MONOGRAFIA SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE E TÉCNICO DA DIRETORIA DE


HIDROGRAFIA E NAVEGAÇÃO DA MARINHA DO BRASIL (DHN/MB) COMO
PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE
OFICIAL HIDRÓGRAFO.

Examinada por:
_______________________________________________________________________
1o Tenente (T) Fernanda Monteiro Passamani, CHM/MB.

_______________________________________________________________________
1o Tenente (RM2-T) Adriano Guilherme da Silva, CHM/MB.

_______________________________________________________________________
1º Tenente (RM2-T)
Caio Manoel Lira da
Costa Fontes, CHM/ Niterói, RJ Brasil
MB. Outubro de 2019
UTILIZAÇÃO DO SONAR DE VARREDURA LATERAL PARA A LOCALIZAÇÃO
DE OBJETOS SUBMERSOS.

FILIPE DE OLIVEIRA LOPES

Outubro/2019

Orientadora: Fernanda Monteiro Passamani

Programa: Curso de Aperfeiçoamento em Hidrografia

O sonar de varredura lateral (SVL ou SSS – Side Scan Sonar) é um equipamento geofísico
que possibilita a investigação de áreas submersas a partir da emissão de feixes laterais que
permitem a produção de imagens (ensonificação) do fundo. O presente trabalho apresenta
uma metodologia de planejamento para a otimização das varreduras utilizando o SVL em
operações realizadas pela Marinha do Brasil, por meio da Diretoria de Hidrografia e
Navegação, com a finalidade de localizar objetos submersos. Esta pesquisa desenvolveu-se a
partir da revisão bibliográfica sobre a metodologia de aquisição com o SVL e sua aplicação
para a localização de objetos submersos pela Marinha do Brasil. O SVL se mostrou uma
excelente ferramenta na aquisição de dados que possibilitou a recuperação de um
equipamento oceanográfico, realizada pelo Centro de Hidrografia da Marinha a bordo do
Navio Oceanográfico “Antares” ,no litoral do Rio de Janeiro, aumentando a efetividade das
operações e diminuindo os custos.

Palavras-chave: Sonar de Varredura Lateral, Marinha do Brasil, acústica submarina.


APPLICATION OF SIDE SCAN SONAR IN DETECTION OF SUBMERSE OBJECTS

FILIPE DE OLIVEIRA LOPES

October/2019

Advisor: Fernanda Monteiro Passamani

The Side Scan Sonar (SSS) is a geophysical device that enables the investigation of
submerged areas through the emission of lateral beams that allow the production of images
(ensonification) from the bottom. This paper presents a planning methodology for the
optimization of scans using SSS in the detection of submerged objects in operations
performed by the Brazilian Navy Hydrography and Safety Navigation Center. In this research,
we conducted a literature review on the acquisition methodology using SSS and its
application in the detection of submerged objects by the Brazilian Navy. The SSS has proven
to be an excellent data acquisition tool, which enabled the recovery of oceanographic
equipment carried out by the Navy Hydrography Center aboard the “Antares” Oceanographic
Vessel, off the coast of Rio de Janeiro, increasing the effectiveness of operations and reducing
the costs.

Keywords: Side Scan Sonar, Brazilian Navy, underwater acoustics.


AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por me dar forças para seguir com o CAHO.

À minha família, mesmo que distante, pelo apoio incondicional às minha escolhas.

À minha amiga e orientadora Fernanda Passamani, por ter embarcado comigo nesse desafio e
ter sido fundamental para minha motivação, além de ter contribuído sobremaneira para a
qualidade e a confecção do trabalho.

Aos meus amigos oficiais do Centro de Hidrografia da Marinha, pela ajuda com dados,
gráficos e sempre preocupados com a minha formação.

Aos amigos do Navio Oceanográfico Antares, pelos dados que foram essenciais para o
trabalho e por corroborarem pela minha escolha de ser hidrógrafo.

A todos os oficiais do CAHO, pela ótima convivência, pelo incentivo e por aguentar todas as
mazelas do nosso dia a dia durante todo o ano de curso.

Aos Bauer’s por ser um grupo seleto de amigos, coeso e sempre prontos nas madrugadas da
vida para me safar.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO..................................................................................................................1

2. OBJETIVO........................................................................................................................2

3. METODOLOGIA...............................................................................................................2

4. ACÚSTICA SUBMARINA...................................................................................................2

4.1. Histórico.................................................................................................................................2

4.2. Referencial Teórico.................................................................................................................3

5. SONAR DE VARREDURA LATERAL (SVL)............................................................................9

5.1. Componentes do SVL..............................................................................................................9

5.2. Interpretação dos sonogramas.............................................................................................11

5.3. Princípios de funcionamento................................................................................................14

6. APLICAÇÕES DO SVL NA MARINHA DO BRASIL...............................................................17

6.1. Apoio ao levantamento hidrográfico....................................................................................17

6.2. Levantamento geomorfológico.............................................................................................19

6.3. Localização de objetos submersos........................................................................................20

7. PLANEJAMENTO DA VARREDURA SONAR......................................................................21

7.1. Exemplo de uma situação prática.........................................................................................22

7.2. Área de estudo.....................................................................................................................23

7.3. Parâmetros utilizados...........................................................................................................24


7.3.1. Objetivos da Varredura........................................................................................................................25
7.3.2. Tamanho da área e dos alvos..............................................................................................................25
7.3.3. Frequência de operação do SVL..........................................................................................................27
7.3.4. Alcance lateral (range).........................................................................................................................27
7.3.5. Espaçamento e superposição entre as linhas de varredura................................................................28
7.3.6. Profundidade da área de varredura....................................................................................................29
7.3.7. Altitude e posição do peixe.................................................................................................................30
7.3.8. Direção das linhas de varredura..........................................................................................................30
7.3.9. Velocidade da varredura e tempo de operação..................................................................................31

8. DISCUSSÕES E CONCLUSÕES..........................................................................................33

9. BIBLIOGRAFIA...............................................................................................................36
1. INTRODUÇÃO

O sonar de varredura lateral (SVL ou SSS – Side Scan Sonar) é um equipamento


geofísico utilizado na investigação de áreas submersas a partir da emissão de feixes laterais
que permitem a produção de imagens (ensonificação) do fundo. Os métodos geofísicos mais
importantes para o mapeamento e estudo dos fundos oceânicos baseiam-se na propagação de
ondas acústicas. A acústica submarina permite a emissão, transmissão e reflexão de ondas
acústicas, nas quais as grandezas físicas coletadas indiretamente, como o tempo ou a
intensidade do retorno do sinal acústico, são utilizadas para inferir as características do fundo,
como a sua profundidade, as propriedades das rochas, sedimentos ou de objetos submersos.
A característica do SVL de ser possível trabalhar sempre próximo ao fundo, permite
que as altas frequências seja utilizada com melhor desempenho. A escolha da frequência a ser
utilizada vai depender do objetivo da varredura e do estabelecimento dos menores objetos que
se pretende detectar.
A capacidade do SVL de imagear o fundo marinho com altas frequências (superiores a
100 kHz) torna efetiva a caracterização do fundo, proporcionando resoluções que permitem o
estabelecimento das feições geológicas, da topografia do fundo, na identificação de estruturas
sedimentares; sendo uma importante ferramenta no estudo geológico.
As pesquisas realizadas com o SVL se relacionam diretamente com as atividades de
hidrografia e segurança à navegação desenvolvida pela Marinha do Brasil(MB) através da
Diretoria de Hidrografia e Navegação(DHN), sendo bastante utilizado na confecção de cartas
náuticas e em operações de busca e salvamento, possuindo a característica de detecção de
objetos, até mesmo pessoas, embaixo d´água.
O uso do SVL mesmo em condições adversas, como baixa visibilidade, tornou uma
excelente ferramenta na aplicação da busca e salvamento, um planejamento com a definição
adequada dos parâmetros de operação do equipamento garantem a efetividade das operações
de busca e aumenta as possibilidades de localização e resgate dos objetos submersos.

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2. OBJETIVO

O objetivo deste trabalho é apresentar uma metodologia de planejamento para a


otimização das varreduras utilizando o SVL em operações realizadas pela Marinha do Brasil
com a finalidade de localizar objetos submersos.

3. METODOLOGIA

Esta pesquisa desenvolveu-se a partir da revisão bibliográfica sobre o princípio de


funcionamento do SVL, a metodologia de aquisição com este equipamento e sua aplicação
para a localização de objetos submersos pela MB.
No presente estudo foram utilizados os dados da aquisição realizada pelo Centro de
Hidrografia da Marinha com o objetivo de recuperar um equipamento oceanográfico, no
litoral do Rio de Janeiro, conforme publicado por PASSAMANI e GUILHERME (2018).
A análise e interpretação destes dados permitiram que fosse criado um exemplo de
metodologia adequada à localização de objetos submersos em operações da MB. A utilização
de um planejamento de varredura adequado a este tipo de atividade visa à otimização dos
recursos disponíveis a bordo dos Navios da MBe a melhoria na qualidade dos dados
adquiridos.

4. ACÚSTICA SUBMARINA

4.1. Histórico
Os primeiros equipamentos que empregaram a acústica submarina para mapeamento
do fundo marinho foram utilizados para detecção de objetos e outras feições, a fim de garantir
a segurança da navegação. Registros históricos mostram que o canadense Reginald A.
Fessenden foi o primeiro a obter sucesso no desenvolvimento de um sistema com a
capacidade de direcionamento dos pulsos acústicos. Este sistema era utilizado por Fessenden
para a identificação da parte submersa dos icebergs, grandes massas de gelo encontradas em
áreas navegáveis (D’AMICO; PITTENGER, 2009).

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Posteriormente, suas atividades foram ampliadas para as áreas de hidrografia e
mapeamento geológico do fundo marinho (KLEIN, 2002). O histórico naufrágio do Navio
RMS “Titanic”, ocorrido em 1912, e as perdas de navios aliados no Atlântico devido ao
ataque de submarinos alemães durante a Primeira Guerra Mundial, ocorrido entre 1914 e
1918, fomentaram as pesquisas para o desenvolvimento desta tecnologia. O SVL foi
empregado em 1985 nas buscas pelo “Titanic”, 73 anos após o naufrágio, e permitiu o registro
e a identificação de partes Navio na área ensonificada (Figura 1).

Figura 1: Primeiros registros dos destroços do Titanic. Seu local de naufrágio foi encontrado
em uma pesquisa com o SVL realizada em 1985.

Fonte: ANDREWS, 2018.

A partir do século 20 os submarinos se tornaram uma das principais armas da Primeira


Guerra Mundial devido a sua capacidade de navegar em águas rasas e profundas sem ser
avistado. Esta característica dos submarinos alterou a concepção de Guerra Naval pelo
restante do século 20. A capacidade do som em se propagar em grandes distâncias e em
diferentes condições na água foi fator determinante no desenvolvimento dos sonares para
combate à ameaça submarina (D’AMICO; PITTENGER, 2009). O aperfeiçoamento do estudo
dos métodos acústicos e o avanço da tecnologia, com a criação e integração de novos sensores
de atitude e posicionamento, permitiram que os sonares seguissem como uma das
metodologias mais eficientes e precisas para a exploração de ambientes submersos.

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4.2. Referencial Teórico

A onda acústica é gerada a partir de perturbações mecânicas emitidas por uma fonte. A
propagação dessa perturbação se dá em forma de onda, que pode ser caracterizada pela sua
intensidade, frequência e comprimento do pulso. A intensidade da onda acústica é medida em
decibéis (dB), medida por uma razão entre valores das intensidades da energia emitida e
recebida. Como a intensidade absoluta dos sons varia em uma escala muito grande, a unidade
é definida em termos de uma escala logarítmica. representando o logaritmo entre a razão das
intensidades (BLONDEL, 2009), conforme a equação:

IdB = 10 log (I / I0)

IdB = Intensidade da onda acústica em decibéis;


I = Intensidade da energia recebida;
I0 = Intensidade de referência = 10-12W/m2.

A onda acústica é caracterizada pela sua frequência, que corresponde ao número de


vibrações por segundo (medida em hertz, Hz), e pelo seu comprimento de onda, que é a
distância entre a crista de uma onda e a da seguinte. A relação entre a frequência e o
comprimento de onda pode ser definida através do conhecimento da velocidade de
propagação do som na água, dada pela equação abaixo:

c=λf

c = velocidade de propagação do som na água;


λ = comprimento de onda acústica;
f = frequência da onda em Hz.

A velocidade de propagação do som a água possui um valor médio de 1500 m/s, com
uma variação entre 1440 e 1520 m/s em águas salgadas, e com valores de aproximadamente
1430 m/s em regiões de água doce (TELFORD et al., 1990). As diferenças nas velocidades do
som na água são causadas pelas variações de temperatura, salinidade e pressão, conforme o
local e a profundidade. Diversos equipamentos são empregados nas operações que coletam os

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dados necessários para traçar o perfil da velocidade de som na água, entre eles os mais
utilizados são o batitermógrafo descartável (XBT - Expendable Bathythermograp) e o
equipamento para coleta de condutividade, temperatura e profundidade (CTD - Conductivity,
Temperature and Depth).
O conhecimento do perfil de variação da velocidade do som é essencial para as
correções serem feitas pelos equipamentos que utilizam as ondas acústicas como método de
exploração.

A figura 2 exemplifica um ponto de coleta realizado pelo Navio Oceanográfico


“Antares” utilizando o CTD, no qual foram adquiridos os dados necessários para obtenção do
perfil de velocidade do som da superfície a até aproximadamente 1800 m de profundidade. O
gráfico mostra que a temperatura da água diminui até certa profundidade, após isso se mantém
em um perfil mais ou menos constante. O perfil da velocidade do som segue uma
característica semelhante ao da temperatura. Esses dados foram adquiridos no período do
outono de 2014, utilizados para fornecer ao Banco Nacional de Dados
Oceanográficos(BNDO) os perfis da coluna d’água do nordeste brasileiro nessa época.
Os instrumentos de investigação acústica utilizam transdutores construídos por
conjuntos de pastilhas piezelétricas que convertem energia elétrica em energia mecânica
(ondas acústicas). Essas ondas se propagam pela coluna d’água atingindo um obstáculo, o
fundo submarino ou a superfície de algum objeto. Por reflexão e por retroespalhamento
(backscattering), as ondas acústicas retornam ao transdutor, o tempo até o retorno ao
transdutor e o nível de incidência permite o cálculo a forma das feições do fundo e na maioria
das vezes as características do material ali depositado devido as propriedades de reflexão
desses materiais (SOUZA, 2006.)

Figura 2. Perfil de variação da temperatura e velocidade do som na água com a profundidade


na região Nordeste do Brasil. Dados de CTD do NOc Antares’.

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A reflexão acontece quando o sinal acústico emitido retorna diretamente para o
transdutor, sua aplicação simplificada se baseia na determinação da altura da coluna
d’água(D) através do cálculo da metade do tempo (t) que a onda acústica leva entre a
transmissão e recepção do sinal associada à velocidade (v) do som na água (GARRISON,
2012), de acordo com a equação da figura:

Figura 3. Figura que representa o cálculo da coluna d`água através da transmissão e retorno
de pulsos ao sonar.

6
Fonte: Modificado de Wikipédia

O retroespalhamento será compreendido através do ângulo de incidência associado às


características físicas da superfície do fundo. Parte da energia será refletida ou absorvida pelo
fundo e uma porção retornará ao transdutor. A quantidade de energia que retorna ao transdutor
estará diretamente ligada ao ângulo de incidência do sinal, às características físicas e naturais
da superfície do fundo (rugosidade, velocidade do som, composição, densidade) (BLONDEL,
2009).
A figura 4 representa como esses efeitos vão afetar o retroespalhamento, em
superfícies com inclinações na direção do transdutor produzirão espalhamentos mais intensos,
enquanto que superfícies com inclinações para outras direções tendem a diminuir a
quantidade de energia recebida no transdutor. Além disso, características físicas da superfície
do fundo, como a presença de rugosidades ou variação na granulometria dos sedimentos, ou
seja, fundos mais heterogêneos, contribuem para um retorno de sinal com uma maior energia.

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A figura 5 apresenta as amplitudes do sinal de retorno recebido pelo SVL de acordo com o
ângulo de incidência e o tipo de fundo encontrado.
Os principais instrumentos que utilizam a acústica submarina para mapeamento de
feições submarinas são os ecobatímetros monofeixe, ecobatímetros multifeixe e SVL.

Figura 4: Fatores que influenciam o retroespalhamento (de cima para baixo):Geometria do


fundo, granulometria e propriedades naturais da superfície do fundo ( rochas x sedimentos

Fonte: BLONDEL, 2009.

Figura 5. Geração de eco para um sonar de varredura lateral: (A) ruído e reverberação na
coluna de água; (B) primeiro eco de fundo; (C) área de areia; (D) rocha; (E) lodo; (F) eco do
objeto; (G) sombra do objeto

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Fonte: LURTON, 2002.

5. SONAR DE VARREDURA LATERAL (SVL)

5.1. Componentes do SVL

Os principais componentes do SLV são o peixe (towfish), o cabo de reboque (tow


cable), o transceptor (TPU – Transceiver and Processing Unit) e um computador (Figura 6).

Figura 6. Principais componentes do SVL (Modelo 4900 da Klein Marine Systems, Inc.).

Fonte:
EDGETECH, 2014.

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O peixe é o dispositivo composto por dois ou mais transdutores, acoplados nas laterais
do equipamento, que transmitem e recebem os sinais acústicos. O peixe possui também um
sensor de pressão que permite identificar aproximadamente a sua profundidade.
Esse dispositivo é conectado ao transceptor pelo cabo de reboque. Este cabo, fabricado
em aço, possui conexões elétricas passando pelo seu interior, o que permite a troca de
informações em tempo real através do TPU e do computador.
O TPU fica localizado na embarcação que está rebocando o peixe, e tem a função de
controlar e processar em tempo real os pulsos do sonar. O TPU é conectado ao computador
que deve possui um software atualizado e compatível com o SVL em operação, o que permite
o monitoramento dos dados, identificação de feições em tempo real, e alteração dos
parâmetros de operação, se necessário.
O SVL ainda pode ser equipado com componentes complementares como o depressor,
dispositivo hidrodinâmico que auxilia no afundamento do peixe até a profundidade desejada e
auxilia na sua estabilização (Figura 7). Um guincho pode ser utilizado, o que facilita e torna
mais seguro o reboque do peixe. Caso haja necessidade de determinar com maior precisão a
posição do peixe em relação à embarcação, podem ser utilizados posicionadores acústicos
(transponders) na embarcação e no peixe (Figura 8).

Figura 7. Sistema de SVL com o depressor acoplado no peixe (Modelo 4200 da Edgetech).

Fonte: PASSAMANI; GUILHERME, 2018.

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Figura 8. Posicionamento do peixe em relação à embarcação através de um posicionador
acústico (transponder)

Fonte: BAO et al, 2019.

5.2. Interpretação dos sonogramas

O SVL utiliza o princípio da sonografia, que pode ser descrito como o registro gráfico
dos sons emitidos por uma ou mais fontes, através da aplicação de equações adequadas. A
emissão dos feixes acústicos enquanto o peixe se desloca produz faixas ensonificadas do
fundo, formando um gráfico conhecido como sonograma. A interpretação das imagens
registradas pelo SVL depende do entendimento de sua formação e do conhecimento técnico
do profissional que observará as feições presentes no sonograma. O objetivo da construção
dos sonogramas é semelhante ao uso de fotogrametria, construção de imagens por satélites, e
outras técnicas utilizadas para mapeamento terrestre e identificação de feições naturais ou
antrópicas.
A formação do sonograma se baseia na amplitude e ângulo de incidência do sinal
acústico. A amplitude que retorna ao transdutor estará correlacionada às características físicas
da superfície do fundo e ao ângulo de incidência do sinal transmitido, conforme visto no item
4.2, possibilitando a interpretação das diferentes feições através da textura e dos diferentes
tons de cores apresentados conforme a variação de intensidade do sinal de retorno.
O registro sonar tem uma característica bidimensional, porém a imagem visualizada
no sonograma possui uma qualidade tridimensional devido à sombra que os objetos
produzem. As sombras devem ser interpretadas quanto a sua posição, intensidade e formato.

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Objetos antrópicos, como, por exemplo, embarcações naufragadas, produzem sombras com
contornos bem definidos e muitas vezes angulosos, diferente das feições naturais de fundo.
A figura 9 ilustra a formação de um sonograma, considerando um peixe com altura
constante “H” em relação ao fundo.

Figura 9. Comparação do gráfico gerado a partir do eco formado pela onda acústica do SVL e
a imagem exibida no software de aquisição e processamento.

Fonte: ATHERTON, 2011.

A interpretação da formação do sonograma pode ser feita considerando os seguintes


instantes e períodos de tempo:

1. Instante A: o pulso é transmitido;


2. Período A até B: o pulso se propaga na coluna d’água; no instante B, o pulso toca o
fundo. A zona abaixo da linha entre AB é interpretada como a zona cega do SVL;
3. Instante C: é interpretado como o momento em que o pulso acústico alcança o
objeto, sofrendo uma forte reflexão;
4. Período C a D: o pulso ensonifica parte do objeto, entretanto na porção que o feixe
não toca o fundo é formada uma sombra atrás do objeto. Estas sombras variam de
tamanho conforme a inclinação do feixe (altura do peixe) e facilitam a
identificação dos objetos submersos;

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5. Instante D: o pulso volta a tocar o fundo e ensonifica o fundo até seu alcance
lateral máximo no instante E.

A altura do objeto (h) pode ser calculada pela relação trigonométrica apresentada na
fórmula em detalhe na figura 8:

Onde: tF = tempo total, desde a transmissão do pulso;


Δt = tempo entre os instantes C e D.

O correto posicionamento do peixe acarreta em melhor qualidade de dados. Conforme


descrito no Manual de Hidrografia (OHI, 2005), o layback é a distância para a ré do navio,
medida a partir da posição dada pelo sistema de navegação, até a posição assumida para o
peixe (Figura 10). Para o cálculo de layback devem ser considerados os parâmetros a seguir:

Layback = DT + √ WO ²−DS ²

Figura 10. Parâmetros para o cálculo de layback do SVL e o correto posicionamento do peixe

DT = distância horizontal do ponto de referência ao ponto de reboque;


WO = quantidade de cabo largado na água;
DS = profundidade do peixe, abaixo da superfície.

Fonte: OHI, 2005.

É importante ressaltar que esta fórmula simplifica o sistema e considera como retilíneo
o percurso entre o ponto de reboque e o peixe. Quando o comprimento de cabo largado

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excede 100 m, a curvatura do cabo terá maior efeito no reboque que as propriedades
hidrodinâmicas do peixe.
O uso do SVL possui muitas vantagens, a operação do equipamento é simples e seu
custo é relativamente barato, é uma excelente ferramenta de pesquisa e mapeamento de
grandes áreas onde o fundo do mar é relativamente plano. Sua operação de 2 a 8 nós permite
que uma grande área seja coberta em um tempo razoável, sua característica de alta frequência
permite imagens de alta resolução.
Segundo SOUZA (2006), entende-se como resolução a capacidade de distinguir dois
objetos na superfície ou subsuperfície. Essa capacidade está diretamente ligada ao espectro de
frequências que o equipamento utiliza, quanto maior a frequência melhor será a resolução,
porém haverá um menor poder de penetração na superfície, ou nos sedimentos. Os sistemas
de SVL permitem o mapeamento do fundo em alta resolução, utilizando frequências que vão
de 6,5 kHz a 1 MHz, sendo possível alcançar resoluções que vão desde 60 metros a de 1 cm
(BLONDEL, 2009).
Algumas desvantagens do uso do SVL devem ser levadas em consideração, como a
dificuldade de obter com precisão a posição do alvo quando há muito cabo na água, a
dificuldade de manter o peixe em linha reta a uma velocidade fixa, além da possibilidade de
perda ou avaria no peixe devido à proximidade do fundo, podendo haver uma colisão em um
em uma mudança brusca para uma profundidade menor.

5.3. Princípios de funcionamento

O princípio de funcionamento do SVL consiste na emissão do sinal elétrico pela TPU


que percorre o cabo de reboque e chega até o peixe. O transdutor acoplado no peixe
transforma essa energia elétrica em um sinal acústico, através de uma perturbação mecânica
das pastilhas piezelétricas que formam o transdutor.
A onda acústica produzida se propaga no meio e após interagir com algum obstáculo
de impedância acústica diferente, é retroespalhada ou refletida de volta para ao sonar. Um
hidrofone capta esse sinal e transforma a energia acústica recebida em energia elétrica. Esse
sinal elétrico é transmitido de volta pelo cabo de reboque para a TPU que processa os dados e
exibe na interface de processamento utilizado no equipamento em forma de sonogramas.
No caso do SVL, os transdutores são acoplados na lateral do peixe. A composição com
um transdutor em cada bordo permite a emissão e a recepção dos feixes acústicos laterais. Os
feixes acústicos emitidos são estreitos no sentido da varredura (along-track), normalmente

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respeitando uma angulação de até 2º. Já no sentido lateral da varredura (across-track), os
feixes são largos e o ângulo de abertura do feixe varia entre 20 e 50º (Figura 11). Essa
geometria garante uma melhor resolução (along-track) e um maior alcance lateral (range).

Figura 11.Características principais do sinal acústico emitido pelo sonar:


(a) largura do feixe de sinais paralelamente à rota da navegação – angulação de até 2°.
(b) inclinação do lóbulo principal em relação a horizontal – entre 10 e 20°.
(c) largura do feixe de sinais perpendicular à rota de navegação – abertura entre 40 e 60°.

Fonte: SOUZA, 2006.

A distância do peixe a um ponto do fundo é chamada de alcance inclinado (slant


range), enquanto o ponto imediatamente abaixo do peixe é conhecido como nadir. Este
sistema permite a ensonificação de uma faixa do fundo para cada bordo, conforme ilustrado
na figura 12. À medida que a embarcação se desloca para vante, novas faixas do fundo são
ensonificadas e o sonograma é formado.
A região imediatamente abaixo do peixe, onde o nadir é ponto central, forma uma
“zona cega”. O tamanho dessa região depende da altitude do peixe e ela é geralmente
descartada na análise dos dados, por possuir uma baixa ou nenhuma ensonificação,
apresentando dados falhos que não garantem uma boa resolução. Para corrigir esta falha

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planejam-se linhas adjacentes que tenham uma sobreposição tal que não existam áreas não
ensonificadas.

Figura 12. Geometria de aquisição dos dados de SVL.

Fonte: Modificado de ATHERTON, 2011.

A altura do peixe em relação ao fundo (altitude do peixe) é controlada pela quantidade


de cabo de reboque lançado durante a operação. No interior do peixe existe um sensor de
pressão que permite a medida aproximada de sua altura para monitoramento a bordo em
tempo real. Outra forma de manter o controle sobre altura do peixe é monitorar, durante a
aquisição, os registros mostrados na tela do computador. Nas imagens é possível perceber que
à medida que o peixe se afasta do fundo há um aumento da zona cega, enquanto em regiões
menos profundas a zona cega é menor (Figura 13). A altitude reduzida aumenta o risco de
avaria do equipamento e, portanto, a quantidade de cabo e a velocidade da embarcação devem
ser controladas e ajustadas quando for necessário.

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Figura 13. Sonograma mostrando a variação da altitude do peixe, e consequente variação da
zona cega, em virtude de afloramentos rochosos.

Fonte: Imagem de varredura realizada pela Marinha do Brasil.

6. APLICAÇÕES DO SVL NA MARINHA DO BRASIL

A Marinha do Brasil, por meio da Diretoria de Hidrografia e Navegação, possui a


missão de:

Apoiar a aplicação do Poder Naval, por meio de atividades relacionadas com a


hidrografia, oceanografia, cartografia, meteorologia, navegação e sinalização
náutica, garantir a qualidade das atividades de segurança da navegação que lhe
couberem na área marítima de interesse do Brasil e nas vias navegáveis interiores e,
ainda, contribuir para projetos nacionais de pesquisa em águas jurisdicionais
brasileiras e dos resultantes de compromissos internacionais. (DHN, 2019)

As pesquisas de varreduras com a utilização do SVL enquadram-se como missão da


DHN por estarem relacionadas diretamente às atividades de hidrografia e segurança da
navegação. A aplicação deste equipamento pela DHN pode ser subdividida em três atividades
principais: apoio ao levantamento hidrográfico, levantamento geomorfológico e localização
de objetos submersos.

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6.1. Apoio ao levantamento hidrográfico

A DHN, por meio do Centro de Hidrografia da Marinha, é responsável pela


atualização de todas as Cartas Náuticas(CN) em Águas Jurisdicionais Brasileiras. Um dos
procedimentos para a atualização das CN é a verificação da existência de perigos à
navegação. O perigo é definido pela Instrução Técnica (IT) H-03 da DHN (1998) como toda
pedra, banco, recife, casco soçobrado, acidente geográfico, alto fundo ou qualquer feição que
possa obstruir a navegação ou que, devido ao calado dos navios que trafegam pela área pode
ser considerado um perigo à navegação.
De acordo com as especificações da Organização Hidrográfica Internacional,
responsável pelas Normas Técnicas para construção das CN, o SVL não deve ser utilizado
para a medição de profundidade, mas sim para a definição de áreas que exijam investigações
mais minuciosas e precisas, como as áreas com perigos à navegação (OHI, 2008). Sempre que
algum destes perigos seja identificado, o procedimento de apoio ao LH a ser realizado é a
pesquisa de perigo.
Nesta pesquisa, deve haver uma densificação das linhas de sondagem que garanta a
cobertura total do fundo, neste caso o procedimento padrão é utilizar o ecobatímetro
multifeixe. Porém o custo de aquisição e operação desse equipamento é bem elevado, além
disso, alguns lugares com pouca profundidade ou com algumas especificidades como os rios,
não permitem a utilização do ecobatímetro multifeixe. Dessa forma, o uso do sonar de
varredura lateral com o ecobatímetro monofeixe é sufuciente para definir a posição e
profundidade do perigo a ser inserido na carta e possui um custo de aquisição e operação
muito menor que o do ecobatímetro multifeixe. Essa combinação, no entanto, não garante um
levantamento completo do fundo.
Um LH realizado com o emprego do SVL associado ao ecobatímetro monofeixe pode
ser classificado como categoria “A’, ou seja, possui as especificações técnicas que permitem
que os dados sejam utilizados na atualização de documentos náuticos (NORMAM-25, 2017).

Figura 14. Comparação de padrões de feixe de sistemas de faixa de feixe único, feixe
múltiplo e sonar lateral.

18
Fonte: Modificado de AUSTRÁLIA, 2019.

6.2. Levantamento geomorfológico

O uso do SVL possibilita a identificação de variação e padrões de intensidades do


retorno da energia acústica. A interpretação destes padrões possibilita o mapeamento de
diferentes tipos de rochas e sedimentos, por estas possuírem características de textura e
refletividade próprias, conforme explicado no item 4.2. A associação dos dados produzidos
pelo SVL com a coleta de amostras geológicas da área sondada permite definir com precisão a
natureza do fundo, esse emprego é de extrema importância para a segurança da navegação,
principalmente quando se trata de fundeadouros ou pontos críticos dos canais de acesso ao
portos (NORMAN-25, 2017).
A figura 15, elaborada por SILVA (2010), exemplifica o emprego do SVL no canal de
acesso do porto de Vitória em conjunto a dados de amostras geológicas cedidas pelo BNDO
do CHM. Este autor comparou os dados geofísicos com as análises de amostras, o que
permitiu a interpretação de acordo com os padrões de intensidades apresentadas pelo retorno
do sinal acústico do sonar.

Figura 15. Mosaico de SVL do canal de acesso do porto de Vitória com as comparações entre
as amostras geológicas e as imagens formadas. (a) Lama; (b) Areia e Lama; (c) Lama e Areia;
(d) Areia grossa.

19
Fonte: Modificado de SILVA, 2010.

Além dessas aplicações, a MB utiliza o levantamento geomorfológico para a produção


de cartas militares, como as cartas de submarino e as cartas de minagem. De maneira
semelhante, este método pode ser utilizado para identificação de comunidades bentônicas.

6.3. Localização de objetos submersos

Devido às características de ensonificação do SVL, onde a incidência angular dos


feixes produz sombras acústicas de variados tamanhos, a presença de pequenos objetos no
fundo marinho pode ser percebida nos sonogramas (Figura 15). O emprego do SVL para a
localização de objetos submersos pela MB é regido pelo Memorando n° 5 da DHN (2006).
Apesar de ser considerada uma operação eventual, a busca de equipamentos e objetos
naufragados pode ter diversas aplicações na MB, como para operações de contra minagem,
que consiste na busca por minas explosivas no fundo do mar, busca de armamentos e até
mesmo para atualização das CN (caso seja considerado um perigo a navegação). Além de

20
objetos, estas ordens podem ser aplicadas às buscas de pessoas desaparecidas no mar, as
chamadas operações SAR (Busca e Salvamento - Search and Rescue). O Serviço de Busca e
Salvamento da Marinha do Brasil (SALVAMAR-BRASIL) tem a missão de prover o
salvamento de pessoas em perigo no mar, no interior da área marítima de responsabilidade
brasileira.

Figura 15: Ilustração da detecção de objetos submersos e a formação de sombra acústica.

Fonte: Modificado de WANG et al, 2019.

7. PLANEJAMENTO DA VARREDURA SONAR

O uso eficiente e preciso do SVL depende de um planejamento adequado que defina


da melhor forma os parâmetros para a operação do equipamento. Neste capítulo será abordado
um exemplo prático de execução de uma varredura sonar para localização de um objeto
submerso, com a descrição dos parâmetros de planejamento utilizados que garantiram uma
eficiente operação de busca e resgate de um objeto submerso.

21
7.1. Exemplo de uma situação prática

O CHM, através da Instrução Especial nº18/2017, designou o NOc “Antares” para


realizar o lançamento de um equipamento oceanográfico conhecido como Perfilador Acústico
de Corrente por Efeito Doppler (ADCP - Acoustic Doppler Current Profiler), como parte da
257ª Comissão Oceanográfica. O ADCP é um importante equipamento, utilizado desde a
década de 80, na medição das correntes em mares ou oceanos. Ele utiliza o método acústico
conhecido como Efeito Doppler, onde o sinal sonoro é emitido por um sensor e refletido por
objetos ou partículas em suspensão. A velocidade da corrente é calculada pela diferença entre
a frequência do sinal emitido e a frequência do sinal refletido pela partícula em movimento
(BENSI, 2006).
O propósito da referida Comissão era a coleta de dados ambientais (oceanográficos,
meteorológicos e hidrográficos), no período da primavera de 2017, com o objetivo de
enriquecer a base de dados do Banco Nacional de Dados Oceanográficos (BNDO),
contribuindo com o programa Internacional de Intercâmbio de Informações e Dados
Oceanográficos (IODE) da Comissão Oceanográfica Intergovernamental (COI).
Para a realização de perfis de corrente do fundo até a superfície havia a necessidade de
montar um sistema de fundeio para o equipamento. Sendo assim, o ADCP utilizado, RDI
Teledyne 600 Khz (Figura 16), foi acoplado a um eixo cardan e fixado a uma poita de
aproximadamente 800 Kg, semelhante a mostrada na figura xxb. Para que esta poita fosse
posteriormente localizada e recuperada, a posição do fundeio foi registrada (23°06.566’S e
044°00.176’W), e foram colocadas uma boia de subsuperfície, a 5 metros acima do fundo, e
uma boia de superfície.

Figura 16. ADCP Teledyne 600 kHz, ao lado uma poita com o ADCP acoplado

Fonte: Modificado de SEATRONICS, 2019.

22
O resgate do equipamento foi planejado para o dia 10 de dezembro de 2017, conforme
determinado pelo CHM. O NOc “Antares” retornou ao local e iniciou as buscas pelas boias
lançadas. Entretanto, nas proximidades da posição do lançamento, não foi encontrada a boia
de superfície, que fora supostamente avariada por outra embarcação ou furtada. Na ausência
das boias para auxiliar a recuperação, as primeiras tentativas de resgate do equipamento foram
realizadas com mergulhadores.
O uso de mergulhadores na busca por objetos submersos é muito comum e associada a
técnicas de pesquisa se torna eficaz nas operações de busca, porém possui algumas limitações
como que podem trazer uma situação de risco para o mergulhador como mergulhar à noite ou
em condições meteorológicas adversas, além disso, a visibilidade devido a pertubação dos
sedimentos dificulta a busca por objetos pequenos. A saúde do mergulhador é uma
preocupação que limita o tempo de permanência da equipe realizando as buscas no fundo do
mar. Isso ocorre graças aos problemas que podem ser gerados devido ao mergulho, como por
exemplo, narcose por nitrogênio, descompressão, hipotermia, hipertermia, entre outros
(Schultz et al, 2013).
O primeiro grupo de mergulhadores realizou buscas em uma área próxima ao local de
lançamento, com profundidades de aproximadamente 15 m. Os mergulhadores informaram
que em virtude dos sedimentos finos ficarem em suspensão, a visibilidade próxima ao fundo
era muito baixa. Em uma segunda tentativa de resgate, a equipe de mergulho esticou um cabo
próximo ao fundo realizando varreduras com o objetivo de interceptar o cabo da boia de
subsuperfície que havia sido lançada.
Estas tentativas de resgate perduraram por todo o dia, com algumas restrições devido
ao tempo de permanência dos mergulhadores no fundo não permitiram que as buscas
prosseguissem,. Em virtude das dificuldades encontradas, o NOc “Antares” retornou à DHN
sem encontrar o equipamento. Este fato foi levado aos Oficiais do CHM, que analisaram as
possibilidades e decidiram utilizar o SVL para realizar nova tentativa de recuperação do
equipamento.

7.2. Área de estudo

A área de estudo compreende a região costeira nas proximidades da Ilha da


Marambaia, localizada na entrada da Baía da Ilha Grande, a aproximadamente 85 km da
cidade do Rio de Janeiro (Figura 17). A área de busca foi delimitada a partir do ponto de

23
lançamento/fundeio do ADCP, posição 23º06,594’S e 044º00,08’W, localizada nas CNs 1620
e 1607.

Figura 17. a) Localização da área de estudo no Estado do Rio de Janeiro; b) Proximidades da


Ilha da Marambaia, na Baía da Ilha Grande CN 1620; c) Localização do ponto de fundeio do
ADCP na CN 1607.

7.3. Parâmetros utilizados

Os parâmetros de aquisição devem ser definidos com base na marca e modelo de SVL
disponível para a execução da varredura. O equipamento utilizado nesta operação foi o SVL
portátil, modelo 4125D da Edgetech. Os parâmetros apresentados neste estudo foram
baseados nas especificidades deste modelo, entretanto a metodologia pode ser aplicada a
equipamentos semelhantes.
O SVL 4125D possui capacidade de aquisição de dupla frequência e alta resolução,
sendo possível trabalhar simultaneamente com as frequências de 400 e 900 kHz. Segundo o
manual, para este modelo, essa faixa de frequência é a escolha ideal na combinação alcance e
resolução para a aplicação em águas rasas.
O planejamento da varredura foi realizado com base na definição dos seguintes
parâmetros:

24
1. Objetivo da varredura
2. Tamanho da área e dos alvos
3. Frequência de operação do SVL
4. Alcance lateral (range)
5. Espaçamento e superposição entre as linhas de varredura
6. Profundidade da área de varredura
7. Direção das linhas de varredura
8. Altitude e posição do peixe
9. Velocidade da varredura e tempo de operação

A necessidade de alteração de algum desses parâmetros pode ocorrer durante a


varredura devido às condições encontradas em campo, tais como, condições meteorológicas,
forte corrente lateral ou estado do mar. Esses fatores afetam a estabilidade e aumenta a
incerteza do posicionamento do peixe, prejudicando a qualidade dos dados.
A experiência do operador do software de aquisição associado ao entrosamento com a
equipe de manobra da embarcação e de apoio é de extrema importância para avaliar, durante a
operação, a necessidade de alteração dos parâmetros ou até mesmo a interrupção da varredura.
A sequência de planejamento aqui sugerida não traduz a forma com que os parâmetros serão
alterados em campo, pois muitos dos atributos se correlacionam, e a mudanças nas condições
em campo não traduz necessariamente a sequência apresentada.

7.3.1. Objetivos da Varredura

O objetivo da varredura é o primeiro parâmetro a ser definido. Como visto no


capítulo 6, para a MB, as principais atividades com aplicação do SVL estão relacionadas à
hidrografia, geologia/geomorfologia e à localização de objetos submersos. Neste parâmetro
deve estar claramente descrita a atividade a ser realizada, e suas especificidades, se
necessário.
No presente trabalho, o objetivo da varredura é a busca por um ADCP de fundo

7.3.2. Tamanho da área e dos alvos

25
Definido o objetivo da varredura, delimita-se os limites geográficos da área onde será
realizada a operação, no caso da busca por objetos é importante saber o tamanho dos alvos a
serem detectados. O raio de busca deve ser definido a partir do ponto provável. O
equipamento fundeado tinha aproximadamente 1m² e a área delimitada foi de
aproximadamente 50.000m² a partir do ponto registrado no fundeio.
Após ser definido o objetivo, devem ser delimitados os limites geográficos da área
onde será realizada a operação. Para isto, é importante definir o tamanho dos menores objetos
ou feições a serem detectadas.
Para a busca de objetos submersos, recomenda-se que seja definido um raio de busca
a partir de um ponto provável e então, delimitada a área de busca que cubra a região no
entorno do alvo. O equipamento fundeado foi acoplado a uma poita de aproximadamente 1
m². A área delimitada foi de aproximadamente 50.000 m², tendo sido definido como ponto
central as coordenadas de fundeio. A figura 18 mostra a interface do programa de aquisição
com a CN 1621 e a definição da área de busca (retângulo em vermelho) a partir do ponto de
fundeio (círculo cinza), a sul da Ilha da Marambaia.

Figura 18. Delimitação da área de busca, retângulo vermelho a sul da Ilha da Marambaia.

26
7.3.3. Frequência de operação do SVL

A escolha da frequência a ser utilizada depende do objetivo da varredura e do


estabelecimento dos menores objetos que se pretende detectar.
As menores frequências fornecem um maior alcance para detecção, o que permite
maior cobertura em cada linha de varredura. Entretanto, o sonograma apresentará uma
imagem com menor qualidade. São indicadas para mapeamentos de grandes áreas e para
busca de objetos de maior tamanho (ex. aviões e embarcações de grande porte).
As maiores frequências devem ser utilizadas quando se pretende obter uma maior
definição dos alvos, por exemplo, para a busca de pequenos objetos (ex. perigos isolados,
minas, poitas e equipamentos submersos). A desvantagem desta escolha é o menor alcance
lateral, sendo necessário percorrer um maior número de linhas de varredura para cobrir
determinada área e, desta forma, necessita um maior tempo para a realização da varredura.

27
A detecção de pequenos objetos, como é o caso do ADCP de fundeio (~1 m²),
necessita que seja utilizada a maior frequência disponível no equipamento, pois desta forma
haverá maior resolução dos dados adquiridos e consequentemente, facilitará a detecção deste
pequeno objeto.
Entretanto, como o SVL utilizado na operação permite a aquisição e a gravação
simultânea dos dados nas frequências de 400 e 900 kHz, as duas frequências foram
selecionadas. Sabendo que os registros de 900 KHz possuem maior resolução, o
monitoramento em tempo real do sonograma esteve concentrado nestes dados.

7.3.4. Alcance lateral (range)

O alcance lateral (Tradução do termo em inglês range) está diretamente associado à


frequência de trabalho utilizada, sua definição leva em conta o nível de detalhamento
requerido para o objetivo em que o SVL está sendo aplicado.
Para a detecção de objetos grandes (ex. cascos afundados), podem-se utilizar
alcances laterais maiores, pois alvos maiores produzem sombras grandes e mais fáceis de
serem detectadas. Os alcances laterais maiores possibilitam o mapeamento de grandes áreas
mais rapidamente, o que leva a uma redução do número de linhas a serem percorridas e do
tempo necessário para completar a varredura.
No caso da busca de pequenos objetos submersos, o uso de altas frequências, como
definido no item 7.3.3., implica em um menor alcance lateral, porém um nível maior de
detalhes na imagem, o que aumentará a probabilidade de detecção.
De acordo com o Manual da Edgetech (2014), para a frequência de 900 KHz, o
alcance lateral máximo do equipamento é de 75 m. Porém levando em conta o tamanho do
objeto a ser detectado (apenas 1 m2) foi escolhido o valor de 30 metros de alcance lateral, de
forma a aumentar a efetividade de cada linha de varredura e garantir que o ADCP fosse
detectado.

7.3.5. Espaçamento e superposição entre as linhas de varredura

O espaçamento entre as linhas de varredura depende dos parâmetros anteriores e da


cobertura desejada. Em uma varredura de apoio ao LH ou geomorfológico nem sempre é
necessário que seja realizada a cobertura total do fundo. Nestes casos, teoricamente seria

28
suficiente manter o espaçamento igual ao dobro do alcance lateral do SVL, ou seja, para um
alcance lateral de 150 m, as linhas seriam espaçadas a cada 300 m. Contudo, as incertezas de
posicionamento do peixe dificultam a produção de bons mosaicos sem que o levantamento
seja realizado com áreas de superposição.
A IT-H04 (DHN, 1998) define que para as aplicações do SVL na MB, a superposição
das linhas de varredura deve ser de no mínimo 50%, garantindo que os erros de
posicionamento sejam suprimidos. Isso significa que em uma operação adotando um alcance
lateral de 100 m, o espaçamento entre as linhas será 1,5 vezes o alcance, ou seja, 150 m no
exemplo citado. Para busca de objetos, principalmente os de menores dimensões, é necessário
um planejamento para uma varredura mais detalhada, de maneira que o objeto não deixe de
ser ensonificado. Esse espaçamento deve levar em consideração a zona cega formada em cada
linha de varredura. Desta forma, a superposição das linhas de varredura deve ser calculada tal
que a zona cega seja coberta na linha de varredura adjacente. Nesses casos, adota-se uma
superposição de pelo menos 100%, garantindo a cobertura de todas as zonas cegas e
aumentando a probabilidade de detecção do objeto.
Portanto, o espaçamento e a superposição entre as linhas variam de acordo com o
objetivo, tamanho dos alvos a serem detectados, frequência e alcance lateral. A metodologia
utilizada pode ser mais ou menos conservadora, de acordo com estes parâmetros, conforme
demostrado na figura 19.
No presente estudo, como se trata um pequeno objeto a ser detectado, foi adotado um
alcance lateral de 30 m com espaçamento entre as linhas de varredura de 30 m.

Figura 19. Ilustrações de superposição de linhas de varredura, da menos detalhada e


com menos cobertura para a mais conservadora e detalhada, de cima para baixo. A primeira
ilustração mostra uma cobertura de 50%, o mínimo requerido para levantamentos da DHN. A
segunda ilustração, mais conservadora, demonstra uma cobertura de 100%. A última
representa uma metodologia que pode ser utilizada para busca de pequenos objetos, onde as
linhas paralelas permitem alcançar 200% ou mais de superposição

29
Fonte: FISH; CARR, 1990.

7.3.6. Profundidade da área de varredura

É importante a análise de do relevo da região de operação, tanto para


estabelecimento da altura do peixe, quanto para evitar avarias no equipamento. Nos casos em
que a área de levantamento seja relativamente plana, pode-se estabelecer uma profundidade
média para a operação do peixe. Em áreas com grande variação de profundidade, recomenda-
se subdividir a área e definir a profundidade média de operação do peixe para cada subárea.
Na área de estudo, pela leitura da CN verificou-se que a região era aproximadamente plana,
com uma profundidade média de 15 m, não tendo sido necessário realizar a subdivisão em
menores áreas.

30
7.3.7. Altitude e posição do peixe

O Manual de Hidrografia (OHI, 2005) define que a altura ótima, acima do fundo, para
a operação do SVL deve ser de 10% do alcance lateral, O Manual da Edgetech (2014) propõe
uma faixa de trabalho de 10 a 20% do alcance lateral.
O peixe pode ser operado a uma maior altitude em áreas com grande variação
batimétrica, evitando o choque do equipamento com o fundo. A desvantagem do aumento de
altitude é o aumento da zona cega e maior probabilidade dos ruídos da embarcação e da
superfície afetarem a qualidade do sinal.
A altitude reduzida do peixe permite um aumento nas zonas de sombra, o que pode
facilitar na busca de pequenos objetos, por outro lado aumenta o risco de colisão do
equipamento com o fundo. Desta forma, os registros mostrados em tela durante a aquisição
devem ser monitorados, conforme visto no item 5.3, e, se necessário, a altitude deve ser
ajustada.
O alcance lateral definido para a área de estudo foi de 30 metros, levando em
consideração uma maior segurança do equipamento e uma possibilidade maior de reação em
mudanças de profundidade foi escolhida a altura de 6 metros do fundo, que corresponde a
20% do alcance lateral.

7.3.8. Direção das linhas de varredura

Ao se estabelecer as linhas de varredura aproximadamente paralelas à direção das


curvas isobatimétricas, a operação é facilitada, pois desta forma a altura do peixe se mantém
aproximadamente constante, evitando a necessidade de recolhimento ou lançamento do cabo
de reboque na água. A varredura realizada perpendicularmente às isobatimétricas pode revelar
alguns detalhes do objeto ou do relevo que não foram ensonificadas na outra direção.
Entretanto, esta metodologia pode afetar a segurança do equipamento, haja vista que haverá
maior variação na profundidade nesta direção.
A direção das linhas, se possível devem seguir sempre paralela às correntes de maré do
local, de forma a reduzir o desvio lateral do peixe, evitando um aumento nos erros de
posicionamento, este problema se agrava à medida que aumenta a quantidade do cabo de
reboque na água.

31
Levando os fatores de corrente de maré e direção das curvas isobatimétricas, foi
escolhida a direção de leste para oeste (Figura 20).

Figura 20. Planejamento das linhas de varredura na direção leste-oeste, aproximadamente


paralelas às isobatimétricas.

7.3.9. Velocidade da varredura e tempo de operação

À medida que se aumenta o alcance lateral, o pulso sonoro demora mais tempo para
retornar ao transdutor e, consequentemente, a frequência de repetições de pulso diminui. Se a
frequência for baixa tal que leve a intervalos sem registro (gaps) no sonograma, a velocidade
da varredura deve ser reduzida.
O manual de operação do SVL define que as velocidades utilizadas devem variar de 2
a 8 nós. A velocidade deve ser definida conforme o modelo do SVL, frequência e alcance
lateral selecionados para a operação. As imagens obtidas devem ser monitoradas durante a
aquisição para verificar se ocorrem falhas no registro. É importante que a velocidade da
embarcação seja a mais constante possível, de modo a não causar deformações na formação
da imagem.
Exemplos práticos com modelos portáteis mostraram que velocidades acima de 8 nós
em relação ao fundo pode ocasionar a não detecção de objetos pequenos, além disso, a
velocidade relativa do peixe acima de 10 nós em relação à superfície da água traz a
probabilidade de que o peixe se torne muito instável (OHI, 2005). Atualmente existem
modelos de SVL que podem operar em navios de pesquisa a velocidades acima de 14 nós.

32
Velocidades menores facilitam a interpretação da imagem por parte do operador,
porém a manobrabilidade da embarcação que está sendo utilizada também deve ser levada em
consideração, pois velocidades muito baixas podem dificultar o alinhamento da embarcação
com a linha planejada.
Outro aspecto a mencionar é a diferença na velocidade das operações, porque as
operações de levantamento batimétrico (monofeixe ou multifeixe) costumam ser executadas
em velocidades mais altas que as de SVL. Sendo assim, raramente apresenta bom rendimento
executar as duas ao mesmo tempo. Em caso de levantamento sistemático de uma área, que
exija batimetria e varredura lateral, é recomendável executar primeiro a sondagem monofeixe,
(normalmente em linhas perpendiculares à costa) e, posteriormente, a varredura sonar (linhas
transversais às linhas de sondagem).
O tempo para realizar a operação planejada pode ser estimado em função do tamanho
da área, velocidade de varredura e espaçamento entre linhas de sondagem. Atualmente, os
softwares de aquisição calculam este valor a partir da inserção dos valores dos parâmetros
anteriores.
A embarcação utilizada foi o NOc “Antares” (Figura XX), um navio de 55 m de
comprimento, que exige uma velocidade razoável para manter sua capacidade de manobra.
Tendo esse dado como referência, o objetivo da varredura pela busca do ADC e a boa
experiência dos operadores do SVL, foi estabelecido uma velocidade constante de 4 nós.

Figura 21. Navio Oceanográfico “Antares””, utilizado na operação com o SVL.

33
Foram planejadas inicialmente doze linhas paralelas para a operação, cada linha com
cerca de 350 m. Adotando-se a velocidade de 4 nós, foi calculado que o navio levaria cerca de
3 minutos para percorrer cada uma das linhas de varredura, na transição de uma linha para
outra estimou-se que o navio levaria cerca de 2 minutos para alinhar e iniciar a varredura de
forma correta. Dessa forma, estipulou-se que o NOc “Antares” levaria cerca de 1 hora para
percorrer com todas as linhas planejadas.

8. DISCUSSÕES E CONCLUSÕES

Após a fase de planejamento, o SVL foi lançado ao mar para o início das buscas.
Como o planejamento tinha sido realizado a partir do ponto de lançamento do ADCP,
acreditava-se que o equipamento estaria entre as linhas 5 e 8 (Figura 20). A varredura foi
iniciada a partir da linha 5 e, caso fosse necessário, seria expandida para as linhas adjacentes
conforme o planejamento.
Ao percorrer a linha 6, segunda na sequência de início da varredura, foi identificado
um objeto com uma feição quadrada de aproximadamente 1 m. O Navio retornou pela linha 7
e o sonograma voltou a apresentar a mesma feição. Foram realizadas novas passagens nas

34
linhas 6 e 7 com o objetivo de ensonificar o mesmo objeto. A figura 22 apresenta o sonograma
formado no momento da aquisição dos dados. É possível identificar um objeto com as
dimensões de 1 m e uma sombra elíptica, que corresponderia à boia de subsuperfície que tinha
sido lançada a aproximadamente 5 m do fundo para facilitar as buscas.
Os dados foram adquiridos no software Discover da própria EdgeTech, fabricante do
modelo do SVL utilizado, e o processamento foi realizado no software SonarWiz, da
Chesapeake. Foram inseridos os offsets da antena GPS do Navio, do layback e a profundidade
do peixe, utilizando a TPU como referência. A antena se encontrava a aproximadamente 20 m
da referência, foram colocados 50 m de cabo na água e o peixe estabilizou em uma
profundidade de 9 m da superfície do mar, cerca de 6 metros do fundo marinho. Com a
compilação e processamento desses dados, foi possível estabelecer com precisão a posição do
equipamento.
Estes dados foram posteriormente processados, apenas para se obter imagens mais
nítidas com fins de adestramento, onde é possível identificar também uma queda na
intensidade de retorno da onda acústica, que se correlacionava com a sombra do objeto
(Figura 23).

Figura 22. Sonograma mostrando o objeto detectado durante a aquisição através do software
Discover da EdgeTech.

Figura 23. Sonograma processado e o gráfico de intensidade da energia recebida.

35
Fonte: PASSAMANI e GUILHERME, 2018.

A equipe de mergulho de posse da posição precisa localizou com facilidade o


equipamento mesmo com a baixa visibilidade no fundo devido aos sedimentos finos em
suspensão.
O tempo registrado entre o início da aquisição, detecção do objeto e a localização
pelos mergulhadores foi de aproximadamente duas horas. O Navio permaneceu mais duas
horas para realizar o resgate e colocar a bordo o equipamento, finalizando toda a operação em
cerca de quatro horas (Figura 24).
O método mais comum de busca desse tipo de equipamento era o uso da equipe de
mergulhadores. Conforme foi relatado, após um dia de buscas a equipe de mergulhadores não
obteve sucesso em encontrar à poita acoplada com o ADCP devido às condições ambientais
da região. O uso do SVL na busca de objetos submersos se mostra eficaz quando é realizado
um bom planejamento de varredura, com a inserção dos parâmetros abordados no item 7.3.,
associado à boa experiência dos operadores reduziu drasticamente (para apenas 2 horas) o
tempo de busca e resgate do ADCP. A capacidade de realizar buscas mesmo em condições
adversas, como baixa visibilidade, o SVL tornou uma opção geofísica essencial na aplicação
da busca e salvamento, aumentando a efetividade das operações e diminuindo os custos, além
de diminuir o tempo de submersão dos mergulhadores, o que aumenta a segurança da
operação.

36
Figura 24. Recuperação do ADCP acoplado à poita realizada, a bordo do NOc “Antares”.

Fonte: PASSAMANI e GUILHERME, 2018.

O sucesso do uso do SVL no resgate do ADCP atribuído ao seu baixo custo de


operação e grande eficiência, possibilitou ao CHM estudar a possibilidade de efetuar novos
lançamentos em diferentes áreas para novos estudos. Os dados adquiridos no ADCP resgatado
foram processados pelo CHM e inseridos no BNDO, contribuindo para o incremento do
banco de dados que servirão de base para pesquisas das mais diferentes áreas do
conhecimento, contribuindo sobremaneira para o desenvolvimento científico do Brasil.

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37
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