Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Niterói-RJ, Brasil
Outubro de 2019
Examinada por:
_______________________________________________________________________
1o Tenente (T) Fernanda Monteiro Passamani, CHM/MB.
_______________________________________________________________________
1o Tenente (RM2-T) Adriano Guilherme da Silva, CHM/MB.
_______________________________________________________________________
1º Tenente (RM2-T)
Caio Manoel Lira da
Costa Fontes, CHM/ Niterói, RJ Brasil
MB. Outubro de 2019
UTILIZAÇÃO DO SONAR DE VARREDURA LATERAL PARA A LOCALIZAÇÃO
DE OBJETOS SUBMERSOS.
Outubro/2019
O sonar de varredura lateral (SVL ou SSS – Side Scan Sonar) é um equipamento geofísico
que possibilita a investigação de áreas submersas a partir da emissão de feixes laterais que
permitem a produção de imagens (ensonificação) do fundo. O presente trabalho apresenta
uma metodologia de planejamento para a otimização das varreduras utilizando o SVL em
operações realizadas pela Marinha do Brasil, por meio da Diretoria de Hidrografia e
Navegação, com a finalidade de localizar objetos submersos. Esta pesquisa desenvolveu-se a
partir da revisão bibliográfica sobre a metodologia de aquisição com o SVL e sua aplicação
para a localização de objetos submersos pela Marinha do Brasil. O SVL se mostrou uma
excelente ferramenta na aquisição de dados que possibilitou a recuperação de um
equipamento oceanográfico, realizada pelo Centro de Hidrografia da Marinha a bordo do
Navio Oceanográfico “Antares” ,no litoral do Rio de Janeiro, aumentando a efetividade das
operações e diminuindo os custos.
October/2019
The Side Scan Sonar (SSS) is a geophysical device that enables the investigation of
submerged areas through the emission of lateral beams that allow the production of images
(ensonification) from the bottom. This paper presents a planning methodology for the
optimization of scans using SSS in the detection of submerged objects in operations
performed by the Brazilian Navy Hydrography and Safety Navigation Center. In this research,
we conducted a literature review on the acquisition methodology using SSS and its
application in the detection of submerged objects by the Brazilian Navy. The SSS has proven
to be an excellent data acquisition tool, which enabled the recovery of oceanographic
equipment carried out by the Navy Hydrography Center aboard the “Antares” Oceanographic
Vessel, off the coast of Rio de Janeiro, increasing the effectiveness of operations and reducing
the costs.
À minha família, mesmo que distante, pelo apoio incondicional às minha escolhas.
À minha amiga e orientadora Fernanda Passamani, por ter embarcado comigo nesse desafio e
ter sido fundamental para minha motivação, além de ter contribuído sobremaneira para a
qualidade e a confecção do trabalho.
Aos meus amigos oficiais do Centro de Hidrografia da Marinha, pela ajuda com dados,
gráficos e sempre preocupados com a minha formação.
Aos amigos do Navio Oceanográfico Antares, pelos dados que foram essenciais para o
trabalho e por corroborarem pela minha escolha de ser hidrógrafo.
A todos os oficiais do CAHO, pela ótima convivência, pelo incentivo e por aguentar todas as
mazelas do nosso dia a dia durante todo o ano de curso.
Aos Bauer’s por ser um grupo seleto de amigos, coeso e sempre prontos nas madrugadas da
vida para me safar.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO..................................................................................................................1
2. OBJETIVO........................................................................................................................2
3. METODOLOGIA...............................................................................................................2
4. ACÚSTICA SUBMARINA...................................................................................................2
4.1. Histórico.................................................................................................................................2
8. DISCUSSÕES E CONCLUSÕES..........................................................................................33
9. BIBLIOGRAFIA...............................................................................................................36
1. INTRODUÇÃO
1
2. OBJETIVO
3. METODOLOGIA
4. ACÚSTICA SUBMARINA
4.1. Histórico
Os primeiros equipamentos que empregaram a acústica submarina para mapeamento
do fundo marinho foram utilizados para detecção de objetos e outras feições, a fim de garantir
a segurança da navegação. Registros históricos mostram que o canadense Reginald A.
Fessenden foi o primeiro a obter sucesso no desenvolvimento de um sistema com a
capacidade de direcionamento dos pulsos acústicos. Este sistema era utilizado por Fessenden
para a identificação da parte submersa dos icebergs, grandes massas de gelo encontradas em
áreas navegáveis (D’AMICO; PITTENGER, 2009).
2
Posteriormente, suas atividades foram ampliadas para as áreas de hidrografia e
mapeamento geológico do fundo marinho (KLEIN, 2002). O histórico naufrágio do Navio
RMS “Titanic”, ocorrido em 1912, e as perdas de navios aliados no Atlântico devido ao
ataque de submarinos alemães durante a Primeira Guerra Mundial, ocorrido entre 1914 e
1918, fomentaram as pesquisas para o desenvolvimento desta tecnologia. O SVL foi
empregado em 1985 nas buscas pelo “Titanic”, 73 anos após o naufrágio, e permitiu o registro
e a identificação de partes Navio na área ensonificada (Figura 1).
Figura 1: Primeiros registros dos destroços do Titanic. Seu local de naufrágio foi encontrado
em uma pesquisa com o SVL realizada em 1985.
3
4.2. Referencial Teórico
A onda acústica é gerada a partir de perturbações mecânicas emitidas por uma fonte. A
propagação dessa perturbação se dá em forma de onda, que pode ser caracterizada pela sua
intensidade, frequência e comprimento do pulso. A intensidade da onda acústica é medida em
decibéis (dB), medida por uma razão entre valores das intensidades da energia emitida e
recebida. Como a intensidade absoluta dos sons varia em uma escala muito grande, a unidade
é definida em termos de uma escala logarítmica. representando o logaritmo entre a razão das
intensidades (BLONDEL, 2009), conforme a equação:
c=λf
A velocidade de propagação do som a água possui um valor médio de 1500 m/s, com
uma variação entre 1440 e 1520 m/s em águas salgadas, e com valores de aproximadamente
1430 m/s em regiões de água doce (TELFORD et al., 1990). As diferenças nas velocidades do
som na água são causadas pelas variações de temperatura, salinidade e pressão, conforme o
local e a profundidade. Diversos equipamentos são empregados nas operações que coletam os
4
dados necessários para traçar o perfil da velocidade de som na água, entre eles os mais
utilizados são o batitermógrafo descartável (XBT - Expendable Bathythermograp) e o
equipamento para coleta de condutividade, temperatura e profundidade (CTD - Conductivity,
Temperature and Depth).
O conhecimento do perfil de variação da velocidade do som é essencial para as
correções serem feitas pelos equipamentos que utilizam as ondas acústicas como método de
exploração.
5
A reflexão acontece quando o sinal acústico emitido retorna diretamente para o
transdutor, sua aplicação simplificada se baseia na determinação da altura da coluna
d’água(D) através do cálculo da metade do tempo (t) que a onda acústica leva entre a
transmissão e recepção do sinal associada à velocidade (v) do som na água (GARRISON,
2012), de acordo com a equação da figura:
Figura 3. Figura que representa o cálculo da coluna d`água através da transmissão e retorno
de pulsos ao sonar.
6
Fonte: Modificado de Wikipédia
7
A figura 5 apresenta as amplitudes do sinal de retorno recebido pelo SVL de acordo com o
ângulo de incidência e o tipo de fundo encontrado.
Os principais instrumentos que utilizam a acústica submarina para mapeamento de
feições submarinas são os ecobatímetros monofeixe, ecobatímetros multifeixe e SVL.
Figura 5. Geração de eco para um sonar de varredura lateral: (A) ruído e reverberação na
coluna de água; (B) primeiro eco de fundo; (C) área de areia; (D) rocha; (E) lodo; (F) eco do
objeto; (G) sombra do objeto
8
Fonte: LURTON, 2002.
Figura 6. Principais componentes do SVL (Modelo 4900 da Klein Marine Systems, Inc.).
Fonte:
EDGETECH, 2014.
9
O peixe é o dispositivo composto por dois ou mais transdutores, acoplados nas laterais
do equipamento, que transmitem e recebem os sinais acústicos. O peixe possui também um
sensor de pressão que permite identificar aproximadamente a sua profundidade.
Esse dispositivo é conectado ao transceptor pelo cabo de reboque. Este cabo, fabricado
em aço, possui conexões elétricas passando pelo seu interior, o que permite a troca de
informações em tempo real através do TPU e do computador.
O TPU fica localizado na embarcação que está rebocando o peixe, e tem a função de
controlar e processar em tempo real os pulsos do sonar. O TPU é conectado ao computador
que deve possui um software atualizado e compatível com o SVL em operação, o que permite
o monitoramento dos dados, identificação de feições em tempo real, e alteração dos
parâmetros de operação, se necessário.
O SVL ainda pode ser equipado com componentes complementares como o depressor,
dispositivo hidrodinâmico que auxilia no afundamento do peixe até a profundidade desejada e
auxilia na sua estabilização (Figura 7). Um guincho pode ser utilizado, o que facilita e torna
mais seguro o reboque do peixe. Caso haja necessidade de determinar com maior precisão a
posição do peixe em relação à embarcação, podem ser utilizados posicionadores acústicos
(transponders) na embarcação e no peixe (Figura 8).
Figura 7. Sistema de SVL com o depressor acoplado no peixe (Modelo 4200 da Edgetech).
10
Figura 8. Posicionamento do peixe em relação à embarcação através de um posicionador
acústico (transponder)
O SVL utiliza o princípio da sonografia, que pode ser descrito como o registro gráfico
dos sons emitidos por uma ou mais fontes, através da aplicação de equações adequadas. A
emissão dos feixes acústicos enquanto o peixe se desloca produz faixas ensonificadas do
fundo, formando um gráfico conhecido como sonograma. A interpretação das imagens
registradas pelo SVL depende do entendimento de sua formação e do conhecimento técnico
do profissional que observará as feições presentes no sonograma. O objetivo da construção
dos sonogramas é semelhante ao uso de fotogrametria, construção de imagens por satélites, e
outras técnicas utilizadas para mapeamento terrestre e identificação de feições naturais ou
antrópicas.
A formação do sonograma se baseia na amplitude e ângulo de incidência do sinal
acústico. A amplitude que retorna ao transdutor estará correlacionada às características físicas
da superfície do fundo e ao ângulo de incidência do sinal transmitido, conforme visto no item
4.2, possibilitando a interpretação das diferentes feições através da textura e dos diferentes
tons de cores apresentados conforme a variação de intensidade do sinal de retorno.
O registro sonar tem uma característica bidimensional, porém a imagem visualizada
no sonograma possui uma qualidade tridimensional devido à sombra que os objetos
produzem. As sombras devem ser interpretadas quanto a sua posição, intensidade e formato.
11
Objetos antrópicos, como, por exemplo, embarcações naufragadas, produzem sombras com
contornos bem definidos e muitas vezes angulosos, diferente das feições naturais de fundo.
A figura 9 ilustra a formação de um sonograma, considerando um peixe com altura
constante “H” em relação ao fundo.
Figura 9. Comparação do gráfico gerado a partir do eco formado pela onda acústica do SVL e
a imagem exibida no software de aquisição e processamento.
12
5. Instante D: o pulso volta a tocar o fundo e ensonifica o fundo até seu alcance
lateral máximo no instante E.
A altura do objeto (h) pode ser calculada pela relação trigonométrica apresentada na
fórmula em detalhe na figura 8:
Layback = DT + √ WO ²−DS ²
Figura 10. Parâmetros para o cálculo de layback do SVL e o correto posicionamento do peixe
É importante ressaltar que esta fórmula simplifica o sistema e considera como retilíneo
o percurso entre o ponto de reboque e o peixe. Quando o comprimento de cabo largado
13
excede 100 m, a curvatura do cabo terá maior efeito no reboque que as propriedades
hidrodinâmicas do peixe.
O uso do SVL possui muitas vantagens, a operação do equipamento é simples e seu
custo é relativamente barato, é uma excelente ferramenta de pesquisa e mapeamento de
grandes áreas onde o fundo do mar é relativamente plano. Sua operação de 2 a 8 nós permite
que uma grande área seja coberta em um tempo razoável, sua característica de alta frequência
permite imagens de alta resolução.
Segundo SOUZA (2006), entende-se como resolução a capacidade de distinguir dois
objetos na superfície ou subsuperfície. Essa capacidade está diretamente ligada ao espectro de
frequências que o equipamento utiliza, quanto maior a frequência melhor será a resolução,
porém haverá um menor poder de penetração na superfície, ou nos sedimentos. Os sistemas
de SVL permitem o mapeamento do fundo em alta resolução, utilizando frequências que vão
de 6,5 kHz a 1 MHz, sendo possível alcançar resoluções que vão desde 60 metros a de 1 cm
(BLONDEL, 2009).
Algumas desvantagens do uso do SVL devem ser levadas em consideração, como a
dificuldade de obter com precisão a posição do alvo quando há muito cabo na água, a
dificuldade de manter o peixe em linha reta a uma velocidade fixa, além da possibilidade de
perda ou avaria no peixe devido à proximidade do fundo, podendo haver uma colisão em um
em uma mudança brusca para uma profundidade menor.
14
respeitando uma angulação de até 2º. Já no sentido lateral da varredura (across-track), os
feixes são largos e o ângulo de abertura do feixe varia entre 20 e 50º (Figura 11). Essa
geometria garante uma melhor resolução (along-track) e um maior alcance lateral (range).
15
planejam-se linhas adjacentes que tenham uma sobreposição tal que não existam áreas não
ensonificadas.
16
Figura 13. Sonograma mostrando a variação da altitude do peixe, e consequente variação da
zona cega, em virtude de afloramentos rochosos.
17
6.1. Apoio ao levantamento hidrográfico
Figura 14. Comparação de padrões de feixe de sistemas de faixa de feixe único, feixe
múltiplo e sonar lateral.
18
Fonte: Modificado de AUSTRÁLIA, 2019.
Figura 15. Mosaico de SVL do canal de acesso do porto de Vitória com as comparações entre
as amostras geológicas e as imagens formadas. (a) Lama; (b) Areia e Lama; (c) Lama e Areia;
(d) Areia grossa.
19
Fonte: Modificado de SILVA, 2010.
20
objetos, estas ordens podem ser aplicadas às buscas de pessoas desaparecidas no mar, as
chamadas operações SAR (Busca e Salvamento - Search and Rescue). O Serviço de Busca e
Salvamento da Marinha do Brasil (SALVAMAR-BRASIL) tem a missão de prover o
salvamento de pessoas em perigo no mar, no interior da área marítima de responsabilidade
brasileira.
21
7.1. Exemplo de uma situação prática
Figura 16. ADCP Teledyne 600 kHz, ao lado uma poita com o ADCP acoplado
22
O resgate do equipamento foi planejado para o dia 10 de dezembro de 2017, conforme
determinado pelo CHM. O NOc “Antares” retornou ao local e iniciou as buscas pelas boias
lançadas. Entretanto, nas proximidades da posição do lançamento, não foi encontrada a boia
de superfície, que fora supostamente avariada por outra embarcação ou furtada. Na ausência
das boias para auxiliar a recuperação, as primeiras tentativas de resgate do equipamento foram
realizadas com mergulhadores.
O uso de mergulhadores na busca por objetos submersos é muito comum e associada a
técnicas de pesquisa se torna eficaz nas operações de busca, porém possui algumas limitações
como que podem trazer uma situação de risco para o mergulhador como mergulhar à noite ou
em condições meteorológicas adversas, além disso, a visibilidade devido a pertubação dos
sedimentos dificulta a busca por objetos pequenos. A saúde do mergulhador é uma
preocupação que limita o tempo de permanência da equipe realizando as buscas no fundo do
mar. Isso ocorre graças aos problemas que podem ser gerados devido ao mergulho, como por
exemplo, narcose por nitrogênio, descompressão, hipotermia, hipertermia, entre outros
(Schultz et al, 2013).
O primeiro grupo de mergulhadores realizou buscas em uma área próxima ao local de
lançamento, com profundidades de aproximadamente 15 m. Os mergulhadores informaram
que em virtude dos sedimentos finos ficarem em suspensão, a visibilidade próxima ao fundo
era muito baixa. Em uma segunda tentativa de resgate, a equipe de mergulho esticou um cabo
próximo ao fundo realizando varreduras com o objetivo de interceptar o cabo da boia de
subsuperfície que havia sido lançada.
Estas tentativas de resgate perduraram por todo o dia, com algumas restrições devido
ao tempo de permanência dos mergulhadores no fundo não permitiram que as buscas
prosseguissem,. Em virtude das dificuldades encontradas, o NOc “Antares” retornou à DHN
sem encontrar o equipamento. Este fato foi levado aos Oficiais do CHM, que analisaram as
possibilidades e decidiram utilizar o SVL para realizar nova tentativa de recuperação do
equipamento.
23
lançamento/fundeio do ADCP, posição 23º06,594’S e 044º00,08’W, localizada nas CNs 1620
e 1607.
Os parâmetros de aquisição devem ser definidos com base na marca e modelo de SVL
disponível para a execução da varredura. O equipamento utilizado nesta operação foi o SVL
portátil, modelo 4125D da Edgetech. Os parâmetros apresentados neste estudo foram
baseados nas especificidades deste modelo, entretanto a metodologia pode ser aplicada a
equipamentos semelhantes.
O SVL 4125D possui capacidade de aquisição de dupla frequência e alta resolução,
sendo possível trabalhar simultaneamente com as frequências de 400 e 900 kHz. Segundo o
manual, para este modelo, essa faixa de frequência é a escolha ideal na combinação alcance e
resolução para a aplicação em águas rasas.
O planejamento da varredura foi realizado com base na definição dos seguintes
parâmetros:
24
1. Objetivo da varredura
2. Tamanho da área e dos alvos
3. Frequência de operação do SVL
4. Alcance lateral (range)
5. Espaçamento e superposição entre as linhas de varredura
6. Profundidade da área de varredura
7. Direção das linhas de varredura
8. Altitude e posição do peixe
9. Velocidade da varredura e tempo de operação
25
Definido o objetivo da varredura, delimita-se os limites geográficos da área onde será
realizada a operação, no caso da busca por objetos é importante saber o tamanho dos alvos a
serem detectados. O raio de busca deve ser definido a partir do ponto provável. O
equipamento fundeado tinha aproximadamente 1m² e a área delimitada foi de
aproximadamente 50.000m² a partir do ponto registrado no fundeio.
Após ser definido o objetivo, devem ser delimitados os limites geográficos da área
onde será realizada a operação. Para isto, é importante definir o tamanho dos menores objetos
ou feições a serem detectadas.
Para a busca de objetos submersos, recomenda-se que seja definido um raio de busca
a partir de um ponto provável e então, delimitada a área de busca que cubra a região no
entorno do alvo. O equipamento fundeado foi acoplado a uma poita de aproximadamente 1
m². A área delimitada foi de aproximadamente 50.000 m², tendo sido definido como ponto
central as coordenadas de fundeio. A figura 18 mostra a interface do programa de aquisição
com a CN 1621 e a definição da área de busca (retângulo em vermelho) a partir do ponto de
fundeio (círculo cinza), a sul da Ilha da Marambaia.
Figura 18. Delimitação da área de busca, retângulo vermelho a sul da Ilha da Marambaia.
26
7.3.3. Frequência de operação do SVL
27
A detecção de pequenos objetos, como é o caso do ADCP de fundeio (~1 m²),
necessita que seja utilizada a maior frequência disponível no equipamento, pois desta forma
haverá maior resolução dos dados adquiridos e consequentemente, facilitará a detecção deste
pequeno objeto.
Entretanto, como o SVL utilizado na operação permite a aquisição e a gravação
simultânea dos dados nas frequências de 400 e 900 kHz, as duas frequências foram
selecionadas. Sabendo que os registros de 900 KHz possuem maior resolução, o
monitoramento em tempo real do sonograma esteve concentrado nestes dados.
28
suficiente manter o espaçamento igual ao dobro do alcance lateral do SVL, ou seja, para um
alcance lateral de 150 m, as linhas seriam espaçadas a cada 300 m. Contudo, as incertezas de
posicionamento do peixe dificultam a produção de bons mosaicos sem que o levantamento
seja realizado com áreas de superposição.
A IT-H04 (DHN, 1998) define que para as aplicações do SVL na MB, a superposição
das linhas de varredura deve ser de no mínimo 50%, garantindo que os erros de
posicionamento sejam suprimidos. Isso significa que em uma operação adotando um alcance
lateral de 100 m, o espaçamento entre as linhas será 1,5 vezes o alcance, ou seja, 150 m no
exemplo citado. Para busca de objetos, principalmente os de menores dimensões, é necessário
um planejamento para uma varredura mais detalhada, de maneira que o objeto não deixe de
ser ensonificado. Esse espaçamento deve levar em consideração a zona cega formada em cada
linha de varredura. Desta forma, a superposição das linhas de varredura deve ser calculada tal
que a zona cega seja coberta na linha de varredura adjacente. Nesses casos, adota-se uma
superposição de pelo menos 100%, garantindo a cobertura de todas as zonas cegas e
aumentando a probabilidade de detecção do objeto.
Portanto, o espaçamento e a superposição entre as linhas variam de acordo com o
objetivo, tamanho dos alvos a serem detectados, frequência e alcance lateral. A metodologia
utilizada pode ser mais ou menos conservadora, de acordo com estes parâmetros, conforme
demostrado na figura 19.
No presente estudo, como se trata um pequeno objeto a ser detectado, foi adotado um
alcance lateral de 30 m com espaçamento entre as linhas de varredura de 30 m.
29
Fonte: FISH; CARR, 1990.
30
7.3.7. Altitude e posição do peixe
O Manual de Hidrografia (OHI, 2005) define que a altura ótima, acima do fundo, para
a operação do SVL deve ser de 10% do alcance lateral, O Manual da Edgetech (2014) propõe
uma faixa de trabalho de 10 a 20% do alcance lateral.
O peixe pode ser operado a uma maior altitude em áreas com grande variação
batimétrica, evitando o choque do equipamento com o fundo. A desvantagem do aumento de
altitude é o aumento da zona cega e maior probabilidade dos ruídos da embarcação e da
superfície afetarem a qualidade do sinal.
A altitude reduzida do peixe permite um aumento nas zonas de sombra, o que pode
facilitar na busca de pequenos objetos, por outro lado aumenta o risco de colisão do
equipamento com o fundo. Desta forma, os registros mostrados em tela durante a aquisição
devem ser monitorados, conforme visto no item 5.3, e, se necessário, a altitude deve ser
ajustada.
O alcance lateral definido para a área de estudo foi de 30 metros, levando em
consideração uma maior segurança do equipamento e uma possibilidade maior de reação em
mudanças de profundidade foi escolhida a altura de 6 metros do fundo, que corresponde a
20% do alcance lateral.
31
Levando os fatores de corrente de maré e direção das curvas isobatimétricas, foi
escolhida a direção de leste para oeste (Figura 20).
À medida que se aumenta o alcance lateral, o pulso sonoro demora mais tempo para
retornar ao transdutor e, consequentemente, a frequência de repetições de pulso diminui. Se a
frequência for baixa tal que leve a intervalos sem registro (gaps) no sonograma, a velocidade
da varredura deve ser reduzida.
O manual de operação do SVL define que as velocidades utilizadas devem variar de 2
a 8 nós. A velocidade deve ser definida conforme o modelo do SVL, frequência e alcance
lateral selecionados para a operação. As imagens obtidas devem ser monitoradas durante a
aquisição para verificar se ocorrem falhas no registro. É importante que a velocidade da
embarcação seja a mais constante possível, de modo a não causar deformações na formação
da imagem.
Exemplos práticos com modelos portáteis mostraram que velocidades acima de 8 nós
em relação ao fundo pode ocasionar a não detecção de objetos pequenos, além disso, a
velocidade relativa do peixe acima de 10 nós em relação à superfície da água traz a
probabilidade de que o peixe se torne muito instável (OHI, 2005). Atualmente existem
modelos de SVL que podem operar em navios de pesquisa a velocidades acima de 14 nós.
32
Velocidades menores facilitam a interpretação da imagem por parte do operador,
porém a manobrabilidade da embarcação que está sendo utilizada também deve ser levada em
consideração, pois velocidades muito baixas podem dificultar o alinhamento da embarcação
com a linha planejada.
Outro aspecto a mencionar é a diferença na velocidade das operações, porque as
operações de levantamento batimétrico (monofeixe ou multifeixe) costumam ser executadas
em velocidades mais altas que as de SVL. Sendo assim, raramente apresenta bom rendimento
executar as duas ao mesmo tempo. Em caso de levantamento sistemático de uma área, que
exija batimetria e varredura lateral, é recomendável executar primeiro a sondagem monofeixe,
(normalmente em linhas perpendiculares à costa) e, posteriormente, a varredura sonar (linhas
transversais às linhas de sondagem).
O tempo para realizar a operação planejada pode ser estimado em função do tamanho
da área, velocidade de varredura e espaçamento entre linhas de sondagem. Atualmente, os
softwares de aquisição calculam este valor a partir da inserção dos valores dos parâmetros
anteriores.
A embarcação utilizada foi o NOc “Antares” (Figura XX), um navio de 55 m de
comprimento, que exige uma velocidade razoável para manter sua capacidade de manobra.
Tendo esse dado como referência, o objetivo da varredura pela busca do ADC e a boa
experiência dos operadores do SVL, foi estabelecido uma velocidade constante de 4 nós.
33
Foram planejadas inicialmente doze linhas paralelas para a operação, cada linha com
cerca de 350 m. Adotando-se a velocidade de 4 nós, foi calculado que o navio levaria cerca de
3 minutos para percorrer cada uma das linhas de varredura, na transição de uma linha para
outra estimou-se que o navio levaria cerca de 2 minutos para alinhar e iniciar a varredura de
forma correta. Dessa forma, estipulou-se que o NOc “Antares” levaria cerca de 1 hora para
percorrer com todas as linhas planejadas.
8. DISCUSSÕES E CONCLUSÕES
Após a fase de planejamento, o SVL foi lançado ao mar para o início das buscas.
Como o planejamento tinha sido realizado a partir do ponto de lançamento do ADCP,
acreditava-se que o equipamento estaria entre as linhas 5 e 8 (Figura 20). A varredura foi
iniciada a partir da linha 5 e, caso fosse necessário, seria expandida para as linhas adjacentes
conforme o planejamento.
Ao percorrer a linha 6, segunda na sequência de início da varredura, foi identificado
um objeto com uma feição quadrada de aproximadamente 1 m. O Navio retornou pela linha 7
e o sonograma voltou a apresentar a mesma feição. Foram realizadas novas passagens nas
34
linhas 6 e 7 com o objetivo de ensonificar o mesmo objeto. A figura 22 apresenta o sonograma
formado no momento da aquisição dos dados. É possível identificar um objeto com as
dimensões de 1 m e uma sombra elíptica, que corresponderia à boia de subsuperfície que tinha
sido lançada a aproximadamente 5 m do fundo para facilitar as buscas.
Os dados foram adquiridos no software Discover da própria EdgeTech, fabricante do
modelo do SVL utilizado, e o processamento foi realizado no software SonarWiz, da
Chesapeake. Foram inseridos os offsets da antena GPS do Navio, do layback e a profundidade
do peixe, utilizando a TPU como referência. A antena se encontrava a aproximadamente 20 m
da referência, foram colocados 50 m de cabo na água e o peixe estabilizou em uma
profundidade de 9 m da superfície do mar, cerca de 6 metros do fundo marinho. Com a
compilação e processamento desses dados, foi possível estabelecer com precisão a posição do
equipamento.
Estes dados foram posteriormente processados, apenas para se obter imagens mais
nítidas com fins de adestramento, onde é possível identificar também uma queda na
intensidade de retorno da onda acústica, que se correlacionava com a sombra do objeto
(Figura 23).
Figura 22. Sonograma mostrando o objeto detectado durante a aquisição através do software
Discover da EdgeTech.
35
Fonte: PASSAMANI e GUILHERME, 2018.
36
Figura 24. Recuperação do ADCP acoplado à poita realizada, a bordo do NOc “Antares”.
9. BIBLIOGRAFIA
ABDULRAHMAN, Farsat et al. (2017). Creating a bathymetric contour map using acoustic
Doppler current profiler (ADCP): Duhok Dam reservoir as a case study. Polytechnic Journal,
Duhok. v. 7 n. 4 p. 40-55, dez 2017.
ANDREWS, Evan. The Real Story Behind the Discovery of Titanic’s Watery Grave. History,
2018. Disponível em: https://www.history.com/news/titanics-watery-grave-located. Acesso
em 22 set 2019.
37
ATHERTON, Mark. Echoes and Images: The Encyclopedia of Side-Scan and Scanning Sonar
Operations. Vancouver: OysterInk. 2011.
BLONDEL, Philippe. The Handbook of Sidescan Sonar. Chichester: Praxis Publishing, 2009.
EDGETECH. 4125 Side Scan Sonar System: user hardware manual. Wareham
Massachusetts, 2014.
38
PASSAMANI, F.M.; GUILHERME, A. Uso do sonar de varredura lateral na recuperação de
equipamentos oceanográficos. ANAIS DO 49O CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA,
Rio de Janeiro, 2018.
SCHULTZ, John et al. Detecting submerged objects: The application of side scan sonar to
forensic contexts. Forensic science international. v. 231 p. 306-16. 2013. Disponível em
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0379073813003022. Acesso em 10 jun
2019.
SOUZA, Luis Antonio Pereira. Revisão Crítica da Aplicabilidade dos Métodos Geofísicos na
Investigação de Áreas Submersas Rasas. São Paulo, 2006.
TELFORD, W.M. et al. Applied geophysics. First Edition. Cambridge: University Press.
860p. 1990.
39