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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO UNIVERSITÁRIO NORTE DO ESPÍRITO SANTO


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIAS E TECNOLOGIA
CURSO DE ENGENHARIA DE PETRÓLEO
PROJETO DE GRADUAÇÃO II

CAIO CORADINI COSTA

DETERMINAÇÃO DA POROSIDADE E IDENTIFICAÇÃO DOS


RESERVATÓRIOS ATRAVÉS DE PERFILAGEM GEOFÍSICA DE
POÇOS

SÃO MATEUS
2019
CAIO CORADINI COSTA

DETERMINAÇÃO DA POROSIDADE E IDENTIFICAÇÃO DOS


RESERVATÓRIOS ATRAVÉS DE PERFILAGEM GEOFÍSICA DE
POÇOS

Projeto de Graduação II apresentado ao


Departamento de Engenharias e Tecnologia
da Universidade do Espírito Santo como
requisito para o Trabalho de Conclusão de
Curso de Engenharia de Petróleo.
Orientador: Prof. Carlos André Maximiano da
Silva

SÃO MATEUS
2019
CAIO CORADINI COSTA

DETERMINAÇÃO DA POROSIDADE E IDENTIFICAÇÃO DOS


RESERVATÓRIOS ATRAVÉS DE PERFILAGEM GEOFÍSICA DE
POÇOS

Projeto de Graduação II apresentado ao Departamento de Engenharias e Tecnologia


da Universidade do Espírito Santo como requisito parra o Trabalho de Conclusão de
Curso de Engenharia de Petróleo.

COMISSÃO EXAMINADORA

__________________________________________
Prof. Dr. Carlos André Maximiano da Silva
Universidade Federal do Espírito Santo
Orientador

__________________________________________
Prof. Dr. Jefferson Lima
Universidade Federal do Espírito Santo
Convidado

__________________________________________
Profa. Dr. Natália Valadares de Oliveira
Universidade Federal do Espírito Santo
Convidada
RESUMO:

A perfilagem geofísica de poços permite inferir os parâmetros petrofísicos da


formação, além de identificar os fluidos saturantes do espaço poroso, e,
consequentemente, avaliar o valor econômico do reservatório. Por conta disso, este
tipo de operação se tornou fundamental para a avaliação exploratória. A porosidade é
um parâmetro que pode ser calculado com auxílio de alguns perfis geofísicos, que são
o perfil de densidade, o perfil neutrônico e o perfil sônico. Além disso, o perfil raio
gama permite a distinção das litologias e o perfil de resistividade permite o cálculo da
saturação de água e para a identificação dos fluidos presentes. No presente trabalho,
três poços localizados no Campo de Namorado foram selecionados para verificar a
confiabilidade do volume de hidrocarbonetos nos poros de um reservatório obtido
pelas ferramentas acima.

Palavras-chave: Perfilagem geofísica de poços, Campo de Namorado e volume de


hidrocarbonetos.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Mapa da Bacia de Campos (mod. RANGEL & MARTINS, 2000) ............... 4
Figura 2 - . Mapa de localização do Campo de Namorado (Modificado de
GUARDADO, SPADINI, et al., 2000). ......................................................................... 5
Figura 3 - Mapa de localização do bloco do Campo de Namorado e dos poços
selecionados (Modificado de ROSA, SUSLICK, et al., 2008). ..................................... 6
Figura 4 - Seção transversal de uma amostra de rocha (ROSA, CARVALHO e
XAVIER, 2011). ........................................................................................................... 7
Figura 5 - Rocha-reservatório contendo três fluidos: óleo, água e gás.
(Fonte:ROSA,2006)................................................................................................... 10
Figura 6 - Elementos que compõe a perfilagem de poços (Modificado de ELLIS,
1987). ........................................................................................................................ 14
Figura 7 - Exemplo de um perfil de densidade. Modificado de (BASSIOUNI, 1994) . 16
Figura 8 - Exemplo de um perfil de resistividade. Modificado de (BASSIOUNI, 1994).
.................................................................................................................................. 18
Figura 9 - Ferramenta de medição de Porosidade Neutrônica (Modificado de ELLIS,
1987) ......................................................................................................................... 19
Figura 10: Interface do software LogPlot. .................................................................. 24
Figura 11: Design dos perfis geofísicos no LogPlot. ................................................. 24
Figura 12: Arquivo .LAS aberto no LogPlot. .............................................................. 25
Figura 13: Perfis geofísicos do poço 7NA 0010D RJS no Campo de Namorado com
destaque nas regiões dos possíveis reservatórios. ................................................... 28
Figura 14: Perfis geofísicos do poço 7NA 0011A RJS no Campo de Namorado. ..... 28
Figura 15: Perfis geofísicos do poço 7NA 0012 RJS no Campo de Namorado com
destaque nas regiões dos possíveis reservatórios. ................................................... 29
Figura 16: Perfis de Densidade e Neutrônico dos poços 7NA 0010D RJS, 7NA
0011A RJS e 7NA 0012 RJS no Campo de Namorado com destaque nas regiões
dos possíveis reservatórios. ...................................................................................... 30
Figura 17: Figura 13: Perfis de Resistividade dos poços 7NA 0010D RJS, 7NA
0011A RJS e 7NA 0012 RJS no Campo de Namorado com destaque nas regiões
dos possíveis reservatórios. ...................................................................................... 32
Figura 18: Perfis geofísicos do poço 7NA 0010D RJS no Campo de Namorado com
destaque nas regiões dos possíveis reservatórios. ................................................... 34
Figura 19: Perfis geofísicos do poço 7NA 0011A RJS no Campo de Namorado. ..... 35
Figura 20: Perfis geofísicos do poço 7NA 0012 RJS no Campo de Namorado com
destaque nas regiões dos possíveis reservatórios .................................................... 36
LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Classificação dos perfis mais utilizados em perfilagem a poço aberto


(Traduzido de RIDER, 2002). .................................................................................... 15
Tabela 2: Intervalo de tempo de trânsito para alguns fluidos (SERRA, 1984). ......... 23
Tabela 3: Intervalo de tempo de trânsito da matriz para algumas litologias (BROCK,
1986). ........................................................................................................................ 23
Tabela 4: Intervalo dos possíveis reservatórios nos três poços. ............................... 29
Tabela 5: Valores calculados da porosidade para os intervalos de cada poço. ........ 31
Tabela 6: Valores calculados de IGR para os intervalos analisados de cada poço .. 32
Tabela 7: Valores calculados de Vsh para os intervalos analisados de cada poço. .. 33
2

SUMÁRIO
1. Introdução ............................................................................................................. 3
1.1. Motivação .......................................................................................................... 3
1.2. Objetivos ........................................................................................................... 3
1.3. Área de Estudo .............................................................................................. 4
1.3.1 Bacia de Campos......................................................................................... 4
1.3.2 Campo de Namorado................................................................................... 5
2. Fundamentação Teórica......................................................................................... 6
2.1 Propriedades Petrofísicas .................................................................................. 6
2.1.1 Porosidade ................................................................................................... 6
2.1.2 Permeabilidade ............................................................................................ 9
2.1.3 Saturação de Fluidos ................................................................................... 9
2.1.4 Densidade .................................................................................................. 11
2.1.5. Resistividade ............................................................................................ 12
2.2 Perfis Geofísicos .............................................................................................. 13
2.2.1 Perfil de Densidade.................................................................................... 15
2.2.2. Perfil de Resistividade .............................................................................. 17
2.2.3 Perfil Neutrônico ........................................................................................ 19
2.2.4 Perfil Raios Gama ...................................................................................... 20
2.2.5. Perfil Sônico .............................................................................................. 21
3. Metodologia ........................................................................................................... 23
3.1. Identificação dos Intervalos dos Reservatórios ............................................... 25
3.1.1. Determinação do Volume de Argila .......................................................... 26
3.1.2. Determinação da Porosidade ................................................................... 26
3.2. Identificação dos Fluidos ................................................................................. 27
4. Resultados ............................................................................................................ 27
4.1. Identificação dos intervalos dos Reservatórios ............................................... 27
4.1.1. Determinação da Porosidade ................................................................... 30
4.1.2. Determinação do Volume de Argila .......................................................... 31
4.2. Identificação dos Fluidos ................................................................................. 33
5. Conclusão ............................................................................................................. 37
Referências Bibliográficas ......................................................................................... 38
3

1. Introdução

1.1. Motivação

O setor petrolífero é responsável por grande parte da matriz energética mundial


e vem sendo considerado um investimento promissor, principalmente quando se trata
de novas tecnologias que permitem a extração de petróleo em cenários desafiadores.
Segundo dados do Balanço Energético Nacional (BEM) de 2015, o petróleo e seus
derivados representam 39,4% da oferta interna da matriz energética brasileira. A
crescente demanda por energia implicou na otimização do desenvolvimento dos
reservatórios, sendo necessária a utilização de ferramentas e técnicas que
auxiliassem na caracterização dos mesmos.
A interpretação de amostras coletadas durante a fase de perfuração pode não
ser confiável. Os testemunhos podem impossibilitar a definição das características
petrofísicas dos reservatórios pois muitas vezes se misturam ao fluido de perfuração
ou ao fluido saturante.
A perfilagem geofísica de poços é uma das técnicas usadas para a obtenção
de diferentes propriedades das formações ao longo de um poço. Após a obtenção dos
dados, a interpretação correta torna possível inferir diversos parâmetros das rochas e
dos fluidos contidos no espaço poroso.
É possível quantificar a fração volumétrica de poros através das ferramentas
de perfilagem que auxiliam na realização do cálculo da porosidade e da saturação,
que são o perfil de resistividade, de densidade, neutrônico e sônico. A partir dos
resultados obtidos pode-se realizar uma análise, de modo a concluir a eficiência
dessas ferramentas.

1.2. Objetivos

Este trabalho teve como objetivo o cálculo da porosidade dos poços


7NA0012RJS, 7NA0011ARJS e 7NA010DRJS, localizados no Campo de Namorado,
Bacia de Campos.
De modo a atingir este objetivo foi necessário realizar uma revisão bibliográfica
acerca de algumas propriedades petrofísicas, como a porosidade, permeabilidade,
4

saturação, dentre outras, e de cada uma das ferramentas utilizadas para a


quantificação do volume poroso.

1.3. Área de Estudo

1.3.1 Bacia de Campos

A Bacia de Campos é uma bacia sedimentar que está localizada na margem


continental sudeste do Brasil, se estende desde o litoral do estado do Rio de Janeiro
até o litoral do Espírito Santo. Possui uma área de aproximadamente 100 mil km2 e
limita-se a norte com a Bacia do Espírito Santo pelo Alto de Vitória e a sul, com a
Bacia de Santos pelo Alto de Cabo Frio, como é demonstrado na Figura 1. (RANGEL
e MARTINS, 1998, apud LIMA, 2004)

Figura 1 - Mapa da Bacia de Campos (mod. RANGEL & MARTINS, 2000)

A Bacia de Campos é típica da margem continental passiva, ou divergente,


assim como as demais bacias de margem continental brasileira. Sua origem está
relacionada ao rompimento do Gondwana, com consequente separação da placa Sul
5

Americana da Africana, e surgimento do Oceano Atlântico (FONTANELLI, DE ROS e


REMUS, 2009).
Segundo dados da (ANP 2015), a Bacia de Campos é a bacia mais prolífica do
Brasil, responsável por 74% da produção de óleo e 32% da produção de gás nacional.
A produção total da bacia é aproximadamente de 1.875.000 boe/dia.

1.3.2 Campo de Namorado

O Campo de Namorado está aproximadamente a 80 km do litoral do estado do


Rio de Janeiro, localizado na parte central da Bacia de Campos. Foi descoberto no
ano de 1975 com a perfuração do poço 1-RJS-19 (Barboza et al., 2005). A Figura 2
representa o mapa da localização do campo de estudo.

Figura 2 - . Mapa de localização do Campo de Namorado (Modificado de GUARDADO, SPADINI,


et al., 2000).

O principal reservatório do campo é o Arenito Namorado. Segundo Souza Jr


(1997, apud STEVANATO, 2011), este reservatório possui excelentes características
petrofísicas, com porosidade variando de 20 a 30% (com média de 26%) e
permeabilidade média de 400 miliDarcy.

O Campo Namorado é considerado um Campo Escola devido à grande


quantidade de dados coletados ao longo dos anos, em que foram perfurados e
6

perfilados cerca de 56 poços. Esse conjunto de dados é disponibilizado pela Agência


Nacional do Petróleo (ANP) às instituições brasileiras de ensino e pesquisa para fins
didáticos.

Os poços 7NA0012RJS, 7NA0011ARJS e 7NA010DRJS foram escolhidos


para este trabalho, como mostra a Figura 3.

Figura 3 - Mapa de localização do bloco do Campo de Namorado e dos poços selecionados


(Modificado de ROSA, SUSLICK, et al., 2008).

2. Fundamentação Teórica

2.1 Propriedades Petrofísicas

A obtenção das propriedades petrofísicas, como porosidade, resistividade,


permeabilidade, densidade e saturação é de extrema importância no estudo do
reservatório, tanto para sua caracterização, como para sua avaliação econômica, uma
vez que a acumulação e exploração de hidrocarbonetos estão fortemente vinculadas
a essas propriedades e aos processos de fluxo nas rochas (LIMA, 2006).

2.1.1 Porosidade

A porosidade mede a capacidade de armazenamento de fluidos, ou seja, indica


a quantidade de espaços de poros existentes em uma rocha ou formação (ROSA,
CARVALHO e XAVIER, 2006).
7

Ter o conhecimento da porosidade do meio em questão é importante para a


indústria, pois assim é possível estimar o volume do reservatório. Por definição, a
porosidade é a relação entre o volume de vazios de uma rocha e o volume total da
mesma, ou seja:
𝑉𝑣 (1)
𝜙=
𝑉𝑡

Onde: ϕ é a porosidade;
𝑉𝑣 é o volume de vazios (volume poroso);
é o volume total da rocha.

Durante os vários processos de diagênese, como a cimentação e a


compactação, alguns dos poros acabam se isolando dos demais e formando poros
não-interconectados, como mostra a Figura 4:

Figura 4 - Seção transversal de uma amostra de rocha (ROSA, CARVALHO e XAVIER, 2011).

Portanto, pode-se distinguir a porosidade em duas categorias:

• Porosidade absoluta: Leva em consideração todos os poros de uma rocha,


sendo eles interconectados ou não. É a relação entre o volume total de poros
e o volume total da mesma. A porosidade absoluta é expressa pela equação 2:
8

𝑉𝑝 (2)
𝜙𝑡 =
𝑉𝑡

Onde: é a porosidade total ou absoluta;


é o volume poroso total;
é o volume total da rocha.

Segundo Mimbela (2005) a determinação da porosidade absoluta serve


apenas para cálculo de reserva, visto que uma rocha geralmente apresenta
porosidade total considerável, sem necessariamente, haver intercomunicação dos
poros, o que impossibilita a migração dos fluidos presentes no reservatório.

• Porosidade efetiva: Leva em conta apenas os poros interconectados, ou seja,


os que permitem a passagem de um fluido. É a porosidade que interessa para
a indústria do petróleo, pois representa o volume máximo que pode ser extraído
da rocha (TRIGGIA, CORREIA, et al., 2001). A porosidade efetiva é expressa
pela equação:

𝑉𝑖 (3)
𝜙𝑒 =
𝑉𝑡

Onde: 𝝓𝒆 é a porosidade efetiva;


𝑽𝒊 é o volume poroso interconectado;
𝑽𝒕 é o volume total da rocha.

A porosidade de uma rocha também pode ser divididas em duas etapas: a


porosidade primária e a secundária.

• Porosidade primaria: A porosidade primária ou original é adquirida pela rocha


durante sua deposição, esta propriedade tende a diminuir com o soterramento
devido à compactação mecânica e a diagênese. Esse tipo de porosidade é
comum em arenitos (BORGES, 2012).

• Porosidade secundária: A porosidade secundária é resultado da ação de


agentes geológicos após o processo de formação da rocha. Esses agentes
9

podem contribuir para o aumento ou redução da porosidade. A cimentação e a


compactação contribuem, por exemplo, para a redução do espaço poroso. Para
o aumento pode-se citar o desenvolvimento de fraturas. Pela sua natureza
quebradiça e composição química, os carbonatos são excelentes exemplos de
porosidade secundária ou induzida (MIMBELA, 2005).

• Porosidade de uma rocha reservatório: Rochas reservatório têm de ter uma boa
porosidade e uma boa permeabilidade para que ocorra o armazenamento do
fluido e que ele possa escoar durante a produção. Em geral, os depósitos de
petróleo ocorrem em rochas clásticas e não clásticas, como o arenito e o
calcário. Porém também existem casos em que outras rochas, como folhelhos,
apresentam-se como rochas reservatório pois foram fraturadas em algum
momento e a sua porosidade sofreu alguns efeitos.
As frequências de tipos litológicos de reservatórios de petróleo no mundo inteiro
são: 59% arenitos, 40% de calcários e dolomitos e 1% de outras rochas
fraturadas (SUGUIO, 1980)

2.1.2 Permeabilidade

A permeabilidade de um meio poroso é uma medida de sua capacidade de se


deixar atravessar por fluidos. É dependente do grau de interconexão dos poros, do
tamanho das gargantas entre os poros e das forças de capilaridade ativas (ROSA,
2006).
A permeabilidade pode ser absoluta ou efetiva. A permeabilidade absoluta é
relativa à saturação em 100% dos seus poros interconectados. Já a permeabilidade
efetiva é relacionada ao fluxo de um fluido na presença de outro (CARVALHO, 2013).
Assim como a porosidade, a permeabilidade também se divide em duas etapas:
a primária e a secundária. A permeabilidade primária está relacionada com a matriz
porosa da rocha, originada nos processos de deposição dos fragmentos rochosos. Já
a permeabilidade secundária é originada de processos posteriores a formação da
rocha, como a cimentação, a compactação a as fraturas (SOUZA, 2012).

2.1.3 Saturação de Fluidos


10

Segundo ROSA (2006), os espaços vazios de um material poroso podem estar


parcialmente preenchidos por um determinado líquido e os espaços remanescentes
por um gás. Ou ainda, dois ou três líquidos imiscíveis podem preencher todo o espaço
vazio. Nesses casos, é de grande importância o conhecimento do conteúdo de cada
fluido no meio poroso, pois as quantidades dos diferentes fluidos definem o valor
econômico do reservatório. A Figura 5 ilustra uma situação em que os poros da rocha-
reservatório estão saturados com três fluidos: água, óleo e gás.

Figura 5 - Rocha-reservatório contendo três fluidos: óleo, água e gás. (Fonte:ROSA,2006)

Define-se a saturação de um determinado fluido em um meio poroso como


sendo a fração ou a porcentagem do volume de poros ocupada pelo fluido. Assim, em
termos de fração:
𝑉𝑓 (4)
𝑆𝑓 =
𝑉𝑝

Onde: 𝑺𝒇 é a saturação do fluido;


𝑽𝒇 é o volume do fluido;
𝑽𝒑 é o volume poroso.
11

Em um reservatório, geralmente estão presentes um ou mais fluidos com


propriedades diferentes, estando o gás livre na parte superior e a água na parte inferior
(devido às diferentes densidades). Para o caso de um reservatório com água, óleo e
gás, a equação do volume do fluido saturante é:

𝑉𝑓 = 𝑉𝑜 + 𝑉𝑔 + 𝑉𝑎 (5)

Onde: 𝑽𝒇 é o volume do fluido saturante;


𝑽𝒐 é o volume de óleo;
𝑽𝒈 é o volume de gás;
𝑽𝒂 é o volume poroso.

A saturação total será a soma das saturações de cada fluido presente na rocha.
Portanto:

𝑆𝑜 + 𝑆𝑔 + 𝑆𝑎 = 1 (6)

Onde: 𝑺𝒐 é a saturação do óleo;


𝑺𝒈 é a saturação do gás;
𝑺𝒂 é a saturação da água.

2.1.4 Densidade

A densidade é definida como sendo a razão entre a massa e o volume de um


material, em g/cm³, (BORGES, 2012). Sua representação é a letra grega 𝜌 e a sua
equação é mostrada abaixo:

𝑀 (7)
𝜌=
𝑉

Onde: 𝝆 é a saturação do óleo;


𝑴 é a saturação do gás;
𝑽 é a saturação da água.

Devido a heteregeneidade das rochas, segundo Schön (2011), existem quatro


tipos de densidade:
12

• 𝜌𝑖 : densidade individual de um componente da rocha, como por exemplo, a


densidade do quartzo;
• 𝜌𝑚𝑎 : densidade da matriz sólida, ou seja, a densidade de toda a rocha
excluindo-se os poros;
• 𝜌: densidade total da formação: que é definida pela densidade média de um
volume de rocha, incluindo os poros.
• 𝜌𝑓𝑙 : densidade do fluido que preenche os poros, como a densidade da água.

Portanto, a densidade total de um material rochoso que consiste de n


componentes é dada pela seguinte equação:

𝑛
(8)
𝜌 = ∑ 𝜌𝑖 𝑥 𝑉𝑖
𝑖=1

Onde: 𝝆 é a densidade total;


𝝆𝒊 é a densidade do componente i;
𝑽𝒊 é a fração volumétrica do componente i.

Borges (2012) afirma que a densidade dos minerais é controlada pela sua
composição química, estrutura e pela ligação interna dos elementos. Já a densidade
do fluido presente nos poros depende do tipo de fluido ou da mistura de fluidos.
Acúmulos de gás se concentram na região superior do reservatório porque possui
menor densidade. A água é mais densa que o óleo, portanto a mesma se encontra na
parte inferior.

2.1.5. Resistividade

A resistividade de uma substância é a medida da sua resistência à passagem


da corrente elétrica, sendo, portanto, o oposto da condutividade, que mede a
habilidade de um material em conduzir eletricidade (RABELO, 2004). A unidade da
resistividade é o Ohm.metro (Ω.m).
13

A resistividade é uma propriedade física que possui valores diferentes para


cada substância. As rochas da formação são meios de grande variação de
propriedades químicas e físicas, o que reflete também nos valores de resistividade.
As rochas e os solos, em geral, são bastante resistivos, mas a presença de
substâncias metálicas, argilas e sais dissolvidos, podem apontar uma resistividade
elevada. (BECEGATO E FERREIRA, 2005).
Segundo Lima (2006), a resistência de um condutor é diretamente proporcional
ao comprimento a ser percorrido pela corrente elétrica, e inversamente proporcional
área atravessada, sendo dada por:
𝐿 (9)
𝑟=𝑅𝑥
𝐴

Onde: 𝒓 é a resistência;
𝑹 é a resistividade;
𝑳 é o comprimento;
𝑨 é a área.

Rearranjando os termos da equação (9), encontra-se a resistividade:

𝐴 (10)
𝑅=𝑟𝑥
𝐿

2.2 Perfis Geofísicos

A perfilagem geofísica consiste no registro contínuo dos parâmetros geofísicos


captados ao longo da parede de um poço, por meio de ferramentas a cabo ou, ainda,
de ferramentas acopladas nas colunas de perfuração. Os valores medidos são
associados à profundidade das informações obtidas dos poços (RIDER, 2002).
Quando corretamente aplicada, sua interpretação proporciona reduções
substanciais nos custos de avaliação, desenvolvimento e exploração de reservatórios
de petróleo. Uma boa perfilagem possibilita o cálculo confiável do volume de óleo in
place a partir do cálculo do volume poroso, da saturação de água no reservatório, da
definição do contato óleo/água e caracterização petrofísica do reservatório
(CARVALHO et al, 2016)
14

As ferramentas de perfilagem descem no poço até a profundidade desejada


através de um cabo (wireline). A unidade, então, puxa a ferramenta que sobe pelo
poço detectando certos aspectos da formação onde ela passa. A informação é
enviada a uma cabine de laboratório na superfície e registrada pelos computadores,
que posteriormente farão a análise dos dados. Os elementos que compõem a
perfilagem são mostrados na Figura 6:

Figura 6 - Elementos que compõe a perfilagem de poços (Modificado de ELLIS, 1987).

Os perfis geofísicos são uma das mais importantes ferramentas exploratórias


devido ao fato de auxiliarem na aquisição de parâmetros petrofísicos, litológicos,
estruturais e estratigráficos. Quando corretamente aplicada, sua interpretação
proporciona reduções substanciais nos custos de avaliação, desenvolvimento e
exploração de reservatórios de petróleo. (PASSARELA 2012)
Os perfis geofísicos são utilizados tanto para exploração de dados quantitativos
quanto para dados qualitativos. De forma quantitativa, os perfis são utilizados para o
calculo da porosidade, permeabilidade, saturação de fluidos, dentre outros. Como
15

forma qualitativa, o mesmo auxilia na identificação do tipo de fluido, tipo litológico,


dentre outros (NERY, 2004).
No entanto, a perfilagem possui uma grande limitação que é a pequena
extensão de seu raio de investigação lateral, de modo que apenas a vizinhança do
poço é analisada pela ferramenta (ELLIS, 1987).
A tabela 1 apresenta alguns tipos de perfis e o seus respectivos parâmetros
medidos.

Tabela 1 - Classificação dos perfis mais utilizados em perfilagem a poço


aberto (Traduzido de RIDER, 2002).
TIPO DE PERFIL PARÂMETRO MEDIDO
MEDIÇÕES Reação ao bombardeamento de
INDUZIDAS Neutrônico neutrôns
Velocidade de propagação de
Sônico (DT) som
Reação ao bombardeamento de
Densidade (RHOB) raios gama
Indução Condutividade de corrente elétrica
Resistividade Resitência a corrente elétrica
MEDIÇÕES
MECÂNICAS Caliper (CALI) Diâmetro do poço
MEDIÇÕES
ESPONTÂNEAS Raios Gama (GR) Radioatividade natural
Potencial espontâneo
(SP) Correntes elétricas espontâneas
Temperatura Temperatura do poço

2.2.1 Perfil de Densidade

Segundo RIDER 2012, o perfil de densidade (RHOB) é um registro contínuo


das variações de densidades das rochas atravessadas por um poço. No caso de
rochas porosas, a medição da densidade da formação realizada pelo perfil,
corresponde à densidade dos minerais que formam as rochas (matriz) e ao volume
dos fluidos nela confinadas. A Figura 7 demonstra um exemplo de perfil de densidade.
16

Figura 7 - Exemplo de um perfil de densidade. Modificado de (BASSIOUNI, 1994)

Este perfil tem como principais aplicações a quantificação da porosidade das


formações sedimentares, determinação da densidade dos hidrocarbonetos, na
detecção de zonas de gás, entre outros (SERRA, 1984).
O funcionamento do perfil de densidade é baseado na emissão de raios gama
para a formação, utilizando o Césio 137 ou o Cobalto 60 como fonte, localizado no
interior da ferramenta. Esses raios serão emitidos em alta velocidade e colidirão com
os elétrons presentes na formação, criando o fenômeno conhecido como
espalhamento de Compton. A cada colisão, os raios gama perdem energia para os
elétrons, desse modo a densidade da formação é estimada com a medição da
radiação gama que retorna para o detector.
Borges (2012) afirma que o aumento da densidade eletrônica no meio provoca
uma maior perda de energia dos raios gama. Assim, quanto mais densa for a
formação, menor vai ser a intensidade da radiação detectada pelo receptor da
ferramenta.
17

A ferramenta de densidade não mede diretamente à densidade da rocha, mas


sim o número de elétrons por unidade de volume da mesma, ou seja, a densidade
eletrônica. Consequentemente, a densidade de elétrons (𝜌𝑒 ) pode ser relacionada à
densidade volumétrica da formação (𝜌𝑏 ). No entanto, a ferramenta de densidade
precisa ser calibrada em um poço com características bem conhecidas da formação,
como na equação abaixo.
𝜌𝑏 = 1,0704 𝜌𝑒 − 0,188 (11)

A unidade é expressa em g/cm³. A densidade da formação é uma função da


densidade dos minerais que compõem a rocha e dos fluidos saturantes.

𝜌𝑏 = 𝜙𝜌𝑓 + (1 − 𝜙)𝜌𝑚𝑎 (12)

Onde: 𝝆𝒇 é a densidade do fluido contido no espaço poroso;


𝝆𝒎𝒂 é a densidade da matriz rochosa;
𝝓 é a porosidade da formação.

Reorganizando os termos da equação, tem-se que a porosidade pode ser


estimada com o conhecimento da litologia da formação e do(s) fluido(s) envolvido(s),
sendo expressa pela equação (RIDER, 2002):

𝜌𝑚𝑎 − 𝜌𝑏 (13)
𝜙=
𝜌𝑚𝑎 − 𝜌𝑓

2.2.2. Perfil de Resistividade

O perfil de resistividade consiste na medição da resistividade da formação, ou


seja, sua resistência à passagem do fluxo de uma corrente elétrica. A unidade deste
perfil é expressa em ohm.metro (Ω.m). Segundo Nery (2004), o conhecimento da
resistividade da formação é um dos métodos introdutórios para o cálculo da saturação
de água e para a identificação dos fluidos. A Figura 8 mostra um exemplo de um perfil
de resistividade.
18

Figura 8 - Exemplo de um perfil de resistividade. Modificado de (BASSIOUNI, 1994).

Uma bobina transmissora induz uma corrente nas formações que gera um
campo magnético. Esse campo é medido através da bobina receptora que fica
acoplada a um amplificador, sendo o sinal detectado pela bobina proporcional a
condutividade da formação (SOUZA, 1985 apud VIANA JUNIOR, 2017).
Como os valores da resistividade da água, óleo e gás são distintos, este perfil
fornece uma percepção de qual fluido esta no reservatório. Segundo Alberton 2014, a
resistividade de uma formação é altamente dependente da quantidade de água
contida no reservatório, bem como da sua condutividade e do arranjo dos poros.
Para realizar o cálculo da saturação de agua de uma formação, pode-se usar a
seguinte relação de Archie:
(14)
𝑅𝑜
𝑆𝑤 = √
𝑅𝑡

Onde: 𝑺𝒘 é a saturação de água;


𝑹𝒐 é a resistividade da rocha com poros preenchidos somente por água;
19

𝑹𝒕 é a resistividade da rocha com poros preenchidos por hidrocarbonetos e


água.

Além disso, através deste perfil é possível determinar o fator de resistividade


da formação, obtida por Archie em experimentos, que representa um excelente
parâmetro para detecção de zonas de hidrocarbonetos.
𝑅𝑜 (15)
𝐹𝑅 =
𝑅𝑤

Onde: 𝑭𝑹 é o fator resistividade da formação;


𝑹𝒐 é a resistividade da rocha com poros preenchidos somente por água;
𝑹𝒘 é a resistividade da água que satura a rocha.

2.2.3 Perfil Neutrônico

O perfil neutrão (NPHI) corresponde a um registro contínuo do índice de


hidrogênio presente nas formações, refletindo diretamente o espaço poroso que é
preenchido por fluidos. As ferramentas consistem de uma fonte de nêutrons, que são
partículas desprovidas de carga elétrica e que penetram nas formações adjacentes
ao poço, e de um ou vários receptores, como mostrado na Figura 9:

Figura 9 - Ferramenta de medição de Porosidade Neutrônica (Modificado de ELLIS, 1987)

Os nêutrons são partículas desprovidas de carga elétrica, então podem


penetrar com certa facilidade na matéria, atingindo o núcleo dos elementos da
composição da rocha. O perfil neutrão registra as porosidades das rochas, desde que
as camadas analisadas sejam portadoras de água. Segundo Rocha et al (2009),
20

quando os poros de uma rocha estão preenchidos por hidrocarbonetos leves (ou até
mesmo o gás), a medição da porosidade terá um valor menor do que quando
comparado aos perfis de densidade e sônico.

Os nêutrons que foram bombardeados em direção às formações colidem com


átomos que constituem os materiais da parede do poço, fazendo com que parte da
energia inicial seja perdida, a quantidade perdida depende da massa do núcleo
atômico que foi atingido. O átomo de hidrogênio, presente na água e nos
hidrocarbonetos que preenchem os poros das rochas, possui massa praticamente
igual à do nêutron, gerando perdas maiores de energia (BORGES, 2012)

2.2.4 Perfil Raios Gama

O perfil raio gama utiliza das ondas eletromagnéticas emitidas


espontaneamente pelos minerais radioativos presentes na formação, ou seja, é a
medida da radiatividade natural da rocha. A radioatividade natural de um mineral é
acontece quando certos isótopos instáveis em processo de desintegração emitem de
forma espontânea radiação (alfa beta e gama) e calor, resultando na transformação
desse átomo.
Segundo Serra (1984), geralmente, as emissões ,  e  são simultâneas,
entretanto, partículas  e  possuem baixa capacidade de penetração, então não são
suficientes para serem detectadas pelas ferramentas de perfilagem. Já os raios  tem
um alto poder de penetração e podem ser detectados e registrados pelas ferramentas
nas condições do poço.
A maioria da radiação encontrada na natureza é derivada dos isótopos
radioativos do Potássio, e dos elementos radioativos de Uranio e Thório. O potássio é
a maior fonte de radioatividade pois é um dos elementos mais presentes na crosta
terrestre. Ao contrário disso, Thório e Uranio são raros.
De acordo com Rider (2002) existem alguns tipos de instrumentos que medem
a radiação de uma formação, sendo o cintilômetro o mais utilizado devido a sua maior
sensibilidade e rendimento quando comparado aos outros, o que resulta em perfis
mais detalhados.
21

A Figura 10 representa uma interpretação litológica através do perfil de raio


gama, possibilitando a percepção de diferentes rochas com diferentes valores de raio
gama.

Figura 10 - Interpretação litológica por meio do perfil de Raios Gama (ROSA, SUSLICK, et al.,
2008).

Segundo Rosa et al (2008), a distinção de camadas geológicas com altas e


baixas leituras de radioatividade é o objetivo principal da ferramenta de raios gama.
Isso permite a discriminação das litologias com o potencial de reservatório daquelas
que cumprem diferentes funções dentro do sistema petrolífero, como rochas
geradoras e selantes.

2.2.5. Perfil Sônico

O perfil sônico está relacionado com a capacidade que um meio possui em


transmitir ondas de som, fornecendo o intervalo de tempo de trânsito da formação
(STEVANATO, 2011).
22

O mecanismo de funcionamento deste perfil se baseia em um transmissor e em


dois receptores, afastados entre si por 300 mm. O transmissor emite pulsos sonoros
na formação, ativando os receptores que registram os sinais recebidos. O tempo de
trânsito medido corresponde à diferença entre o tempo de chegada das ondas no
receptor perto e no receptor longe.
A velocidade do som varia conforme o meio em que suas ondas se propagam,
sendo mais rápida nos sólidos do que nos líquidos e gases. Portanto, o tempo de
trânsito de propagação de uma onda acústica é menor nos sólidos quando
comparados aos líquidos e gases. Dito isso, é possível afirmar que uma formação
rochosa com seus poros saturados por algum fluido possui um maior tempo de trânsito
do que uma formação com menor porosidade.
Sendo assim, a relação direta existente entre o intervalo de tempo de trânsito
de uma onda sonora em uma formação e sua porosidade, faz do perfil sônico um
importante parâmetro para a avaliação da porosidade das formações geológicas.
O tempo de trânsito é uma função que depende da litologia da matriz rochosa,
da porosidade e do fluido contido nos poros. Sua equação é:

Δ𝑡 = Δ𝑡𝑓 𝜙 + Δ𝑡𝑚𝑎 (1 − 𝜙) (16)

Onde: 𝚫𝒕𝒇 é o tempo de trânsito do fluido;


𝚫𝒕𝒎𝒂 é o tempo de trânsito na matriz rochosa;
𝝓 é a porosidade;
𝚫𝒕 é o tempo de trânsito do perfil.

Reorganizando a equação acima para obter a porosidade, têm-se:

Δ𝑡 − Δ𝑡𝑚𝑎 (17)
𝜙=
Δ𝑡𝑓 − Δ𝑡𝑚𝑎

A Tabela 2 apresenta os valores de tempo de trânsito para alguns fluidos:


23

Tabela 2- Intervalo de tempo de trânsito para alguns fluidos (SERRA, 1984).

Tipo de fluido Δ𝒕𝒇 ( s/ft)


Água pura 207
Fluido de perfuração 205,3
Óleo 238

A Tabela 3 apresenta valores para algumas litologias:

Tabela 3 - . Intervalo de tempo de trânsito da matriz para algumas litologias


(BROCK, 1986).

Litologia 𝚫𝒕𝒎𝒂 médio (ms/ft)

Arenito 57

Calcário 47

Dolomita 43

Anidrita 50

3. Metodologia

Foram utilizados dados de três poços, 7NA0012RJS, 7NA0011ARJS e


7NA010DRJS, todos situados no Campo de Namorado, bacia de Campos. O banco
de dados utilizado nesse trabalho foi fornecido pela Agência Nacional de Petróleo
(ANP) às universidades, como incentivo ao desenvolvimento de programas de ensino
e pesquisa.
O presente trabalho aborda sobre cinco perfis diferentes, porém nem todos serão
utilizados nas interpretações das perfilagens dos poços, isso dependerá dos dados
disponíveis.
O software escolhido para carregar e visualizar os perfis foi o LogPlot. A partir de
então, com a utilização de todas as curvas, será possível determinar os intervalos de
interesse para os três poços, assim como a saturação e, consequentemente, o volume
24

poroso dos reservatórios. As figuras 10 e 11 mostram como é a interface do software


LogPlot.

Figura 10: Interface do software LogPlot.

Figura 11: Design dos perfis geofísicos no LogPlot.


25

Primeiramente, um estudo sobre as propriedades petrofísicas das rochas e sobre


os tipos de perfis utilizados para identificação dos fluidos nas formações. Após isso,
foi possível elaborar e interpretar as curvas referentes aos perfis dos três poços
estudados.
O formato dos dados fornecidos encontram-se em formado Log ASCII
Standard (LAS). Neste arquivo estão presentes informações como o nome do poço,
intervalo de estudo, localização do poço e os dados coletados pelas ferramentas de
perfilagem.

Figura 12: Arquivo .LAS aberto no LogPlot.

A partir desse arquivo foi possível notar que esse poço apresenta dados
de perfilagem na faixa de profundidade de 3070 a 3530 metros. Além disso, a
primeira coluna presente nesse arquivo mostra as profundidades em que foram
coletados os dados e as demais colunas, os dados coletados por cada
ferramenta, nessa respectiva ordem: GR (Raios Gama), ILD
(Resistividade), NPHI (Neutrônico), RHOB (Densidade).

3.1. Identificação dos Intervalos dos Reservatórios

A partir da análise das curvas dos perfis de Raios gama (GR), Resistividade (ILD),
Densidade (RHOB) e Neutrônico (NPHI), foi possível encontrar os intervalos dos
possíveis reservatórios presentes nos três poços estudados. Para haver a certificação
de que os intervalos analisados são zonas de potenciais reservatórios, foram
realizados cálculos do volume de argila e da porosidade.
26

3.1.1. Determinação do Volume de Argila

A quantificação do Volume de argila (Vsh) consiste de duas etapas. Primeiramente,


utilizam-se os valores lidos no perfil de Raios Gama para os intervalos delimitados na
equação abaixo:

𝐺𝑅𝑙𝑜𝑔 − 𝐺𝑅𝑚𝑖𝑛 (18)


𝐼𝐺𝑅 =
𝐺𝑅𝑚𝑎𝑥 − 𝐺𝑅𝑚𝑖𝑛

Uma vez que o valor do IGR é conhecido, é possível calcular o Vsh de acordo com
a equação de Larionov para rochas antigas, tendo em vista que estudos anteriores
apontam que o principal reservatório encontrado no Campo de Namorado tem origem
no período Cenomaniano. A equação é representada abaixo:

𝑉𝑠ℎ = 0,33(22,1𝐼𝐺𝑅 − 1) (19)

Multiplicando a equação acima por 100, obtém-se os resultados do volume de


argila em percentual.

3.1.2. Determinação da Porosidade

O perfil de Densidade é utilizado para realizar a estimativa da densidade. A


equação correspondente é:
(20)
𝜌𝑚 − 𝜌𝑏
∅=
𝜌𝑚 − 𝜌𝑓

A densidade da matriz rochosa utilizada foi de 2,65 g/cm3, valor comum para
arenitos. Considerando que o fluido de perfuração utilizado era base água, a
densidade do filtrado foi de 1.0 g/cm³. Multiplicando a equação acima por 100, obtém-
se a porosidade percentual.
27

3.2. Identificação dos Fluidos

Uma vez que os intervalos dos possíveis reservatórios dos poços foram
delimitados, a identificação dos fluidos presentes em cada zona de potencial
reservatório foi realizada. Isso só foi possível com a análise integrada dos perfis de
Resistividade (ILD), Densidade (RHOB) e Neutrônico (NPHI), obtendo assim,
melhores resultados de avaliação dos poços.

4. Resultados

4.1. Identificação dos intervalos dos Reservatórios

Foram analisados os perfis de Raio Gama (GR) em conjunto com os perfis de


Resistividade (ILD), Densidade (RHOB) e Neutrônico (NPHI) dos poços 7NA 0010D
RJS, 7NA 0011A RJS, 7NA 0012 RJS no Campo de Namorado. As figuras abaixo
mostram os perfis gerados e os intervalos correspondentes aos prováveis
reservatórios.
28

Figura 13: Perfis geofísicos do poço 7NA 0010D RJS no Campo de Namorado com destaque
nas regiões dos possíveis reservatórios.

Figura 14: Perfis geofísicos do poço 7NA 0011A RJS no Campo de Namorado.
29

Figura 15: Perfis geofísicos do poço 7NA 0012 RJS no Campo de Namorado com destaque nas
regiões dos possíveis reservatórios.

Foi possível identificar as regiões delimitadas devido a variação dos perfis de


Resistividade, Densidade e Neutrônico, o que indica a presença de fluidos na região.
O perfil de Raios Gama apresentou uma baixa leitura no intervalo demarcado, o que
significa uma baixa concentração de elementos radioativos na formação e menor
conteúdo de argila. Portanto, os intervalos demarcados foram classificados como
arenitos, reservatórios comuns com essas características. A tabela abaixo apresenta
os intervalos dos possíveis reservatórios.

Tabela 4: Intervalo dos possíveis reservatórios nos três poços.

Poço Intervalo do Reservatório


3310 a 3335
7NA 0010D RJS
3380 a 3400
7NA 0011A RJS X
3010 a 3028
7NA 0012 RJS
3075 a 3093
30

4.1.1. Determinação da Porosidade

O perfil de Densidade foi utilizado para estimar a porosidade de cada um dos


intervalos de cada poço. A figura abaixo apresenta os perfis de densidade em conjunto
com o perfil neutrão dos poços 7NA 0010D RJS, 7NA 0011A RJS e 7NA 0012 RJS.

Figura 16: Perfis de Densidade e Neutrônico dos poços 7NA 0010D RJS, 7NA 0011A RJS e 7NA
0012 RJS no Campo de Namorado com destaque nas regiões dos possíveis reservatórios.

Através da média dos valores de densidade do perfil em cada intervalo analisado,


foi possível obter a densidade total da formação. Com os valores de densidade total
da formação, densidade da matriz e densidade do filtrado, é possível calcular a
porosidade média dos intervalos analisados, conforme a equação (20). Na tabela
abaixo são apresentados os valores encontrados de porosidade.
31

Tabela 5: Valores calculados da porosidade para os intervalos de cada poço.

Poço Porosidade (%)


27,04
7NA 0010D RJS
30,31
7NA 0011A RJS X
27,27
7NA 0012 RJS
32,35

Os valores obtidos indicam que essas zonas são prováveis zonas de reservatório,
uma vez que os valores se apresentam dentro da faixa de porosidade encontrada em
estudos anteriores para reservatórios no Campo de Namorado.

4.1.2. Determinação do Volume de Argila

Para que haja confirmação de que os intervalos delimitados são possíveis


reservatórios, foram calculados os IGR e Vsh através das equações (18) e (19). Para
o cálculo do IGR, a média dos valores de raios gama foi calculada para cada intervalo,
o que resulta no 𝐺𝑅𝑙𝑜𝑔 . Enquanto isso, o 𝐺𝑅𝑚𝑎𝑥 e o 𝐺𝑅𝑚𝑖𝑛 foram lidos diretamente no
perfil. A figura abaixo apresenta os intervalos correspondentes ao possível
reservatório.
32

Figura 17: Figura 13: Perfis de Resistividade dos poços 7NA 0010D RJS, 7NA 0011A RJS e 7NA
0012 RJS no Campo de Namorado com destaque nas regiões dos possíveis reservatórios.

Realizando o cálculo acima, tem-se o resultado do IGR para cada um dos poços.
O resultado é apresentado na tabela abaixo:

Tabela 6: Valores calculados de IGR para os intervalos analisados de cada poço

Poço IGR (API)


0,418
7NA 0010D RJS
0,304
7NA 0011A RJS X
0,452
7NA 0012 RJS
0,524
33

A partir do IGR, é possível calcular o volume de argila de cada possível


reservatório, conforme a equação (19). A tabela abaixo apresenta os valores de
volume de argila.

Tabela 7: Valores calculados de Vsh para os intervalos analisados de cada poço.

Poço Vsh (%)


27,58
7NA 0010D RJS
18,36
7NA 0011A RJS X
30,53
7NA 0012 RJS
37,34

Como os valores de percentual de argila encontrados são considerados de baixo


valor, essas zonas possivelmente se tratam de reservatórios.

4.2. Identificação dos Fluidos

Uma vez realizada a identificação e delimitação das potenciais zonas de


reservatório de cada poço, foi realizada uma interpretação conjunta dos perfis de
Resistividade, Neutrônico e Densidade para identificação dos fluidos presentes nas
regiões demarcadas. Esses três perfis apresentam características diferentes uns dos
outros, e com a integração dos mesmos é possível identificar o tipo de fluido presente.
O primeiro poço a ser analisado foi o 7NA 0010D RJS. Como visto anteriormente,
a profundidade analisada foi de 3270 a 3530m. A figura abaixo apresenta os perfis
geofísicos integrados de Raios Gama, Resistividade, Densidade e Neutrônico, com o
intervalo destacado para a interpretação do mesmo.
34

Figura 18: Perfis geofísicos do poço 7NA 0010D RJS no Campo de Namorado com destaque
nas regiões dos possíveis reservatórios.

A partir da interpretação do perfil de Resistividade, nota-se a presença de uma


zona de óleo e/ou gás nas regiões delimitadas. Isso se deve aos altos valores
registrados pelo perfil ILD, ou seja, existe um elemento na formação de baixa
condução.
Como o perfil de resistividade apontou que existe uma zona de óleo e/ou gás nas
regiões delimitadas, outro perfil deve ser utilizado para diferenciar o que há, de fato,
na região. Por conta disso, o perfil Neutrônico auxilia na interpretação. A ferramenta
registrou uma quantidade de hidrogênio considerável na formação, pois os valores da
mesma no intervalo delimitado não estão próximos de zero, o que a caracteriza como
uma possível zona de hidrocarbonetos.
A análise conjunta dos perfis de Densidade e Neutrônico também é bastante útil,
pois através da integração dos perfis é possível notar que os mesmos se cruzam e
possuem um espaçamento entre si, o que é característico de uma zona de gás.
35

O segundo poço a ser analisado foi o 7NA 0011A RJS. A figura abaixo apresenta
os perfis geofísicos integrados de Raios Gama, Resistividade, Densidade e
Neutrônico, com o intervalo destacado para a interpretação do mesmo.

Figura 19: Perfis geofísicos do poço 7NA 0011A RJS no Campo de Namorado.

Não há nenhuma região de destaque no poço, tendo em vista que os valores de


Resistividade não sofrem grandes alterações, assim como os valores de Densidade e
Neutrônico. Os últimos dois não se cruzam no perfil, o que se caracteriza por uma
zona de não hidrocarbonetos.
O terceiro poço a ser analisado foi o 7NA 0012 RJS, que apresenta dados de
perfilagem na faixa de profundidade entre 3010 a 3028 e 3075 a 3093. A figura abaixo
apresenta os perfis geofísicos integrados de Raios Gama, Resistividade, Densidade
e Neutrônico, com o intervalo destacado para a interpretação do mesmo.
36

Figura 20: Perfis geofísicos do poço 7NA 0012 RJS no Campo de Namorado com destaque nas
regiões dos possíveis reservatórios

Na região delimitada, nota-se a presença de uma zona de óleo e/ou gás a partir da
interpretação do perfil de Resistividade. Como os valores registrados pela ferramenta
são altos, existe um elemento de baixa condução na formação.
Para diferenciar o fluido contido na zona, é necessário recorrer à interpretação de
outro tipo de perfil. Como dito acima há um elemento pouco condutivo na formação.
O perfil Neutrônico aponta uma quantidade considerável de hidrogênio na formação,
tendo em vista que os valores obtidos no intervalo não estão próximos de zero,
caracterizando, assim, uma possível zona de hidrocarboneto. Além disso, a análise
integrada dos perfis de Densidade e Neutrônico se torna bastante útil, tendo em vista
que é possível notificar que os perfis se cruzam e possuem um espaçamento
significativo entre si, o que é característico de uma zona de óleo.
37

5. Conclusão

Através da análise das curvas dos perfis de Raios Gama, Resistividade,


Neutrônico e Densidade, foi possível a identificação dos intervalos dos possíveis
reservatórios nos poços 7NA 0010D RJS, 7NA 0011A RJS, 7NA 0012 RJS no Campo
de Namorado. Além disso, o cálculo do volume de argila e da porosidade confirmou
que os intervalos delimitados apresentaram resultados que se encontram na faixa dos
valores para reservatórios.
A partir da identificação das zonas dos possíveis reservatórios nos poços
estudados, tornou-se possível a identificação dos fluidos presentes nessas. Por meio
da interpretação do perfil de Resistividade em conjunto com o perfil Neutrônico e de
Densidade, inferiu-se a presença de óleo nos intervalos analisados no poço 7NA
0010D RJS e gás nos intervalos no poço 7NA 0012 RJS. Já no poço 7NA 0011A RJS,
nenhuma conclusão pôde ser tirada, tendo em vista que os valores lidos pelos perfis
não indicaram presença de nenhum tipo de fluido no intervalo analisado.
Conclui-se, de acordo com os resultados analisados, que a perfilagem geofísica
de poços torna possível inferir as características dos poços analisados, auxiliando na
identificação dos possíveis reservatórios e dos fluidos presentes na formação, ou seja,
a perfilagem geofísica de poços tem uma extrema importância na indústria de óleo e
gás.
38

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