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FACULDADE DE SÃO BERNARDO DO CAMPO

BACHARELADO EM QUÍMICA

BEATRIZ DIAS ARAUJO


DEYVISSON MACHADO DA ROCHA
GISELY PEREIRA FREITAS

SUBSTITUTOS DO BISFENOL A EM REVESTIMENTOS À BASE DE RESINA


EPÓXI

São Bernardo do Campo


2021
BEATRIZ DIAS ARAUJO
DEYVISSON MACHADO DA ROCHA
GISELY PEREIRA FREITAS

SUBSTITUTOS DO BISFENOL A EM REVESTIMENTOS À BASE DE RESINA


EPÓXI

Projeto de Pesquisa, apresentado ao Curso de


Química da Faculdade de São Bernardo do
Campo, como requisito parcial para a obtenção
do Título de Bacharelado em Química.

Orientador: Professora Dra. Márcia Augusta


da Silva.

São Bernardo do Campo


2021
SUMÁRIO

1 RESUMO...............................................................................................................................
2 INTRODUÇÃO...................................................................................................................4
3 JUSTIFICATIVA................................................................................................................6
4 HIPÓTESES........................................................................................................................7
5 OBJETIVOS........................................................................................................................8
6 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.....................................................................................9
7 METODOLOGIA.............................................................................................................18
8 CONCLUSÃO...................................................................................................................19
REFERÊNCIAS........................................................................................................
RESUMO
O bisfenol A (BPA) está presente na composição de revestimentos internos de embalagens
alimentícias, na forma de verniz epóxi. Essa substância apresenta indícios de risco a saúde
humana segundo estudos recentes, por isso, iniciaram-se pesquisas independentes por parte
das empresas na tentativa de amenizar tais efeitos nocivos. Agências reguladoras passaram
também a exigir a retirada ou controle desse composto, estabelencendo uma taxa máxima de
migração para os alimentos. Visa-se apresentar a possível remediação da utilização do
Bisfenol A por outro derivado de bisfenol, abordando aspectos como nocividade ao
organismo, propriedades físicas e químicas e a aplicação em novas resinas epóxi passíveis de
produção de vernizes. Trata-se de uma pesquisa pura e bibliográfica, baseada em artigos
científicos associados aos bisfenóis, resinas epóxi, nocividade, propriedades e remediação.

Palavras – chave: Bisfenol A. Resina Epóxi. Indústria alimentícia.


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2 INTRODUÇÃO

As novas exigências pós segunda guerra mundial, que visavam a segurança


alimentar provocaram a necessidade da criação de tecnologias que suprissem as novas
condições pré-estabelecidas. As mesmas foram requeridas após agências regulamentadoras
verificarem contaminações causadas por microrganismos e substâncias nocivas que tiveram
contato com os alimentos após as embalagens sofrerem alguma danificação estrutural.
Visando isso, empresas desenvolvedoras de embalagens foram impulsionadas a criar
embalagens que tivessem maior resistência física e simultaneamente oferecessem resistência
química, surge daí a utilização dos polímeros.
Em meados da década de noventa foi implementado o primeiro revestimento
interno polimérico, que impedia o contato dos alimentos com o meio externo e com as
próprias embalagens, as lata. Vale lembrar que os revestimentos poliméricos se apresentam na
forma de tintas ou vernizes e que possuem a resina epóxi do BPA na composição. Geralmente
são utilizados em embalagens metálicas, como latas de sardinha, oleaginosas, molhos e
frascos de aerossóis, pomadas, cremes e bebidas.
Porém, em 2008 as autoridades e a comunidade científica começaram uma
pesquisa mais profunda quanto à eficiência dos vernizes internos, após relatos de disfunções
hormonais e infertilidade em homens e mulheres que consumiram alimentos enlatados
demasiadamente. Foi apontada como possível causadora destes problemas, a molécula de
bisfenol A.
Cientes dos possíveis riscos que o BPA poderia trazer ao ser humano,
empresas iniciaram pesquisas independentes para tentar amenizar os danos previstos. Umas
das medidas foi a implementação de aditivos que restringissem a migração do BPA para o
alimento. A agência norte-americana Food and Drug Administration (FDA), já exige a
retirada dessa substância da formulação de resinas epóxis desde 2014. Todavia, essa medida
representa um desafio para o setor de pesquisa e desenvolvimento.
Uma das maneiras possíveis, é a substituição do BPA por outro bisfenol
semelhante, como o Bisfenol F (BPF) ou S (BPS), afim de se inibir os efeitos nocivos. O
obstáculo é atingir a mesma performance de resinas a base de BPA, porém, com outros
derivados. Logo, tem-se como propósito apresentar a possível remediação do uso do BPA, a
partir do emprego de derivados de bisfenol na produção de novas resinas epóxi, que serão
utilizadas na fabricação de vernizes para revestimento. Para isso, visa-se recolher dados
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relativos a nocividade, propriedades físico – químicas, aplicações e substâncias e/ou resinas


derivadas em desenvolvimento. Pretende-se realizar uma pesquisa bibliográfica de
publicações científicas atrelados aos bisfenóis, resinas epóxi, nocividade, propriedades e
remediação.
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3 JUSTIFICATIVA

O BPA, é um composto orgânico de nomenclatura oficial 2,2 – bis (4-


hidroxifenil) propano. Essa substância é obtida por meio da reação de condensação entre a
acetona e dois anéis fenol em meio ácido. Após obtido, o BPA reage com a epicloridrina (1-
cloro-2,3-epoxipropano) em meio básico produzindo o monômero conhecido como éter
diglicídico. Esse por sua vez é submetido a polimerização e origina os policarbonatos e as
resinas epóxi. Tais plásticos apresentam ótimas propriedades mecânicas, além de serem leves
e transparentes. Justamente por esses motivos, são empregados em larga escala na fabricação
de recipientes e frascos variados, tubulações, embalagens alimentícias e como material de
revestimento interno para latas metálicas.
Todavia, estudos recentes apontam que o BPA é capaz de migrar dos plásticos
e resinas de revestimento para os alimentos e assim causar intoxicação, além de severos
efeitos sob os sistemas reprodutor, nervoso e endócrino. Dentre as alterações apresentadas
tem-se problemas gastrointestinais, alterações hormonais e metabólicas, distúrbios
neurológicos, deformações embrionárias e o desenvolvimento tumoral. Em 2008, a Agência
nacional de vigilância sanitária (ANVISA) determinou o valor limite de migração permitido
do bisfenol A em embalagens para alimentos e bebidas de 0,6 mg/Kg. Já em 2012, realizou a
proibição da fabricação e importação de mamadeiras e artigos similares destinados a
alimentação de lactentes.
Portanto, conclui-se que a temática de BPA constituí um assunto de extrema
importância social e científica uma vez que, é pouco conhecida apesar de estar relacionada à
saúde pública e qualidade de vida. Tendo-se isso em vista, objetiva-se abordar os aspectos
gerais do BPA, os impactos sob o organismo e saúde, além de dar enfoque aos materiais que
têm sido apresentados como alternativa para a substituição.
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4 HIPÓTESES

O BPA é um composto orgânico utilizado como matéria - prima para a


obtenção de plásticos empregados na produção de embalagens e revestimento de latas para
produtos enlatados. Entretanto, estudos apontam a capacidade de causar efeitos patológicos e
alterações fisiológicas no organismo, sobretudo no sistema reprodutor, motivo pelo qual a
substância é denominada de interferente endócrino.
Com base no exposto, supõe-se que o consumo frequente pela sociedade
contemporânea de bebidas e alimentos industrializados, se reflita na constante exposição da
população ao Bisfenol A por meio da ingestão oral. Por esse motivo, é provável que os
indivíduos estejam passíveis à intoxicação, ainda que em níveis baixos e que tais níveis sejam
diferentes de acordo com a faixa etária dos indivíduos.
Acredita-se também que a migração dessa substância para o alimento contido
no revestimento da embalagem de caráter polimérico, pode ser maximizada por condições
relacionadas à temperatura e forma de armazenamento. Assim como, concebe-se que as
substâncias alternativas de substituição ao Bisfenol A, que vêm sendo estudadas e
desenvolvidas, ainda não apresentem características físico – químicas funcionais e acessíveis
à aplicação em massa no processo de produção da indústria de segunda geração, responsável
por fabricar produtos intermediários e de transformação.
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5 OBJETIVOS

4.1 OBJETIVO GERAL


Apresentar os malefícios causados pela migração do BPA para os alimentos e as
possíveis remediações.

4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS


Abordar a nocividade ao organismo, propriedades físico - químicas e a aplicação em
novas resinas epóxi.
Explorar a remediação da utilização do Bisfenol A por outro derivado de bisfenol.
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6 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

6.1 EXPOSIÇÃO AO BISFENOL A

O BPA é um alquilfenol utilizado como químico industrial, sobretudo na


indústria de polímeros, na qual é empregado para a obtenção de plásticos policarbonatos (PC)
e resinas epóxi. Segundo Jalal et. al. (2018), estima-se que são produzidas mais de 5 milhões
de toneladas desse composto por ano só nos Estados Unidos, o que o torna um dos mais
utilizados no mundo.
As resinas epóxi são termoplásticos que têm como monômero o éter
diglicidílico do bisfenol A, que é gerado pela reação entre BPA e epicloridrina em meio
alcalino. Elas apresentam boa resistência mecânica e flexibilidade, sendo geralmente
utilizadas em revestimentos internos de latas de alimento, complexos dentários para
obturações e embalagens de remédios. Entretanto, comprovou-se que as mesmas realizam a
liberação do BPA quando expostas a altas temperaturas ou quando sofrem polimerização
incompleta (GOLOUBKOVA e SPRITZER, 2000).
A Resolução RDC 17/2008, da ANVISA estabelece como Limite de
Migração Específica (LME) 0,6 mg de Bisfenol A por Kg de alimento ou simulante (ABIR,
2015). Em 2010, a Organização para alimentos e agricultura (FAO) e a Organização mundial
da saúde (OMS), determinaram a taxa de ingestão diária tolerável (TDI) em 1,5 a 4,2 mg/ Kg
de alimento (JALAL et. al., 2018).
Desse modo, a exposição humana ao bisfenol A ocorre por via ocupacional,
ambiental e principalmente alimentar, por meio do consumo de produtos processados, fast
food, enlatados e bebidas. Estudos apontam que a maioria da população mundial possuí níveis
detectáveis dessa substância no organismo pois os humanos são cronicamente expostos a
doses baixas, mas ainda ativas, de BPA ainda durante o desenvolvimento fetal ou neonatal
(CAMARCA et. al., 2016; OLIVEIRA et.al., 2017). O BPA é uma substância estranha ao
organismo, que não é produzida naturalmente e também não está inserida na dieta alimentar,
portanto, é um xenobiótico (DICIO, 2021).
Mais do que isso, ele é um xenoestrogênio sintético, ou seja, é um composto
artificialmente produzido que atua de forma semelhante aos estrogênios endógenos, uma vez
que, liga-se aos receptores hormonais e demonstra efeito trófico no trato reprodutivo. Em
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termos de mecanismo de ação, o BPA tem apenas 10−4 a 10−3 vezes a afinidade de ligação ao
receptor de estrogênio (ER) do que o estradiol.
Logo, apenas altas doses de BPA podem afetar as funções dos receptores
naturais. Também pode ser denominado de desregulador endócrino (EDC), pois causa
perturbações hormonais, imunológicas e metabólicas (GOLOUBKOVA e SPRITZER, 2000;
CAMARCA et. al., 2016; JALAL et. al., 2018). Pesquisadores do assunto afirmam que o
efeito xenoestrogênico e a semelhança entre o hormônio natural e o BPA, se deve a posição
de ligação para- dirigente (1,4 -), conforme figura:

Figura 1 – Estruturas do BPA e Estradiol.

Fonte: GOLOUBKOVA e SPRITZER, 2000.

Xenoestrogênios geralmente estão relacionados ao aumento da incidência de


câncer de mama, queda da quantidade de esperma, diminuição da fertilidade, defeitos
congênitos à exposição fetal, entre outras alterações. O BPA é capaz de induzir em modelos
animais (ratos) efeitos como o aumento de massa uterina, estimulação da excreção do
hormônio prolactina, dilatação vaginal, hepatotoxidade e aumento na proliferação de células
mamárias. Sohrab et. al. (2016) e Sarkar et. al. (2016), citados por Oliveira et.al. (2017),
também afirmam efeitos adversos como perda de peso corporal, anomalia nos órgãos
reprodutores, diminuição na espessura dos túbulos seminíferos, redução de atividade sexual e
inibição de movimentos peristálticos.
De acordo com Scopel et. al. (2020), ao se analisar os efeitos do BPA sobre o
organismo de embriões de peixes zebra (Danio Rerio), verificou-se que as taxas de eclosão
foram afetadas e que nas concentrações de exposição ao BPA iguais a 50μM, 60μM e 70μM,
a eclosão nem mesmo ocorreu. No caso das concentrações superiores a 70 μM, foi observado
90% de mortalidade da população após 24h de exposição. Ademais, conforme as
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concentrações aumentaram, observou-se diminuição acentuada da frequência cardíaca e 50%


dos embriões expostos a concentração de 70 μM apresentavam algum comprometimento
morfológico.
Geralmente, quando esse composto é ingerido, ele é parcialmente absorvido no
trato intestinal e assim chega até a corrente sanguínea. Não se sabe ao certo como o sistema
imunológico é afetado por tal exposição, mas evidências apontam para o favorecimento da
incidência de doenças inflamatórias e alergias crônicas (CAMARCA et. al., 2016).
No fígado a forma livre é transformada em conjugada por meio da
glucuronidação e sulfatação. Trata-se de um processo de desintoxicação, uma vez que, apenas
a primeira forma citada possuí de fato atividade estrogênica. Finalmente, o BPA conjugado é
transportado pelo sangue até o rim, o que possibilita sua excreção em forma de urina. A forma
biotransformada do bisfenol A apresenta em média 6h de semi-vida (GONZALO et. al.,
2014).
Segundo Jalal et. al (2018), as maiores concentração de BPA detectadas via
análise de urina foram respectivamente em crianças, adolescentes e adultos. Vale ressaltar que
entre os adultos, a incidência estatística foi maior no sexo feminino. O BPA é capaz de
atravessar a placenta e afetar o feto em desenvolvimento, justamente nessa região, o composto
foi quantificado em maior concentração (110 ng/g). No soro materno a faixa foi de 1 – 18
ng/ml, no líquido amniótico e soro do cordão foi de 1 – 10 ng/ml. Além disso, a concentração
de 0,28 – 0,97ng/ml foi determinada no leite de mulheres saudáveis.
O sistema imunológico é sensível aos EDCs, particularmente durante o período
pré-natal devido à sua potente atividade modeladora nas respostas imunes celulares. Estudos
in vitro mostraram que o BPA inibe a diferenciação e atividade das células tronco, além de
estimular a apoptose. Consoante a isso, Camarca et al. (2016) afirma a importância de
destacar que em estudos toxicológicos tradicionais as doses usadas são altas, porém doses
baixas também podem apresentar efeitos significativos.
Pode-se dizer que BPA exerce efeitos multidirecionais no organismo. Há
indícios in vivo de que esse composto altera o funcionamento das células beta pancreáticas,
prejudicando assim a secreção insulínica e favorecendo a obesidade (JALAL et. al., 2018).
Altas concentrações são relacionadas a ocorrência de doenças cardíacas e ao aumento da
lipogênese (GONZALO et. al., 2014).
Todavia, os riscos potenciais de exposição ao BPA são apontados por meio de
estudos e experimentos em células eucarióticas (in vitro) e animais (in vivo). A Agência
Internacional de pesquisa em Câncer (IARC) reivindica que o metabólito do éter diglicidílico
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do BPA, o glicidaldeído, é possivelmente carcinogênico para humanos porque é para os


animais experimentais (JALAL et. al., 2018). Nas mulheres, ele é associado a alterações na
maturação dos ovócitos, efeitos negativos no endométrio e aparecimento de ovários
policísticos. Também são listadas mudanças comportamentais como hiperatividade,
problemas de aprendizado e memória (GONZALO et. al., 2014).
Sendo assim, não há provas concretas suficientes que sinalizem tais efeitos
mencionados em seres humanos nas atuais concentrações de exposição, determinadas no
ambiente ou até mesmo no organismo (sangue e urina). Isso porque os níveis registrados são
baixos e distantes da TDI, não constituindo uma ameaça direta a saúde. Vem daí a crescente
preocupação com a exposição contínua e homeopática (ROCHA e MENDES, 2019).
Por exemplo, em pesquisa publicada nos Estados Unidos (2010), encontrou-se
uma concentração de 0,0024mg de BPA/Kg de produto alimentício enlatado para alimentação
infantil. Para que um bebê atingisse a TDI seria necessário o consumo de mais de 120 Kg do
produto, logo há uma margem de proteção ao consumidor satisfatória (BESERRA et. al.,
2012).
Desse modo, é possível apenas que se estabeleça associações que são
dependentes da via e período de exposição a tal substância. Simultaneamente, o uso do
“princípio da precaução” justifica-se pela associação do BPA a patologias crônicas (ROCHA
e MENDES, 2019).

6.2 RESINA EPÓXI

A resina epóxi é uma resina sintética caracterizada pela presença de anéis


epóxi, que são grupos constituídos por um átomo de oxigênio ligado a dois átomos de
carbono, formando uma estrutura cíclica, que é obtida por reações de condensação. A reação
do grupo epóxi com um agente reticulante adequado (popularmente denominado como agente
de cura), resulta em uma estrutura molecular tridimensional como na figura:

Figura 2 – Estrutura molecular da resina epóxi.

Fonte: SILAEX (2018).


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Conforme Silaex (2011), existem quatro tipos de resinas epóxi


comercializadas:

1) Resinas epóxi à base de bisfenol A: São as mais utilizadas porque são versáteis e
baratas. Gerada por meio da reação entre a epicloridrina e o bisfenol A. Elas podem
ser líquidas, ou sólidas, dependo da massa molar e grau de polimerização.

Figura 3 – Estrutura molecular da resina epóxi a base de BPA.

Fonte: SILAEX (2018).

2) Resinas epóxi à base de bisfenol F: A troca do bisfenol A pelo bisfenol F proporciona


maior estrutura tridimensional e quantidade de ligações cruzadas, resultando em
melhor resistência química e térmica, principalmente quando curada com aminas
aromáticas ou anidridos.

3) Resinas epóxi bromadas: São produzidas à base de epicloridrina, bisfenol A e


tetrabromobisfenol A. Devido à presença das moléculas adicionais de bromo, essa
resina possuí característica de autoextinguível (antichama).

4) Resinas epóxi flexível: Substitui os bisfenóis por poliglicóis pouco ramificados, são
resinas de baixa reatividade e normalmente utilizadas como flexibilizantes reativos em
outras resinas, possuem longas cadeias lineares melhorando a resistência ao impacto
com acréscimo da flexibilidade.

Atualmente quase 90% da produção mundial dessa classe de polímeros, são do


tipo resina epóxi à base de bisfenol A. Tal classificação de resina é empregada praticamente
em âmbito universal como revestimento interno de latas para acondicionamento de carnes,
pescados, vegetais, produtos de laticínios, bebidas, etc.
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Os principais agentes endurecedores ou cura para sistemas bicomponentes que


participam das reações de condensação, são as aminas primárias, as aminas alifáticas, as
poliamidas, as aminas cicloalifáticas, os anidridos, as amidoaminas e as aminas aromáticas.
As resinas epóxi-fenólicas reúnem praticamente todas as características necessárias aos
vernizes, pela combinação das propriedades de flexibilidade, aderência e resistência.
Dependendo do agente de cura utilizado, a resina tem características, tais
como: dureza, resistência ao impacto, rapidez na reação, brilho e elasticidade. Ademais, as
resinas epóxi utilizadas em compósitos de alto desempenho apresentam elevada resistência
mecânica e boa resistência à degradação ambiental.

6.3 REMEDIAÇÃO DO BFA: BISFENÓIS ALTERNATIVOS

A molécula de BPA é uma substância largamente utilizada na indústria,


contudo ultimamente, a preocupação acerca do seu uso tornou-se maior após estudos de caso,
revelarem a capacidade de atuação como desregulador endócrino. Desta maneira, foram
desenvolvidos possíveis substituintes do BPA para diversas aplicações. As aplicações isentas
de BPA são intitulados de BPA Free. Essas alternativas de substituição também são de
natureza bisfenólica e devido a isso, podem apresentar maior ou menor grau de nocividade.
Segundo Soraia (2019) existem diversos tipos de substitutos do BPA, tais
como bisfenol B (BPB), bisfenol C (BPC), bisfenol E (BPE), bisfenol F (BPF), bisfenol G
(BPG), bisfenol M (BPM), bisfenol P (BPP), bisfenol S (BPS) e bisfenol Z (BPZ).
Há estudos que abordam a exposição dos análogos do BPA e os efeitos à
saúde humana, como por exemplo, seus impactos fisiológicos. Em determinados casos, alguns
substitutos são tão ou mais nocivos que o próprio BPA. Os análogos do BPA com maior
veracidade de estudos e eficiência, são o BPF e o BPS, por isso, serão apresentados como
substituintes.

6.3.1 BISFENOL F

O BPF, ou bis (4-hidroxifenil) metano, compartilha forte similaridade


estrutural com o BPA. Ele difere do BPA apenas por não ter o grupo dimetil no carbono
central, conforme a figura abaixo apresenta:
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Figura 4 – Estrutura molecular do BPF.

Fonte: UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR, 2019.

O BPF tem peso molecular de aproximadamente 200,23g/mol, apresenta


aspecto variável de transparente a rosa claro e é usado em sistemas que necessitam de
durabilidade, como materiais de construção. Também é utilizado em produtos de uso diário
tais como adesivos, plásticos, condutas de água (VICENTE, 2019) e produtos de higiene
pessoal, como xampu, gel de banho, maquiagem, pasta de dente, esmalte de unha (SUR et al.,
2017).
Está em discussão a possibilidade do BPF ter efeitos fisiológicos semelhantes
ao BPA. Alguns estudos afirmam que o BPF induz o crescimento uterino em ratos fêmea,
verificou-se também efeitos estrogênicos, androgênicos e tireoidogênicos.
Houveram casos de alterações em parâmetros hematológicos e na expressão
enzimática. O que significa que esse substituto provavelmente possuía efeitos tóxicos para as
células, ocasionando alterações no DNA e nos cromossomos. Para além disso, o BPF está
sendo associado à maior probabilidade de desenvolvimento de obesidade em crianças e
adolescentes (VICENTE, 2019).
Contudo, o BPF tem menor índice de casos de acidente cardiovascular quando
comparado ao BPA pois em quantidades consideráveis, não reage na mesma proporção. O
BPA dilata os anéis aórticos de maneira imprevisível, resultando no descontrole de
bombeamento cardiovascular e posteriormente, em uma possível hemorragia. Logo, ao
contrair os anéis árticos, o BPF induz maior relaxamento do que BPA quando exposto às
aortas de um rato Wistar.

6.3.2 BISFENOL S
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O BPS é menos semelhante que o BPF ao BPA. Na estrutura, o átomo de


carbono central é substituído por um átomo de enxofre que se liga a dois átomos de oxigênio
conforme a figura:

Figura 5 – Estrutura molecular do BPS.

Fonte: UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR, 2019.

O BPS, ou 4,4'-Sulfonildifenol, tem 240,5g/mol e é usado em vários


produtos industriais como papéis de impressão térmica, caixas de lanche, etiquetas de
bagagem, folhetos e material de jornal devido à sua estabilidade em alta temperatura e
resistência à luz solar (SUR et. al., 2017).
Naderi et al. (2014) mostraram os efeitos da BPS no potencial reprodutivo e
no equilíbrio hormonal em peixes-zebra (Danio rerio) após nutrição contendo BPS. Neste
estudo, peixes-zebra machos e fêmeas maduros de tipo selvagem foram alimentados em água
limpa por 2 semanas, os embriões formados após a fertilização foram retirados. Os embriões,
os cobaias, foram mantidos em água limpa com nutrição normal por 2 dias e depois foram
alimentados com uma nutrição mais concentrada de BPS por 75 dias. Ao final do período de
exposição de 75 dias, os peixes machos e fêmeas foram separados de acordo com o sexo e
foram mantidos em água limpa por 2 semanas. Ao mesmo tempo, os ovários, testículos,
fígado e os pesos corporais dos peixes foram pesados. Os seus comprimentos corporais
também foram medidos.
Os valores de estradiol e testosterona foram medidos pelo método ELISA.
Como resultado do experimento, houve um aumento na mortalidade e foi observado com altas
doses de BPS. Também foi descoberto que BPS afetou a altura e o peso corporal. Nestas
mesmas condições de estudo, o BPA manifestou depravações mais intensas, como a morte
massiva de peixes-zebra ao aumentar a concentração. Bem como a diminuição severa da
reprodução oriunda da queda de produção de testosterona nos machos e estradiol nas fêmeas.
No estudo vascular, o BFS apresentou o efeito induzido semelhante ao BPF
nas artérias aorta de rato. Mas, verificou-se que este induz o relaxamento da mesma
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dependendo da concentração do BPS. Logo, o relaxamento está ligado a quantidade disposta


de BPS, assim tornando-se inferior ao BPF, mas superior o BPA.
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7 METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa pura, de caráter exploratório e bibliográfico. Os


dados foram coletados de artigos científicos publicados em sites como Scholar Google,
Scielo, ScienceDirect e Academia. Edu.
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8 CONCLUSÃO

Os bisfenóis têm sido uma temática muito abordada, mas nota-se que é dado
maior ênfase ao BPA, visto que, ele foi o primeiro a ser desenvolvido e trouxe resultados
significativos em suas aplicações. Nesse projeto de pesquisa, foi apresentada a problemática
da migração do BPA da resina epóxi das embalagens para os alimentos armazenados e
percebe-se que os estudos ainda são recentes. Apresentou-se também outros dois bisfenois, o
BPF e BPS, sob os quais, a academia cientifica está se debruçando para saber a real
nocividade aos humanos e se há restrições de seu uso.
Conclui-se que o BPF, dentre o BPS e BPA, sobressai-se pois contém menor
taxa de nocividade e garantia das propriedades. Vale ressaltar que o resultados dos casos são
isolados e podem se alterar ao serem aplicados na resina epóxi, ou em outros revestimentos
contendo as moléculas F e S, de modo a melhorar ou não a performance da embalagem e a
segurança à saúde humana.
Já em relação ao BPA, ao compararmos seus benefícios e nocividade, cria-se
uma incógnita: até que ponto realmente vale a pena usá-lo? De vista mercadológica, seu
processo é simples e barato, porém em modelos animais, ele é responsável por uma série de
alterações principalmente hormonais, podendo assim causar patologias crônicas. Vale resaltar
que tais estudos utilizam concentrações elevadas da substância e que as doses consumidas
pelo ser humano são baixas e controladas, logo, o maior entrave é determinar os danos
causados ao organismo a longo prazo, sobretudo nas atuais taxas de exposição.
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REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS DE REFRIGERANTES E DE
BEBIDAS NÃO ALCOÓLICAS (ABIR). Bisfenol A. Disponível em:
https://abir.org.br/posicionamentos/bisfenol-
a/#:~:text=A%20Resolu%C3%A7%C3%A3o%20RDC%2017%2F2008,Kg%20de%20alimen
to%20ou%20simulante.. Acesso em: 08 de Maio de 2021.
BESERRA, M. R. et. al. O Bisfenol A: Sua utilização e a atual polêmica em relação aos
possíveis danos à saúde humana. Disponível em:
https://www.researchgate.net/publication/313833347_O_Bisfenol_A_Sua_Utilizacao_e_a_At
ual_Polemica_em_Relacao_aos_Possiveis_Danos_a_Saude_Humana. Acesso em: 11 de Maio
de 2021.
BORGES, Guilherme. Adição de cinza de casca de arroz em matriz de époxi. Disponível em:
http://www.repositorio.jesuita.org.br/bitstream/handle/UNISINOS/4512/GuilhermeBorges.pd
f?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 12 de Maio de 2021.

CAMARCA, A. et. al. Human Peripheral Blood Mononuclear Cell Function And Dendritic
Cell Differentiation Are Affected by Bisphenol- A Exposure. Disponível em:
https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0161122. Acesso em: 11 de
Maio de 2021.
DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS (DICIO). Significado de xenobiótico. Disponível
em: https://www.dicio.com.br/xenobiotico/. Acesso em: 10 de Maio de 2021.
GOLOUBKOVA, Tatiana. SPRITZER, Poli Mara. Xenoestrogênios: O exemplo do Bisfenol
A. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/77997. Acesso em: 10 de Maio de
2021.
GONZALO, A. V. et. al. Trabajo materias primas y recursos energeticos: Bisfenol A.
Disponível em: https://www.academia.edu/20196811/Bisfenol_A. Acesso em: 08 de Maio de
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JALAL, N. et. al. Bisphenol A (BPA) the mighty and the mutagenic. Disponível em:
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2214750017301208?via%3Dihub. Acesso
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MILANESE, Andressa. Processamento e caracterização de compósito fibra de SISAL/
EPÓXI via RTM. Disponível em:
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