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Em Foco 23

Daniel Volpin Meneguello

A EscolA dE MúsicA
da Fundação das Artes Reprodução/Diário do Grande ABC

“F
undação começa com Andrade, da área teatral (posteriormente, o
música”. Com esta man- primeiro diretor da Fundação das Artes). As
chete, o Diário do Gran- condições eram propícias à formação de uma
de ABC, no dia 19 de instituição com foco no ensino artístico. O
maio de 1968, anunciou objetivo original, jamais concretizado, era a
a oficialização da criação da Fundação das Ar- criação de uma Escola Superior de Artes.
tes de São Caetano do Sul (Fascs), ocorrida no O primeiro fato significativo na his-
dia 25 de abril do mesmo ano. De fato, a histó- tória da escola foi o I Festival de Música Co-
ria da instituição começa um pouco antes. No ral, que aconteceu na Igreja Matriz Sagrada
final da década de 1960, a situação econômica Família, em dezembro de 1967. Constatado
da cidade era muito boa, e a política do então o sucesso desse festival (e a capacidade da ci-
prefeito, Hermógenes Walter Braido, era favo- dade em produzir eventos culturais), foi fei-
rável a investimentos na área de educação. Não ta uma proposta a Walter Lourenção, então
podemos nos esquecer de que, por conta da di- membro da Comissão Estadual de Música,
tadura militar, este período era especialmente para assumir a direção da nova escola. Con-
delicado para a classe artística, a qual, visada vite aceito, Lourenção convidou o maestro
como opositora, percebia suas possibilidades Moacyr Del Picchia para participar do traba-
de trabalho e expressão sempre reduzidas, difi- lho com a Musicâmara, sociedade de músicos
cultadas ou mesmo impedidas. já existente, que abrigava uma orquestra com
Vários foram os envolvidos nas ideias membros de várias partes do Brasil, incluin-
e conversas para a criação de uma escola de do alguns que faziam parte da Orquestra Sin-
artes. Além do próprio prefeito, estava Milton fônica Estadual (à beira da paralisação).
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Era, portanto, uma nova oportunidade consensual entre todos os envolvidos e, no início
de trabalho que se apresentava em São Caetano de 1969, a esfera estadual se desligou do trabalho,
do Sul. Esta orquestra era composta por Moacyr ficando a Fundação das Artes a cargo do municí-
Del Picchia, José Eduardo Gramani e Tosio Take- pio. Assim, Milton Andrade assumiu a direção-
da (primeiros violinos), Reinaldo Couto, Carlos -geral e o maestro Moacyr Del Picchia, spalla e di-
Jurandir de Almeida e Waldemar Pellegrino retor artístico da Musicâmara, passou a responder
(segundos violinos), Baldur Liesenberg, Marília pela coordenação da Escola de Música.
Pini e Olafs Alnis (violas), Ivo Meyer e Nadir Ta- Em fevereiro de 1969, a escola recebe
nus (violoncelos), Patrick Soudant (contrabaixo) 140 alunos para os cursos livres de música. Eram
e Joaquim Thomás Jayme (contínuo). O grupo 12 classes, sendo quatro de iniciação musical,
tinha o objetivo de sete de formação musical e uma
divulgar a arte mu- de educação musical. A Orques-
sical. Seus integran- tra de Câmara ainda existia e
tes apresentaram-se exercia intensa atividade, mas,
como futuros pro- aos poucos, seus músicos foram
fessores da escola, e absorvidos como professores ou
também realizaram desligados do trabalho.
muitos concertos O ensino nessa nova es-
pela região para di- cola foi guiado por um pensa-
vulgar o novo cur- mento moderno para a época,
so (ainda pensado já que os envolvidos preten-
como Curso Supe- diam lidar com a educação e
rior de Música). com a prática artística em mol-
As inscri- des diferentes dos tradicionais.
ções foram anuncia- Os princípios da Escola de
das no final de agos- Música consistiam em ideias
to. O número de que priorizavam a formação
inscritos foi maior do músico não apenas como
do que se imagi- um instrumentista com técni-
nava – mais de 2,7 ca apurada, mas também como
mil candidatos! - e profissional que conhecesse de-
foi necessário requisitar outros prédios públi- mais áreas, como pesquisa e interpretação, e
cos para a realização dos testes. Mas, devido ao que interagisse com outras artes, como litera-
formato e à pretensão dos organizadores, que ti- tura, poesia e, posteriormente, teatro e outras
nham em mente um curso superior, apenas uma manifestações cujas escolas foram sendo cria-
candidata estava apta a ingressar no novo curso. das na Fundação.
Seriam necessárias uma reavaliação e adaptação um exemplo dessa ousadia foi a criação
da ideia original, pois não havia público para de um Laboratório de Desenvolvimento Auditi-
tal concepção, e então os esforços foram con- vo que servia de apoio aos estudos. Pioneiro no
centrados em realizar um trabalho de formação mundo, contava com aparelhagem para treinos
musical de base. Esta mudança de foco não foi de percepção musical, encomendada exclusiva-
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Acervo/Fundação das Artes de São Caetano do Sul


Moacyr
Del Picchia
(regente) e
Marília Pini
(violinista,
última à
direita) em
apresentação
no teatro da
Fascs. Foram
identificados,
ainda, José
Eduardo
Gramani (o
primeiro à
esquerda) e
Shinobu Saito
(a terceira)

mente para a Fundação das Artes, por do ano, quando é instituída a Escola de Teatro, o
meio da qual os alunos podiam estudar número de turmas da Escola de Música aumenta
com dois geradores de som e um oscilos- para 14. Neste ano inicial, alguns dos professores
cópio acoplados. A partir de símbolos que são: Nair Romero Matos, Suzy Chagas Botelho,
apareciam no osciloscópio, o estudante Maria Amália Del Picchia, Moacyr Del Picchia,
podia aprimorar sua percepção melódi- Guido Bianchi, Paulo Afonso de Moura Ferreira,
ca, trabalhando com intervalos musicais, Eládio Pérez Gonzales, Joaquim Thomas Jayme,
sons simultâneos ou sucessivos, direcio- Roberto Manzo, Ida Meireles, Pietro Maranca,
nalidade, precisão na afinação, dentre ou- Walter Pontuscka, José Antonio de Almeida Pra-
tras possibilidades – ideias que, curiosa- do e Rufo Herrera, além dos assistentes Baldur
mente, perduram até hoje na ideologia de Liesenberg e Silvia Tessuto. Ainda em 1969, a
ensino da escola. quanto ao laboratório, escola recebe do governo da Alemanha uma pri-
funcionou durante poucos anos. meira doação de instrumentos musicais da marca
A duração do curso livre de mú- Orff, para o curso de musicalização, sendo que al-
sica sempre foi adaptada de acordo com guns deles ainda estão em uso. As doações conti-
a necessidade, e também pelas avaliações nuaram a ocorrer por mais alguns anos, incluindo
dos próprios professores. Inicialmente também instrumentos de sopro e de cordas.
eram dez semestres, em seguida foram Ainda no final de 1969, a Fundação
reduzidos para seis. Duas décadas depois, promove seu primeiro festival, chamado Arte
passariam a ser oito, e, atualmente, voltou pra Frente, entre 13 e 20 de outubro, com inten-
a ter a duração de dez semestres (incluin- sa atividade artística, incluindo apresentações
do o curso profissionalizante). de professores, alunos e grupos convidados. O
Em março de 1969, a Fundação evento marca o início das atividades do Coral
das Artes passa a ocupar o prédio no qual da Fascs, que se apresenta no encerramento do
está instalada até hoje, na Rua Visconde de festival, junto da Orquestra de Cordas, compos-
Inhaúma. No segundo semestre do cita- ta por professores e alunos. No dia seguinte ao
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término do festival, o conhe- Gramani, um dos prin- longo de sua história, realizar
cido maestro Diogo Pacheco cipais nomes do ensino de rít- produções de qualidade, com
inicia um curso de regência mica do país, desenvolveu na alunos e professores de áreas
coral na instituição. Os pianis- Fascs uma metodologia ino- artísticas diversas.
tas Eda Fiore e Amilson Godoi vadora, utilizada até hoje nas O período no qual
apresentam-se no auditório da aulas da Fundação e em muitas Milton Andrade esteve no co-
Fundação nos dias 29 de no- outras escolas. Marília, nome mando da escola, compreendi-
vembro e 6 de dezembro, res- de extrema importância no do entre a sua oficialização até
pectivamente. No ano seguin- meio musical, atuando prin- 1982, é, provavelmente, o mais
te, os dois músicos tornam-se cipalmente nas áreas de apre- produtivo da história da esco-
professores da casa. ciação musical e história da la, e, graças a isso, a institui-
O trabalho da insti- música, e a quem muito a insti- ção consolidou-se como polo
tuição, desde o início bastante tuição deve por sua dedicação, cultural da região, produzindo
intenso e profissional, rende integrou várias formações or- trabalhos de qualidade, com
muitos frutos e consolida seu questrais posteriores à Musi- seus grupos de alunos e profes-
potencial na formação artís- câmara e todos os quartetos e sores, e promovendo a vinda
tica. Assim, desde sempre, a quintetos de cordas formados de artistas renomados.
Fundação das Artes prepara e por professores na história da Dentre muitas perso-
encaminha alunos ao meio ar- escola. Além disso, ela sempre nalidades importantes, a Fascs
tístico. Já em setembro de 1969, esteve presente, sendo a única recebeu, somente levando em
três pianistas são premiadas no pessoa envolvida na criação da conta a área musical: o profes-
Concurso Estímulo de Piano, instituição que ainda continua sor Hans-Joachim Koellreut-
promovido pelo Conselho Es- na ativa. Após 46 anos, você ter, para a aula inaugural do
tadual de Música, e o frequente pode encontrá-la ministrando segundo semestre de 1970, o
destaque de alunos no cenário aulas de viola, às quintas-feiras. violonista Paulinho Noguei-
artístico atesta a qualidade e Em 1971, estreia, pela ra (1971 e 1974), o educador
seriedade do trabalho realiza- Escola de Teatro, a montagem belga, radicado na Suíça, Ed-
do. Nos anos subsequentes, de A Farsa de Inês Pereira, de gar Willems (1972), o duo de
muitos são os nomes que se Gil Vicente, na qual a parte violões de Edelton e Everton
destacam em festivais, con- musical é composta de pe- Gloeden (1974), o flautista
cursos, apresentações e como ças da renascença alemã, com Jean Noel Saghaard (1974), a
profissionais respeitados no arranjos de Roberto Manzo, banda de Nelson Ayres (1974),
meio artístico. O mesmo executados ao violão por Hen- o pianista e compositor ale-
acontece com alguns de seus rique Pinto, outro grande pro- mão Peter Feuchtwanger
professores mais jovens, como fessor de relevância nacional, (1975), a pianista Eudóxia de
José Eduardo Gramani e Marí- que atuava na Fascs desde o Barros (1975 e 1977), o Zim-
lia Pini, integrantes da Musi- ano anterior. A junção de es- bo Trio (1976), o violonista
câmara, inicialmente técnicos colas é outra característica Sergio Abreu (1977), o tam-
do Laboratório de Desenvolvi- da Fundação que, apesar das bém violonista Paulo Belli-
mento Auditivo, e, mais tarde, dificuldades em trabalhos nati (1977), a cantora Maria
docentes da Fundação das Artes. dessa natureza, consegue, ao Martha (1981) e a Orquestra
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Milton
Andrade
ministrando
aula na
Fundação
das Artes na
década de 1970

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Carmo
Bartoloni
regendo o
grupo de
percussão da
Fascs. Foto
da década de
1970
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Flagrante de
apresentação
musical no
teatro da
Fundação, com
José Eduardo
Gramani
(ao violino),
Eda Fiori
(ao piano) e
Marília Pini (à
direita). Foto
da década de
1970
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Sinfônica do Estado de São Paulo, sob a regência Em 1977, Nelson Ayres é contratado
de Eleazar de Carvalho, que encerrou a II Sema- para cuidar da formação de conjuntos musicais,
na de Música da Fascs (1982). Além disso, em e, em junho do mesmo ano, estreiam o quarteto
novembro de 1982, a Fundação promoveu o III de Flautas Doces, a Big Band, o Conjunto Bar-
Simpósio Internacional de Música Contemporâ- roco e a Orquestra de Câmara, regida por Flávio
nea, que contou com nomes como os composi- Florence (mais tarde, também regida por Lutero
tores Eduardo Escalante, Jorge Antunes, Carlos Rodrigues e Marcos Pupo Nogueira). Rodrigues
Kater e Mario Ficarelli, o grupo PIAP, e os pia- também regeria o Coral da Fascs em dezembro
nistas Amaral Vieira e Caio Pagano. de 1977 (e que, em 1981, seria comandado por
Em 1974, a Fascs edita a revista artis, pe- Paulo Rydlewski).
riódico que conta com textos, artigos e análises Em 1978, iniciam-se os trabalhos do
em arte, que chegou a dez números, publicados Salada Mista, grupo dirigido, inicialmente, por
entre setembro de 1974 e maio de 1976, e que Amilson Godoy, mais tarde por Roberto Sion
contou com a colaboração de professores e con- (professor da Fundação das Artes desde 1977),
vidados, sendo alguns ilustres (no número 2, por do qual podiam participar alunos de todos os
exemplo, há uma entrevista com H. J. Koellreut- instrumentos, eruditos ou populares, já que os
ter e um artigo de Edino Krieger). arranjos eram escritos por seus orientadores, es-
Desde os primeiros momentos da esco- pecialmente para a formação que se apresenta-
la, há organismos que se formam, duram certo va. Nesse período, a instituição também contou
tempo, por vezes encerram suas atividades, ou com excelentes professores, dentre os quais po-
mesmo são reativados. Inicialmente, a institui- demos destacar, além dos já citados, Glória Gra-
ção se empenhou na formação de um coral com- mani, Jácomo Bartoloni, Ricardo Rizek, Carmen
posto por alunos, do qual saíram também alguns Silvia Garcia, Marisa Lacorte, ulisses de Castro e
assistentes e professores. Em 1971, contou com yara Scaglia - os dois últimos até hoje em intensa
uma Orquestra Sinfônica. um quinteto livre de atividade pedagógica na Fascs.
música de câmara chamado Musicart, formado Em 1983, Milton Andrade é demitido,
por Silvia Tessuto, Antonio Rafael dos Santos, em um período no qual a escola enfrenta crise fi-
Flávio Florence, Gerson Frutuoso (contrabaixis- nanceira e também baixa procura de alunos. Ro-
ta e, ainda, professor da Fascs) e José Eduardo berto Manzo é nomeado diretor, cargo que ocu-
Gramani (curiosamente na bateria, apesar de paria até 1989, e a escola altera algumas de suas
sua formação como violinista) foi constituído diretrizes a fim de tentar se reerguer. Em 1985, os
em 1973. No ano seguinte, a instituição montou cursos profissionalizantes são instituídos. Futuro
um quinteto de Cordas, formado por José Edu- diretor, Antonio Carlos Neves Pinto assume, em
ardo Gramani, Shinobu Saito, Marília Pini, Ma- 1986, a direção da Big Band e, em 1991, também
ria Elisabeth Guimarães Rosa e Guido Bianchi, sob sua direção, é reativada a Orquestra Sinfôni-
que participa do IX Festival de Inverno de Ouro ca Jovem. Em junho de 1989, começa o trabalho
Preto. Roberto Manzo, Carmo Bartoloni e Mario do quarteto de Cordas (com Marley Chamorro
Fernandes formam um trio vocal em 1975 e, no Las Casas Junior, Alberto Labrada, Marília Pini
ano seguinte, foi criado um grupo de percussão, e Alexandre Scoss Nicolai - os dois últimos pro-
dirigido por Carmo Bartoloni (e, mais tarde, por fessores da Fascs até hoje).
Javier Calvino). Em 1992, o grupo de percussão é reativa-
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do pelo professor Sérgio Gomes (que, em 2003, de Violinistas, nos dias 10 e 11 de dezembro de
passa a ser comandado por Dinho Gebara). Nos 1994. A presença de nomes como Felix Astor,
anos seguintes (1993 e 1994), têm início os tra- baterista alemão, ou ainda a criação do Som na
balhos do quinteto de Sopros (com Gabriela Funda, série de música instrumental coordena- Regente
Nelson Ayres
Machado, Fabio Flatschart, José Edgar Rosas da pelo professor Zeíto Martins, também mar- durante
apresentação,
Neto, José Ivo da Silva e Mary Macedo Rodri- cam este período de ascensão. Em 1997, durante na década
de 1970. De
gues - os dois últimos atualmente professores da a gestão de Maribel Marana como diretora-geral, camisa xadrez,
foi identificado
Fascs), e o coral volta a funcionar sob a regência a Orquestra Filarmônica de São Caetano do Sul Roberto Sion

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de Paola Picherzky (passando a ser conduzido, é reativada sob a regência de Antonio Carlos Ne-
em 2001, por Laércio Resende, e, em 2002, por ves Pinto (que assumiria a direção-geral da es-
Daniel Volpin). cola em 1999). Este organismo conseguiu uma
A vinda de artistas e a produção de even- produção de relevância, incluindo a gravação de
tos começam a aumentar após o período de cri- um CD (1998), apresentações no Festival de In-
se, sendo realizado, por exemplo, o I Encontro verno de Campos do Jordão e na Sala São Paulo,
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e concertos junto a nomes como Iara Bernette, Francisco Formiga, Carmo Barbosa, Lilian Car-
Davi Graton e Eduardo Monteiro (no terreno mona, Edmundo Hora, Osmar Barutti, Fernan-
da música erudita) e Toquinho, Ivan Lins e Gal do Barba, Marco Pereira, José Eduardo Nazário,
Costa (no terreno da música popular), dentre Carlos Vial, David Castelo, Sidney Molina, Paulo
muitos outros. Tiné e Marcos Sadao (o festival voltou a ser pro-
Na sequência, alguns grupos se estabili- duzido em 2013 e 2014). De 2000 a 2002, foram
zam e outros são criados. Assim, a escola ganha produzidos três Seminários de Educação Musical,
suas cameratas de cordas, dirigidas pelos en- os quais também contaram com a participação de
tão membros do quarteto de Cordas Alexandre grandes nomes na área, como Isa Poncet, Cássia
Scoss Nicolai, Carmem Borba, Enaldo Oliveira e Doninho, Fernando Sardo, Isamara Carvalho,
Marília Pini (e, mais tarde, por Dorothéia Ilza Joly e Lisbeth Soares.
Gruber e Geraldo Olivieri Jr.). Em Em 2009, acontece nova
2003, começam as ativida- mudança de direção e a Big
des da Orquestra de Vio- Band passa a ser coorde-
lões, dirigida por Paola nada por Sérgio Go-
Picherzky. ulisses de mes (e, mais tarde,
Reprodução Castro orienta grupos em 2013, por Ogair
de imagem do
Laboratório de de alunos em Mú- Júnior). O Coral
Desenvolvimento
Auditivo, sica de Câmara (e, sofre uma refor-
publicada no
Diário de São mais tarde, também mulação e passa a
Paulo, em 26 de
setembro de 1970 Rosimary Parra); Re- se chamar Coro de
nato Santoro conduz Repertório, e conta
os Combos, grupos de também com a dire-
música popular (hoje ção de Maria Cecília
conduzidos por Ogair Jú- de Oliveira. A Orquestra
nior e Rodrigo Braga); José Ivo Jovem começa a ser dirigida
da Silva orienta o quarteto de Cla- por Geraldo Olivieri Jr. Esse or-
rinetas; Fábio Ramazzina dirige o quarteto de ganismo promove, há quatro anos, o Prê-
Violões; Patricia Michelini conduz o Grupo de mio Jovem Solista, no qual alunos-candidatos são
Flautas Doces (atualmente dirigido por Maurílio avaliados por uma banca de professores, e os dois
Silva); e Tatiane Santos lidera o Grupo de Flautas primeiros colocados têm a oportunidade de atuar
Transversais. como solistas à frente da orquestra.
Em 1999 e 2000, a Fundação das Artes Em 2010, é realizada a primeira ópera
promove duas edições do Concurso Nacional de da escola com produção própria. Dido e Enéas
Piano de São Caetano do Sul, que obteve bastan- contou com as professoras Patrícia Michelini e
te êxito ao trazer concorrentes de vários Estados Maria Cecília de Oliveira no elenco, além da di-
do Brasil, com nível técnico bastante elevado. reção cênica de Haydée Figueiredo, fundadora
Entre 1999 e 2005, a Fascs promove sete Festivais da Escola de Dança da Fundação das Artes na
de Música, realizados no mês de julho, os quais década de 1970. A produção teve ainda a parti-
contaram com a presença de inúmeros profes- cipação do Coro de Repertório e de grupos da
sores e especialistas do mais alto gabarito, como Escola de Dança.
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Reprodução/Daniel Volpin
Acervo/Fundação das Artes de São Caetano do Sul
Em 2012, são criados os Grupos de Trompas, sob a ofício (e, por vezes, fazem dele Exemplares
da revista
orientação dos professores Deusenil Santos e Nikolay Genov, e, sua profissão), estabelecem con- artis,
publicada
no ano seguinte, Valdir Ferreira inicia as atividades com o Gru- tato com outras linguagens artís- pela
Fundação das
po de Trombones. Atualmente, a escola tem 60 professores de ticas (até então desconhecidas), Artes entre
1974 e 1976.
música e mantém intensa atividade, incluindo a Mostra de Mú- convivem com pessoas de reali- Em destaque,
a edição de
sica, evento semestral que promove cerca de 25 apresentações dades muito distintas, e estabele- número 6

por edição, recitais de formaturas de cursos livres e profissiona- cem relação aluno-professor não
lizantes, e palco aberto aos alunos no projeto Sextas Musicais. apenas acadêmica, mas de com-
Além disso, oferece plantões de dúvidas aos seus alunos, por panheirismo (algumas vezes até
meio dos quais professores atendem individualmente àqueles profissionalmente, trabalhando
que têm necessidade de reforço, um programa de apoio e in- juntos). Assim, além das obriga-
clusão, que cuida da adaptação de currículo do curso livre para ções acadêmicas, muitos sentem-
alunos com necessidades específicas (coordenado pelas pro- -se em casa, encontram amizades
fessoras Lisbeth Soares e Viviane Louro) e grupos de iniciação duradouras, e frequentam o pré-
para alguns instrumentos mais procurados. dio em horários extras para es-
Durante as comemorações do aniversário de 45 anos tudar, ensaiar, planejar, e assistir
da Fundação das Artes, a mestra Marília Pini afirmou em uma apresentações. uma experiência
palestra que “todo mundo que passa pelo menos seis meses na marcante, lembrada e guardada
Fundação tem sua vida mudada”. Se parece exagero, pergunte a com carinho.
alguém que por lá passou. A Fascs concilia tradição e ousadia,
produzindo eventos da mais alta qualidade artística e preparan-
daniel volPin MeneGuello
do profissionais para o mercado de trabalho. é hoje uma das é formado em regência pela escola
de comUnicação e artes da Universi-
principais escolas de São Paulo e do Brasil no que concerne à dade de são paUlo (eca/Usp) e leciona
na fUndação das artes desde 2000. é
formação de músicos e artistas, sendo um dos poucos locais no coordenador da escola de música da
institUição desde 2012. desde 2009, tam-
país onde se faz arte mesmo com pessoas que não tenham ex- bém leciona na emesp (escola de músi-
periência. Dessa forma, alunos aprendem e praticam um novo ca do estado de são paUlo) tom jobim.
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Em Foco
Mariana zenaro

Marília Pini:
Maestria e
MusicaliDaDe na
eDucação Dos sentiDos
A música expressa o que não pode ser dito
em palavras e não pode ficar em silêncio.
(Victor Hugo)

A musicista e professora
Foto/Mariana Zenaro (FPMSCS)

Marília Pini toca viola


na sala onde ministra a
disciplina de apreciação
musical na Fundação das
Artes de São Caetano do
Sul, instituição à qual é
vinculada desde março
de 1971. Foto de 2 de
outubro de 2014
Em Foco 33

u
ma musicista, instrumentista A autora do texto reflexivo sobre a edu-
de viola, escreveu em 1968 um cação dos sentidos em torno da música é Ma-
de seus primeiros artigos para rília Pini, que, há mais de 40 anos, é professora
a revista de uma recém-criada da disciplina de apreciação musical e do ensino
escola de música na pequena de viola na Fundação das Artes de São Caetano
cidade de São Caetano do Sul. O título do referi- do Sul. Hoje, com 77 anos, Marília recorda-se
do texto é Ouvir, Sentir, Compreender e nele es- do ambicioso projeto de educação dos sentidos,
tão algumas lições primordiais para que o estu- proposto na criação da instituição, tendo sido ela
dante de música desenvolva a acuidade auditiva: uma dos responsáveis pela elaboração do estatu-
to da entidade.
No estudo da música é de grande importância o
contato direto ou indireto com a obra musical de A trajetória profissional de Marília se
todos os gêneros e de todas as épocas. Na maioria funde à criação da Fundação das Artes de for-
dos cursos de música esse contato é geralmente
estabelecido através da apreciação musical, uma mação artística, pois ela iniciou suas atividades
vez que, mesmo supondo que alunos disponham como técnica na área de percepção auditiva e
de condições técnicas suficientes no domínio desenvolvimento da percepção no Laboratório
de determinado instrumento, não poderão iso-
ladamente, ou mesmo através de conjunto, ter de Desenvolvimento Auditivo e como violista da
acesso, como intérpretes, a todos os gêneros mu- Orquestra de Cordas de São Caetano do Sul, que
sicais cultivados através dos tempos. Por outro
lado, o contato com a manifestação musical viva,
remontava à Musicâmara, outro grupo musical
através de concertos e recitais, também é difícil, à qual foi vinculada.1 Como musicista, Marília
notadamente, em certas regiões mais distantes executou centenas de audições no Brasil e no
dos centros culturais. A Apreciação Musical vem
a se constituir, portanto, num complemento de exterior, tendo atuado em inúmeras orquestras
grande valia na formação do músico e – porque de renome e de relevância histórica para a ins-
não – ouvinte. Os aspectos geralmente enfoca-
dos dentro da Apreciação Musical giram em
titucionalização e difusão da música erudita no
torno dos problemas estéticos (gênero, estilo, país. Como professora, escreveu para diversas
forma, etc), do conteúdo cromático (timbre dos publicações e fez textos críticos para encartes de
instrumentos, conjuntos instrumentais, timbre
vocal, etc) ou ainda a localização histórica (épo- discos especializados em música erudita. Há 41
ca em que foi criada, o autor, peculiaridades do anos, leciona para nível superior.
momento histórico). Ao lado desses aspectos,
Filha de Mário Pini e de Amália Salaor-
sem dúvida importantíssimos para a compre-
ensão da obra musical, procuramos desenvolver ne Pini, nasceu em 27 de setembro de 1937, no
outros, principalmente voltados para a percep- Bairro da Barra Funda, em São Paulo. Seus avós
ção de certos elementos estruturais, tais como:
tempo, pulsação, compasso, motivos melódicos, eram imigrantes italianos vindos do Vêneto. O
motivos rítmicos, frases, funções harmônicas bairro paulista concentrava, nas primeiras dé-
etc, sempre analisados e compreendidos no de- cadas do século 20, imigrantes de diversas na-
curso das audições de uma obra musical. Desse
modo, a Apreciação Musical para nós passou a cionalidades, inclusive espanhóis e portugueses,
ser matéria prática onde o aluno encontra a pos- mas eram predominantes os italianos. Na região
sibilidade de aplicar e ampliar os conhecimentos
adquiridos em outras áreas, como Estruturação, havia também uma grande concentração de in-
Rítmica, Percepção. (PINI, 1974, p.6) dústrias, nas quais estes estrangeiros eram mão
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Em Foco

Acervo/Marília Pini
de obra qualificada. Mário Pini exercia o hoje
extinto ofício de linotipista2. Era um operário
do campo da indústria gráfica e editorial. Ela era
então uma menina de origem operária, que co-
nheceu a capital paulista como descrita na obra
de Antônio de Alcântara Machado Brás, Bexiga
e Barra Funda, com uma profusão de dialetos e
sotaques, em plena industrialização e processo
de urbanização, porém ainda com traços de bu-
colismo, quando era possível pescar lambaris no
Rio Tietê. Marília Pini, a
segunda a partir
Ainda criança, encantou-se pela músi- da esquerda, como
violista bolsista
ca. Mas não por influência direta da família, que na Orquestra
Sinfônica
apreciava ouvir ópera no gramofone, embora Juvenil do
Instituto de Arte
não houvesse nenhum músico dentre os fami- Contemporânea
da Fundação
liares. Foi Nair Dell’Acqua, amiga de sua prima, Armando álvares
Penteado. Foto de
que a influenciou fortemente a inclinar-se à pai- cerca do final da
década de 1950 até
xão e ao exercício da música, quando tinha ape- metade da década
de 1960
nas 11 anos. A garota de 20 e poucos anos tocava
violino e encantava a pequena Marília. “Eu ia à Num domingo de 1953, Marília foi assis-
igreja, às festas, a todos os lugares onde ela se tir a um concerto da Orquestra Sinfônica Bra-
apresentava, e, invariavelmente, ficava fascina- sileira no Teatro Cultura Artística. O programa
da”, lembra. A jovem violinista resolveu, então, se repetiu por muitos outros domingos na com-
dar-lhe as primeiras aulas do instrumento. “Eu panhia da irmã. Em uma das ocasiões, o maes-
usava o violino da minha instrutora, porque era tro Eleazar de Carvalho anunciou que o Museu
muito caro e eu não podia ter um individual”, co- de Arte de São Paulo (MASP) - criado por Assis
menta. Marília frequentava a casa da professora Chateaubriand, jornalista e empresário, proprie-
várias vezes durante a semana para exercitar-se. tário dos Diários Associados, que à época ainda
E adorava. funcionava na Rua 7 de Abril, onde também se
Depois de dois anos, quando estava ins- sediava o museu – estava planejando formar
truindo-se no violino, Nair disse que não tinha uma orquestra de jovens para, assim, suprir a de-
mais o que lhe ensinar e que era o momento de manda de músicos em São Paulo, pois a maioria
começar a tomar aulas com a sua instrutora, mui- daqueles que estavam atuando na cidade era de
to mais qualificada. A professora era Dora Loba- origem estrangeira e, majoritariamente, italiana.
to, violinista do Teatro Municipal de São Paulo, A Orquestra do Teatro Municipal de São
dotada de personalidade instigante, interessante, Paulo estava se organizando para a comemora-
mulher arrojada e exímia violinista. Porém, es- ção do IV Centenário de São Paulo, efeméride
tudar com afinco música naquela época era para que seria celebrada em 1954. Não era uma tarefa
poucos. Era enorme a dificuldade financeira para fácil reunir uma quantidade de músicos quali-
pagar uma professora com expertise, e a continui- ficados para tal evento, quem diria um número
dade nos estudos de violino era incerta. que girava em torno de 60 ou 70 membros, mas
Em Foco 35

Chateaubriand, como homem ousado que era, Medici. Financiou minha bolsa de estudos nos
agregou ao “seu museu de arte” escola de mú- Seminários de Música Pró-Arte, que ficou em
sica e orquestra, e convidou, principalmente, os atividade, em São Paulo, entre os anos 1956 e
músicos da Orquestra do Teatro Municipal, pro- 1969, mas que ainda é ativo no Rio de Janeiro.
fissionais que já haviam estudado fora do país, Era um instituto de formação superior em mú-
sobretudo na Europa, ou que tivessem tempo sica, criado por um imigrante judeu-alemão,
considerável de formação no país. A viola estava foragido em virtude da ascensão do nazismo e
a cargo do músico alemão Johannes Ölsner. O da eclosão da Segunda Guerra Mundial. Ele se
ambicioso objetivo de Chateaubriand era formar chamava Theodor Heuberger, também dono da
uma orquestra juvenil no município de São Pau- revista de arquitetura Casa e Jardim na época.
lo. E, para isso, foram disponibilizadas bolsas de O diretor deste instituto era Kollreuter, tam-
estudos para jovens estudantes, dentre as quais bém de origem alemã, aclamado na Europa.
uma se destinava ao aprendizado de viola, sendo Com altíssimo nível de ensino, era uma escola
que os instrumentos seriam cedidos. particular e caríssima, que jamais poderia pa-
“Era tudo o que eu queria! Eu tocava gar. Eu só conheci a minha patrona ao fim do
violino e já havia progredido bastante. Assim, curso”, complementa.
perguntei à minha professora, Dora Lobato, Assim, ao terminar os estudos nos Semi-
sobre como poderia concorrer à vaga”, recor- nários de Música Pró-Arte, Marília já havia con-
da Marília. O ministrante do curso de viola era cluído um ciclo de sua trajetória musical e era
Ölsner, também mestre de sua instrutora. Dora necessário pensar no futuro e vislumbrar uma
generosamente falou com o professor, que en- carreira, uma iniciação profissional. Foi em 1960
caminhou a aspirante para a seletiva. O regente que obteve a ordem dos músicos, e ingressou,
da orquestra do MASP era Mário Rossini, mui- em 1961, na Orquestra de Câmara Municipal de
to hábil para lidar com a juventude. Ele havia São Paulo (OCSP), uma das mais importantes
se fixado no Brasil por força do conflito bélico do país e que obteve várias menções e excelentes
na Europa, ocorrido entre 1939 e 1945. “Assim, avaliações. “Foi minha primeira atuação como
encorajada pela minha professora, participei da musicista profissional”, afirma. Nessa orquestra,
prova de seleção para a vaga de bolsista no mu- Marília excursionou pela Europa, representando
seu. Eu tinha em torno de 16 anos. O professor o país. Em 1967, saiu da OCSP para integrar a
Ölsner conversou comigo e solicitou que eu to- Musicâmara, que originou a primeira Orquestra
casse algumas peças. Fui admitida e a história de Cordas da Fundação das Artes.
da minha carreira profissional começou naque- Sua atuação na OCSP foi paralela à Or-
le momento”, rememora. Na escola de música questra Sinfônica Estadual, de 1964 a 1967, ano
de Assis Chateaubriand, Marília ingressou em do encerramento de suas atividades, e à Orques-
1953 e permaneceu até 1956. tra Sinfônica Municipal de São Paulo (1963).
“A orquestra do Museu de Arte de São “Mas foi na Orquestra de Câmara de São Paulo
Paulo havia encerrado suas atividades em 1956, que eu comecei a definir meu perfil de instru-
e o professor Ölsner conseguiu uma patronesse mentista, com música de câmara, e, posterior-
para financiar meus estudos. Ela era uma senho- mente, com a música antiga”, relembra Marília.
ra de família de origem italiana, muito abastada, De 1971 a 1972, foi violista na Orquestra Filar-
da alta sociedade paulista. Era chamada de Nenê mônica de São Paulo (OFSP), órgão mantido
Acervo/Marília Pini

Marília Pini
como violista
pela iniciativa privada, e nela fez audições dades do ABC e do interior de São Paulo. Fa-
da Orquestra
Sinfônica
por duas temporadas consecutivas. zia arranjos interessantes, com música popular
Juvenil do
Instituto de Arte
Marília Pini assumiu sua primeira brasileira e erudita, e levou o nome da escola
Contemporânea
da Fundação
função como docente na Fascs em 1969, para o conhecimento do público, conferindo
Armando
álvares Penteado.
ministrando a disciplina de apreciação a ela grande renome. O trabalho desse núcleo
Da esquerda
para a direita,
musical e participando de dois organis- propiciou ainda um considerável número de
observam-se
ainda: Reinaldo
mos que foram importantíssimos para alunos na formação em instrumentos de cordas
Corte (violino),
Omero Bartoli
a história da instituição: o quinteto de com muita expertise.
(violino) e
músico não
Cordas da Fundação das Artes, formado Em 1973, Marília foi convidada a mi-
identificado
(contrabaixo).
por professores da instituição (1975), e o nistrar aulas no curso de formação superior da
Foto de cerca
de 1957
quarteto de Cordas (1989), que ficou em Faculdade Paulista de Música – que, posterior-
atividade por 12 anos, realizando um tra- mente, passou a se chamar Faculdade Alcântara
balho de difusão e educação em relação Machado (FIAM-FAAM Centro universitário)
aos instrumentos de cordas. O quarteto e que foi incorporada pelas Faculdades Me-
de Cordas se apresentou por diversas ci- tropolitanas unidas (FMu), onde o curso de
Em Foco 37

Acervo/Marília Pini
Programa
do concerto
do quinteto
de Cordas
da Fundação
das Artes,
apresentação
realizada no
dia 17 de
abril de 1975,
no Instituto
Metodista
de Ensino
Superior.
Era realizada
uma série de
concertos pela
Fundação
das Artes em
toda a região
do ABC e de
São Paulo
como forma
de difusão
da cultura
musical
erudita.
Faziam parte
do quinteto
de Cordas:
José Eduardo
Ciocchi
Gramani
(violino),
música está ativo até hoje. uma boa parte dos Shinobu Saito
(violino),
professores dessa instituição vem da Fundação Marília Pini
(viola), Maria
das Artes, e muitos alunos da Fascs fizeram sua Elisabeth B.
Guimarães
formação superior nessa faculdade. Outros tan- (violoncelo) e
Guido Bianchi
tos se formaram pela FAAM e voltaram como (contrabaixo)
docentes para a instituição sul-são-caetanense.
Outros ainda fazem os estudos de pós-gradua-
ção e voltam para a FAAM. As entidades de en-
sino superior que mais absorveram ex-alunos da
Fundação das Artes são a universidade Estadu-
al Paulista Júlio de Mesquita Filho (unesp) e a
FIAM-FAAM. Este caso é um demonstrativo de
como a Fascs teve e ainda tem um papel funda-
mental na formação educacional e profissional
em música, que se extrapola para além dela mes-
ma. E Marília Pini passou por todo este processo
de transformação, formando músicos e indiví-
duos sensíveis. “A minha relação com o ensino
de música é gratificante”, afirma a professora.
Marília enfatiza a missão filosófica do
ensino musical proposto na sua trajetória como
38
Em Foco
docente: “é importante encaminhar os Em seu artigo para a artis, revista da
alunos para a prática musical o mais Fundação das Artes, ela ressalta uma preciosa
rápido possível, porém sempre dando- lição que vai além da sala de aula:
-lhes subsídios para estudar e desen-
volver capacidades sensíveis e criativas. Situar a música como linguagem, como comu-
nicação, de preferência não estabelecendo dife-
Não é o bastante formar instrumentis- renças de valor entre “Música Erudita” e “Música
tas para simplesmente serem tocadores Popular”, evitando-se, assim, a formação de um
velho preconceito extremamente negativo. (...)
de determinados instrumentos. A mú- Finalmente, as proposições devem partir sempre
sica é uma arte muito complexa, com- do sensorial para o teórico; isto é, deve-se, an-
pleta e profunda. Requer empenho, tes de mais nada, “sentir” a música para depois
analisá-la. Com isso, procuramos evitar que os
rigor e obstinação. é uma arte que atua alunos desenvolvam uma audição excessivamen-
maciçamente na formação sensível te técnica, uma vez que o objetivo final é com-
preender a obra de arte, sentir sua mensagem.
dos indivíduos. A música é poderosa (PINI, 1974, p.6)
para o desenvolvimento da sensibili-
dade humana e quem diz isso não são Marília Pini é um exemplo de obstinação,
os músicos, são os neurocientistas. A de paixão pela música e pelo educar. Mais do que
matéria-prima básica da música são a ensinar informações e técnicas, é preciso educar os
altura e o ritmo. As convenções da arte sentidos. Ouvir, Ver, Pensar, Sentir, Compreender.
musical nasceram ao longo dos séculos Acervo/Marília Pini

e, é por meio delas, que compositores


e músicos organizaram e manipularam
essa matéria-prima. Alguns composi-
tores conseguiram efeitos memoráveis
ao quebrar ‘regras’, outros, trabalhan-
do criativamente com elas. A música
é matemática, física, e requer destreza
racional, mas também intuição para
poder extrapolá-la. Construir o co-
nhecimento massivamente é um erro,
ensinar igualando capacidades distin-
tas pode levar ao aniquilamento de po-
tencialidade, portanto, educar conhe-
cendo as diferenças de cada aluno é
um cuidado essencial que o educador
deve ter, conciliando sempre o ensino
teórico ao prático. Pois cada indivíduo
é dotado de capacidades únicas e cabe
ao professor encontrar em cada apren-
diz um diamante a ser lapidado”.

Marília Pini, integrante do quarteto de Cordas da


Fundação das Artes, em 1989, tocando viola
Em Foco 39

Concerto de
Os instrumentos de cordas estreia do
quarteto de
A seção de cordas é o maior naipe de te 1,8 m de altura, ele pode ser tocado tanto com Cordas da
Fundação
uma orquestra e forma seu núcleo; sua voz prin- os dedos em pizzicato como com o arco. das Artes, em
5 de agosto
cipal é o violino, instrumento de extraordinário O quarteto de cordas clássico data do fi- de 1989. Da
esquerda para a
alcance e versatilidade. é dividido em duas se- nal do século 18, quando Haydn e Mozart com- direita: Marley
Chamorro Las
ções: primeiros e segundos. Embora as cordas puseram peças musicais para serem tocadas em Casas Junior
(violino),
dos violinos, violas, violoncelos e contrabaixos salões palaciais. Essa é a razão pela qual também Alexandre
Scoss Nicolau
sejam geralmente tangidas com um arco, em é denominado música de câmara. O quarteto (violino), Marília
Pini (viola)
outros instrumentos, como a harpa, podem ser clássico compõe-se de dois violinos, uma viola e Fernando
Alberto Labrada
dedilhadas (pizzicato). A mão esquerda é usada e um violoncelo. (violoncelo)
Acervo/Fundação Pró-Memória de São Caetano do Sul
para comprimir as cordas a fim de alterar a du-
ração de sua vibração e, com isso, a altura das
notas. Diversos efeitos sonoros podem ser obti-
dos pela disposição do arco, mais perto ou dis-
tante do cavalete; por meio do abafamento ou
vibrações do cavalete com o uso de uma surdi-
na; ou pela aplicação de técnicas de arco. A par-
tir do século 19, muitos instrumentos de cordas
antigos foram modificados para aumentar o seu
volume de projeção sonora. Como instrumento
solista, o violino pode soar de modo triste e in-
trospectivo, ou também vivo e vibrante. O som
de muitos violinos tocados em uníssono é um
verdadeiro deleite.
NOTAS
A viola é somente um pouco maior que 1
A Musicâmara foi fundada em 1964, na Bahia, como orquestra e sociedade de concertos. Rei-
niciando os trabalhos em São Paulo, em 1966, passou a constituir a Orquestra de Cordas da
Fundação das Artes de São Caetano do Sul, dois anos mais tarde, e de sua escola de música.
o violino em suas dimensões, é o contralto da fa- A orquestra era constituída por Moacyr Del Picchia, José Eduardo Gramani, Tosio Takeda,
Reinaldo Couto, Carlos Jurandir, Waldemar Pellegrino (violinos), Baldur Lisenberg, yoshitame
mília dos instrumentos de cordas. Seu timbre é Lukuda, Marília Pini (violas), Flávio Russo, Nader Tanus (violoncelos), Guido Bianchi (contra-
baixo), Joaquim Thomás Jayme (contínuo) e Geraldo Moreno (copista, arquivista e montador).

mais rico, grave, cheio e obscuro, sendo afinada 2


O linotipo é uma máquina inventada por Ottmar Mergenthaler, em 1886, que funde em
bloco cada linha de caracteres tipográficos, composta de um teclado, como o da máquina
de escrever. As matrizes que compõem a linha-bloco descem do magazine onde ficam ar-
uma quinta abaixo do violino. Os instrumentos mazenadas e, por ação do distribuidor, a ele voltam, depois de usadas, para aguardar nova
utilização. As três partes distintas — composição, fundição e teclado — ficam unidas em uma
do tipo da viola, maiores ou menores, foram usa- mesma máquina. A capacidade de produção é de seis mil a oito mil toques por hora. Esta
técnica foi substituída quando surgiram os computadores.

dos como linhas de tenor e de contralto desde o


século 16, tendo ganhado importância no sécu- REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS
BuRROWS, John (Ed.); WIFFEN, Charles; AINSLEy, Robert. Guia de Música Clássica. Rio
lo 18. O violoncelo e o contrabaixo compõem o de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 2006.
CARPEAuX, Otto Maria. O Livro de ouro da História da Música – Da Idade Média ao Século
XX. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.
grupo dos instrumentos de cordas mais graves PINI, Marília. Ouvir, Sentir, Compreender. artis – Caderno da Fundação das Artes. São Cae-
tano do Sul, n. 0, p.67, 1974.
da orquestra. De modo semelhante ao violino, SOLTI, Georg. O Mundo Maravilhoso da Música: Arte, História, Instrumentos, Tecnologia.
São Paulo: Companhia Melhoramentos, 1997.

o timbre expressivo do violoncelo torna-o um


instrumento ideal para solos. O contrabaixo tem
Mariana Zenaro
sua origem em uma outra família de instrumen- é jornalista e historiadora, pós-gradUada em bens
cUltUrais pela fUndação getúlio vargas (fgv-sp) e pós-
tos de cordas, as violas, a partir das quais foi de- -gradUanda em arte: crítica e cUradoria pela pontifícia
Universidade católica de são paUlo (pUc-sp). é colabora-
senvolvido no século 16. Com aproximadamen- dora da fUndação pró-memória de são caetano do sUl.

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