Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
inspirar. Na Casa
e fora delaTEXTO
Sara Dias Oliveira
T
udo mudou quando percebeu que -abrigo, dormia na rua, na Rua Júlio Dinis, zona
podia juntar o que havia arrumado movimentada do Porto, abusava do álcool, an-
por gavetas. Tudo se alterou há 15 dou anos sem rumo. A gente da AMI que o tenta-
anos, quando entrou na quarta edi- va puxar para uma outra vida falou-lhe do Som
ção do Curso de Formação de Ani- da Rua, daquela orquestra inclusiva aberta a ho-
madores Musicais do Serviço Edu- mens e mulheres que conhecem na pele a dura
cativo (SE) da Casa da Música realidade da rua, desse projeto do SE da CdM. Não
(CdM). As ferramentas de criação era que gostasse de cantar, mas havia algo que o
colaborativa expostas e transmiti- puxava a experimentar, a ver o que era aquele
das ali, a inclusão de não músicos em grupo, o que fazia, o que acontecia. Espreitou,
performances de alto nível artístico, mostravam- gostou, ficou. E cantava como sabia.
-lhe outros caminhos. Gil Teixeira não esquece Às sextas-feiras de manhã, havia cantorias na Es-
esses tempos. “Espoletaram o maior momento cola da Lomba, no Porto, no projeto Escola a Can-
eureka de todo o meu percurso até hoje”, garan- tar do SE da CdM. Matilde Pinheiro tinha então
te. “O Gil compositor, o Gil educador e o Gil per- sete anos, cantava bem como soprano, adorava
former já não tinham de estar arrumados em ga-
DIREITOS RESERVADOS
vetas separadas. Passei a ser capaz de criar músi-
ca nova, no momento, com quem estivesse dian-
te de mim, independentemente da idade, capa-
cidade ou nível de formação musical.” E nada fi-
cou como antes.
Logo após esse curso, Gil Teixeira deixou de usar
partituras nas aulas de Música de Câmara na aca-
demia, em Braga, onde era professor. “A partir
desse momento todo o repertório dos meus en-
sembles passou a ser criado pelos alunos, duran-
te os ensaios”, recorda. Depois, já nos 30, virou a
vida de pernas para o ar, deixou um emprego es-
tável e partiu para Londres para tirar um mestra-
do na Guildhall School of Music com o objetivo
de “ir beber à fonte”, era dali que vinham todos
os formadores do curso que tinha frequentado
no SE da CdM. “Aquilo que mais me marcou na
abordagem criativa e inclusiva do Serviço Edu-
D.R.