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Criar, transformar,

inspirar. Na Casa
e fora delaTEXTO
Sara Dias Oliveira

30 15.10.2023 Notícias Magazine


O Coro Infantil, formado em
2017, com cerca de 50 vozes,
de idades entre os oito e os
15 anos, ensaia aos sábados
de manhã na Casa da Música.
Até ao fim do ano,
terá quatro concertos

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O Serviço Educativo da Casa da Música atingiu a maioridade,
18 anos, e inicia mais uma temporada com novidades (os 50 anos
da democracia fazem parte da programação) e os projetos especiais
de sempre (ensaios abertos, Orquestra Som da Rua, A Casa Vai
a Casa, Coro Infantil). A abordagem é criativa e inclusiva.
Sempre a centrifugar. Sempre a descascar para descobrir camadas.
Pelo caminho ficam marcas em gente que vira a vida do avesso,
sai da rua, vai estudar Música, organiza um coro, amplia horizontes
a crianças. Histórias diferentes com um denominador comum.
Aquele brilhozinho nos olhos.

T
udo mudou quando percebeu que -abrigo, dormia na rua, na Rua Júlio Dinis, zona
podia juntar o que havia arrumado movimentada do Porto, abusava do álcool, an-
por gavetas. Tudo se alterou há 15 dou anos sem rumo. A gente da AMI que o tenta-
anos, quando entrou na quarta edi- va puxar para uma outra vida falou-lhe do Som
ção do Curso de Formação de Ani- da Rua, daquela orquestra inclusiva aberta a ho-
madores Musicais do Serviço Edu- mens e mulheres que conhecem na pele a dura
cativo (SE) da Casa da Música realidade da rua, desse projeto do SE da CdM. Não
(CdM). As ferramentas de criação era que gostasse de cantar, mas havia algo que o
colaborativa expostas e transmiti- puxava a experimentar, a ver o que era aquele
das ali, a inclusão de não músicos em grupo, o que fazia, o que acontecia. Espreitou,
performances de alto nível artístico, mostravam- gostou, ficou. E cantava como sabia.
-lhe outros caminhos. Gil Teixeira não esquece Às sextas-feiras de manhã, havia cantorias na Es-
esses tempos. “Espoletaram o maior momento cola da Lomba, no Porto, no projeto Escola a Can-
eureka de todo o meu percurso até hoje”, garan- tar do SE da CdM. Matilde Pinheiro tinha então
te. “O Gil compositor, o Gil educador e o Gil per- sete anos, cantava bem como soprano, adorava
former já não tinham de estar arrumados em ga-

DIREITOS RESERVADOS
vetas separadas. Passei a ser capaz de criar músi-
ca nova, no momento, com quem estivesse dian-
te de mim, independentemente da idade, capa-
cidade ou nível de formação musical.” E nada fi-
cou como antes.
Logo após esse curso, Gil Teixeira deixou de usar
partituras nas aulas de Música de Câmara na aca-
demia, em Braga, onde era professor. “A partir
desse momento todo o repertório dos meus en-
sembles passou a ser criado pelos alunos, duran-
te os ensaios”, recorda. Depois, já nos 30, virou a
vida de pernas para o ar, deixou um emprego es-
tável e partiu para Londres para tirar um mestra-
do na Guildhall School of Music com o objetivo
de “ir beber à fonte”, era dali que vinham todos
os formadores do curso que tinha frequentado
no SE da CdM. “Aquilo que mais me marcou na
abordagem criativa e inclusiva do Serviço Edu-
D.R.

cativo – resumida no mantra inesquecível do Tim Gil Teixeira, músico,


Steiner “If you are in the room, you are in the conta que a experiência
band (Se estás na sala, estás na banda)” – foi a des- num curso do SE da
sacralização da performance musical. Contra a CdM lhe mudou a vida.
ideia elitista de que apenas músicos profissionais Alterou a forma de
seriam dignos de pisar um palco, nos projetos do ensinar, foi estudar para
SE a música era verdadeiramente uma Casa de Londres, agora está nos
portas abertas para a qual todos eram convidados Estados Unidos, onde
a entrar e explorar”, conta. compõe música, ergue
Silvério Silva passou horas, dias, meses nos ban- espetáculos, orienta
cos de jardim da Rotunda da Boavista, era sem- formações

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e memórias inesquecíveis. “Quero continuar

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com a música, não quero desistir, é uma paixão.”
É dia de inauguração da exposição “Insubmis-
sos”, exposição de arte bruta com obras feitas por
dezenas de utentes do serviço de reabilitação psi-
cossocial do Hospital de Magalhães Lemos, no
Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar
(ICBAS) no Porto. O Grupo Coral do Hospital de
Magalhães Lemos ocupa o seu espaço na sala, ho-
mens atrás, mulheres à frente, orquestra do lado
esquerdo. António Miguel Teixeira (Tomi, como
é tratado), o maestro, orienta o aquecimento,
mexem-se ombros, braços, cabeças, fazem-se vo-
calizações e entoações diversas. O grupo está
pronto a abrir a exposição.
O coro, criado há mais de dez anos, é fruto de
uma parceria com o projeto A Casa Vai a Casa, do
SE da CdM, que leva a atividade desenvolvida
dentro de portas a quem ali não tem como che-
gar – presos, doentes, idosos, pessoas com neces-
sidades especiais. António Miguel tem formação
em piano e canto, é músico, professor, formador
da CdM com oficinas regulares, sabe como tudo
começou porque tudo começou com ele. De uma
experiência intensa, surgiu o convite, o desafio.
Ele aceitou. “É espantoso o SE ter proporciona-
do essa possibilidade”, sublinha. A oportunida-
de de criar um grupo coral com utentes e funcio-
nários, enfermeiros, médicos, assistentes e ope-
racionais do Hospital de Magalhães Lemos. To-
dos juntos a cantar.
Uma vez por semana, há ensaios de hora e meia
e há sempre tarefas diferentes. “Fazemos músi-
ca e letras em conjunto”, adianta António Mi-
guel. Nenhum ensaio é igual ao outro, há gente
com jeito para as cantorias de voz afinada, há gen-
te mais dada a marcar o ritmo com instrumen-
tos, há quem toque viola. No fundo, há paixão
pela música, se assim não fosse, não funcionava,
não era possível.

FLUIDO, DINÂMICO, AJUSTADO


Silvério Silva não faltava a um ensaio, uma vez
Matilde Pinheiro é uma aqueles momentos, foi escolhida para o Coro In- por semana, quartas-feiras à tarde, uma hora,
das vozes do Coro fantil da Casa da Música. “Desde pequena que ado- hora e meia, numa sala numa rua da Ribeira. “Para
Infantil. Entrou com ro a música.” Chegou a tocar piano, parou, entrou quem vem do nada, senti que fazia parte de um
sete anos, hoje, no coro, a voz tornou-se o seu instrumento. “E co- grupo, que era integrado em alguma coisa útil”,
aos 14, estuda no mecei a amar ainda mais a música”, confessa. salienta. Por momentos, saía da rua, entrava
Conservatório de Hoje Matilde tem 14 anos e está no Conserva- numa sala, sentia-se parte de algo maior. “Para
Música do Porto. tório de Música do Porto, tem Canto, Estudo de os sem-abrigo, era um local onde se socializava
A partir de um projeto Ópera, Formação Musical, Classe de Conjunto, com outras pessoas.”
do SE da CdM, Orquestra. Adora cantar ópera, adora música. Aos Quando os ensaios terminavam, voltava a tris-
percebeu que o seu sábados de manhã, tem ensaios do coro na CdM teza, aquela solidão. Em dias de espetáculo, uma
percurso ia passar pela durante três horas, há quatro concertos marca- boa sensação, boas emoções. “Fazia com que
voz, pelas melodias dos antes de o ano terminar. Não lhe custa levan- uma pessoa que não tem condições, naquele mo-
tar, sair da cama. “Não chega a ser um esforço, mento, se sentisse útil, que fazia parte de algu-
gosto de tal forma de estar cá, é como se fosse uma ma coisa.” Silvério fala de si, fala dos outros que
família”, diz. Sente-se bem lá dentro, por fora, ali estavam também. “Não nos sentíamos de-
aprecia o desenho do edifício. “Acho o formato samparados.” Cantavam, quem canta seus ma-
giro, as salas são todas diferentes e cada uma traz les espanta, e uma das canções dessa orquestra
um ar novo”, nota. Ali vai reunindo experiências do SE da CdM baseou-se na sua história de vida

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e foi batizada de “Corpo cansado”, seu corpo can-
sado de rosto no chão, cheio de tristeza, e a von-
tade de caminhar contra a solidão. Um dia, num
concerto, junto ao Cubo da Ribeira, chamaram-
-no para cantar essa música, sem contar, surpre-
sa total. Ganhou coragem, subiu ao palco, can-
tou. “São lembranças especiais”, realça. De lon-
ge a longe, encontra alguns companheiros des-
sa jornada, há pelo menos três, conta, que são do
seu tempo. E aí bate aquela saudade. Se o horá-
rio de trabalho permitisse, Silvério voltava ao
Som da Rua, voltava a cantar.
Na CdM, no centro do Porto, o SE não tem ho-
ras e dias da semana marcados para reuniões de
planeamento, definição de estratégias, afinações
de alinhamentos, reajustes, alterações. O traba-
lho é fluido, dinâmico, ajustado ao que é preciso
a cada momento. A equipa do SE da CdM reúne-
-se quando é necessário. Desenhar a arquitetura
da programação a cada nova temporada, que coin-
cide com os anos letivos, exige foco, entrega, de-
dicação. Criar do zero, manter o que faz sentido
continuar, incluir pessoas de várias áreas no pro-
cesso criativo. Ali, no piso 1 da CdM, o SE organi-
za cerca de 800 eventos por ano.
Jorge Prendas, coordenador do SE da CdM a tem-
po inteiro desde setembro de 2010, formador des-
de 2007, ocupa um espaço com duas paredes de
betão, duas portas de vidro que dão para um open
space com vista para o exterior. Há sempre coi-
sas para fazer, assumir uma atividade de princí-
pio ao fim, fazer telefonemas, contratar gente,
ligar à parte técnica, à direção artística, ao marke-
ting. Jorge Prendas usa uma analogia. “O tambor
da máquina de lavar está sempre na centrifuga-
ção.” Sempre a rodar, sempre a mexer.
Quando a equipa está toda reunida, são seis pes-
soas à mesa e de áreas diversas. Jorge Prendas, o
coordenador, que primeiro estudou Informáti-
ca de Gestão, depois Composição e é um dos can-
tores das Vozes da Rádio. Teresa Coelho da área
de Ciências da Educação, Inês Leão de Gestão do
Património Cultural, a psicóloga Anabela Leite,
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Ana Rebelo que estudou Direito e a animadora


sociocultural Paula Oliveira. Especializações à
parte, ali arregaçam-se as mangas e faz-se o que
for preciso, escrever tarefas numa folha, reser-
var espaços para ensaios, analisar recursos peda-
gógicos, ler e responder a emails. Tudo tem de ser
feito com bastante antecedência. “Não é um sim-
ples trabalho de produção”, avisa Jorge Prendas.
É mais do que isso.
Conceição Alves é professora do 1.º ciclo na Es-
cola Básica de Alvarinha, agrupamento de San-
ta Bárbara, Fânzeres, Gondomar. Falar da Casa,
e de todo o trabalho do SE, é falar em tom apai-
xonado. As atividades do SE encaixam-se na sua
perspetiva de uma escola que desperta talentos,
que dá tempo e espaço para criar, no conceito de
inteligências múltiplas não confinadas a currí-
culos e disciplinas tradicionais. “A escola tem de

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para ter um emprego convencional”, comenta.
Neste momento, como educador, faz parte da lis-
ta de artistas do Serviço Educativo do Pittsburgh
Cultural Trust, cria e lidera workshops em diver-
sos contextos, orienta um laboratório de criação
transdisciplinar numa escola secundária de en-
sino alternativo, está prestes a iniciar um ciclo
de oficinas inserido numa ação de formação con-
tínua para professores de Música. Foi um dos di-
retores artísticos da Orquestra de Hip-Hop da
Guardians of Sound, enquanto criador e perfor-
mer apresentou um espetáculo multimédia ori-
ginal chamado “The mind body problem”, criou
uma instalação multimédia participativa para
um festival. Aquele curso, há 15 anos, mudou-
-lhe a vida, di-lo várias vezes. “Foi uma experiên-
cia transformadora a todos os níveis: profissio-
nal, pessoal e artístico.” Chegou a fazer parte de
Em cima e à direita, se alargar e ampliar”, defende. O SE da CdM aju- vários projetos do SE da CdM, Ala dos Afinados,
o Grupo Coral do da-a nisso. Som da Rua, Coro da Escola de São Tomé, e ainda
Hospital de Magalhães O seu caminho cruza-se com a CdM em diver- assumiu a direção artística de alguns espetácu-
Lemos é resultado do sas ocasiões, concertos comentados aos domin- los originais.
trabalho feito pelo SE gos ao meio-dia e outros momentos quando o fi-
da CdM. O músico lho era pequeno e estudava música, contactos UM EXEMPLO REPLICADO NO ORIENTE
António Miguel é o que fez com o SE para levar turmas à sala princi- Silvério Silva tem 51 anos, saiu da rua há oito, fez
maestro deste coro pal da Casa, oficinas em que participa. No último um programa de recuperação numa clínica, vol-
formado por utentes fim de semana, no sábado, Conceição Alves es- tou ao mercado de trabalho no Centro Porta Ami-
e funcionários. tava na formação sobre tecnologia na sala de aula, ga de Gaia, da AMI, tirou um curso técnico de au-
Em baixo, à esquerda, do SE da CdM, destinada a professores, educado- xiliar de saúde, fez o 12.º ano, entretanto arranjou
Silvério Silva fez parte res, músicos, formadores e todos os interessados trabalho num call center direcionado para o mer-
da Orquestra Som da em música eletrónica e artes digitais. Esteve na cado francês – foi emigrante em França, aprendeu
Rua quando era sem- apresentação da nova programação do SE da a língua. Mostrou que é possível sair da rua. As can-
-abrigo. Em cada CdM, não quer perder nada. torias e a música ajudaram-no nesse caminho, na
ensaio, sentia-se útil, Gil Teixeira vive em Pittsburgh, na Pensilvâ- sua reintegração social, na sua autoestima. Nos
parte de algo maior nia, Estados Unidos, desde 2015. É freelancer nos dez anos da CdM, partilhou a sua experiência para
campos da educação e da performance. “O que as câmaras de televisão. Os mentores do projeto
me agrada bastante, pois não me sinto talhado consideram-no da casa.

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Para a professora Conceição Alves, tudo come-
çou com o Orelhudo! há dez anos. Uma ferramen-
ta que possibilita a audição diária de um trecho
musical, enquadrando temas, acontecimentos,
efemérides, geografias. Pediu ajuda para explo-
rar a plataforma e ficou encantada com as inúme-
ras possibilidades que 90 segundos de audição
abriam, na expansão de conhecimentos cultu-
rais e históricos com os seus alunos. “A quanti-
dade de saberes mobilizados em 90 segundos de
escuta”, destaca. E, no fim de tudo, há aqueles
momentos especiais que sabe que os seus alunos
não mais esquecerão, como assistir a um concer-
to na famosa e imponente Sala Suggia.
António Miguel sente-se grato por tudo, pelo
coro do hospital, pelas oficinas com crianças,
pela possibilidade de contribuir para o desenho
de projetos, pela partilha de conhecimentos,
pela troca de experiências. E por tanta recipro- A equipa base do SE cada. “Há uma ideia em bruto e temos de tentar
cidade que lhe entra pelos olhos e lhe chega ao da CdM que organiza descobrir como fazer as coisas. É fantástico ter
coração. “A forma como se entregam à música é cerca de 800 iniciativas esta possibilidade para quem gosta de trabalhar
inesquecível”, enfatiza. Grato por fazer parte de por ano para vários num serviço educativo.” É dar asas à imaginação,
um serviço educativo que considera único no tipos de público. No desde o nome do projeto e tudo o que o envolve.
país e raro no Mundo. centro, Jorge Prendas, Uma conversa é um brainstorming informal.
A nova temporada do SE arranca agora. “Um o coordenador do “A relação é muito descontraída”, descreve Ana
novo ano e a sensação de montanha-russa, quan- grupo que não descura Rebelo. Há atividades que esgotam num abrir e
do começa, vai por aí abaixo”, diz António Mi- a diversidade da oferta fechar olhos, oficinas reservadas de um ano para
guel. O trabalho é visceral, sai-lhe das entranhas. o outro. “Existe uma certa rotina e um conforto
Ainda bem. É como a fruta que tem de ser descas- para as escolas que sabem que vão ter coisas in-

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sas maratonas de teclistas e violoncelistas. Mais
os projetos especiais, Coro Infantil, Orquestra
Som da Rua, Ao Alcance de Todos que envolve di-
ferentes comunidades – reclusos, idosos, pessoas
com necessidades especiais –, as efemérides.
O SE da CdM não é um apêndice, nem um ane-
xo da Casa, frisa Jorge Prendas, a relação é orgâ-
nica, seja estar no mesmo espaço físico, debaixo
no mesmo teto, seja na comunicação que se en-
trecruza e ocupa as mesmas páginas dos mate-
riais de divulgação. O orçamento é separado, 300
mil euros por ano para o SE, um retorno de bilhe-
teira na ordem dos 100 mil. As atividades educa-
tivas estão no decreto-lei da Casa, não ficaram à
margem, não surgiram a posteriori, como acon-
tece com serviços educativos de estruturas cul-
turais. “Temos essa sorte de ter nascido antes do
próprio espaço físico da Casa”, recorda Jorge Pren-
das. Há aqui também uma herança, recorda o
coordenador, do Porto 2001, de um caminho que
se começa a desbravar sobretudo no que é a liga-
ção com a comunidade, com as escolas.
A nova temporada arranca agora e vai assinalar
os 50 anos de democracia, o espetáculo “Abril”
vai refletir sobre a ditadura e a guerra e será in-
terpretado por utentes da Associação de Defi-
cientes das Forças Armadas, alunos de dança do
Balleteatro e formandos do Curso de Formação
de Animadores Musicais. A obra de Zeca Afonso
colocará 300 estudantes de composição a escre-
ver para 300 alunos da área vocacional de músi-
ca no “Venham mais 300”. “Eça que é Eça” reme-
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te para o escritor e a sua ligação à ópera, “Em Pes-


soa” dá voz a gente com afasia pela escrita de Fer-
nando Pessoa. Há muito mais para ver e partici-
par nesta nova temporada.
A missão mantém-se intocável: oferta variada
e acesso de todos à música, atividades para dife-
rentes públicos, envolver a sociedade de forma
transversal, chegar a comunidades carenciadas
e nas franjas da exclusão, dar formação geral e es-
pecializada a músicos e não músicos, reforçar a
teressantes, algumas novas e originais”, assina- Conceição Alves, investigação no domínio das novas tecnologias.
la Teresa Coelho. Anabela Leite evidencia a abran- professora do 1.º ciclo Não será por acaso que o SE da CdM é um exem-
gência de públicos, atividades para bebés, idosos, numa escola de plo que está a ser replicado num teatro em Tó-
escolas, instituições, todo o tipo. “Qualquer pes- Gondomar, participa quio, no Japão, depois de uma reunião interna-
soa tem oportunidade de se envolver.” O públi- em formações, cional em Berlim, em 2010. O trabalho chamou
co vem e volta. “A confiança é um capital de va- acompanha as a atenção de uma representante desse espaço no
lor altíssimo, as pessoas confiam na instituição, propostas do SE, Oriente, depois de uma visita em janeiro de 2011,
o que só se consegue ao fim destes anos e com um leva os seus alunos a formação começou em dezembro de 2013, o in-
trabalho de qualidade”, observa Jorge Prendas. à Casa da Música tercâmbio tem sido constante.
É como encher caixinhas ou completar um quando há Jorge Prendas guarda na memória aquele dia
puzzle a partir de uma grelha. A equipa do SE da possibilidade. como músico e formador do SE da CdM nas ur-
CdM não pára para compor uma atividade artís- A abordagem encaixa- gências pediátricas do Hospital de Magalhães Le-
tica e educativa eclética e abrangente. São con- -se no seu modelo mos. Hora e meia a fazer música em conjunto
certos para crianças, oficinas, mais concertos co- de ensino, de ampliar com crianças e jovens. Naquele dia, aquele rapaz
mentados da Orquestra Sinfónica, cursos de His- e alargar horizontes quieto, que nada dizia, em silêncio absoluto, que
tória da Música e de animadores musicais, são for- às crianças recusou participar, no fim da sessão levantou-se
mações para professores de todos os níveis de en- e, enquanto o músico arrumava o material, dis-
sino, para músicos e não músicos, festivais e con- se-lhe uma frase que não esquece: “Gosto mui-
cursos com bandas jovens de jazz e rock, as famo- to de vos ter aqui”. ●m

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