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Jornal de Teatro 16 a 31 de Julho de 2009

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Teatro para todos
Há 31 anos em ação, Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz resiste ao tempo e
comemora 25 anos de constituição do seu espaço multidisciplinar Terreira da Tribo

Por Adoniran Peres


Fotos: Cláudio Etger

Fazer cultura com resistên-


cia. O nome do grupo teatral
a seguir já diz algo? “Ói Nóis
Aqui Traveiz”. Escrito em por-
tuguês não-formal, o nome do
grupo emite a ideia da vocação
popular, ou seja, de cultura para
todos. Essas são apenas algumas
das propostas desta Tribo de
Atuadores de Porto Alegre (RS).
Conhecidos por fazer arte com
contestação, eles são destaque
entre os grupos de teatro e espa-
ços culturais gaúchos e referên-
cia também nacionalmente.
Em busca de renovação na
linguagem cênica, a Tribo de
Atuadores do Ói Nóis entrou
em cena no dia 31 de março de
1978 com as peças “Divina Pro-
porção” e “A Felicidade Não Es-
perneia Patati Patatá”, ambas es- Tribo de Atuadores desenvolve ocinas gratuitas a população
critas por Júlio Zanotta. Durante
esses 31 anos, o grupo criou uma
estética pessoal, fundada na pes-
quisa dramatúrgica, musical,
plástica, no estudo da história e
da cultura, além da experimenta-
ção dos recursos teatrais a partir
do trabalho autoral do ator.
Não se limitando à sala de
espetáculos, desenvolveu, tam-
bém, uma linguagem própria
de teatro de rua, além de traba-
lhos artístico-pedagógicos junto
à comunidade local. “Atuamos
coletivamente em todo proces-
so de cada espetáculo, desde a
montagem até a manutenção do
espaço. Acreditamos que o tea-
tro, assim como a cultura, é um
direito necessário de cada cida- Ói Nóis Aqui Traveiz fazem da cultura um instrumento de discussão Grupo do Rio Grande do Sul busca a renovação da linguagem cênica
dão. Fazemos cultura como ins-
trumento de discussão”, explica palavras chaves da trajetória te patrocinado pelo Instituto realiza a Mostra Ói Nóis Aqui Partida”(1986). Já a criação cole-
Tânia Faria, atuadora da Tribo. do Ói Nóis: resistência”, enfa- Votorantim. Traveiz: Jogos de Aprendiza- tiva “Ostal” (1989) concedeu ao
Entre as diversas áreas que o tiza Pedro de Camilis, atuador O espaço multidisciplinar gem, um circuito pelos bairros grupo os Prêmios Açorianos de
grupo desenvolve, destaque para do grupo. não se resume somente a um lu- da cidade com os trabalhos de- melhor espetáculo, cenograa e
a Escola de Teatro Popular, que gar de ocinas e espetáculos. É senvolvidos pelos atuadores em produção. De 1990 até 1992 foi
funciona desde 2000, e o Proje- COMEMORAÇÕES também para compartilhamen- ocinas populares de teatro em encenado “Antígona”, ritos de
to Teatro como Instrumento de O último dia 14 de julho foi to de experiências com outros oito bairros. “Junto a esta Mos- paixão e morte, que recebeu os
Discussão Social, desenvolvido uma data importante de conti- grupos, realizando seminários, tra, apresentamos, quase todos Prêmios Açorianos de melhor
desde 1988, com ocinas gra- nuidade desta resistência do gru- ciclos de debates, ocinas aber- os ns-de-semana, o espetáculo espetáculo, direção, cenograa,
tuitas à população. Na área da po, com a comemoração dos 25 tas à comunidade para prática de Teatro de Rua “O Amargo gurino e ator coadjuvante. “Se
criação teatral, além do Teatro anos de constituição do espaço artístico-pedagógica, além de se Santo da Puricação”. A peça, Não Tem Pão, Comam Bolo!”
de Rua, o Teatro de Vivência multidisciplinar Terreira da Tri- explorar as possibilidades cêni- criação coletiva baseada em Sar- (1996) foi premiado como me-
atua no sentido de experiência bo. Criado seis anos depois da cas produzidas pela Tribo com o tre e em Allen Gin – que teve sua lhor espetáculo de Teatro de
partilhada, em que o espectador concepção do Ói Nóis, o local intuito de realizar uma investiga- montagem censurada em 1980 – Rua, e o grupo foi premiado pelo
torna-se participante da cena, também é a sede do grupo des- ção atorial, estética e ética. estreou em setembro de 2008, conjunto de sua obra. O espetá-
inserido em ambientes cênicos de 1984 e funciona como Escola Gerida de forma libertária durante o 15° Poa em Cena. O culo “Independência ou Morte!”
junto com os atores, quebrando de Teatro Popular oferecendo pelo Ói Nóis Aqui Traveiz, a espetáculo já foi apresentado em (1996) foi premiado no Festival
a divisão palco/platéia. diversas ocinas abertas e gratui- Terreira da Tribo se tornou peça São Paulo, no Rio de Janeiro, em Nacional de Teatro Isnard Aze-
Diante destas atuações, os tas para a população. Para cele- fundamental para o desenvolvi- Curitiba, em Brasília e em Salva- vedo de Florianópolis (SC).
artistas do Ói Nóis avaliam o te- brar este dia especial houve uma mento do teatro portoalegrense. dor (circulou, ainda, por 15 cida- Em 2008, o grupo recebeu
atro como instrumento de des- noite de comemorações na qual Várias das suas manifestações já des do interior do Estado, pelo os Prêmios Açorianos de melhor
velamento e análise da realidade foi lançado o sexto número da foram apropriadas pela cidade Sesc/RS). Atualmente, realiza cenograa e ator Coadjuvante
e entendem que sua função é so- revista “Cavalo Louco”, produ- como o Teatro de Rua, hoje com um circuito pelos bairros popu- por “A Missão – Lembrança de
cial, contribuindo para o conhe- zida pelo grupo. A programação vários grupos atuando regular- lares de Porto Alegre e região uma Revolução”. Neste mesmo
cimento e o aprimoramento hu- incluiu, ainda, a apresentação mente, e as ocinas populares de metropolitana. ano a Tribo recebeu, também,
mano. “A lógica do mercado não dos exercícios cênicos “A Comé- teatro desenvolvidas em diversos o Prêmio Shell na categoria es-
pauta as ações do grupo. Tendo dia do Trabalho” e “Aquele que bairros de Porto Alegre. PREMIADO pecial pela pesquisa e criação
31 anos de trabalho continuado, diz Sim/Aquele que diz Não”, Durante esses anos, o grupo coletiva e melhor trilha original
a Tribo recebeu apoio através da desenvolvidos através do Pro- ATUAÇÃO recebeu muitos prêmios com de Johann Alex de Souza de
Lei Rouanet nos últimos quatro jeto Teatro como instrumento Camilis, atuador do grupo, seus espetáculos. Entre eles: “A “Aos que virão depois de nós -
anos. Isto aponta para uma das de discussão social, atualmen- explica que, atualmente, a tribo Doméstica”(1985) e “Fim de Kassandra In Process.”

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