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Rafaella,

Existem alguns valores, na vida, que eu julgo serem sagrados. Um deles, no campo
dos relacionamentos humanos, é a lealdade. Lealdade como decorrência obrigatória de
parceria. Lealdade na acepção de honrar compromissos advindos dessa parceria. Lealdade
como absoluta cumplicidade. As suas atitudes, ao longo do tempo, demonstram descaso com
esse valor.
Um. Em maio de 2019 nós fomos juntos, em uma única barraca, para a Taça das
Baterias Universitárias. Nesse final de semana você me surpreendeu levando outro homem
com quem iria transar para dentro dessa mesma barraca. Da minha barraca. Resignado,
aceitei. Por amor.
Dois. Em junho de 2019, na cafeteria 89 Coffe Station, eu falei que te amava. Que
quereria ser o homem a estar ao seu lado sempre. Você disse que iria refletir sobre, durante o
subsequente mês de julho. Você disse que queria ficar sem me ver, pelo mês inteiro. Quando
julho passou, nós nos encontramos. Você sequer havia refletido sobre algo. Resignado,
aceitei. Por amor.
Três. Em setembro de 2019, nos fomos juntos ao InterBatuc. Depois desse final de
semana, tive rebordose. Passei uma das semanas mais difíceis da vida. Eu quis te ver, você se
negou. Eu fiquei sozinho. Resignado, aceitei. Por amor.
Quatro. Em outubro de 2019, apaixonado, eu te pedi uma coisa. Pedi que não ficasse
com um rapaz específico, apenas. Você me olhou nos olhos. Concordou e aceitou. Você
mentiu. Duas semanas depois, você me traiu. Beijou ele na minha frente, na QiB do Peru.
Resignado, aceitei. Por amor.
Cinco. Ainda em outubro de 2019, na Peruada, tive uma experiência horrível com meu
colega de apartamento. Eu estava ansioso, me sentindo mal. Quis ficar ao seu lado, mas você
se negou. Ficou ao lado do Lennon. Você terminou comigo, depois de ele perguntar “se você
não está com o Bichão só porque ele é um cara animado e mais experiente na faculdade do
que você”. Eu fiquei sozinho. Resignado, aceitei. Por amor.
Seis. Em novembro de 2019, no SuruBAISF, meu corpo doía de tantas saudade. Eu
chorei no ombro de todos, e você viu. Mesmo assim, você foi transar com o Hansen, que eu
acreditava ser meu amigo. Ainda ficou praticamente os dois dias junto ao Lennon. Resignado,
aceitei. Por amor.
Sete. Entre novembro de 2019 e janeiro de 2020, você ficou com o Lennon. Foi à casa
dele enquanto eu estava com os meus melhores amigos em Araras, onde tive alucinações
pensando em você. Quando eu te questionei, você olhou no fundo dos meus olhos. Você
mentiu. Disse que, quando foi à casa dele, não imaginaria ficar junto com ele naquela noite.
Resignado, aceitei. Por amor.
Oito. Em janeiro de 2020 nós combinamos que não iríamos ficar com outras pessoas
no mesmo rolê. Você mentiu. Estávamos os dois no Campo do XI. Você pegou um cara pela
mão, levou-o da churrasqueira do quiosque novo até a frente da quadra, onde estava escuro.
Você o beijou na minha frente. Resignado, aceitei. Por amor.
Nove. Em abril de 2020, estávamos no meu carro. Você, sequer dirigiu a palavra a
mim durante todo o trajeto entre a casa da minha mãe e o meu apartamento. Saiu do carro
com pressa e passou com a sua mala em um monte de cocô. Depois de sairmos do elevador do
prédio, você se recusou a limpar, não olhou para mim e escolheu fazer suas tarefas
acadêmicas. Eu limpei a mala sozinho. Resignado, aceitei. Por amor.
Dez. Em maio de 2020 nós escolhemos fazer um rolê sigiloso. Você estava animada e
curtindo. Bebeu bastante, e também dançou. Quando a bateria descobriu, nossos amigos
decidiram fazer uma nota em conjunto. Você rejeitou o grupo. Você fez sua própria nota,
dizendo que estava quarentenada comigo. Dizendo que nunca tinha concordado com o rolê.
Você mentiu. Para se eximir da culpa, não pensou duas vezes ao me sacrificar - foi totalmente
automático.
Não mais ficarei resignado. Não sei se vou aceitar esse episódio. Certamente não
aceitarei mais nenhum acontecimento assim no futuro.

Peço que, antes de continuar a ler o resto dessa carta, entenda algo que eu tenho a lhe
dizer agora: se você discorda da descrição dos fatos que eu fiz nos dez pontos anteriores,
significa que o nosso relacionamentou chegou ao fim. Significa que nós temos uma
compreensão tão distinta da realidade que é insustentável querermos partilhar uma
convivência como namorados. Significa que vivemos em mundos diferentes. Significa que
você não enxerga respeito, lealdade e cumplicidade da mesma maneira que eu. Significa que
eu não tenho mais nada a lhe dizer.

Caso você concorde integralmente com os fatos que descrevi, passarei à segunda parte
da carta.

Rafaella, eu estou exausto. Cansado de atitudes egoístas, cansado de falta de


consideração, cansado de falta de carinho, cansado de falta de sexo, cansado de não me sentir
amado. Estou cansado de ser colocado em segundo plano. Eu estou cansado de permanecer
preso em um ciclo de rejeição no qual você constantemente se afasta e foge enquanto eu tento
me aproximar mais.
Estou cansado. Estou cansado de contar histórias e coisas divertidas enquanto você
permanece em silêncio sem dar uma resposta atenciosa. Estou cansado de ter uma namorada
que nunca na vida sequer me dirigu a palavra me chamando pelo nome que eu tenho.
Sinceramente, não sei se estou pronto para te perdoar. Não aguento mais atitudes egoístas,
frias e desrespeitosas. Eu cheguei ao meu limite. Preciso pensar mais sobre e refletir.
Contudo, se nós formos permanecer juntos, as coisas não serão como foram até agora.
Elas serão diferentes. Você me respeitará como eu mereço. Será carinhosa, atenciosa, e me
chamará pelo meu nome - da mesma maneira que eu sempre fiz e faço até o dia de hoje.
Se formos permanecer juntos, nós teremos um namoro construído com base em amor,
em respeito, em sexo, em carinho e em amizade, necessariamente. Não faz sentido para mim
um relacionamento que não tenha todos os elementos que citei.
Espero, do fundo do meu coração, que consiga entender o que penso e a gravidade das
palavras que coloco no papel.

Sinceramente,

Caio.

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