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Samuel Silva S.

Buel

O SONHO DE UM PASTOR

2021
Dedico esta obra a meu pai, Sr. Mariano Costa dos Santos de quem
aprendi os reais valores da vida
Sumário
CONSIDERAÇÕES INICIAIS ..................................................................................................................... 5

O CONVITE ......................................................................................................................................... 13

SENSO DO DIVINO ............................................................................................................................. 20

A RESISTÊNCIA DO VASO..................................................................................................................... 26

PASTOR NÃO É DE FERRO ................................................................................................................... 32

DOMINANDO O EGO .......................................................................................................................... 43

DORMI E SONHEI ................................................................................................................................ 53

A SEGUNDA PARTE DO SONHO ........................................................................................................... 82

MINHA RELAÇÃO À DOIS..................................................................................................................... 97

O CHACOALHÃO ............................................................................................................................... 121

UMA QUESTÃO DE CONSCIÊNCIA ..................................................................................................... 135

O PREÇO DO TEMPO ......................................................................................................................... 137

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................................. 143


CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Ao olhar para o espelho, Martins, se vê na forma de ovelha

sendo ao mesmo tempo pastor. Tentar ultrapassar a fronteira que

divide seu ser e o dever ser como um sendo no mundo dos desafios,

provocou-lhe tacitamente um senso sutil de desânimo. O reflexo no

espelho, revelou sua verdadeira face. Seu ser objetivo em contraste ao

seu ser exigido pela convenção, pelos ditames, pelas regras de

conduta, o estatuto, as doutrinas da igreja, somados as normas de

etiqueta e os modos de posicionamento sociais com vista à tão

famigerada ética pastoral.

Curiosamente, a imagem refletida não perpassa o ser da

imagem em que o verdadeiro ser humano ali, bem em frente do “vidro

espelhar”, se percebeu de modo nu, real. Na esteira de sua factível

condição de ser tão frágil como os demais mortais. A credencial e as

vestimentas pastorais não o transformaram em pastor. Nem mesmo a

bíblia que ele carregou na mão e a leu todos os dias o definiu como

tal. O chamado pastoral é muito mais profundo, sublime e divino.

Deveria estar focado no querer de Deus e não em seu próprio querer?

Quebrar a barreira que o impedia de atingir o episcopado e a que o

limitava de exerce-lo com cadência e dignidade na prática, foi um


desafio deveras intrigante, posto na linha tênue de sua dorsal

subjetividade.

Toda a roupagem exterior construída na beleza de sua

reputação assimetricamente ao estado objetivo de seu coração, o levou

a punir a si mesmo, dado a percepção clara do contraste entre seu

desejo e sua práxis episcopal. Observar por um prisma técnico

analítico o comportamento de Martins, nos possibilitaria o cogitar dos

fenômenos psicológicos característicos e presentes em cada um de

nós, que podem, nos impelir a romper o vínculo com o amor divino em

virtude do “sentimento de poder” e “status quo”, como se pudéssemos

sobrepujar factualmente nossa humanidade. Ou seja, a credencial não

retira de mim minha humanidade, apenas me confere o senso de uma

maior responsabilidade em me manter humilde em face do dever ser e

sobretudo do dever fazer pelas causas do reino. Sacrificaria a própria

família?

O discurso literal aqui resumido, analisa o pastor em face do

lema de se ver a si mesmo como instrumento de Deus por meio do

gerenciamento de sua condição latente. De sua posição de

representante, que representa pelo “argumento sólido”, o testemunho

vivo dos seus páreos que sentem na pele e no coração, o peso

subjacente do chamado tão espinhoso e ao mesmo tempo glorioso.


Daria a vida pela missão sem considerar outras situações tão

presentes em sua luta diária e que se tratavam de questões tão

importantes quanto?

São milhares desse perfil que estão neste exato momento a

olhar para o espelho e a se questionar: quem sou eu? Uma multidão

de Martins da vida, na vida se pergunta: valeu a pena? Baseado em

fatos concretos, a psicologia eclesiástica do autor, nos convida a esta

reflexão, na qual, Martins teve de constatar o fato de ter de pastorear

a si mesmo antes de pastorear os outros, carentes de paz amor e

salvação. Martins alimentou seu anseio o qual se transformou em

desejo no enredo factual de sua existência.

Como persona central e portador de uma psicologia icônica,

desdobrou-se num movimento de busca pelo divino, tendo de lutar

contra seus algozes que na realidade não estavam fora mas dentro

dele mesmo. A princípio, se queixa de ser uma vítima indefesa dos

“ataques vindo de fora”. Depois, empreende uma batalha com vistas a

demonstrar suas razões e justificativas de sua inocência honesta e

dolo social impecável. Só tardiamente, cai em si e se percebe

finalmente como culpado direto do desastre “construído” com suas

próprias mãos, apesar de ter sido uma pessoa intelectualmente bem

preparada para condutas assertivas em sua vida. O desfecho da


narrativa, traz a baila o fato da inteligência do representante ser

bastante assimétrica às suas habilidades de autocontrole e

inteligência emocional.

Martins, reflete a realidade vivida por muitos obreiros dos quais

é exigido atitude exemplar. Os dizeres aqui delineados se desdobram

e vão na esteira da psicologia de uma grande parcela dos obreiros

chamados, ungidos e comissionados a obra do evangelho, e que não

podem evitar o desafio característico da missão: Luta incessante.

O texto, corresponde o resultado de muitas conversas que tive

com outros líderes de diversas denominações. Testemunhos e fatos

reais, vividos por muitos desses pastores. Dessas interações, procurei

resumir neste opúsculo, elementos, experiências, vivencias, crises

existenciais, dramas familiares e desafios ministeriais vários, através

da vida do pastor Martins. Alguns nomes e lugares são onde parte dos

“fatos ocorreram”, outros, porém, foram “compostos” a fins de facilitar

a construção da narrativa tendo em vista o entendimento das citações

em termos literais.

Algumas expressões “fortes”, marcadas por episódios

dramáticos e vivenciados por muitos desses obreiros, demonstram

que, atingir o episcopado e exerce-lo na prática, não é, nem de longe,

tarefa simples ou fácil como alguém queira cogitar. Tendo em vista


preservar a integridade moral, pessoal e familiar de alguns dos

expoentes, me cerquei de reservas de cuidados durante o processo da

construção do texto, no sentido de salvaguardar a privacidade dos

contatados.

Posto nestes termos, a presente narrativa refere-se a

testemunhos vivos e compostos que se desdobram numa só estória,

mas que traz na sua essência, o que é a vida de um pastor na prática,

não apenas, mas especialmente o que acontece quando alguém toma

para si, a obra de Deus como se fosse propriedade privada. Fatores

psicológicos com farto peso emocional, em assimetria as demandas do

dever ministerial, põe o líder a se “ver numa corda bamba”, altamente

dependente da graça de Deus.

Martins, começa bem, mas num dado momento, deixa-se levar

pelo perfeccionismo e sentimento de poder social sobre os outros em

função de sua posição diferenciada. Os fragmentos da história real

contados nas páginas do livro, vai de encontro com a subjetividade

desse pastor, o qual, depois de tudo, desenvolveu seu principal sonho,

mas desta vez, foi um sonho estando ele inteiramente acordado!

Neste trabalho, não vou me ater muito no que refere a minha

vida comum em termos subjetivos, mas sim “ao fator forte”, que me

fez trilhar caminhos fundamentais, por meio dos quais, foi deveras
alterado meu modo de pensar, agir e viver. As abordagens delineadas

nesta obra não é de caráter doutrinal, não tem por prerrogativa

central, a citação de uma enorme lista de ordenação ético moral, nem

tão pouco induz sutilmente o (a) leitor (a) e/ou ouvinte do texto, a agir

em consonância aos ditos do mesmo.

A narrativa nos termos dos dizeres desta reflexão, é um convite

a interrogação do “eu”- “ego”, como sujeito de desconstrução do seu

próprio ser ordinário em direção às possibilidades de renovação de

vida, propósitos mais elevados e nobres. Não tenho e nem pretendo ter

a audácia de te dizer o que tens de fazer ou não no que tange a vossa

vida ministerial e pessoal. Apenas, peço licença para comunicar as

ações de Deus, intervindo na minha subjetividade. Quais os critérios,

cenários e ferramentas que moldaram minhas perspectivas sobre meu

passado, presente e futuro, e o que me levou às práticas para um novo

olhar sobre o mundo envolto em suas múltiplas formas de

manifestações se ocorrências mil? Qual força ou poder me induziu a

renunciar minhas vontades particulares, pondo em meu peito o desejo

ávido de ir ao campo missionário mesmo em meio a dor e os descasos

desdenhosos dos outros que não eram minha família de sangue?

Porque me lancei numa batalha espiritual, deixando de viver

minha vida normal-natural bem como resolver muitas de minhas


demandas pelas forças de meu braço e conhecimento intelectual?

Estaria eu, nesta nova trajetória a perder meu precioso tempo ou todo

o esforço despendido valeria a pena? Atalhos existem. No entanto,

dependendo do que se trata e/ou das questões envolvidas, atalhos não

são bem vindos! Sobretudo se a alma realmente deseja a autêntica

metamorfose de seu ser em direção ao novo ser. Eu não poderia andar

em novidade de vida sem antes fazer morrer minha velha vida, a qual,

estava mergulhada e por demais saturada do que é comum - ordinário-

natural. Obviamente não iria me desumanizar neste processo. Não

obstante, pude constatar como testemunha viva, como me tornei um

ser humano melhor, um pai mais presente e compreensivo, um marido

mais atencioso, cordial e mais comedido, especialmente depois das

duras experiências vividas no “vale das lágrimas”.

Imagine você ter de se fazer de forte sem ser? Ter de lidar com

o descrédito de sua própria família da qual deveria advir o carinho do

apoio e compreensão lhe conferindo ao menos, o senso de sentir o

conforto das pessoas próximas a você nas horas mais difíceis de seu

episcopado, mas que ao contrário, ignoram o que Deus tem com você?

Este livro vai tratar de um homem chamado para o ministério

e vivia como se todos os dias tivesse que comer o “pão que o diabo

amassou”! Do ponto de vista prático, havia uma fissura gigantesca


entre seu ministério e sua vida! Parecia ter todos os motivos e mais

um pouco para largar o cajado e ir fazer outra coisa que não tivesse

nenhuma ligação com vida pastoral. Por fim, o que o levou a superar

a si mesmo e não dar bolas para a dor e o desdém dos outros, e, quais

as condições que o impeliu a se tornar mais forte ainda no lugar de

desistir de vez? Este livro revela a face de um líder que era “o

sofrimento em pessoa”, não apenas, mas principalmente como ele

conseguiu converter tudo isso em vitória!

Boa leitura!
O CONVITE

Lembro-me como se fora hoje. Eu estava em minha inseparável

cadeira de balanço lendo um livro sobre gerenciamento de dados. O

relógio marcava 13h. Eu havia terminado de almoçar. Tudo o que eu

queria era apenas ler o livro, aproveitando aquele silêncio da sala, que

dava ao ambiente, um “certo ar” convidativo a alma a se lançar na

esteira da concentração necessária à absorção do conteúdo, cujo

assunto me pareceu bastante impar e de uma singularidade voraz.

De fato me concentrei. Algum tempo havia se passado. Ali,

naquele mesmo lugar, meu ser mesclou-se às letras impressas

naquelas páginas espessas e de um bege áspero, vigoroso. Foi como

se tivesse retornado de outra dimensão, quando o dito silêncio com a

concentração evaporaram-se pelo tocar do som do telefone. Quem

estava do outro lado da linha? Peguei o telefone. Era um jovem

querendo me vender um plano de saúde. Minha concentração havia

“ido pro ralo”. Coloquei o telefone no gancho, retornei a minha cadeira

de balanço de modo a tentar dar continuidade a leitura.

Na pressa, me esbarrei numa pilha de outros livros que estavam

sobre minha mesa de trabalho. Obviamente tive que me agachar para

pegá-los. Não pude deixar de ver entre os exemplares esparramados


pelo chão, um pedaço de papel um tanto amassado. Desamassei o

papel. Lembrei-me de que se tratava de uma frase que um pastor

amigo meu havia escrito por ocasião de um culto em Taipas – SP. A

frase ali expressa trazia o seguinte teor: “pastor não é de ferro

simplesmente pelo fato de pastor também ser gente”! Fiquei por alguns

instantes olhando aquela expressão. Atentei para o formato das letras

escritas à caneta.

Percebi, mais atentamente, que eram letras feitas com o punho

do sofrimento, como quem estivera a exprimir emoções fortes, como

alguém que se esforça para sorrir por fora tendo ao mesmo tempo o

coração aos pedaços. Me emocionei. Eu conhecia o pastor. Ele foi uma

pessoa que muito me ajudou com seus conselhos práticos,

especialmente no início de meus trabalhos literários. Pastor e Miss.

Fernando Péres Vargas. Confesso que não mais consegui dar

continuidade a minha leitura sobre gerenciamento de dados.

Minha mente se fixou na frase do pastor. Fiquei exausto.

Adormeci. Sonhei “um sonho forte”. “Sonho eclesiástico”! Alguém me

pedia para escrever seu testemunho. Como relatar o testemunho de

alguém que estava em meus sonhos? Se se tratava de sonho então não

era real certo? Mas será que existe mesmo uma separação radical

entre sonho e realidade? Será que Deus queria me dizer algo para
compartilhar com outras pessoas a respeito de seus propósitos mais

notórios, ainda mais considerando que grande parte do que sonhei

veio de modo bem claro e significativo em minha mente!? Não sei

exprimir com singelas letras, se se tratava de uma revelação, ou se foi

o resultado do “peso da comida no estômago”. Adormeci na cadeira.

Pelo visto foi um sono profundo.

Não posso precisar em qual momento do meu sono que me

vieram sonhos estranhos, porém, muito próximos da realidade. Ouvi

claramente o tocar do telefone. Eu estava dormindo. “Quem estava do

outro lado da linha? Peguei o telefone. A voz, mesmo meio trêmula e

rouca, vinha de um espírito gaguejante. Voz inconfundível. Pr.

Martins. A princípio achei estranho aquela ligação. Não era comum

receber telefonemas, ainda mais em se tratando de um pastor muito

ocupado com seus afazeres. Aliás, o pastor Martins não tinha muito

tempo para dar conta das inúmeras responsabilidades a ele

conferidas, de modo que, conforme ele mesmo dizia, tinha de fazer

“malabarismos”, de modo a encontrar tempo além do tempo, tendo em

vista cumprir as tarefas, muitas das quais eram de difícil resolução.

Me vi lisonjeado, confesso que sim, aquela ligação muito me alegrou.

De uma coisa não pude calar, dado que meu espírito curioso

ão hesitou em perguntar: pastor Martins, a paz do Senhor Jesus!


V.S.ª parece estar gripado estou certo disso? Se eu estivesse

gripado seria menos mal, na verdade, estou ansioso para você poder

registrar em folhas brancas meu testemunho! Testemunho? Registrar

um testemunho em folhas brancas... como assim pastor não entendi!

Quero lhe convidar a escrever um livro tratando de parte de minha

estória de vida ministerial e familiar, no sentido de ajudar outros

líderes de ministério cristão, através desta reflexão, não procederem

conforme eu procedi, não pensarem a causa de Cristo como

propriedade privada e/ou particular, mas sim como uma missão que

começa de dentro para fora. Eu até que comecei, continuou Martins,

mas de modo equivocado. Por isso, hoje o choro e o soluço me

acompanham.

Meu olhar ainda vê de modo vazio. Minha face ainda se revela

pálida e minha voz se expressa um “bocado” rouca. Então, gostaria

que viesse em minha casa para que eu possa lhe comunicar em

detalhes pesados e pormenores singulares esse testemunho, o qual,

creio que vai ser de muita valia na vida das pessoas que o ler. Vou lhe

fazer ciente de situações difíceis que envolvem a mim, minha família e

meu ministério. Vou lhe solicitar algumas ressalvas no ato da escrita

é claro, pois não pretendo e nem tão pouco quero ser o sujeito ativo

da intensificação de meu próprio sofrimento nem da minha família a


qual amo, muito mais agora do que antes. Afinal, uma das premissas

fundamentais da ética pastoral é não fazer pesar sua própria cruz nos

ombros dos outros!

Não obstante ás ressalvas requeridas, não vou hesitar em

tornar público o essencial, isto é, fazer constar em letras e/ou por meio

delas, o que acontece quando a gente é ungido, chamado,

comissionado, solicitado mas que não observa com um olhar mais

honesto, em que bases estão sendo edificados nossos “edifícios” e

principalmente nosso comportamento durante o processo construtivo

da vida pessoal, social e cristã.

Antes que o pastor Martins terminasse a fala, fiquei pensativo.

Então, pedi que ele me desse um tempo para pensar. Ele retrucou:

pense logo meu amigo... pois, amanhã poderá ser muito tarde! Por

favor, amigo e irmão em Cristo, eu lhe peço para registrar em letras

parte de minha vida pregressa, não demore muito em me responder,

pois, não quero ser sepultado antes de ter registrado o que tenho a

dizer, principalmente a liderança evangélica do Brasil e do mundo.


“Poderia eu admitir minha culpa. Para isso, teria de fazer o que

teria de ter feito muito antes que as coisas chegassem a esse ponto. Ter

desenvolvido o senso de humanidade. Se o perfeccionismo se fez

presente em mim, então, me vi por isso mesmo, lançado no caminho da

imperfeição, da qual, não poderia sair nem tão pouco posso. Afinal, a

vida é essencialmente problemática. O “modi operandi”, satisfatórios e

razoavelmente práticos seria ser prático! Ou seja, não tentar “consertar

o mundo”, e sim, administrar melhor as situações e conflitos do dia-a-

dia. Se eu quisesse ser uma pessoa melhor no mundo de meus

relacionamentos pessoais, precisaria mudar urgentemente meu quadro

interior”.
“Então, pensativo, perguntei ao ser que comigo estava: quando afinal meus
sonhos serão realizados? O ser me respondeu: Não te preocupes em demasia
com teus sonhos enquanto dormes, te concentre muito e muito mais, e, com
todas as forças que tens, com teus sonhos reais enquanto estiveres
existencialmente acordado!”
SENSO DO DIVINO

Quando criança, meus pais me levavam à igreja. Nas muitas e

muitas aulas dominicais, ministradas por professores amigos e

irmãos, dos quais, muitos deles ainda vivem na região onde morei no

extremo leste de São Paulo. Aprendi bastante. Eu queria aprender

ainda mais!

Eu achava maravilhoso o modo como o líder da congregação

pregava. Unção, “fogo puro”! Meu pastor, como sempre, expunha a

palavra de Deus com esmero pericial, cadência, coerência,

inteligência, sabedoria e eficácia no Espírito Santo. Eu queria ser como

ele! Minha mãe havia comprado uma pequena bíblia para mim. Bíblia

simples, “da capa verde”, ainda a tenho disposta na minha estante, as

páginas bastante surradas, é verdade, contudo, não nego que tenho

um apreço e carinho bastante singular e significativo por ela. (Vers.

JFAC – 1948)

Hoje, se você vir aqui na minha casa, irá encontrar mais livros

do que móveis! Só de bíblia tenho cerca de 25 exemplares, umas seis

delas são em outros idiomas. Inglês, Espanhol, alemão, francês, grego,

hebraico, latim e mais pilhas e pilhas de livros de vários estilos e

gêneros literários. Sempre mantive a informação de que é Deus quem


capacita seus obreiros. Uns anos mais tarde, percebi que não bastava

ter o desejo de pregar, ainda que eu estivesse cheio do Espírito Santo!

Eu precisaria conhecer a bíblia de modo o mais profundo

possível, inclusive estudar as línguas originais do texto sagrado. Dito

isso, não via a hora de chegar a oportunidade ímpar de finalmente me

matricular numa escola de ensino bíblico-teológico, a fim de

mergulhar com alma e paixão, naquele universo do qual e não

pretendia sair tão cedo. Minha mãe, infelizmente, não teve boas

oportunidades de estudo, pois, o lugar onde morou era um sítio e a

escola mais próxima ficava cerca de 9 km de distância. Além disso, os

pais dela não dispunham de recursos que fossem suficientes e que

viabilizasse uma educação decente para ela.

Mamãe passou uma boa parte de sua vida trabalhando no

campo antes de se casar com papai. Aliás, foi meu pai quem a ensinou

a soletrar e aprender algumas palavras. Hoje ela lê alguma coisa, mas

ainda com relativa dificuldade. De vez em quando, no calor de meus

pensamentos mais nostálgicos, me aparece as imagens das

lembranças do dia em que comuniquei à mamãe que pretendia fazer

um curso teológico. Ela olhou para mim de jeito sério, percebi uma

visível preocupação estampada em seu rosto. Você tem certeza que

isso vai dar certo Martins? Respondi que tinha certeza absoluta. Ela
devolveu da seguinte forma: “certeza absoluta só existe uma e ela tem

um nome : Deus”!

Embora mamãe não nutrisse muita simpatia com esse meu

desejo de estudar mais a fundo o texto sagrado, pelas vias da exegese

e hermenêutica, e, talvez, ela estivesse pautada no versículo que diz:

“a letra mata”, algo movente em mim me forçava a alimentar cada vez

mais a aspiração e inspiração com vistas a esse propósito.

Desde meus doze anos de idade passei a ler a bíblia com mais

frequência. Porém, muitos textos bíblicos me vinham como se

estivessem trancados dentro de “caixinhas de segredos” de modo que

me escapava, muitas vezes, o sentido e/ou significado daquelas

palavras. Apesar disso, não desanimei, dado as dificuldades que eu

encontrava do ponto de vista da interpretação das mensagens que eu

lia. Hoje em dia, me vem à lembrança essas coisas. Muitos dos textos

que me apareciam por demais obscuro, hoje, já estão delineados e bem

esclarecidos dentro do meu coração. São incontáveis os muitos

equívocos que me afetaram naquela época em virtude do peso da

ignorância bastante presente em meu ser, o qual, nitidamente ainda

estava em processo de formação.

Tenho muito o que aprender ainda é claro, afinal, o

conhecimento é vasto e profundo! Agora, muitas opiniões que me eram


aceitas e válidas e que faziam parte integrante do de meu cabedal de

conhecimentos sobre as coisas naquela época, já não mais se aplicam,

nem tão pouco servem como referenciais no que tange minhas

tomadas de decisão na vida hoje. “Quando eu era menino, falava como

menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que

cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.” (1 Cor. 13:11)

Isso não significa, contudo, meu ato ou efeito de denegrir ou

ridicularizar o que me era peso opinioso sobre as situações da vida,

da religião, da igreja nem da bíblia. Afinal, eu estava saindo da pré-

adolescência! Aquele meu modo tortuoso de ver o mundo e conceber

as ideias sobre o mesmo, na verdade foram degraus da escada dos

processos dos atos fragmentados do conhecer em direção ao

conhecimento mais elaborado. Todo escritor que escreve bem, com

estilo e beleza começou escrevendo de modo tortuoso!

Todo perito sério, chegou a perícia pela dinâmica da observação

atenta dos fenômenos e causas que determinaram uma dada

ocorrência. Uma das melhores maneiras de lidarmos com o saber do

presente é respeitando as opiniões do passado, pois, foram matrizes

que, mesmo caóticas, viabilizaram e impulsionaram as condições

necessárias para o desenvolvimento e consequentemente o robustecer

do conhecimento. Não por acaso, uma das máximas da pedagogia é:


Você aprende mais e melhor fazendo! Muitos jovens e também adultos

mais velhos ficam fascinados no que refere a vida ministerial de um

pastor.

Por isso, se entregam de coração aos estudos, teologia, se

consagram, oram e inclusive alguns deles, chegam até mesmo a

estudar no exterior, como se houvesse um certo “status quo” ou uma

espécie “glamour“ chegar a posição de ministro do evangelho. Um fato

curioso, é que, não poucos aspirantes a esse cargo, quando realmente

estão atuando na área, ficam frustrados por perceber que “status” e

“glamour“ ficam bem distantes, devido, o pesado senso do dever bem

como dos desafios que surgem pela frente, levando o novo ministro, a

“ter de por o pé no chão” e se conscientizar de que, “ a coisa é bem

mais séria do que se pensa”!

No fundo, pastorear não é para quem quer e sim para quem é

chamado! Saber lidar com pressões que vem de fora, estar apto a fim

de contornar situações desagradáveis que podem surgir no meio da

comunidade, ser capaz de se auto liderar primeiro antes de liderar os

outros bem como estar disposto a desenvolver o gerenciamento das

próprias emoções de modo a “evitar que o círculo pegue fogo”! É

verdade que, mesmo se uma pessoa não tiver nenhuma predisposição,

talentos, nem perfil para liderar ministerialmente, mas vir a


desenvolver significativo desejo a esse fim, é possível sim, que ela

possa alcançar tal feito. Afinal, a graça de Deus é abundante e ele usa

quem ele quer para a glória e louvor Dele!

“Levanta-te, e desce à casa do oleiro, e lá te farei ouvir as minhas palavras. E desce à casa
do oleiro, e eis que ele estava fazendo a sua obra sobre as rodas, Como o vaso, que ele fazia de barro,
quebrou-se na mão do oleiro, tornou a fazer dele outro vaso, conforme o que pareceu bem aos olhos
do oleiro fazer. Então veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: Não poderei eu fazer de vós como fez
este oleiro, ó casa de Israel? diz o Senhor. Eis que, como o barro na mão do oleiro, assim sois vós na
minha mão, ó casa de Israel. (Jeremias 18:2-6 )
A RESISTÊNCIA DO VASO

Sonhar é viver e viver é sonhar. A vida começa quando se

começa a sonhar. Intuir, imaginar, arquitetar, planejar, ter vontade

de, desejar e fazer acontecer. Permitir que o espaço e o tempo tomem

parte desses processos todos, nos quais, o ato de vontade verdadeira,

eleva a potência do espírito ávido por mudança, a formar e organizar

ideias em prol de uma causa , de uma bandeira, de uma cidade, de

um país indo ao encontro dos objetivos pela formação das condições

disponíveis e necessárias aos ideais propostos. Todo ser humano em

condição normal traz em si o fenômeno da capacidade de sonhar! A

criatividade com significativa dose de emoção, dá as mãos a

imaginação do coração bem como asas as possibilidades do

pensamento. Abrir o pensamento para a vida, corresponde a nutrir o

pensamento de vida, pois, a vida é dinâmica, bela, singular, única e

indefinidamente caríssima! Quem não sonha não vive e quem não vive

está morto! ( pois há mortos vivos que pensam estar vivos mas na

verdade estão mortos!).

Se um ser vivente, portador das condições normais de

pensamento e emoção, não estiver disposto a dar sentido e significado

a sua subjetividade, é porque tem o direito de fazê-lo devido ao peso


subjacente do fator liberdade. Liberdade é a instância que não nos

condiciona por antecipação ao dever ser e/ou ter de fazer

compulsoriamente isso ou aquilo. Diferentemente disso, nos confere a

possibilidade da escolha!

Na bíblia tem um versículo cujo teor é muito forte: “O homem

se queixa de seus próprios pecados”! É verdade que muitas

circunstâncias negativas nos afetam de modo imprevisível. Porém, é

inegável que boa parte de nossas dores, derivam de escolhas dúbias,

fortuitas, impensadas as quais acatamos ou por luxúria, vaidade e até

mesmo por uma certa cota de preguiça de modo a sopesar os prós e

os contras de nossas decisões.

No fundo, o que a gente quer é atingir um estado de bem estar

por meio da realização do que queremos para nós e/ou para nossa

família. Queremos ser felizes! Agora, imagine um homem que passou

grande parte de sua vida à procura da felicidade, empreendeu muito

esforço, suou a camisa, “comeu o pão que o bicho amassou”, e depois

de muitos anos se deu conta de que a felicidade sempre esteve do lado

dele e ele não sabia! Tem um ditado que diz: ‘a gente só dá valor às

coisas quando perde’ ( Isso é verdadeiro quando falta energia por

exemplo).
Existe um termo grego o qual traz a seguinte composição:

“eudaimonia”. Não tem nada haver com demônios! Eudaimonia quer

dizer felicidade. E quem não quer ser feliz? Bem, felicidade é, em

termos filosóficos muito abrangente, tem diversas conotações,

inclusive podemos nos deparar com situações que são inóspitas e

degradantes para nós, porém, são causas de felicidade para quem as

vive!

Dependendo da situação, o que é razão de tristeza para mim

pode ser razão de alegria para o outro, e do contrário é procedente

idem. Talvez eu tenha feito confusão entre minhas vontades

particulares em contraste àquelas de ordens mais complexas e

profundas. O que eu pretendia no decorrer prático de minha vida não

casava com meus sentimentos e pensamentos mais descolados de

mim, como se meu querer me desobedecesse e me empurrasse às

outras vias, as quais, curiosamente eu desconhecia de todo. Isso foi

impactante! É muito fácil quando interagimos com um outro ser

humano. ( Não tão fácil quanto parece) Contudo, é demasiado

profundo e intrigante quando interagimos com Deus!” Ver o mundo

em cima do pico do monte é diferente de querer ver esse mesmo mundo

estando ao pé do monte. Episcopado significa lugar alto.


Para atingir o episcopado é preciso subir em termos de ter de

escalar a montanha em meio a situações grotescas, inóspitas e não

poucas vezes ferrenhas a ponto de desejarmos desesperadamente

parar! Paulo, o apóstolo, salienta que se alguém deseja o episcopado

excelente coisa deseja. De fato, coisa excelente é; mas “cousa quente

idem”! Colocar uma coisa quente nas mãos de quem não tem o

chamado e não está preparado para tal seria indubitavelmente letal.

Creio que você pode imaginar a aflição que é segurar uma batata

quente nas mãos. Todo seu pensamento vai girar em torno de: “tenho

de soltar essa batata”!

A lógica é simples: porque eu teria de queimar minhas mãos?

Lance agora teu pensamento no vaso passando pela fornalha. Depois

de pronto, coloque nele quantas batatas quentes você quiser e espere

uma reclamação sequer. O vaso vai transformar as batatas em purê

de batatas sem reclamar, pois ele está preparado para o exercício

prático de sua missão! Só vai para o fogo vaso útil! A metáfora da

“batata quente” e os trocadilhos “descascar pepinos e abacaxis”, me

força a necessidade de ter de ser um vaso forte o suficiente para

resistir altas temperaturas sem trincar e muito menos rachar. Mas

seria eu tal vaso? Será mesmo que durante todos esses anos servindo

no altar me mantive intacto e não deixei vasar o óleo da unção que


sobre mim foi disposto graciosamente por Jesus? Longe de mim ser

cúmplice e muito menos autor de minha miserabilidade espiritual em

não dar conta do recado! Onde retirar o índice adequado e/ou nível de

potência espiritual prática de um coração mergulhado em dúvidas

sarcásticas as quais não poucas vezes tinham me visitado sobretudo

nas caladas das muitas e muitas madrugadas da vida ondular a mim

divinamente concedida?

Constar tacitamente em mim mesmo, a fraqueza débil e

debilitante, era perceber o ser humano que sou tão carente e

necessitado do apaziguamento de alma e espírito, ao mesmo tempo,

identificar idem, no seio de tal fraqueza, a constante, inigualável e

doce voz... não pare! De rosto sereno, aparentemente calmo e

tranquilo, sendo forçado a me segurar por dentro a fim de não ser

causador inconsequente de explosões destruidoras das almas ávidas

por paz, luz, vida e amor. Percorrer os caminhos áridos do processo

introspectivo a fim de dominar meus instintos mais abrasivos, era

como me ver numa prancha de surf, sem contudo, saber surfar as

enormes ondas da vida com destreza e eficácia.

Não obstante a isso, me vi desafiado a isso. Ou seja, aniquilar

o “eu” em prol do “theos”. A igreja constitui a noiva do cordeiro do

ponto de vista espiritual. Ao mesmo tempo, a igreja enquanto corpo


físico tem peso social e cível. Ou seja, lidamos com diversas

personalidades dentro do mesmo corpo. E neste processo, muitas

vezes temos de nos policiar a fim de praticarmos a empatia no sentido

de mantermos a mais estreita convivência possível dentro desta

comunidade. A oração, a fé, associada a uma inteligência espiritual

necessária, nos confere maior embasamento neste processo.

Gostaríamos sim, que as coisas fossem mais fáceis, porém, o mundo

é essencialmente problemático.

Enquanto estivermos aqui neste tabernáculo ambulante não

temos como fugir! Em contrapartida, temos a possibilidade de

usarmos as ferramentas de Deus de maneira que, com mais destreza

e eficiência, possamos lidar com os diversos conflitos os quais vez por

outra surgem no meio da caminhada cristã.”


PASTOR NÃO É DE FERRO

Debruçar-me-ia diante da fúria do adversário o qual desejava

com todas as ânsias me engolir por inteiro tão somente por causa da

promessa que sobre mim repousava mesmo antes de eu nascer ? Se

assim eu fizesse, então tudo o que Deus havia reservado para mim

passaria como uma folha em branco! Sinceramente, eu não queria ser

“tal folha em branco”! Isto é, não queria de jeito algum passar por essa

via dos sentidos existentes, sem viver na pele o peso da

responsabilidade e, ao mesmo tempo, o sentimento da presença

graciosa do pai das luzes me confortando a cada dia apesar dos

pesares. Vez por outra, eu acordava de madrugada e os pensamentos

se sacudiam dentro de mim literalmente, mostrando-me as imagens

de pessoas, as quais, eu sabia que por mim não nutriam a menor

simpatia sequer. Ao contrário, queriam me ver destruído, pior que

isso, algumas delas desejavam a minha própria morte! E o mais

interessante é que muitas dessas pessoas conviviam comigo,

participavam da ceia do Senhor, comiam o pão e bebiam o cálice,

símbolos de nossa salvação. Mas Deus me pediu calma, paciência e

silêncio. Confesso que às vezes meu corpo fervia e eu queria mudar

aquele cenário real com minhas forças.


Confesso, ainda, que depois de vários anos servindo no

ministério santo, pensei em parar. Vozes estranhas zumbiam dentro

de mim dizendo: é melhor você colocar uma bermuda e um chapéu de

palha e ir pescar no rio ao invés de ficar pescando almas no mundo.

Assim, pelo menos os peixes seriam como terapia e também como

alimento. Afinal, gerenciar os peixes da água era mais fácil do que

gerenciar pessoas.

Pessoas são, do ponto de vista prático, complexas. Múltiplas

personalidades dentro do mesmo corpo, cada qual possuidor de suas

qualidades em termos de características peculiares de modo que

minha interação com elas careceria de uma certa perícia, beirando o

que poderia parecer com o que se chama de precisão cirúrgica. Para

isso, tinha de me policiar o tempo todo no trato com os outros que

estavam sob minha responsabilidade, tinha de por em andamento

tácito, formas práticas de comunicação que fossem voltadas ao

crescimento espiritual, social e comportamental daquela comunidade

cristã. Isso exigia bastante de mim. Se Jesus incumbiu a mim tal

responsabilidade com aquela pequena parte de sua enorme igreja

presente na face da terra, que direito eu teria de dizer não a Jesus?

“Depois de tantas bênçãos alcançadas e tantas alegrias da parte

do Senhor, principalmente nos primeiros anos de meu episcopado,


porque justamente agora eu iria abrir mão de meu ministério pautado

única e exclusivamente em motivos fúteis como picuinhas dos que

“dizem ser irmãos” e os chamados, “disse me disse” ou coisas do tipo:

“ouvi um passarinho contar” misturados com “bacias de fofocas por

atacado” que surgiam no seio daquela comunidade”?

Só existem apenas duas pessoas que conhecem de modo mais

geral preciso e profundo o significado da vida de um pastor na prática:

a primeira é o próprio Jesus, a segunda, é a pessoa do próprio pastor!

Nem mesmo a mulher do líder espiritual consegue captar com precisão

o sentimento que ele tem ou carrega no curso do exercício de seu

ministério. Dizendo em outras letras, quem está de fora, ou melhor,

quem não tem o cargo de pastor ou não exerce função ministerial na

área de liderança, costuma pensar e/ou conceber a ideia de que vida

pastoral é igual a uma vida sem problemas, pois, parte-se do

pressuposto de que basta alguém ser consagrado ao ofício santo, e,

então, logo este alguém fica imune aos ataques, considerando

inclusive a doutrina de que num ungido de Deus ninguém pode tocar

em termos de praticar maldades contra tal escolhido.

Agora, o fato é que as coisas em termos episcopais não são bem

assim! No passado eu também nutria ideias similares a estas que

acabei de expor. Porém, algum tempo depois de já estar à serviço do


mestre, dei de cara com a realidade de que ser ungido não nos confere

a forma do “ homem de aço” como o “super-homem” por exemplo. Ser

ungido nos confere tão somente o fato da unção, mantendo portanto

nossa humanidade inalterada. Isso é, fui ungido mas não me tornei

um anjo desencarnado por isso e nem livre de quaisquer investidas

adversárias!

Fui ungido mas ainda sofro o impacto da realidade que sobre

mim recai, agora, com mais intensidade do que antes, dado a posição

que alcancei em virtude da divina graça do Senhor Jesus. Tendo me

dado conta de que não me tornei o “homem de ferro” nem o “homem

de aço” por ter recebido a unção de pastor, tive, mesmo que

forçosamente, conviver e aprender a viver o chamado de Deus em meio

as lágrimas, dissabores e aborrecimentos diversos, os quais, insistiam

em se fazer presente durante minha jornada pastoral. É muito fácil e

relativamente simples dizer o que faz um pastor e como ele deve se

comportar, bastante razoável ainda, quaisquer considerações a

respeito de ética pastoral do ponto de vista de sua posição como pai,

pastor, cidadão, marido, amigo, profissional etc. De outro lado, é

imperativamente complexo permear os meandros mais sutis

subjacentes à esfera dos sentimentos de um líder de igreja, o qual, tem

a missão de estar firme, de pé e muitas vezes, simultaneamente


tentando segurar as emoções fortes, inclusive com as próprias mãos

caso isso fosse possível, tão somente para não ver as almas se

dispersarem para longe do aprisco.

Tal contraste e tais assimetrias entre o chamado ministerial e a

realidade do mundo da vida prático-cotidianas, em termos do dever -

ser e do dever-fazer, pelo gerenciamento de minhas próprias emoções

como líder. Tendo em vista a convivência pacífica e harmônica entre

os membros da comunidade, condições adversas, vieram como um

balde de água fria, em cima de todas as esperanças as quais eu

procurava com terríveis esforços manter. Confesso, foi a gota d'água!

Posto isso, também pensei: “era uma vez um cajado na mão de quem

pensava que era um pastor”. Quero dizer, eu estava beirando o

desânimo terminal. Será que a estas alturas dos fatos, todas as

promessas de Deus sobre mim antes mesmo de nascer seriam

miragens ou fumaça se dissipando pelo ar?

Terrível constatação é o sentimento da assimetria entre a unção

e o exercício prático pastoral. Nunca neguei a unção de Deus sobre

mim. Nunca neguei a fé nem tão pouco pretendo fazê-lo. Também não

nego a luta que tive de empreender em oração, gemidos e lágrimas

contra um batalhão querendo me destroçar até os ossos caso pudesse.

Digo pudesse, sim, nestes termos condicionais, pois ainda estou vivo!
Ferido sim, abatido também, mas ainda estou de pé! Estou

mancando sim, afinal fui ferido profundamente mas a espada de Deus

está intacta na minha mão e especialmente guardada em meu coração!

Por isso mesmo, o tal balde de água fria do qual falei, que veio se

derramando querendo congelar todas as minhas esperanças possíveis

para sempre, despertou em mim um efeito contrário, a este efeito dei

um nome sugestivo; desejo de vitória.

Na minha juventude todos os meus projetos não tinham nada

haver com o ministério pastoral. Meus anseios eram todos comuns,

típico da maioria das pessoas. Estudar, trabalhar, casar, formar uma

família, ter uma casa, um carro e um sofá sobre o qual poderia

descansar, e vez por outra, ir na praia e em tempos mais livres, por

uma carne para assar num momento de descontração com a família e

amigos.

Na verdade, eu não pensava, não fazia esforço algum, não

sonhava em um dia estar numa tribuna expondo a doutrina de Deus

para as pessoas. Talvez, para não dizer muito provavelmente, minha

timidez de falar em público especialmente para um grande número de

ouvintes era o que me mantinha neutro a quaisquer possibilidades de

estar à frente de um grupo de gente esperando uma palavra de

consolo, conforto, edificação ou coisa parecida. Francamente, eu tinha


dificuldade de falar até mesmo em roda de amigos com 3 ou 4 pessoas

no total. Eu era mais reservado. Falava pouco e ouvia muito!

Geralmente eu não era inclinado a dar opiniões sobre a vida dos

outros, me ocupava mais com meus afazeres do dia a dia e sempre

considerava que cada um deveria cuidar de si mesmo e que os

problemas dos outros não eram meus problemas e a recíproca sempre

seguindo em consonância. Isso significava que, se alguém estivesse

triste ou deprimido por quaisquer razões, eu seria a última pessoa a

ajudar em termos de uma conversa visando um conselho ou uma

orientação com vistas às possibilidades reais da pessoa melhorar

daquele quadro e vir a ter uma vida relativamente normal. Creio que

mesmo sem ter muita noção disso, eu nutria a ideia de que questões

emocionais e/ou dramas pessoais e de família se se tratavam de

assuntos por deveras particulares e que, por isso, eu deveria ficar no

meu lugar cuidando de meu cercado sem me preocupar muito com o

que acontecia ao meu derredor.

Notadamente, se percebe que em mim não constava nenhum

perfil típico de quem seria, no futuro, líder de ministério. Eis aí

exemplos práticos de que a vida sempre nos surpreende! São reservas

de surpresas e mais surpresas! Há uma expressão muito em voga que

contém o seguinte teor: “De onde não se espera é que sai.” Do ponto
de vista cristão, Deus faz uso das circunstâncias da vida a fim de nos

revelar em nós seu eterno poder. Quem diria que de um coração

objetivamente tímido como o meu sairia palavras de poder,

transformação e salvação dos que estavam perdidos, conduzindo-os

ao reino de Deus pela força operante do evangelho enquanto puro

poder e graça? Neste ponto, considerei ter de me expor a um

movimento objetivamente traumático como no conhecido exemplo da

águia no que refere ao processo de renovação de vida em vida ou mais

vida com mais vitalidade. Mas como proceder nesta direção se meu

corpo e mente estavam aos farrapos mesmo sendo um ungido de

Deus?

Eu havia recebido vários golpes. Estava enfraquecido! Foi então

que num certo dia, do mais profundo âmago de minha alma, eis que

emergiu um sonho. Mergulhar em mim mesmo com pitadas generosas

de sinceridade a fim de saber quem de fato eu era, me veio deveras

contundente. Auto reflexão para me ver a partir de um ponto de vista

muito pessoal, traria o óbvio, mas que eu não queria admitir. Afinal,

eu me policiava com vistas a perfeição! Minhas elaborações mais

concisas, me impelia a ver meu ambiente externo organizado e,

portanto, tudo teria de estar no seu devido lugar. Ao escalar a

montanha de minha subjetividade me preparei para o “salto interior”.


O que de fato eu vi? Me deparei frontalmente com o rosto de quem

tinha medo ferrenho do fracasso. Constatei um ser acuado e

contraditório em termos de intenção e ação. Testemunhei alguém

construído e empossado na égide do falsilóquio, feito aos reveses e

evidenciado nas formas obtusas dos discursos puramente formais, no

sentido de impedir a expansão dos ouvidos, corações e olhos alheios

aos meus tidos “perfeitos”! ( Caso contrário, haveria cura para o

alheio) Por quais razões abriria mão do “zelo” pela negação do uso

abusivo da razão instrumental enquanto condição sine qua non da

manutenção da disparidade entre sujeito-objeto? Me disseram que eu

iria passar por um “inferno”, mas que seria necessário caso quisesse

ver pelas lentes da exegese e hermenêutica. De fato esse “inferno” me

foi deveras terrível! Deus me havia incumbido a falar do amor dele sem

causar dor a ninguém! Minha vontade convertida em desejo ávido por

justiça divina em ver ordem e progresso social dentro da igreja. Ver a


alegria da irmandade na fé, louvor, oração e adoração, alimentava

ainda mais minhas esperanças no tocante as possibilidades da

felicidade social e coletiva. Me pareceu forçoso ter de estabelecer uma

polaridade consciente entre meu saber e meu fazer em que aquele

representava minha cruz e esse minha missão.

Não por minha cruz pesada nos ombros dos “pequeninos”,

antes, ajuda-los a carregar a cruz deles também por meio dos

conselhos pastorais. Não apenas passei a ansiar por liberdade, me vi

para além disso. Eu queria ser também um instrumento de

emancipação de alguns espíritos visto que não teria meios de salvar

todos. Pois, a maior parcela das almas toma a escuridão como

referência de vida e nisso fica alienada.

O conhecimento está disponível, mas nem todos o busca. Assim

como está escrito na bíblia: “Era ele a luz dos homens, mas estes

preferiram as trevas”. No entanto, é imperativo advertir que não é

justificável ultrapassarmos o bom senso. É preciso entender que a

obra de Deus é simples e se dá de modo imperioso nos corações

daqueles que o busca. Espalhar o evangelho em termos de divulgação

não é o mesmo que esparrama-lo a esmo! Eu sabia que tinha de pregar

a palavra, e ao mesmo tempo, alimentava a estreita necessidade do

uso do “cuidado todo especial”, de modo que o Espírito Santo pudesse


melhor se expressar no âmago daquelas almas ávidas por refrigério e

consolo.
DOMINANDO O EGO

Caso você tivesse me conhecido quando eu tinha meus 17 anos,

você estaria bastante propenso a pensar que meu futuro seria no clube

do palmeiras como goleiro ou atacante! Pois, desde cedo, tinha

aprendido a admirar o referido time de tal modo que minha casa era

pintada de verde e branco, meu chinelo também, as toalhas de mesa

e até os pano de prato! Por todos os cantos que se olhava lá estava

alguma coisa cor ou sinal lembrando o “timão do coração”.

Eu não tinha a menor desconfiança de que, um dia, minha

paixão, amor e dedicação, estariam voltados para o reino em seus

propósitos mais nobres em termos de resgate das almas carentes de

afeto, vida amor e paz. Bem, palmeirense roxo e ao mesmo tempo com

uma timidez para ninguém botar defeito! De tão tímido que eu era isso

chegava a contagiar o ambiente! As pessoas ao meu redor tentavam

“me consertar” dizendo que aquela minha timidez não me levaria além,

e, portanto, as oportunidades passariam por mim e eu ficaria para

traz!

Até mesmo quando eu ia jogar bola no campo, os colegas de

equipe ficavam preocupados porque eu não me enturmava e não dava

nenhuma opinião do que, onde e o porquê disso ou daquilo.


Contraditoriamente, eu era bom no gol. Me chamavam de “mão

santa”, porque mesmo bolas mais difíceis eu pegava. Quero dizer,

minha rede quase nunca balançava ante o impacto de bolas

adversárias. Por esta razão também me chamavam de: “o bom goleiro”!

Neste livro, minha ênfase não é a bola de borracha nem de couro, mas

a espada como a de dois gumes, em que as lâminas afiadas acertaram

minha alma em cheio, me levaram a sentir, fazer, pensar e ver de modo

distinto a vida como um todo.

Até hoje, por vezes, ainda me ponho a pensar no que Jesus me

deu para carregar com esmero, zelo e amor e como tinha de me policiar

e esbofetear a mim mesmo a fim de que não viesse a fazer minha

própria vontade mas sim a daquele que me comissionou a esta missão.

E que missão! Sabia que eu não teria de defender uma simples

bandeira qualquer mas sim causas que não eram minhas mas de

Deus. Até que eu chegasse ao ponto no qual eu estaria pronto para

tal.
Então, chegou o grande dia antecedido por muitos outros dias

de oração, leitura bíblica, consagração e forte vontade de ir ao mundo

e dizer o que Deus queria... Eu estava bem na frente do espelho! Neste

ínterim, ouvi

claramente a voz do Senhor Deus soprar em meu coração a

seguinte sentença: Calma meu servo, pois agora vou amassar o barro

, vou te reduzir a pó, vou eliminar de sua substância toda a impureza.

Então, vou formá-lo com minhas mãos e vou te fazer passar pela

fornalha de modo que estejas realmente pronto! Então murmurei: eu

pensava que já estava no ponto e Deus diz que ainda vai começar a

me amassar! Todos os jejuns, orações, estudos bíblicos, teologia e

muitas e muitas palestras em que participei não foram suficientes?

Deus respondeu: não.

Não? E quando vai ser? Vai ser no meu tempo, asseverou o

Senhor. Fiquei aflito. Tentei digerir aquela conversa que tive com Deus
a fim de captar algum sentido que fizesse sentido para meu pobre

espírito no que tange às razões pelas quais Deus não me liberou no

momento em que julguei estar preparado para a obra! Como de

assalto, me apareceu duas palavras de pesos pesados. Ego e

aniquilamento. Porque me vieram as palavras citadas! Lembrei do

Capítulo 2 de filipenses em que Paulo, o apóstolo de Jesus, declara:

“Que em vós haja o mesmo sentimento que houve em Cristo, o qual,

tendo a forma de Deus não tem por usurpação ser igual a ele mas

antes promove o auto aniquilamento assumindo a forma humana”.

Pensei: não sou Saulo de Tarso, nem Saulo, convertido em

Paulo a caminho de Damasco, sou apenas um crente da modernidade

e literalmente já sou humano e se eu for me aniquilar abaixo de minha


condição natural vou me tornar o que, um animal irracional? acho que

Deus vai me usar de acordo com os novos tempos. Meu ego precisava

ser refinado! No começo não interpretei corretamente a doutrina do

aniquilamento. Mais tarde fui esclarecido pelo Senhor. Eu não

poderia, caso quisesse ser um obreiro aprovado, trair meu desejo de

Deus. Não me cabia a sensação de falta de nexo entre o querer dele

em mim e meus pensamentos que iam teimosamente em direções

contrárias, de modo que me era tarefa árdua ter de surrar a mim

mesmo, a fim de evitar o rompimento com o autor do universo

justamente a quem eu esperava o aval para dar início ao que me foi

prometido ainda antes de minha concepção. De fato, seria por demais

prematuro de minha parte contender com Deus. Na verdade é uma

ação inútil. Pois, contender com ele é perder tempo.

Das duas uma; ou eu me entrego a fim de ser trabalhado por

ele ou eu me perco em minhas ilusões de sentido. Obviamente não

queria estar iludido, muito menos me perder no mar das ilusões. Me

iludir não, mas fazer reluzir a luz de Deus em corações escurecidos

pelo pecado era o que eu mais almejava na minha vida.

O meu desejo de ir ao campo missionário rivalizado pelas

minhas fortes emoções, me fazia perder o controle na hora de

descascar “pepinos e abacaxis”, isso corroía minha pobre alma aos


poucos. Não podemos negar as emoções, afinal, elas constituem partes

integrantes e importantes de nossa humanidade. No entanto, uma

pessoa emocionalmente descontrolada pode ter sua qualidade de vida

prejudicada, pois, oportunidades podem ser perdidas e palavras

podem ser mal proferidas como flechas lançadas as quais não

retornam a posição inicial.


Dizem que o tempo cura todas as dores. Isso quer dizer que seria

possível alguém esquecer uma flecha que lançou e a pessoa atingida

esquecer o golpe? Eu queria ser um espadachim de Deus. Usar e

manusear bem a espada para fins de salvação, proteção, defesa, e

resgate das almas sem contudo ferir as pessoas pelo uso abusivo da

mesma espada. A espada de Deus não nos foi entregue para ferir
indivíduos mas para lutar contra os verdadeiros adversários de nossas

vidas. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais

resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes. Estai, pois,

firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a verdade, e vestida a

couraça da justiça; E calçados os pés na preparação do evangelho da

paz; Tomando sobretudo o escudo da fé, com o qual podereis apagar

todos os dardos inflamados do maligno. Tomai também o capacete da

salvação, e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus; (Efésios

6:13-17) As hostes espirituais da maldade as quais guerreiam o tempo

todo nas regiões celestiais. Nosso pior inimigo não tem osso nem

carne.

É invisível, porém real. Basta observar o que ele é capaz de fazer

no seio de uma família, por exemplo: coloca pai contra filho, filho

contra pai, marido contra esposa e assim vai promovendo brigas,

intrigas e discórdias em todos os cantos em que pode adentrar.

Tudo o que eu tinha de fazer para ser um promotor de paz era

inutilizar as forças dos inimigos de Deus. Assim, eu estaria em paz no

meio da guerra. A calma e o silêncio libertavam meu espírito a expor

com mais clareza a pauta a ser seguida. Desenvolver a habilidade do

domínio próprio, Inteligência espiritual, tática santa, confiança em

Deus, com vastas a mapear com destreza o terreno adversário tendo


em vista não errar o alvo, e para não errar o alvo é primeiramente

preciso nascer de Deus, pois os nascidos de Deus não erram! “A carne

só é carne, mas o espírito é essencialmente espírito”. (Bíblia Sagrada)


DORMI E SONHEI

Lembro me como se fosse hoje, numa noite de quarta feira, o

clima estava deveras agradável, noite calma e serena, eu olhava pela

janela de meu quarto, a lua clara e bela. Meus olhos estavam pregados

de sono. Adormeci ali mesmo no sofá da sala e tive um sonho através

do qual minhas ponderações sobre mim mesmo, minha família, e

meus projetos de vida seriam drasticamente alterados.

Tal sonho não tinha a menor sofisticação, ao menos pela forma

como se desenrolou os acontecimentos em meu espírito enquanto

dormia. Na verdade, revelou-se pesado demais tendo em vista as cenas

que me responderam somaticamente, dado o suor que escorria dos

meus poros por causa da força que eu fazia tentando me despertar

como se estivesse preso numa outra dimensão para além daquela que

conheço em forma de existência. Parecia mais uma visão do que um

sonho comum! Eu estava num canto de uma parede meio escura,

parede cheia de fissuras como se tivesse sido alvejada por tiros de

canhão.

Eu estava sentindo muito frio. Meus cabelos por pentear, meus

olhos esbugalhados e vermelhos revelando nitidamente o sentimento

de medo causando em meu pobre corpo um tremor tácito e aterrador.


Me vi a mim mesmo à direita do muro enquanto eu estava à

esquerda e não compreendia como eu poderia me ver num canto

específico se eu estava em outro diferente, como se eu fora dois de

mim mesmo! Como poderia contemplar a mim mesmo estando fora de

mim? Confesso que isso me assustou de maneira contumaz. Me curvei

a fim de encontrar meus sapatos postos em meus pés, mas achei pés

descalços e feridos nas pedras, as quais, não se apiedaram de meu ser

enquanto corria desesperado no sentido de fugir daquele que eu

acreditava vir em minha direção com fúria sarcástica afim de me

devorar por inteiro. Corri como um louco, tentei agarrar com unhas e

dentes travados meu escasso suspiro com as sobras e sombras de

minhas mãos gélidas e visivelmente cálidas.

Quando finalmente pensei estar de pé e protegido de qualquer

mal que viesse me afligir, me dei de cara novamente com a parede

escura. Sem perceber, senti uma mão tocar meu ombro direito por

uma das fissuras da parede. Tentei em vão escapar. Me contorcia na

esteira da angústia estafante que me invadiu naquele terrível e

incomparável momento. Eu queria por tudo no mundo, sair daquela

situação o mais rápido possível. A mão por ora desconhecida foi mais

forte do que meu desespero. Àquela sensação estranha, me “colocou

contra a parede” da dor malogra, forçando os pueris resquícios de meu


juízo mergulhado em meu senso quase raso de morte. Naquele

instante miseravelmente eterno, como se eu tivesse sido violentamente

posto em brasas vivas a ponto de ficar fora de si e sem que eu pudesse

ver ao menos o rosto daquele que me prendia.

Então, meus tímpanos foram sensibilizados pelo som suave e

sereno de uma voz que dizia: Por quais razões tentas tu fugir dos

planos que sonhei para ti? Porventura tu conheces realmente qual

será o desfecho dos projetos que desenhastes para ti mesmo, pautados

e delineados nas profundezas de teu ego? Saiba que a maior parte dos

perigos de morte que passastes até o dia de hoje são ignorados por ti,

pois fui eu quem te livrou. Enquanto tu dormia em teus sonhos

naturais, eu estava sempre ali do teu lado, ouvindo o som do teu

respirar e as batidas de teu coração.

Me percebi aturdido, constatando ao mesmo tempo, que sobre

mim foi lançado de propósito, correntes encadeadas e algemas como

se fossem feitas de diamantes, as quais, trancafiaram por impacto

contundente, meus braços e pernas. Desfaleci. Aparentando estar aos

farrapos, cansado aos montes, não podia mais cogitar portanto

quaisquer possibilidades factíveis de fuga aparente. Os minutos

passaram depressa. Não percebi o tempo. Quero dizer, o tempo ali

corrido não era o mesmo dos meus conhecidos existencialmente, mais


que isso, me pareceu ser o tempo da eternidade. Acordei. Mas não foi

um despertar para o cotidiano ainda. Ou seja, eu estava desperto,

porém, não havia saído das cenas daquele sonho o qual insistia

deveras em se fazer presente no seio de meu sono profundo.

Neste ínterim, enquanto dormia, finalmente vi aquele que

pensei ser meu opressor. No entanto, o rosto dele me era ainda alheio.

A parede esburacada não estava mais ali. O lugar onde me dei conta

de mim era diferente, menos hostil, aparentemente calmo. Perguntei

ao ser que estava de pé ao meu lado _ Quem é você e que lugar é este?

Onde estamos? O ser me respondeu: este lugar é de onde emergem

todas as formas de pensamentos, planos, intentos e projetos dos

homens que estão do lado de fora. Sem entender ainda, indaguei: fora

de que? O ser me disse: “quem está do lado de dentro não pode vir

para fora sem fazer uso dos elementos de fora afim de se manifestar

em imanência, e quem está do lado de fora não pode vir para dentro

sem primeiramente ter seu tabernáculo entrado em processo de

dissipação integral. Aquele ser falava comigo como se eu entendesse

tudo o que ele estava dizendo sobre situações internas e externas. Da

boca dele pude ouvir algo do tipo: “o que te digo agora tu obviamente

não entendes mas entenderás depois”!


Eu estava deitado na areia aquecida pelo sol, parecia areia

perto de uma praia. Então ele me disse: Levanta-te venhas comigo,

pois tenho coisas firmes e profundas para te mostrar, coisas as quais

tu ainda não cogitas, mas te serão muito úteis quando estiveres

envolvido ativamente nas causas intrínsecas de meu ministério a ser

realizado em ti. Nos pomos a caminhar a passos lentos. No começo,

maravilha, fácil de se caminhar em terreno plaino. Mas ao chegar ao

pé do monte me vi desanimado pois o mesmo era muito alto e íngreme.

Não me veio a menor vontade de iniciar a subida. Senti o peso do

cajado do ser estranho bater em minhas costas meio forte. Como tu

pretendes chegar ao episcopado... de helicóptero? Queres certificar

tua unção subindo ao monte dentro de uma cabine com ar

condicionado e água fresca? Não penses tu que minha obra é realizada

com soldados despreparados e fracos de espírito! Tenho de te

esmerilhar a fim de retirar as rebarbas que te impedem de ter a menor

noção de meu querer e de minha perfeita vontade, tenho de arrancar

os teus olhos de carne e por no lugar deles olhos de fogo de modo que

possas ver para além de sua pequenez e frugal insignificância cósmica.

Teimoso, murmurei: “porque as coisas tem de ser tão difíceis se

existem modos e caminhos mais fáceis de chegar ao objetivo? Porque

preciso me esforçar nas vias lineares e maçantes da vida se posso


desenvolver medidas e ações exponenciais a fim de ganhar tempo o

qual é inclusive fator caríssimo”? A cajadada nas costas foi mais forte

dessa vez. Então caí desmaiado. Ao me recompor depois daquela, “não

sei se poderia chamar aquilo de bendita pancada”, ainda estava meio

zonzo, meus olhos mostravam-se um tanto apagados de modo que

enxergava pouco.

Andava tateante tentando me apoiar entre os galhos secos que

encontrava, a medida em que me pus forçosamente a escalar a difícil

e intrigante montanha áspera, composta por rochas grandes médias e

pequenas, somadas a milhares de outros pedacinhos de pedras,

pedaços destas as quais me faziam por vezes escorregar e tombar feio,

feridas mostravam-se visíveis por várias partes de meu corpo vil.

O ser que estava comigo dizia: continua o processo, está dando

certo! Terás algumas quedas, mas faz parte do plano preparatório... se

parares agora não serás capaz de gerenciar seu eu próprio, não terás

meios qualitativos para se conter quando necessário, não saberás

suportar a dor e o desdém dos outros que não sabem o que saberás,

nem tão pouco tem o que tu terás, se não passares pelas duras lições

que tenho para ti, não disporás do ato de amor a alteridade nem a

comunidade para a qual quero lhe enviar. Tenhas cuidado impar com

teu coração. Te revistas abundantemente da humildade, pois, de nada


irá adiantar tua preparação sem refrear teu ego. A prepotência e a

altivez irão te perseguir, mas você precisa ser forte e resistir para não

pores tudo a perder!

Enfrente seu próprio medo, lute contra tua ignorância

espiritual, beba a água da verdadeira fonte que lhe confere vida e vida

com abundância, ponha teus joelhos no chão e peça por sabedoria

pois esta do alto vem. “E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-

a a Deus, que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto, e ser-lhe-

á dada”. Tiago 1:5. Ao subir cerca de 15% da montanha, vi entre as

rochas, uma fenda enorme que dava acesso a uma caverna

aparentemente úmida e escura.

O ser que me conduziu aquela luta ferrenha, o qual comecei a

vê-lo agora como meu mentor espiritual, sugeriu para que eu entrasse

na caverna. Perguntei: vou sozinho? Sim, irás só, mas ficarei de longe

observando seu comportamento no meio das trevas que irão lhe cobrir

por inteiro. Trevas porque? Perguntei de modo calado para mim

mesmo. O mentor escutou a fala silenciosa de meu espírito

fatidicamente perturbado e inquieto, devolveu a resposta em forma de

ironia socrática: Te porei um bocado de trevas a fim de testar sua

resistência em face do sarcasmo fático e cruel da vida presente.

Permitirei aos pássaros de morte voar sobre tua cabeça a fim de


provocar-lhe a busca da defesa contra seus adversários mais sutis.

Ficarás preso pelo visgo impregnado de lama no meio da cova escura

e então chamarás pelo meu nome a fim de que possa socorrê-lo.

Ventos de morte sopraram naquela noite fria de doer. Tempo

vorazmente tempestivo. Procurei por ti e não te achei. Me pusestes

neste buraco cujas paredes são feitas de solidão desdenhosa e vazio

geral. Minha alma secou-se em face da opacidade que tirou sem dó

nem piedade meu senso visual. Tudo me veio na forma de um breu

com sinal de escuridão tal, de modo que eu me esmurrava feito um

neurótico, a fim de “criar coragem”, de modo a viabilizar as

possibilidades de deslocamento possível para a outra banda que me

pareceu mais segura em contraste as agruras que eu estava

vivenciando friamente na pele ali mesmo.

Não pude me deslocar. O alívio de uma alma saturada de pesar

não veio no instante em que mais desejei que viesse. Como se não

bastasse, os pássaros de morte dos quais o mentor referiu, vieram

mais violentos e poderosos do que pensei. Vi a morte de perto! Piadas,

deboches e risos desdenhosos ecoaram ao fundo da caverna. O

“sangue subiu a cabeça”, meu rosto avermelhou-se de fúria e desejo

de vingança. Como poderia me mexer se eu estava preso na lama força

e peso fazia meu corpo ficar contorcido dado a força que eu fazia por
mim mesmo na tentativa deveras frustrante por querer muito sair

dali? Foi aí que clamei pelo nome dele. Se ao procurar um corrimão

no qual possa me escorar não o encontro nem mesmo os degraus a

fim de firmar os meus pés, cairei então definitivamente no precipício?

Meu corpo está prestes a ser engolido por essa areia movediça! Agora,

se porventura meus olhos mesmo míopes podem alcançar o pico da

montanha, a pergunta que fica no ar é: de onde virá o socorro?

O eco do que pareceu ser minha última interrogação foi forte.

O silêncio que se seguiu por alguns minutos foi interrompido por um

outro eco vindo da outra banda; teu socorro vem de dentro! Questionei

: dentro de que ou de quem? A voz continuou: Deus implica

interioridade pura! Por isso, se queres solução ela vem de dentro!

Mentor, você está aí? Foi você quem disse estas palavras? Deus está

dentro de que e de quem? E como faço para acessá-lo de modo que

possa finalmente calar meus adversários? Mais uma cota longa de

silêncio se seguiu. Um fosso de desequilíbrio mental me invadiu, me

vi engolido pelo meu próprio ego, dali não tinha como sair sem me

valer de um auxílio especial externo, tendo em vista todas as

possibilidades de resgate possível terem sido esgotadas, ao menos sob

meu ponto de vista. O escuro e o silêncio foram demasiadamente

aterradores.
De corpo preso pela lama, não tinha portanto movimentos

possíveis de auto livramento. O que me havia restado era o reflexo de

mim mesmo. Sob a égide do cogitar de meu espírito tudo o que eu

tinha de fazer era esperar. Mas esperar quem e o que? Sinceramente,

nessas alturas dos acontecimentos eu estava contando com um

verdadeiro milagre! Foi neste ínterim que me lembrei de Sansão. Preso

às colunas, e sem os olhos para ver, alvo de cuspidas, chacotas e

risadas debochadas, sua única saída era clamar pelo dono do

universo. Nisto ponderei, nisto pensei reflexivamente e concluí que

minha briga não era contra a carne e o sangue mas sim contra as

hostes espirituais do mal. Meu interior foi sacudido com três palavras

de calibre pesado: sabedoria, conhecimento e inteligência.

Sabedoria para discernir bem a situação, conhecimento para

agir bem na situação e inteligência para gerenciar bem e

estrategicamente as ações tendo em vista a viabilidade da solução pelo

caminho mais sensato possível. Sendo a vida essencialmente

problemática, não saber agir com as ferramentas adequadas e

necessárias de Deus e em Deus, é por mais problemas onde já tem

muitos problemas. Não fomos chamados para espalhar e sim para

juntar, instruir os novatos na fé, sendo canal de bênçãos pelos vieses

da consolação, exortação e edificação.


Se não mergulharmos no universo interno de Deus e olharmos

apenas para fora de nós mesmos, iremos ficar presos pelas

aglomerações da vida apenas no aspecto social político e cultural e

teremos, em função disso, extrema dificuldade do ponto de vista da

interação com o outro devido as famigeradas diferenças de

personalidades típicas de cada sujeito inserido no tecido social

cultural e histórico. Do mais profundo abismo clamo por ti. Porque

não me ouves? Permitistes que tal situação malogra e saturada por

inteiro de sarcasmos viessem testar meu pobre ser, quando isso terá

um desfecho plausível? Minha alma geme de dor e frio intenso, neste

meu presente momento. Por qual razão te mostras indiferente e tão

distante de mim? A exaustão me afetou sobremaneira, enfraquecido

estou, rogo por teu refrigério santo, solicito por uma trégua ou irei

desfalecer em definitivo! Bastante tempo havia se passado e eu ainda

estava ali na obsolescência obtusa de minha finitude. Simplesmente

atolado.

Agora, não sei explicar com razoável acerto como a virada de

paradigmas se deu apesar daquele cenário estupendamente infernal!

Não sei expor em simples palavras como aquela força vital emergiu,

me levando a negar e não dar bolas para minha própria dor. Pois,

busquei do fundo de minhas entranhas por meio dos últimos


resquícios de suspiros os quais ainda me mantinham acordado, um

certo pedaço possível de força vital. Entrementes, no meio do núcleo

central das trevas, promovi um esforço tremendo, terrível e por demais

doloroso. E eis que consegui finalmente desatolar o braço direito

daquele lamaçal sem igual.

Ao erguer o braço, eis que minha mão agarrou um galho o qual

estava preso a parede de pedra. Então, as esperanças renasceram!

Imagine caso puder, como é tentar puxar para fora um corpo pesado

com a força de um único braço agarrado a um galho seco, ainda mais,

estando o resto do corpo, coberto por quantidade significativa de lama

visguenta e de substância estridentemente implacável! Com a chegada

das esperanças, mais uma vez chegaram também os pássaros de

morte. Com suas garras afiadas, feriam os tecidos de minha face de

modo que o sangue escorria. Sangue, medo, escuro, desdém, piadas e

risadas debochadas de seres que acreditaram e ainda acreditam

piamente na minha desistência e derrota total.

Fui lançado contra a parede do escárnio ferrenho, em praça

pública me vi em estreito estado nu, desprezível e estonteantemente

embebido da vergonha descarada e deveras implacável, me vi como

quem estivesse prestes a ser engolido por serpentes peçonhentas e

saturadas de veneno mortal. Qual a alma neste mundo conseguiria


traduzir em letras garrafais, todos os processos pelos quais passa,

aquele que foi chamado afins de pôr a face em perigo e tudo o mais

em sua frugal vida, tudo em função de causas nobres que vão muito

mais além dos meros projetos existenciais e/ou puramente humanos-

materiais? Quem nesta vida passageira poderia cogitar ao menos, as

sombras de um coração missionário, avivado pela fé, amor e graça,

com vistas ao empreendimento, crescimento, vitalidade, harmonia,

consolidação e integração do povo por meio da palavra pregada?

Em minhas modestas, porém, inquietas e intrigantes reflexões,

ficava por vários minutos como se estivesse fora do meu eu próprio.

Meus juízos mais profundos, geraram arrazoamentos sobre como

Deus tem, em suas razões divinas, múltiplas formas de agir e

trabalhar com o barro. Vir a ser um vaso de honra é uma verdadeira

honra! Mas a glória não é do barro, principalmente quando ele tem a

forma de vaso! A lógica mais óbvia do vaso é que ele serve. Serve para

colocar algo dentro.

Ao se colocar um conteúdo dentro dele tal não é dele, mas de

quem colocou o conteúdo nele! Isso significa que os dons que estão em

nós não são nossos mas de Deus! Por isso que o versículo da bíblia

não é : desperta o “teu dom” que há em ti mas sim o “dom que há em

ti”. “Por esta razão te lembro que despertes o dom de Deus, que há em
ti pela imposição das minhas mãos. Porque Deus não nos deu o

espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação”. (II Tim.

1:6) Como minha índole e hábitos de personalidade precisavam ser

trabalhados nos moldes do Espírito de Deus, era imperativo eu estar

alinhado a estes propósitos. Pondo em outras letras, para que meu

espírito pudesse ser fortalecido e eu pudesse trilhar o árduo caminho

da autonegação em prol dos propósitos divinos, tinha de estar à

disposição do trabalhar dele em minha vida.

Considerando o versículo citado, “Deus não nos deu o espírito

de covardia mas de poder”, necessitaria eu alcançar tal poder em

virtude desse alinhamento espiritual imprescindível a minha formação

e preparação ao ministério. A conhecida expressão bíblica: Eis me aqui

envia me a mim, revela nitidamente tal disposição. Não tentar

interromper Deus. Pois, a Deus ninguém interrompe e nem tão pouco

pode interromper! No entanto, eu como sujeito de liberdade e

embebido em ações e conotações livres, poderia resistir a voz do

Espírito Santo indo na contramão do que ele havia sonhado para mim.

Agora, um fato é incontestável, não obstante ter o conhecimento de

minha liberdade e claramente as possibilidades de desvio de rota bem

como os caminhos disponíveis e as possibilidades não obstruídas de

fuga feito Jonas, não teria, nem tão pouco tenho, a menor ideia do
tamanho do preço que eu iria pagar pelo ato da negação consciente do

que teria que fazer com relação ao mandato divino. Bem, diante de

mim ficou essa lacuna que me fez pender ora para um lado ora para

outro. Melhor dizendo, Ou eu daria ouvidos a voz de meu ego

preocupado com minhas deficiências óbvias como falta de coragem,

medo, timidez e desejo de não atender ao chamado de Jesus, ou eu

me poria definitivamente nas mãos do mestre dos mestres e deixaria

ele me usar segundo sua vontade e querer.

Ali, sentado naquela pedra, e, ao mesmo tempo deixando meus

pés ser banhados pelas águas salgadas da praia, de braços cruzados

e com meus olhos voltados para o horizonte daquele lindo fim de tarde,

meditava e meditava sem parar nestas coisas. Faço ou não faço? Vou

ou não vou? Se cuidar de mim e da minha família já dá trabalho,

imagina então ter de cuidar de um rebanho composto por muitas

pessoas umas diferentes das outras? Em minha meditação imaginei

Paulo, o qual impondo as mãos sobre Timóteo dizia: “desperta o dom”.

Isto é um imperativo para ninguém colocar defeito! Tal, sugere uma

ação consensual por parte do interlocutor em termos de reciprocidade

e adesão à proposta imperiosa. Constatei em face desse pensamento

o seguinte: há coisas que Deus faz e coisas que a gente tem de fazer.

Deus já me chamou e já me incumbiu certo? Então falta eu despertar


o dom em mim já posto e parar com esse mau hábito de ficar me pondo

o tempo todo em lugar de vítima! De todos os meu grandes problemas

certamente a maior parte deles foram e são causados por mim mesmo!

Não posso deixar que situações e/ou eventos externos me

incomode a ponto de perder o foco, a fé, a esperança e o amor a vida

nem as pessoas da vida enquanto o meu dia ainda brilha. De certa

forma, esse meu medo do desconhecido, medo de ter medo, medo de

errar e errar feio, principalmente medo de ferir os outros com minhas

palavras e atitudes, também contribuíam para essa pseudo

justificativa de minha resistência.

Justificaria eu minha própria fraqueza? Atribuiria razões

lúcidas e coerentes a sentimentos de medo e portanto ausência de

coragem, a qual insistia em se fazer presente em minhas experiências

subjetivas? Para desbravar eficazmente sobre o mal pelas vias do

poder do espírito, como diz Paulo: “ espírito de poder”, seria crucial eu

mesmo me dar conta disso e viabilizar pela fé, amor e esperança tal

abertura! Eu não teria justificativas minimamente plausíveis indo na

contramão de tal poder!

Se a mim o poder foi dado, então qual a lógica do medo,

sentimento de fraqueza e complexo de inferioridade mesclado ao senso

raso de vítima? Então, no lugar de procurar a vítima em mim mesmo


e nos outros, eu tinha de focar unicamente no poder de Deus, para

lutar contra as hostes da maldade, as quais são as entidades que

guerreiam o tempo todo no núcleo central das regiões celestiais e que

são as instâncias verdadeiramente responsáveis pelo mal no mundo.

Me veio, por causa dessa reflexão, um princípio chamado de "o

princípio do espírito acordado”. “porque é sabido que há espíritos que

dormem", espíritos dormentes e espíritos despertos.

Tolo é quem dorme. O sábio também dorme, porém sempre com

um olho aberto! Enquanto a frugalidade de meu espírito estava em

evidência eu estava dormindo. Frugal é uma terminologia que dá

ênfase a atitudes infanto-juvenis. Quando eu iria crescer então, e,

portanto, entender a dimensão do eterno querer do ponto de vista do

fazer e do operar de Deus em mim? Na verdade, eu só poderia crescer

e me tornar poderoso em Deus caso tomasse a vitamina do Espírito

dele! Tornar-se poderoso em Deus não é ser necessariamente iguala

Deus. Pois não há ser igual a Ele!

É terminantemente inegável que Deus é um “ser especial” de

instância e natureza estritamente interna. Nestes termos, salienta-se

que poderoso em Deus é aquele que manifesta e só pode manifestar

na imanência o querer e a vontade daquele que envia o vaso, a cumprir

na terra seu mandato divino. Isto é, a manifestação dos valores do


transcendente na imanência, em que, o primeiro, não sofre quaisquer

resquícios de variação e o segundo é movido e só se move por causa e

em função daquele que não é afetado pelos ordinários e múltiplos

fenômenos das variabilidades têmporo - espaciais. Então eu disse:

Deus é infinito e eu sou apenas uma ínfima parte de uma pequena

gota d'água no fundo de um balde. Assim profetizou Isaías: “Na

verdade todas as nações do mundo são como uma gota d’água num

balde, como um grão de poeira na balança; o Eterno carrega as ilhas

distantes como se fossem grãos de areia”. Isaías 40:15.

Sempre que me ponho a ler o texto sagrado, entre as narrativas

que mais me atraem, são as que se referem a vida de Paulo. Já

imaginou ser imitador de Cristo? Trazedor das marcas de Cristo no

corpo? Ter a mente de Cristo? Sofredor de dores de parto por Cristo?

Se fazer de grego, de gentio, de criança pelas causas de Cristo? Nisso

me concentrei deveras, me pondo a refletir por períodos às vezes

delongados. Se Paulo não era Cristo e se comportava como se fosse

pela imitação, sendo ao mesmo tempo um ser de carne e osso assim

como eu e todos os demais viventes humanos, quais as barreiras

impeditivas a me tornar um Paulo em plena modernidade tardia?

Alguém poderia cogitar que a época em que Paulo viveu foi marcada
por grandes sofrimentos e perseguições, problemas de ordem sócio-

políticas, invasões, e desordens de todo tipo.

Com isso, se justificaria o fato de Paulo, o apóstolo dos gentios

ter maior resistência psicológicas e físicas, bem como seus

contemporâneos, do que nós viventes dos tempos modernos, em que,

apesar dos inegáveis problemas humanos hoje, e em diversos

sentidos, a justiça, o direito, às liberdades e as leis de proteção social

humanas são, “apesar de imperfeitas e/ou incompletas”, mais

pomposas e tácitas do que àquelas típicas da antiguidade. O apóstolo

dos gentios não era de modo algum masoquista. Esse homem, o qual

trazia na carne (um espinho), não sofria porque era indiferente, não

passava dissabores deletérios por gosto próprio, mas sim por causas

superiores à sua pequenez.

A propósito, o nome Paulo significa pequeno em termos gregos!

Na sua pequenez, marcada pela obediência e entrega devocional,

casada com uma profunda humildade claramente estampada em sua

alma, corpo e espírito, esmurrava o próprio corpo buscando na medida

do possível, desobedecer este em prol à obediência maior, mais nobre

e magnífica. Fazer enfermar a mim mesmo em prol da causa dele,

pontuava esse caminho, Paulo de Cristo! Delongadas horas e por

diversas vezes eu pensava nisso. Ser como Paulo talvez, mas


conseguiria eu viver assim como Paulo viveu? Sendo minha índole,

hábitos, personalidade meio que não muito adequados à sociabilidade

razoavelmente tida como normal, e, também, dificuldades de me

expressar em público por causa da já citada timidez, me expor as

multidões me seria bastante desconfortante, dado que concretizava e

confirmava tacitamente o fato de “ser mais reservado e comedido”.

Eu não me via como arauto do povo, muito menos um episcopal

com propósitos espirituais-religiosos. Pensar em Moisés e em Paulo

entre outros condutores de multidões, era como estar pensando

literalmente em homens mergulhados no caldeirão do sofrimento

tácito e abrasador! Eu tinha de ter sim, e por isso mesmo, reservas de

espírito a fim de interpretar o chamado de Deus, e, ao mesmo tempo,

tentar desatar o nó que me mantinha preso nas teias de uma certa

ignorância desmedida e desconcertante.

Condições assimétricas entre o querer dele em mim e o meu

querer por mim mesmo, em termos de manter uma vida normal não

condicionada às causas pastorais me afligia sobremaneira. Além do

mais, minha inclinação a leitura bíblica, oração, jejum e consagração,

não tinham relação alguma com a vontade de ser pastor! Tudo o que

eu queria era apenas exercer uma vida cristã em termos ético-morais,

ir a igreja e me ver como mais um “membro de banco”, isso é, ir lá,


nos dias de culto, exclusivamente para receber a palavra, sem me

preocupar em ser o sujeito ativo do discurso, o qual, um dia iria ser

um “trazedor da palavra”, afins de aliviar os corações afligidos pelos

dramas e conflitos do dia-a-dia.

Confesso que tentei entender Deus. Certamente eu não o

compreenderia. Porém, ele me conhecia e me conhece muito bem, pois

ele sonda não apenas o meu, mas todo o coração em termos dos seus

intentos mais sutis e profundos! A vida tem lá suas surpresas.

Passamos por situações corriqueiras em que o cotidiano

apresenta as idas e vindas das pessoas simplesmente ocupadas com

seus afazeres, trabalhos, projetos, aspirações, sonhos e intenções das

mais variadas possíveis.

Muitas vezes, as circunstâncias nos dizem não, e, então,

algumas, senão muitas de nossas expectativas, são frustradas em

função de nossa subjetividade prática em termos de vivências e

interações pessoais interpessoais serem dadas em fluxos não lineares

e fortemente marcados pelos vieses contingenciais da própria vida,

que não tem, sequer, o menor propósito de nos informar qual será o

cenário mais alegre, feliz e promissor do amanhã.

Como havia pensado na vida de Sansão, em seus piores

momentos, pensei também na vida do rei Salomão, em seus piores


momentos, sobretudo a partir das ocasiões dúbias e sarcásticas em

que muitas de suas mulheres o levam a se afastar de Deus. Num

momento, Salomão é o sábio e famoso por sua sabedoria. Num outro

momento, Salomão está só, pensando que tipo de tolice o levou a

tomar certas atitudes. As falas, nem sempre a força é do forte, não é

todos os dias que a sabedoria mora na casa do sábio, e que nem

sempre a vitória é de quem chega primeiro, faz o sábio se dar conta de

sua finitude e efemeridade existencial.

Em vista disso, com o corpo alma e espírito, o sábio abraça a

humildade do saber que, a vida, se dá nos trilhos das contradições em

que numa dada ocasião você ri, e em outra você chora. E o coração

fica mais próximo do céu, quando se aceita a notícia que abaixo do sol

tudo é vaidade e aflição de espírito. Na doutrina do tempo, Salomão

pontua que tudo tem seu lugar no tempo e que cada pedaço de tempo

é rasgado para se dar lugar as próximas ocorrências de eventos dentro

e no tempo. Ou seja, não se pode rir e chorar ao mesmo tempo, como

também não se pode ficar acordado enquanto se está dormindo! O

rasgar do tempo não é o passar do tempo, mas sim a mudança do

estado das coisas e situações temporais em que uma ocorrência é

substituída por outra.


O dia é contraditório à noite e a recíproca segue na mesma

linha. Sansão, Salomão, Davi, Moisés, Abraão, Paulo o apóstolo idem.

Todos tiveram suas contradições. Como seres finitos, estavam

atrelados às condições não lineares da vida e propensos a serem

afetados por circunstâncias e imprevisibilidades. Contudo, todos

tinham a fé e esperança depositadas em Deus! Então, eu não

precisaria alcançar primeiro a perfeição para finalmente começar a

fazer a obra. Tudo o que eu tinha que ter era tão somente a fé,

coragem, esperança e um certo preparo.

Não quero dizer que eu teria de estar perfeitamente preparado,

mas estar razoavelmente preparado com vistas a atingir a perfeição!

Um detalhe, a perfeição só se atinge quando se entra para dentro em

definitivo! Do lado de fora não existe perfeição, mas trilhas, lutas e

batalhas para chegar lá! A verdadeira perfeição é isenta de

contrariedades, por isso, a única data que aparece como não passível

e/ou não suscetível de contrariedades tem o nome de dia perfeito!

Alguém bastante instruído, poderia questionar o raciocínio da

importância de se ter um certo preparo para atuar no ministério

pastoral. Isso poderia acontecer diante da máxima que diz: Deus não

escolhe capacitados mas capacita os escolhidos! Na verdade, Deus

capacita tanto os capacitados quanto os não capacitados! Todos tem


uma certa cota ou nível de potência a ser elevado em condição de ato

ou efeito pelo exercício dos dons e talentos! Tudo no universo é regido

por leis determinadas. Uma semente de laranja, por exemplo: carrega

elementos em potência cujo efeito, se, submetidos às leis necessárias,

transformarão aquela semente numa laranjeira. No entanto, se a força

do vento ou quaisquer noutras circunstancias jogar essa semente no

meio das rochas, certamente a semente não cumprirá os propósitos

elementares de sua natureza, pois faltarão às condições

indispensáveis à sua germinação, formação e crescimento.

Fatalmente a semente irá se queimar e apodrecer no meio das

pedras. Do mesmo modo, não basta saber que disponho de dons e

talentos em potência dentro de mim, é preciso eu cuidar desse

potencial levando-o a ser trabalhado com esmero e zelo de modo que

a obra Deus seja executada com destreza e eficácia! Deixar os ventos

do mundo espalhar as sementes postas por Deus em meu coração,

implica fazer as oportunidades passarem sem uso efetivo, ficando

minha vida como uma folha em branco! O tempo passou, cruzei os

braços, negligenciei o que havia recebido do Senhor. Então, passei a

morrer aos poucos à medida em que os dons de Deus definhavam-se

dentro de meu ser. Por quais razões iria eu não deixar Deus trabalhar

em mim? Imaginar o quase fim do dia, e minha folha ainda estava em


branco simplesmente por que não dei lugar para Deus escrever minha

história! Eu estava prestes a entrar para dentro, tendo minhas mãos

vazias! Uma boa parte do meu dia já tinha passado.

E agora? Já tenho uma certa idade, isso faz piscar a luz

vermelha, como quem está dizendo: tem de ser agora ou então nunca

mais! Ou eu assumia de vez o episcopado, ou eu sairia de vez do

mundo e… era uma vez alguém que foi quase um pastor e só não foi

porque teve medo infantil e, por isso mesmo, deixou o tempo passar

sem sequer a esperada missão iniciar. Cedo saí de casa e estou ciente

de que cedo voltarei para lá. No dia em que retornar para o mesmo

lugar de onde vim, sei que a porta irá se fechar, então, nunca mais

haverá, outra oportunidade singular parecida ou igual a que tenho

agora. Tudo o que tenho é o meu ser sendo no tempo e pela imbricação

permissiva dos espaços que me acolhe e me permite as possibilidades

factíveis de ser, fluir e se mover na dinâmica do que é dado em termos

relativamente críveis. Enfim, não havia acordo.

Não tinha o menor cabimento eu negar a realidade que

apareceu bem diante de meus olhos, ouvidos e mente. A decisão carece

de lucidez, Tenho de recobrar meus sentidos e fazer uso prático do

imperativo paulino - despertar o dom dentro de mim, e por a andar o


mais rápido que puder, às condições e métodos precisos a

aplicabilidade do que a mim foi divinamente incumbido.

“Da obtusidade sádica do meu ser, meu ser ia se desfazendo sem fazer

uso adequado do dever ser para mim e para o outro. A alteridade

deveria ser meu foco em termos de amor.

Almas de Deus espalhadas no mundo. Eu contido em mim

mesmo, como num casulo, como na caverna do narcisismo cínico

despretensioso. Tinha de surrar a mim mesmo. Claro que sim! Afinal,

eu tinha “culpa no cartório”, como atuaria e poria a mão no arado sem

aparar primeiro as arestas que engordavam minha pujança tênue e

exacerbadamente declarada em minha face? Difícil imaginar ter de

recuperar o tempo perdido. Mais difícil ainda, e/ou impossível, é de

fato fazê-lo. O que me resta agora é só um pedaço de tempo, o qual


não posso deixa-lo escapar sem antes fazer o que tenho de fazer custe

o que custar. Pois, nesta luta vou estar sob as misericórdias de Deus

até que ele cumpra em mim sua perfeita vontade”.

Nesta altura da narrativa, poder-se-ia pensar o nosso amado

pastor Martins de modo isolado? Não podemos nos esquivar de nossa

realidade mais tácita e presente em nós mesmos. Na imbricação dessa

psicologia que nos pune e nos une num mesmo tom. Dando parecer

como o transparecer de alguém carente e ao mesmo tempo valente e

que de repente se percebe a si mesmo em apuros.

Sorridente, de terno e gravata, cabelo bem cortado, perfume

importado e, simultaneamente, tendo um coração a pedir por socorro.

Da assimetria entre caráter e reputação, desta última, a preocupação

em não fazer vir a tona a primeira, sob pena de fazer parecer feio. Pois,

demonstrar tristeza não me é aprazível. Então, evito o desagradável

me esforçando a dar um sorriso mesmo que internamente esteja aos

pedaços. Mas não sou de ferro! Assim como todos, sou também

carente da graça de Deus, carente de vossas orações idem.


E chega o momento em que “dá um branco”, uma espécie de

afasia, o foco teima em querer se desviar do objetivo, tão almejado por

quem aprendeu a desenvolver um espírito, que durante anos,

manteve-se calmo, sereno e tranquilo.

Parecia que um peso excessivo pressionava seu corpo em

direção ao chão, e, em simultâneo, ele se esforçava por não querer

olhar para baixo mas sim para o alto, uma vez que, ele sabia que era

de lá de cima a procedência inequívoca da fonte de seu verdadeiro

socorro. Se disso ele estava cônscio , e, se essa ciência inigualável do

divino ainda podia afetar-lhe de modo confortante, era, contudo,


incontestável, os notórios sinais de cansaço, deitados sobre a

superfície de seu rosto tão marcado por profundas e intrigantes

experiências da vida prático-cotidiana. Não hesitar já constituía lhe

uma certa cota de hesitação.

Então, procurar provocar a si mesmo na tentativa de encontrar

um conjunto de respostas que desse, ao menos, alguma explicação

das causas de sua situação tida inadequada por ele mesmo, lhe era

profundamente desafiador pois não cogitava admitir tal inadequação.

Pretender ver a perfeição possível deitada num mundo

sabidamente imperfeito, levava Martins a escapar de sua realidade

mais tácita, como se sua lucidez fosse portadora de uma condição

não lúcida. O peso caracterizado por sua posição intencional diante

dos dramas da vida, o deixava mais pesado ainda, e, não poucas vezes,

tal posicionamento era marcado por atitudes inconvenientes, embora

para ele, suas ações fossem as mais precisas, concisas e dignas de

aceitação geral.
A SEGUNDA PARTE DO SONHO

Enquanto arrazoava essas coisas, não percebi o mentor se

aproximando. Com o cajado, me derrubou da pedra sobre a qual eu

estava sentado. Me perguntou:_ porventura conseguistes sair da lama

como? Respondi que não sabia, mas que tinha uma leve ideia que uma

força misteriosa havia me resgatado de lá, visto que devido minha

visível fragilidade, isso não me permitiria ser salvo sem ajuda externa.

O mentor retrucou: Qual ajuda externa? Que eu saiba não

houve auxílio externo intervindo em seu resgate! Então, admirado,

questionei o mentor_ diga-me por favor, se não houve recurso para

além das minhas possibilidades, como explicar o fato de eu vir parar

aqui na beira da praia? Batendo por três vezes o cajado na superfície

de uma rocha, ele respondeu: no auge de teu desespero, e apego a um

desejo ardente por escape, tuas entranhas se moveram para extrair o

melhor de ti, e foi aí, que tua verdadeira força vital se manifestou! Que

isso lhe sirva de regra, que tal não seja excluído de seu arsenal,

sempre que tiveres alguma demanda, em especial as de cunho

complexo, grite por ele, o chame e clame. Afinal, ele não está fora,

posicionado em algum ponto específico da galáxia, mas sim dentro.


O entusiasmo implica o poder que parte de dentro e só se

manifesta por meio da coragem singular, original. Ao me levantar a

poucos minutos de ter sido derrubado da pedra, fiquei me sacudindo

a fim de retirar os restos de areia que ficaram impregnados na minha

roupa. Por uns instantes, feito em milésimos de segundos, virei meu

rosto para o lado do sul, e, de repente, não estava mais próximo da

praia, mas sim pendurado numa corda a altura da metade da

montanha a qual eu estava escalando! Nunca vi uma corda para

balançar tanto! Quase enfartei ao ter a “brilhante ideia” de olhar para

baixo e ganhar uma tontura que me deixou mais perturbado ainda.

Me vi, embebido de angústia, medo, associado a um senso de

vazio inexplicável. Depois de várias tentativas, consegui pisar os pés

numa rocha meio plana de uns 30cm, grudada na parede do monte.

Ouvi mais uma vez a voz do mentor: solte a corda! Se com a corda meu

medo era gigante, soltar a corda seria meu fim! Desobedeci. Afinal,

não queria cair daquela altura e me espatifar no chão árido daquele

lugar feito de sutilezas, ironias e sarcasmos dúbios de doer o núcleo

do espírito. Engano meu! Não constatei o ato proposital em que o

mentor, sem manifestar uma única gota de piedade à minha condição

miserável, cortou a corda! Fiquei ali de pé, sobre uma base de 30cm
apenas. Onde é que eu iria encontrar o “espírito do malabarismo” para

me manter naquela altura que eu estava?

O mentor sugeriu: abra os braços, levante um pouco uma das

pernas e olhe firme para o horizonte! Eu fiquei paralisado! Queria

gritar mas o som não saía de minha boca. Novamente ouvi o som do

silêncio. Então, fechei meus olhos e dei um mergulho nas profundezas

do meu espírito.

Mil cairão ao teu lado e dez mil à tua direita e tu não serás

atingido. Entrega teus caminhos nas mãos do Senhor, confia nele e

ele tudo fará!

Aquele que habita no esconderijo do altíssimo, à sombra do

onipotente descansará.

Direi do Senhor ele é meu refúgio e fortaleza, meu baluarte forte

e minha salvação!

Ainda de olhos fechados, vagarosamente fui abrindo meus

braços, assim como a águia abre suas asas, e erguia calmamente pela

fé, minha perna esquerda, me mantive equilibrado por vários minutos

de uma altura deveras significativa. Muitos jovens e também adultos

mais velhos ficam fascinados no que refere a vida ministerial de um

pastor.
Por isso, se entregam de coração aos estudos, teologia, se

consagram, oram e inclusive alguns deles chegam até mesmo a

estudar no exterior. Como se houvesse um certo status quo ou uma

espécie de “glamour” para chegar a posição de ministro do evangelho.

Um fato curioso, é que não poucos aspirantes a esse cargo,

quando realmente estão atuando na área, ficam frustrados por

perceberem que “status” e “glamour” ficam bem distantes! Muitos

fazem de tudo para serem consagrados, e, quando são, fazem de tudo

para sair de tal posição, devido o pesado senso do dever, bem como

dos desafios que surgem pela frente, levando o novo ministro a ter de

pôr o pé no chão e se conscientizar de que “ a coisa é bem mais séria

do que se pensa”!

Pensar é fácil. Difícil é viver na prática, a guerra psicológica pela

qual passa o ungido de Deus na linha tênue quando da divisão e

forçosa administração do bloco paradoxal entre o sentimento e o

dever. Ter de apresentar um rosto sereno e calmo para a comunidade

estando ao mesmo tempo interiormente aos pedaços, ter de dar

conselhos pastorais as pessoas com problemas diversos, e

simultaneamente, vê a si mesmo mergulhado em perguntas profundas

e inquietantes que não querem calar.


O foco aqui referido, não faz alusão ao fator “ rebeldia do

ministro” em não querer realizar a vontade de Deus, mas sim as crises

latentes as quais o ministro vivência e que o coloca numa “corda

bamba”, pedindo-lhe um “equilíbrio funcional tácito” durante seu

labor ministerial. Uma frase quase sentenciosa traz o seguinte teor: “

pastor é espelho”. Essa frase que alguém poderia chamar de “uma

máxima”, traz a conotação pejorativa de que se o espelho quebrar,

todos os que estavam olhando para ele ficariam quebrados por reflexo

como num efeito cascata.

A gente ainda vive a falsa sensação que o pastor é super-homem

e que os membros são apenas ovelhas simples do campo. Isso posto,

fica no ar a ideia: a ovelha pode errar por ser simples ovelha? Pastor

não pode errar tão somente pelo fato de ser pastor? Não se pode negar

o fato da unção de Deus na vida daquele que foi chamado ao santo

ofício, mas também não se pode prescindir do argumento de que

“pastor não é uma máquina” e sim um ser humano como qualquer

outro ser humano passível e obviamente suscetível a fraquezas. Como

já colocado neste trabalho, é imperativo se ater ao todo, isso é, ao

conjunto da obra.

Pensar num ungido/humano, é pensar em alguém que não

obstante, ter recebido a unção como marca da promessa e do


chamado, implica saber que tal ungido não dispõe dos meios possíveis

de suprimir sua humanidade em função da unção sobre ele posta.

Querer se desumanizar sem sair da esfera da existência tácita da vida,

embebida de desafios diversos e muitas vezes complexos, é o mesmo

que tentar ser Deus sem o ato da encarnação! Sofrimentos e

dificuldades, são características peculiares da vida prática! Deus não

pode sofrer. Jesus sofreu. Na teologia da encarnação de Deus, temos

a paixão de Jesus/homem.

Se Cristo não tivesse aniquilado a si mesmo, simplesmente não

haveria a teologia da paixão de Cristo, pois, não poderia sofrer

enquanto forma absoluta de Deus. Se na posição de pastor não posso

me afastar de minha humanidade factualmente, e, na qualidade de

humano, não disponho dos meios possíveis para fugir dos dramas e

dificuldades presentes na atmosfera dos sentidos da vida prático-

cotidiana.

Poderia eu gerar em mim, uma certa cota satisfatória de

felicidade e sentimento de realização que pudesse ao menos, cobrir o

senso de pesar de meu coração que pende para a desistência dos

afazeres ministeriais a mim incumbidos? A expressão angustiante:

“Eloí, Eloí, lamá sabactâni", de Jesus na cruz, revela a presença do

silêncio seguido do senso de “abandono pelo divino”. No meu caso, da


assimetria entre meu entusiasmo de ter sido chamado e depois sentir-

me abandonado, coloquei minha fé em cheque! Pode até soar como

fator de escândalo, minha referência sobre a possibilidade de abrir

mão do arado, em virtude do senso de incompatibilidade entre meu eu

e a causa pela qual tinha me posto a lutar. Pelo que me consta, até

aqui me ajudou o Senhor!

Nesta via, então, exponho que entre eu e Deus tem muito mais

afinidade e proximidade que distância! Isso significa que, apesar do

fato de meu coração ter entrado em processo de crise existencial, e,

mesmo me sentindo deslocado como quem tivera perdido os

referenciais, as mãos de Deus e suas misericórdias sempre estiveram

sobre mim e continuam sobre mim! Oras, se estou bem com Deus e

Ele está bem comigo, quais os motivos justificáveis e/ou coerentes

atestariam meu senso de abandono?

É simples e fácil julgar um líder de ministério quando o

observador está aquém da realidade que marca e determina a vida

episcopal deste líder. Difícil, é tentar, e, muito mais difícil ainda, é

conseguir carregar a mesma cruz que o líder carrega! Um dos atributos

intrínsecos de Deus é a justiça. Deus é justo e por essa razão não nos

sobrecarrega com o peso que não podemos levar. Toda a bagagem de

vida e experiências práticas servindo ao Senhor durante os anos de


meu episcopado, foram tecidas sobre o calor dos calos, frio, chuva,

enfermidades, muitas vezes incompreensão por parte de alguns

obreiros, entre outros, “obreiros não sei de quem”, que procuravam

“puxar meu tapete”. Como se não bastasse, indiferença significativa

da parte dos meus filhos que não alimentavam consenso com minha

fé, inclusive minha esposa. Eu dizia: “ minha família é exemplar, (isso

no início de minha carreira pastoral). É consenso o cristão não se

lançar em relacionamentos pelo viés do jugo desigual. Isso é fato.

O relacionamento tem de ser no Senhor. Caso contrário pode

virar divórcio? Mas e se você casa com alguém que no início é uma

benção nas mãos de Deus, e, com o passar dos anos se deixa levar

pela vaidade do mundo e esfria na fé, não quer ir mais na igreja, passa

a criticar a doutrina, a bíblia e se levantar contra tudo o que diz

respeito as coisas de Deus e de sua maravilhosa obra? A salvação é

individual certo? Pode alguém casar com uma pessoa que não tem fé

nenhuma e depois essa pessoa vir a ser um vaso nas mãos de Deus.

Do contrário, pode alguém casar com uma pessoa que é um vaso de

benção e que depois de algum tempo vira um vaso de desonra. Porque

esse vaso escolheu práticas de desonra se antes era vaso de benção?

Livre arbítrio! O papel do líder é aconselhar, avisar, indicar o caminho

por sugestão e não por obrigação!


Há pastores que casaram com esposa crente e depois ela saiu

da igreja por conta própria. Há pastores cujos filhos são rebeldes e

seguem em linha antagônica ao que aprenderam na infância. Tudo

isso é por demais estressante. Sobretudo, quando um líder se vê

obrigado a ter de lidar e gerenciar tipos problemáticos como estes

citados, entre outros pesados e de gravidade ainda mais aguda. Muito

do que aprendi na faculdade de teologia me foi bastante útil. Hoje, não

faço uso de parte significativa do que aprendi. Se pudesse desaprender

muito do que eu aprendi, eu desaprenderia, seguindo uma certa

vontade de aprender coisas novas e de cunho prático.

A vida pastoral tem muito haver com dinamismo, proficiência e

coerência cristã. Não se pode operar pastoralmente embebido de

teorias que muitas vezes só provocam o ego do educando. Na verdade,

muita teoria força a mente adentrar em terrenos escorregadios e

perigosos, mas que, em tese, são perigos baseados no desafio da alma,

ávida por encontrar respostas às perguntas que estão para além

daquelas, típicas de um coração saturado de humildade espiritual. Por

que digo em tese? Porque existem respostas que Deus nos confere e

outras que são próprias e/ou pertencentes a Ele! A revelação está dada

numa via especial.


Essa via tem um nome, Jesus. Oras, se esta condição de

salvação especial de Deus, revelada na pessoa de seu filho, já foi posta

em nós, e, sua missão já consta explicitada fortemente em nosso

coração, subjaz nestes termos, que não nos falta nada, justamente

dado que a plenitude do nosso pai que está no céu, se manifesta em

nós como completude por antecipação. Cristo é a resposta, e as nossas

teorias são especulações muitas vezes dúbias, difusas e fortuitas. A

ironia que se instaurou e me afetou de modo contundente, foi a

constatação de que Cristo sendo a resposta, minha família teria de

estar bem em todos os sentidos!

Tentar encontrar um nexo explícito que provocasse em mim

uma abertura de “olhos para ver”, como na oração de Eliseu: “abra os

olhos do moço para que ele veja”, (Bíblia sagrada) era o mesmo que ter

de dar quase compulsoriamente de cara com o senso de deslocamento

e desordem interna sutil, gerando em meu ser, a ebulição da alma indo

ao encontro com a aflição de espírito. Na qualidade de pastor ter de

dar respostas a quem me pedia conselhos, sendo eu também um

carente! Poderia um cego guiar outro cego? Você até pode fazer a

pergunta: “como um pastor pode dizer que está cego e com conflitos

internos”? Muita gente ainda pensa que pastor é o “homem de ferro”!

Minha cegueira não me permitiu ver o que eu teria de ter visto muito
antes mesmo de ter sido ungido para o ministério. Eu estava cego com

relação ao ambiente externo porque meus olhos estavam voltados para

mim mesmo! Na faculdade você não aprende a ter empatia.

Na faculdade, se aprende teoremas, por meio de processos

metodológicos e regras de como se comportar e/ou ética pastoral num

viés da pedagogia do obreiro, entre outras coisas mais, exegese,

hermenêutica e línguas bíblicas. Incrível! Eu, pastor X, fulano de tal,

líder de uma grande igreja, com um currículo vasto, diplomas, posição,

cara de quem estava realizado e ao mesmo tempo, sujeito de minha

própria incompetência em não enxergar o óbvio! Afinal, o que eu

queria da minha vida mesmo? Quais eram meus verdadeiros anseios

e sonhos? Que tipo de vaso era eu?


Onde estava o meu foco__ numa bandeira? Missão? Construir

templos e mais templos e consagrar obreiros para servirem nas

congregações e pontos de pregação? Foi aí que me dei conta de mim

mesmo caindo em si, como no efeito do filho pródigo. Só vai se dar

conta de sua miséria na constatação de ser o causador da própria

miséria. Dar passos largos em direção ao sonho e realização daquilo

que sempre foi meu desejo. O de conhecer Deus mais a fundo, e,

paradoxalmente, confrontar-me com a crise que me corroía por dentro,

ante o fato de ter lutado todos esses anos para ganhar o mundo sem

ter empreendido esforços mais concisos e necessários, a fim de ganhar

minha própria família.

Onde estava meu verdadeiro tesouro? Eu procurava o que em

termos de missão? Temos, porém, este tesouro em vasos de barro,

para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós. Em tudo

somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não

desanimados. Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas

não destruídos; (2 Coríntios 4:7-9) A lógica mais sensata seria:

conquistar a mim mesmo. Então, poderia a partir daí, conquistar

minha família.

Assim, eu estaria pronto para dar passos maiores para além de

meu cercado, ir para além das fronteiras conhecidas. Seria mais


justificável se se tão somente eu tivesse me preocupado com a missão

interna. Cuidar dos meus . Amar teu próximo não significa ter de ir

para os Estados Unidos nem para a Europa, mas sim cuidar com zelo

e esmero daqueles que estão bem perto de nós. Nisto ponderei, nisso

pensei. Se se meu dia ainda brilha, se meu sol ainda faz aquecer a

pele do meu corpo, então tenho tempo. De início, minhas crises

latentes me faziam sentir como vítima dos ataques dos outros em

termos de fofocas e disse me disse. Depois, fui buscar ferramentas

necessárias afim de resolver o problema do sentimento de vítima que

deixava meu ser abalado como se Deus e todos estivessem contra mim.

Dado as razões que me falta para justificar meu sono enquanto

estou acordado. Freneticamente indelével. Pois, o que hei de fazer para

driblar as incógnitas dessa vida que passa feito um raio diante de mim,
e, ao mesmo tempo, meu tempo é cortado de meu ser? Onde posso

firmar meus pés fora das bases sólidas concedidas a minha

subjetividade enquanto um ser-sendo nesta atmosfera dos sentidos

sensórios, cujas margens em perspectiva, relevo e profundidade me

escapam quase de todo?

Meu tempo é curto. Vim para cá e daqui partirei para lá. Mas

não posso partir sem fazer valer o que me é muito caro e raro.

Viver é desafio. Desafiar é viver nesta imensa arena dos

gladiadores. Se meu sono vem, então minha vida vai. Como uma

simples folha em branco. Não, não, não quero isso. Afinal a vida é

curta, cara e rara. Dessa raridade quero fazer uma pérola que tenha

duração para além do que é simplesmente efêmero frugal. A vida é

rica. Deus é tudo.

“A teologia me ajudou a compreender exegética e hermeneuticamente


melhor, muitos textos antes ocultos a minha vil ignorância. Tempos
depois, uma séria e profunda reflexão, impingiu em mim, a estreita e
gritante necessidade de renovar-me em prol das vivências coletivas,
entre as quais, a família é ponto crucial”.
MINHA RELAÇÃO À DOIS

Parece que ainda estou vendo aquela moça simpática sentada

no canto esquerdo do penúltimo banco que compunha o grupo da

mocidade. As vezes, um dos porteiros, o cooperador João Castro, dizia:

(brincando) Eu sei porque você está vindo nos cultos de oração... é por

causa de fulana não é? Eu ficava vermelho! Bem, na verdade eu ia

para orar mesmo, as vezes, confesso, eu parava um pouco a oração só

para dar mais uma olhada para ela. O problema era que ela fazia o

mesmo e depois começava a rir baixo para não fazer escândalo dentro

da congregação.

Dessas idas e vindas e nessas trocas de olhares que persistiram

por muitos dias, finalmente ganhei uma namorada! Eu estava no

terceiro ano de faculdade em teologia. Entre os professores, estava o

Gilberto Cintra. Não sei se o Cintra, estava sendo honesto quando

dizia que eu levava jeito para teólogo. Bem, se honesto ou não pouco

importava, o fato era que eu propus a me aplicar de corpo, alma e

espírito ao propósito que eu vinha alimentando em esperança desde a

pré-adolescência.

Aquele mesmo desejo que eu havia confiado a mamãe. Estudar

mais a fundo o texto bíblico. Eu me via como um jovem de sorte.


Primeiro porque Jesus me achou, segundo, porque passei a seguir

uma carreira ministerial, e terceiro, porém tão importante quanto,

encontrei minha “cara metade”. ( Se bem que “cara metade” é um

conceito que dá muitas reservas para discussões acaloradas). Mas

tudo bem. Minha vida estava indo de vento em popa. Meu sol estava

brilhando e tudo mostrava-se claro e conciso. Parecia que eu tinha

ganho asas e me sentia como se estivesse voando! ( Asas saturam-se

com o tempo e depois voltamos a sentir o pé no chão). Felicidade pura.

Tudo estava dando certo.

Quando comuniquei ao meu pastor que estava de namoro com

Marisa, ele olhou para mim de modo bastante sério e perguntou: isso

é sério irmão Martins? Eu respondi que sim. Alguns milésimos de

segundos passaram. O pastor Ronaldo me fez uma segunda pergunta:

isso é sério Sr. Martins? Meneei a cabeça afirmativamente

demonstrando um certo acanhamento. Depois ele se posicionou para

fazer uma terceira pergunta e eu o interrompi dizendo que já sabia o

que ele iria me perguntar. Sabe mesmo o que vou lhe perguntar Sr.

Martins? Sei, respondi meio baixo. Se sabes então vai falar com o pai

dela! Até hoje me ponho a refletir o por que o pastor me fez a mesma

pergunta quase que por três vezes!


Não disponho de palavras adequadas e/ou suficientes a fim de

explicar as batidas de meu coração quando minha namorada Marisa,

resolveu me apresentar aos pais dela. Eu ia descendo a rua onde ela

morava com seus pais. Por coincidência, se assim posso definir, o pai

dela já ia saindo de casa. Ele nos viu. Fiquei mais assustado do que

um rato em face de um perigo iminente. Ele vinha a passos largos em

nossa direção. Era o irmão Pedro. O rosto dele me pareceu rígido, com

um olhar penetrante e que parecia prestes a soltar algum tipo de fogo

abrasivo e mortal e... quando ele se aproximou... Martins, Que bom

vê-lo por aqui! Cuida bem da minha menina Ok! Outrossim, não passe

o sinal antes do casório!

Fiquei pasmo! Ele já sabia? Rindo, Marisa respondeu de modo

meigo: meu pai não nasceu ontem seu bobo! Fui com Marisa até o

portão de sua casa. Dei um a paz do Senhor a Sra. sua mãe, e decidi

retornar ao meu lar depois de um beijinho tímido na testa daquela que

seria minha futura esposa. Seria mesmo? Marisa de Souza Iria ser

transformada em Marisa Martins? Bem, o desenrolar da narrativa

prossegue.

Cada dia que se passava eu me via mais apaixonado por ela.

Parecia um sonho! Alguns diziam que Deus tinha posto aquela jovem

em meu caminho e que ela era a minha preparada. Eu só não gostava


muito de ouvir palavras do contra como: “acho que esse namoro não

vai virar casamento”, pois Martins e Marisa não tem nada haver um

com o outro. Sempre achei que essas vozes negativas eram frutos da

inveja de quem não queria minha felicidade. Sinceramente, não me

importei muito com essas “dores de cotovelo”, eu realmente estava

focado nos objetivos que havia posto em meu coração. Trabalhar,

estudar, me formar e casar. Minha feição pelas letras sagradas me

impeliam a se aprofundar mais e mais nos mistérios da fé. Eu era um

leitor voraz!

Hoje em dia, ainda leio alguma coisa, mas não tanto quanto

antes. Eu queria ser como os pregadores. Queria ser como meu pastor,

mas apenas no quesito pregar. Não queria ser pastor. Talvez um

professor de teologia, ou ainda um orientador em reuniões de escola

dominical, nada mais além disso. Entre os desafios que eu teria de

lidar com o tempo, era vencer a timidez que não poucas vezes ficava

estampada em meu rosto.

Assim que passei a namorar Marisa, ela passou a me ajudar “a

me soltar”, ficar mais natural na frente dos outros. Outro dia ela me

ensinou uma técnica. Quer se sentir mais confortável na frente dos

outros Martins? Respondi que sim. Então, desenvolva a técnica do

espelho! Técnica do espelho? Como assim, não entendi ! Bem, Martins,


ao se levantar pela manhã, vá até o espelho e diga por três vezes. “Eu

sou gente e não um animal! Faça isso todos os dias até você se

acostumar a se ver como gente! Olhei para Marisa e fiz cara de bravo,

perguntei para ela o porque ela ainda estava comigo se me via como

animal. Não, não, Martins, estou usando uma figura de linguagem!

Tive que engolir aquela “figura de linguagem” referida por Marisa”. Por

mais incrédulo que estivesse quanto a proposta do espelho, me

arrisquei nisso por alguns dias. Até pensei estar “pagando mico”.

Algumas semanas mais tarde, eu estava me sentindo melhor,

confesso que me senti como se estivesse passando por uma

metamorfose, saindo de minha “animalidade” e me tornando mais

humano. ( Nossos hábitos nos fazem para melhor ou para pior

dependendo de nossas ações conscientes ou não). Embora fosse um

leitor assíduo da bíblia, eu nunca tinha proferido um sermão na

congregação.

Todas as vezes em que eu recebia uma oportunidade, eu lia um

versículo e já me preparava para louvar. Os irmãos inclusive me

incentivavam a gravar um disco. Porém, eu não me via como um

cantor. Na verdade, minha rouquidão seguido dos tremores de minhas

mãos sinalizavam justamente que eu precisaria ser lapidado em todos

os sentidos para finalmente alcançar o milagre de uma voz afinada.


Meu coração “foi a mil”, quando o pastor Ronaldo, adentrando a porta

da congregação, bateu em meu ombro e me disse: “neste culto com a

mocidade você vai pregar! Eu queria me esconder debaixo dos bancos.

Eu não queria que a parte dos louvores terminasse logo, pois

não desejava, por incrível que pudesse parecer, a hora da mensagem

chegar... e então, meus tímpanos ouviram a voz do pastor Ronaldo_ o

irmão Martins está com a palavra. Peguei a bíblia, me dirigi a tribuna,

abri o livro santo no Salmo 23 :1-6 , e apesar das minhas pernas

estarem “dançando sozinhas”, nem eu mesmo pude decifrar a

proporção do poder e unção que sobre mim veio naquela noite de

Sábado, dia 12 de Outubro. Deus me usou ali, com poder e graça pela

eficiência de seu santo Espírito. A mensagem foi entregue por um

período de 45 minutos aproximadamente. Quando fui entregar o

microfone para o pastor Ronaldo, ele estava de joelhos, orando. Ao se

levantar, vi lágrimas abundantes brotar de seus olhos. Minha primeira

preleção! Encerrada a reunião, todos fomos para casa. Ainda sentindo

os efeitos do impacto da glória manifesta por um viés majestático

naquele culto, minhas mãos ainda meio trêmulas, alcançou o molho

de chaves preso a reata de minha calça de algodão azul marinho. Virei

a chave, a porta abriu, seguido do rangido estridente das dobradiças.


Me dirigi até a cama, sentei na beirada, e, virando o rosto um pouco

para a direita, dei de cara com o espelho.

Meu reflexo me fez mergulhar nos pilares de uma reflexão

aguda, profunda e interrogativa. Se a timidez revelou-se nítida e

evidente, como explicar o nexo das palavras vindas de minha boca?

Dessa indagação, surgiu a razão feita de brasas vivas em forma de voz

divinal. Você não é tímido! Deus não é tímido. Esse sentimento ganha

mais força quando a gente o alimenta na mesma perspectiva. Do

encontro que tenho com minha própria fraqueza constato que fraco

sou e nesta posição sou tendente a ficar me “sentindo fraco” e/ou

tímido o suficiente para justificar de modo frugal minha inação diante

dos desafios suscetíveis de superação. No geral, a gente tende a

supervalorizar em termos de subestimar os dramas e problemas da

vida além de suas reais problemáticas em si mesmos. ( o tal do “ fazer

uma tempestade num copo d'água).

Se minha timidez me parecia um “problemão” era porque assim

eu a definia. Eu estava dando mais razão a minha timidez do que as

condições factíveis a minha disposição de enfrentamento daquilo que

era tão somente a sombra de um “probleminha”. Antes de pegares o

metro ou a trena para medires o tamanho de seus desafios, divida-os

em pedaços. Assim, terás uma melhor e maior visão de onde começar


a dominá-los. Achei interessante essa observação. A sugestão de

Marisa quanto a técnica do espelho, à primeira vista me pareceu

loucura, mas depois tudo começou a fazer sentido. A partir desse

ponto, propus a mim mesmo, desenvolver algumas técnicas mais

sofisticadas de modo que pudesse me auto superar, inclusive até

atingir o status daquilo que mais tarde veio a ser um dos principais

fatores de minha ruina pessoal e ministerial. O Perfeccionismo.

Dominar a si mesmo, e/ou auto superar-se gera em nós

dignidade e bem estar. Ultrapassar os limites do bom senso, contudo,

pode nos levar a frustração e desilusão sem precedentes. Lembremos

de Salomão, o rei. Soube pedir bem, sabedoria. Mas no curso de sua

vida, não soube lidar bem quanto aos limites do bom senso. Daí seu

pesar, e suas reflexões feitas em sentimentos de angústia, registradas

no Eclesiastes e Provérbios principalmente. A igreja estava linda. Toda

florida. Tapete vermelho indo da porta até o pé do altar. Marisa, de véu

e grinalda, apresentava-se bela, radiante!

Quem diria que depois de três anos, finalmente casaria. Então

casei com ela! O irmão Pedro, pai dela, fez sinal com as mãos. Eu

entendi, O sinal era, cuide bem da minha menina! Olhei para ele, e,

sorrindo, pisquei o olho esquerdo enquanto meneava a cabeça em

sentido afirmativo. Foi essa pessoa quem escolhi, a fim de ser minha
esposa e futura mãe de nossos filhos! Minha idade, 33. Eu era cinco

anos mais velho que minha mulher. Depois de casado, ainda fiquei

congregando durante 5 anos naquele mesmo templo.

Um ano antes de completar 26 anos congregando naquela

mesma igreja, eu e minha esposa mudamos para Maringá PR. Mamãe

e papai pensaram que nunca mais iam me ver. Os acalmei dizendo:

não se preocupem, o quanto antes estarei de volta! Eles tinham medo

que eu “sumisse do mapa”, e o tal medo deles aumentou ainda mais

depois que casei com a filha do irmão Pedro. Fiquei uns 11 meses no

Paraná. Eu pretendia comprar um terreno lá e depois chamar meus

pais para morar comigo. Porém, os planos mudaram, especialmente

depois que minha filha Roseane nasceu. Parto difícil. Nosso primeiro

fruto nos veio quando ainda morávamos em São Paulo. Ele se chama

Rafael. Tinha três anos de idade quando nos mudamos para Maringá.

Então, já tínhamos dois filhos_ um menino e uma menina!

Minha bebê nasceu com 5 meses de gestação. Ficou sob os

cuidados médicos para ganhar peso. Decidi então voltar para São

Paulo. Liguei para alguns amigos residentes na Capital Paulista, a fim

de adiantar algumas questões em termos de Moradia e trabalho.

Em termos práticos, no Paraná as coisas não estavam indo

muito bem para mim, isso do ponto de vista econômico. Eu ganhava


um dinheiro razoável com meus serviços de tapeçaria e estofados, mas

a família estava crescendo e eu precisava ampliar minha carteira de

clientes. Se bem da verdade, em São Paulo, eu já tinha um bom

número de contatos e, neste sentido, eu acreditei que voltando a

minha cidade natal, as coisas iriam melhorar. Durante as ligações que

fiz, no sentido de dar um upgrade em minha vida pessoal e

profissional, um de meus amigos que a propósito era pastor, me fez

uma proposta ministerial. ( Não era o pastor Ronaldo) Logo de cara

rejeitei. Ele insistiu. Meu amigo e irmão Martins, você se formou em

teologia e eu gostaria que o amado ficasse a frente de uma das

congregações de nosso ministério, pois mesma está praticamente sem

pastor! Por obséquio, venha nos ajudar a organizar algumas coisas

que estão fora do lugar. Caso você aceitar o convite, a gente vai ceder-

lhe uma casa pastoral, água, luz, telefone e um salário para a sua

manutenção pessoal e familiar. Acredite caro leitor (a), fiquei irritado

com aquela proposta. Eu não queria ser pastor e não estava gostando

nenhum pouco daquele convite, pois, embora sendo um teólogo, eu

não me via como um ser ungido à frente de um rebanho. Mas meu

amigo me pediu calma. Pense bem Martins, você tem até a semana

que vem para dar um parecer sobre esse importante assunto. Caso

contrário, terei de convidar alguém, que não sei quem e se se terá


condições suficientes e/ou necessárias para levar este desafio a

patamares ainda maiores, pois, o campo é grande e poucos são os

obreiros preparados a este divino propósito.

Passaram- se quinze dias e eu não dei resposta alguma a quem

me fizera esse convite inesperado. Neste curto período que fiquei no

Paraná, passei a congregar numa igreja Batista tradicional, liderada

pelo pastor Beto, do qual, aprendi outras coisas e assuntos que ainda

não conhecia. Marisa, embora não concordasse em ficarmos nessa

igreja Batista, se esforçava no sentido de me acompanhar durante o

tempo em que estivemos por lá. O tempo “passou depressa”. Quando

pensei que não, já estava de malas prontas para regressar a maior

cidade do Brasil. Por meio de uma indicação, encontrei um imóvel para

alugar numa região ao sul de São Paulo. Marisa achou o imóvel um

pouco pequeno, mas era o que podíamos pagar. Voltei ao meu ofício

de tapeceiro.

Pense na dificuldade de recomeçar tudo de novo, praticamente

do zero, minhas economias estavam quase que esgotadas, tentei, junto

a alguns bancos um possível empréstimo. Empréstimo negado, por

motivos de não ter garantias mínimas de que iria saldar a dívida. Como

ainda tinha alguma reserva própria, aluguei um salão, não muito

longe de casa. Tinha de reiniciar minhas atividades profissionais o


quanto antes, a família maior, mais pessoas para alimentar, aluguel,

agua, luz, gás, dentre outras despesas mais, exigiam de mim, ação

mais enérgica no sentido de não deixar a “peteca cair”.

Eu tive que “me virar nos trinta”. Não posso dizer se ironia do

destino ou provação, “a coisa parecia não querer pegar”. Não pingava

cliente na minha loja. E, quando aparecia alguém, os serviços eram:

pequenos reparos, o dinheiro que entrava, quase não cobria o aluguel

do salão. A reserva que eu ainda tinha dava mais ou menos para um

ano e meio. Parece bastante tempo. Na verdade não é. O tempo não

espera. Eu não poderia deixar a vasilha secar sem antes ter outras

fontes, através das quais, conseguiria repor as margens de recursos

necessários ao meu bem estar, principalmente a segurança social e

alimentar dos meus. Passados quatro meses, depois que regressei de

Maringá, vi a coisa apertar. Então, murmurei: não vai dar para

continuar neste lugar sem nada ganhar!

Na esteira de rimas em rimas, eu não queria rimar, muito

menos me queimar, no bojo sádico daquela falta de cliente em forma

de gente que talvez por misericórdia que fosse, pudesse ali pisar, para

até que enfim, algum “bom negócio fisgar”. Mas cadê? Negócios até

que chegavam, mas não de modo suficientes com vistas as

possibilidades de minhas contas pagar. Cadê? O tempo passa, não


espera, a gente se desespera especialmente quando há, mais gente que

nos espera, confiando em nosso amor em termos de provisão, proteção

e concórdia. Meus pequenos precisavam de mim eu teria de dar o meu

melhor.

Servo de Deus, crente em Cristo Jesus. Com fé no coração, pé

no chão e sem dinheiro no bolso! Ainda bem que eu tinha fé, de que

as coisas iriam melhorar, mesmo que as circunstancias colocasse na

minha frente um “NÃO”, do tamanho do mundo!

Eu sabia, por paradoxal que pudesse parecer, lá no fundo sutil

de meu coração teimoso-medroso, uma vós pedindo calma e mais

calma. Me chegou um sofá azul, grande. De tamanho gigante e azul

fulgurante. Todo surrado e rasgado com vontade. ( Não sei quem o

rasgou). O cliente perguntou: essa coisa tem salvação?

Sorrindo eu disse: sim, tem, claro! Depois que o cliente saiu,

deixando o “pepino” para eu “salvar”, digo- consertar, sentei no sofá

rasgado e ali fiquei a meditar. Poxa vida, sou formado em teologia. Mas

que bom que também sou tapeceiro! Maravilhas Jesus! Tu és bom pai,

obrigado por me dar o dom de consertar sofá! Mas voltei a ficar sério,

pus a mão esquerda no queixo, meus olhos mostravam-se de modo tal

denunciando minha farta preocupação. Veio esse azul hoje, e amanhã,

o que será? Deveras aflito, fechei os olhos, e pedi a Deus para falar
comigo. Abri a bíblia, e saiu na parte que fala: “do suor de teu rosto

comerás o teu pão até que retornes ao pó”. Depois daquela leitura, me

vi com o martelo na mão fixando pregos na base do sofá azul. Não

percebi uma alma adentrar o recinto.

Meu susto foi evidente quando ouvi a voz de Rogério.

__Martins, tudo bem com você?

__Pastor Rogério o que faz aqui por essas bandas, está perdido?

__Martins, meu amigo, se eu estivesse perdido realmente

acreditas que eu te acharia aqui na zona Sul de São Paulo?

Então, perguntei: conseguiu encontrar o pastor para tomar

conta da congregação que estava sem líder?

Encontrei... mas não deu certo! Porque não? Ele é pastor não

é? Sim ele é, o problema é que ele não é você Martins!

Olhei para o rosto de Rogério, ele estava tranquilo.

Então, pastor Rogerio, me diga: o que te faz pensar que eu seria

o líder ideal para o cargo? É simples Martins, você tem o dom, além

do mais você tem preparação bíblico-teológica, estudou

comportamento e ética pastoral em disciplina psicológica e filosófica.

Mais que isso, você é humilde! Tudo o que um ministro com bagagem

intelectual precisa ter como coroamento do conhecimento. Humildade!

Pensativo, retruquei: se trabalhando aqui está difícil cuidar dos meus


pequenos, o que vou fazer como pastor de igreja? Vamos seu Rogério,

me explique! Sorrindo, Rogério abriu sua pasta e me entregou um

envelope dizendo: Só abra esse papel depois que eu sair daqui Ok! Eu

disse: tudo bem. Coloquei o envelope na mesa. Tendo passado cerca

de meia hora, Rogério se retirou e foi embora. Continuei a pregar

pregos na base do sofá azul.

Aquele dia em que recebi a visita inesperada de Rogério, era

uma segunda feira, o dia de culto de oração numa pequena igreja que

ficava justamente na mesma rua da casa onde passei a morar de

aluguel. A denominação era: Assembleia de Deus M. Madureira. Eram

quase 18h, saí depressa. Esqueci o envelope na mesa. Disse para mim

mesmo: tudo bem, amanhã de manhã eu vou ler a carta que Rogério

me entregou.

Ao retornar para casa, tomei meu banho. Marisa e as crianças

já estavam prontas para irmos a igreja. Eu estava muito apreensivo.

Naquele culto, Deus falou fortemente ao meu coração através da

palavra trazida pelo pastor Renato. Deus renovou minhas forças

naquela noite e o ânimo voltou a ter vida em minha vida.

No dia seguinte, ao retomar o trabalho na oficina, fui logo em

direção ao envelope que estava sobre a mesa. Nele, de fato tinha uma

carta. Ao abrir, dentro da mesma havia um cheque. Fiquei deveras


estupefato e comigo mesmo murmurei: mas, este pastor Rogério... não

deveria fazer isso! Ao observar melhor o teor daquele cheque, fiquei

mais abismado ainda, ao constatar que se se tratava de um valor

equivalente a 20 meses do aluguel de minha oficina!

No sábado seguinte àquele episódio, saí mais cedo do trabalho

e fui procurar o pastor Rogério, a fim de devolver o cheque, pois, ele

não tinha nenhuma obrigação de me ajudar sem mais nem menos.

Afinal, como pai e marido era eu quem tinha de prover meu próprio

recurso bem como o sustento dos meus! Quando a secretária dele o

informou que eu estava na sala de espera, imediatamente recomendou

para que eu adentrasse o gabinete pastoral.

Olá, Martins, meu amigo e irmão em Cristo, boa tarde na paz,

você não sabe qual é minha satisfação em vê-lo por aqui! Eu disse:

olá, pastor Rogério, a paz! Por favor queira receber o cheque de volta

pois... Não, não, irmão Martins, pelo amor de Deus não me faça esta

desfeita! Esse valor não vai me fazer a mínima falta e, a propósito, não

estou lhe fazendo nenhum favor! Deus pediu para mim fazer isso, e ,

se você rejeitar o valor, estarás rejeitando o que Deus quis que eu

fizesse!

O pastor Rogério me pareceu bastante sincero. Você tem algum

compromisso hoje Martins? Me perguntou o pastor Rogério. Não, não


tenho, porque a pergunta? Gostaria que fosse comigo em uma das

congregações do ministério, pois quero lhe mostrar algo. Como eu não

tinha nada a fazer naquele dia, aceitei. O templo era enorme, a casa

pastoral era ampla e espaçosa. Um jardim florido e muito bonito na

frente. Um terraço com pilastras de mármore branco e janelas com

vidros coloridos saltavam aos olhos de quem observa. Perguntei:

Quem é o obreiro que pastoreia aqui?

Rogério olhou para mim, vi umas gotas de lágrimas caírem de

seus olhos castanhos. Lamentou, tentei colocar dois obreiros aqui mas

eles não estavam preparados para o arado. Tentei consolar, dizendo

que Deus iria prover um líder que estivesse a altura, e... Rogério, me

interrompeu e disse: você é esse líder, Martins! Não me deixe levar esse

trabalho sozinho, por favor; vamos ajudar um ao outro em nome de

Jesus! Fiquei deveras reflexivo, despedindo do pastor Rogério, retornei

para casa e fiz saber a Marisa o ocorrido.

Três semanas depois, estava de mudança para a casa pastoral

onde morei por 27 anos. Ali, servi como pastor durante todo esse

tempo. Diante de amigos e maldizentes, tentei contornar da melhor

forma possível as crises que surgiam vez por outra, e “disse-me disse”,

misturados “a fofocas e fofocas de baciada” e meu nome sendo levado

a presidência do ministério, como se eu não fosse um pastor mas um


desertor de ovelhas perdidas, sem rumo nem direção. Nas reuniões de

obreiros, Rogério, perguntava se estava tudo bem, eu dizia que sim,

na verdade alguns probleminhas mas que dava para levar pelas vias

da graça de Jesus. (Eu estava me fazendo de forte)!

Muita gente gostava de meu trabalho. Porém, com o passar do

tempo foi adentrando outras pessoas, advindas de outros ministérios,

como pastores diáconos e presbíteros, muitos dos quais, passaram a

fazer parte do corpo de obreiros oficiais daquela congregação. Então,

como se diz: onde há gente há problemas, um monte deles passaram

a ser os grandes motivos de minhas muitas e muitas noites em claro.

Numa certa ocasião de ceia, um dos presbíteros, puxou minha

gravata com força que por pouco não tive o pescoço quebrado. Caí no

chão da tribuna, e, como se não bastasse, me desferiu golpes com

chutes e socos e ali fiquei como que desmaiado. Os demais obreiros

reagiram e tentaram segurar o presbítero agressor que saiu para a rua

com muita ira no seu coração. Esse tal, era um dos que diziam que eu

não era pastor e sim um perfeccionista e que queria levar os trabalhos

da congregação a ferro e fogo.

Quando aquela sena horrível aconteceu, eu estava trazendo a

palavra oficial da noite. Pregando sob a égide da unção e poder do

Espírito Santo, sem perceber o perigo, fui violenta e maldosamente


atingido na frente de todos os presentes. Me foi um verdadeiro

pesadelo acordado! Quiseram chamar a polícia, mas eu não quis dar

queixa, preferi esperar a “poeira baixar”, os ânimos exaltados se

acalmarem, a fim de que mais tarde, pudesse conversar

amigavelmente com o agressor, para saber os motivos pelos quais ele

agiu daquela maneira tão vil, ardilosa e insensata.

No dia seguinte, uma parte da equipe de obreiros, se dirigiu a

casa do presbítero violento. Ele estava, mas não recebeu meus

obreiros. Dois meses depois daquele evento tempestivo, fui informado

de que o tal, alugara um salão ali perto e estava aliciando e/ou

abduzindo parte de minha comunidade a se deslocar para a “igreja

que ele abriu”. Ele rompeu por conta própria, os laços com nosso

ministério e abriu um ministério próprio. Como se não bastasse, vivia

dizendo que eu era um pastor `rígido”, e que minha igreja iria “falir” e

que o povo que eu lutei tanto para ganhar para Jesus, iria perecer se

não saísse urgentemente de onde estava e fosse para igreja dele! Não

me preocupei muito com isso, ao menos à princípio. Contudo,

conforme o tempo ia passando, percebi a falta de alguns irmãos. Fui

pesquisar a razão. Qual não foi minha surpresa, cerca de 15% da

comunidade para a qual eu estava me dedicando, estava dando


ouvidos a vós daquele que queria a minha morte! Então, reagi e

comecei a doutrinar os irmãos que ainda estavam comigo.

Dizia: Cuidado, existe um lobo por aqui, ele é violento,

rancoroso, invejoso, falso, dissimulado e terrível pescador de aquário!

Apesar dos pesares, ele tinha uma “boa lábia”, e aproveitando a

humildade de muitas ovelhas, ele procurava com toda a astúcia do

inferno arrebata-las para si. Eu disse: Deus, o que está acontecendo?

Onde estão tuas promessas e porque me trouxestes para cá a fim de

cuidar de um povo em que uma parcela dele parece não entender teu

querer e tua perfeita vontade? Ainda assim, mesmo aflito, tentei

recuperar as almas que tinham sido aliciadas.

Com calma, procurei aconselhar, mas muitas delas se

mostraram indiferentes de modo que não deixei de notar olhos

desdenhosos vindos em minha direção, como quem diz: vai embora

pois você não é mais nosso pastor! Nesta luta ferrenha, consegui ao

menos resgatar algumas e traze-las novamente ao aprisco. Em Julho

de 2014, dois pastores e um diácono que serviam comigo no altar,

levaram à presidência do ministério, uma reclamação por escrito a

qual compunha o seguinte teor:

Ao Sr. Pastor, Presidente deste ministério, Viemos por meio

desta, expor a V.s.ª, que, juntos, testemunhamos e confirmamos,


conduta inadequada do Sr. Martins, o qual, não sabemos se podemos

denomina-lo mais como pastor, pois, o mesmo, vem conferindo

tratamento indisciplinar com a comunidade para a qual fora designado.

Ultimamente, o mesmo tem negado oportunidades aos

irmãos que gostariam de dar seus testemunhos , barrando os trabalhos

e iniciativas importantes ao bem estar e crescimento da igreja, e, nas

reuniões locais, discorda de toda e qualquer opinião dos demais

obreiros, que, não obstante fazerem parte oficialmente da diretoria, são

obrigados a ficarem calados e seguirem fielmente o que o “líder” acha

que está certo. Dentre as mais bizarras e impertinentes aberrações, ora

praticadas por esse que se diz ungido de Deus, está a negação da ceia,

para quem não vem nos cultos de ensinamento e para quem não devolve

ofertas e dízimos, sendo que, temos muitos irmãos humildes que

inclusive , são dependentes de cesta básica. Nos é muito triste e

desconfortante ver apenas uma parte da igreja que, em virtude de poder

cooperar por terem recursos, a outra parte fica apenas “olhando a ceia

passar sem poder cear” conjuntamente conosco.

Biblicamente, sabemos que a ceia é do Senhor Jesus, e, nós da

comunidade, deveríamos ter tudo em comum conforme o registro

sagrado. Postas as considerações sob esses termos, solicitamos

encarecidamente de V.s.ª, junto ao corpo disciplinar ético deste


ministério, que sejam tomadas as providencias cabíveis, necessárias e

urgentes sobre esse caso, pois, a igreja está sofrendo com um líder que,

passou a confundir pastorado com ditadura evangélica e entender sua

posição de liderança como fator de poder pelo poder sobre os outros

considerados imperfeitos para ele. Naquela ocasião, não era mais o

pastor Rogério quem estava na presidência, mas sim seu irmão mais

novo, Sandoval.

Logo após ler a carta de reclamação, Sandoval, asseverou que

iria apurar os fatos o quanto antes. Assim como o Rogério, Sandoval

tinha me dado carta branca para administrar os trabalhos da igreja e

eu sempre acreditei estar fazendo um bom trabalho. Contrariamente,

as coisas ficaram um tanto difíceis, sobretudo nos últimos anos em

que estive ali. Não conseguia entender o porque de tanta discórdia por

parte de alguns irmãos, muitos dos quais queriam me ver longe das

atividades eclesiásticas.

No fundo no fundo, algo realmente estava fora dos eixos e, o

problema central disso não era com os outros, mas comigo! Só

tardiamente, fui perceber que, de fato, eu estava “pegando pesado”

com minhas palavras e ações, de modo que, vi em mim mesmo, um

sujeito áspero e asqueroso o qual, tinha ultrapassado os limites do

bom senso, não se policiou de modo o mais sensato possível no trato


com as pessoas que tinha de zelar com elevada estima, empatia e

esmero pastoral. Pena que “o leite tinha sido derramado”. Aquela

dedicação que eu sempre mantive para com os meus, foi se tornando

apática. Já não estava dando muita atenção a minha esposa e não

poucas vezes, discutia com meus filhos, exigindo deles, exemplar

disciplina e “perfeição em termos de conduta”. Quaisquer situações

em que eu presenciasse “equívocos”, eu os repreendia de modo ríspido

e com postura exacerbadamente arrogante, muitas vezes na frente dos

outros!

Depois que me tornei pastor a convite de Rogério, não me dei

conta de que chegaria, como de fato cheguei, ao cúmulo do absurdo,

de conceber a missão evangélica acima de tudo sem dosar a verdade

de que a missão de Deus se faz em conjunto no todo. Eu mesmo não

estava me reconhecendo. Me escapava, qual fator me levou a se

comportar com tanta altivez e senso de superioridade febril. Numa

certa ocasião, isso em 2013, meu filho Rafael, fez uns movimentos

mais fortes com as baquetas da bateria. Julgando que aquilo estava

mais para “samba mundano” do que para “hino evangélico”, repreendi

o meu filho com um tom de voz muito amargo e ainda lhe falei “umas

verdades”, como: se for para bater na bateria a ponto de quebrar as

baquetas, nunca mais coloque as mãos neste instrumento está


ouvindo seu “moleque irresponsável”? Rafael, envergonhado, abaixou

a cabeça.

Ao perceber que imediatamente todos os olhares se voltaram

para ele, entrou em crise de choro abundante. Depois desse episódio,

Rafael nunca mais pisou na igreja. Tentei conversar com ele e me

retratar, mas foi em vão Algumas semanas depois ele saiu de casa e

até hoje não o vi mais. Quando Rafael foi embora, evidentemente

muito decepcionado comigo, Marisa entrou em processo de crise

emocional e nossa relação conjugal tornou-se cada vez mais difícil.

Discussões e mais discussões acaloradas passaram a fazer parte do

ambiente, que em tese, deveria ser um “doce lar”.

A família começou a se desmoronar por entre os meus dedos.

Meu desejo ávido por perfeição culminou em perfeccionismo

desenfreado e vil. Percebi, tardiamente, que quanto mais organização

e disciplina eu procurava ver do lado de fora e na vida dos outros, mais

desorganizado e indisciplinado eu ficava por dentro! Isso tornou-se

contagiante à medida em que já não tinha controle sobre minhas

emoções mais concisas e fáticas.


O CHACOALHÃO

O ano da “bomba que estourou nas minhas mãos”, foi o de

2016. Nestas alturas, minha filha Roseane, já estava com quase 29

anos. Ela deixou a igreja. Decidiu seguir o próprio caminho amigando-

se com um rapaz que conheceu na faculdade. Desde que meus filhos

eram crianças, eu praticamente os obrigava a estar em todos os cultos.

A família toda reunida. Eu, Marisa e as crianças, chovesse ou fizesse

sol. Eles tinham de dar exemplo de boas maneiras, eu não aceitava

falhas, caso se comportassem fora das regras estabelecidas, o castigo

vinha de modo implacável, não tinha negociata nem acordo.

Em Setembro do ano de 2016, um casal de nossa igreja me

procurou para aconselhamento. Queriam divorciar-se em função das

constantes crises conjugais. Marquei com eles em meu gabinete.

Enquanto estava ouvindo o casal, Marisa apareceu justamente

naquela mesma hora. Batendo fortemente na porta do recinto

pastoral, gritava pelo meu nome. Demonstrando um nervosismo

extremado, dizia que queria falar comigo de qualquer jeito. Pedi licença

ao casal. Abri a porta. Com os olhos cheio de lágrimas, Marisa olhou

para mim e disse: acabou. Tirou a aliança do dedo e a jogou contra

meu peito. Disse ainda mais -- Se sua família é apenas sua missão, a
igreja e o ministério, não existe mais razão para eu viver com você. Eu

te amei Martins, te amei muito! Você casou comigo mas vive com a

igreja.

Nosso casamento está insustentável. Não tenho meus filhos

comigo, minha vida está apática e triste e não tenho como viver mais

nesse estado. Fiquei deveras apreensivo com aquela cena. Neste

interim, o casal que veio me pedir conselhos ficou abismado ao

presenciar aquela situação lamentável. Tentei segurar as emoções

mas não pude.

Confesso que perdi o controle e sem um nexo aparente que

fosse ao menos justificável, tentei convencer Marisa a se acalmar e

pensar melhor a decisão radical que estava prestes a tomar. Minha

esposa saiu do gabinete sem dizer adeus e sem olhar para trás. Não

tive mais condições de dar continuidade ao aconselhamento e, então,

marquei um outro dia com o casal. Pedi que não contasse a ninguém

o que eles tinham presenciado ali. Depois desse episódio, ainda

permaneci cerca de 5 horas dentro do gabinete andando em círculos.

Pensamentos sarcásticos e dolorosos se sacudiam dentro de mim.

Minha secretária, Suelly, certamente escutou todos os detalhes do

“bate boca”. Isso me causou um vergonha sem igual! Exausto e

visivelmente abalado, peguei minha pasta e subi as escadas que


davam acesso a casa pastoral. Indo até o quarto, coloquei a pasta em

cima do criado mudo.

Quando fui guardar meu paletó no guarda roupa, constatei que

a parte reservada as roupas de Marisa, estava vazia. Ela foi embora

para a casa dos pais dela. Sentei na beirada da cama, elevei as duas

mãos a cabeça e lamentei: meu Deus, o que foi que eu fiz? Ali meu

mundo desabou. Ali, dei de cara com a realidade cruel, sádica e fria

de uma vida toda vivida sem as ancoras necessárias da sabedoria as

possibilidades de vivencias coletivas possíveis.

Então, descontrolado, não vi saída possível para aquela

situação malogra e dolorosa que caiu sobre minha cabeça. Não “tinha

mais cabeça” para pensar de modo sensato, não tinha mais ânimo

para a missão a qual quis levar a ferro e fogo. Meu perfeccionismo me

puniu e minha não habilidade em saber separar as coisas, baniu de

mim as esperanças de virada de paradigma. Rasguei literalmente

minha credencial.

Coloquei minhas coisas em caixas de papelão e fui para

Suzano, município de São Paulo. Lá, aluguel uma pequena casa de

dois cômodos onde permaneci como se fora um foragido. Nessa casa

morei por cerca de um ano e seis meses. Deletei todos os meus

contatos. Não queria falar com ninguém. Alguns meses mais tarde,
arrisquei em procurar saber de Marisa. Então, me veio a triste e

dolorosa notícia de que a mulher com quem casei e tive dois filhos,

falecera num terrível acidente de carro. O impacto em meu coração foi

grande ao dar de cara com a não mais possibilidade de lhe pedir

perdão.

Tardiamente, deparei-me com a lógica da coisa. Na verdade, eu

não era vítima da boca dos outros. Vi em mim mesmo, a presença

tácita e clara da culpa derivada da negligência com relação aos outros

e aos meus principalmente, dado minhas ações cegas, impensadas,

não comedidas e portanto incoerentes. Levantei meus olhos para o

alto. Me vi como uma criança carente de afago e consolo. Meu rosto

revelou-se pálido. Estava aos frangalhos. Mais que isso, eu parecia um

retalho humano, esfarrapado, informe de alma e espírito, muito

desejoso do abraço de Deus. Entrementes, caí por terra, literalmente.

Meu corpo fragilizado e esparramado pelo chão seco tremia de

angústia. Minha oração em súplicas manifestava-se como murmúrios

sem palavras audíveis nem compreensíveis. Caso alguém pudesse

escutar-me, não me entenderia, por causa da falta de nexo daquilo

que saía de minha boca de modo abafado e estafante.

Choro e saliva misturavam-se enquanto minha pobre face

tocava meio forte o chão frio e ríspido naquela sala, a qual parecia
poder sentir meu estado dúbio e vil. Se eu pudesse retornar no tempo,

teria pensado um milhão de vezes antes de me lançar como aluno do

curso de teologia, por meio do qual, eu teria conhecimentos para,

depois, atuar na qualidade de pastor de uma grande igreja aqui na

grande cidade de São Paulo.

Será mesmo que me arrependi? E se me arrependi, quais ou

que tipos de situações me levou a querer “cavar um buraco no chão e

me auto enterrar vivo”? Então, eu disse para mim mesmo: Levantar-

me-ei e irei ter com minha família e dir-lhe-ei: família, pequei contra

os céus e contra ti. Não sou digno de ser chamado de pai nem de

marido. Qual será a reação? Caindo em si e constatando o óbvio, não

poderia deixar para amanhã, pois, o amanhã poderia ser tarde. Teria

de agir antes que o colapso definitivo do fim do tempo, viesse bater em

minha porta. Meu sonho se intensificou ainda mais. Não deixei o

pastorado. Não havia me afastado em definitivo do evangelho, embora

tivesse dilacerado minha credencial e mergulhado de corpo inteiro na

vergonha moral do “tamanho do mundo”. Eu sabia que a unção de

Deus ainda estava dentro de mim. Meu real problema não estava na

unção nem em Deus, mas na minha índole. Por mais doído que fosse

àquela situação malogra e exacerbadamente icônica que me afetara de

modo certeiro e contundente, tudo o que o diabo queria, era me ver


morto. Se minha esposa e filhos estavam ausentes, muito por motivos

de meu próprio orgulho e senso débil de perfeição, eu não teria mais

nada a perder? Se tudo o que construí ao longo desses anos de vida

tinha literalmente “ido pro ralo”, certamente não tinha mais nada a

perder certo? Bem, pensei seriamente nisso. Satanás estava prestes a

dar o xeque mate.

Minha dor psicológica, misturada a remorsos pesados,

principalmente por não ter conquistado a confiança de minha querida

família, me corroía aos poucos, mas de modo intenso. Minha alma

suava, meu coração se estremecia de pesar por não poder recuperar o

tempo perdido! Me vi deitado na cama do escárnio, me vi debaixo de

um zimbro.

Cadê aquele homem eloquente que quando abria a boca Deus

falava no meio do povo? Cadê aquele teólogo, profundo conhecedor

disso ou daquilo, exegese, hermenêutica etc. como essas coisas agora

iriam me fazer sossegar o coração que só faltava sair do peito de tanto

bater forte!

Cadê aquele homem destemido, cheio de coragem e vigor? Ficou

no passado? Se minha esposa se foi e meus filhos desapareceram,

então, o maior inimigo de minha alma, iria dar um sorriso debochado

e, não apenas, mas também o xeque mate certo?


Confesso, eu estava prostrado esperando passivamente a

espada de meu adversário atingir fatalmente meu pescoço fazendo

rolar minha cabeça e ruir todos os meus sonhos em definitivo.

Confesso, eu estava sem nenhuma força. Aliás, eu a procurava na

tentativa de sair do fundo do poço. Será mesmo que meus sonhos se

resumiriam com meu sangue esparramado pelo chão? Será mesmo

que depois de tudo, o saldo final seria a risada do diabo em face de

minha derrota?

Com meu rosto banhado das lágrimas quentes, vertidas dos

meus olhos tristes, gritei loucamente aos céus. Ali, já não mais estava

o teólogo, e sim, um ungido de Deus, prestes a ser sugado pela

angustia estafante que lhe afetava de todo. Quando me dei conta de

que todos os pontos negativos estavam ligados para legitimar minha

desistência cabal do evangelho, só faltava eu dar um sim positivo afim

de selar minha vontade. Aquele foi um dos momentos mais difíceis de

toda minha vida. Falar sério com Deus.

Ao erguer minha face para o alto, antes que começasse

quaisquer justificativas e/ou razões de meus argumentos, eis que a

vós do todo poderoso, interrompeu as intenções fortuitas de meu

pobre espírito e me disse: calma soldado, afinal eu ainda não dei a

última palavra! Sou eu o Senhor Deus de Isaque, Abraão e Jacó,


conheço a ti e tenho observado todos os teus caminhos, por quais

razões realmente acreditas que deves ficar frustrado e com desejo de

morte pelo que se passou? Tu realmente pensas que não te conheço?

Realmente estás seguro de que todas as situações difíceis pelas quais

passásseis, foras tu o único culpado? Por quais motivos, pretendes

carregar em teus ombros, culpas alheias junto com as tuas? Tu tens

erros grandes, de fato, mas tu não é culpado do sofrimento de todos!

Todos os homens são responsáveis pelos seus atos em face da

liberdade que possuem, tu serás julgado pelas tuas ações, e não pelas

ações alheias! Fique atento, levanta-te e te põe de pé, pois a obra ainda

não terminou! Aliás, a jornada é longa, há muitas almas a ganhar para

o reino, e, para tanto, deixa eu te usar no poder de minha unção

depositada em ti para o louvor e poder de minha glória! A vos de Deus

ainda ecoava dentro de mim, enquanto meu espírito teimoso, insistia

em se prender no caos de meu narcisismo obtuso e rígido. Porque me

era tão penoso reconhecer o óbvio?

Como me recuperar do baque que parecia um gigante bloco de

pedra sobre meu corpo, o qual, ansiava por refrigério diante do calor

ardoroso da tribulação espúria que não me cedia um minuto de alívio

sequer? Eu sentia a presença de Deus ali, mesmo enquanto eu gemia,

devido as dores psicológicas seguidas de respostas somáticas. Mas


meu inimigo também estava ali. Esse tal, havia usado pessoas para

me derrubar do altar. Agora, ele ansiava furiosamente para ver de

camarote, o momento de meu esfacelamento integral. Aí sim, ele teria

dado o xeque mate. Digo teria, faço uso dessa condicional, pois eu não

poderia permitir tal. Como viabilizar a virada de paradigmas?

De que jeito não dar bolas para a dor e o escárnio alheio, se a

dor me era tão presente e evidente no mais alto grau de seu sentido?

Como negar a mim mesmo no meio da penúria e fazer gerar a força

vital que gritava no fundo de meu ser por liberdade? Como

transformar essa força em potência numa dinamite operante por meio

das armas de Deus?

A vida é desafio. Viver é puro desafio. O principal desafio de

todos é o desafiar a si mesmo, como o ato ininterrupto de esmurrar a

si mesmo, não dando lugar ao complexo de vítima, antes, se pondo na

frente da batalha, sem titubear. Vencer não é uma questão de sorte,

mas de atitude. Não é qualquer atitude que me conduzirá a vitória,

mas sim aquela que for confeccionada nos trilhos minuciosos do

espírito, atento e aberto na esfera do divino, pois, é dessa estreita e

necessária relação, que os caminhos são aplainados, tornando-se

mais claros e concisos, em prol de vivencias mais humanas e pacíficas.


Recuperaria minha posição de pastor e teria condições objetivas

de ministrar a palavra depois de tudo o que passei? Qual eu preferiria;

engolir o xeque mate do diabo ou me lançar nos braços de Deus e ser

reconstruído novamente como num efeito de um novo vaso? Bem,

como eu não queria e nem pretendo passar por esta existência dos

sentidos sensórios como se fosse um folha em branco... decidi por

Deus me reconstruir e terminar os próximos capítulos de minha

história. Se os primeiros capítulos pareciam evidenciar o meu fim,

certamente, os últimos me farão contar e cantar a minha vitória, pois,

por mais esfarrapado que esteja, eu ainda alimento no fundo do meu

peito, a ânsia da esperança de rever meus filhos e me retratar. Tá ...

mas... e o xeque mate do diabo? Aha, convenhamos amigos leitores

(as), o diabo sempre foi e sempre será um perdedor, afinal, nós temos

um grande Senhor e Salvador, ele é o dono do universo. Seu nome é

Jesus!

A vida é desafio e bela em simultâneo. A vida é dramática e

traumática idem. As muitas comédias e entretenimentos não podem

apagar o peso do trágico. As rosas são carregadas de espinhos e esses

são características peculiares do ser das rosas que apesar da presença

dos tais em seus corpos, não nos negam seu perfume e beleza que

saltam aos olhos de quem as observa! O lutador não está isento de


receber golpes, muitas vezes golpes pesados, dolorosos. O olho roxo,

suor e sangue do lutador são marcas típicas do espírito de luta. Minha

genialidade e meus talentos não inibem o escárnio e o desdém que

surgem de “fora”, como setas contra minha auto estima.

O escárnio e o deboche, hoje, constituem a gasolina do meu

empenho e a vitamina que fortalece meus músculos espirituais que

me conduzem para o alvo. Essa experiência com minha esposa e

filhos, realmente me causou dor, mas também me fortaleceu!

Meu perfeccionismo se converteu em performance de espírito,

atento e aberto às possibilidades de Deus e em Deus. Não mais ando

conforme a conveniência de minhas vontades, estou focado em

decisões lúcidas, sei em quem tenho crido. Agora, sei o que quero e o

que pretendo. Estou convencido de que minha maior arma vem de

Deus e nada poderá me segurar em face desse imperativo categórico:

vencer, vencer e vencer! Retornaria ao arado? Decisão difícil, mas... O

que você faria se caso estivesse no meu lugar, retomaria o posto

ministerial ou não?

Certamente me tornei um pastor melhor ao assumir

humildemente a grande necessidade de lutar contra mim mesmo no

sentido de superar meu ego conciso, contundente. Pois, era preciso,

mais que nunca, ter de proceder do modo que teria de ter procedido
muito antes. Eu não poderia, de jeito algum, esperar o sono vir a fim

de começar a sonhar com dias possivelmente melhores. Eu tinha que

me ater aquilo que era urgente enquanto eu estava acordado! Então,

acordado, sonhei em como conquistar a própria família para Deus, (

ou pelo menos parte do que sobrou dela) e, sobretudo, para o louvor e

a glória de Deus. Meus filhos estão bastante magoados comigo.

Todos os dias eu oro, sonho e desejo avidamente reencontra-

los, para pelo menos tentar reparar o grave erro que cometi. Eu tinha

de proceder o mais breve possível. O sol não poderia se por em

definitivo sem que antes eu dominasse a mim mesmo! Passei anos de

minha vida lutando contra meus “adversários que estavam fora”, até

me dar conta de que eu seria de fato um vencedor se fosse capaz de

domar meu egoísmo teimoso contundente e destrutivo. No meu sonho

fui capaz de conquistar a montanha, mas na vida real, deixei a desejar

em função de meu senso neurótico perfeccionista. Não obstante o caos

que me veio, ainda me resta um pedaço de tempo. Me servirei desse

fragmento para finalmente poder dar o brado de vitória.


De cima do monte me veio a palavra; desce e diga ao povo que marche! Então,
desci. Então, sofri. Diante do desafio, perguntei: de onde me virá o socorro?
A vos de trovão respondeu: do Senhor, o qual fizera o céu e a terra!

Me chamastes antes que eu fosse formado no ventre de minha

mãe. Pusestes em mim teu Espírito e me confiastes essa missão cuja

causa é tua. Teu querer e perfeita vontade revelaram-se nobres em

meus caminhos. Embora meus planos pessoais me impelissem à

outros fins, minhas justificativas se mostraram frágeis diante de ti.

Anos e mais anos de minha vida. Achei ser forte sem ser.

Noites e mais noites mal dormidas, não foram suficientes para

que eu viesse a dar conta de minhas atitudes não adequadas aos

propósitos elevados do teu santo altar. Lhe peço que renove meu ser.

Faça de mim um novo vaso em tua presença e não retires de

mim o teu espírito. Depois desse vale, aprendi a lição. O coração de

um líder lutador, precisa ser forjado no caldeirão da humildade e da


disposição incondicional de servir fielmente aquele que o chamou para

essa maravilhosa obra.


UMA QUESTÃO DE CONSCIÊNCIA

No calar do dia me vejo jogado contra meu ser posto em

evidencia tácita real. Minha verdadeira face revelando meu verdadeiro

eu que se insere no fosso calado de um espírito que surra a si mesmo,

diante do indelével, febril tempo da falta de ânimo válido para fins de

guerra. Porque me perturbaria diante de meu futuro tão distante e

incompreensível, de meu passado tão rústico e de meu presente tão

ansioso por dias melhores? Como me afetaria em bom sentido, na

esperança de produzir em mim, uma certa cota de sinceridade, que

pudesse, imprimir em meu peito, alguma clareza evidente e

razoavelmente posta em nitidez rumo a perfeição?

Porque eu percorreria tal, donde extrairia o possível do ponto

de vista do solúvel se o óbvio estava bem diante de meus olhos os

quais teimavam em não ver! A pior cegueira corresponde aquela em

que teimamos em não ver! ( Assim como diz o ditado popular: o pior

cego é aquele que...)

Marisa não teve culpa do que aconteceu.

Na verdade, ela sempre foi inocente quanto a esses problemas

que nos sobreveio depois que casei com ela. Se o fenômeno do

perfeccionismo tomou conta de meu coração, foi porque não queria


lidar de modo legítimo com minhas imperfeições concisas e

impregnadas naturalmente em meu ser natural humano.

Em outros termos, meu senso de querer o perfeito aqui na

existência do mundo natural, iria matar minhas esperanças com

relação a minha família e meu ministério, caso eu não mudasse o

curso de minhas ações! Na esfera humana não existe o 100% perfeito.

Caso alguém buscar isso aqui, inevitavelmente dará de cara com a

Sra. utopia.
O PREÇO DO TEMPO

Num surrado banco de praça, estava um Sr. De 95 anos de

vida, lendo seu jornal predileto. Era um empresário muito bem

sucedido nos negócios. Logo depois, um jovem de 25 anos de idade,

vinha vindo em direção a ele e sentou-se do lado.

O jovem mostrava-se muito inquieto. Parecia nervoso demais.

Então, aquele Sr. percebendo tal inquietação, indagou: O que lhe

acontece rapaz, porque esse desespero todo se vejo uma face tão

jovial? O moço olhou para o idoso e devolveu: Simplesmente estou

desempregado e não sei o que vou fazer para pagar minhas contas! O

empresário então lhe fez uma proposta inusitada: Te dou $95 milhões

em troca de sua idade. Eu fico sem dinheiro e com sua idade. Você

fica com minha idade e rico, topa?

O jovem, arregalou os olhos, depois olhou para o chão, pensou,

pensou e pensou de novo. Erguendo a cabeça, fitou bem os olhos azuis

do empresário idoso e frisou: Não, não meu Sr., Meu muito obrigado

pela oferta, pode ficar com seu dinheiro e sua idade, pois vejo agora

que o tempo não tem preço!

O jovem levantou-se e saiu depressa, como quem não queria

perder nem um só minuto sequer de seu precioso tempo. O


empresário, apreensivo, ficara visivelmente sem jeito. Colocou o jornal

numa das pernas e cruzou os braços. Lançando seus olhos cansados

no vazio do horizonte daquele belo fim de tarde, murmurou: se se tão

somente eu tivesse antes tido a mesma coragem que esse jovem

acabou de ter, talvez, hoje eu ainda teria minha querida família

comigo!

Das idas e vindas do vento, do despertar do dia que logo dá lugar

a noite, procuro o ponto x da questão que me coloca diante dos desafios

diversos, afim de que dentro do tempo hábil, possa cumprir a cota de

minha tarefa enquanto um ser que vai retornando aos poucos para

casa. A viagem de volta ao lar, me dá a sensação de um descontínuo,

como que um evaporar-se de um ser que respira os parcos pedaços de

ar que ainda lhe resta.

Não posso vacilar. Esta é a única oportunidade da qual disponho

de não deixar a timidez e/ou medo ofuscar meus olhos! Peço a Deus,

todos os dias, sabedoria de modo que saiba corrigir meus passos e

endireitar minhas veredas, fazendo com que o tempo presente, não seja

faltoso de sentido possível.

Meu ser, não pode se perder, antes do fazer acontecer os

propósitos nobres que o pai das luzes me confiou. Não necessariamente


como forma de justificara mim mesmo, mas de adequação lúcida da

ação à unção pujante no núcleo central de um coração vencedor.


Tempo meu, tempo meu; porque não te apiedas de mim e não

me esperas a resolver minhas pendencias? Porque corres tão depressa

e não me permites um fôlego extra, afim de que possa reparar o que

deixei para trás e que me seria tão bom caso pudesse rever, o que teria

de ter feito antes... sabe... tempo meu, seu teimoso implacável! Todos

os dias vou me consumindo como que sumindo literalmente do mapa

do universo. Muito do que eu deveria fazer, não fiz.

Então o tempo me respondeu: Agora é tarde! O que me é de

mais caro vai se esvaindo por entre meus dedos. Meu ser se perde de

mim à medida que o tempo se esgota pelo esgotar de minhas forças.

Não me é dado o recuperar do ontem. O ontem se passou e o hoje


passa, ficando para trás todas as esperanças do retorno. Não há o

retornar possível, mas sim a oportunidade do chamado agora.

O tempo precioso tem esse nome. Agora. Caso contrário o

nunca se fará presente de modo eterno, mas neste ponto, não haverá

mais um corpo vivo e consciente de si e do mundo para nele se

expressar e viver intensamente. Nisto, se instaura a responsabilidade

integral de mim mesmo, afim de assumir de modo oportuno, e, até

mesmo importunamente, o que está ainda diante de mim. Atuar,

atuar, atuar e não parar! Fazer valer cada segundo dos pedaços de

respiração, das afetações e experiências da existência que ainda me

impacta e me determina. Meu ser não pode ir sem primeiro cumprir a

que veio. Passar como uma folha em branco por esta existência dos

sentidos sensórios é o mesmo que viver sem viver.

Não quero acordar na estação de chegada, antes disso, quero

viajar neste trem da vida, mas vendo e vivendo na pele, o senso do frio

e calor, do vento, da brisa e contemplar as belas paisagens da vida na

vida. Afinal, a vida é cara demais para simplesmente ser lançada fora

como se fosse um objeto qualquer. Dar prioridade as coisas

prioritárias e não lançar meus resquícios de tempo ao leu nem aos

ventos. Forjar a mim mesmo na luz do espírito em conexão ao Espírito

Santo cuja eficiência operante me induz e me conduz a trilhar veredas


embebidas abundantemente dos desafios no ato do viver e do fazer no

dia-a-dia.

Nutrir meu coração com palavras boas. Sorrir para alguém. Me

dispor das nuances sutis de um raciocínio antenado e afiado de modo

a por em evidencia, ações categóricas no curso da luta incessante.

Dizer não ao desânimo. Dizer sim a vida. Caso esta se mostrar difícil,

se tornará fácil à medida em que a renovação do propósito e mente

estiverem focados. Sobrepujar a dor e os “desdéns alheios”, vencer a

si mesmo. Não implica aqui necessariamente proceder como no uso

indiscriminado de palavras vazias na ânsia de se ver livre do impacto

implacável do mundo como num efeito de positividade ou auto ajuda.

Muito diferente disso, vencer, implica ação categórica consciente e não

o resultado de sorte, uma vez que a sorte geralmente está vinculada a

um espírito preparado e que busca a visão por antecipação. Ver o que

ninguém vê. Ver o invisível. Ver o que parece loucura aos olhos de

muitos. Ver na luz de Deus não é o mesmo que ver de qualquer modo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Alguma vez você já refletiu que quando estamos enfraquecidos

sofremos todos os tipos de julgamento e como se não bastasse, ainda

fazem venenos mortíferos de modo que venhamos a morrer de vez?

Estando Martins, em face de lamentos e exclamações como: “a

lamuria me afetou de todo, de maneira contundente. Me vi aos

farrapos como que jogado literalmente contra a parede do escárnio e

do senso de solidão cômica sutil. Minha alma contorcendo-se dentro

de mim, ansiava por um pedaço de refrigério que fosse.

Entrementes, o Espírito que tudo sabe e tudo vê, falou de modo

claro em meu coração: calma meu servo, não despedaces a tua fé, e

não abra mão de suas esperanças nesta altura de tua vida, pois, eu

sou aquele que lhe pode conferir saída real mesmo onde não há saída

possível! Se os espíritos do contra, perceber que você está conseguindo

sair da lama, então meu amigo e companheiro, se prepare para a

guerra! Isto é, estás enfraquecido, então vão procurar te ferir. Estás

saindo da lama?

Então vão querer te matar! Outro dia fiz uma pergunta a um

grupo de pessoas que vieram me visitar: Quem de vocês pode me dizer


qual é o momento em que o soldado sofre mais, quando está treinando

ou quando está na guerra? Acertaram, quando ele está treinando!

Quando você está totalmente despreparado, as lições de treinamento

para a guerra são difíceis, dolorosas e o desânimo quer se fazer

presente e fazer de nós “gatos e sapatos”! Do contrário, um soldado

que passou nos testes de resistência e foi submetido a todo o tipo de

experiência traumática, necessária à sua formação, se torna uma

máquina humana pronto para a batalha!

Isso não significa que ele se tornou um imortal, ou um dos

heróis das muitas cenas cinematográficas, mas adquiriu maiores

condições afim de atuar em missões difíceis do ponto de vista do

combate em termos de ataque e defesa. “Você consegue imaginar neste

seu momento de vida, como a solidão e o sentimento de vazio tem o

poder de nos fragilizar e nos trancar em correntes encadeadas de

forças psicológicas, a ponto de nos conferir a certeza inequívoca de

que o fim chegou?

Consegues porventura, sopesar ou fazer um balanço de seus

dias passados e relembrar quantas idas e vindas fizeram você chorar,

inclusive, “poços de lágrimas”, por situações que não pode resolver e

experiências traumáticas que te marcaram até os dias atuais?


“O que dizer o que falar. Quando dizer e quando calar. Se ao

calar sou afetado pelas consequências de meu não dito, e, se no ato do

dizer me vejo julgado pelo que disse. Alguém me entendeu e me

agradeceu. Outro, se sentiu ofendido, por isso, me puniu com seu

banimento num efeito de cancelamento. A quem agradar no ato de falar,

a quem agradar pelo ato do calar. Há muitas palavras douradas que

nos enriquecem, há muitas outras prateadas que nos enobrecem.

Alguém ao ler um livro de mil páginas, voltou a sua vida normal

cotidiana. Outro alguém, ao ler um livreto de dez páginas, teve sua vida

completamente transformada! De ditos e não ditos, vão indo as pessoas

no mundo dos fenômenos, no qual tudo o que se precisa ouvir para se

viver bem e feliz, são as palavras e letras na forma e no som do puro

silêncio”.

______________________________________________

Já conferistes qual é a cota de esperança que ainda lhe resta

afim de ver a glória de Deus enquanto ainda é dia? A noite vem,

queiramos ou não, a noite vem! Ministro do evangelho, em nome de

Jesus, deixe-me te comunicar algo que você já sabe, mas que não

reflete muito, talvez dado a aflição que lhe afeta hoje. Se se só faltam

algumas horas para o nosso dia terminar, então não vamos terminar

nosso tempo restante deitados!


Afinal, somos soldados de Cristo e servos de Deus pai. Usemos

a espada do Espírito com força, fé, coragem e amor. Pelo viés do poder

daquele que nos enviou, pois, soldado de Deus não abaixa a cabeça,

antes disso, está sempre pronto a lutar em prol das causas do reino

pelo poder operante e eficiente do Espírito Santo. Permita-me a

redundância... cuide-se !

O autor.

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