Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
Beatriz Pinheiro, nascida em Viseu em 1871, foi republicana, feminista,
pedagoga, escritora, pacifista, membro da Liga Portuguesa da Paz e Liga
Republicana das Mulheres Portuguesas. Companheira de Afonso Costa
no Partido Democrático, defendeu a participação de Portugal na Primeira
Guerra Mundial. Beatriz Pinheiro foi diretora, juntamente com o marido
Carlos de Lemos, da revista Ave Azul (1899-1900), publicada em Viseu
na qual deixou grande parte do seu pensamento republicano, feminista e
pacifista. Na crónica, com a qual abre o número 15, de outubro de 1899,
Beatriz Pinheiro discute a importância de manter a paz: este "ideal mais
deslumbrante", porque "a Humanidade não precisa mais da guerra para
progredir, é em paz que hoje são os elementos de progresso: e o
progresso é a lei da humanidade ". Ao destacar o papel das mulheres na
conquista de uma cultura de paz, aproveitou a oportunidade para divulgar
as bases, em Lisboa, no dia 18 de maio daquele ano, da Liga Portuguesa
da Paz, presidida por Alice Pestana. Beatriz Pinheiro tornou-se um dos
primeiros "correspondentes" da Liga na "província", sendo sua
representante em Viseu. Em 1909, junta-se à Liga Republicana de
Mulheres Portuguesas e, como propagandista republicana, Beatriz
Pinheiro usou a imprensa para divulgar suas ideias, colaborando em
periódicos como A Beira, Almanaque de Senhoras, Alma Feminina ou A
Crónica. A militância republicana dos diretores da Ave Azul alimentou
anticorpos em Viseu de modo que o casal teve que deixar a cidade nos
primeiros anos do século XX. Após a implantação da República, Beatriz
Pinheiro começou a residir em Lisboa, ensinando no Liceu Maria Pia. Foi
precisamente neste Liceu que, em 8 de junho de 1916, entregou a
célebre conferência "A mulher portuguesa e a guerra europeia". O
objetivo desteensaio é analisar os dois discursos, entregues e escritos
com dezassete anos de diferença, e discutir o caminho de um militante
pacifista para defender a participação de Portugal na Primeira Guerra
Mundial.
PALAVRAS CHAVE: Pacifismo; Guerra; Primeira Guerra Mundial; Beatriz Pinheiro;
participação portuguesa.
Doutora em História pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Investigadora do Instituto de História de História Contemporânea da Faculdade de
Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. E-mail:
m.anabela.silveira@gmail.com
1
“Quem conhece o nosso meio sabe bem quanto é diffícil ganhar pela penna o
indispensável para viver parcamente, mesmo aos que da penna fazem offício, quanto
mais a quem da penna faz simplesmente distracção innocentíssima das poucas horas
que o cumprimento […] das suas obrigações officiaes lhe deixa vagas no dia”,
(LEMOS, Carlos de, s/ título, Ave Azul, Viseu, série 1, fascículo 1, 1-5, Janeiro, 1899).
2
Em itálico no original.
3
Em itálico no original.
4
LEMOS, Carlos de, s/ título, Ave Azul, Viseu, série 1, fascículo 1, 1-5, Janeiro, 1899.
5
O enjeitado (série 1, fascículo 1, 15 de Janeiro de 1899, p 15-22); A espera (série 1,
fascículo 3, 15 de Março de 1899, p109-112); A Maria Corcunda (série 1, fascículo 6,
15 de Junho de 1899, p 253-268);O crime (série 1, fascículo 7, 15 de Julho de 1899,
292-297); Infanticida (série 1, fascículo 8/9, 15 de Agosto-Setembro de 1899, p 364-
380); Duas Almas (série 2, fascículo 1/2, 25 de Fevereiro de 1900, p 29-36); Através
dos tempos (série 2, fascículo 5, Maio de 1900, p 271-276);O obstáculo (série 2,
fascículo 6, Junho de 1900, p 353-359);Vae Soli (série 2, fascículo 12, Dezembro de
1900, p 693-703).
6
Série 1, fascículos 1 (p 23-32), 2 (p 69-79), 3(p113-121) e 4 (p156-163)
7
Poema em memória do Dr. Simão Dias II (série 1, fascículo 4, 15 de Abril de 1899,
p 146); Psyche(série 1, fascículo 5, 15 de Maiode 1899, p 199-201);Os três
cavaleiros(série 1, fascículo 8/9, 15 Agosto-Setembro de 1899, p 381-385);Oração
(enquanto o meu filho dorme)(série 1, fascículo 11, 15 de Dezembro de 1899, p. 519-
521);Folhas d’um Álbum(série 2, fascículo 4, Abril de 1900, p 192-
193);Chrysalida(série 2, fascículo 6, Junho de 1900, p 360-361). Foi ainda publicada
uma tradução italiana do poema,Oração (enquanto o meu filho dorme, intitulado
Preghiera(série 2, fascículo 12, Dezembro de 1900, p 682- 683).
8
Série 1, fascículo 2, 15 de Fevereiro de 1899, p 80-85
9
Série 1, fascículo 5, 15 de Maio de 1899, p 210-214
10
Série 1, fascículos 8/9, 15 de Agosto-Setembro de 1899, p 433-44, 10, 15 de
Novembro, 1899);LEMOS, Carlos de, Emancipação da mulher, Ave Azul, Viseu, série
2, fascículo 1/2, 75-87, Fevereiro, 1900).
19
O fascículo 7, da série 2 não aparece no acervo da Hemeroteca Digital portuguesa,
onde pode ser consultada a revista Ave Azul.
20
Cf. Assento do baptismo de Beatriz Pinheiro in Arquivo Distrital de Viseu, cx. 31,
nº 75, fl. 141
21
Carlos de Lemos era o pseudónimo de António Cardoso de Lemos natural de Lalim,
concelho de Tarouca, onde nasceu a 3 de Janeiro de 1867. Formado em Direito pela
Universidade de Coimbra, foi professor do liceal, tendo leccionado em Viseu.
Republicano, maçon, humanista e, como escreveu na revista Ave Azul, feminista, foi
Presidente da Comissão Municipal Republicana viseense. Perseguido pelas suas
convicções políticas, abandona a cidade beirã, tendo terminado a sua carreira
docente como professor no Liceu Passos Manuel, em Lisboa. Viúvo aos55 anos veio
a morrer na capital portuguesa, em 1954, com a veneranda idade de 87 anos.
22
Em 1909, com a saída do casal Lemos para Lisboa, a escola encerrou.
23
Livro de actas da Câmara Municipal de Viseu, 26 de Abril a 24 de Novembro 1923,
Biblioteca Municipal D. Miguel da Silva, Viseu, Portugal
24
PINHEIRO, Beatriz. O enjeitado, Ave Azul, Viseu, série 1, fascículo 1, 15-22,
Janeiro, 1899.
[…] Dez annos! – há já dez anos que o seu João, o seu homem, o
seu noive! – pois só três annos de casada com elle vivera … - a
deixara e se fora para o Brazil a ver se arranjava fortuna! […] Não
pudera resignar-se áquelle viver cingido aos minguados proventos
d’um logar de escrevente e ao mais que ella agenciava com a sua
costura […] E lá partira apesar dos seus rogos, de todas as lágrimas,
de todos os seus protestos de que era feliz assim, que nada mais
precisava, que nada mais desejava. Depois… a princípio escrevia-
lhe muita vez, cartas muito longas e saudosas, e de longe em longe
algum dinheiro lhe mandava, pouco; mas de súbito, nunca mais
escrevera […]. Demais, que voltava em breve: e indicava-lhe até o
paquete e o dia que chegava […]. E há oito annos também que a
pobre vae sempre assistir ao desembarque dos vapores que vêm lá
d’esse Brasil, na esperança de que o seu João lhe surgirá um dia na
coberta d’um navio, a acenar-lhe, muito alegre, com o seu lenço
25
branco…” .
25
PINHEIRO, Beatriz. A espera, Ave Azul, Viseu, série 1, fascículo 3, 109-112, Março,
1899.
26
PINHEIRO, Beatriz. O crime, Ave Azul, Viseu, série 1, fascículo 7, 292-297, Julho,
1899.
27
Idem
[…] Amava-o eu, a esse que foi depois meu marido? Se então m’o
perguntassem não saberia bem como responder! […] Muitas coisas
nelle me desagradavam: o modo de andar e de vestir, de
cumprimentar, de fallar: depois não tinha qualidades brilhantes: não
fazia figura nas salas, não era político, não fazia carreira, e a fortuna
que possuía era bastante modesta … Mas… amava-me muito […]
tentou a minha vaidade e garridice! Nós outras, pobre mulheres, é a
isso que nos habituam desde pequeninas, e ao fingimento e á
submissão […]. Não tinha mais que fazer senão resignar-se; ser
28
PINHEIRO, Beatriz. Infanticida, Ave Azul, Viseu, série 1, fascículo 8/9, 364-380,
Agosto-Setembro, 1899.
29
PINHEIRO, Beatriz. Duas Almas, Ave Azul, Viseu, série 2, fascículo 1/2, 29-36,
Fevereiro, 1900.
30
PINHEIRO, Beatriz. Através do tempo, Ave Azul, Viseu, série 2, fascículo 5, 271-
276, Maio, 1900.
31
PINHEIRO, Beatriz. Obstáculo, Ave Azul, Viseu, série 2, fascículo 6, 353-359,
Junho, 1900.
32
PINHEIRO, Beatriz. Vae Soli! Ave Azul, Viseu, série 2, fascículo 12, 693-703,
Dezembro, 1900.
33
PINHEIRO, Beatriz. Chronica, Ave Azul, Viseu, série 1, fascículo 8/9, 321-327,
Agosto-Setembro, 1899
34
Em itálico no original
35
PINHEIRO, Beatriz. Chronica, Ave Azul, Viseu, série 1, fascículo 8/9, 321-327,
Agosto-Setembro, 1899
36
Em itálico no original
37
PINHEIRO, Beatriz. Chronica, Ave Azul, Viseu, série 1, fascículo 8/9, 321-327,
Agosto-Setembro, 1899
38
Idem
39
Ibidem
40
PINHEIRO, Beatriz. Chronica, Ave Azul, Viseu, série 1, fascículo 10,433-441,
Outubro 1899.
41
PINHEIRO, Beatriz. Chronica, Ave Azul, Viseu, série 1, fascículo 10,433-441,
Outubro 1899.
42
Em itálico no original.
43
PINHEIRO, Beatriz. Chronica, Ave Azul, Viseu, série 1, fascículo 10,433-441,
Outubro 1899
44
PINHEIRO, Beatriz. Chronica, Ave Azul, Viseu, série 1, fascículo 8/9, 321-327,
Agosto-Setembro, 1899
45
Em itálico no original.
46
Em itálico no original.
47
PINHEIRO, Beatriz. Chronica, Ave Azul, Viseu, série 1, fascículo 11, 497-506,
Novembro, 1899
48
Idem.
49
PINHEIRO, Beatriz. Chronica, Ave Azul, Viseu, série 2, fascículo 1/2, 1-11,
Fevereiro, 1900
50
Em itálico no original.
51
PINHEIRO, Beatriz. A emancipação da mulher, Ave Azul, Viseu, série 2, fascículo 4,
197-222, Abril, 1900.
52
Referia-se aos colegas de Liceu a quem tratava por camaradas.
53
PINHEIRO, Beatriz. A emancipação da mulher, Ave Azul, Viseu, série 2, fascículo 4,
197-222, Abril, 1900.
54
Dividido em três painéis, no Congresso de Paris debateram-se questões como o
salário feminino, a duração da jornada de trabalho ou abolição da prostituição, a
reforma das leis de família e a igualdade direitos civis e políticos.
55
PINHEIRO, Beatriz. A emancipação da mulher, Ave Azul, Viseu, série 2, fascículo 6,
390-400, Junho, 1900.
56
Idem
57
Ibidem
58
Ibidem1
59
PINHEIRO, Beatriz. Chronica, Ave Azul, Viseu, série 2, fascículo 6, 390-400, Junho,
1900.
BIBLIOGRAFIA
60
VELEDA, Maria. A emancipação feminina, Ave Azul, Viseu, série 2, fascículo 8/9,
449-452, Agosto-Setembro, 1900.
61
PINHEIRO, Beatriz e LEMOS, Carlos de. Chronica, Ave Azul, Viseu, série 2,
fascículo 12, 657-660, Dezembro, 1900.
Recebido em 13/08/2017
Aprovado em 29/10/2017