Você está na página 1de 53

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

Faculdade de Economia e Gestão

Importância da Auditoria Forense no Combate ao Branqueamento de Capitais.

De:

Ivete De Leonor Castro Benate

Monografia apresentada como Exigência Parcial para


Obtenção do Grau de Licenciatura em Contabilidade e
Auditoria à Comissão Julgadora da Universidade
Católica de Moçambique.

Beira
Junho de 2022
DECLARAÇÃO

O presente trabalho foi elaborado pela autora na Universidade Católica de Moçambique em


2022. Este trabalho é da sua autoria excepto para as citações que aqui foram referenciadas.
Nunca foi e nunca será submetido à nenhuma outra Universidade. Nenhuma parte deste
trabalho deverá ser reproduzida sem a permissão da autora ou da Universidade Católica de
Moçambique.

A Autora
____________________________
Ivete De Leonor Castro Benate
Data: 10/06/2022

O Supervisor
____________________________
MSC. Fernando da Costa
Data:10/06/2022
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais Castro Benate e Leonor Elias Goche, cujo empenho de me
educar, sempre veio em primeiro lugar. Aqui está o resultado do vosso esforço e amor
incondicional. Aos meus irmãos Tato, Nildete, Neusa e Benate. Dedico este trabalho a todos
vós pelo incondicional apoio que me levou à formação.
AGRADECIMENTO

A Deus por me proporcionar perserveranças durante toda minha vida. Aos meus queridos e
amados pais Castro Benate e Leonor Elias Goche, pela sua presença e amor incondicional na
minha vida sempre. Também agradeço pelo apoio e incentivo que serviram de alicerce para as
minhas realizações.

Aos meus irmãos, Tato, Nildete, Neusa e Benate, por estarem ao meu lado e me motivar de
modo a ter mais confiança em mim.

Um enorme agradecimento vai para o meu supervisor, Msc. Fernando Costa, pelas valiosas
contribuições dadas durante elaboração da presente monografia.

Aos meus amigos e colegas de caminhada, pelo inúmeros desafios que enfrentamos, pela
oportunidade de convívio e cooperação mútua durantes estes anos.

A todos os meus professores do curso de Contabilidade e Aditoria, pela excelência da


qualidade técnica de cada um.

Que Deus abençoe a todos!


EPÍGRAFE

“Tudo tem uma razão de ser, nada na vida acontece por acaso.
Devemos aprender a lição e seguir em frente com a consciência
tranquila de quem fez o melhor que poderia ter feito naquele
momento. A vida é assim, altos e baixos, acertos e erros, alegria
e dor, tudo faz parte da nossa caminhada, a diferença é a forma
como encaramos cada coisa que nos acontece. Saiba ser grato
pelos momentos difíceis também, pois contribuíram para torná-
lo um ser humano melhor”.

Marisa Munaretto Amaral


SUMÁRIO EXECUTIVO
O presente trabalho subordina-se ao tema “Importância da Auditoria Forense”. O estudo do
mesmo foi realizado com base em fontes teóricas, com o intuíto de exclarecer a pertinência
desta prática que é ainda incomum na nossa sociedade. O objectivo desta monografia é
analisar a importância daauditoria forense no combate ao branqueamento de capitais. Como
situação real, o branquemento de capitais é uma prática nova no quadro júridico legal, pois
ainda ha muitas leis que devem ser criadas e aprovadas para conseguir-se controlar. Pelos
resultados apresentados no trabalho, pode-se dizer que os objectivos foram alcançados e as
questões de parttida, respondida. A auditoria forense é muito importante, pois permite que
situações ilegais não influam no sistema legal, pois pode a curto ou longo prazo, levar o país
ao colapso. O país já é visto como corredor de drogas ou outras actividades ilegais, entre elas
o terrorismo que para além de desgraçar famílias e a economia nacional, estão devastando o
tecido social. Caso se consiga ter a auditoria forense ao serviço efectivo da justiça, pode-se
evitar situações como estas. A nível da província de Sofala, maior parte da costa está
desprotegida e vulnerável. Sabe-se que esta é uma porta de entrada de pessoas e bens que
podem contrabandear muita coisa, pior ainda, é a excasses de recursos públicos para fazer
face ao que se está falando. Se o Estado conseguir controlar todas as empresas, certificando-se
que a sua construção foi com fundos legais, aí já se terá dado um passo rumo a eradicação das
possíveis fontes de sustento de terroristas.

Palavra-chaves: auditoria forense, branqueamento de capitais; combate.


ABSTRACT
The present work is subordinated to the theme “Importance of Forensic Auditing”. The study
was carried out based on theoretical sources, with the aim of clarifying the relevance of this
practice, which is still uncommon in our society. The purpose of this monograph is to analyze
the importance of forensic auditing in the fight against money laundering. As a real situation,
money laundering is a new practice in the legal framework, as there are still many laws that
must be created and approved in order to be able to control it. From the results presented in
the work, it can be said that the objectives were achieved and the starting questions answered.
Forensic auditing is very important, as it allows illegal situations not to influence the legal
system, as it can, in the short or long term, lead the country to collapse. The country is already
seen as a corridor for drugs or other illegal activities, including terrorism that, in addition to
disgracing families and the national economy, are devastating the social fabric. If it is possible
to have the forensic audit of the effective service of justice, situations like these can be
avoided. At the level of Sofala province, most of the coast is unprotected and vulnerable. It is
known that this is a gateway for people and goods that can smuggle a lot, worse still, it is the
lack of public resources to face what is being said. If the State manages to control all the
companies, making sure that they were built with legal funds, then a step has already been
taken towards the eradication of possible sources of livelihood for terrorists.

Keywords: forensic audit, money laundering; combat.


Sumário
DECLARAÇÃO .................................................................................................................... i
DEDICATÓRIA................................................................................................................... ii
AGRADECIMENTO .......................................................................................................... iii
EPÍGRAFE ......................................................................................................................... iv
SUMÁRIO EXECUTIVO ................................................................................................... v
ABSTRACT ........................................................................................................................ vi

CAPÍTULO Ⅰ: INTRODUÇÃO ........................................................................................... 9


1.1. Introdução ................................................................................................................... 9
1.2 Justificativa ................................................................................................................ 10
1.3 Objectivos .................................................................................................................. 11
1.3.1 Objectivo Geral .................................................................................................... 11
1.3.2 Objectivos Específicos ......................................................................................... 11
1.4 Definição do Problema ............................................................................................... 12
1.5 Perguntas .................................................................................................................... 12
1.6 Delimitaçãodo Estudo ................................................................................................. 13
1.6.1 Temática .............................................................................................................. 13
1.6.2 Espacial................................................................................................................ 13
1.7 Limitação do Estudo .................................................................................................... 13

CAPÍTULO Ⅱ: REVISÃO DE LITERATURA ............................................................... 14


2.1 Revisão da Literatura Teórica ..................................................................................... 14
2.1.1 Conceitos Básicos sobre o Branqueamento de Capitais ......................................... 14
2.1.2 Fases do Processo de Branqueamento de Capitais................................................. 15
2.1.3 Principais Técnicas............................................................................................... 17
2.1.4 Auditoria Forense ................................................................................................. 18
2.1.5 Auditoria Forense vs. Auditoria Externa vs. Auditoria Interna .............................. 25
2.1.6 Ferramentas Auxiliares na Auditoria Forense ....................................................... 27
2.1.7 O Auditor Forense Enquanto Testemunha Experiente ........................................... 28
2.2 Revisão da Literatura Empírica ................................................................................... 29
2.2.1 Auditoria Forense em Brasil ................................................................................. 29
2.2.2Auditoria Forense em Portugal .............................................................................. 30
2.3 Revisão da Literatura Focalizada ................................................................................ 32

CAPÍTULO Ⅲ: METODOLOGIA DE PESQUISA ........................................................ 34


3.0 Desenho da Pesquisa................................................................................................... 34
3.1 Tipo de estudo ou método de estudo ........................................................................... 34
3.1.1 Quanto a abordagem do problema ........................................................................ 34
3.1.2 Quanto a sua natureza........................................................................................... 35
3.1.3 Quanto aos objectivos .......................................................................................... 35
3.1.4 Quanto aos procedimentos técnicos ...................................................................... 35
3.2 Métodos de Pesquisa................................................................................................... 35
3.2.1 Método de abordagem .......................................................................................... 36
3.2.2 Métodos de procedimentos ................................................................................... 36
3.3 Técnica de Colecta de Dados ...................................................................................... 36

CAPÍTULO IV: ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS .................................... 37


4.1 Introdução .................................................................................................................. 37
4.2 Historial do Tribunal Judicial em Moçambique, caso da Província de Sofala .............. 37
4.2 Situação de Branqueamento de capitais em Sofala ...................................................... 39
4.3. Prática da auditoria Forense ....................................................................................... 41
4.4. Contributo da auditoria forense no combate ao branqueamento de capitais ................ 42
4.5. Importância da auditoria Forence no combate ao branqueamento de capitais.............. 44
4.6 Auditoria forense no combate ao branqueamento de capitais em Sofala ...................... 45

CAPÍTULO V: CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES DA PESQUISA .................... 47


5.1. Conclusões ................................................................................................................ 47
5.2 Sugestões.................................................................................................................... 48

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 49


CAPÍTULO Ⅰ: INTRODUÇÃO
1.1. Introdução
Nas últimas décadas do século XX, o fenómeno do branqueamento de capitais tornou-se um
problema de dimensão global movido por tendências da economia mundial, tais como, a
liberalização das trocas internacionais e dos movimentos de capital, a abertura dos mercados
financeiros e a criação e desenvolvimento de novas tecnologias e telecomunicações.

O branqueamento de capitais tornou-se assim “o lado negro do processo de globalização”


(Brandão, 2002, p.16). Os escândalos financeiros nos últimos anos colocaram o auditor
forense na primeira linha de combate às irregularidades contabilísticas e na quantificação de
perdas e danos. E, quanto melhor se conhece este fenómeno, mais se tem a convicção que o
seu combate exige planeamento e metodologia de trabalho próprios. Ou seja, aos profissionais
a quem for dado o papel de estar na linha da frente no combate à fraude e que assumam
efectivamente esta responsabilidade, não parece exagerado pedir-lhes dedicação exclusiva,
dado a abrangência de conhecimentos que este papel implica.

A acumulação de outras tarefas e, em especial, outras orientações de trabalho que


prejudiquem ou os afastem, ainda que temporariamente, do seu objectivo principal, não
parece fazer sentido (Moreira, 2010, p. 13).

A auditoria forense tem como principal objectivo prevenir, detetar e controlar actos ilícitos,
para isso os auditores forenses participam em processos de investigação, apurando os actos
sucedidos de forma a obterem provas suficientes e pertinentes que suportem a investigação
perante as autoridades fiscais e a justiça. Embora o Branqueamento de Capital não seja um
crime recente, as suas técnicas de execução vem evoluindo cada vez mais, dificultando assim
a sua detecção na observância do crime.

Neste contexto, o reconhecimento de uma categoria profissional de um auditor forense poderá


ser um elemento chave para prevenir, detetar e diminuir a ocorrência de actividades
fraudulentas, e para recuperar a confiança dos investidores e demais stakeholders,
contribuindo para reduzir a diferença de expectativas face á auditoria.

9
As investigações relacionadas com a prática de fraudes têm vindo a ganhar mais importância
e reconhecimento social. Num primeiro momento, estas investigações eram realizadas
somente por polícias e entidades oficiais de investigação; nos últimos anos, os auditores
forenses têm vindo a ganhar cada vez mais importância.

Os métodos usados foram determinados em relação aos objectivos do trabalho, e referem-se


aos meios para alcançar os tais objectivos gerais e específicos sobre a Importância da
Auditoria Forense no Combate ao Branqueamento de Capitais. A escolha desta temática
deveu-se, por um lado, à importância crescente deste fenómeno e, por outro lado, pelo
interesse pessoal pela matéria.

O presente trabalho está organizado em cinco (5) capítulos, sendo o primeiro capítulo, a
introdução do estudo, descrevendo o ponto de partida para a realização, a justificativa pela
escolha do tema, os objectivos (Geral e Específicos), a definição do problema, e a delimitação
do estudo; seguidamente a revisão da literatura distribuída em Revisão da Literatura Teórica
retratando os conceitos ligado ao tema, Revisão da Literatura Empírica descrevendo os
estudos realizados em outros países e a Revisão da Literatura Focalizada que se refere os
estudos realizados dentro do Pais.

O terceiro capítulo, retratou-se a Metodologia da pesquisa. Na qual se apresenta o tipo de


pesquisa, os métodos e as técnicas utilizadas para a realização da pesquisa. E no quarto
Capítulo a análise e discussão dos resultados do estudo. Por fim, apresenta-se a conclusão da
dissertação.

1.2 Justificativa
O interesse nesse estudosurge em função de contribuir com conhecimentos sendo que a
auditoria forense não é uma área muito explorada em moçambique, tendo em conta que os
crimes de branqueamento de capitais tem vindo a aumentar no nosso quotidiano. A pesquisa
tem o fim de demonstrar o quão a auditoria forense é importante para detenção dos crimes de
branqueamento de capitais e contribuir para o desenvolvimento da economia nacional.

Segundo Michael Cano e Danilo Lugo (2004, citado por Badillo, 2008) “A auditoria forense é
uma auditoria especializada em descobrir, revelar e testemunhar sobre fraudes e crimes no

10
desenvolvimento das funções públicas e privadas. É, em termos contabilísticos, uma ciência
que reúne e fornece informações a nível jurídico-financeiro, administrativo e fiscal,
contabilístico, que são aceites num tribunal ou por um juiz contra os autores da criminalidade
económica.”

Conscientes da realidade nacional, e tendo em conta o cenário crescente em termos decasos de


fraude económico-financeira (onde se inclui a fraude contabilística e fiscal, entre outras) em
Moçambique, parece-nos urgente um reconhecimento pleno da auditoria forense como área
profissional.

Refletindo a alteração da percepção que a sociedade tem acerca do tema e também da própria
evolução.Este tema está na ordem do dia porque continuamos a vivenciar casos de fraude que
afectam as empresas e a economia do nosso país, com impactos na sociedade e nas pessoas.
Neste cenário, espera-se que a auditoria forense possa contribuir para minimização de
prejuízos, considerando que tem por objetivo detectar e combater o acontecimento de fraudes.

1.3 Objectivos
Para melhorar a sequência da pesquisa foram esboçados duas grandes secções de objectivos,
nomeadamente, objectivo geral e objectivosespecíficos.

1.3.1 Objectivo Geral


 Analisar a Importância da Auditoria Forense no Combate ao Branqueamento de
Capitais.

1.3.2 Objectivos Específicos


 Identificar a contribuição da Auditoria Forense no combate ao branqueamento de
capitais;
 Explicar as práticas de auditoria forense;
 Descrever a importância da auditoria forense no combate ao branqueamento de
capitais.

11
1.4 Definição do Problema
As operações de branqueamento de capitais e a ocultação de bens e direitos, além de
constituírem uma preocupação relacionado directamente com as perdas de ordem económicas
têm a sua origem implicações de ordem social, que causam prejuízos talvez maiores e
certamente mais difíceis de serem mensurados do que os financeiros.

A questão de branqueamento de capitais tem se tornando o foco de discussões em todo o


mundo, á medida em que se constata que esse fenómeno toma proporções cada vez maiores.
Através de literatura de vários autores, percebe-se que é o branqueamento de capitais que
mantem o funcionamento de varias organizações económicas.

A auditoria forense é a ciência de recolha e apresentação de conclusões acerca de informações


financeiras perante as autoridades nas quais são jutilizadas técnicas e procedimentos
específicos de investigação forense (Manning, 2005).

Branqueamento de Capital é um conjunto de actos que são praticados por determinado autor
com o intuito de conferir aparência lícita a bens, direitos ou valores provenientes de uma
infracção penal. Para se caracterizar este crime não se estabelece que sejam quantias
volumosas tampouco enorme complexidade das operações transnacionais para restabelecer o
produto fruto de delito na circulação económica legal, dentro do país ou fora deste (Lima,
2015).

Para que a auditoria forense seja uma realidade, é necessário compreender em que condição é
que as fraudes têm maiores probabilidades de ocorrer, desafio que, pela sua natureza, não é
fácil e pode exigir um elevado nível de competências especializadas inerentes ao perfil e às
responsabilidades dos auditores forenses. Diante deste contexto, surge a seguinte pergunta de
pesquisa:
 Qual é o Importância da Auditoria Forense no Combate ao Branqueamento de
Capitais?

1.5 Perguntas
 Qual é a contribuição da Auditoria Forense tem no combate ao branqueamento de
capitais?

12
 Quais são as práticas de auditoria forense?
 Qual é a importância da auditoria forense no combate ao branqueamento de
capitais?

1.6 Delimitaçãodo Estudo


Segundo Marconi e Lakatos (2011), “delimitar uma pesquisa é estabelecer limites para a
investigação”. Este estudo limita-se na importância da auditoria forense no combate ao
branqueamento de capitais.

1.6.1 Temática
De acordo com o exposto, esta pesquisa tem por temática a importância da auditoria forense
no combate ao Branqueamentos de Capitais.

1.6.2 Espacial
Esta pesquisa foi desenvolvida em Moçambique, província de Sofala, cidade da Beira.

1.7 Limitação do Estudo


Qualquer pesquisa científica presume-se ter suas limitações, e neste estudo não foi diferente, a
primeira limitação é a falta de literatura focalizada,pelo facto de haver poucos estudos
relacionados com o tema no país. Na literatura empírica sobre a matéria, o facto de algumas
fontes não estarem disponíveis. Mas, essas dificuldades foram sendo ultrapassadas passando
por fazer uma boa gestão do tempo e procurando encontrar outras bibliografias que
estivessem relacionadas com o tema.

13
CAPÍTULO Ⅱ: REVISÃO DE LITERATURA
Neste capitulo buscou-se conteúdos científicos relacionados ao tema em estudo, abordando
pensamento de diversos autores e estudos realizados em outros países e em Moçambique.
Para abordar o problema em estudo, é importante conhecer aspectos relacionados a auditoria,
dando maior ênfase a Auditoria Forense, seus objectivos e importância para as empresas.

2.1 Revisão da Literatura Teórica


2.1.1 Conceitos Básicos sobre o Branqueamento de Capitais
Para Santos (2010, p.109), o branqueamento de capitais “há muito já era praticado pelo
homem, que no intuito de acumular bens e riquezas, utilizava-se de recursos ilegais para a
manutenção das vantagens obtidas, seja através de crimes, seja através de ilícitos
administrativos ou, ainda, através de atos contrários às ideologias da Igreja.”

No mesmo sentido, Satula (2010, p.22) escreve que “em todas as épocas, os delinquentes
tentaram ocultar os frutos das suas acções delituosas, na lógica suposição de que a descoberta
destes fundos por parte das autoridades conduziria obviamente à descoberta dos delitos que o
geraram”.

Já Mendroni (2006; citado por Santos, 2010) aponta a origem histórica deste fenómeno no
século XVII, com a prática da “Pirataria” pelos antigos navios piratas. Todas as riquezas
adquiridas ilegalmente (roubos e saques), não seriam enterradas em esconderijos secretos nas
suas “arcas do tesouro”, mas sim trocadas com mercadores americanos de boa reputação por
quantias ou moedas lícitas, permitindo que o pirata, no final, se apresentasse com uma grande
fortuna ganha aparentemente nas colónias sob a realização de negócios legítimos.

Nos últimos anos, vários autores e instituições têm apresentado diferentes definições de
branqueamento de capitais. Para Iniesta (1996; citado por Duarte, 2002, p.34) branqueamento
de capitais é:
Aquela operação através da qual o dinheiro, de origem sempre ilícita
(procedente deilícitos que revestem especial gravidade), é investido,
ocultado, substituído ou transformado e restituído aos circuitos económico-
financeiros legais, incorporando-se em qualquer tipo de negócio como se
tivesse sido obtido de forma lícita”, (…) “o objecto da acção do ilícito tanto
é o dinheiro em espécie como os bens que tenham sido adquiridos com o
mesmo, sejam móveis ou imóveis.

14
Por sua vez, Godinho (2001, p.13) define branqueamento de capitais “não como um conjunto
mais ou menos circunscrito de condutas concretas mas sim, mais ampla e genericamente,
como um processo destinado a um certo fim, a ocultação ou dissimulação de umconjunto de
características de bens de origem ilícita (origem, localização, disposição, movimentação,
propriedade) ”.

Através de uma configuração mais simples, Brandão (2002, p.15) define-o como a “actividade
pela qual se procura dissimular a origem criminosa de bens ou produtos, procurandodar-lhe
uma aparência legal”.

A International FederationofAccountants - IFAC (2004, p.4) entende que o branqueamento


de capitais é o encaminhar de dinheiro e outros fundos com origem em atividades ilegais,
através de instituições financeiras e comerciais legitimas para encobrir as suas origens ilícitas.

2.1.2 Fases do Processo de Branqueamento de Capitais


O processo de Branqueamento de Capitais passa por 3 (três) fases distintas:
 Colocação;
 Circulação e;
 Integração.

2.1.2.1. Colocação
Nesta fase verifica-se a introdução no sistema económico-financeiro dos fundos obtidos de
forma ilícita, geralmente por intermédio de uma instituição financeira (exemplo: um banco,
uma casa de câmbios ou uma instituição de investimento). O dinheiro “sujo” com origem das
actividades criminosas entra assim no sistema financeiro ou económico legal a fim de ser
reciclado.

Nesta fase, os branqueadores podem recorrer a muitos métodos na procura de evitar o rasto
documental (papertrail) que permita às autoridades competentes identificar a origem ilícita
dos bens, capitais e produtos. Frequentemente, o branqueador inicia o processo com recurso
às seguintes técnicas:
 Depósitos em numerário;
 Câmbio de moeda ou a conversão de notas pequenas em notas de maiordenominação;

15
 Compra de valores mobiliários ou de contratos de seguros utilizando numerário;
 Conversão dos fundos ilícitos, combinados com fundos legítimos para não levantar
suspeita, em instrumentos financeiros, tais como ordens de pagamento ou cheques.

Esta fase é a mais crítica para o branqueador por ser aquela em que mais facilmente os fluxos
são detetados e mais próxima da origem se encontra.

2.1.2.2 Circulação
O segundo estado do branqueamento de capitais tem lugar após a entrada dos proventos
ilícitos no sistema financeiro, quando os fundos são convertidos ou movimentados para outras
instituições, distanciando-os ainda mais da sua origem criminosa. É também denominada fase
da camuflagem.

Trata-se dum processo de despistagem em que o dinheiro é habitualmente sujeito a múltiplas


e complexas transações, de forma a ocultar a sua origem criminosa. Nesta fase, é frequente
proceder-se a:
 Sucessivas rotações entre contas, entre instituições financeiras e empresas, muitas
vezes localizadas noutros países, dispersando os fundos e apagando-lhes o rasto;
 Recurso a contas bancárias em países com legislação de sigilo bancário restrita,
podendo nomear sociedades offshore como titulares dessas contas.

2.1.2.3 Integração
Esta fase caracteriza-se pela reintegração dos fundos e capitais já “branqueados”na economia
legítima, já com a aparência de terem sido legítima e legalmente obtidos, consubstanciando-se
com a compra de bens, como imóveis, valores mobiliários ou outros activosfinanceiros e
artigos de luxo.

Na fase da justificação, o autor do branqueamento cria uma origem aparentemente legal para
o dinheiro, ficcionando transações com recurso a documentos falsos, tais como, faturas,
relatórios e contratos. Para tal, o branqueador frequentemente:
 Ficciona um empréstimo de retorno (loan-back) ou um empréstimo recíproco
 (back-to-backloan);

16
 Ficciona um aumento no património líquido: compra e venda de bens imobiliários,
prémios de casino, prémios de lotaria, heranças, etc.;
 Dissimula a propriedade dos bens e a participação nos negócios;
 Manipula preços (sobre ou subfacturação) e;
 Manipula volumes de negócios, combinando fontes de rendimento lícitas com outras
ilícitas.

Posteriormente, na fase do investimento, o branqueador utiliza os produtos do crime em


benefício próprio, como por exemplo:
 Depósito em cofre;
 Consumo: despesas diárias, joias, veículos, embarcações de recreio, objectos de arte;
 Investimento: contas bancárias, bens imobiliários, acções, valores mobiliários,
financiamento de actividades comerciais legais e ilegais.

2.1.3 Principais Técnicas


Segundo Mendroni (2006), as principais técnicas utilizadas no Branqueamento de Capitais
são:
 Estruturação: é uma sistemática na tentativa de burlar o sistema financeiro de
informar a autoridade de inteligência financeira e essas autoridades competentes da
movimentação realizada.
 Mescla: é a possibilidade de mistura dos recursos ilícitos com os lícitos, dificultando
assim a separação. Por exemplo: um acréscimo de facturamento, com origem
inexplicada.
 Transferência de Fundos: é a modalidade mais utilizada pelos branqueadores. Nela
há o ingresso de valores no sistema financeiro nacional e, muitas vezes, desembocam
em sistemas financeiros de outras nações. Dai surge a importância da politica do
“conheça o seu cliente” e de complianceobservados pelas instituições Financeiras.
 Aquisição de Antiguidades e Objecto de Arte: os critérios de avaliação de obras de
arte e antiguidades fogem o carácter da objectividade. Um colecionador pode
arrematar determinado ora de arte hoje e amanhã repassa – la por um valor maior ou
menor do que pagou inicialmente. Esse grau de subjetivismo é utilizado por
branqueadores de dinheiro principalmente em leiloes, onde os lances são dados,

17
normalmente por mais de um participante em conluio, te que se chegue ao valor a ser
branqueado.

2.1.4 Auditoria Forense


2.1.4.1 Definição de Auditoria Forense
Almeida (2014, p.18) Os auditores forenses são auditores que, em virtude das suas atitudes,
atributos, competências, conhecimentos e experiência, são peritos na deteção de fraudes. A
auditoria forense é o processo de deteção, prevenção e correção de actividades fraudulentas
perpetradas pelo órgão de gestão, por trabalhadores ou por terceiros. Ao contrário da auditoria
financeira que trabalha com base em amostragens, a auditoria forense analisa todas as
transações onde há suspeitas de fraude.

A auditoria forense pode ser utilizada: na deteção de fraudes, investigações criminais,


disputas entre acionistas e empresas, disputa matrimoniais, etc. “A auditoria forense é uma
auditoria especializada em descobrir, revelar e testemunhar sobre fraudes e crimes no
desenvolvimento das funções públicas e privadas. É, em termos contabilísticos, uma ciência que reúne
e fornece informações a nível jurídico-financeiro, administrativo e fiscal, contabilístico, que são
aceites num tribunal ou por um juiz contra os autores da criminalidade económica.” (Michael Cano e
Danilo Lugo, 2004, citado por Badillo, 2008)

A auditoria forense é uma técnica que tem como objetivo participar em investigações de
fraudes, em actos conscientes e voluntários em que as leis são contornadas. Este tipo de
auditoria é desenvolvido através de técnicas forenses de investigação, contabilidade integrada
e conhecimento jurídico, para fornecer informações e pareceres à justiça.

É de salientar que a auditoria forense é uma técnica que facilita as investigações de


advogados, o departamento de investigação policial, fiscal e judicial, permitindo esclarecer
possíveis crimes. O campo de acção deste tipo de auditoria desenrola-se num ambiente
diversificado; ambiente este constituído por uma equipa multidisciplinar de profissionais,
onde conjugam conhecimentos e experiência de forma a serem aplicados a um fim comum
(Tapia, 2010).

18
2.1.4.2 Auditoria Forense Preventiva e Auditoria Forense Detetiva
Segundo Tapia (2010) e Badillo (2008), a auditoria forense têm como objetivo principal a
prevenção e deteção de atos ilícitos, tais como fraudes, lavagem de dinheiro, corrupção. Desta
forma, a auditoria forense deve ser observada mediante dois prismas, numa forma pró-ativa
(ótica preventiva) e numa forma reativa (ótica detetiva).

A auditoria forense preventiva tem por base o fornecimento de garantias e pareceres às


organizações quer públicas, quer privadas, sobre a capacidade de prevenir, impedir, detetar e
proceder contra as fraudes, desenvolvendo medidas tais como, programas de antifraude e
controlos; regimes de alerta precoce de irregularidades; sistemas de gestão de reclamações;
entre outras. Esta ótica é pró-ativa pois envolve tomar decisões no presente para evitar fraudes
no futuro (Tapia, 2010; Badillo, 2008).

A auditoria forense detetiva tem como objetivo identificar a existência de fraude, numa
investigação profunda, de forma a constatar o montante da fraude, os efeitos diretos e
indiretos, a classificação possível, os autores e cúmplices da fraude. Esta abordagem é reativa
pois envolve a tomada de decisões no que diz respeito à fraude que ocorreu no passado
(Tapia, 2010; Badillo, 2008).

2.1.4.3 Objectivos da Auditoria Forense


Cepat (2006), Rozas (2009), Tapia (2010), Olacefs e Efs (2012), identificam objectivos da
auditoria forense, nomeadamente:
 Identificar responsáveis e informar as autoridades competentes de violações detetadas,
de maneira a combater a corrupção e a fraude;
 Evitar a impunidade, pois a auditoria forense fornece meios técnicos válidos para
facilitar a justiça a operar com maior segurança;
 Deter os indivíduos de práticas desonestas, promovendo a responsabilização e a
transparência nos negócios;
 Participar no desenvolvimento de programas de prevenção de práticas de fraude;
 Participar na avaliação de sistemas e estruturas do controlo interno;
 Avaliar a credibilidade de autoridades e instituições públicas.

19
Para alcançar os objetivos enunciados é necessário que a auditoria forense seja realizada de
forma eficaz. Para tal, os auditores forenses usam técnicas especializadas na área, que serão
aplicadas ao longo das diversas fases da auditoria.

2.1.4.4 Princípios Básicos da Auditoria Forense


Segundo Rozas (2009), há inúmeros profissionais que desenvolveram uma prática guiada por
princípios básicos, que para o autor são os seguintes:
 A auditoria forense é diferente da auditoria financeira. É mais um jogo mental que
metodologia;
 Os auditores forenses são diferentes dos auditores financeiros. Estes concentram-se em
exceções e raridades, irregularidades contabilísticas e padrões de comportamento, e
não em erros e omissões;
 A auditoria forense aprende-se a exercer principalmente a partir da experiência, e não
através de textos ou documentos de trabalhos de auditorias anteriores. Neste tipo de
auditoria “os elos mais fracos dessa cadeia são os controlos internos”;
 A partir de uma perspetiva da auditoria forense, a fraude é uma representação errada e
intencional de factos financeiros de natureza material;
 A fraude é cometida por razões económicas, egocêntricas, ideológicas e psicóticas, das
quais, o motivo económico é o mais comum;
 A fraude cobre uma teoria estruturada sobre os motivos, oportunidades e benefícios;
 A fraude num ambiente informatizado de contabilidade pode ser realizada em
qualquer fase do processamento (entrada, processo e saída). As fraudes realizadas na
fase de entrada são as mais comuns, como por exemplo dados de rendimentos falsos e
fraudulentos;
 As fraudes cometidas por funcionários de nível hierarquicamente inferior mais
comuns incluem desvios, tais como nas contas a pagar, nas folhas de pagamento, nos
benefícios e sinistros, e nas despesas;
 As fraudes cometidas por funcionários de nível hierarquicamente superior mais
comuns incluem “alteração de lucros”, tais como registrar vendas antecipadamente e
sobrevalorizar inventários;
 As fraudes mais frequentes ao nível da contabilidade são causadas pela ausência de
controlos;

20
 As fraudes não estão a crescer exponencialmente, mas as perdas derivadas das mesmas
estão;
 As fraudes contabilísticas são, frequentemente, descobertas mais por acidente do que
por desígnio da auditoria financeira;
 A prevenção da fraude é uma questão de controlos adequados e um ambiente de
trabalho honesto e transparente.

2.1.4.5 Auditor Forense: características e requisitos


Segundo Rozas (2009), o auditor forense deve ser um profissional altamente treinado,
especialista em contabilidade, auditoria, controlo interno, tributação, finanças, informática,
técnicas de investigação, direito processual penal e tributário, entre outras áreas.

Tendo em conta a experiência e o conhecimento do auditor, este deve ser intuitivo e cético,
capaz de identificar qualquer sinal de fraude. Conjuntamente, o auditor forense deve ser
objetivo, independente, justo, honesto, inteligente, perspicaz e prudente (Rozas, 2009). Um
auditor forense tem de possuir determinadas habilidades para exercer a profissão, tais como:
 Identificação de problemas financeiros;
 Conhecimento de técnicas de investigação;
 Conhecimento de provas;
 Interpretação da informação financeira;
 Apresentação dos resultados.

Tendo em conta o primeiro e o quarto ponto, o auditor forense utiliza mais técnicas
financeiras, do que suporte contabilístico; no segundo ponto, o auditor é similar a um detetive;
os restantes pontos têm caráter legal, pois é necessário acumular evidências válidas para os
processos judiciais, das quais se diferenciam das evidências de auditoria financeira (Rozas,
2009).

A mentalidade de um auditor forense numa investigação é uma habilidade básica, que exige
muito mais que a mentalidade de um auditor tradicional. Isto é, enquanto um auditor
tradicional se baseia na limitação de âmbito, na materialidade e na amostragem para recolher
provas, um auditor forense não se pode restringir a esse tipo de evidências. Este requer

21
criatividade, curiosidade, perseverança, senso comum, senso nos negócios e
confidencialidade, tendo por base os processos judiciais (Rozas, 2009).

2.1.4.6. Técnicas de Auditoria Forense


Na auditoria forense destacam-se as seguintes técnicas:

a) Técnicas de verificação visuais:


 Observação;
 Revisão selectiva;
 Comparação;
 Rastreio.
b) Técnicas de verificação verbal:
 Inquéritos.
c) Técnicas de verificação escrita:
 Análise;
 Conciliação;
 Confirmação.
d) Técnicas de verificação documental:
 Comprovação;
 Documentação.
e) Técnicas de verificação física:
 Inspeção.
f) Técnicas de auditoria assistidas por computador:
 Relacionadas com equipamentos, ferramentas e programas de computadores,
internet, sistemas de comunicação eletrónica, entre outros elementos, que permitem
realizar análise de dados, comportamento de variáveis, verificações, conciliações,
envio e receção da informação e de outras actividades.

2.1.4.7 Fases de uma Auditoria Forense


Segundo Ayala (2008) e Tapia (2010), existem várias fases do trabalho da auditoria forense
que são consensuais na literatura sobre o tema. Contudo, salientam que cada caso é um caso
(podem existir casos semelhantes, mas raramente idênticos) e que, portanto, é necessário
adaptar as fases e os procedimentos de auditoria a cada investigação. A concretização correcta

22
e eficiente de cada uma das fases possibilitam o desenvolvimento de uma auditoria relevante,
eficaz e com bons resultados.

Ayala (2008) e Tapia (2010) apresentam as várias fases de uma auditoria forense, numa
perspectiva de acção liderada por um auditor forense:
 FASE 1: Planeamento da Auditoria Forense
No planeamento, o auditor deve começar por conhecer o caso que se encontra em
investigação, de seguida desenvolver uma estratégia global para a sua execução e estabelecer
uma abordagem apropriada sobre a natureza, tempo e extensão dos procedimentos de
investigação que se devem aplicar. Nesta fase, o planeamento pode resultar de uma queixa
formal ou informal, ou ter origem numa auditoria financeira ou avaliação dos mecanismos de
controlo internos.

 FASE 2: Definição e Reconhecimento do Problema


É nesta fase que a investigação começa e que se iniciam as ações de exploração e análise da
auditoria forense. Os membros da equipa de trabalho analisam se a entidade está sujeita a
fraudes significativas nas demonstrações financeiras (ou outras áreas). Geralmente envolve os
profissionais mais experientes que realizam uma análise profunda e objetiva, desconsiderando
qualquer julgamento ou crença subjectiva.

 FASE 3: Avaliação do Risco


O risco em auditoria forense é a possibilidade da informação financeira, uma (várias) área (s)
ou a entidade sob investigação ser vítima de atos ilícitos e fraude económico-financeira sem
que essas situações sejam detetadas pelos procedimentos de análise da auditoria forense. O
auditor deve considerar a avaliação do risco como um processo contínuo de análise. Pode usar
o esquema tradicional da auditoria financeira, onde se avalia o risco inerente, o risco de
controlo e o risco de deteção, mas tem de incorporar nesta avaliação o risco de fraude.

 FASE 4: Projecto e Desenvolvimento do Programa


O programa de auditoria deve ser definido logo na primeira auditoria, mas vai sendo adaptado
no decorrer das operações e de trabalhos futuros, sendo, portanto, flexível. Incorpora a
identificação das áreas a analisar/situação, os métodos/técnicas e procedimentos de análise a
usar, bem como as horas e recursos humanos necessários para executar o trabalho. Sendo

23
flexível, possibilita a introdução de alterações sempre que necessárias, para conseguir assim
atender aos objetivos inerentes à função a desempenhar.

 FASE 5: Recolha e Avaliação das Evidências


“A International Standard onAuditing 500, define evidência como todos os factos, provas e
documentos suficientes, competentes e relevantes devidamente credenciados que suportam as
conclusões e resultados do auditor” (Tapia, 2010, p. 6).

As evidências são obtidas através da aplicação dos procedimentos de auditoria e dos trabalhos
de campo devidamente planeados, e a determinação do sucesso ou fracasso da investigação
vai depender da qualidade da evidência alcançada. Para tal nesta fase, são utilizadas varias
técnicas de investigação para a recolha, analise, interpretação e preservação da informação.

 FASE 6: Fechar
A investigação termina quando o objetivo é cumprido e os resultados confirmam as hipóteses
(deteção de fraude). Quando não é possível chegar a uma conclusão (os procedimentos
planeados foram cumpridos, mas as informações recolhidas não resultam em resultados
relevantes), o supervisor da equipa de auditoria forense é responsável por avaliar se vale a
pena ou não continuar a investigação.

2.1.4.8 Limitações da Auditoria Forense


Segundo Fonseca (2015), o acesso e a análise da informação requerem competências
específicas, de acordo com as leis e os regulamentos normalizados. Assim, para a
concretização de uma auditoria forense é fundamental garantir que os dados recolhidos são
fiáveis e suficientes para a investigação, de forma a assegurar a eficácia da auditoria.

Neste sentido, o autor considera como limitações comuns:


 A conformidade legal, pois o processo de auditoria forense tem de ser desenvolvido
em conformidade legal, principalmente na vertente da proteção dos dados pessoais.
Por vezes, a conformidade legal limita o acesso a determinadas informações, onde
estas poderão ser relevantes para a investigação, mas que só podem ser acedidas por
pessoal autorizado, como por exemplo, o sigilo bancário, a informação pessoal
presente nos computadores das organizações ou até registos telefónicos;

24
 O investimento, necessário para a formação dos auditores forenses, se for um recurso
interno à organização é um fator limitativo, pois pode não o justificar. No entanto, é
importante mencionar que a implementação de um sistema de prevenção de fraude na
organização produzirá rápido retorno. Além disso, um auditor forense poderá exercer
outras funções, como por exemplo, ingressar numa equipa de auditoria interna;
 A necessidade de constante reavaliação das regras definidas no sistema de prevenção
de fraude, de forma a combater a rotina dos testes forenses (um dos principais
inimigos de qualquer auditoria).

2.1.5 Auditoria Forense vs. Auditoria Externa vs. Auditoria Interna


Através da perspetiva de vários autores e das normas de auditoria, é possível estabelecer as
principais diferenças entre a auditoria forense, a auditoria financeira e a auditoria interna.
Sobre a auditoria forense, conceito e seus objetivos falamos nas secções anteriores.

A auditoria financeira (externa, contabilística ou às demonstrações financeiras) é umprocesso


objetivo e sistemático, realizado por um terceiro independente (ROC), de obter e avaliar as
evidências relativas às asserções sobre acções e eventos económicos, por forma a verificar o
grau de correspondência entre essas asserções e os critérios estabelecidos, comunicando os
resultados aos utilizadores da informação financeira (Almeida, 2014).

Nessa medida, a ISA 200 da IFAC, descreve que a finalidade de auditoria é aumentar o grau
de confiança dos destinatários das demonstrações financeiras, através da expressão de uma
opinião do auditor sobre se as demonstrações financeiras estão preparadas, em todos os
aspectos materiais, de acordo com um referencial de relato financeiro aplicável.

A auditoria interna define-se como uma actividade independente, de garantia e de consultoria


estruturada para acrescentar valor e melhorar as operações de uma organização. Ajuda a
organização a alcançar os seus objetivos, através de uma abordagem sistemática e
disciplinada, na avaliação e melhoria da eficácia dos processos de gestão de risco, de controlo
e de governação (IIA, 2009, p. 10).

A auditoria interna em regra, é executada por um departamento interno da organização, mas


com independência face aos demais departamentos e reportando ao Conselho de

25
Administração (Norma 1110 do IIA), embora possa ser fornecido por especialistas externos.
Segundo Moreira (2014), CEPAT (2005) e ASF, a auditoria forense diferencia-se da auditoria
financeira e da auditoria interna em vários aspetos, podendo destacar-se os seguintes:

Quadro 1: Auditoria Forense vs. Auditoria Externa vs. Auditoria Interna


Auditoria Forense Auditoria Externa Auditoria Interna
Investigação de crimes. Alcançar e manter um Monitorar os controlos e
Importância bom sistema financeiro. processos internos da
organização.
Prevenir e investigar Formular e expressar Dar opinião sobre a
Objectivo fraudes. uma opinião sobre as eficácia e eficiência dos
informações maneiras. controlos e processos
internos.
Período desde o inicio Período definido Período definido
até à conclusão da (geralmente é um ano). (geralmente é um ano).
Extensão infracção, incluindo as
acções legais.
Critérios Não há critérios Normas de Auditoria Norma de Auditoria
totalmente definidos. Financeira. interna.
Técnicas Parte das técnicas são as Baseia-se nas técnicas Baseia-se nas técnicas
da auditoria. de auditoria. de auditoria
Evolução da Opcional, dependendo É necessário. É indispensável.
Estrutura das circunstâncias.
do Controlo
Interno
Orientada para os Necessárias, focado na Necessárias, focado na
denunciantes, aérea da auditoria. aérea da auditoria.
Entrevistas testemunhas,
informadores e
investigadores.
Responsável Depende do caso a Auditores Auditores e
investigar. Contabilísticas.
Conteúdo Varia com a natureza e Opinião do auditor. Funcionalidade da
do Relatório as características do organização, controles
de processo de de gestão e erro
Auditoria investigação. detetadas.
Conclusões Nos casos criminais, são A opinião é a conclusão Observações e melhorias
de Auditor formuladas as provas. principal, pode conter fazer ao controlo interno
algumas sugestões.
Frequência Emqualquermomento. Geralmente é anual. Geralmente é anual, mas
pode ser no momento
em que é requisitado.
Fonte: Moreira, 2014; CEPAT, 2005 e ASF

26
2.1.6 Ferramentas Auxiliares na Auditoria Forense
As ferramentas mais tradicionais e mais utilizadas são as entrevistas, a vigilância física e
eletrónica, a análise de transações financeiras, a verificação de documentos públicos, a análise
de indicadores, a investigação de antecedentes, a revisão seletiva e a análise laboratorial de
evidências físicas e eletrónicas (Tapia, 2010; Olacefs, 2012).

Nos últimos anos tem sido desenvolvido, aprimorado e usado o software de análise de dados
no trabalho do auditor forense.É uma ferramenta útil porque permite testar a totalidade dos
dados estruturais ou não estruturais com maior eficiência através da análise visual ou de texto
(Aldhizer III, 2017).

O software de análise visual é um processo exploratório e interativo que cria gráficos


personalizados, multidimensionais e em camadas para os dados estruturais. Tem como
finalidade, fornecer análises mais particulares dos dados de forma a encontrar possíveis
esquemas de fraude e novos sinais de alerta (RedFlags) e consequentemente, reduzir o risco
de distorções relevantes não detetadas (incluindo a fraude).

Este software transforma localizações em coordenadas de latitude e longitude para facilitar a


localização de possíveis esquemas de fraude. As transações financeiras, informações de
activos, dados de clientes e contratos podem remeter a locais.

Consegue simplificar os dados estruturais em círculos, linhas e cores para distinguir por
exemplo o tamanho da população relativamente ao tamanho dos círculos, linhas para designar
ruas diferentes e cores para diferenciar as subsidiárias da empresa-mãe. Utiliza mapas de calor
para representar graficamente os dados por cores e tem a capacidade de importar e analisar
dados relativos a vários bancos de dados complexos da EnterpriseResourcePlanning (ERP) e
mainframes legados.

Com este software não se analisam dados não estruturais. O software de análise de texto trata
de divulgar os significados ocultos dos dados não estruturais por meio de linguagem natural e
estatísticas avançadas, a fim de identificar situações que podem aperfeiçoar a auditoria de
elevado risco e os trabalhos forenses. Além do mais, encontra-se apto para analisar dados
estruturais onde os principais resultados retirados da análise de texto podem ser inseridos no

27
software visual com o objetivo de ceder uma maior perspetiva de potenciais esquemas de
fraude (Aldhizer III, 2017).

Segundo Kleinman e Anandarajan (2011), as ferramentas de auditoria forense podem não ser
eficazes no decurso da investigação forense devido ao impacto que as falhas cognitivas do
auditor podem provocar. A “cegueira não intencional” é uma falha cognitiva de que todos os
indivíduos que pretendem ingressar na área da auditoria forense devem estar cientes.

Define-se como o fenómeno do auditor de ser incapaz de ver as coisas como verdadeiramente
estão à vista, por estar a depositar toda a sua atenção num dado fenómeno deixando de fora
aspetos, assuntos e factos relevantes, limitando posteriormente a quantidade de informação
processada, levando a erros e fazendo com que possam ser ignorados sinais de alerta
significativos.

Para combater este fenómeno, Kleinman e Anandarajan (2011) sugerem que os auditores
forenses devem ser sujeitos a formação e treino no sentido de estarem aptos a focar vários
fenómenos relacionados e sinais de alerta que vão surgindo.

2.1.7 O Auditor Forense Enquanto Testemunha Experiente


Segundo definição do Dr. George A. Manning(2011, p. 224) renomado autor sobre o tema,
em uma tradução livre, “... testemunha Experiente é a pessoa especialista em determinada
arte, ciência, profissão ou negócio ou quem possui experiência ou conhecimento em relação a
matérias comumente desconhecidas por pessoas normais.”

Diz ainda o autor que a diferença básica entre uma Testemunha Experiente e uma testemunha
comum é que esta última apenas testemunhou fatos, os quais, viu, ouviu ou observou. O
auditor ao assumir este papel deve ser capaz de servir a corte no estabelecimento da verdade,
por meio de sua experiência e provas técnicas apresentadas, pois através de seu depoimento
será determinada a responsabilidade de um acusado.

Por isso é de suma importância que o profissional possua completa capacitação,


demonstrando confiança ao explanar questões que abrangem as disciplinas comuns a função
do Auditor Forense, nomeadamente a Criminologia, em especial sobre delitos econômicos e

28
financeiros, Investigação, Contabilidade e Computação Forense. Este deve seguir normas e
padrões rígidos, tendo especial cuidado na coleta e preservação de evidências, pois o caso
pode ser perdido se durante a análise destas não for constatada a devida diligência com
relação a cadeia de custódia.

Além das referidas habilidades, deve possuir também excelente comunicação oral e
capacitação para entrevistar possíveis envolvidos, bem como contornar situações
comprometedoras com acusados, advogados e juízes. Por fim, seu relatório deve possuir
linguagem adequada, simples e objetiva, para que seja facilmente interpretado pela
promotoria.

Ao final de um investigação, precisa preparar-se para a apresentação dos resultados, não


simplesmente prestando um depoimento, mas defendendo seus argumentos com autoridade ao
rebater eventuais objeções da parte contrária, uma vez que esta pode tentar fazê-lo perder o
controlo e cair em contradições.

Esta etapa do trabalho do Auditor Forense é tida por Singletonet al (2010) como fundamental
na formação da mentalidade investigativa do profissional, pois é através deste processo que os
olhos do auditor são abertos, quando representantes do lado oposto levantam dúvidas e
possibilidades que este pode não ter considerado até então.

2.2 Revisão da Literatura Empírica


2.2.1 Auditoria Forense em Brasil
Carvalhal (2016), desenvolveu um estudo intitulado “Ä Auditoria Forense e o seu Papel no
Combate às Fraudes e á Corrupção no Brasil e no Mundo”, apresentou um estudo na sua
monografia para obtenção do Grau de Especialista em Auditoria e Controladoria, na
Universidade Cândido Mendes, na AVM-Faculdade Integrada, onde tinha como objectivo
demonstrar a importância da aplicação de técnicas de Auditoria Forense, para identificação e
tratamento assertivo dos responsáveis por actos fraudulentos nas empresas e organizações,
bem como esclarecer de que forma essa abordagem diferenciada de auditoria pode contribuir
na definição de estratégias de combate à fraude.

29
Para a recolha de dados e para o alcance dos objectivos pretendidos pelo estudo, usou uma
abordagem qualitativa e para levantamento de dados usou a pesquisa bibliográfica e
documental.Através do presente estudo o autor constatou que,como as fraudes financeiras
tiveram impactos profundos nas mais variadas instituições, levando a criação de normas e
entidades específicas focadas na sua detecção e tratamento, além de provocar forte influência
na sociedade, resultando em uma transformação da profissão do auditor e o surgimento de
uma nova especialidade.

Carvalhal (2016), concluiu que com o aumento dos esforços para detecção de casos de
corrupção e fraudes no Brasil e no Mundo, tornar-se-á a Auditoria Forense essencial na
aplicação da lei e na eliminação do gap existente em relação ao papel do auditor. Observa-se
que há urgência em integrar técnicas formais de Auditoria Forense aos processos tradicionais,
estabelecendo um ferramental científico de investigação nos aspectos contabilísticos, jurídicos
e tecnológicos, com o objetivo de torná-los capazes de responder às ameaças actuais e
vindouras.

Portanto, verifica-se que a profissão do Auditor Forense para que se estabeleça,


principalmente no Brasil e à semelhança do que acontece nos EUA, ainda terá um grande
caminho a ser percorrido, desde a sua integração como disciplina nos sistemas de ensino, até
ao seu reconhecimento oficial, regulamentação pertinente e certificação profissional.

2.2.2Auditoria Forense em Portugal


Xavier (2020),fez estudo com o tema “Auditoria Forense em Portugal: pertinência da criação
de uma formação avançada no ensino superior em Portugal”, o estudo foi apresentado na sua
Dissertação para obtenção do grau em Mestrado em Contabilidade na Universidade do
Minho: Escola de Economia e Gestão.

A autora tinha como objectivos fundamentais:


 Averiguar a pertinência da criação de uma formação avançada em auditoria forense, no
ensino superior em Portugal;
 Analisar e definir o perfil do auditor forense, tendo em conta as competências-base e
características relevantes;

30
 Explorar e definir as áreas de conhecimento essenciais para a formação do auditor
forense.

O estudo é de carácter qualitativo e caracteriza – se como exploratório. Xavier (2020)


concluiu que houve uma validação, por parte da maioria dos respondentes, do modelo teórico
usado nesta dissertação, construindo uma base nos estudos, eque contempla as core skills para
a prática da auditoriaforense, as enhancedskills necessárias para a detecção de fraude
económico-financeira, as principais características que o auditor forense deve possuir, bem
como as áreas de conhecimento essenciais para a formação do auditor forense.

Ainda em Portugal, Fernandes (2016), fez um estudo com o tema “Relação entre a Auditoria
Forense e a Ética nas Organizações”, a autora tinha como objectivogerala relação entre
auditoria forense e a ética nas organizações, de forma a conseguir analisar a importância dos
auditores forenses na prevenção de fraudes, analisar a importância da existência de um bom
sistema de controlo interno para a prevenção de fraudes, verificar a dimensão da falta de ética
nas organizações que sofreram de fraudes e analisar a responsabilização dos gestores.

O estudo foi apresentado na sua Dissertação de Mestrado para a obtenção do Grau de Mestre
em Auditoria ao Instituto de Contabilidade e Administração do Porto: Instituto Politécnico do
Porto. Para a realização do referido estudo, Fernandes aplicou a metodologia qualitativa e
para levantamento de dados usou a pesquisa bibliográfica e documental.O instrumento de
análise escolhido foi através de entrevistas.

Fernandes (2016), concluiu que considera-se relevante destacar a importância da realização de


auditorias forenses, pois apesar de terem pouca representatividade no nosso país, comprova-
se, através da análise complementar realizada, que é uma das ferramentas fundamentais para a
prevenção de fraudes.

E ainda salientou, que a questão da ética nas organizações é imprescindível, pois todas as
organizações precisam de se reger por normas éticas, para que o funcionamento das mesmas
seja bem direcionado; como tal, pode-se afirmar que a ética é propícia no que diz respeito à
sobrevivência das organizações no mercado atualmente competitivo.

31
Os dois estudos acima apresentados (efectuados em Portugal), assemelham-se com o presente
estudo no que diz respeito a consultas bibliográficas, documentos relacionados com o tema
em análise e, não obstante ser também um País falante de língua portuguesa. Contudo, a
pesquisa que mais se identificou com a autora desta pesquisa é apresentada por Fernandes
(2016), na abordagem qualitativa e no método de levantamento de dados bibliográficos.

Portanto, os estudos efectuados em Portugal tanto como no Brasil, apresentam semelhanças


pelo facto de ambos falarem de auditoria forense. Estes estudos contribuíram para a presente
pesquisa, através de métodos de abordagens (qualitativa) e levantamento de dados
bibliográficos.

2.3 Revisão da Literatura Focalizada


Mondlane (2021)1, desenvolveu uma dissertação para a obtenção do titulo de Licenciatura,
onde fez um estudo sobre Auditoria Forense como ferramenta de auxilio nos Processos
Judiciais, um estudo de caso o Tribunal Judicial Provincial de Sofala (2018 - 2019).

A pesquisa tinha como objectivo analisar o efeito da auditoria forense como ferramenta de
auxílio nos processos judiciais, bem como identificar os tipos de auditoria usadas nos
processos judiciais e descrever a funcionalidade da auditoria forenses nos processos judiciais,
a autora fez o estudo de caso referente ao período de 2018 – 2019, a escolha dos anos deveu-
se ao acto notório que aconteceu no país em dois anos consecutivos 2016 e 2017 pois foi
nesses anos em que se verificou o caso de fraude e escândalos no país.

De modo a alcançar os objectivos pretendidos, a autora aplicou o método de estudo


qualitativo, como procedimentos bibliográficos. Deste modo, a pesquisadora recorreu a
entrevistas não padronizada ou não estruturada, com perguntas abertas e o levantamento
bibliográfico. Quanto ao processo de amostragem foi não probabilística, amostragem
intencional.

A autora concluiu que o efeito que a auditoria forense causa nos processos judiciais no
tribunal é de combater actos ilícitos, fraudes visando melhorar o sistema financeiro e
judiciário de escândalos. Deste modo, a pesquisa apresenta possíveis percursos, que a nível

1
Monografia Científica defendida em Junho de 2021, na Universidade Católica de Moçambique - Beira
32
empresarial assim como, judiciário podem ser implementados, de forma a reduzir ou mitigar a
ocorrência de fraudes financeiras.

33
CAPÍTULO Ⅲ: METODOLOGIA DE PESQUISA
Neste capítulo são apresentados os procedimentos metodológicos que deram continuidade a
presente pesquisa, identificando os princípios que guiam e encaminham a pesquisa, tendo em
consideração a natureza do problema em estudo e a respetiva justificação.

Segundo Sousa e Baptista (2011), a metodologia de investigação consiste num processo de


seleção da estratégia de investigação. Esta escolha deve ser adequada aos objectivos que se
pretendem atingir.

3.0 Desenho da Pesquisa


Desenho de pesquisa é um plano que mostra, por meio de uma discussão do nosso modelo e
dos nossos dados, como pretendemos usar nossa evidência para fazer inferências. Assim,
procedeu-se a classificação da pesquisa e da aplicação dos respectivos métodos, que poderiam
influenciar os resultados dos objectivos pretendidos, e procurar antes familiarizar-se com o
tema, através de leituras de vários manuais e trabalhos científicos relacionado com o tema.

O desenho de pesquisa é sobre convencer uma audiência de pessoas céticas que decisões
importantes que estão por trás das conclusões da pesquisa são as mais seguras possíveis.

3.1 Tipo de estudo ou método de estudo


A metodologia de investigação consiste num “processo de seleção da estratégia de
investigação, que condiciona, por si só, a escolha das técnicas de recolha de dados, que devem
ser adequadas aos objetivos que se pretendem atingir” (Sousa & Baptista, 2011, p.52).

3.1.1 Quanto a abordagem do problema


A presente pesquisa classifica-se como sendo qualitativa, segundo Sousa e Baptista (2011)
qualitativa centra-se na compreensão dos problemas, analisando os comportamentos, as
atitudes ou os valores, “não existe uma preocupação da amostra nem com a generalização dos
resultados, e não se coloca o problema da validade e da fiabilidade dos instrumentos, como
acontece com a investigação quantitativa.

34
Neste tipo de pesquisa, considera-se que existe uma relação entre o mundo e o sujeito além
daquela traduzida em números. O objectivo central da pesquisa é entender a explicação de
algum fenômeno, ou seja, há subjectividades que não são quantificáveis.

3.1.2 Quanto a sua natureza


Quanto à natureza, a pesquisa pode ser básica e aplicada. Apesquisa básica tem por objetivo
gerar conhecimentos novos para avanço da ciência sem alguma aplicação prática prevista. É
uma pesquisa puramente teórica, que requer obrigatoriamente uma revisão bibliográfica.
Enquanto a pesquisa aplicadatem por objetivo gerar conhecimentos para aplicações práticas
com objectivo de solucionar problemas específicos.

De acordo com os objectivos traçados na presente pesquisa, a mesma classifica-se como


sendo básica.

3.1.3 Quanto aos objectivos


A pesquisa classifica-se como sendo exploratória em função dos objetivos traçados. A
pesquisa exploratória tem como objectivo proporcionar maior familiaridade com um
problema. Para tanto, envolve levantamentos bibliográficos, entrevistas com pessoas que
tiveram experiências práticas com o problema, além da análise de exemplos, assumindo, em
geral, a forma de pesquisas bibliográficas e estudos de caso.

Para efetivação da pesquisa recorreu-se aos levantamentos bibliográficos de autores que já


abordaram sobre o assunto.

3.1.4 Quanto aos procedimentos técnicos


Tendo em conta os procedimentos técnicos descritos, a presente pesquisa caracteriza-se como
sendo bibliográfica.

3.2 Métodos de Pesquisa


Gil (2007) diz que o método é a escolha de procedimentos sistemáticos para a descrição e a
explicação de fenômenos. Esses procedimentos se assemelham ao método científico que
consiste em delimitar um problema, realizar observações e interpretá-las com base nas
relações encontradas, fundamentando-se nas teorias existentes.

35
3.2.1 Método de abordagem
Para efetivação desta pesquisa escolheu-se o método dedutivo. Este tipo de pesquisa parte da
generalização e quer confirmá-la na particularidade.

3.2.2 Métodos de procedimentos


Segundo Marconi e Lakatos (2010), “métodos de procedimentos correspondem às etapas mais
concretas de investigação, para explicar fenômenos gerais e menos abstractos. Quanto aos
métodos de procedimentos para efetivação desta pesquisa trabalhou-se com bibliografias de
autores que já abordaram sobre o assunto em seus estudos, pesquisas em livros, trabalhos e
artigos físicos assim como eletrónicos e pesquisas na internet com vista em enriquecer os
conhecimentos sobre a matéria.

3.2.2.1 Colecta dos Dados


A colecta de dados é um processo que visa reunir as informações para uso secundário por
meio de técnicas específicas de pesquisa. Os dados colhidos para realização desta pesquisa
são de fontes secundárias, pelo facto de já terem sido apresentadas em outros lugares e são
resultados de estudos realizados em outros meios, cuja temática tem relação com a estudada
quer por via de monografias, dissertações, teses, artigos e leis.

Para este trabalho, as fontes usadas são as autoridades judiciais, como por exemplo a
Procuradoria-Geral da República, Serviço Nacional de Investigação Criminal, Gabinete de
Informação Financeira de Moçambique, Administração Nacional de Áreas de Conservação,
Autoridade Tributária, Gabinete Central de Prevenção e Combate à Droga e Gabinete Central
de Combate à Corrupção. Todos estes dados são relativos aos anos em análise, isto é, de 2015
a 2020.

3.3 Técnica de Colecta de Dados


Como referido no ponto acima os dados utilizados na pesquisa foram somente secundários e
foram constituídos essencialmente por Leis e literaturas diversas, incluindo dissertações, teses
e artigos científicos relacionados ao tema.

36
CAPÍTULO IV: ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS

4.1 Introdução
O presente capítulo reserva-se à apresentação, análise e interpretação de resultados da
pesquisa. Pelo facto do estudo ser uma pesquisa bibliográfica, o único recurso usado para a
elaboração são fontes bibliográficas e documentais. Adicionado a elas, a autora incluiu na sua
abordagem, um pouco do seu entendimento de modo a dar vida ao seu estudo.

4.2 Historial do Tribunal Judicial em Moçambique, caso da Província de Sofala


O Tribunal Judicial de Sofala tem o seu historial atrelado ao do sistema de Justiça
moçambicano pelo facto deste, em Moçambique ser resultado de um processo uniforme,
resultante da construção da nação. Nenhum tribunal surge neste país como iniciativa isolada,
salvo um e outro processo evolutivo, resultante da iniciativa local, o que é pouco provável,
pois a máquina administrativa nacional está centrada ao Tribunal Supremo.

As fases da história de Moçambique determinaram às características dos tribunais nacionais,


pois cada uma, foi marcada por um sistema político diferente, conforme se pode ver a seguir:
a) A Constituição de 1975 trata da organização judiciária de forma muito geral,
estabelecendo as seguintes regras e princípios:
 Reserva de funções judiciárias para os tribunais; • Tribunais sujeitos ao poder
político;
 Princípios de legalidade; leis;
 Supremo Tribunal Popular (estabelecido alguns anos depois) como garantia para a
aplicação uniforme da lei pelos tribunais.

No período entre a declaração de independência e a adopção da primeira lei moçambicana


sobre a organização do poder judicial, foram tomadas medidas pragmáticas para assegurar o
funcionamento das instituições judiciários no quadro constitucional então aplicável. No
entanto, a essência da estrutura do sistema judicial existente no período pré-independência é:
 o Tribunal de Recurso, que tem jurisdição sobre todo o território do país com
função judicial definitiva;
 Tribunais distritais com jurisdição em todas as províncias;
 Tribunais Municipais, com jurisdição em cada distrito;

37
 Juízes de paz, com jurisdição em todos os cargos administrativos.

b) 1978 à 1992 - Implantação do Sistema de Justiça


A Lei nº 12/78, de 2 Dezembro - Lei da Organização Judiciária - marcou o início da
edificação de um sistema de administração da justiça em Moçambique. O sistema
caracterizava-se por apresentar uma estrutura unitária que se manifestava na articulação entre
o direito costumeiro e o direito estadual, subordinando-se estes aos valores, princípios e
objectivos fixados na constituição, isto por um lado e por outro, na interacção entre os
tribunais formais e os tribunais informais.

Na organização dos tribunais, estava no topo da pirâmide o Tribunal Popular Supremo, cujas
funções foram interinamente exercidas pelo Tribunal Superior de Recurso, criado pela Lei n.º
11/79, de 12 de Dezembro.

No que se refere ao Tribunal Popular Supremo, a sua constituição só veio a ocorrer em 1988,
facto que representou o ponto mais alto da implementação do sistema iniciado com a criação
dos tribunais populares de base, concretamente os tribunais populares provinciais, em
substituição dos tribunais de comarca, os tribunais populares distritais, substituindo os
julgados municipais e os tribunais populares de localidade, onde tinham funcionado os
julgados de paz, culminando com a implantação dos tribunais populares de bairro.

A Constituição de 1990 introduziu mudanças profundas na organização do Estado em geral,


as quais se reflectiram no próprio sistema da administração da justiça. Com efeito, aquela
constituição veio a erigir, como princípios estruturantes, os seguintes:
 Tribunais como órgãos de soberania (art. 109.º);
 Autonomia dos tribunais em relação aos demais poderes do Estado(art. 161.º);
 Cumprimento obrigatório das decisões dos tribunais(art. 163.º);
 Prevalência das decisões dos tribunais sobre as de outras autoridades(art. 163.º);
 Independência dos juízes no exercício das suas funções, devendo obediência à lei e
à Constituição (arts. 162.º e 164.º nº 1);
 Imparcialidade, irresponsabilidade e inamovibilidade dos juízes (arts. 164.º nº 2 e
165.º nº 2).

38
2. 1992 à 2004 - Criação da Organização Judiciária do Estado de Direito
A Lei Orgânica dos Tribunais Judiciais, aprovada pela Lei nº10/92, de 6 de Maio, acolheu
todos os princípios previstos na Constituição da República de 1990 e acrescentou os
seguintes:
 Publicidade das audiências;
 Dever de cooperação de todas as entidades públicas e privadas para com os
tribunais;
 Recurso único em decisões sobre a matéria de facto;
 Coincidência entre a divisão judicial e a administrativa.

A referida lei introduziu, ainda, as seguintes inovações:


 A direcção e gestão do aparelho judicial passaram do Ministério da Justiça para o
Tribunal Supremo;
 A gestão e disciplina dos magistrados judiciais e oficiais de justiça, foram retiradas
da competência do Ministério da Justiça passando para o Conselho Superior da
Magistratura Judicial;
 Foi institucionalizada a Inspecção Judicial;
 Os tribunais de localidade e de bairro deixaram de fazer parte do sistema judicial,
passando a ser regulados por lei própria, a Lei n.º 4/92, de 6 de Maio, Lei dos
Tribunais Comunitários.

Particularmente a província de Sofala, assiste o desenvolvimento deste sector, tendo


acompanhado esta evolução sem estar de fora dela. Em termos de constituição, este está
estruturado conforme a ordem prevista na lei acima citada. Tal como maior parte das
províncias, este tribunal tem actualmente uma nova sede, construída de raíz e que está
oficialmente em uso desde o ano de 2020, dia 31, data da sua inauguração pelo Chefe do
Estado Filipe Nyusi.

4.2 Situação de Branqueamento de capitais em Sofala


Sofala tem uma costa muito extensa e infraestrutura portuária ao serviço de países “interiores”
para vender seus produtos e assumir o controlo, a circulação de pessoas e mercadorias
significa um duplo esforço por parte das autoridades locais.

39
A combinação de factores como localização e falta de meios, faz com que fique propenso a
actividades ilegais que reflectem o crime organizado, especialmente o ambiente internacional,
principalmente o tráfico de seres humanos, de drogas, tráfico, roubo, contrabando de metal e
pedras preciosas e caça furtiva.

Vários sectores de actividades estão ameaçados pelo crime organizado, sobretudo o de


branqueamento de capitais conforme se descreve a seguir, segundo estudos:
a) Banca é de nível alto com tendência decrescente;
b) Valores mobiliários é de nível baixo com tendência inalterada;
c) Seguros é de nível médio alto, com tendência decrescente;
d) Casas de câmbio é de nível alto, com tendência decrescente;
e) Casinos é de nível alto, com tendência crescente;
f) Imobiliário, é de nível alto com tendência crescente;
g) Negociantes de metais e pedras preciosas é de nível alto com tendência crescente;
h) Ambiente (flora e fauna) é de nível alto com tendência crescente;

No que concerne às ameaças de branqueamento de capitais, foi considerada a criminalidade


existente em Moçambique, no geral, susceptível de gerar produtos passíveis de serem
branqueados, tendo sido detectado um nível alto de ameaças a nível nacional.

De acordo com o mesmo estudo, existem sectores mais vulneráveis entre os supra listados,
como pode-se ver.
 Banca é de nível média com tendência decrescente;
 Valores mobiliários é de nível média-baixa com tendência decrescente;
 Seguros é de nível média com tendência decrescente;
 Casas de câmbio é de nível média com tendência decrescente;
 Casinos é de nível alto com tendência decrescente;
 Imobiliário é de nível alto com tendência crescente;
 Negociantes de metais e pedras preciosas é de nível alto com tendência crescente;
 Ambiente (flora e fauna) é de nível alto com tendência decrescente.

A Avaliação Nacional dos Riscos identificou também as vulnerabilidades dos diversos


sectores susceptíveis de serem usados para o branqueamento de capitais, tendo sido detectado

40
um nível médio-alto de vulnerabilidades e curiosamente, estão emergindo nesta província: os
sectores dos Casinos, Imobiliário, Negociantes de Metais e Pedras Preciosas e do Ambiente
são os mais expostos à vulnerabilidade de branqueamento de capitais.

Apesar de se notar que estes sectores estão crescendo e com ele a ameaça de proliferarem,
pelos esforços das autoridades de justiça, considera-se que a situação está decrescendo, isso
como resultado de intervençoes das autoridades, por via da exigência de realização de
auditorias para a averiguação da origem dos fundo para a sustentabilidade dos negócios.

4.3. Prática da auditoria Forense


De acordo com Power (2003), em empresas que envolvem públicas, as auditorias forenses
estão se tornando cada vez mais uma ferramenta importante para o judiciário. No entanto, a
sua realização, pode afectar as margens de lucro de uma empresa. A auditoria forense é uma
ferramenta relacionada à contabilidade destinada a esclarecer a ocorrência de actos criminosos
e ilegais.

Ele faz isso analisando contas e relatórios postados por empresas e indivíduos suspeitos.
Como resultado, as auditorias forenses são frequentemente necessárias ao investigar os
chamados casos de “crime lavagem ou branqueamento de capitais”. Portanto, a realização de
uma auditoria forense costuma ser acompanhada por uma queda no valor das acções de uma
empresa, pois isso pode indicar um problema com o negócio.

É importante considerar que a demanda por tais serviços aumentou na última década. Isso se
deve aos frequentes escândalos de corrupção em grandes empresas, um pouco pelo mundo
todo, onde o nosso país não é parte a ser excluída.

As auditorias forenses são um tipo específico de auditoria, distinto das auditorias


independentes e das auditorias internas. Após a análise de uma investigação policial, uma
auditoria forense é frequentemente solicitada pelo Ministério Público. Esta é uma actividade
investigativa. (Peterson e Reider, 2001).

Portanto, para realizar uma auditoria forense, a equipe precisa ter habilidades além do
conhecimento de números e balanços. Isso porque entrevistas com directores e funcionários

41
fazem parte de sua atribuição. Essas conversas podem mostrar quais números estão tentando
esconder quando são inventados. A razão para isso, é que nem todos que sabem sobre fraudes
na empresa em que trabalham concordam com eles. (KPMG e Polícia Judiciária, 2010)

Em contrapartida, o medo de retaliação por uma delação prévia à auditoria amedronta a


muitos. Assim, as entrevistas são uma oportunidade de os auditores ouvirem detalhes de quem
já tinha ciência do crime. Além das entrevistas, a auditoria forense deve ter:

 Uma busca aprofundada de informações, incluindo a quebra de sigilos bancários,


industriais e fiscais, desde que autorizados por um juiz;
 Verificação dentro da própria empresa, com avaliação de riscos e comparação de
informações;
 Análise documental;
 Análise de dados nos computadores da empresa e dos suspeitos;

4.4. Contributo da auditoria forense no combate ao branqueamento de capitais


O exercício da função de auditor forense requere um conjunto diversificado de competências.
Com efeito, o auditor forense, para além de conhecimentos de contabilidade, auditoria,
estatística, tecnologias de informação, direito comercial, civil e penal, criminologia e
sociologia, deverá ter também boas ou mesmo excelentes capacidades analíticas e de
comunicação, oral e escrita.

O trabalho do auditor forense consiste:


 na análise de documentação, quer em formato físico, quer electrónico, o que obriga a
capacidade de organização, sistematização e interpretação;
 em inquirir, o que implica a capacidade de percepcionar a mensagem que está a ser
transmitida e avaliar a respectiva veracidade, detectando contradições e mentira.

De acordo com a definição do IFAC (2006) “o objectivo de uma auditoria de demonstrações


financeiras é o de permitir que o auditor expresse uma opinião sobre se essas mesmas
demonstrações financeiras estão preparadas, em todos os aspetos materiais, de acordo com
uma estrutura concetual de relato financeiro aplicável”. O objetivo de uma auditoria, bem

42
como o papel dos auditores em relação à fraude tem evoluído de acordo com a evolução da
sociedade e da própria auditoria.

Durante o seu trabalho, deve-se esperar dos auditores o seguinte:


 Compreender as red flags;
 Avaliar o risco de ocorrência de fraude nas demonstrações financeiras com impacto
material;
 Planificar e desenvolver a auditoria no sentido de obter uma garantia razoável que as
demonstrações financeiras estão livres de inexatidões causadas por erros ou fraudes;
 Ter o devido cuidado no planeamento, desempenho, avaliação e documentação
/suporte do resultado dos procedimentos de auditoria em relação à fraude;
 Adoptar um adequado grau de ceticismo profissional, não fazendo asserções prévias
quanto à honestidade ou desonestidade da gestão.

É importante que os auditores não sejam vistos como:


 Que o auditor, numa auditoria adequadamente planeada e executada não é garantia que
as fraudes materialmente relevantes sejam sempre detetadas;
 O risco de os auditores não detetarem distorções materiais resultantes de fraudes é
maior que o de erros, pois as fraudes envolvem normalmente atos concebidos para as
ocultar, são intencionais e, por vezes, em conluio.

Kerler e Killough, (2009) realizaram um estudo e concluíram que demonstrou o nível de risco
atribuído pelo auditor à empresa depende do historial dos trabalhos aí realizados.
Consequentemente, as experiências passadas positivas aumentam a confiança do auditor na
entidade atribuindo-lhe um baixo risco de ocorrência de fraude. Os auditores só assumem uma
postura mais cética após uma experiência negativa na entidade.

Constata-se que a auditoria, embora não assuma a responsabilidade primária pela deteção de
fraudes, está claramente mais preocupada com estas ocorrências e num esforço de reunir
ferramentas adicionais, sobretudo na fase inicial do trabalho de planeamento e avaliação do
risco.

43
Segundo Morais e Martins, (2007), verificam-se diversos pontos de convergência entre os
papéis do auditor externo e do auditor interno no que diz respeito à fraude, especialmente no
que se refere ao planeamento e desenvolvimento dos trabalhos e também no que diz respeito
às próprias normas, pelo que se abordará de seguida esta vertente.

O auditor forense contribui com o seu conhecimento na medida em que investiga a fraude ou
uma suspeita e considera-se como tendo contribuído, na medida em que produz resultados
satisfatórios e que permitam que o branqueamento de capitais seja combatido com sucesso.
Ele deve agir de forma independente para gerar resultados consistentes.

4.5. Importância da auditoria Forence no combate ao branqueamento de capitais


A auditoria é a acumulação e avaliação de evidência, com o objetivo de determinar e relatar o
grau de correspondência entre a informação prestada e os critérios estabelecidos. Assim, para
se desenvolver uma auditoria é necessário dispor de informação que seja verificável e normas
que permitam ao auditor avaliar a sua veracidade.

De forma sucinta, a auditoria consiste em avaliar áreas-chave nas empresas, para que seja
possível detectar e evitar situações que provoquem fraudes, desfalques e subornos, através de
verificações regulares nos controlos internos de cada organização (Gomes, Araújo & Barboza,
2009).

Para além de detetar e evitar as situações referidas anteriormente, a auditoria também tem
como objetivo certificar a informação dado que todas as organizações, quer sejam públicas ou
privadas, produzem informação para efeitos internos, mas também ao público em geral, ao
Estado, aos bancos, aos trabalhadores, aos fornecedores e aos clientes das empresas
(stakeholders) (Alves, 2015).

Para além de detetar e evitar as situações referidas anteriormente, a auditoria também tem
como objectivo certificar a informação dado que todas as organizações, quer sejam públicas
ou privadas, produzem informação para efeitos internos, mas também ao público em geral, ao
Estado, aos bancos, aos trabalhadores, aos fornecedores e aos clientes das empresas
(stakeholders) (Alves, idem).

44
O auditor dá opiniões relativamente às demonstrações financeiras (balanço patrimonial,
demonstrações do resultado, entre outras) e que também contribui para a continuidade
operacional das organizações (Gomes, Araújo & Barboza, 2009).

Dentro desta filosofia, considera-se importante a auditoria forense pelo facto de (Pierucci,
1977):
 Comprovar a exatidão dos factos contabilísticos registados;
 Comprovar a exatidão da documentação que deu origem aos factos registados;
 Comprovar a aplicação correta da técnica de registos contabilísticos, das fichas, dos
arquivos de documentos, das formas de registo e do sistema contabilístico utilizado;
 Comprovação física dos valores patrimoniais;
 Comprovação dos sistemas de rotinas administrativas, da segurança, da idoneidade das
pessoas que manipulam os valores patrimoniais, bem como das que registam factos.
 Comprovação do correcto atendimento às imposições legais, não só da legislação
fiscal, como de outras leis.

4.6 Auditoria forense no combate ao branqueamento de capitais em Sofala


Em termos de informações sobre as auditorias forenses são praticamente inexistentes, pois das
pesquisas feitas junto à instituições ligadas a justiça, não foi encontrado. Mesmo assim, foi
possível saber quer por via de consultas em legislações como em pessoas singulares que é da
responsabilidade do Ministério Público.

Em Moçambique existem leis e estudos que produziram conhecimentos e identicaram os


sectores vulneráveis. Sobre a lei, pode-se dizer estabelece medidas provisórias com vista a
evitar o descaminho dos bens provenientes das práticas ilícitas que visa combater.

Com efeito, os fundos, direitos ou quaisquer outros objectos depositados em bancos ou outras
instituições de crédito pertencentes ao suspeito ou sobre os quais ele exerce poder de facto
correspondente ao direito de propriedade ou qualquer outro direito real ficam sujeitos a
apreensão, como forma de preservar a disponibilidade desses activos, e ainda ao confisco.

Estabelece-se também a obrigação de o juiz, a requerimento do Ministério Público, no prazo


de 48 horas, decretar a apreensão de fundos, bens, direitos e quaisquer outros objectos, em

45
nome de suspeito ou de terceiros, quando tiver fundadas razões para crer que eles constituam
produtos do crime, ou se destinam à actividade criminosa, ou ainda, hajam indícios suficientes
de prática de crime de branqueamento de capitais ou de financiamento ao terrorismo.

46
CAPÍTULO V: CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES DA PESQUISA
5.1. Conclusões
Realizado o trabalho, chegou-se à várias conclusões, entre elas, a auditoria forense é
fundamental para combater o crime de branqueamento de capitais, pois a nossa província e as
legislações existentes, propiciam essas ocorrencias, isso vê-se pela ausência de averiguação
sobre a origem dos fundos pelos empresários emergentes.

É normal na praça surgir da noite para o dia, um novo empresário, sem nenhum passado
promissor que pudesse justificar aquela ascenção e conquista, mas nada é feito pelas
autoridades para fazer frente à situação, pior ainda é o facto desses “empresários” serem
acarinhados pelas autoridades.

Muitas oportunidades de negócios ilícitos ocorrem nesta província e com impactos negativos
para o meio ambiente, mesmo assim, são aplaudidos pelas autoridades. A auditoria forense
realizada na província envolve pessoas ou empresas particulares especializadas na matéria
devido à falta de pessoal qualificado, o que mina até certo ponto a qualidade do trabalho em
causa.

A auditoria apresenta-se importante no combate ao branqueamento de capitais, uma vez que,


atesta a legalidade, legitimidade, veracidade e idoneidade dos acontecimentos, enquanto
promove simultaneamente a transparência de todo o processo. Um factor concordante desta
afirmação é a relação entre o índice de corrupção e o número de auditores, isto é, o índice de
corrupção apresenta-se, tendencialmente, mais positivo nos países onde existem mais
auditores por número de habitantes.

A ausência de segurança e extensão da costa nacional, propicia rotas de contrabando de


produtos de diversa natureza, seja para fuga ao fisco quanto para saída e entrada de minerais e
pedras preciosas. Essas actividade permitem que as pessoas prsopere indevidamente.

47
5.2 Sugestões
Realizado o trabalho e as respectivas conclusões, viu-se a necessidade de sugerir algumas
ideias para melhorar o combate ao branqueamento de capitais, pois é sabido que como prática,
a auditoria forense é o melhor caminho para pôr fim ou combater este mal, pois identifica e
leva à justiça os visados, assim sendo, são avançadas as seguintes sugestões:

Ao Ministério Público:
 Mande auditar todos os empresários cuja construção do seu património é pouco claro;
 Entre os funcionários públicos e outros servidores públicos, faça o mesmo, sempre que
se achar necessário;
 Prestem mais atenção nos estrangeiros, sobretudo aos emigrantes que entraram como
refugiados, sem nada e em pouco tempo, já são proprietários de patrimónios;
 Auditem as contas das instituições, cuja gestão chame atenção pela negativa.

Aos Gestores de Forças de defesa e Segurança


 Reforçar a segurança da costa em áreas deserticas;
 Garantir que em entradas formais, passem apenas produtos lícitos;
 Denunciem toda e qualquer forma de interferência de superiores no seu trabalho.

48
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALDHIZER III, G. R. (2017).Visual and Text Analytics: The Next Step in Forensic Auditing
and Accounting. The CPA Journal.

ALMEIDA, B. J. M. (2014). Manual de Auditoria Financeira: Uma análise integrada


baseada no risco. Lisboa: Escolar Editora.

ALVES, J. (2015). Princípios e prática de auditoria e revisão de contas. Disponível em:


http://www.silabo.pt/Conteudos/8216_PDF.pdf. acedido em 08/06/2022.

ASF, “Introducción a la Auditoría Forense”, disponível em


http://www.ofsnayarit.gob.mx/capacitacion/2011/material0328_1.pdf, data de consulta a
08/11/2015.

AYALA, J. B. (2008). Auditoría Forense: "Más que una especialidadprofesional


unamisión:prevenirydetectar el fraude financiero". Auditoría Forense - Una misión 2.1, 1-24.
Obtido em 18 de abril de 2019, de
https://na.theiia.org/translations/PublicDocuments/Auditoria_Forense_Una_Misi%C3%B3n_J
Badillo_Mayo08(14023).pdf.

BADILLO (2008), Jorge, “Auditoría Forense – Más que una especialidadprofesional una
misión: prevenir e detectar el fraude financeiro”, disponível em
https://na.theiia.org/translations/PublicDocuments/Auditoria_Forense_Una_Misi%C3%B3n_J
Badillo_Mayo08 (14023).pdf, data de consulta a 08/11/2015.

BRANDÃO, N. (2002). Branqueamento de capitais: O sistema comunitário de prevenção.


Coimbra: Coimbra Editora.

CEPAT (2006), “Auditoría Forense, Herramienta de las efsen la lucha contra la corrupción”,
disponível em
http://www.contraloria.gob.ec/documentos/CEPAT/doc/PONENCIAS/PONENCIAS%20Audit
or%C3%ADa%20Forense.pdf, data de consulta a 08/05/2022.

49
MOÇAMBIQUE, Boletim da República. Publicação Oficial da República Popular de
Moçambique: Constituição da República de 1990.

FERNANDES, M. (2016). Relação entre Auditoria e a Ética nas Organizações. Texto


inédito. Dissertação de Mestrado. Instituto Superior de Contabilidade e Administração do
Porto. Instituto Politécnico do Porto, Porto. Portugal.

FONSECA, L. (2015), “Congresso dos TOC: A prevenção de fraude e a afirmação da


auditoria forense”, disponível em: http://www.occ.pt/news/trabalhoscongv/pdf/29.pdf, data da
consulta: 11/07/2016.

GIL, A C. (2007). Como elaborar projetos de pesquisa. (4ª ed). São Paulo:Editora Atlas.

GODINHO, J. (2001). Do crime de branqueamento de capitais: Introdução e tipicidade.


Coimbra: Almedina.

GOMES, D., Araújo, A., Barboza, R. (2009). Auditoria: Alguns aspetos a respeito de sua
origem. Revista Científica Eletrónica de Ciências Contábeis, 13. Acedido a 8 de Junho 2022,
em: http://www.faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/xza6N0w4fq
VM1H2_2013-4-24-11-13-58.pdf

IFAC (2006). Anti–money laundering (3.ª ed.). Nova Iorque: IFAC.

KERLER, W., Killough, L. (2009). The Effects of Satisfaction with a Client´s Management
During a Prior Audit Engagement, Trust, and Moral Reasoning on Auditor´s Perceived Risk
of Management Fraud. Journal of Business Ethics, vol 85 (p. 109-136).

KLEINMAN, G., &Anandarajan, A. (2011). Inattentional blindness and its relevance to


teaching forensic accounting and auditing. Journal of Accounting Education, 29(1), 37-49.

50
KPMG e Polícia Judiciária - Unidade de Informação Financeira) (2010) – “Prevenção do
Branqueamento de Capitais e do Financiamento do Terrorismo em Portugal”. Lisboa, (p. 13-
34).

LEI n.° 12/78, de 2 de Dezembro de 1978, Lei da Organização Judiciária. REPUBLICA


POPULAR. DE MOÇAMBIQUE

LEI n.º 11/79 de 12 de Dezembro, Aprova a lei que cria tribunal Superior de Recursos na
República de Moçambique

LEI n.o 10/92: Aprova a Lei Orgânica dos Tribunais Judiciais. ASSEMBLEIA DA
REPÚBLICA.

LEI n.º 4/92, de 6 de Maio, cria os tribunais comunitários.

MANNING, George. 2005. Financial Investigation and Forensic Accounting. (2th ed). New
York: Taylor & Francis.

MARCONI, M., &Lakatos, E. (2003). Fundamentos de Metodologia Cientifica (5ª ed). São
Paulo: Editora Altas S.A

MORAIS, G. e Martins, I. (2007). Auditoria Interna – Função e Processo. 3ª Edição Áreas


Editora.

MOREIRA, N. R. (2009). A ForensicAccounting em Portugal: Evidências Empíricas.


Dissertação de Mestrado, Universidade do Minho, Braga, Portugal.

PETERSON, B., e REIDER, B. (2001). An Examination of Forensic Accounting Courses:


Content and Learning Activities. Journal of Forensic Accounting, v. 2, (p. 25).

PIERUCCI, A. (1977). Roteiro de Auditoria Contábil. Editora McGraw – Hill do Brasil, Ltda.
Brasil

POWER, M. (2003). Auditing and the production of legitimacy. Accounting, Organizations


and Society, vol. desc. (p. 379–394).

51
ROZAS, A. (2009), “Auditoria Forense – ForensicAudit” disponível em
http://sisbib.unmsm.edu.pe/bibvirtual/publicaciones/quipukamayoc/2009/segundo/pdf/a09v16
n32.pdf, data de consulta a 08/11/2015.

SANTOS, P. (2010). Apontamentos acerca da origem e evolução histórica, terminologia e


evolução legislativa do injusto penal da lavagem de capitais. In Bandeira, G. & Silva, L.
N(coord.). Branqueamento de capitais e injusto penal: Análise dogmática e doutrinária
comparada luso-brasileira (pp.105-124) Lisboa: Editorial Juruá.

SATULA, B. (2010). Branqueamento de capitais. Lisboa: Universidade Católica.

SINGLETON, T. W., & Singleton, A. J. (2010). Fraud Auditing and Forensic Accounting. (4ª
ed). New Jersey: John Wiley& Sons, Inc. Obtido em 15 de Abril de 2019, de
http://digilib.stiem.ac.id:8080/xmlui/bitstream/handle/123456789/123/Fraud%20Auditing%2
0and%20Forensic%20Accounting.pdf?sequence=1&isAllowed=y.

SOUSA, M.J. & Baptista, C.S. (2011). Como fazer investigação, dissertações, teses e
relatórios –segundo Bolonha. (2.ª ed.). Lisboa: Pactor – Edições de Ciências Sociais e
Politica Contemporânea.

TAPIA, E. F. (2010). El impacto de la Auditoría Forense como técnica de prevención,


detección y control del fraude. Obtido em 10 de Março de 2019, de
http://www.ideaf.org/archivos/ideaf_impacto_af_prev_det_cont_fraude.pdf.

XAVIER, D. (2010). Auditoria Forense: Pertinência da Criação de uma Formação


Avançada no Ensino Superior em Portugal. Portugal

52

Você também pode gostar