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Contextualização Final – BC

Espera-se que o aquecimento global, aliado a outras causas como a deposição


atmosférica de nitrogénio e a ação antrópica, promovam o crescimento de várias plantas
vasculares em turfeiras. Através destes fatores, as espécies vegetais existentes em turfeiras
localizadas nas superfícies mais secas do solo têm tendência a ficar expostas a um maior
sombreamento.

O crescimento de outras plantas vasculares com baixa densidade em turfeiras


partilhadas com o musgo Sphagnum podem ser benéficas para esta espécie vegetal, uma vez
que reduzem as suas taxas de evaporação, evitando a seca do seu capítulo. Contudo, devido ao
elevado número de plantas vasculares em crescimento, forma-se uma densa cobertura
vegetal, limitando a presença de luz para a espécie Sphagnum. Desta forma, o musgo pode-se
aclimatar, alterando a sua morfologia ou fisiologia, de modo a permitir enfrentar as condições
adversas. Para entender melhor os efeitos do ensombramento na espécie Sphagnum palustre,
estas são passíveis de vários estudos com o objetivo de compreender o seu crescimento nestes
meios.

Através de um estudo orientado por Martín, da associação “Os Montanheiros”, grupo


para o estudo do património espeleológico dos Açores, e colaboradores, realizado em 2019,
investigou-se a diversidade da flora existente em grutas da ilha Terceira, nomeadamente a
Gruta do Natal e o Algar do Carvão, ambos pontos turísticos. Estas cavidades vulcânicas, com
baixa disponibilidade de luz e de substratos, apresentam condições desfavoráveis para o
crescimento de plantas vasculares, limitando o desenvolvimento de briófitos. Na investigação
à Gruta do Natal, observaram-se cerca de 17 espécies de briófitos, que apresentaram mais
diversidade nas áreas iluminadas artificialmente, uma vez que apenas duas espécies foram
detetadas com luz natural, junto à entrada da gruta. Já no Algar do Carvão identificaram-se 47
géneros de espécies diferentes. Assim, o estudo realizado por Martín e colaboradores indica
que, apesar das condições desvantajosas, é possível existir briófitos em locais com pouco
acesso a luz, como as grutas.

Segundo um estudo organizado pelos investigadores Yazaki, do Centro de Pesquisa


Agrícola NARO Hokkaido, e Yabe, da Faculdade de Design da Universidade da cidade Sapporo,
efetuado em 2012, numa turfeira na região norte do Japão, analisaram-se os efeitos que a
sombra de plantas vasculares e a carga de neve proporcionam no crescimento do Sphagnum
papillosum. Num dos tratamentos desta investigação, foram utilizadas amostras desta planta
em dois locais distintos: uma colina com plantas vasculares podadas e outra em que as plantas
vasculares tinham folhagem. Verificou-se que, ao contrário da colina onde era proporcionada
sombra, no local onde não havia qualquer sombra o efeito provocado no crescimento do
Sphagnum foi negativo. Deste modo, os investigadores propuseram que a sombra concedida
por plantas vasculares, principalmente no verão, poderá evitar a dessecação e facilitar o
crescimento do Sphagnum.

A partir de outro estudo realizado por Ma, da Universidade Normal de Gannan, na


China, e colaboradores, em 2015, analisou-se o efeito da sombra em três espécies de
Sphagnum relativamente competitivas: S. capillifolium, S. palustre e S. fallax, sendo avaliadas
seis características em cada uma: crescimento em comprimento, crescimento como aumento
na massa seca, produção de caule, proporção de nitrogênio e carbono na massa seca do
capítulo e relação C:N no capítulo. Nesta investigação, foram propostas várias hipóteses, entre
as quais o sombreamento provocar um decréscimo na produção de biomassa e de rebentos
laterais e, em compensação, o crescimento do eixo nos três briófitos. Para a realização deste
trabalho experimental, foram utilizados três tratamentos: o controlo, que não apresentou
qualquer sombra, o segundo tratamento que consistia numa sombra moderada, e o terceiro
tratamento que abrangia sombra total. Após 11 semanas, Ma e colaboradores verificaram que
a sombra não teve nenhum efeito significativo na produção de biomassa e de rebentos
laterais. No entanto, tal como tinham previsto inicialmente, as três espécies apresentaram um
aumento no comprimento do eixo, principalmente na sombra profunda, sendo que a espécie
Sphagnum palustre apresentou um maior crescimento, nas mesmas condições.
Por último, o estudo realizado por Xinbiao Zhu, do Serviço Florestal Canadense de
Recursos Naturais, e colaboradores, em 2019, no qual comparou-se o desenvolvimento e a
capacidade de adaptação fotossintética em campos abertos do Sphagnum com outras três
espécies de musgos plumosos: Hylocomium,  Ptilium e Pleurozium. Os briófitos foram
recolhidos em dois locais distintos: áreas desflorestadas e áreas florestais. Através dos
resultados obtidos, verificou-se que o musgo Sphagnum apresentou um crescimento na
realização da fotossíntese, na respiração e na razão da clorofila a/b nos campos
desflorestados, comparativamente aos campos com florestação. Deste modo, a realização da
fotossíntese no Sphagnum é mais eficaz na presença de luz. Isto poderá significar que a
ausência de luz poderá manter ou até mesmo levar ao decréscimo de pigmentos
fotossintéticos, e até mesmo de cloroplastos.

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