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CEU DA AYAHUASCA

e
JOÃO BRANDINHO
Novembro de 2021
Dentro da tradição ayahuasqueira, sobretudo na linha da União do
Vegetal, além da Ayahuasca, existe também o que podemos chamar de
“plantas companheiras”, de outra forma, os 9 vegetais ou popularmente,
os “Nove Vegetal”.
São eles: Breuzinho (Protium heptaphyllum); Samaúma (Ceiba pentandra);
Apuí (Fícus fagifolia); Castanheira (Bertholletia excelsa); Pau D’arco
(Tabebuia impetiginosa); Mulateiro (Calycophyllum spruceanum);
Imburana de Cheiro (Amburana acreana); Maçaranduba (Manilkara
huberi); Carapanaúba (Aspidosperma carapanauba); e a Paleoerva,
conhecida popularmente por João Brandinho (Piper alatabaccum).

Dentre eles está, portanto, a (Piper alatabaccum) ou “João Brandinho”,


aqui vale uma breve descrição sobre o poder e atuação de João Brandinho
na tradição.

A história trata de um curador muito antigo que, ao morrer, transformou-se


numa planta. O relato conta que há muito tempo atrás existiu um homem que
tinha o dom de curar as pessoas através de ervas e vegetais diversos que, por
isso, era conhecido como um grande “curador”, tal como eram chamados no
passado, enfatizase, aqueles que sabiam curar.
O nome desse curador era João Lango Moura e ele era auxiliado por sua irmã,
Serenita. Passaram-se vários anos até que o próprio curador adoeceu, decidindo
então partir numa expedição pela floresta, com sua irmã Serenita, em busca de
ervas que pudessem ajudar no restabelecimento de sua saúde.
No decorrer desta expedição, no entanto, o “doutor Lango” ⎯ como era
chamado ⎯ sentiu-se muito fraco e percebeu que não teria forças para continuar
sua busca. Vendo a fraqueza de seu irmão, Serenita improvisou uma cama com
folhas de palmeira para ele. Lango deitou-se ali, enquanto Serenita foi procurar
auxílio. Porém, quando finalmente ela retornou, o doutor Lango tinha
“desencarnado” e no lugar de sua cama e de seu corpo havia apenas uma
planta. Serenita deduziu que aquela planta, que nascera aonde estava antes o
seu irmão, era ele próprio, chamando-a, então, de “João brandinho”, porque ela
era tenra e se parecia com João Lango, que era muito calmo, manso, brando.
Ela concluiu também que esta planta que “nasceu do corpo” de João Lango
Moura era a erva que ele estava procurando, o remédio que podia curar
qualquer doença.
Algumas características visuais de suas folhas e frutos:
Quanto ao modo de preparo, trata-se de uma tradição cujo os detalhes
são mantidos em segredo. Existe uma história que explica que o Mestre
Gabriel da Costa constatou que não havia ninguém em sua casa que
pudesse trabalhar os “nove vegetal”, embora saibamos que outros
mestres da tradição udevista guardam esse conhecimento até hoje,
embora o pratique em rituais abertos apenas para poucos outros mestres.

Entretanto, é sabido que o uso ritualístico de outras ervas e plantas,


incluindo os nove vegetais, são largamente utilizados por vegetalistas
peruanos e bolivianos, mas “felizmente” esse nível de informação está
bem guardado no seio da floresta amazônica, assim como nas tribos que
habitam as montanhas andinas.

Porém, de forma prática, é óbvio que se trata de cocção, mistura e fervura


até determinado ponto, revezando camadas de folhas, cipós, raízes e
casquinhas de determinadas árvores dentro de um processo de feitio.

Mas é óbvio que a parte em que se evoca o espírito do vegetal durante o


processo é fundamental, e o grande segredo é como isso é feito. Fique
claro que por esse motivo, mesmo que misturemos determinadas ervas
em um feitio, o resultado espiritual da bebida certamente não será como
o que acontece na floresta.

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