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ISSN 2526-9577
9 772526 957717
À frente dos grandes Palhares Moreira Reis, Sérgio Habib, Wálteno Marques da Silva
A pandemia e a Bioética
Diretor Geral: André Luis Marques Viana
A hora e a vez da saúde Revisão: ZK Editora
Arte e Diagramação: Charles Design
PAINEL
SESSÃO SESSÃO
TENDÊNCIAS VISÃO JURÍDICA
ECONÔMICO Rômulo de
Andrade Moreira
José Renato Nalini Marketing: Diego Zakarewicz
Carlos Ely Eluf
A mais desprezada entre
Covid em alta e o PIB em As formigas de Darwin
as ciências?
baixa. Mas há solução
Redação e Correspondência
artigos@zkeditora.com.br
APROVEITE NOSSAS PROMOÇÕES
Revista Conceito Jurídico é uma publicação da Zakarewicz Editora. As
opiniões emitidas em artigos assinados são de inteira responsabili-
dade dos seus autores e não refletem, necessariamente, a posição
desta Revista.
TENDÊNCIAS DO
MUNDO JURÍDICO
PRIMEIRA PÁGINA
ARQUIVO PESSOAL
POR Luciana Temer
Coronavírus e violência
sexual infantil
U
m único assunto toma praticamente todos os espaços das mídias tra-
dicionais e digitais: o coronavírus. Isso não é só compreensível como
necessário; afinal, estamos no meio de uma pandemia. Mas assun-
tos conexos – como a questão da vulnerabilidade social agravada (e o
medo da violência a partir daí) e o aumento da violência doméstica (em razão do
confinamento) – começam a despontar.
Quero propor aqui um outro, urgente! O risco de aumento da violência sexual
contra crianças e adolescentes. Explico.
LUCIANA TEMER é Advogada; Professora da Faculdade de Direito da PUC-SP e da Faculdade Uninove; Presidente do Instituto Liberta.
3 Primeira Página
8 Especial
Coronavírus e
violência sexual infantil A união homoafetiva e sua
recepção no ordenamento
Luciana Temer brasileiro em face aos
direitos humanos
23 Destaque
24 Gestão Empresarial
O risco de subnotificação:
O receio do fenômeno do Obrigatoriedade de
Iceberg de antigravidade compliance para
contratação pública
Ana Cristina Marques Martins e
Marcus Vinicius de Azevedo Braga Wilson De Faria e
Camila Chizzotti
32 Saiba Mais
35 Expressões Latinas
Ab irato [impulsu]
A pandemia do novo
coronavírus e os impactos Vicente de Paulo Saraiva
causados nos contratos de
locação não residencial
58
Walkyria de Oliveira Rocha Teixeira
Enfoque
Coronavírus: preferência pelo
leito de UTI
81
da ANS aos Planos de Saúde
Prática de Processo Fernando Bianchi
Conciliação e Mediação
pré-processuais em disputas
empresariais. Projeto-piloto
da Corregedoria do TJ/SP para
disputas derivadas da Covid-19
84 Prática de Processo
88 Espaço Aberto O estado democrático de
direito e a necessidade
Covid-19 e seus efeitos da fundamentação das
nos setores do turismo e decisões judiciais
da cultura
Rômulo de Andrade Moreira
Gustavo Milaré Almeida e
João Pedro Alves Pinto
POR Pedro Hoffmann Hass, Matheus Caetano Barros e Cristiane Feldmann Dutra
Nota-se que a união homoafetiva no Código Civil de 2002 não cuidou da união
de pessoas do mesmo sexo, mas os magistrados do Rio Grande do Sul na época, pio-
neira e corajosamente, foram reconhecendo alguns dos efeitos da relação homos-
sexual, principalmente no que se refere ao patrimônio adquirido durante a cons-
tância da união, utilizando-se de princípios constitucionais, como o da igualdade
dos sexos, da proibição da discriminação, da vedação do enriquecimento ilícito,
etc., dando, muitas vezes, “status” de família à união de duas pessoas do mesmo
sexo (MADERS 2003, p. 49).
Maria Berenice Dias em sintonia com o reconhecimento das uniões de pessoas
do mesmo sexo no âmbito do Poder Judiciário ensejou que:
Tese consagrada pelo STF ao reconhecer a união estável entre pessoas do mesmo sexo,
e não obstante este julgamento, ainda podem ser encontradas manifestações pessoais con-
trárias e favoráveis às uniões homoafetivas, mas, diante do efeito erga omnes da decisão do
Supremo Tribunal Federal, sem mais nenhuma repercussão que pudesse impedir o reco-
nhecimento judicial da união entre pessoas do mesmo sexo (MADALENO, 2018, p. 1438).
Este tipo de estrutura familiar por muito tempo “foi a única forma reconhecida
de família, independentemente da existência de amor e afeto entre os integrantes.”
(AZAMBUJA, 2018, p. 11).
Sendo assim, a família matrimonial foi a base da sociedade e configurando a
partir dela, novos arranjos familiares.
Dentre suas ramificações está à família monoparental que caracteriza pela pos-
sibilidade de existir uma unidade familiar composta pela figura do pai ou da mãe
e sua prole, decorrente de diversas possibilidades como destaca Rolf Madaleno:
formada por qualquer dos pais e seus descendentes. Esses núcleos familiares foram cha-
mados pela doutrina de famílias monoparentais, para ressaltar a presença de somente um
dos pais na titularidade do vínculo familiar.
A expressão é pertinente, pois não se pode negar caráter familiar à união de afeto que
caracteriza as entidades com somente uma parentalidade.( DIAS, 2016, p. 469/470).
A família deste novo século não se define mais pela triangulação clássica, pai, mãe e
filho. O critério biológico, ligado aos valores simbólicos da hereditariedade, deve ceder
lugar à noção de filiação de afeto, de paternidade social ou sociológica.( DIAS, 2016, p. 469).
Eram chamados de concubinos aqueles que viviam juntos, sem contrair matrimônio,
mesmo que não houvesse nenhum tipo de impedimento para tanto. Apenas por opção,
preferiam não casar. De outro lado, também eram chamados de concubinos aqueles que,
mesmo casado, estabeleciam união com outra pessoa paralelamente.( AZAMBUJA, 2018,
jun./jul. p. 14).
Para estabelecer diferença entre esses dois tipos de união, uma plenamente legal e
pública e a outra, em regra, furtiva e clandestina, a doutrina se encarregou de fazer a dife-
renciação. A primeira ficou conhecida como concubinato puro, enquanto a segunda, con-
cubinato impuro. (AZAMBUJA, 2018 jun./jul. p.14).
Outro ponto importante é que mesmo com o advento do Código Civil de 2002
e suas diversas inovações, o legislador ainda manteve uma névoa nos tratamentos
das relações paralelas, o já exemplificado concubinato, sendo conceituado pelo
autor Fernando Rene Graeff:
No entanto, uniões paralelas ao casamento (ou a uma união estável), chamadas pela dou-
trina e pela jurisprudência de concubinato impuro ou adulterino, e atualmente denominadas
Já que não eram reconhecidas como esposas, requeriam ao Judiciário que, a título
indenizatório, recebessem um montante em dinheiro pelo tempo e cuidado despendidos
à relação amorosa, nela incluindo serviços domésticos e, inclusive sexuais.( AZAMBUJA,
2018 jun./jul. p.14).
A carta Magna de 1988 é reconhecida até hoje pelo seu condão de valorização do
“ser” em detrimento do “ter”, isto é, deixa-se de lado a patrimonialização das relações,
para dar lugar à repersonalização. O preconceito é deixado de lado e o direito à igual-
dade entre gêneros é concretizado. Assim, passa-se a valorizar o sentimento humano,
o afeto. A partir daí, o concubinato puro deixa de existir e dá lugar à união estável,
agora reconhecida como entidade familiar junto ao casamento. ( AZAMBUJA, 2018
jun./jul. p. 15.)
Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a
mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o
objetivo de constituição de família. § 1º A união estável não se constituirá se ocorrerem os
impedimentos do art. 1.521; não se aplicando a incidência do inciso VI no caso de a pessoa
casada se achar separada de fato ou judicialmente. § 2º As causas suspensivas do art. 1.523
não impedirão a caracterização da união estável.
O termo família eudemonista é usado para identificar aquele núcleo familiar que busca
a felicidade individual e vive um processo de emancipação de seus membros. O Direito de
Família não mais se restringe aos valores destacados de ser e ter, porque, ao menos entre
nós, desde o advento da Carta Política de 1988 prevalece a busca e o direito pela conquista
da felicidade a partir da afetividade.( MADALENO, 2018, p. 69).
Eudemonismo é a doutrina que enfatiza o sentido da busca pelo sujeito de sua felicidade.
A absorção do princípio eudemonista pelo ordenamento legal altera o sentido da proteção
jurídica da família, deslocando-o da instituição para o sujeito, como se infere da primeira
parte do § 8º do art. 226 da CF: o Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada
um dos que a integram. (DIAS. 2016, p. 222).
Entre 2004 e 2013, a participação na população das famílias formadas por casal hetero-
afetivo com filhos caiu de 50,9% para 43,9%, ao mesmo tempo em que cresceu a presença
de outros arranjos familiares. No censo demográfico de 2010, o IBGE identificou quase 60
mil famílias homoafetivas vivendo em um mesmo domicílio. (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES
UNIDAS. ONU. 2015, p. 2).
O problema que surge, então, é superar o conservadorismo que anda mantém a expressão
“desde que entre homem e mulher” como requisito essencial para fins de reconhecimento
de novas uniões. É nesse aspecto que se faz necessário o estudo das relações homoafe-
tivas. (AZAMBUJA, 2018 jun./jul.p.16). Rolf Madaleno destaca que os vínculos precisam ser
oficialmente reconhecidos:
Vínculos forjados em foro íntimo precisam ser oficialmente reconhecidos, pois seus inte-
grantes desejam organizar socialmente suas vidas e fortalecer, sob os auspícios legais e jurí-
dicos, os seus laços homoafetivos, que sempre estiveram presentes na sociedade, contudo
só não eram reconhecidos pela lei, não obstante a natureza não se cansasse de contrariar
o legislador, que ainda reluta em reconhecer entidade familiar que não seja formada por
um homem e uma mulher.( MADALENO, 2018, p. 69).
Parece, então, que a união homoafetiva, à luz do princípio da dignidade da pessoa humana
(art. 1º, III – regra-matriz dos direitos fundamentais), do direito à intimidade (art. 5, X), da
não discriminação, enquanto objetivo fundamental do Estado (art. 3º, IV), da igualdade em
relação ao tratamento dado à união estável entre um homem e uma mulher (art. 5º, caput),
deva ser considerada entidade familiar e, assim, ter o tratamento e proteção especial por
parte do Estado, exatamente como vem sendo conferido à união estável entre um homem
e uma mulher. (LENZA, 2010, p. 951).
As uniões homoafetivas existiam, mas não eram consideradas como relação familiar,
sendo que todos direitos e deveres oriundos de tal relacionamento eram resolvido no
âmbito do direito das obrigações e não do direito de família, demonstrando total descaso
por parte da sociedade e do Estado com milhares de pessoas que viviam em tal realidade.
(AZAMBUJA, 2018, jun./jul.p.16).
A autora ainda destaca que “diante dos inúmeros casos envolvendo relaciona-
mentos com pessoas do mesmo sexo” (AZAMBUJA, 2018, jun./jul. p. 17). a dou-
trina e a jurisprudência, foi colocada na obrigação de deixar o conservadorismo
que embasava as relações de lado, “em nome do direto, das solução aos casos.”
(AZAMBUJA, 2018, jun./jul. p. 17).
No Brasil a legislação ainda exige que exista diversidade de sexo no casamento
conforme está previsto no art. 1514 do Código Civil da seguinte forma “O casa-
mento se realiza no momento em que o homem e a mulher manifestam, perante
o juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal, e o juiz os declara casados”
estabelecendo assim pensamento diverso sobre está previsão legal.
Cumpre destacar que não existe legislação vigente que trate da família homo-
afetiva, mesmo sendo uma realidade latente dos tempos atuais, sendo discutida
apenas na esfera jurisprudencial e doutrinal.
No panorama atual, século 21, em virtude de vivermos em um País laico “Carac-
terística do que ou daquele que não faz parte do clero; que não pertence à insti-
tuição ou ordem religiosa: empresa laica; escola laica; Estado laico,” é encontrado
diversas dificuldades para seu reconhecimento, pois ainda paira uma mescla entre
os valores da sociedade e os valores pregados pela religião.
Pela inexistência de uma legislação para dar garantias legais a essa nova modali-
dade de família, estão sendo violados assim os mais diversos princípios fundamen-
tais contidos em nossa Constituição Federal, como traduz Roberta Carvalho Vianna:
[...] Entre princípios fundamentais que regem a sociedade brasileira, contida nos pri-
meiros artigos da Constituição Federal, estão as normas que protegem a dignidade da
civil para pessoas do mesmo sexo, não obstante projetos do legislativo, em especial a
Proposta de Emenda Constitucional e do Anteprojeto do Estatuto da Diversidade Sexual,
que demoradamente buscam a liberação do matrimônio entre pessoas do mesmo sexo,
tendo tais iniciativas expurgado esse ranço de preconceito que ainda se fazia presente nas
decisões que relutavam teimosamente em conceder a efetiva igualdade constitucional.
(MADALENO, 2018, p. 72).
É a sociedade do homem e da mulher que se unem para perpetuar sua espécie, para
se ajudar, por assistência mútua, a suportar o peso da vida e para compartilhar do mesmo
destino. No direito brasileiro, [...] “casamento é um ato solene pelo qual duas pessoas de
sexos diferentes se unem, [...] sob promessa recíproca de fidelidade no amor e da mais
estreita comunhão de vida.” [...] Mais recentemente somam-se aos conceitos de Silvio Rodri-
gues, Caio Mário da Silva Pereira e Maria Helena Diniz, respectivamente: “o casamento é o
contrato de Direito de Família que tem por fim promover a união do homem e da mulher,
de conformidade com a lei, a fim de regularem suas relações sexuais, cuidarem da prole
comum e se prestarem mútua assistência.” O casamento é a união de duas pessoas de sexo
diferente, realizando uma integração fisiopsíquica permanente. “É o vínculo jurídico entre
homem e mulher que visa ao auxílio mútuo e espiritual, de modo que haja uma integração
fisiopsíquica e a constituição de uma família legítima.” [...] A doutrina ensina que para haver
casamento é preciso que haja a diversidade de sexos, a celebração solene e a manifestação
do consentimento dos nubentes. [...] Assim, a análise da teoria da inexistência se impõe.
(BRANDÃO, 2002, p. 62-71).
Não fora o acaso que demovera o legislador constituinte a inserir por expresso na Carta
Política ser passível de configurar uma entidade familiar, somente a união entre o homem e
a mulher, excluindo, induvidosamente, o reconhecimento como família, das uniões homos-
sexuais, sendo inexistentes na legislação civil o casamento e a união estável entre pessoas
do mesmo sexo (arts. 1.514, 1.517, 1.565, 1.723, 1.726 e 1.727 do Código Civil brasileiro e
art. 226, § 3º, da Constituição Federal). E, concluía Guilherme Calmon Nogueira da Gama,
que: “com maior razão, portanto, não é possível o reconhecimento da união estável entre
pessoas do mesmo sexo, já que, tradicionalmente, o casamento entre elas é inexistente, no
Direito.”( MADALENO, 2018, p. 1438-1439).
Para quem a família está adiante da mera união livre de duas pessoas de sexos diferentes
ou iguais, e verifica que o afeto também pode envolver pessoas casadas em uma relação adul-
terina, e disso a Constituição Federal não trata ao conferir proteção estatal à entidade familiar.
A família constitucional foi concebida como sendo a base do edifício social, em um ambiente
natural e próprio para a procriação e desenvolvimento da prole, sem comportar a abrangência
atribuída por alguns juristas, pois também não encontrava o desembargador Sérgio Chaves
nenhum resquício de núcleo familiar na união de dois homens ou de duas mulheres, apenas
pelo fato de nutrirem afeto entre si, observando que o fato jurígeno a demandar a especial pro-
teção do Estado é a constituição de uma família, e sua função social. (MADALENO, 2018, p.1439).
Paulo Lôbo corrobora em que união homoafetiva deve ser tratada como uni-
dade familiar da seguinte maneira: “a união homoafetiva é reconhecidamente uma
entidade familiar, desde que preenchidos os requisitos de afetividade, estabilidade
e ostensibilidade e a finalidade de constituição de família.” (LÔBO, 2015, p. 79).
Outro ponto fundamental é o fato de que a Constituição Federal não vedar o
relacionamento entre pessoas do mesmo sexo com finalidades familiares já que
no caput do art. 226 da Constituição Federal diz que: “A família, base da sociedade,
tem especial proteção do Estado”.
Não há qualquer menção a respeito de quem compõe a unidade familiar, ou
seja, qualquer entidade que preencha os requisitos de afetividade e estabilidade
deve ser considerada família. Dessa forma, a tutela trazida pelo artigo demonstra
proteção às famílias afetivas, permitindo assim uma tutela do constitucional para
as uniões homoafetivas.
A Constituição Federal não estabeleceu em seu art. 226 nenhum significado
jurídico restritivo. Desta forma, não há qualquer tipo de vedação prevista na
Constituição que impossibilite à equiparação dos casais homoafetivos as uniões
estáveis, devendo considerar também a aplicação dos princípios já abordados,
que emanam equidade entre os seres humanos, gerando tratamentos igualitários
entre todos, sem distinção.
Em que pese até então, não ser possível reconhecer uma união estável homo-
afetiva já que a mesma era rejeitada por se opor ao que era previsto no art.
1.723 do Código Civil em que os companheiros deveriam ser de sexos opostos
gerando assim o indeferimento de todo e qualquer pedido conforme jurispru-
dências existentes.
Vê-se então a necessidade de que haja uma proteção jurídica das relações
homoafetivas, o que só ocorreu quando sobreveio decisão paradigma do Supremo
Tribunal Federal no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4.277
que estabeleceu um marco para as relações homoafetivas como destacou o ex-
ministro Ayres Britto relator da decisão na seguinte forma:
Argumentou que o art. 3º, inciso IV, da CF veda qualquer discriminação em virtude de
sexo, raça, cor e que, nesse sentido, ninguém pode ser diminuído ou discriminado em função
de sua preferência sexual. “O sexo das pessoas, salvo disposição contrária, não se presta
para desigualação jurídica”, observou o ministro, para concluir que qualquer depreciação
da união estável homoafetiva colide, portanto, com o inciso IV do art. 3º da CF. (BRASIL. STF
– SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Supremo Reconhece união homoafetiva).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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envolvendo as relações familiares. Revista Síntese: Direito de Família, São Paulo, v. 19, n. 108, jun./
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LÔBO, Paulo Luiz Netto. Direito civil: famílias. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
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NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. Rio de Janeiro: Forense. 1998.
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UZIEL, Anna Paula. Homossexualidade e adoção. Rio de Janeiro: Garamond. 2007.
VIANNA, Roberta Carvalho. O instituto da família e a valorização do afeto como princípio nortea-
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source=web&cd=8&cad=rja&ved=0CEwQFjAH&url=http://revista.esmesc.org.br/re/article/
download/41/45&ei=QYZsUOSzL4am8QTryYGwBg&usg=AFQjCNH1SSftEzhEWE4-NQOE_
qykaTdnvA. Acesso em: 13 mar. 2020.
ARQUIVO PESSOAL
ARQUIVO PESSOAL
CRISTIANE FELDMANN DUTRA é doutoranda em Educação na instituição Unilasalle. Mestre em Direito na UniRitter
ARQUIVO PESSOAL
O risco de subnotificação:
O receio do fenômeno do
Iceberg de anti gravidade
POR Ana Cristina Marques Martins e Marcus Vinicius de Azevedo Braga
O
autor inglês John Adams, no seu livro “Risco” (SENAC Ed., 2009), ao tratar da
confiabilidade dos registros de acidentes de trânsito, traz o conceito de “Ice-
berg de gravidade”, uma constatação de que eventos com mais vítimas fatais
apresentam informações coletadas mais precisas, por haver o envolvimento de
vários atores, mais qualificados, e a sensibilização das famílias e da imprensa.
O óbito é um evento extremo e sem ambiguidades, o que tem como consequência a
maior precisão do seu registro, mas o mesmo pode não se dar com as suas causas, se diluindo
estas em variáveis afetas a localização, idade, e outras que podem gerar o fenômeno da
subnotificação em relação a um determinado diagnóstico, em especial na situação atual da
pandemia da Covid-19, que assombra o mundo pela velocidade e pela incerteza nos efeitos.
Dada a inovação do evento, os agentes responsáveis pelo registro têm dificuldades de
enquadramento, e faltam testes em todos os rincões do país, e quando existem, o prazo de
resposta é por vezes demasiado, além de pela contaminação se demandar um processo de
velório e cremação mais expedito, fatores citados e que favorecem a subnotificação, agra-
vado pelo fato de que quanto mais a situação se agrava, mais profissionais de saúde são
necessários na linha de frente, e o registro pode assumir um papel secundário.
A medida que a pandemia avança, apesar da gravidade crescente, pode-se ter o risco de
subnotificação de óbitos relacionados ao novo vírus também aumentando, podendo, no
exemplo citado, se gerar um “Iceberg de anti gravidade”, com menos informações de eventos
mais graves, o que pode afetar medidas estratégicas epidemiológicas e socioeconômicas,
favorecendo também o risco moral (compensação de risco) dos cidadãos, ao serem menos
cuidadosos por desconhecerem o real cenário da ameaça.
Como dar conta do risco de subnotificação, por ser um ato tão técnico e específico? Busca
ativa de suspeitos, regras claras e explícitas, capacitação, uso de tecnologia da informação e
testes amplos, confiáveis, baratos e de retorno rápido. Sabe-se que parte desses óbitos serão
perdidos e futuramente estimados por meio de análises nos bancos de dados oficiais, pois
embora se espere uma subnotificação de casos relacionadas à Covid-19, ao mesmo tempo o
registro de óbitos, ação já consolidada no país, manterá essas informações que poderão ser
usadas para que se faça no futuro estimativas mais confiáveis do perfil de mortes pela Covid-19.
Contudo, esforços precisam ser feitos para que se identifique o máximo possível de
óbitos relacionados hoje, pois num cenário de pouco conhecimento sobre o perfil da doença,
essa informação é útil para o subsídio das ações de prevenção de morte pelo novo Coro-
navírus. Pode parecer um esforço secundário face a necessidade de controle e do manejo
da doença, mas cada óbito identificado adequadamente trará informações essenciais para
enfrentamento da Covid-19. A notificação adequada também salva vidas, agora e depois.
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Obrigatoriedade de
compliance para
contratação pública
POR Wilson De Faria e Camila Chizzotti
DIVULGAÇÃO
24
pliance e uma equipe dedicada a sua manutenção.
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STF e MP nº 936/2020
Sopesamento entre realidade e
legalidade em tempos de COVID-19
ALINE CRUVINEL é Advogada em São Paulo. Advogada Associada de Cruz & Creuz Advogados. Pós-Graduanda
em Direito Corporativo e Compliance pela Faculdade Escola Paulista de Direito – EPD; Bacharel em Direito pela
Pontifícia Universidade Católica de Goiás.
A pandemia do novo
coronavírus e os
impactos causados nos
contratos de locação
não residencial
POR Leonardo Hayao Aoki
“Em primeiro lugar, registre-se que a judicialização de questões como a aqui exposta,
que tendem a se repetir na realidade presente, não pode ser caracterizada com outro papel
senão o da pacificação, prezando pela manutenção de relações duradouras e exercendo,
caso a caso, a esperada ponderação a fim de encontrar melhor termo para que todos possam
superar um momento de crise.
[...]
A pandemia do coronavírus e as condutas estatais disso decorrentes amoldam-se, com
precisão, ao que se desenha na teoria da imprevisão, autorizadora da revisão dos contratos
ou, em vez disso, de uma modulação temporária voltada à continuidade. Trata-se de evento
externo (a que não se deu causa, pois), fortuito e de força maior, modificando a realidade
prevista no início da contratação e fazendo do seu objeto excessivamente oneroso (ainda
que provisoriamente, repita-se).
[...]”.
E, em outra decisão proferida no dia 02/04 p.p., que deferiu a tutela de urgência
para autorizar o pagamento de 30% do valor original do aluguel, o magistrado
assim ressaltou:
“[...]
Este é o caso dos autos, na medida em que a pandemia instaurada pela disseminação
rápida e global de vírus até então não circulante entre os seres humanos acabou por levar
as autoridades públicas a concretizar medidas altamente restritivas de desenvolvimento
de atividades econômicas, a fim de garantir a diminuição drástica de circulação de pessoas
e dos contatos sociais.
Tal situação ocasionou a queda abrupta nos rendimentos da autora, tornando a pres-
tação de alugueres nos valores orginalmente contratados excessivamente prejudicial a sua
saúde financeira e econômica, com risco de levá-la à quebra.
Desse modo, cabível a revisão episódica dos alugueres, com a finalidade de assegurar
a manutenção da base objetiva, para ambas as partes, gerando o menor prejuízo possível
a elas, dentro das condições de mercado existentes.
[...]”
Nota-se pelas recentes decisões proferidas em sede de tutela de urgência e, que
estão sujeitas a interposição de recursos pelo proprietário/locador para a segunda
instância que poderá revogar(cassar) ou manter as decisões de primeiro grau,
que a temática dos aluguéis está sendo levada em alta quantidade ao Poder Judi-
ciário, gerando até decisões de suspensão de pagamento, como determinou um
magistrado no Distrito Federal autorizando um lojista de shopping a suspender
o pagamento do aluguel.
É certo que os efeitos mais nefastos da crise econômica ocasionada pelo coro-
navírus ainda estão por vir e são imprevisíveis. O que é certo é que o mercado de
locações comerciais deve ser fortemente impactado, com a gradativa adequação
dos preços e, nesse aspecto, cabe aos proprietários e aos locatários, terem em
consideração, neste momento de incerteza, que a renegociação extrajudicial dos
contratos é a solução mais adequada e justa, em estrita observância ao princípio
da boa-fé contratual. E juntos, de forma colaborativa, todos superarão o período
de crise provocada pela COVID-19.
ARQUIVO PESSOAL
DIVULGAÇÃO
Ab irato [impulsu]
POR Vicente de Paulo Saraiva
P
or um [impulso] irado. Ou seja: Por efeito de [um impul-
so] da ira. (Diz-se daqueles atos praticados sob intensa
emoção de revolta, donde se originaram.) Normalmente
diz-se apenas ab irato, omitindo-se o substantivo impul-
so: por isso, irato acha-se no abl. sg. m., por força da preposição ab,
devendo considerar-se no gênero masculino por estar concordando
com o substantivo subentendido [impulsu] (que é desse gênero), em
razão de ser uma forma adjetiva, como particípio passado/perfeito
que é do verbo irasci. O conjunto – ab irato impulsu – está formando uma locução
adverbial que denuncia um adjunto adverbial de causa.
A expressão tem sido utilizada a propósito da deserdação ou preterição injusta
do herdeiro legítimo em favor de outrem.
No direito romano, pelos idos finais da república pelo menos, a lilberdade de
testar passou a sofrer restrições, visto como certos herdeiros legítimos (os sui o
eram desde o jus antiquum) obtiveram o direito de serem instituídos herdeiros
testamentários – fazendo jus à portio legitima/debita (= quota legítima/devida) –,
a menos que viessem a ser deserdados por justa causa. Porquanto, testar era um
officium pietatis (= uma obrigação moral de ternura): logo, a deserdação era inno-
ficiosa (= ao arrepio desse dever moral), se o testador não tivesse motivos justos
para privar os ditos herdeiros da quota legítima – motivos esses não propriamente
explicitados nas fontes, mas que a Novela 115 veio a arrolar (quatorze motivos para
os descendentes, e oito, para os ascendentes): mas o testador não era obrigado a
mencioná-los. Se o herdeiro, entretanto, considerasse falsos tais motivos ou ine-
xistentes, tinha a seu dispor a querela inofficiosi testamenti (= a queixa/demanda
do [= contra o] testamento [lavrado] ao arrepio do dever de afeição), que devia
ser proposta dentro de cinco anos a partir do falecimento do testador, sob pena
de prescrição. Se procedente a querela (discute-se se era uma ação ou mero inci-
dente da hereditatis petitio [= petição de herança]), seus efeitos retroagiriam, Quia
plerumque parentes sine causa liberos suos exheredant vel omittunt,... hoc colore,
quasi non sanae mentis fuerint [Instas. 2, 18, par.] (= Porque muitas vezes os pais/os
ascendentes deserdam ou preterem seus filhos/descendentes sem [justa] causa,...
[e] sob tal aspecto era como se não estivessem de mente sã). Entre esses estados de
insanidade, inserem-se evidentemente a ira ou o ódio contra o legítimo herdeiro,
em prol de um terceiro.
Nas legislações modernas, a querela praticamente foi banida, acusando-lhe
Clóvis Beviláqua o caráter odioso (como expressão hostil de castigo por parte do
falecido) e inútil (porque a indignidade é suficiente parfa excluir da herança os
que não a merecem).
É verdade que, ainda nas Ordenações Filipinas (L. IV, Tít. 82), se continuava
a fazer referências ao “testamento inoficioso”, considerando-o rescindível, nas
pegadas do direito romano: somente que, a teor do § 2º do mesmo título, a querela
do testamento inoficioso era inútil, porquanto “ao herdeiro instituído... incumbe
provar a causa da desherdação,... para que sêjão excluídos os legítimos. (...) e, ainda
mêsmo que o herdêiro legitimo não estivesse na posse da herança, não seria util uzár
da Querela, porque tem outra Ação mais proficua que [é] a de Petição da Herança”
– consoante pondera GOUVÊA PINTO.
Nomeadamente em nosso direito atual, tanto no Código anterior quanto no
CC/02, se não existia nem existe mais especificamente a querela, não se pode negar,
como sua substituta, a ação ordinária de nulidade – que prescreve em quatro anos,
“contados da abertura da sucessão” (CC, art. 1.815, par. único), ou “a contar da data
da abertura do testamento” (CC, art. 1.965, par. único), com base nos arts. 1.961-1.965
do CC/02. Adverte, entretanto, o caput do art. 1.965 caber ao herdeiro instituído ou a
quem aproveitar a deserdação, “provar a veracidade da causa alegada pelo testador”.
Partindo do pressuposto de que “Os herdeiros necessários podem ser privados
de sua legítima, ou deserdados em todos os casos em que podem ser excluídos da
sucessão” (art. 1.961), acham-se sujeitos à deserdação, em todas as hipóteses do
VICENTE DE PAULO SARAIVA é Subprocurador-Geral da República (aposentado) e autor da obra Expressões Latinas
Jurídicas e Forenses (Saraiva, 1999, 856 p.)
O crime de infração de
medida sanitária preventiva
POR Fernando Brandini Barbagalo
É
fácil notar que não são convergentes as posições dos gover-
nantes sobre a melhor estratégia pública a ser adotada para
evitar a propagação da doença e, concomitantemente, mini-
mizar as suas consequências no plano econômico.
Em tempos de pandemia do novo Coronavírus, muito se comenta sobre
o crime de infração de medida sanitária preventiva, previsto no art. 268
do Código Penal. O delito consiste em “infringir determinação do poder
público, destinada a impedir a introdução ou propagação de doença con-
tagiosa” e possui pena de detenção de um mês a um ano além de multa.
Doutrinariamente, trata-se de crime comum, podendo ser praticado
por qualquer pessoa; de perigo abstrato, pois o prejuízo ao bem jurí-
dico “Saúde Pública” é presumido; de mera conduta por prescindir de
qualquer resultado naturalístico tangível aos nossos sentidos.
Não bastasse, cuida-se de um tipo penal que depende de complemen-
tação para sua exata definição, chamado, pela doutrina, de norma penal
em branco, tal norma possui conteúdo indefinido e apenas esboça o con-
teúdo do injusto que estará na dependência de complementação por outro
ato normativo pertencente ao ordenamento jurídico. A lei penal, nesses
casos, deve ser interpretada em conjunto com o ato normativo comple-
mentar para permitir sua exata compreensão e produzir efeitos jurídicos.
A caracterização do crime descrito pelo art. 268 do Código Penal é
dependente de um ato normativo que complemente a elementar nor-
mativa “determinação do poder público, destinada a impedir introdução
ou propagação de doença contagiosa”.
Atualmente, pensamos que o ato normativo complementar que esta-
belecerá a conduta incriminada não pode ficar, em tese, a cargo de todos
os entes federativos brasileiros e necessita de definição por meio de ato
normativo de abrangência nacional a ser editado pelo Ministério da
Saúde, ou por outro órgão público de caráter nacional, como a ANVISA.
Não se pode permitir que cada município e Estado brasileiro possa
editar um ato normativo (lei ou decreto) relacionado à situação da
pandemia atual e assim, valendo-se do disposto no art. 268 do Código
Penal, ameaçar com pena criminal – e todas as suas nefastas conse-
quências – os seus habitantes e eventuais visitantes, sob pena de vio-
lação do princípio da legalidade e sua consectária segurança jurídica.
Além do que, “a determinação do poder público” local pode ser alte-
rada ou simplesmente inexistir em outro município contíguo, ou ainda
possuir conotação contrária à de outro ente federativo, configurando
comando penal indeterminado, com vigência territorial limitada (even-
tualmente, limitadíssima) e, por vezes, contraditório.
DIVULGAÇÃO
É fácil notar que não são convergentes as posições dos governantes sobre
a melhor estratégia pública a ser adotada para evitar a propagação da doença
e, concomitantemente, minimizar as suas consequências no plano econômico.
Em decorrência disso, diversas leis e decretos dispares podem ser editados acerca
do tema e a população não merece ficar à mercê do entendimento do gover-
nante local sobre a melhor forma de proceder em relação à pandemia e seus efeitos
para pautar seu comportamento e não ser punido criminalmente.
Observe-se que a Constituição Federal consagra “privativamente à União”
a competência para legislar sobre direito penal (art. 22, I), não estando autori-
zados os demais entes federativos (Estados e municípios) a complementar um ato
normativo próprio do poder federal que implique em reflexos na legislação penal.
Evidente que o julgamento cautelar do Supremo Tribunal Federal, que refe-
rendou a medida cautelar implementada pelo Ministro Marco Aurélio e reco-
nheceu a legitimação concorrente da União, Estados e municípios para legislarem
sobre aspectos relacionados à Pandemia do Coronavírus (ADIn 6341-DF, Rel. Min.
Marco Aurélio), não permitiu a incriminação direta ou indireta de comportamentos
por atos normativos locais (leis, decretos etc).
Cediço que a responsabilização criminal exige comprovação de elemento sub-
jetivo por parte do agente criminoso, no caso o dolo, além de demonstração
da consciência da ilicitude do comportamento o que impediria, por certo, conde-
nações abusivas. Porém, ainda assim, muitas pessoas seriam detidas – não presas,
pois o delito do art. 268 do Código Penal enquadra-se no conceito de infração de
menor potencial ofensivo – e constrangidas a comparecer à presença de autori-
dade policial para adoção dos procedimentos relacionados à apuração criminal.
Igualmente, sabe-se que o Direito Penal é considerado a ultima ratio do ordena-
mento jurídico, com aplicação subsidiária. Neste sentido, cabe destacar a previsão de
punição administrativa (advertência ou multa) aos comportamentos que impeçam
ou dificultem a aplicação de medidas sanitárias relativas às doenças transmissíveis
(art. 10, VII, da Lei nº 6.437/1.977). Punição que se apresenta, em nosso sentir, mais
adequada e proporcional do que a rigidez de uma resposta penal.
Em síntese, relevando os princípios da legalidade e da ultima ratio, pensamos ser
incabível a utilização das normas relacionadas à Pandemia do Coronavírus, edi-
tadas pelos diversos municípios, Estados ou Distrito Federal, como integradoras
da figura típica do art. 268 do Código Penal.
ARQUIVO PESSOAL
FERNANDO BRANDINI BARBAGALO é Juiz Criminal no Distrito Federal (TJ/DF), Professor de Direito Penal e
Processo Penal.
Dignidade da
pessoa humana
POR Hélida Crosara
NOTAS
1 SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituição Fede-
ral de 1988. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001 p. 32.
2 Gonçalves Peres, diz que a “dignidade é tida como intangível pelo fato de que assim foi decidido,
na medida e no sentido em que se decidiu, o que demonstra como se pode chegar a resultados tão
dispares e até mesmo conflitantes entre si, na aplicação concreta da noção de dignidade da pessoa”
– destaca ainda de forma curiosa- “que este princípio serve ao mesmo tempo, para justificar o res-
peito à vida humana e até mesmo o seu fim, como ocorre nos casos em que se reconhece o direito
de morrer com dignidade (eutanásia).
3 No nosso ordenamento jurídico, foi adotado pelo poder Constituinte de 1988, ao referir-se à digni-
dade da pessoa humana como fundamento da Republica e do nosso Estado democrático de Direito,
ou seja, ele reconheceu categoricamente que é o Estado que existe em função da pessoa humana, e
não o contrário, já que o ser humano constitui finalidade precípua, e não meio da atividade estatal.
4 Sarlet, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituição Federal
de 1988, p. 60.
ARQUIVO PESSOAL
Interrupção da prescrição
em acórdão que confirma
ou reduz a pena
DIVULGAÇÃO
O art. 117 foi transcrito acima com todos os incisos de forma intencional.
É necessária uma contextualização do ambiente onde está inscrito o inciso IV,
assim como fixar desde logo a localização tópica do referido dispositivo. Não é
possível efetuar análise de um dispositivo legal isolado, sem a visão periférica
ampliada que forneça a dimensão topográfica onde se encontra inserido.
Apesar da necessária leitura prévia do dispositivo legal e do título e capítulo
onde se situa, é certo que a interpretação literal não deve ser a primeira e muito
menos a única a guiar os passos do hermeneuta. Notadamente num país onde
o processo legislativo é marcado por notórias deficiências técnicas na redação
das normas, a interpretação gramatical e literal seria, a princípio, inadequada.
O art. 117 situa-se no título VIII, “Da extinção da punibilidade”. A exposição
de motivos do Código Penal, referente às alterações ocorridas no ano de 1984, é
lacônica a respeito não só do artigo 117 e incisos, como também em relação ao
tema da prescrição em geral. O trecho mais esclarecedor da referida exposição
de motivos afirma:
99. Estatui o art. 110 que, uma vez transitada em julgado a sentença condenatória,
a prescrição regula-se pela pena aplicada, verificando-se nos prazos fixados no art. 109,
os quais são aumentados de um terço, se o condenado é reincidente. O § 1º dispõe que
a prescrição se regula pela pena aplicada, se transitada em julgado a sentença para
a acusação ou improvido o recurso desta. Ainda que a norma pareça desnecessária,
preferiu-se explicitá-la no texto, para dirimir de vez a dúvida alusiva à prescrição pela
pena aplicada, não obstante o recurso da acusação, se este não foi provido. A ausência
de tal norma tem estimulado a interposição de recursos destinados a evitar tão-somente
a prescrição. Manteve-se, por outro lado, a regra segundo a qual, transitada em julgado
a sentença para a acusação, haja ou não recurso da defesa, a prescrição se regula pela
pena concretizada na sentença.
Nos arts. 116 e 117, respectivamente, cuida-se das causas suspensivas e interruptivas
da prescrição. É expressamente fixada a regra de que, interrompida a prescrição, o prazo
começa a correr ex novo et ex integro do dia da interrupção. Por último, é determinada
a absorção da pena mais leve pela mais grave, para o efeito da prescrição, ressalvada
a pena acessória imposta na sentença ou resultante da condenação.
É curiosa esta passagem porque, muito embora não tenha vingado o Código
Penal de 1969, fica sua exposição de motivos como peça de caráter doutrinário.
Como tal, afirma que “É sabido que nem todas as causas de extinção da puni-
bilidade estão mencionadas nessa passagem expressamente.”
Ora, a referida exposição de motivos considera numerus apertus as hipó-
teses de extinção da punibilidade. E incumbe perquirir por qual razão assim o
considera, ao invés de adotar o entendimento de serem numerus clausus tais
disposições. Aqui, voltemos à topografia do código: o artigo 117 está localizado
no Título referente à extinção da punibilidade. Quer parecer, então, que o artigo
117 está inserido num contexto hipotético de benesses ao condenado.
A FUNÇÃO DA PRESCRIÇÃO
por exemplo, apenas declara direito, sem condenar ou absolver. O que o inte-
ressado poderá obter daí para frente com uma tal sentença é outro problema.
E este tipo de sentença não está alcançado pela regra do inciso IV do art. 117 do
Código Penal, pois não é de natureza condenatória.
A decisão declaratória-absolutória é a antítese da decisão declaratória-con-
denatória. Ao absolver o réu, extingue sua punibilidade. Confirmada em ins-
tâncias superiores, os acórdãos daí decorrentes serão igualmente confirmató-
rios absolutórios. Fica claro que este tipo de sentença não diz respeito, sequer
minimamente, ao inciso IV do art. 117 do Código Penal.
O que parece ser o verdadeiro objeto de estudo sob a ótica do art. 117 mencio-
nado são os acórdãos confirmatórios condenatórios. Tais acórdãos são, como toda
decisão, declaratórios de um direito. Se confirmam uma sentença absolutória,
são igualmente absolutórios, e deles não cuida o dispositivo penal em comento.
Se, porém, um acórdão confirma uma decisão condenatória, ele não é somente
declaratório, é igualmente condenatório, tal qual a sentença confirmada. O
acórdão que confirma condenação também é condenatório. Ambos, a sentença
condenatória e o acórdão que a confirma, trazem uma imposição de obrigação,
de dever, de pena, imposta pelo Estado.
O acórdão que confirma a sentença condenatória, porém reduz seu quantum,
também é condenatório. A redução da pena não significa sua extinção, nem traz
absolvição, a qual não pode ser implícita, e sim deve ser expressa. Deste modo,
até por exclusão, o raciocínio é: o acórdão que confirma, mas reduz a pena, é
meramente declaratório? Não, porque traz consigo a carga impositiva de pena
imposta pela sentença confirmada. Pode ser tal acórdão ainda considerado abso-
lutório? Não, porque confirmou uma sentença condenatória. Deste modo, por
exclusão, o acórdão confirmatório de decisão, mas que reduz a pena, só pode
ser igualmente condenatório.
O único requisito estabelecido pelo inciso IV do art. 117 do Código Penal que
parece ser desprovido de dúvida ou questionamento é o de ser o acórdão recor-
rível. Se já não cabe nenhum recurso do referido acórdão, toda a discussão perde
o sentido. Aqui, o fundamento é simples: transitada em julgado a decisão, não
mais se fala na pretensão punitiva, e sim da pretensão executória.
Todo este entendimento até agora exposto deixa claro que a posição da 2ª
Turma do Supremo Tribunal Federal, da 5ª Turma e Corte Especial do Superior
Tribunal de Justiça, tem menos possibilidade de prosperar. É que estas Turmas
e Corte entendem que o acórdão que apenas confirma ou reduz a pena imposta
não pode interromper a prescrição. Ora, este entendimento parece considerar
que o acórdão confirmatório da sentença ou que reduz a pena não seria con-
denatório ( STF. 2ª Turma. RE 1238121 AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
06/12/2019; STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1557791/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, jul-
gado em 06/02/2020; STJ. Corte Especial. AgRg no RE nos EDcl no REsp 1301820/
RJ, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 16/11/2016).
Ocorre aqui um problema técnico: para este entendimento, o acórdão não é
alcançado pelo inciso IV do art. 117 do Código Penal porque: a) apenas confirma
a sentença condenatória; e b) apenas reduz a pena imposta originariamente. É
um entendimento confuso, pois:
CONCLUSÃO
LÍBERO PENELLO DE CARVALHO FILHO é Servidor público no estado do Espírito Santo. Graduado em Direito.
ARQUIVO PESSOAL
Doutorando em Direito Constitucional pela Universidade de Buenos Aires – Argentina. Especialista em Direito e
Processo do Trabalho. Especialista em Direito e Processo Penal. Pesquisador. Professor universitário de graduação
em Direito, Ciências Políticas e de pós-graduação em Direito e em Gestão Pública. Membro da Sociedade Inter-
nacional de Direito Criminal (International Criminal Law Society – Berlim – Alemanha. Sócio efetivo do Instituto
Brasileiro de Direito Social Cesarino Júnior – São Paulo (Seção brasileira da Société Internationale de Droit du Travail et de la
Sécurité Sociale – SIDTSS – Suíça). Membro da Société Française pour le Droit International – Université Paris Ouest Nanterre
La Défense – Paris – França. Membro do Institut des Hautes Études sur la Justice – IHEJ – Paris, França. Membro do Instituto
Brasileiro de Administração do Sistema Judiciário – IBRAJUS. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo.
Da ilegalidade da pena
de censura prescrita
no Código de Ética
Profissional do Servidor
Público Civil do Poder
Executivo Federal1
POR Rocco Antonio Rangel Rosso Nelson e Walkyria de Oliveira Rocha Teixeira
XXII – A pena aplicável ao servidor público pela Comissão de Ética é a de censura e sua fun-
damentação constará do respectivo parecer, assinado por todos os seus integrantes, com
ciência do faltoso. (Grifos nossos)
Art. 10. Os textos legais serão articulados com observância dos seguintes princípios:
I – a unidade básica de articulação será o artigo, indicado pela abreviatura “Art.”, seguida
de numeração ordinal até o nono e cardinal a partir deste;
II – os artigos desdobrar-se-ão em parágrafos ou em incisos; os parágrafos em incisos,
os incisos em alíneas e as alíneas em itens;
III – os parágrafos serão representados pelo sinal gráfico “§”, seguido de numeração
ordinal até o nono e cardinal a partir deste, utilizando-se, quando existente apenas um, a
expressão “parágrafo único” por extenso;
IV – os incisos serão representados por algarismos romanos, as alíneas por letras minús-
culas e os itens por algarismos arábicos;
V – o agrupamento de artigos poderá constituir Subseções; o de Subseções, a Seção;
o de Seções, o Capítulo; o de Capítulos, o Título; o de Títulos, o Livro e o de Livros, a Parte;
(...)
A lei, no pensamento liberal iluminista, era um produto da razão, emanada dos represen-
tantes da sociedade e capaz de regular todo e qualquer assunto relevante, constituindo-se
na mais importante fonte do direito, notadamente na Europa, onde o constitucionalismo
só tomou força após a Segunda Grande Guerra.4
Não custa lembrar, por último, que, na teoria do Estado moderno, há duas funções esta-
tais básicas: a de criar a lei (legislação) e a de executar a lei (administração e jurisdição). Esta
última pressupõe o exercício da primeira, de modo que só se pode conceber a atividade
administrativa diante dos parâmetros já instituídos pela atividade legisferante. Por isso é
que administrar é função subjacente à de legislar. O princípio da legalidade denota exata-
mente essa relação: só é legítima a atividade do administrador público se estiver condizente
com o disposto na lei.5
(...). Evidencia-se, destarte, que mesmo os atos mais conspícuos do Chefe do Poder
Executivo, isto é, os decretos, inclusive quando expedem regulamentos, só podem ser pro-
duzidos para ensejar execução fiel da lei. Ou seja: pressupõem sempre uma dada lei da qual
sejam os fiéis executores.8
(...)
Assim, tanto a infração administrativa como a sanção administrativa devem ter previsão
expressa em lei formal. Não basta mera autorização à autoridade administrativa, dispondo
genericamente sobre o poder de punir. É preciso que a lei descreva a conduta ilícita e a res-
pectiva sanção.” Isso significa, em outros termos, que a lei formal deve veicular a hipótese
de incidência e o mandamento da norma punitiva. (...)9
Nenhuma sanção, ainda que de caráter disciplinar, pode ser aplicada ao total arrepio
da legalidade, da tipicidade, da culpabilidade, da pessoalidade, da individualização da
pena, da presunção de inocência, da proporcionalidade, da razoabilidade e da interdição
de arbitrariedade sem o respeito ao direito de defesa. Nenhuma medida disciplinar pode
prescindir dessas fundamentais garantias porque sua submissão aos princípios constitucio-
nais do Direito Administrativo Sancionador é imperiosa. Lamentavelmente, nem sempre tais
comandos são observados pela Administração Pública, que confunde relação de especial
sujeição com arbítrio.11
Do ponto de vista substantivo, o princípio non bis in idem também impede que se apli-
quem conjuntamente penas e sanções administrativas pelo mesmo fato. Tomando como
ponto de partida a unidade do ordenamento jurídico, é o próprio Estado aquele que deve
organizar e dirigir coordenadamente o arsenal punitivo de que dispõe. Do contrário, o sujeito
se veria obrigado a defender- -se permanentemente em todas as frentes, o que se apresenta
como arbitrário, considerando-se uma reiteração inadmissível do exercício do jus puniendi.
Na aplicação do princípio non bis in idem, as normas procedimentais devem estabelecer a
paralisação de qualquer procedimento administrativo sancionador no momento em que
comece a intervir a Justiça penal. Esse procedimento administrativo poderá ser reaberto
em caso de suspensão ou absolvição em sede penal. Na hipótese de ocorrer condenação
em sede judicial, deverá se respeitar a coisa julgada e a pena será a única consequência
jurídica a ser aplicada.16
O princípio do non bis in idem impede a Administração Pública de impor uma segunda
sanção administrativa a quem já sofreu, pela prática da mesma conduta, uma primeira. É
dizer, uma vez imposta a sanção administrativa, esgota-se a competência punitiva atribuída
à Administração Pública, não sendo lícita a imposição de nova sanção pelo mesmo fato.18
CONSIDERAÇÕES FINAIS
NOTAS
8 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo: Malheiros,
2010, p. 103.
9 MELLO, Rafael Munhoz de. Princípios constitucionais de direito administrativo sancionador: as
sanções administrativas à luz da Constituição Federal de 1988. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 120-
121.
10 “Com efeito, o regime disciplinar se insere no âmbito do Direito Administrativo Sancionador.
(...)”. OSÓRIO, Fábio Medina. Direito administrativo sancionador. 3. ed. São Paulo: RT, 2009, p.
227.
11 OSÓRIO, Fábio Medina. Direito administrativo sancionador. 3. ed. São Paulo: RT, 2009, p. 228.
12 JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de Direito Administrativo. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2013, p. 1050.
13 Decreto nº 1.171/94. XVIII – À Comissão de Ética incumbe fornecer, aos organismos encarre-
gados da execução do quadro de carreira dos servidores, os registros sobre sua conduta ética,
para o efeito de instruir e fundamentar promoções e para todos os demais procedimentos
próprios da carreira do servidor público.
14 TRF 1º região, terceira turma, Apelação Civil nº 1998.01.00.056844-8/MG, relator desembarga-
dor Olindo Menezes, data do julgamento em 01/12/1998, DJ 21/05/1999, p. 145.
15 “(...). Apesar do princípio ne bis idem não ter recebido uma conformação expressa no texto
constitucional, há acordo quase unanime na doutrina e na jurisprudência constitucional em
considera-lo implícito no princípio da legalidade (...)”. (FRANCO, Alberto Silva; STOCO, Rui (co-
ords). Código penal e sua interpretação. 8. ed. São Paulo: RT, 2007, p. 39).
16 OLIVÉ, Juan Carlos Ferré; PAZ, Miguel Ángel Núnez; OLIVEIRA, Willian Terra de; BRITO, Alexis
Couto de. Direito Penal Brasileiro – parte geral. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 90.
17 “Os requisitos antes enunciados devem estar presentes (identidade de pessoa, identidade de
objeto e identidade de causa). Todavia, ainda que comprovados ditos elementos, é possível
manter a dupla responsabilidade. A exceção surge a partir de um requisito negativo: a inexis-
tência de uma relação de sujeição especial. Trata-se de hipóteses extraordinárias de especial
supremacia da Administração, nas quais cabe a aplicação de duas sanções. É o caso de delitos
cometidos por servidores públicos ou militares, que podem merecer uma sanção penal e outra
acrescida pela ordem disciplinar, fruto da especial relação que os une à Administração Públi-
ca. Idêntica situação pode acontecer no âmbito penitenciário, no qual cabe a coexistência da
pena com uma medida de natureza disciplinar. Entretanto, as hipóteses de sujeição especial
devem ser excepcionais e contar com uma justificação muito fundamentada”. (OLIVÉ, Juan Car-
los Ferré; PAZ, Miguel Ángel Núnez; OLIVEIRA, Willian Terra de; BRITO, Alexis Couto de. Direito
Penal Brasileiro – parte geral. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 90).
18 MELLO, Rafael Munhoz de. Princípios constitucionais de direito administrativo sancionador: as
sanções administrativas à luz da Constituição Federal de 1988. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 210.
19 Aprovada na sessão plenária de 13/12/1963, publicada no 0DJ de 26/04/1962.
20 Resolução nº 10/2008 da CEP. Art. 2º Compete às Comissões de Ética:
(...)
XV – aplicar a penalidade de censura ética ao servidor e encaminhar cópia do ato à unidade de
gestão de pessoal, podendo também:
(...)
d) adotar outras medidas para evitar ou sanar desvios éticos, lavrando, se for o caso, o Acordo
de Conduta Pessoal e Profissional – ACPP
(...)
REFERÊNCIAS
BINENBOJM, Gustavo. Uma teoria do direito administrativo. 2. ed. São Paulo: Renovar, 2008.
BOBBIO, Norberto. Liberalismo e democracia. 6. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: atualizada até a Emenda Constitucional
n° 105. Brasília, DF, 05 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 20 de janeiro de 2020.
ROCCO ANTONIO RANGEL ROSSO NELSON é Mestre em Direito Constitucional pela Universidade Federal do
ARQUIVO PESSOAL
Rio Grande do Norte – UFRN. Especialista em Ministério Público, Direito e Cidadania pela Escola Superior do Minis-
tério Público do Rio Grande do Norte. Especialista em Direito Penal e Criminologia pela Universidade Potiguar.
Ex-professor do curso de direito e de outros cursos de graduação e pós-graduação do Centro Universitário FACEX.
Líder do Grupo de Estudo e Pesquisa em Extensão e Responsabilidade Social, vinculado a linha de pesquisa “Demo-
cracia, Cidadania e Direitos Fundamentais” do Instituto Federal do Rio Grande do Norte – IFRN, campus Natal-Central. Professor
efetivo de Direito do Instituto Federal do Rio Grande do Norte – IFRN, campus Natal-Central. Articulista e poeta. Autor do livro
Curso de Direito Penal – Teoria Geral do Crime – Vol. I (1. ed., Curitiba: Juruá, art. 2016); Curso de Direito Penal – Teoria Geral da
Pena – Vol. II (1. ed., Curitiba: Juruá, 2017).
WALKYRIA DE OLIVEIRA ROCHA TEIXEIRA é Mestre em educação pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e
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Tecnologia do Rio Grande do Norte – IFRN. Especialista em Jurisdição e Direito Privado pela ESMARN/UNP, especia-
lista em Ministério Público, Direito e Cidadania pela FESMP. Membro do Grupo de Estudo e Pesquisa em Extensão
e Responsabilidade Social, vinculado a linha de pesquisa “Democracia, Cidadania e Direitos Fundamentais” do
Instituto Federal do Rio Grande do Norte – IFRN, campus Natal-Central. Auditora Federal, Advogada, Chefe da
Auditoria Geral do IFRN.
Coronavírus:
preferência pelo leito de UTI
NOTAS
1 STEPKE, Fernando Lolas; DRUMOND, José Geraldo de Freitas. Fundamentos de uma antropologia bio-
ética: o apropriado, o bom e o justo. São Paulo: Centro Universitário São Camilo: Loyola, 2007, p. 109.
2 https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/03/algoritmos-e-inteligencia-artificial
-podem-ajudar-brasil-a-decidir-sobre-leitos-de-uti.shtml.
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EUDES QUINTINO DE OLIVEIRA JÚNIOR é Promotor de Justiça aposentado, Mestre em Direito Público, Pós-Dou-
torado em Ciências da Saúde, Reitor da Unorp e Advogado.
A utilização do sistema
de registro de preços nas
contratações de serviços
de natureza continuada
DIVULGAÇÃO
60
nais do órgão ou entidade.
”
REVISTA PRÁTICA FORENSE - Nº 40 - ABRIL/2020
O
que caracteriza o caráter contínuo de um serviço é a sua essenciali-
dade para assegurar a integridade do patrimônio público de forma
rotineira e permanente, ou para manter o funcionamento das ativida-
des finalísticas do órgão ou entidade, de modo que a sua interrupção
possa comprometer a prestação do serviço público.
A índole contínua do serviço demanda análise casuística, cujos vetores são:
(a) se a execução do serviço a ser contratado constitui atividade cuja interrupção
possa comprometer os objetivos institucionais; (b) se a prestação deva ocorrer em
período indefinido ou definido e longo, para a satisfação de necessidade pública
permanente; e (c) se a atividade é de apoio à realização das atividades essenciais
do órgão ou entidade.
Disto conclui-se que serviços contínuos são aqueles que constituem necessi-
dade permanente da contratante, que se repetem periódica ou sistematicamente,
ligados ou não a sua atividade fim, ainda que sua execução seja realizada de forma
intermitente ou por diferentes trabalhadores. A título ilustrativo, configuram ser-
viços de natureza contínua: telefonia, vigilância, limpeza e conservação, recepção
e manutenção de elevadores e de veículos.
No âmbito da jurisprudência do Tribunal de Contas da União colhe-se que: [...]
as características necessárias para que um serviço seja considerado contínuo são:
essencialidade, execução de forma contínua, de longa duração, e possibilidade
de que o fracionamento em períodos venha a prejudicar a execução do serviço.
(Acórdão nº 766/2010 – Plenário, Rel. Min. José Jorge, Processo nº 006.693/2009-3).
Serviços continuados, segundo a Instrução Normativa SEGES nº 5, de 2017,
do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão (atual Ministério da
Economia), são aqueles que, pela sua essencialidade, visam atender à necessi-
dade pública de forma permanente e contínua, por mais de um exercício finan-
ceiro, assegurando a integridade do patrimônio público ou o funcionamento das
atividades finalísticas do órgão ou entidade, de modo que sua interrupção possa
comprometer a prestação de um serviço público ou o cumprimento da missão
institucional.
De outro lado, segundo a referida Instrução Normativa, consideram-se serviços
não continuados ou contratados por escopo aqueles que impõem ao contratado
o dever de realizar a prestação de um serviço específico em um período predeter-
minado, podendo ser prorrogado, desde que justificadamente, pelo prazo neces-
sário à conclusão do objeto, observadas as hipóteses previstas no § 1º do art. 57
da Lei nº 8.666/1993. No contrato por escopo o que se tem em vista é a obtenção
de seu objeto concluído, operando o prazo como limite de tempo para a entrega
da obra, do serviço ou da compra.
Se o serviço não for classificado como de natureza continuada, a duração do
termo de contrato (prazo de vigência) deverá observar a regra do art. 57, caput,
da Lei nº 8.666/1993, ou seja, estará limitada ao exercício financeiro em que
celebrado. O art. 167, II, da Constituição Federal veda a realização de despesas
ou a assunção de obrigações diretas que excedam os créditos orçamentários ou
adicionais. O art. 57, caput, da Lei nº 8.666/1993, em cumprimento ao comando
constitucional, dispõe que a duração dos contratos por ela regidos deve ficar
adstrita à vigência dos respectivos créditos orçamentários, os quais são fixados,
anualmente, por meio de lei orçamentária (art. 165, § 5º, da Constituição Federal).
[...] 9.6. determinar à Secretaria-Geral de Controle Externo desta Corte que, em reforço
ao constante do item 9.3 do Acórdão 757/2015-Plenário, oriente suas unidades sobre a
necessidade de sempre avaliar os seguintes aspectos em processos envolvendo pregões
para registro de preços: [...]
9.6.2. a hipótese autorizadora para adoção do sistema de registro de preços, indicando
se seria o caso de contratações frequentes e entregas parceladas (e não de contratação e
entrega únicas), ou de atendimento a vários órgãos (e não apenas um), ou de impossibili-
dade de definição prévia do quantitativo a ser demandado (e não de serviços mensurados com
antecedência) – art. 3º do Decreto nº 7.892/2013 e Acórdãos 113 e 1.737/2012, ambos do
Plenário; (grifei) [...]
9.7. recomendar à Advocacia-Geral da União (AGU) que oriente seus membros quanto
à importância de se observarem os aspectos do item 9.6 supra, quando da avaliação de
minutas de editais de pregões para registro de preços; (Acórdão nº 2037/2019 – Plenário,
Rel. Min. Augusto Sherman, Processo nº 014.760/2018-5).
decorrer a celebração de ajuste com prazo de vigência por até sessenta meses, ou
seja, na forma preconizada pelo art. 57, II, da Lei nº 8.666/1993, caso o serviço seja
considerado de natureza continuada. Surgindo a demanda, ou seja, a necessidade
de encaminhar o equipamento ou veículo para manutenção corretiva (conserto)
este será encaminhado à sociedade empresária vencedora da disputa (contratada)
para a prestação do serviço durante o prazo de vigência do termo de contrato (e não
durante o prazo de validade da ata de registro de preços), o qual poderá alcançar
o limite de sessenta meses, efetivando-se o pagamento em conformidade com o
serviço prestado (atestado pela fiscalização) e o critério de julgamento previsto
no edital da licitação.
não se enquadram na exigência disposta no inciso IV transcrito acima. Entretanto, não vejo
óbices para que eventuais contratações atendam a um dos demais incisos do referido dis-
positivo, pois a subsunção da situação de fato a apenas uma dessas condições pode tornar
regular a utilização do sistema de registro de preços.
A proibição apenas em razão de não haver incerteza nos quantitativos a serem con-
tratados resultaria em interpretação tal que condicionaria a adoção do registro de preços
aos casos de preenchimento cumulativo de todas as hipóteses elencadas no art. 2º do
Decreto, o que considero limitar o SRP excessivamente e extrapolar os limites legalmente
estabelecidos.
Vislumbro a importância da utilização do SRP nos casos enquadrados no inciso III, por
exemplo, onde, a partir de uma cooperação mútua entre órgãos/entidades diferentes,
incluindo aí um planejamento consistente de suas necessidades, a formação de uma ata
de registro de preços poderia resultar em benefícios importantes. Também nos casos de
contratação de serviços frequentemente demandados, mas que não sejam necessários inin-
terruptamente, a ata poderia ser uma solução eficaz e que se coaduna com a eficiência e a
economicidade almejadas na aplicação de recursos públicos (grifei) (Acórdão nº 1.737/2012
– Plenário, Processo nº 016.762/2009-6, Rel. Min. Ana Arraes).
Art. 3º O Sistema de Registro de Preços poderá ser adotado nas seguintes hipóteses:
[...]
IV – quando, pela natureza do objeto, não for possível definir previamente o quantita-
tivo a ser demandado pela Administração.
25. Nos termos do art. 2º, inciso I, do Decreto 7.892/2013, o sistema de registro de preços
é “conjunto de procedimentos para registro formal de preços relativos à prestação de serviços
O Projeto de Lei nº 1292, de 1995, que almeja revogar a Lei nº 8.666/1993, a Lei
nº 10.520/2002 e, também, a Lei nº 12.462/2011 (Regime Diferenciado de Con-
tratações Públicas – RDC), assim dispõe a respeito da utilização do sistema de
registro de preços:
Art. 6º [...]
XLV – sistema de registro de preços: conjunto de procedimentos para realização, mediante
contratação direta ou licitação nas modalidades pregão ou concorrência, de registro formal
de preços relativos a prestação de serviços, a obras e a aquisição e locação de bens para
contratações futuras;
[...]
Art. 81 [...]
§ 5º O sistema de registro de preços poderá ser usado para a contratação de bens e
serviços, inclusive de obras e serviços de engenharia, e observará as seguintes condições:
[...]
Art. 84. A Administração poderá contratar a execução de obras e serviços de engenharia
pelo sistema de registro de preços, desde que atendidos os seguintes requisitos:
I – existência de projeto padronizado, sem complexidade técnica e operacional;
II – necessidade permanente ou frequente de obra ou serviço a ser contratado.
Veja-se que no novo marco legal das licitações será possível a utilização do
sistema de registro de preços para futuras contratações de serviços, inclusive de
engenharia, obras e aquisições e locações de bens.
Nas contratações de serviços de engenharia e obras, o sistema de registro de
preços somente será admitido se existir projeto padronizado, sem complexidade
técnica e operacional, e necessidade permanente ou frequente da obra ou ser-
viço a ser contratado, requisito esse que se compatibiliza com o atual sistema de
registro de preços o qual privilegia sua utilização quando necessária a realização
de contratações frequentes de um mesmo objeto (contratações de um mesmo
objeto que podem ser dissociadas ou fragmentadas), com o propósito de diminuir
o tempo necessário para a efetivação das aquisições necessárias ao atendimento
das demandas da administração.
O Projeto de Lei mantém a utilização das modalidades pregão e concorrência
para o processamento do sistema de registro de preços, nos moldes do atual regime
de licitações. Veja-se, contudo, que não há sentido em manter-se a previsão dessas
duas modalidades no novo marco legal, aplicáveis para o processamento do sistema
CONCLUSÃO
1 O Tribunal de Contas da União deu ciência a uma prefeitura municipal de que em licitação rea-
lizada por meio de pregão eletrônico foi detectada a utilização do sistema de registro de pre-
ços para contratação imediata de serviços continuados e específicos, com quantitativos certos
e determinados, não havendo parcelamento de entregas do objeto, em descumprimento ao
disposto no art. 3° do Decreto Federal nº 7.892/13 (Acórdão nº 1.604/2017 – Plenário, Rel. Min.
Vital do Rêgo, Processo nº 017.311/2016-3).
2 A Lei nº 8.666/1993 (art. 6º, IX) define o projeto básico como sendo o conjunto de elementos
necessários e suficientes, com nível de precisão adequado, para caracterizar a obra ou serviço,
ou complexo de obras ou serviços objeto da licitação, elaborado com base nas indicações dos
estudos técnicos preliminares, que assegurem a viabilidade técnica e o adequado tratamento
do impacto ambiental do empreendimento, e que possibilite a avaliação do custo da obra e a
definição dos métodos e do prazo de execução. Já o art. 3º, II, da Lei nº 10.520/2002 (Lei do Pre-
gão) estabelece que na fase preparatória do pregão o objeto da licitação deverá ser definido
de forma precisa, suficiente e clara, vedadas especificações que, por excessivas, irrelevantes ou
desnecessárias, limitem a competição.
3 Veja-se que de acordo com o art. 12, § 1º, do Decreto nº 7.892/2013, é vedado efetuar acrésci-
mos nos quantitativos fixados pela ata de registro de preços, inclusive o acréscimo de que trata
o § 1º do art. 65 da Lei nº 8.666/1993. Já o termo de contrato decorrente da ata de registro de
preços admite alterações, consoante estabelece o § 3º do art. 12 do referido diploma.
MARINÊS RESTELATTO DOTTI é Advogada da União. Especialista em Direito do Estado e em Direito e Economia
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pela Universidade Federal do Estado do Rio Grande do Sul (UFRGS). Autora da seguinte obra: Governança nas
contratações públicas – Aplicação efetiva de diretrizes, responsabilidade e transparência – Inter-relação com o
direito fundamental à boa administração e o combate à corrupção. Coautora das seguintes obras: (a) Políticas
públicas nas licitações e contratações administrativas; (b) Limitações constitucionais da atividade contratual da
administração pública; (c) Convênios e outros instrumentos de Administração Consensual na gestão pública do século XXI.
Restrições em ano eleitoral; (d) Da responsabilidade de agentes públicos e privados nos processos administrativos de licitação
e contratação; (e) Gestão e probidade na parceria entre Estado, OS e OSCIP; (f ) Microempresas, empresas de pequeno porte
e sociedades cooperativas nas contratações públicas; (g) Comentários ao RDC integrado ao sistema brasileiro de licitações e
contratações públicas; (h) 1000 perguntas e respostas necessárias sobre licitação e contrato administrativo na ordem jurídica
brasileira; e (i) Comentários à lei das empresas estatais: Lei nº 13.303/16. Colaboradora nas obras: (a) Direito do estado: Novas
tendências; (b) Direito Público do Trabalho – Estudos em homenagem a Ivan D. Rodrigues Alves; (c) Contratações públicas –
Estudos em homenagem ao professor Carlos Pinto Coelho Motta; (d) Licitações públicas – Estudos em homenagem ao jurista
Jorge Ulisses Jacoby Fernandes; (e) Comentários ao sistema legal brasileiro de licitações e contratos administrativos; e (f ) Temas
Atuais de Direito Público. Professora nos cursos de: Pós-Graduação em Direito Público com ênfase em Direito Administrativo
da UniRitter – Laureate International Universities e em Direito Administrativo e Gestão Pública da Fundação Escola Superior do
Ministério Público no Estado do Rio Grande do Sul. Professora nos seguintes cursos de extensão: “Capacitação em Licitações
e Contratos Administrativos” da Escola da Magistratura no Estado do Rio Grande do Sul, “Prática em Licitações e Contratações
Públicas” e “Prática em Licitações e Contratações das Empresas Estatais” da Escola Superior da Magistratura Federal do Estado
do Rio Grande do Sul. Conferencista na área de licitações e contratações da administração pública
Prisão temporária em
crimes associativos
(organização criminosa,
associação criminosa entre outros):
A desestabilização associativa
DIVULGAÇÃO
“De maneira singela e objetiva, podemos afirmar que a investigação criminal ampla
consiste em procedimento metódico e regulado empregue no conhecimento de um
evento criminal, que proporciona ao sujeito cognoscente informações sobre o mesmo, e
que lhe permite o encaminhamento de uma solução, seja ela parcial provisória ou defini-
tiva” (SANTOS, 2020, p. 67).
“Na redação original da Parte Geral do Código Penal, isto é, anteriormente à entrada em
vigor da Lei nº 7.209/1984, o instituto era denominado simplesmente de “coautoria”, de forma
pouco abrangente e imprecisa, por desprezar a figura da participação. Atualmente, o Código
Penal fala em “concursos de pessoas”. (...) É a colaboração empreendida por duas ou mais pes-
soas para a realização de um crime ou de uma contravenção penal” (MASSON, 2016, p. 564).
“Por ter vida própria dentro do inquérito policial, a prisão temporária é cautelar des-
tinada a legitimar, imediatamente (tutela-meio) a investigação policial e mediatamente
(tutela-fim), angariar substrato material ao órgão acusador para ajuizamento da ação penal”.
(FREITAS, 2004, p. 99).
“Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-se a:
I – necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução criminal
e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática de infrações penais;
II – adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pes-
soais do indiciado ou acusado.
§ 1º As medidas cautelares poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente.
§ 2º As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz, de ofício ou a requerimento das
partes ou, quando no curso da investigação criminal, por representação da autoridade poli-
cial ou mediante requerimento do Ministério Público.
§ 3º Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ineficácia da medida, o juiz, ao
receber o pedido de medida cautelar, determinará a intimação da parte contrária, acompa-
nhada de cópia do requerimento e das peças necessárias, permanecendo os autos em juízo.
§ 4º No caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas, o juiz, de ofício
ou mediante requerimento do Ministério Público, de seu assistente ou do querelante, poderá
substituir a medida, impor outra em cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão pre-
ventiva (art. 312, parágrafo único).
§ 5º O juiz poderá revogar a medida cautelar ou substituí-la quando verificar a falta
de motivo para que subsista, bem como voltar a decretá-la, se sobrevierem razões que a
justifiquem.
§ 6º A prisão preventiva será determinada quando não for cabível a sua substituição
por outra medida cautelar (art. 319)”.
“Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença conde-
natória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude de
prisão temporária ou prisão preventiva.”
“[...] Enquanto isso não se opera, a única hipótese de decreto de temporária em casos
de “Organização Criminosa” ou “Constituição de Milícia Privada” será por meio dos crimes
A nova Lei de Abuso de Autoridade – Lei nº 13.869/19 – gerou desde sua publi-
cação enésimas discussões sobre a atuação de juízes, promotores e delegados de
polícia, criando um espectro de incertezas quanto ao entendimento do movimento
de fundamentação de decisões administrativas e judiciais que detenham relação
com a prática penal-processual. Frisa-se que a lei de abuso de autoridade deu nova
redação e alterou a Lei de Prisão Temporária nos seguintes termos:
Neste ponto, uma decisão que decreta a prisão deve ter em si fundamentos
para tanto, ou seja, devem ser encaixadas às hipóteses legais que se estruturaram
em todo ordenamento jurídico, criando um lastro de legalidade. Assim, torna-se
imperioso a estruturação de forma técnica – e sua relação com a doutrina jurídica
– do termo “imprescindíveis para as investigações do inquérito policial”, tendo,
na presente proposta, uma das hipóteses legais de cabimento quando diante de
crimes associativos.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Câmera dos Deputados. Projeto de Lei PL 3764/2019. Altera a Lei nº 7.960, de 21 dezem-
bro de 1989, que dispõe sobre prisão temporária.. Disponível em: <https://www.camara.leg.
br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1770513> . Acesso em: 18 abr. 2020. Texto
Original.
CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Organização criminosa, milícia privada e associação criminosa: pri-
são temporária. Publicado em 09 de dezembro de 2013 no site do JusBrasil. Disponível em:
<https://eduardocabette.jusbrasil.com.br/artigos/121938026/organizacao-criminosa-milicia
-privada-e-associacao-criminosa-prisao-temporaria>. Acesso em 18 de abril de 2020.
CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 10. ed. Saraiva.
FREITAS, Jayme Walmer de. Prisão temporária. São Paulo: Saraiva, 2004
LIMA, Renato Brasileiro de. Legislação Criminal Especial Comentada. 2. ed. revista, ampliada e atua-
lizada. JusPODIVM. Salvador, 2014.
MASON, Cleber. Direito Penal Esquematizado – Parte Geral – vol.1. 10. ed. São Paulo: Forense, 2016.
YAROCHESKY, Leonardo. Por uma política criminal responsável. Publicado em: 17 fev. 2016. Dispo-
nível em <https://www.brasil247.com/blog/por-uma-politica-criminal-responsavel>. Acesso
em: 13 abr. 2020.
SANTOS, Célio Jacinto dos. Teoria da Investigação Criminal. Belo Horizonte: Del Rey, 2020.
ARQUIVO PESSOAL
BRENO EDUARDO CAMPOS ALVES é Delegado de Polícia Civil do Estado do Tocantins. Pós-graduado em Direito
em Administração Pública; Pós-graduado em Ciências Criminais; Pós-graduado em Gestão em Segurança Pública;
Pós-graduado em Criminologia; Especialista em Medidas Operativas de Combate ao Tráfico Ilícito de Drogas
JOAQUIM LEITÃO JÚNIOR é Delegado de Polícia no Estado de Mato Grosso. Atualmente Assessor Institucional
ARQUIVO PESSOAL
da Polícia Judiciária Civil do Estado de Mato Grosso. Ex-assessor do Tribunal de Justiça de Mato Grosso. Pós-gra-
duado em Ciências Penais pela rede de ensino Luiz Flávio Gomes (LFG) em parceria com Universidade de Santa
Catarina (UNISUL). Pós-graduado em Gestão Municipal pela Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT e
pela Universidade Aberta do Brasil. Curso de Extensão pela Universidade de São Paulo (USP) de Integração de Com-
petências no Desempenho da Atividade Judiciária com Usuários e Dependentes de Drogas. Colunista do site Justiça e Polícia,
coautor de obras jurídicas, autor de artigos jurídicos, palestrante e professor de cursos preparatórios para concursos públicos.
Contrapartidas
inadequadas da ANS
aos Planos de Saúde
POR Fernando Bianchi
Conciliação e mediação
pré-processuais em
disputas empresariais
Projeto-piloto da Corregedoria
do TJ/SP para disputas
derivadas da Covid-19
POR Luís Rodolfo Cruz e Creuz
LUÍS RODOLFO CRUZ E CREUZ é Advogado e Consultor em São Paulo, Brasil. Sócio de Cruz & Creuz Advogados.
ARQUIVO PESSOAL
Doutor em Direito Comercial pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo – USP (2019); Certificate
Program in Advanced Topics in Business Strategy University of La Verne – Califórnia (2018); Mestre em Relações
Internacionais pelo Programa Santiago Dantas, do convênio das Universidades UNESP/UNICAMP/PUC-SP (2010);
Mestre em Direito e Integração da América Latina pelo PROLAM – Programa de Pós-Graduação em Integração da
América Latina da Universidade de São Paulo – USP (2010); Pós-graduado em Direito Societário – LLM – Direito Societário, do
INSPER (São Paulo) (2005); Bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP.Bacharel em Direito
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP.
O estado democrático de
direito e a necessidade
da fundamentação das
decisões judiciais
NOTAS
1 “A garantia constitucional estatuída no art. 93, IX, da Constituição Federal é exigência inerente ao
Estado Democrático de Direito e, por outro, é instrumento para viabilizar o controle das decisões
judiciais e assegurar o exercício do direito de defesa. A decisão judicial não é um ato autoritário,
um ato que nasce do arbítrio do julgador, daí a necessidade da sua apropriada fundamentação.”
(Supremo Tribunal Federal, Recurso Extraordinário nº 540.995-RJ).
2 FERRAJOLI, Luigi. Derecho y Razón – Teoría del garantismo penal. Madrid: Editorial Trotta, 3. ed.,
1998, p. 547.
3 GOMES FILHO, Antonio Magalhães. A motivação das decisões penais. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2001, páginas 79, 80 e 95.
4 CANTÓN, Fernando Díaz. La motivación de la sentencia penal y otros estudios; Buenos Aires:
Editores del Puerto, 2005, p. 107.
5 A propósito, o Superior Tribunal de Justiça, julgando o pedido de Habeas Corpus nº. 90.509,
decidiu anular o recebimento de uma denúncia, e os atos que lhe foram subsequentes, sob o
argumento de que, “embora não se exija fundamentação exaustiva quando o juízo afasta ar-
gumentos de resposta à acusação, é necessário que o ato seja minimamente motivado, permi-
tindo ao acusado conhecer os elementos que levaram o juiz a decidir pelo prosseguimento da
ação penal.” Para o relator do processo, Ministro Antonio Saldanha Palheiro, no caso concreto,
“o Juiz limitou-se a negar a pretensão do acusado, de forma genérica – e em decisão padroni-
zada, inclusive com a utilização de parênteses na decisão –, sem a mínima manifestação acerca
das teses defensivas.”
6 Veja-se, por todos: https://www.amb.com.br/fonaje/?p=32 e http://www.mpsp.mp.br/portal/
page/portal/Assessoria_Juridica/sumulas_de_entendimento, acessados em 16 de fevereiro de
2020.
7 LOPES JR., Aury e MORAES, Alexandre de, disponível aqui: https://www.conjur.com.br/2019-
set-13/voce-sabe-fundamentacao-per-relationem, acessado em 14 de setembro de 2019. Para
os autores, este tipo de fundamentação, “no processo penal, manifesta-se pela simples remis-
são ou transcrição por parte do julgador, ao alegado pelo Ministério Público. Sim, porque não
há noticias de fundamentação per relationem dos argumentos defensivos. A defesa, como re-
gra, não tem essa legitimidade toda, ao contrário do MP, cuja íntima relação e interação com os
julgadores já faz parte da tradição histórica do primitivo processo penal brasileiro, agudizando
ainda mais a diferença de tratamento. Então o julgador, ao invés de dar conta do seu dever de
fundamentar, adota os argumentos alheios, um recorta e cola. Inacreditavelmente, os tribunais
superiores foram coniventes com essa prática vergonhosa.” Eles têm toda a razão!
8 MAIER, Julio. Antología – El Proceso Penal Contemporáneo. Peru: Palestra Editores, 2008, p. 750.
9 DALARI, Dalmo de Abreu. O Poder dos Juízes. São Paulo: Saraiva, 2. ed., 2002, p. 89/90.
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RÔMULO DE ANDRADE MOREIRA é Procurador de Justiça no Ministério Público do Estado da Bahia e Professor
de Direito Processual Penal na Faculdade de Direito da Universidade Salvador – UNIFACS.
N
o dia 8 de abril, foi editada a Medida Provisória nº 948 (MP 948), que
dispôs sobre o cancelamento de serviços, de reservas e de eventos
dos setores de turismo e cultura em razão do estado de calamidade
pública reconhecido pelo Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março
de 2020, e da emergência de saúde pública de importância internacional de-
corrente do novo coronavírus (Covid-19). A MP 948 foi publicada em edição
extra do Diário Oficial da União (DOU) na mesma data de sua edição e tem
validade imediata pelos próximos 60 dias, embora ainda precise ser aprovada
pelo Congresso Nacional.
Na hipótese de cancelamento de serviços, de reservas e de eventos, inclu-
sive shows e espetáculos, a MP 948 previu que o prestador de serviço ou a
empresa não serão obrigados a reembolsar o consumidor pelos valores pagos
se (i) assegurarem a remarcação dos serviços, das reservas e dos eventos can-
celados; (ii) disponibilizarem o crédito para uso ou o respectivo abatimento na
compra de outros serviços, reservas e eventos, disponíveis nessas empresas;
ou (iii) celebrarem outro acordo com o consumidor.
Na impossibilidade do oferecimento dessas alternativas, o consumidor deverá
ter o valor da compra restituído, atualizado monetariamente pelo Índice Nacional
de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E), no prazo de 12 meses, con-
tado da data de encerramento do estado de calamidade pública.
Assim sendo, as empresas e os prestadores de serviços devem comunicar os
seus consumidores com a maior brevidade eventuais alterações nos seus ser-
viços, reservas e eventos agendados, recomendando-se que busquem, já nessa
oportunidade, minimizar os efeitos da pandemia do novo coronavírus (Covid-
19) em seus negócios.
Além disso, de modo geral, recomenda-se a empatia e a colaboração para
todos os envolvidos: empresas, prestadores de serviços e consumidores, a fim
de que trabalhem em conjunto em soluções satisfatórias para a realidade eco-
nômica de cada um, evitando futuros conflitos.
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GUSTAVO MILARÉ ALMEIDA é Advogado; JOÃO PEDRO ALVES PINTO é Advogado asso-
Mestre e doutor em Direito pela Universidade ciado de Meirelles Milaré Advogados.
de São Paulo (USP) e sócio de Meirelles
Milaré Advogados.