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APOSTILA:

FUNDAMENTOS DE TRANSFERÊNCIA DE MASSA

AUTORES:

HARVEY ALEXANDER VILLA VÉLEZ - PROFESSOR

EMANUELLE SANTOS DE MENEZES – DISCENTE


GUSTAVO FURTADO BEZERRA - DISCENTE

FENÔMENOS DE TRANSPORTE III


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA

SÃO LUIS
2019
UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
Fundação Instituída nos termos da Lei nº 5.152, de 21/10/1966 – São Luís - Maranhão.
Coordenação do Curso de Engenharia Química

1 INTRODUÇÃO

Difusão é o processo pelo qual a matéria é transportada de uma parte de um


sistema para outro como resultado de movimentos moleculares aleatórios. É geralmente
ilustrado pelo experimento clássico em que um vaso cilíndrico tem sua parte inferior
preenchida com solução de iodo e uma coluna de água limpa é derramada em cima,
cuidadosa e lentamente, a modo que nenhuma corrente de convecção é configurada.
No início, a parte colorida é separada da clara por um limite bem definido. Mais tarde,
descobriu-se que a parte superior fica colorida, a cor ficando mais fraca em direção ao
topo, enquanto a parte inferior fica menos intensamente colorida. Depois de um tempo
suficiente, toda a solução aparece uniformemente colorida. Existe, portanto,
evidentemente, uma transferência de moléculas de iodo da parte inferior para a parte
superior do vaso, ocorrendo na ausência de correntes de convecção. O iodo é dito ter
difundido na água.
A difusão é causada pelo movimento molecular aleatório (ao acaso) que conduz
à completa mistura. Pode ser um processo bastante lento. Numa sequência de
fenômenos, a difusão geralmente é a etapa que limita a taxa global do processo. Em
gases e líquidos as taxas desses processos de difusão podem frequentemente ser
aceleradas por agitação. A agitação evidentemente não é um processo molecular, mas
um processo macroscópico que move porções de fluido sobre distâncias bem maiores.
A descrição da difusão envolve um modelo baseado numa hipótese fundamental
ou "lei". Há duas alternativas para tal lei. A mais fundamental, a lei de difusão de Fick,
usa um coeficiente de difusão. Esta é a lei comumente citada na descrição da difusão.
Descreve bem fenômenos na área de física, físico-química e biologia. A segunda, que
não tem nome formal, envolve um coeficiente de transferência de massa. Esses
coeficientes são muito utilizados em projetos de equipamentos e estudos de processo
na área de engenharia, desde que as variações sejam limitadas a pequenas partes do
sistema (interfaces).

A evaporação simples de um líquido A (por exemplo acetona, Figura 1) leva ao


transporte por difusão do vapor de A através da coluna de ar (B) de altura L.

Por que razão os vapores de acetona se difundem através do ar?

Na interface acetona/ar a concentração de vapor de acetona no ar, xA0, é dada


A
à pressão (P) e temperatura (T) em questão pela pressão de vapor da acetona ( Pv )
dividida pela pressão total (P):

PvA
x A0  (Lei de Raoult).
P

A concentração de acetona no topo da coluna, se esta fosse ser varrida por uma
corrente transversal de ar puro a grande velocidade, é praticamente nula, pois a acetona
dispersa-se rapidamente no ar.

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Figura 1 - Evaporação de acetona.

A diferença de concentrações ao longo de L estabelece assim um gradiente de


concentrações responsável por um fluxo difusivo (mol/m2s ou kg/m2s) de acetona
através da interface gás-líquido de área Az.

2 DIFUSÃO EM SISTEMAS BINÁRIOS

De acordo com a Figura 1, estabelece-se um gradiente de concentrações de


vapor de A entre a interface líquido/gás, onde a concentração de A é igual à sua
concentração de saturação à temperatura e pressão de operação, e o topo da coluna,
onde a concentração de A é nula devido ao arraste rápido de vapor de A pela corrente
transversal de B.
Através de uma série de trabalhos baseados experimentalmente, interpretações
teóricas e analogias com a lei de Fourier para condução de calor e com a lei de Ohm,
Fick estabelece a descrição matemática da difusão em estado estacionário para
soluções binárias, ideais, diluídas e de densidade constante. Esta descrição matemática
vem a ser apelidada de 1º Lei de Fick e traduz, para fluxos baixos, a variação linear do
fluxo difusivo, jAZ (kg/m2s), com o gradiente de concentrações dρA/dz (kg/m4) através de
uma constante de proporcionalidade, a difusividade ou coeficiente binário de difusão de
A em B, DAB (m2/s):
d A
jAz   DAB (1)
dz
Se ρ for constante, e atendendo a que ρA = ρꞷA:
d A
jAz    DAB (2)
dz
Igualmente, para fluxos difusivos molares, jAZ (moles m2/s), a 1º lei de Fick é
expressa por:

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dCA
jAz   DAB (3)
dz
Para uma concentração molar constante da mistura, C, e atendendo a que
CA = CxA:

dxA
jAz  CDAB (4)
dz

2.1 Coeficientes de difusão em gases

Com base na teoria cinética dos gases para misturas binárias diluídas de A em
B, o método mais comum de estimativa do coeficiente de difusão de A em B, DAB, recorre
à equação de Chapman-Enskog:
1
3  1 1 2
1,86 103 T 2   
DAB   MA MB 
(5)
P AB
2

onde, DAB é o coeficiente difusivo para gases (cm2/s), T é a temperatura absoluta (K), P
a pressão (atm), 𝑀𝐴 e 𝑀𝐵 são os pesos moleculares de A e B. O diâmetro de colisão em
Angstroms, 𝜎𝐴𝐵 , é dado pela média aritmética dos parâmetros 𝜎𝐴 e 𝜎𝐵 . Estes e o
parâmetro adimensional de Lennard-Jones, Ω, são estimados para gases não polares
por alguns autores.

2.2 Coeficientes de difusão em líquidos

Os valores muito baixos de coeficientes de difusão de macrosolutos em líquidos


fazem com que muitos processos fisiológicos e industriais sejam limitados pela difusão.
Esta situação torna muito importante e necessária a estimativa destes coeficientes de
difusão em muitas situações práticas. Estas estimativas são frequentemente feitas
através da equação de Stokes-Einstein:
k BT kT
DAB   B (6)
f 6 R0
onde f é o fator de atrito, 𝑘𝐵 a constante de Boltzmann, μ a viscosidade do solvente e
𝑅0 é o raio de Stokes do soluto. Esta equação foi deduzida assumindo o soluto como
uma esfera rígida que se difunde num meio contínuo de solvente e implicando portanto
um raio de soluto muito maior (pelo menos cinco vezes) que o raio do solvente.

Exemplo 1

Estime o raio de Stokes da albumina humana, a proteína predominante no


sangue, sabendo que o seu coeficiente de difusão em água (μ=110-3 Pa.s) a 25ºC é
aproximadamente igual a 7,210-11 m2/s. (Dados: 𝑘𝐵 =1,3810-23 J/K).

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Resolução – A estimativa do raio de Stokes da albumina pode ser efetuada por


aplicação direta da equação de Stokes-Einstein (Equação 6):

kBT 1,38 1023  25  273,15 


DAB    3 109 m
6 R0 6   3,1416 103    7, 2 1011 

2.3 Coeficientes de difusão em sólidos

Os valores típicos de coeficientes de difusão em sólidos são caracterizados por


serem muito pequenos, vários milhares de vezes mais baixos do que os dos líquidos.
Além disso, distribuem-se por uma gama muito alargada de valores. A falta de precisão
na estimativa de coeficientes de difusão em sólidos é muito acentuada e faz com que
na maioria das situações se tenha que recorrer a valores experimentais. A equação de
Knudsen é a mais representativa para determinar o coeficiente difusivo em sólidos
porosos:

DAB  D (7)
B
 é a porosidade,  é a tortuosidade, D é o coeficiente de difusão do fluido não confinado
e, B é um parâmetro de interação sólido/fluido.
Correlações como a de Gajdos e Brenner e, Renkin propõe a variação do
coeficiente de difusão do fluido não confinado em relação ao coeficiente de difusão livre:

 1   ln   1,54  O   2  Gajdos e Brenner


D 9
(8)
D0 8
D
 1    1  2,1  2, 09 3  0,95 5  Re nkin
2
(9)
D0
onde  é a razão entre o diâmetro do soluto e o diâmetro do poro e O(2) é o erro,
normalmente desprezado.
Exemplo 2

Estime o coeficiente de difusão da glucose (raio 0,36 nm) nos poros (raio 2 nm)
de uma membrana celular, a 37°C. Admita que o coeficiente de difusão da glucose em
água, a 37°C, é DAB=7,210-10 m2/s.

Resolução – Utilizando a correlação de Renkin, com =0,36/2, tem-se:


D
 1  0,18  1  2,1 0,18   2, 09  0,18   0,95  0,18    0, 426
2 3 5

D0  

Portanto,
D  0, 426 DAB  0, 426  7, 2 1010  3,11010 m2 s

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3 RELAÇÃO DE CONCENTRAÇÃO MOLAR E MÁSSICA

Considere a Figura 1 e admita que as moléculas do vapor A têm uma velocidade


média segundo z, 𝑣𝐴𝑧 , e as do gás B, 𝑣𝐵𝑧 . A velocidade da mistura gasosa binária não
é uma média simples destas velocidades, pois as concentrações de A e B não são
iguais. Se as concentrações mássicas (kg/m3) forem respectivamente 𝜌𝐴 e 𝜌𝐵 , os
caudais mássicos, 𝑊𝐴 e 𝑊𝐵 (kg/s) destes componentes através da área 𝐴𝑧 ,
perpendicular a z, são respectivamente:
WA   AvAz Az (10)

WB  B vBz Az (11)

e os respectivos fluxos mássicos, 𝑛𝐴𝑧 e 𝑛𝐵𝑧 , em kg/m2s são:


nAz   AvAz (12)

nBz  B vBz (13)

O fluxo total, 𝑛𝑧 , será:


nz  nAz  nBz   AvAz   B vBz (14)

Por anologia com as Equações (10) e (11), a velocidade média mássica da


mistura, 𝑣𝑧 , é introduzida através da equação:
nz   vz (15)

e, portanto:
 AvAz   B vBz
vz    AvAz  B vBz (16)

em que 𝜌 = 𝜌𝐴 + 𝜌𝐵 é a massa específica da mistura e 𝜔𝐴 e 𝜔𝐵 são respectivamente as
frações mássicas de A e B na mistura. Se em vez de uma mistura binária como no caso
anterior tivermos uma mistura de n componentes, a velocidade média mássica da
mistura é dada por:
n

 v i iz n
vz  i 1
n
  i viz (17)

i 1
i
i 1

em que 𝜌𝑖 , 𝑣𝑖𝑧 e ꞷ𝑖 são respectivamente a concentração mássica, a velocidade média


segundo z e a fração mássica do componente i da mistura. Se voltarmos às equações
de definição de fluxo de um componente de uma mistura binária, por exemplo a Equação
(10), e somarmos e subtrairmos 𝜌𝐴 𝑣𝑧 teremos:
nAz   Av Az   v Az   Avz   Avz   A  v AZ  vz    Avz  j AZ (18)

em que o termo 𝜌𝐴 𝑣𝑧 é o fluxo convectivo de A e o termo 𝜌𝐴 (𝑣𝐴𝑧 − 𝑣𝑧 ) = 𝑗𝐴𝑧 é o fluxo


difusivo de A. O primeiro termo considera o movimento da mistura em relação a um

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referencial fixo e o transporte de A é feito por arraste na mistura – o soluto A é


transportado por convecção. O segundo termo representa o movimento de A em relação
a um referencial móvel (a mistura) que se desloca a uma velocidade média mássica 𝑣𝑧
– o soluto A é transportado por difusão.
Se em vez de concentrações mássicas usarmos as concentrações molares
3
(mol/m ) de A e B, respectivamente 𝐶𝐴 e 𝐶𝐵 , teremos por analogia com as Equações
(10) e (11) os fluxos molares desses componentes:
nAz  CAvAz (19)

nBz  CB vBz (20)

O fluxo total da mistura binária será:


nz  nAz  nBz  CAvAz  CB vBz (21)

Considerando para a mistura de A e B a sua velocidade média molar, 𝑣𝑧∗, e a sua


concentração molar total, C=CA+CB, então:
N z  Cvz (22)

e, portanto:

CAvAz  CB vBz
vz   xAvAz  xB vBz (23)
C
em que 𝑥𝐴 e 𝑥𝐵 são as frações molares de A e B. Para uma mistura de n componentes,
a velocidade média molar será:
n

C v i iz n
v  
z
i 1
n
  xi viz (24)
C
i 1
i
i 1

em que 𝐶𝑖 , 𝑣𝑖𝑧 e 𝑥𝑖 são respectivamente a concentração molar, a velocidade média


segundo z e a fração molar do componente i na mistura. Se voltarmos à definição de
fluxo molar de A numa mistura binária, dada pela Equação (18), e somarmos e
subtrairmos 𝐶𝐴 𝑣𝑧∗, teremos:

nAz  CAvAz  C Avz  C Avz  C Avz  C A  vAZ  vz   C Avz  j AZ (25)

em que 𝐶𝐴 𝑣𝑧∗ é o fluxo convectivo de A e 𝐽𝐴𝑧 = 𝐶𝐴 (𝑣𝐴𝑧 − 𝑣𝑧∗ ) é o fluxo difusivo de A


(expressos em unidades molares).

4 PRIMEIRA LEI DE FICK

Um grande número de problemas de difusão se dá em soluções diluídas. Por


exemplo, difusão em tecidos vivos envolve transporte de pequenas quantidades de
solutos como sais, anticorpos, enzimas, etc. Entretanto, na área de alimentos nem
sempre isso é verdade, uma vez que muitos processos envolvem soluções

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concentradas (processos de salga) e fluxos globais importantes (secagem de materiais


altamente deformáveis).
Como soluções concentradas não permitem negligenciar o transporte convectivo
causado pela própria difusão, isso gera certa complexidade aos modelos. Por outro lado,
entendendo-se bem o conceito de difusão, é mais fácil trabalhar em outras situações
mais complexas. Daí a vantagem de começar a estudar difusão em soluções diluídas,
pois neste caso pode-se trabalhar unicamente com o conceito de difusão, sem a
necessidade de incluir outros fenômenos de transporte. Os pioneiros a estudarem a
teoria da difusão foram Thomas Graham (nascido em 1805) e Adolf Fick (nascido em
1829).
Fick foi responsável pelos grandes avanços na teoria de difusão. Combinou
matemática com medicina (ele formou-se médico). Ainda que não se sentisse muito
seguro, ele reconheceu que a difusão pode ser descrita segundo a mesma base
matemática da lei de Fourier para condução de calor ou lei de Ohm para condução
elétrica.
Figura 2 - Concentração em função da posição ao longo do capilar.

Figura 3 - Concentração em função da posição ao longo do funil.

Mais tarde Fick tornou-se mais seguro na medida em que suas hipóteses foram
se mostrando consistentes com os resultados experimentais de Graham. Fick

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desenvolveu as leis de difusão por simples analogia com o trabalho de Fourier. Ele
definiu um fluxo em uma dimensão. As Figuras 2 e 3 representam aparatos
experimentais criados por Fick.
Vejamos a descrição do fluxo para a salga de queijo, considerando a área
transversal A, como proposto por Fick:

Taxa de difusão  A  Fluxo de sal  A  D


 Conc. de sal em z  0    Conc. de sal em z  L  (26)
 posição z  L    posição z  0 
Tomando-se um comprimento infinitesimal numa posição arbitrária z, a taxa será
descrita segundo:
C1 z  C1 z 
J  AJ1  AD lim z
(27)
 z 0 z z   z z
z

onde, 𝐽1 é o fluxo de difusão (molar), A é a área transversal através da qual a difusão


ocorre, 𝐶1 é a concentração e z a distância. D, que Fick chamou de "constante
dependente da natureza das substâncias" é, evidentemente, o coeficiente de difusão.
Daí vem a equação constitutiva de difusão chamada Primeira Lei de Fick:
dCA
J A   DAB (28)
dz

Exemplo 3

Uma mistura gasosa contendo 𝐻2 , 𝑁2 , 𝑂2 e vapor d’água é pressurizada contra uma


lâmina de 6mm de espessura de Paládio cuja área é 0,25 m2 a 600ºC. O coeficiente de
difusão é 𝐷𝐻/𝑃𝑑 (600ºC) = 1,710-8 m2/s e, a concentração no lado da placa de alta e
baixa pressão é respectivamente 2,0 e 0,4 kgH2/m3Pd. A difusão acontece em estado
estacionário. 𝐻2 é purificado por difundir-se mais rapidamente que os demais gases,
atingindo a outra face da lâmina que está mantida sob pressão atmosférica. Calcular o
fluxo de difusão do 𝐻2 (purificação) em kg/hora.

Resolução - A difusão acontece em regime estacionário: deve-se assim empregar a 1º


Lei de Fick:

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∆𝐶
𝐽 = −𝐷
∆𝑥

(0,4 − 2,0) 𝑘𝑔⁄ 3


−8 𝑚2⁄ 𝑚
𝐽 = −1,7. 10 𝑠𝑥 6. 10−3 𝑚
𝑘𝑔
2,72. 10−8 ⁄𝑚. 𝑠
𝐽=
6. 10−3 𝑚
𝑘𝑔⁄
𝐽 = 0,453. 10−5
𝑚2 . 𝑠

Pede-se que se calcule o fluxo em kg/h. Assim, precisamos multiplicar o


resultado pela área da lâmina:
𝑘𝑔⁄
𝐽 = 0,453. 10−5 𝑥0,25𝑚2
𝑚2 . 𝑠
𝑘𝑔⁄
𝐽 = 0,113. 10−5 𝑠

O fluxo resultante está expresso em kg/s. Precisamos determiná-lo em kg/h.


Sabe-se que:

1h = 60min = 3600s

Assim:
𝑘𝑔 𝑘𝑔
𝐽 ( ⁄ℎ) = 0,113. 10−5 ⁄𝑠 𝑥3600 𝑠⁄ℎ

𝑘𝑔⁄
𝐽 = 4,07. 10−3 ℎ

5 EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE

Em unidades mássicas o vetor fluxo é:

→ = 𝜌𝐴 → −𝜌𝐷𝐴𝐵 → 𝜔𝐴 (29)
𝑛𝐴 𝑣 ∇

a Equação da continuidade para o componente A é:


𝜕𝜌𝐴
𝜕𝑡
+(→→ ) = 𝑟𝐴 (30)
∇ 𝑛𝐴

e a substituição do fluxo na Equação (29) origina:


𝜕𝜌𝐴
+→ . (𝜌𝐴 →)=→ . (𝜌𝐷𝐴𝐵 → 𝜔𝐴 ) + 𝑟𝐴 (31)
𝜕𝑡 ∇ 𝑣 ∇ ∇

ou :

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𝜕𝜌𝐴
𝜕𝑡
+𝜌𝐴 → . → + → . → 𝜌𝐴 = → .(𝜌𝐷𝐴𝐵 → 𝜔𝐴 ) + 𝑟𝐴 (32)
∇ v v ∇ ∇ ∇

Por sua vez, em unidades molares, o vetor fluxo é:


→ = 𝐶𝐴 → − 𝐶𝐷𝐴𝐵 → 𝑥𝐴 (33)
𝑁𝐴 𝑣 ∇

e teremos a seguinte equação em unidades molares:


𝜕𝐶𝐴
+𝐶𝐴 → . → + → . → 𝐶𝐴 = → .(𝐶𝐷𝐴𝐵 → 𝑥𝐴 ) + 𝑅𝐴 (34)
𝜕𝑡 ∇ v v ∇ ∇ ∇

No caso de 𝐷𝐴𝐵 e 𝜌 serem constantes, as Equações (31) e (34) podem ser


simplificadas, da seguinte forma:
𝜕𝜌𝐴
𝜕𝑡
+→ . → 𝜌𝐴 = 𝜌𝐷𝐴𝐵 → .→ 𝜔𝐴 + 𝑟𝐴 (35)
v ∇ ∇ ∇
𝜕𝐶𝐴
𝜕𝑡
+→ . → 𝐶𝐴 = 𝐶𝐷𝐴𝐵 → .→ 𝑥𝐴 + 𝑅𝐴 (36)
v ∇ ∇ ∇

As equações (35) e (36) podem ainda ser apresentadas da seguinte forma:


𝜕𝜌𝐴 𝜕𝜌𝐴 𝜕𝜌𝐴 𝜕𝜌𝐴 𝜕2 𝜌 𝜕2 𝜌 𝜕2 𝜌
𝜕𝑡
+𝑣𝑥 𝜕𝑥
+ 𝑣𝑦 𝜕𝑦
+ 𝑣𝑧 𝜕𝑧
= 𝐷𝐴𝐵 ( 𝜕𝑥 2𝐴 ) + ( 𝜕𝑦2𝐴 ) + ( 𝜕𝑧2𝐴 )+ 𝑟𝐴 (37)

𝜕𝐶𝐴 𝜕𝐶𝐴 𝜕𝐶𝐴 𝜕𝐶𝐴 𝜕2 𝐶 𝜕2 𝐶 𝜕2 𝐶


𝜕𝑡
+𝑣𝑥 𝜕𝑥
+ 𝑣𝑦 𝜕𝑦
+ 𝑣𝑧 𝜕𝑧
= 𝐷𝐴𝐵 ( 𝜕𝑥 2𝐴 ) + ( 𝜕𝑦2𝐴 ) + ( 𝜕𝑧2𝐴 )+ 𝑅𝐴 (38)

Nessas equações foram identificados os termos que quantificam o transporte


convectivo e o transporte difusivo. Obtivemos assim as equações da continuidade para
A expressas em função de concentrações mássicas, 𝜌𝐴 , e molares, 𝐶𝐴 , e escritas em
coordenadas retangulares.
A equação da continuidade para coordenadas cilíndricas é a seguinte:
𝜕𝐶𝐴 𝜕𝐶𝐴 𝜕𝐶𝐴 𝜕𝐶𝐴 1 𝜕 𝜕𝐶𝐴 1 𝜕2 𝐶𝐴 𝜕2 𝐶𝐴
𝜕𝑡
+𝑣𝑟 𝜕𝑟
+ 𝑣𝜃 𝜕𝜃
+ 𝑣𝑧 𝜕𝑧
= 𝐷𝐴𝐵 [𝑟 𝜕𝑟 (𝑟 𝜕𝑟
) + 𝑟2 𝜕𝜃2
+ 𝜕𝑧 2
]+ 𝑅𝐴 (39)

Exemplo 4
Considere a situação de difusão unidirecional de um componente A em um meio
semi-infinito imóvel B com a ocorrência simultânea de uma reação química rápida entre
A e B. Utilize uma equação da continuidade adequada e derive a equação diferencial
que descreve o transporte do soluto A através de B.
Resolução – Trata-se de um sistema binário (A+B), no qual o soluto A é transportado
segundo uma única direção z. Se admitir que 𝐷𝐴𝐵 e C são constantes e se escolher um
sistema de coordenadas retangulares, pode-se aplicar a Equação 38, que expressa a
conservação de massa de A, como ponto de partida. Uma vez que o soluto A é
transportado unicamente por difusão e apenas na direção z, considera-se apenas o
termo de transporte 𝐷𝐴𝐵 𝜕 2 𝐶𝐴⁄𝜕𝑧 2 da Equação 38. Tratando-se de uma situação de
estado transiente com reação química, os termos de acumulação e de reação terão que
ser também considerados. Obtem-se assim uma equação efetuando um balanço de
massa a A em um elemento de volume diferencial 𝐴𝑍 ∆𝑍 :
𝜕𝐶𝐴 𝜕 2 𝐶𝐴
= 𝐷𝐴𝐵 − 𝑅𝐴
𝜕𝑡 𝜕𝑧 2

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Note-se que o termo de reação química é negativo, uma vez que A é consumido no
sistema.

6 COEFICIENTE DE TRANSFERÊNCIA DE MASSA EM SISTEMAS


MULTIFÁSICOS

Na indústria química, em equipamentos de absorção gasosa, arejamento,


extração líquido-líquido, a transferência de massa pode ocorrer através de interfases
que estão em contato, podendo ser gás-líquido ou liquido-liquido. Assim, para estas
operações unitárias são definidos coeficientes parciais em cada uma das fases, que vai
permitir ser possível calcular um coeficiente global que relaciona as concentrações
médias no volume de controle em cada uma das fases.
Nestas circunstâncias, o cálculo do fluxo de massa é feito através de
coeficientes de transferência de massa (Pinho e Prazeres, 2008). Esses coeficientes
representam uma medida da velocidade com que um sistema transfere o soluto de uma
fase onde a sua concentração é maior para outra onde a concentração é menor e são
função das propriedades físico-químicas do soluto, das propriedades do meio
(Kraakman et al., 2011).
Pode-se descrever a transferência de massa através da interface com uma
equação de fluxo similar:
N A,i  k C A (40)

onde (NA,i), é o fluxo relativo à interface e k é chamado de coeficiente global de


transferência de massa.
A transferência de massa entre as fases líquida e gasosa é frequentemente
descrita pela teoria dos dois filmes. Esta teoria postula que a resistência à transferência
de massa de uma dada fase do fluido turbulento é uma fina região (filme), relativamente
estagnada na interface (Seader et al., 2011). Assume-se que apenas na interface existe
equilíbrio das fases, e a concentração do soluto está relacionada com a sua pressão
parcial através da lei de Henry.
O soluto movimenta-se de ou para a interface a uma velocidade dependente do
tipo de composto e das propriedades das fases líquida e gasosa. Essas velocidades são
definidas como coeficientes de transferência de massa (Seader et al., 2011; Kraakman
et al., 2011).
Na interface, o equilíbrio termodinâmico é expresso pela igualdade dos
potenciais químicos na fase gasosa (G) e na fase líquida (L), através de um balanço
termodinâmico:
 AiL   AiG (41)

ou
 A0 L  RT ln aAL   A0G  RT ln aGA (42)

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onde 𝜇𝐴0𝐺 , 𝜇𝐴0𝐿 , são o potencial químico de referência nas fases gasosa e líquida e 𝑎𝐴𝐺 ,
𝑎𝐴𝐿 são as atividades nas fases gasosa e líquida, expressas pelo produto do coeficiente
de atividade (ϒ), pela concentração, aA   C A .

Se os coeficientes de atividades forem aproximadamente iguais à unidade nas


duas fases então:
C AiG  mC AiL (43)

com

A   A0 L   A0G 
m exp   (44)
B  RT 
onde o parâmetro m é uma função da concentração, podendo ser obtido de uma curva
de equilíbrio. Para uma situação de equilíbrio termodinâmico aplicado:
A
m (45)
B
Se considerarmos que está em estado estacionário, não há acumulação de
material na interface e os fluxos na interface são iguais, dados por:
N AiG  N AiL (46)

Se assumir válida a lei de Raoult e a condição de equilíbrio na interface:


y A P  xA PvA (47)

onde 𝑥𝐴 e yA são frações molares nas fases líquida e gasosa respetivamente, P é a


pressão total e PvA é a pressão de vapor do soluto. Para gases diluídos pode ser aplicada
a lei de Henry:
y A P  HxA (48)

Sendo H a constante de proporcionalidade da Lei de Henry. Retomando para a


Equação (40), para o desenvolvimento do fluxo definidos coeficientes parciais para a
fase liquida e gasosa.

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Considerando as definições dos coeficientes parciais:

N A,i  kG  CAB
G
 CAG0  (49)

N A,i  kL  CAL0  C AB
G
 (50)

Observando o gráfico abaixo:

Para um sistema em equilíbrio na fase líquida e na fase gasosa tem-se:


C AL0  mC AL (51)

C AG0  mC AG (52)

Portanto, o fluxo de transferência de massa na fase gasosa é dado por:

N A,i  kG  CAB
G
 CAG  (53)

Operando a equação (53) e substituindo na equação (52), temos que:


G
1 C AB  mC ABL
 (54)
kG N A ,i
𝐿 𝐺
Somando 𝑚𝐶𝐴𝐵 e substituindo 𝐶𝐴0 no segundo membro da equação:
G
1 C AB  mC AB
L
 C AG0  C AL0
 (55)
kG N A ,i

1 C AB  C A0   mC AB   C AB
G G L L

 (56)
kG N A ,i
Substituindo as equações (49) e (50) em (56), tem-se:
1 1 m
  (57)
KG kG k L
1/KG é Resistência total à transferência de massa de dois filmes;
1/𝑘𝐺 : Resistência parcial no filme gasoso;
𝑚/𝑘𝐿 : Resistência parcial no filme líquido.

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Fazendo o mesmo desenvolvimento para o filme líquido podemos chegar à


relação:
1 1 1
  (58)
K L mkG k L
Da equação (57) e (58) obtém-se:
K L  mKG (59)

7 DIFUSÃO EM SISTEMA ESTAGNADO

Figura 4 - Difusão rápida através de um filme estagnado.

Considera-se que uma substância 1 evapora rapidamente através de um capilar


que contém uma substância 2, na forma de vapor, constituindo um meio estagnado,
quando comparado à outra substância, cuja velocidade de evaporação é alta. Supõe-se
que o volume de líquido é muito grande e que no topo do capilar circula uma mistura
gasosa de concentração Y1,L, de modo que as concentrações em z=0 e em L
permanecem constantes e, portanto, estabelece-se um regime permanente.

Solução matemática - A técnica é fazer um balanço de massa (equação de


continuidade) e combinar a equação com a lei de Fick, como feito nos exemplos
anteriores.

ou seja

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 AzC1   A N1 z  A N1 z z (60)
t
Observação: A é a área de seção transversal do tubo, constante em todo o trajeto.
Dividindo-se a equação acima pelo volume infinitesimal, e fazendo-se Δz tender a zero,
obtém-se:

C1  N1  N1 z z 
 lim  z  (61)
t z 0  z 

C1  N1,x N1, y N1, z 


   0 (62)
t  x y z 

Como no estado estacionário não há nenhuma acumulação, não produção


química e existe difusão somente na direção z então:
dN1, z
0 (63)
dz
assim, por integração:
N1,z  cte (64)

O fluxo molar de 1 que transfere à fase gasosa é dado por:

Y1  Y1  N1, z  N2, z 
dY1
N1, z  CD12 (65)
dz
Se 𝑁2,𝑧 é constante ao longo de z, e vale zero (𝑁2,𝑧 = 0) na interface com o
Espécie 1, esta equação reduz:
CD12 dY1
N1, z   (66)
1  Y1 dz
Esta equação diferencial de primeira ordem está sujeita a duas condições de
contorno, pois N1 já uma constante de integração desconhecida.
𝑧 = 0, 𝑌1 = 𝑌1,0 (67)
𝑧 = 𝐿, 𝑌1 = 𝑌1,𝐿 (68)
Obtendo-se:
L Y1,L
dY1
N1, z  dz  CD12  1 Y (69)
0 Y1,0

CD12  1  Y1, L 
N1, z  ln 
 1  Y 
(70)
L  1,0 

O transporte de massa convectivo pode ser expresso mediante um perfil de


concentração. Associando as equações (63) e (66):

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d  CD12 dY1 
 0 (71)
dz  1  Y1 dz 
Considerando C e D12 sejam constantes, em condições isotérmicas e isobáricas,
a equação se reduz para:

d  1 dY1 
 0 (72)
dz  1  Y1 dz 
Integrando duas vezes obtemos:
ln 1  Y1   C1 z  C2 (73)

A equação (73) está sujeita a duas condições de contorno, descritas nas


equações (67) e (68), e substituindo as constantes na equação (73), obtém-se:
z
 1  Y1   1  Y1, L  L
     (74)
 1  Y1,0   1  Y1,0 
Sabendo que Y1 + Y2 = 1, tem-se:
z
 Y2   Y2, L  L
     (75)
 Y2,0   Y2,0 
Portanto, desenvolve-se um perfil do componente 2, ainda que se mantenha
estagnado, isto é, o fluxo difusivo corresponde um fluxo convectivo contrário, que anula
o fluxo líquido. Imagine que o componente 2 tentará ir até o líquido mas o arraste
provocado pelo componente 1 torna o ganho líquido de 2 nulo. Veja as equações:

N 2  C2v2  J 2  C2v  C2  v2  v   C2v  C2Y1v1  C2Y1v1  0 (76)

Como N2 = 0 e v2 = 0, então a velocidade da mistura é representada por v1. Além


disso, apesar do fluxo total da espécie 1 ser constante, os fluxos difusivos variam com
z:
z
 1  Y1, L  L  1  Y1, L 
dY CD12
J1  CD12 1 
dz L
 1,0   1  Y  ln  1  Y 
1  Y (77)
 1,0   1,0 

Uma expressão equivalente é dada para o componente 2.

Exercício 1
Obtenha a fração molar do dióxido de carbono que difunde em uma película
estagnada de ar de 1cm de profundidade a 1 atm e 25 °C, em função da posição. Essa
película está num tubo capilar que contém ácido sulfúrico. O CO 2 é absorvido
instantaneamente ao atingir o líquido. A pressão parcial de CO2 na boca do tubo é igual
a 0,01 atm. Considere que o experimento está sendo realizado à pressão de 1 atm.

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Responda também como pode haver distribuição da fração molar de ar se o fluxo do


mesmo é nulo? (Lei de Dalton: 𝛒1=Y1P)

8 CONTRA-DIFUSÃO EQUIMOLAR

Este fenômeno ocorre à condensação e evaporação de forma simultânea de


espécies químicas diferentes, mas de características físico-químicas parecidas.
A figura abaixo representa dois reservatórios interligados por um tubo. Nesses
reservatórios estão contidas misturas binárias de dois gases A e B. No reservatório A,
YA >>> YB e inversa para o reservatório B.

Para cada mol do gás A condensado, um mol do gás B evapora, ao provocarmos


o contato entre os reservatórios. Assumindo que o fluxo do gás A é igual ao do gás B,
quando o capilar é aberto nos dois extremos, tem-se que:
𝑁𝐴 = −𝑁𝐵 (78)
Assim, tomando como referência que os dois gases têm comportamento de gás
ideal, o fluxo é calculado através da primeira lei de Fick. Para uma mistura binária para
sistemas isobáricos e isotérmicos, a equação é descrita por:
𝑑𝐶𝐴
𝑁𝐴 = −𝐷𝐴𝐵 + 𝑌𝐴 (𝑁𝐴 − 𝑁𝐵 (79)
𝑑𝑧

Sabendo da relação da equação (79), se reduz para a equação nas condições


de contra-difusão molar no fluxo de A:
𝑑𝐶𝐴
𝑁𝐴 = −𝐷𝐴𝐵 𝑑𝑧
(80)
Definindo as condições de contorno, e integrando a equação (80), obtemos:
𝑧 = 0, 𝐶𝐴 = 𝐶𝐴,1 (81)

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𝑧 = 𝛿, 𝐶𝐴 = 𝐶𝐴,2
temos:
𝛿 𝐶
𝑁𝐴 ∫0 𝑑𝑧 = −𝐷𝐴𝐵 ∫𝐶 𝐴,2 𝑑𝐶𝐴 (82)
𝐴,1

Dessa forma a equação fica:


𝐷𝐴𝐵
𝑁𝐴 = − (𝐶𝐴,2 − 𝐶𝐴,1 ) (83)
𝛿

Quando a lei dos gases é seguida, a concentração de A e relacionada com a


pressão parcial do mesmo, por:
𝑃
𝑐𝐴 = 𝑅𝑇𝐴 (84)
ficando:
𝐴𝐵 𝐷
𝑁𝐴 = − 𝑅𝑇𝛿 (𝑃𝐴,2 − 𝑃𝐴,1 ) (85)

9 CONDIÇÃO DE CONTORNO

Os problemas de difusão apresentados serão resolvidos a partir de balanços de


massa para uma ou mais espécies químicas em uma casca fina de sólido ou de fluido.
Uma vez selecionado um sistema adequado de coordenadas, a lei de conservação de
massa da espécie A em um sistema binário é escrita para o volume de casca na forma:
`Taxa de acumulo 
  `Taxa de massa  `Taxa de massa  `Taxa de reação  (86)
de massa de A no      
volume de controle  de A que entra  de A que sai  química de A 
 
sendo a expressão:
n n
dN A
  Ae,i N Ae ,i   As ,i N As ,i  RA (87)
dt i 1 i 1

9.1 Perfil de fluxo mássico com respeito à geometria de placa plana:

Na figura abaixo se observa um soluto A difundindo através de uma membrana


na direção z. Considerando que o sistema está em estado estacionário e a membrana
não reagem com o soluto, o perfil do fluxo A e sua relação com a geometria, pode ser
encontrado aplicando a equação da continuidade:

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dCA
 Ae N A z  As N A z z  RA (88)
dt
Através das considerações:
 Fluxo unidimensional em z;
 Transferência de massa em estado estacionário;
 Não há produção de A ou reação química.
A equação (88) se reduz para:

Ae N A z  As N A z z
0 (89)

Assumindo Ae=As=A, tem se:


A N A z  AN A z z
0 (90)

Dividindo-se a equação (80) por Az (elemento de volume diferencial):


A N A z  AN A z z
0 (91)
Az
Avaliando o termo de volume diferencial, isto é, atribuindo valores próximos a
zero, temos que:
NA z  NA
lim z z
0 (92)
z  0 z
dN Az
 0 (93)
dz
Integrando a equação (93):

 dN Az   0dz (94)

N Az  cte (95)

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A equação (95) indica que o fluxo para uma geometria de placa plana é constante
a sua direção; Já para determinar a relação com fluxo difusivo, aplica-se a primeira lei
de Fick:

dCA
N Az   DA (96)
dz
Substituindo a equação (96) na (95):

dCA
 DA  cte (97)
dz

9.2 Perfil de fluxo mássico com respeito à geometria do cilindro

A figura mostra o transporte radial de glicose num cilindro de tecido, vista lateral
e corte transversal. As linhas tracejadas limitam uma coroa cilíndrica de espessura ∆r e
comprimento L, tomada como elemento de volume diferencial:

- Taxa de entrada de glicose = 2𝜋𝑟𝐿𝑁𝐴𝑟|𝑟


- Taxa de saída de glicose = 2𝜋𝑟𝐿𝑁𝐴𝑟|𝑟+∆𝑟
dCA
 2 rL N Ar r  2 rL N Ar r r
 RA (98)
dt
Hipóteses:
 Estado estacionário;
 Não há produção de A;
 Transferência em sentido radial.
Partindo dessas hipóteses, a equação (98) se reduz para:
2 rL N Ar r  2 rL N Ar r r
0 (99)

Dividindo equação (99) por 2πLr:


r N Ar r  r N Ar r r
0 (100)
r

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Aplicando limites:
r N Ar r  r N Ar
lim r r
0 (101)
r  0 r
d  rN Ar 
0 (102)
dr
Integrando:

r  dN Ar   0dr (103)

cte
N Ar  (104)
r

9.3 Perfil de fluxo mássico com respeito à geometria da esfera

dCA
 4 r 2 L N A z  4 r 2 L N A z z  RA (105)
dt
Hipóteses:
 Estado estacionário;
 Não há produção de A;
 Transferência em sentido radial.
Partindo dessas hipóteses, a equação (105) se reduz para:
4 r 2 L N A z  4 r 2 L N A z z
0 (106)

Dividindo equação (106) por 4πLr:


r 2 N Ar r  r 2 N Ar r r
0 (107)
r
Aplicando limites:
r 2 N Ar r  r 2 N Ar
lim r r
0 (108)
r 0 r
d  r 2 N Ar 
0 (109)
dr
Integrando:

r 2  dN Ar   0dr (110)

cte
N Ar  (111)
r2

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REFERÊNCIAS

BIRD, R. B.; STEWART, W. E.; LIGHTFOOT, E. N. Transport Phenomena. John Wiley


e Sons, Ind., New York, 1969.

PINHO, M. N.; PRAZERES, D. M. Fundamentos de transferência de massa. 2° ed.


IFT Press, Lisboa, 2014.

BENNETT, C. O.; MYERS, J. E. Fenômenos de transporte: quantidade de


movimento, calor e massa. McGRAW HILL, Auckland. 1978.

CUSSLER, E. L. Diffusion: mass transfer in fluid systems. 3° ed. Cambridge


University Press, Cambridge, 2009.

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