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INICIATIVA DE APERFEIÇOAMENTO PEDAGÓGICO DE PROFESSORES DE


MATEMÁTICA E CIÊNCIAS NATURAIS NA PROVÍNCIA DE INHAMBANE

Texto de Apoio

EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA:
ABORDAGEM SISTÊMICA

ANA PAULA LUCIANO ALICHI CAMUENDO

MAPUTO - 2020
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Texto de Apoio

Título: EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA:


ABORDAGEM SISTÊMICA

Elaborado por: Ana Paula Luciano Alichi Camuendo


Revisto por: Basílio Alberto Assane

Universidade Pedagógica
Faculdade de Ciências Naturais e Matemática
Projecto de Capacitação de Professores de Ciências Naturais e Matemática na Província de
Inhambane (IAPPI) 2015 -2018
Patrocinado por: Sasol

Moçambique
MAPUTO, 2020
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Índice
Lista de Figuras ................................................................................................................... i
Resumo ............................................................................................................................... ii
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 1
1. EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA: ABORDAGEM SISTÉMICA ............................... 2
1.1. Educação Contemporânea ............................................................................................ 2
1.1.1. Conceito de educação ........................................................................................... 2
1.1.2. Os desafios da escola na sociedade contemporânea ............................................. 3
1.1.3. O papel do professor no mundo contemporâneo .................................................. 6
1.1.4. As TIC´s e a Educação contemporânea ................................................................ 7
1.2. Abordagem Sistêmica .................................................................................................. 9
1.2.1. Conceito de sistemas .......................................................................................... 10
1.2.2. Teoria geral dos sistemas .................................................................................... 10
1.2.3. Conexão entre os saberes na abordagem sistêmica ............................................ 11
1.2.4. Abordagem sistêmica e o construtivismo na sala de aula .................................. 13
1.2.5. Metodologia da aprendizagem sistêmica ............................................................ 16
1.2.6. Inter-relação entre educação contemporânea e abordagem sistêmica ................ 17
2. EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA COMO DESAFIO DA EDUCAÇÃO
CONTEMPORÂNEA .............................................................................................................. 19
3. CONCLUSÃO .................................................................................................................. 21
BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................... 22
i

Lista de Figuras
Figura 1: Imagem ilustrando alunos em interação na durante o estudo ..................................... 4
Figura 2: Imagem de estudantes pesquisando as matérias na internet ....................................... 4
Figura 3: Imagem de livros, computador, telefone, etc. ............................................................. 5
Figura 4: Imagens ilustrando uma sala de informática para os estudantes ................................. 8
Figura 5: Classificação dos sistemas químicos......................................................................... 10
Figura 6: Imagem com estudantes em interação numa aula prática ......................................... 15
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Resumo
A presente brochura visa contribuir para uma reflexão sobre o papel da escola e do professor
na educação contemporânea, no processo de ensino-aprendizagem, num mundo dominado
pelas Tecnologias de Informação e Comunicação. No entanto, na contemporaneidade, é o
desafio da escola assegurar a todos os indivíduos o direito de aprender com recurso às
Tecnologias de Comunicação e Informação. Acredita-se que o papel do professor é de
dinamizar o ensino de tal forma que os alunos possam se sentir envolvidos no processo de
construção do conhecimento de forma activa e participativa. Além disso, o papel do professor
deve ser redimensionado como agente facilitar e não como foi anteriormente considerado o
único detentor do saber. Neste sentido, a educação contemporânea apresenta conceitos chave
que permeiam a educação actual, como a educação para cidadania, aprendizagem
interdisciplinar, multicultural, transdisciplinar, educação inclusiva, ética, entre outros,
cabendo a escola a tarefa de orientar o processo de formação de cidadãos que deve ser feito
por meio de diálogo entre todos os actores sociais envolvidos ou seja professores, alunos,
encarregados de educação e a comunidade em geral. Por isso, a escola deve se preocupar não
só em contribuir para a formação de cientistas e técnicos, mas acima de tudo, em conseguir
educar moralmente os cidadãos. Contudo, não se pode pensar na educação contemporânea
sem ética que lhe esteja subjacente e, que se baseia na cultura da paz: respeito pela vida,
direitos humanos, rejeição da violência, responsabilidade, liberdade, justiça, democracia,
tolerância, solidariedade, cooperação, diálogo e compreensão entre Nacções, grupos e
indivíduos.
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INTRODUÇÃO
A busca por uma compreensão aprofundada nos casos de alunos que apresentam dificuldades
de aprendizagem, bem como a necessidade de experimentar novas metodologias diante do
novo desafio que pede novas abordagens teóricas, para além do tradicional, surge o novo
conceito “abordagem sistêmica” no contexto de educação contemporânea. No entanto, na
contemporaneidade é importante que a escola assegure a todos os indivíduos o direito de
aprender com recurso às Tecnologias de Comunicação e Informação (TIC´s). A abordagem
sistêmica ajuda o professor a expandir o seu olhar sobre o sistema escolar, visando a educação
inclusiva e mais integrada. Na realidade os alunos aprendem quando há mudanças
fundamentadas na sua maneira de ver o mundo e alterações significativas nas suas
capacidades de interpretação dos fenómenos quotidianos.
Para Pranda (2008), os novos ambientes de educação devem permitir que o aluno questione as
suas ideias e crenças, encorajando assim o desenvolvimento de um processo interativo e
proactivo na construção do conhecimento. Este processo de aprendizagem indica nos que a
construção do conhecimento se estende a uma variedade de fontes, desde a interação entre
professor-aluno e entre alunos, até a interação entre os alunos e os conteúdos, factor que
possibilita uma mudança profunda da atitude dos mesmos pela midiatização nos diferentes
contextos favoráveis à participação activa na sociedade.
Discutir o papel da educação contemporânea requer uma reflexão dinâmica, apresentando
conceitos chave que permeiam a educação actual, como a educação para cidadania,
aprendizagem interdisciplinar, multicultural, transdisciplinar, educação inclusiva, entre
outros. Significa que, hoje a educação não pode limitar-se a um mero treino de competências,
mas sim deve desenvolver nos alunos capacidades que lhes permitem apropriarem-se de
elementos culturais e científicos úteis para a vida. Deste modo, os professores devem buscar
cursos de qualificação e formação contínua (reciclagem) periodicamente com a finalidade de
disponibilizar novas aprendizagens aos alunos numa sociedade dominada pelas TIC´s.
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1. EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA: ABORDAGEM SISTÉMICA


1.1. Educação Contemporânea
Hoje, coloca-se aos sistemas educativos o desafio de ajudar os cidadãos a desenvolver
vínculos e referências comuns numa sociedade cada vez mais dominado pela ciências e
tecnologia. Esta conjuntura sujeita aos professores à tensão constante de auxiliar os alunos a
respeitar a diversidade cultural, evitando a produção de desigualdades e, procura ao mesmo
tempo manter a homogeneidade baseada na observação de regras e normas comuns. Segundo
Delors (1996), a educação enfrenta desafios relacionados com a crise de relações sociais e,
devendo assumir a tarefa de fazer da diversidade, um factor positivo da compreensão mútua,
entre indivíduos e grupos humanos.
Assim, na dinâmica da vida contemporânea, as possibilidades que as TIC´s trazem para a
sociedade demonstram que a educação pode ocorrer em diversos lugares de prática social,
rompendo o paradigma de que a aprendizagem só acontece em ambientes formais. Apesar
disso, é inegável o papel que a escola exerce na formação dos indivíduos, além de que o
professor continuará a ser um mediador indispensável no PEA.
Contudo, não se pode pensar na educação contemporânea sem ética que lhe esteja subjacente.
Trata-se de uma ética baseada em princípios universais, isto é, uma ética capaz de servir os
interesses das comunidades sem esquecer dos interesses da humanidade. Significa que, esses
interesses estão subjacentes a cultura da paz que se baseia no respeito pela vida, pelos direitos
humanos, pela rejeição da violência, pela responsabilidade e pela liberdade, justiça,
democracia, tolerância, solidariedade, cooperação, diálogo e compreensão entre Nacções,
grupos e indivíduos.
1.1.1. Conceito de educação
O homem, assim como os outros animais, possui instintos, mas grande parte do
comportamento humano está determinado pela sua capacidade de aprendizagem. Através
desta capacidade, o homem pode adquirir uma série de conhecimentos que ele não trazia por
hereditariedade (Carmo,2014). Para este autor, o aprendizado se faz através de duas formas
básicas:
− A experiência individual que conduz a uma descoberta independente;
− A transferência de conhecimentos de indivíduo para indivíduo, isto é, aprender através
de outros indivíduos tornou-se mesmo a grande estratégia do homem na luta pela
sobrevivência da vida. A aprendizagem através da transferência de conhecimentos
oferece ao aprendiz a possibilidade de se aproveitar das experiências de seus
contemporâneos e antepassados. Assim, herdar experiências de outros indivíduos foi
sempre um benefício valioso, pois é impossível que um indivíduo entre em contacto
com outros sem o desenvolvimento da linguagem. Através da linguagem, a herança
cultural se transmitiu pelos indivíduos e, para a sociedade em geral. No entanto, é
comum que os agentes envolvidos no processo educativa se coloquem a seguinte
pergunta “afinal o que é educação?”
Segundo Saviani (1998) a educação é qualquer acto ou experiência que tenha um efeito
formativo sobre a mente de um indivíduo. Para este autor, a educação no sentido mais técnico,
é o processo pelo qual a sociedade, por intermédio de escolas, ginásios, colégios,
universidades e outras instituições, deliberadamente transmite sua herança cultural, seus
conhecimentos, valores e experiências acumuladas, de uma geração para a outra. Entende-se,
portanto, que a educação é fundamental para o exercício do direito humano, pois é recurso
que a sociedade dispõe para que a produção cultural da humanidade não se perca, passando de
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geração a geração. Através dela, os seres humanos garantem a perpetuação do seu carácter
histórico.
Como se pode ver, a definição da educação foi tomando várias dimensões com o decorrer do
tempo, mas, sempre procurando uma integração cada vez maior de elementos da sociedade
que directa ou indirectamente vão participando na edificação e desenvolvimento de um
conjunto de acções, visando a sobrevivência e a continuidade da sociedade ao longo dos
tempos.
Educação, portanto, pode ser entendida como um processo pelo qual o homem, através de
suas capacidades para aprender, adquire experiência que actua sobre sua mente e seu físico. A
educação formal é uma das práticas sócias com maior impacto na formação da identidade,
sendo esta um instrumento de socialização dos indivíduos, através da promoção da cultura de
paz, solidariedade, diálogo, etc. Nesta perspectiva, as transformações do mundo actual tem
vindo a suscitar reflexões sobre a cultura e o clima intelectual das escolas contemporâneos,
dando direcções sobre as propostas de transformação dos indivíduos no contexto de formação
actual. Além disso, apresentam orientações sobre a forma como os sistemas educativos devem
ser pensados e feridos pelas instituições e encarrados pelos professores e alunos. Espera-se, na
actualidade, que as instituições educativas funcionem de forma democrática, inovadora e
progressiva e que, além disso, sejam capazes de perspectivar-se num mundo globalizado e
sejam capazes de fazer a análise crítica dos seus actos e compromissos éticos (Carmo, 2014).
Significa que, com o desenvolvimento tecnológico, a escola precisa inovar-se para
acompanhar as rápidas mudanças da contemporaneidade, onde a educação é um direito
fundamental para todos os cidadãos.
1.1.2. Os desafios da escola na sociedade contemporânea
Actualmente é consensual que a escola deve destinar-se a todas as crianças,
independentemente do que vão fazer no futuro, em termos profissionais. Por isso, a escola
deve preocupar-se não só em contribuir para a formação de cientistas e técnicos, mas acima
de tudo, em conseguir educar cientificamente cidadãos que vivem em sociedades, cada vez
mais, influenciadas ou até mesmo dominadas, pela ciência e pela tecnologia (Azevedo &
Sardinha, 2009). Na perspectiva destes autores é pertinente pensar num ensino para todos,
como parte integrante da educação geral que prepara os cidadãos para a vida.
Com o desenvolvimento tecnológico, a escola necessita de buscar inovações para acompanhar
a contemporaneidade. Essas mudanças que influenciam a escola alteram também o processo
educativo, que procura adequar-se às novas exigências sociais que implicam mudanças na
forma tradicional de leccionação, ainda, praticada, em algumas escolas do nosso país,
devendo proporcionar a formação integral dos indivíduos. Por exemplo, já não tem
enquadramento a transmissão de conhecimentos num contexto em que o aluno é visto como
agente activo da sua própria aprendizagem. Aliás, os princípios que orienta os currículos
vigentes no ESG são “aprendizagem centrada no aluno; educação inclusiva, ensino-
aprendizagem orientado para o desenvolvimento de competências para a vida; etc.
Significa que, os documentos oficiais que norteiam o processo de ensino aprendizagem
contém informações que poderão ajudar as escolas a adequarem-se às novas demandas
sociais, factor que poderá permitir a formação de indivíduos para a vida, tornando-os cada vez
mais autónomos, pois as novas tecnologias têm impulsionado mudanças na forma de ensinar e
aprender na actualidade. Deste modo, a missão da escola é proporcionar a todos os indivíduos
meios necessários para uma cidadania consciente e activa, que só pode realizar-se,
plenamente num contexto de sociedade democrática.
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Segundo Aguiar (2006) a escola como uma organização social tem o compromisso de educar
para a cidadania, pois no contexto actual, dominado pela TIC´s, o papel do professor deve ser
redimensionado como agente facilitador do processo de ensino e aprendizagem. Para este
autor, as novas tecnologias promovem a busca crescente por criação e inovação de práticas
educativas diferenciadas no sentido em que sejam necessárias infraestruturas adequadas que
permitam a utilização de novos meios no processo de ensino-aprendizagem na base da
interatividade entre professor-aluno e entre os alunos.
Neste sentido, a escola centra-se cada vez mais a preparar os alunos para a vida prescrita na
economia global. A imagem que se segue evidência a aprendizagem através da interação entre
os alunos que tem estado a ganhar espaço cada dia na nossa prática educativa, pois as novas
tecnologias “acabem obrigando” os nossos alunos a trocarem experiências entre aqueles que
dominam as TIC´s e aqueles que estão a
entrar no mundo globalizado, ainda, de
forma tímida.
Para Vangas (2008), a inclusão dos pais
no processo educativo pode proporcionar
melhores resultados na educação, pois a
escola e a família cooperam para uma
maior aprendizagem e crescimento do
aluno. Para este autor, o fundamental na
educação contemporânea é assegurar a
aprendizagem de conteúdos relevantes à
vida dos alunos, onde o professor precisa
desempenhar também a função de
orientador, o que implica mudanças na
forma de construir o conhecimento,
assumindo um carácter investigativo na
resolução de problemas do quotidiano.
Perante este novo desafio, a escola deve
continuar a ser um espaço de
aprendizagem para a vida e, para tal, é
preciso criar estratégias inovadoras de
Figura 1: Imagem ilustrando alunos em interação na ensino, através de projectos diferentes,
durante o estudo apostar
na abordagem interdisciplinar, apresentar aos alunos um
ensino contextualizado, aulas mais dinâmicas e interativas,
entre outros. Um outro desafio da escola contemporânea é
aprender a lidar com a tecnologia e transformá-la em aliada
da educação, pois é realidade que os computadores, tablets,
smartfones e outros meios fazem parte processo educativo
do século XXI. A imagem que se segue é um exemplo de
que as TIC´s fazem parte da realidade dos nossos alunos.
Segundo Moran (2011), a sociedade está caminhando para
aprender de novas maneiras, por novos caminhos, com
novos participantes e de forma contínua. Este autor refere,
ainda, que a educação escolar precisa cada vez mais ajudar a
todos os indivíduos a aprender de forma integral, humana,

Figura 2: Imagem de estudantes pesquisando as


matérias na internet
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efectiva, ética, integrando os alunos para serem cidadãos plenos em todas as dimensões.
Nesta perspectiva, a formação integral dos alunos exige mudanças no ambiente educacional, o
que implica certas exigências aos professores, pois eles são os protagonistas de tal
aprendizagem integral. Esta mudança de atitudes dos professores está relacionada à
aprendizagem de novas competências e às alterações das concepções que estes têm sobre a
aprendizagem integral. Neste sentido, vamos discutir o conceito de concepção para um
melhor entendimento sobre o que significa os professores alterarem as suas concepções.
Durozoi &Roussel (1996) definem concepção como operação na qual o indivíduo constrói,
sem recorrer a dados experimentais, uma ideia geral sobre um fenómeno. Um outro autor
apresentou o mesmo conceito em que considera concepção uma representação mental que
contempla um sistema complexo de ideias e explicações. Contudo, estes autores convergem
na sua definição ao considerarem concepção ideia que um indivíduo apresenta resultante da
interação deste com o meio em que vive. Deste modo, a alteração das concepções dos
professores seria a mudanças destes na sua forma de pensar sobre o processo de ensino-
aprendizagem na contemporaneidade.
A este propósito, Garcia (2010) afirma que a construção de novas competências dos alunos
pressupõe que os professores tenham uma nova relação com o saber, isso é, o professor ao
mudar as suas estratégias de ensino muda também as suas concepções. No contexto actual, a
reflexão sobre actuação do professor no PEA é fundamental, como salientam Brandão (2009),
ao afirmarem que, a área de educação está sendo muito pressionada por mudanças rápidas da
contemporaneidade como o caminho para modificar a sociedade.
Neste sentido, Leite et al. (2011) refere que o desenvolvimento tecnológico ainda não chegou
para todos e a maioria dos indivíduos não tem acesso ao conhecimento sobre ele, cabendo a
escola agir sobre eles, colocando as TIC´s ao serviço dos alunos para o exercício da cidadania.
Para Tczani (2011), as TIC´s tem possibilitado mudanças na produção de conhecimentos
renovados a uma velocidade espantosa, além de permitir a reorganização didáctica,
pedagógica, curricular, pois a facilidade de acesso às informações disponibilizados pelas
tecnologias proporciona uma nova forma de ensinar e aprender.
No entanto, por um lado, parecem existir evidências que o ensino praticado nas escolas, de
diversos países, está vinculado a uma imagem reducionista e distorcida das ciências e assenta
em um modelo de transmissão de conhecimentos (Cachapuz et al., 2005) que o torna pouco
útil em termos de formação científica dos cidadãos. Por outro lado, as inúmeras mudanças
decorrentes da revolução tecnológica e da midiatização, que se fazem sentir desde o final do
século XX, parecem ter colocado novos desafios à educação de Ciências Naturais. Por isso,
para este autor, ensinar ciências hoje requer a adopção de abordagens de conhecimentos
actuais e relevantes para a compeensão e a resolução de problemas diários na perspectiva de
melhoria de qualidade de vida dos
cidadãos.
Esta imagem ilustra algumas ferramentas
tecnológicas que precisam ser dominados
pelos professores e alunos. Este cenário
exige mudanças no ambiente escolar,
como por exemplo, habilitar o professor
a integrar as TIC´s no quotidiano dos
alunos, facilitando o acesso à informação
e consequentemente a construção do
saber.

Figura 3: Imagem de livros, computador, telefone, etc.


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Assim, para que tais mudanças ocorram é importante a formação contínua dos professores,
pois não é possível fazer uma escola renovada se estes continuarem a utilizar metodologias
tradicionais que não se adequam a realidade. Ademais, a educação é complexa e ampla,
portanto, não pode ser resolvida somente dentro da sala de aulas porque é preciso preparar o
aluno de modo a interagir e modificar a sociedade em que ele vive. A imagem que se segue
mostra a necessidade de adaptação às novas tecnologias, pois a preparação das aulas já não
pode basear-se apenas em livros clássicos, mas também as informações mais actualizadas que
podem ser encontradas em outras fontes com recurso ao computador e outras ferramentas.
Assim, na sociedade actual saber lidar com novas situações, saber adquirir novas
aprendizagens, saber resolver problemas do quotidiano, saber conviver com os outros, saber
usar as novas tecnologias, saber relacionar-se com os outros são características necessárias a
todos os indivíduos, dentro e fora da escola.
1.1.3. O papel do professor no mundo contemporâneo
No mundo contemporâneo que se vive actualmente, dominado pela Ciência e pela tecnologia
são inúmeras as funções do professor. Para Saviani (1998) o professor não precisa de uma
receita pronta para seguir à risca regras, mas sim de ser um pesquisador que está sempre
aberto a novos diálogos e descobertas. Além disso, o professor contemporâneo não é aquele
que vai à escola simplesmente para transmitir conhecimentos e avaliá-los por meio de testes,
mas sim aquele que busca despertar no aluno a autocrítica, fazendo com que ele aprenda a ser
um sujeito activo, que saiba expor suas opiniões sempre que for necessário.
Nesta perspectiva, o acto de ensinar seria oferecer aos indivíduos meios para que estes possam
se desenvolver integralmente em todos os aspectos, adquirindo competências para a vida.
Significa que, o professor contemporâneo deve ser capaz de promover situações pertinentes e
favoráveis a aprendizagem integrada como base para a construção do conhecimento sólido e
duradouro.
Assim, o papel do professor deve ser revisto constantemente, pois padrões da sociedade
mudam e, por isso, as metodologias e as práticas educativas também devem evoluir na mesma
proporção de modo a atender satisfatoriamente os alunos diante dos novos cenários
estabelecidos. Neste sentido surge a seguinte questão “qual é o papel do professor? ”,
transmitir os saberes as novas gerações ?; preparar as novas gerações para o futuro?; como
fazer isso se as novas gerações parecem dominar mais o mundo contemporâneo do que os
professores responsáveis por sua educação?
De acordo com Freire (2008), cada vez mais tem se tornado difícil orientar qualquer processo
educativo sem recorrer as novas Tecnologias de Informação e Comunicação, uma vez que o
mercado de trabalho tem exigido muitos conhecimentos tecnológicos. É por isso que, as
tecnologias devem fazer parte do currículo da escola na actualidade em todos os ciclos para
ajudar os alunos a relacionar o que aprendem na escola com a sua realidade. Além disso, o
professor deve procurar relacionar os conteúdos abordados com acontecimentos recentes,
acreditando que os alunos estarão preparados para enfrentar as exigências do mundo actual,
não porque tem conhecimentos acumulados, mas porque são capazes de relacionar o que
aprendem com o seu quotidiano, tornando-se cidadão activos, participativos, críticos e
autônomos.
Uma sociedade que incorpora as novas tecnologias exige-se um novo modelo de educação,
um modelo que quebre os velhos paradigmas, exigindo do professor novas práticas onde
exerce o papel de mediador (Bohn, 2011). Assim, na educação contemporânea, o professor
precisa tornar as suas aulas mais animadas e interessantes, através de actividades interativas,
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integrando as dinâmicas de ensino tradicional com as inovadoras, pois a realidade exige que o
professor reconheça que a nova geração possui outras formas de aprendizagem.
Neste sentido, Moran (2011) afirmam que a escola é um espaço para disseminação de
conhecimentos historicamente produzidos e, por isso, torna-se pertinente que ela se
comprometa em realizar formações constantes de seus professores por meio de capacitações,
possibilitando uma aprendizagem constante por parte de todos envolvidos no PEA.
Na perspectiva de busca por inovações, o papel do professor é fundamental por assegurar e
incentivar o uso de métodos de ensino participativos e adequados, onde o mesmo actua como
mediador que descodifica as mensagens pedagógicas sob diversas formas. Segundo Belloni
(2005), para a escola acompanhar os actuais desafios do PEA é necessário que reformule as
suas formas de mediar os conteúdos, aproveitando ao máximo as potencialidades da educação
contemporânea, pois a sociedade actual exige um novo tipo de indivíduos que actuem em
todos os sectores sociais e que sejam doptados de competências técnicas múltiplas e com
capacidade de aprender e adaptar-se a novas situações do quotidiano.
Segundo Gonçalves (2001) tem se assistido exemplos de profissionais brilhantes que
cometem horrores contra a humanidade por mau uso dos seus conhecimentos. Por isso, a
inteligência e a bondade têm que ser em simultâneo para garantir o desenvolvimento ético dos
alunos. Esta simultaneidade entre a inteligência e a bondade, na qual se conjugam com
autonomia, responsabilidade e compromisso com a comunidade não deve ser descuidado em
nenhum nível de ensino, pois a falta da ética não se conjuga com a sociedade em que
vivemos, onde o lema é cultura de paz.
1.1.4. As TIC´s e a Educação contemporânea
TIC´s são tidas como um conjunto de dados fornecidos, através do uso de computadores
electrónicos e softwares que melhoram o conhecimento da pessoa que o recebe ficando
habilitado a descrever determinada actividade ou a tomar determinada decisão em prol da
melhoria da sua vida (Sancho, 2006).
Hoje em dia, quando se usa a expressão “Tecnologia de Educação” dificilmente pensamos em
quadro negro e giz ou mesmo livros e revistas, a nossa atenção centra-se no computador e/ou
no telefone celular que se tornaram ponto de convergência de todas as tecnologias mais
recentes porque depois do enorme sucesso comercial da internet os computadores raramente
são vistos como máquinas (ferramentas) isoladas, sendo sempre idealizados em rede.
A educação escolar no mundo contemporâneo exige reflexão de novas finalidades do PEA.
Assim, a actual conjuntura da educação é caracterizada pela sociedade de informação
globalizada e organizada. Por isso, a incorporação de TIC´s torna-se fundamental, uma vez
que elas permitem acesso à novas formas de pensar a educação na perspectiva de uma nova
geração de indivíduos. Este processo exige que novos saberes sejam incorporados à prática
docente através de formação contínua, exige ainda uma reflexão profunda sobre as
concepções do que é o saber a sobre as formas de ensinar e aprender.
Assim, a utilização pedagógica das TIC´s exige um olhar atento, uma vez que se deve
redefinir a forma como os alunos aprendem. Belloni (2006) referem que é importante olhar-se
sobre a natureza das mudanças que podem ocorrer no acto educativo, bem como as formas de
interação entre professor-aluno e entre alunos. Deste modo, as TIC´s possibilitam o acesso à
informação e interação social, além da experiência sócio cultural que leva o aluno a operar
mentalmente, isto é, permite a transformação de um processo interpessoal para um processo
intrapessoal. Neste sentido, as TIC´s pressupõem desafios aos professores, que devem sair de
uma prática tradicional para ir ao encontro de outra que exige a articulação de diferentes
8

elementos para que o aluno aprenda. A figura que se segue ilustra uma sala equipada com
computadores para responder as questões de inclusão das ferramentas tecnológicas no PEA.

Figura 4: Imagens ilustrando uma sala de informática para os estudantes


Neste sentido, é importante compreender que as novas tecnologias vêm auxiliar os métodos
que o professor há muito tempo dispõe, e que não se trata de alterar tudo à custa delas, mas
sim de inovar as formas de concretizar os objectivos previstos nos programas de ensino,
ajudando aqueles que se limitam a seguir o livro e a usar o quadro e giz para passarem a usar
materiais diversificados que possam estimular os alunos a consultar diversas fontes de
informação. Esse procedimento constitui um potencial pedagógico, pois ajuda os professores
na preparação dos alunos como cidadãos que deverão produzir e interpretar as novas
linguagens do mundo actual.
Segundo Almeida (2011), as TIC´s utilizadas duma forma planificada e sistemática
apresentam diversas potencialidades pedagógicas, nomeadamente, impulsionam os
professores e os alunos a utilizarem diversas ferramentas intelectuais; enriquecem as próprias
aulas ao possibilitar o uso de grande diversidade de métodos de ensino; aumentam a
motivação dos alunos pelo volume de informação disponível; possibilitam a interação com
outras pessoas geograficamente distantes; possibilitam o desenvolvimento de capacidades de
comunicação e de difusão de informações, etc.
Deste modo, podemos afirmar que as TIC´s assumem um importante papel de apoio ao sector
de educação, pois o acesso à informação integrada auxilia o professor para uma melhor
planificação das aulas, e permite que os alunos realizem investigações sobre descobertas mais
recentes na área de ciências, envolvendo-os activamente.
Para além da disponibilização de informações, as novas tecnologias possibilitam, ainda, o uso
de vídeos e simulações computacionais que retratam, especificamente, de actividades
experimentais e ajudam a interpretar os fenómenos observados e resultados obtidos. Por
exemplo, ao nível da 8a classe, e outros níveis, o professor pode utilizar vídeos, animações
e/ou simulações computacionais, além de experiências que pode realizar na sala de aulas com
recurso ao material alternativo para abordar o tema sobre as reações químicas. Além disso,
pode recorrer o uso dos softwares para cálculo de massa molecular, podendo constituir-se
num potencial estímulo aos alunos e uma importante ferramenta pedagógica.
Assim, o recurso aos vídeos e às simulações computacionais não devem substituir as
actividades de contacto directo com os fenómenos naturais e nem actividades experimentais
que podem ser realizadas com recurso ao material alternativo, pois trata-se de recursos
tecnológicos que vêm auxiliar os professores na mediação dos conteúdos, estimulando a
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curiosidade e interesse dos alunos na construção de conhecimento e consequentemente na


melhoria do aproveitamento pedagógico.
1.2. Abordagem Sistêmica
A abordagem sistêmica é uma nova forma de orientar o PEA baseando-se essencialmente nos
processos de interação e comunicação entre os diferentes componentes. Esta abordagem
caracteriza-se pela troca constante de informação entre os elementos que compõem o sistema.
Significa que, no contexto educacional actual correspondem ao sistema educativo que é um
conjunto de elementos (componentes do PEA) que interagem para uma melhor qualidade de
ensino. Assim, vários pesquisadores propõem o uso do modelo sistémico como solução para
os problemas educativos pelo facto de possibilitar a interação e comunicação entre os
diferentes elementos que intervem no processo educativo; professores, alunos, pais e
encarregados de educação, a comunidade, entre outros.
Para Bohn (2011), o PEA se comporta como um sistema porque:
− Um processo educativo é um conjunto de elementos de interação;
− A interação entre os elementos de um processo educativo é constituída por trocas de
informação;
− Os processos educativos funcionam a partir de informação fornecida pelos seus
membros, através da comunicação.
Na perspectiva deste autor, não se pode continuar a encarar o problema educativo como mono
casual, isto é, do educador ou do educando. Significa que, os factores que conduzem a um
menor ou maior sucesso educativo devem ser vistos de forma inter-relacional. Neste sentido, a
abordagem sistêmica tem se revelado pertinente como um instrumento que tem gerado
modelos e práticas alternativas que apontam para uma formação global do Homem ao nível de
pensamento autônomo, preparando os indivíduos para a sua integração dinâmica no mundo e
na sociedade actual.
O pensamento sistêmico exige que os alunos reflictam sobre as relações entre os fenómenos e
não uma mera reprodução. Por exemplo, em vez de ensinar aos alunos a viajarem de um local
para outro, seguindo um itinerário pré-definido, os mesmo devem ser ensinados a se
familiarizar com todo o terreno, de modo a puderem descobrir alternativas que os levem a
outros espaços ou destinos, isto é, deve-se utilizar estratégias que possibilitam a formação de
cidadão criativos, reflexivos, activos e autónomos.
Segundo Alves (2006) devemos nos perguntar se os nossos filhos estão a aprender o que
tentamos transmitir ou estão aprendendo o que a modernidade ensina. Além disso, o mesmo
autor salienta que, é pertinente que o educador se perguntar se os educandos dão valor a ele
ou a mídia, já que a modernidade serve de referência para as crianças e os jovens. Apesar
disso, não se pode desistir porque os professores devem estar atentos nos aspectos da
modernidade e mídia para orientarem os seus alunos sobre o certo e errado.
A abordagem sistêmica caracteriza-se pela troca constante de informação entre os elementos
que a compõem. Significa que, no contexto educacional podemos falar em sistema educativo
como um conjunto de elementos que interagem para uma melhor qualidade de ensino. Deste
modo, pode-se afirmar que o PEA se comporta como um sistema porque um processo
educativo é um conjunto de elementos de interação e, este é constituído por trocas de
informação, além de que os processos educativos funcionam a partir de informação fornecida
pelos seus membros, através da comunicação.
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1.2.1. Conceito de sistemas


Um sistema é definido como um conjunto ordenado de elementos que se encontram
interligados entre si. Sistemas reais compreendem troca de energia, informação ou matéria
com o seu ambiente. Um sistema real é uma entidade material formada por componentes
organizados que interagem de tal modo que as propriedades do conjunto não se podem
deduzir. Exemplo de sistemas naturais são as células e a biosfera.
Assim, existem três tipos de sistemas reais: abertos, fechados e isolados. Num sistema aberto
não tem limites bem definidos (fronteiras) e, por isso, há troca de energia e substâncias com o
ambiente. Se o sistema tiver limites (fronteiras) bem definidos de modo a não permitir troca
de substâncias com o meio diz-se fechado (este só permite trocas de energia com o meio, mas
não de substâncias). Se, além disso, as paredes do vaso forem tais que não permitem
quaisquer trocas (nem de substâncias, nem de energia) com o meio, diz-se sistema isolado.
Assim, sistema químico é fracção do universo limitada por fronteiras, de acordo com os
exemplos que se seguem.

ENERGIA ENERGIA ENERGIA

SISTEMA SISTEMA SISTEMA


ABERTO FECHADO FECHADO

SUBSTÂNCIAS SUBSTÂNCIAS SUBSTÂNCIAS

Há troca de energia e de Há troca de energia, mas não há Não há troca, nem de energia,
substâncias com o meio troca de substâncias com o meio nem de substâncias com o meio
Figura 5: Classificação dos sistemas químicos
Também pode se falar em sistemas informáticos, muito comuns nas sociedades modernas.
Este tipo de sistema diz respeito ao conjunto de hardware, software e suporte humano que
pertence a uma empresa ou organização. Este pacote inclui computadores bem como
programas necessários para processamento de dados e as pessoas responsáveis pela gestão da
rede. Ademais, a interação entre os elementos é considerado vital para que um conjunto possa
ser considerado um sistema, pois um conjunto de elementos que não interage não pode ser
considerado um sistema.
Bertalanffy (1978) define sistema como um conjunto de elementos em interação mútua, aos
quais todos os campos da ciência se inter-relacionam e convergem numa perspectiva holística,
possibilitando novo diálogo entre os saberes. Nesta perspectiva, os sistemas não podem ser
compreendidos plenamente apenas pela análise separada e exclusiva de cada uma de suas
partes. Ela se baseia na compreensão da dependência recíproca de todas as disciplinas e da
necessidade de sua integração. Significa que, o processo de aprendizagem é interpretado
como aquele que envolve todas as actividades do ser humano, não apenas a função cognitiva,
mas também o sentimento, a percepção e o comportamento.
Deste modo, a educação contemporânea é vista como um sistema onde existe uma interação
entre todos os componentes do PEA, através de uma troca constante de informação com o
contexto onde os alunos se encontram.
1.2.2. Teoria geral dos sistemas
Para Alves (2006), a teoria geral de sistemas nos fornece um conjunto de ferramentas para
que possamos compreender o todo de um sistema, independentemente da área de
11

conhecimento à qual pertence. Esta teoria assenta sobre o conceito de sistema que foi definido
como um conjunto de elementos e relações de interação e comunicação que estabelece entre
esses elementos. Assim, para compreender a abordagem sistêmica na era digital e os seus
reflexos para a educação é necessário perceber a forma como os indivíduos e o meio se inter-
relacionam, buscando o entendimento dos pressupostos teóricos sobre o que é um sistema e
de que maneira a teoria geral de sistemas pode orientar o PEA.
Segundo Bohn (2011), as principais ideias da teoria geral de sistemas foram elaboradas
durante os anos 40 e foram influenciadas pelo trabalho de equipes multidisciplinares de
cientistas que trabalham para resolver problemas complexos relacionados, naquela época,
com a segunda guerra mundial. Este autor salienta que, a teoria geral dos sistemas permite a
unificação das ciências, aproximando-os da meta da unidade da ciência, pois qualquer
organismo é um sistema, isto é, uma ordem dinâmica de partes e processos em mútua
interação, por exemplo, o corpo humano é um sistema formado por vários órgãos que actuam
em mútua interação.
A teoria geral dos sistemas possui um carácter interdisciplinar e transdisciplinar e, por isso,
procura superar a fragmentação do conhecimento, tentando construir um conhecimento
integrado. Neste sentido, pode se compreender a escola como um sistema aberto numa
contínua troca de informação entre os componentes.
Assim, para um entendimento da abordagem sistêmica, é necessário saber como as ideias
evoluíram e como se chegou à necessidade de ter-se uma visão sistêmica do mundo e da
relação com o mesmo, colocando as questões como “o que significa pensamento sistêmico? ”;
“Porque as pessoas têm tanta dificuldade para colocá-lo em prática? ”. Como possíveis
respostas podem ser por individualismo, talvez por medo do novo ou de mudanças, a cultura
do imediato, entre outras.
Pensamento sistêmico é a capacidade que uma pessoa desenvolve para avaliar os
acontecimentos ao seu redor e suas possíveis implicações a fim de criar uma solução única
que possa contemplar as expectativas de todas as partes envolvidas. Neste sentido, a
abordagem sistêmica nos permite encontrar algumas respostas ou até mesmo solução para os
problemas enfrentados, nas mais diversas áreas do conhecimento. Esta abordagem possibilita
a prática da interdisciplinaridade porque cria uma base conceptual comum e permite que o
desenvolvimento de uma área de conhecimentos possa ser aplicado em outras áreas.
Significa que, a abordagem sistêmica pressupõe uma estratégia de acção com objectivo de
encontrar explicações sobre um dado fenómeno, através de uma abordagem global que leva
em conta a totalidade dos elementos envolvidos. Isto é, a abordagem sistêmica permite o
estímulo da criatividade e reflexão dos alunos, proporcionando mais espaços dinâmicos e
integrados de aprendizagem. Nesta perspectiva, a abordagem sistêmica é uma metodologia
inovadora que busca uma aprendizagem clara e de forma lúdica, visando uma interação com
todos os alunos. Ela é baseada na ideia de que um determinado objecto de estudo possui
diversas dimensões e facetas que podem ser estudadas e entendidas por diversas áreas.
1.2.3. Conexão entre os saberes na abordagem sistêmica
No sentido de superar a fragmentação das áreas do saber, procurando promover uma leitura
interdisciplinar e transdisciplinar, a abordagem sistêmica traduz-se como a possibilidade de
um novo diálogo entre as diferentes áreas do saber.
Neste contexto, o Plano Curricular do Ensino Secundário Geral (PCESG) propõe a
abordagem interdisciplinar como estratégia a ser usada por forma a contribuir para uma
aprendizagem integrada. Assim, a interdisciplinaridade é definida como interação de duas ou
mais disciplinas e a transdisciplinaridade como sistema total, sem fronteiras sólidas entre as
12

disciplinas, ou seja, uma teoria geral dos sistemas Alves (2006). Este mesmo autor aponta a
teoria geral dos sistemas como a que estimula a pesquisa interdisciplinar.
Deste modo, a interdisciplinaridade exige uma nova pedagogia, a da comunicação. Por
exemplo, um professor de Química deve saber explicar aos seus alunos o processo de
destruição da camada de Ozono e a importância desta camada para a sobrevivência dos seres
vivos. Nesta perspectiva, os alunos irão relacionar estas abordagens com conhecimentos
adquiridos na disciplina de Geografia que também aborda conteúdos sobre a importância e a
formação da camada de Ozono. Assim, para o aluno adquirir esse conhecimento de forma
integrada, o professor deve articular os saberes de Química com os de Geografia, além de que
os professores devem articular durante a planificação das aulas.
Do ponto de vista de elaboração do conhecimento, a interdisciplinaridade corresponde a uma
nova consciência da realidade, a um novo modo de pensar e agir, que resulta da reciprocidade
e integração entre diferentes áreas de conhecimentos, visando a produção de novos
conhecimentos, como a resolução de problemas do quotidiano de modo global.
A interdisciplinaridade surgiu no final do século XIX, pela necessidade de dar resposta a
fragmentação das ciências subdivididas em várias disciplinas. Ela foi elaborada visando
restabelecer um diálogo entre as diversas áreas do conhecimento científico (Fazenda, 2008)
Na interdisciplinaridade, a palavra “inter” significa “troca ou reciprocidade” entre áreas do
conhecimento. Ela deve ser vista como eixo integrador de todas as disciplinas, permitindo
compreender um fenómeno sob vários pontos de vista, pois esta rompe com os limites da
disciplina, permitindo estabelecer uma relação entre os conteúdos leccionados em diferentes
disciplinas
No caso da Química, a interdisciplinaridade visa interligar os conhecimentos adquiridos na
disciplina de Química com os conhecimentos das outras disciplinas como a Física, a
Matemática, a Biologia e outras. Neste contexto, a interdisciplinaridade exige uma nova
pedagogia, a da comunicação, cabendo ao professor articular os saberes da Química, por
exemplo, com os de outras áreas de forma integrada.
No entanto, a interdisciplinaridade visa garantir a construção globalizada do conhecimento,
rompendo com as fronteiras das disciplinas. No entanto, integrar conteúdos não seria
suficiente, seria preciso uma atitude de busca, envolvimento, compromisso e reciprocidade
diante do conhecimento.
Nos projectos educacionais a interdisciplinaridade se baseia em alguns princípios, entre eles:
 Na noção do tempo: o aluno não tem tempo certo para aprender. Ele aprende toda a
hora e não apenas na sala de aula;
 Na crença de que é o indivíduo que aprende: Então é preciso ensinar a aprender, pois
embora aprendizagem seja um processo individual, o conhecimento é uma totalidade;
 A criança, o jovem e o adulto aprendem quando tem um projecto de vida e o conteúdo
do ensino é significativo para eles.
 A metodologia do trabalho interdisciplinar implica: integração de conteúdos que
devem passar de uma concepção de fragmentação para uma concepção unitária de
conhecimento;
 Ensino-aprendizagem centrado numa visão de que aprendemos ao longo de toda a
vida.
Nesta perspectiva, a acção pedagógica através da interdisciplinaridade aponta para a
construção de uma escola participativa e descritiva na formação do sujeito social. Na teoria do
13

Vygotsiky (1988) o sujeito não é alguém que espera que o conhecimento seja transmitido a
ele por acto de benevolência, mas aquela que aprende através de suas próprias acções sobre os
objectos do mundo e constrói suas próprias categorias de pensamento.
O objectivo da interdisciplinaridade é articular saber, conhecimento, vivencia, escola e
comunidade, meio-ambiente que se traduz na prática, por trabalho colectivo e solidário na
organização da escola. Em síntese, podemos definir a interdisciplinaridade como sendo a
interacção entre duas ou mais disciplinas, desde a simples comunicação das ideias até a
integração mútua de conceitos, epistemologia, da termologia e dos procedimentos.
A transdisciplinaridade, como o prefixo “trans” diz respeito aquilo que está ao mesmo tempo
entre as disciplinas e além de qualquer disciplina. Ela é um princípio teórico que busca uma
intercomunicação entre as disciplinas, tratando efectivamente de um tema comum
(transversalidade) e não existe fronteira entre as disciplinas. A transversalidade refere-se os
conteúdos que pela sua natureza não pertencem a uma disciplina.
O conceito transdisciplinaridade surge para superar o conceito de disciplina, que se configura
pela fragmentação do saber em diversas matérias. Ela considera que as práticas educativas
foram centradas num paradigma em que cada disciplina é abordada de modo fragmentado e
isolado. Isso resulta também na fragmentação da mentalidade, da consciência e da postura do
indivíduo, perdendo assim a compreensão do ser, da vida, da cultura em suas relações e inter-
relações (Fazenda, 2008).
Nesta perspectiva, a transdisciplinaridade é entendida como a coordenação de todas as
disciplinas e interdisciplinar do sistema de ensino inovado. O termo foi originalmente criado
por PIAGET em 1970 e o conceito dado em 1994 no 1o congresso Mundial de
transdisciplinaridade realizado em Portugal pela UNESCO. A transdisciplinaridade não
significa apenas que as disciplinas colaboram entre si, mas significa também que existe um
pensamento organizado chamado pensamento complexo que ultrapassa as próprias disciplinas
e é integrador.
Assim, as abordagens interdisciplinares, multidisciplinares e transdisciplinares contribuem
para fundamentar um novo diálogo entre os saberes, promovendo uma interação e
comunicação no processo educativo como um dos pressupostos para a formação de indivíduos
activos, participativos e com saberes integrados. Estas abordagens se relacionam com a teoria
geral dos sistemas porque esta teoria pretende superar a fragmentação do conhecimento, o
isolamento implícito das áreas científicas e, por último, tenta atender um mundo crescente e
complexo que exige sabres integrados.
1.2.4. Abordagem sistêmica e o construtivismo na sala de aula
A abordagem sistêmica baseia-se na interação e comunicação entre os componentes do PEA
facto que evidência a sua inter-relação com a concepção construtivista, pois os professores
têm uma tarefa complexa que não se restringe a mediação dos conteúdos em contexto de sala
de aula, mas que inclui aspectos de gestão de relações humanas no âmbito da escola. Significa
que, a aprendizagem na escola deve decorrer num sistema aberto, caracterizado por uma troca
constante de informação entre os componentes do PEA e inter-relação com todo o ambiente
exterior.
Deste modo, o enfoque construtivista enfatiza a construção de novo conhecimento e formas
de pensar mediante a exploração e manutenção activa de objetos e ideias, tanto abstractas
como concretas e explica, ainda, a aprendizagem através de trocas que o indivíduo realiza
com o meio. Os trabalhos de maior influência para a concepção construtivista foram os de
Piaget (1896-1980) e Vygotsky (1896-1934).
14

Para Vygotsky (1991) a interação social desempenha um papel fundamental no


desenvolvimento cognitivo das crianças. Esta abordagem apoia-se na concepção de que o
sujeito elabora conhecimentos sobre objetos e fenómenos do quotidiano a partir da interação.
Neste entendimento, Vygotsky (apud Moreira,1999) refere que, a interação social é o veículo
fundamental para a aquisição dinâmica do conhecimento social, histórico e culturalmente
construído. Para este autor, esta interação é a base fundamental para o desenvolvimento
cognitivo e linguístico de qualquer indivíduo. O autor salienta que “sem interação social ou
sem intercâmbio de significados, dentro da zona de desenvolvimento proximal do aluno, não
há ensino, não há aprendizagem e nem desenvolvimento cognitivo” (Ibid:121). Esta interação
implica que necessariamente todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem
possam ter a oportunidade de falar, de expressar as suas opiniões para puderem reconstruir
novos conhecimentos e ultrapassar as suas dificuldades.
A zona de desenvolvimento proximal é definida por Vygotsky como a distância entre o nível
de desenvolvimento cognitivo real do indivíduo e o seu nível de desenvolvimento potencial (o
nível que pode ser alcançado pelo aluno ou aprendiz com a orientação do professor e com
ajuda dos colegas, pais e encarregados de educação e outros.
Assim, a teoria Vygotskyana relaciona-se com o construtivismo ao considerar que o
conhecimento advém das interações entre o sujeito e o objecto. Neste processo, o que conta é
a interação que existe entre a situação contextual e a maneira pelo qual o sujeito aprende em
função da sua personalidade, do seu organismo, da sua experiência, do seu temperamento e
das suas necessidades.
Segundo Becker (1994), a abordagem construtivista é a que tem gerado mais benefícios e a
que melhor contextualiza e aproveita os recursos tecnológicos para os processos de ensino e
aprendizagem, pois parte de princípio que a construção do saber perpassa o contexto no qual o
aprendiz (aluno) vive. Neste sentido, a construção de saberes se dá num contexto de interação
global entre o indivíduo e o meio social.
Assim, a interação social exerce um papel fundamental no desenvolvimento cognitivo. Além
de que o desenvolvimento cognitivo do aluno não pode ser determinado apenas pelo que
consegue produzir de forma independente, mas sim, é necessário saber o que o aluno
consegue realizar com ajuda dos outros.
Ademais, a aprendizagem na base da teoria construtivista é um processo contínuo de relações
entre os sujeitos e objectos, onde o indivíduo constrói o conhecimento por meio de interacção
entre os meios físico e social. Por exemplo, usando experiências químicas do tipo
investigativas, a aprendizagem vai acontecer como resultado de interacção que o aluno vai
estabelecer com o seu meio social, através de metodologias participativas.
Neste sentido, a teoria da aprendizagem construtiva admite que o conhecimento seja
construído pelo próprio aluno, pois o aluno já possui um acervo de conhecimentos que muitas
vezes é ignorado (Krasilchik, 2004). Para este autor, os alunos devem ser estimulados, através
de várias estratégias para construir o conhecimento de forma activa.
Para os construtivistas, o conhecimento adquire-se no agir, no manipular objetos, no criar, no
construir a partir da realidade e experiência vivida pelos alunos e pelos professores. É neste
ponto que a actividade experimental, típicas das Ciências Naturais, tem uma grande
contribuição por proporcionar uma acção e um espaço para a criatividade do aluno, na medida
em que este pode ter a oportunidade de reconstruir os seus conceitos, tirar as suas próprias
conclusões e elaborar novos conhecimentos a partir dos fenómenos observados.
15

Segundo Monteiro & Santos (2002), a aprendizagem tem por finalidade a aquisição de
hábitos, valores e conhecimentos. Toda a aquisição de conhecimentos faz-se pela intervenção
de uma operação mental cujos procedimentos implicam o recurso à memória que possibilita o
aluno reter o que aprende para responde de forma adequada às situações presentes no seu
quotidiano.
Nesta perspectiva, o aluno vai reformular as suas estruturas cognitivas apenas se as
informações ou experiências novas do seu quotidiano forem ligadas ao conhecimento já
existente na sua memória. Factos ou informações memorizados que ainda não estejam ligados
às experiências anteriores dos alunos, serão rapidamente esquecidos. Isto significa que o
aluno deve activamente construir nova informação na sua base mental a partir da informação
anterior ou factos observados para que ocorra uma aprendizagem significativa.
Assim, quando o aluno aprende de maneira significativa, não reproduz simplesmente o que foi
ensinado, mas constrói significados para suas experiências e, aprender algo supõe sempre uma
relação entre o que está sendo aprendido e o que já se sabe sobre o assunto, isto é, toda
aprendizagem depende do conhecimento prévio (Becker, 1994). Por isso, apelamos aos
professores de Química que valorizem os conhecimentos prévios dos alunos para que as suas
aprendizagens sejam sólidas e duradoiras.
O nível de desenvolvimento do aluno não pode ser determino apenas pelo que consegue
produzir de forma independente, é necessário saber o que ele consegue fazer, mesmo,
necessitando da ajuda de outras pessoas. Neste sentido, os professores devem ser bons
observadores dos seus alunos, pois devem se preocupar com o que os alunos estão fazendo e
com o que são capazes de fazer. Os professores devem envolver os seus alunos em atividades
práticas relevantes que contribuirão para desenvolver as competências como experiências
químicas, jogos lúdicos ou didácticos, visitas de estudo, uso de tecnologias, entre outras.
O construtivismo pressupõe que o aluno é um sujeito activo na construção do conhecimento e
não meramente um receptor de saberes. Neste sentido, a aprendizagem perpassa os aspectos
do contexto no qual o aluno está inserido. Segundo Moreira (1999), construtivismo é uma
posição filosófica cognitivista e interpretacionista. Refere este autor que, é cognitivista porque
se ocupa da cognição, isto é, de como o indivíduo constrói sua estrutura cognitiva.
Interpretacionista porque supõe que os eventos e objetos do universo são interpretados pelo
sujeito. Isto significa que a aprendizagem dos alunos depende das situações de ensino em que
os alunos estão sujeitos e das actividades apresentadas pelo professor.

Figura 6: Imagem com estudantes em interação numa aula prática


16

1.2.5. Metodologia da aprendizagem sistêmica


Abordagem sistêmica é uma metodologia que busca conjugar conceitos de diversas ciências a
respeito de determinado objeto de pesquisa. É baseada na ideia de que um determinado objeto
de estudo possui diversas dimensões e facetas que podem ser estudadas e entendidas por
diversas ciências e que diferentes ciências podem ser empregadas no estudo e na compreensão
de determinado fenómeno. Significa que, aprendizagem sistêmica se baseia na teoria
interdisciplinar capaz de transcender aos problemas específicos de cada ciência e proporcionar
estratégias e modelos gerais para explicar todas as ciências envolvidas, de forma que as
descobertas efectuadas em cada ciência possam ser utilizadas nas diferentes áreas de
conhecimento.
Nesta perspectiva, a prática interdisciplinar necessita de pedagogia apropriada, processo
integrador, mudança institucional e relação entre diferentes áreas de conhecimento (KLEIN,
2001). Deste modo, convém não esquecer que, para que haja interdisciplinaridade, é preciso
que existam as disciplinas. Assim, as propostas interdisciplinares surgem e desenvolvem-se
apoiando-se nas diferentes disciplinas.
Apesar de a interdisciplinaridade ser um conceito que já vem sendo discutido há algum tempo
(Fazenda, 2008), refere que, ainda, são poucos os trabalhos no sentido de mostrar sua legítima
prática no âmbito da educação. Além disso, o debate com relação às práticas interdisciplinares
continua sendo mais intenso na educação básica do que no ensino secundário e superior, o que
nos leva a entender que precisamos encontrar espaços para discussão, especialmente na
questão da formação de professores.
Segundo Santomé (1998), as práticas interdisciplinares na escola exigem do professor uma
postura diferenciada. Deste modo, entendemos que a prática interdisciplinar exige
envolvimento do professor para a troca de experiências e o diálogo colectivo, pois ela emerge
da colectividade e da interação e troca de saberes entre os envolvidos no processo educativo.
Sendo assim, a prática interdisciplinar pressupõe a superação do individualismo tanto dos
sujeitos envolvidos no trabalho educativo quanto dos conhecimentos que necessitam da
articulação e inter-relação das diversas áreas do saber no processo de ensino-aprendizagem.
Dessa forma, a interdisciplinaridade apresenta-se como um grande desafio a ser assumido
pelos educadores que buscam a superação de uma prática de ensino e aprendizagem
tradicionais, pois apenas a partir da mudança conceitual no pensamento e na prática docente
poderá ser apresentado aos alunos um saber não-fragmentado e contextualizado, o que lhes
dará condições de pensar de forma a integrar os diferentes saberes adquiridos nas várias
disciplinas.
Nesta perspectiva, reitera-se a ideia de que para desenvolver o ensino interdisciplinar torna-se
necessário, entre outros aspectos, uma mudança de atitude do professor diante de uma nova
forma de compreender o mundo e, consequentemente, sua prática pedagógica (Fazenda,
2008).
Assim, quando o professor trabalha conhecimentos específicos da sua disciplina deve
procurar trazer para esse contexto conhecimentos de outras áreas, o que permitem ultrapassar
as fronteiras entre as disciplinas. Para que isso aconteça, o professor precisa ter um mínimo de
conhecimento das outras disciplinas com as quais estabelecerá as devidas relações. Dessa
forma, como argumenta Rios (1997), essa prática pode ser considerada uma tentativa de
ampliação do conhecimento, sendo que só é possível falarmos em interdisciplinaridade se
ocorrer, de fato, uma interacção entre duas ou mais disciplinas.
Se tomarmos por base que a Química trata da matéria e suas transformações, podemos
constatar que esta disciplina se caracteriza como uma ciência interdisciplinar porque seu
17

campo de investigação e aplicação é muito amplo. Segundo Trindade (2004), a Química


engloba a origem e o destino do Universo e de tudo que o compõe, as modificações que nele
ocorrem, bem como dos agentes destas transformações.
Exemplos de algumas estratégias interdisciplinares:
 Elaboração de projetos envolvendo professores de diferentes disciplinas do ensino
secundário e professores da universidade, com vistas a solucionar problemas da
realidade escolar e/ou da comunidade onde a escola se encontra inserida;
 Formação de grupos de estudos envolvendo professores de diferentes áreas do
conhecimento, sob orientação de professores da área de ensino e professores da
Universidade;
 Participação dos professores em cursos de formação contínua ofertados pelas
instituições de nível superior da área de ensino.
 Elaboração e aplicação de oficinas pedagógicas sobre temas sociais pelos professores
do ensino secundário e professores da universidade.
No entanto, acreditamos que o ensino de Ciências Naturais terá a relevância que merece
quando alcançarmos a compreensão e consciência de que a realização de práticas de ensino
interdisciplinares e contextualizadas carregam em si um enorme potencial para que possa
oferecer uma educação que possibilite a formação de seres humanos críticos, participativos,
capazes de transformar a realidade na qual estão inseridos.
Assim, no ensino de Ciências Naturais a prática da metodologia interdisciplinar é fundamental
porque estimula os alunos a novas descobertas, propiciando diálogo entre os participantes que
perpassam as diversas áreas do conhecimento. Cabe ao professor recorrer a métodos
participativos como, por exemplo, a elaboração conjunta, aprendizagem baseada na resolução
de problemas, trabalho em projectos, actividade experimental, entre outros. Salientar que, em
todos os procedimentos o professor deve na medida do possível, dar ao aluno a oportunidade
de agir, isto é, de realizar acções que estimule as suas capacidades cognitivas, motoras e
afectivas.
Por conseguinte, a tarefa do professor, no processo de ensino-aprendizagem, não é apenas de
mediar os conhecimentos, mas também de ajudar o aluno a organizar e desenvolver os seus
pensamentos, a escolher um caminho na vida, a ter atitudes e convicções que orientem as suas
opções diante dos problemas vividos e situações da vida quotidiana, para além de lhe dar
ferramentas necessárias para ser capaz de interpretar o mundo que o rodeia.
1.2.6. Inter-relação entre educação contemporânea e abordagem sistêmica
A educação é um processo transformador que deve ser enraizado na cultura dos povos, pois a
partir dele as pessoas tornam-se livres e o povo sem educação é um povo sem futuro. Para
Gadotti (1997), quando se aprende os indivíduos desenvolvem o pensamento livre que lhe
permite serem reflexivos, críticos e participativos. Este autor refere, ainda, que a relação
pedagógica não pode ser aquela onde as novas gerações entram em contacto com as antigas e
absorvem as suas experiências e valores historicamente necessários, mas sim deve-se
compreender a educação contemporânea como um sistema integrado que possui todas as
características de um sistema aberto, isto é, que recebe e transmite informações, comunicando
e integrando factos.
Deste modo, torna-se possível correlacionar a abordagem sistêmica com a educação
contemporânea, pois a escola é percebida como um sistema aberto, onde abordagem sistêmica
na prática pedagógica permite maior amplitude de olhar e direcionar o PEA como um todo,
18

não compartimentado, mas integrado, onde todos os actores estão envolvidos, isto é,
professores, alunos, encarregados de educação entre outros.
Assim, o enfoque sistêmico baseia-se na interdisciplinaridade porque permite que o
desenvolvimento em uma área de conhecimento possa ser aplicado em outras áreas. Neste
sentido, a abordagem sistêmica é entendida como global, pois toma em consideração a
totalidade dos elementos envolvidos em uma situação, quebrando os paradigmas pré-
estabelecidos no campo da ciência pela abrangência e complexidade na resolução dos
problemas. Nesta óptica, a aprendizagem depende das situações de ensino e das actividades
apresentadas aos alunos.
19

2. EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA COMO DESAFIO DA EDUCAÇÃO


CONTEMPORÂNEA
O termo cidadania, chama atenção para responsabilidade pessoal e colectiva na busca de
soluções, valorizando a contribuição de cada pessoa.
Segundo Carmo (2014), a primeira premissa para se ser cidadão é ser autónomo e solidário:
significa ter capacidade de liderança sobre si e sobre os outros, de forma a desempenhar
eficazmente os papéis sociais que integram a história de vida do indivíduo. Além disso, ser
solidário é ser consciente da interdependência das gerações passadas, presentes e futuras. A
segunda premissa é ser socialmente responsável, isto é, aprender a lidar com a diversidade,
gênero, multiculturalismo, democracia, etc. Aprender a viver numa sociedade democrática
com metas consensuais no quadro normativo dos direitos humanos e deveres cívicos e
universais.
Um cidadão responsável tem de estar informado e deve ter conhecimento das diferentes áreas
para melhor interpretar o mundo que o rodeia. Educar para cidadania é assim, tornar os
cidadãos aptos a escolher e a participar na vida da sua comunidade, com conhecimento de
causa.
Assim, dominar os códigos a ter a capacidade de interpretar os fenómenos do mundo actual
são requisitos indispensáveis para estar incluído na sociedade moderna. No entanto, a escola
parece ter dificuldades em assumir o seu papel formador no que diz respeito à construção de
uma convivência sem exclusão. Nesta perspectiva, o obstáculo reside na discussão sobre os
valores que hoje dão contorno para a diversidade cultural, etnoracial, religiosa, entre outras.
A educação para a cidadania refere-se aos aspectos da educação escolar que visam preparar os
alunos para se tornarem cidadão activos, assegurando que disponham de conhecimentos,
competências e atitudes para contribuírem no desenvolvimento e o bem-estar da sociedade em
que se encontram inseridos (Gallo, 2005). Este autor salienta que, educação para cidadania é
um conceito amplo, que engloba não só ensino-aprendizagem, mas também as experiências
práticas adquiridas através da vida escolar e das atividades desenvolvidas na sociedade em
geral.
Esta abordagem procura favorecer a construção de uma sociedade com maior equidade e
coesão social, tarefa que só será fácil se os jovens educados participarem activamente da vida
social, promovendo a cidadania activa como um dos objetivos dos sistemas educativos de
quase todos os países. Neste sentido, a educação para a cidadania refere-se aos aspectos de
educação escolar que visam preparar os alunos para se tornarem reflexivos, participativos,
assegurando que se disponham de conhecimentos, competências e atitudes necessárias para
contribuírem no desenvolvimento social e o bem-estar da comunidade em que vivem.
No entanto, educação para cidadania trata-se de um conceito amplo, que engloba não só o
ensino e aprendizagem na sala de aula, mas também as experiências práticas adquiridas
através da vida escolar e das atividades desenvolvidas na sociedade em geral. A atitude dos
alunos relativamente a cidadania pode ser avaliada através da aquisição de determinadas
competências como cívicas, sociais, comunicativas, interculturais, etc. As competências
cívicas manifestam-se na participação nas actividades sociais, por exemplo, acção do
voluntariado; as sociais, através da vivência, trabalho e resolução de conflitos com outras
pessoas e as competências comunicacionais, através de escuta, compreensão e participação
em debates públicos e interculturais na base de diálogo e apreço pela diversidade.
Hoje, o ritmo da inovação tecnológica ajuda abrir muitas possibilidades para romper com a
forma tradicional de mediação dos conteúdos, passando para acção pedagógica participativa e
cidadã com a finalidade de construir alunos activos, críticos, reflexivos, preparando-os para
20

enfrentar os desafios da sociedade contemporânea. Além disso, este tipo de educação tem
contribuído significativamente para a igualdade de género, pois baseia-se em direitos
humanos, através da promoção de conhecimentos, habilidades, valores e atitudes sobre o
respeito entre os homens e as mulheres. Para Gallo (2005), essa educação leva em
consideração a diferença na singularidade de cada indivíduo e surge na contemporaneidade
como rompimento do método tradicional, reforçando um olhar singular e humanizado.
Na mesma linha de pensamento, Freire (2009) refere que a educação para a cidadania visa
contribuir para a formação de pessoas responsáveis, autónomas, solidárias que conhecem e
exercem os seus direitos e deveres em diálogo e no respeito pelos outros, com espirito
democrático, crítico e criativos. Deste modo, percebe-se que estamos na presença de um novo
paradigma social e de novos modos de encarrar a educação e o papel dos sistemas educativos
onde se deve prepara os alunos para se tornarem cidadãos activos, assegurando que os
mesmos disponham de conhecimentos, competências, atitudes e valores necessários para
contribuírem para o desenvolvimento e o bem-estar da sociedade em que vivem.
21

3. CONCLUSÃO
Educação contemporânea é um novo paradigma social e de novos modelos de encarrar a
educação e o papel do professor. Nesta perspectiva, as orientações sobre a educação
valorizam a interdependência entre pessoas, povos e culturas, tomando por base o
desenvolvimento da autonomia e da responsabilidade de cada indivíduo baseado na interação
com o meio onde se encontra inserido. Assim, a tarefa da escola é de oferecer aos indivíduos
meios para que estes possam se desenvolver integralmente em todos os aspectos, adquirindo
competências para a vida. Significa que, o professor contemporâneo deve ser capaz de
promover situações pertinentes e favoráveis a aprendizagem integrada como base para a
construção de valores éticos, sociais, comunicativos, recorrendo as novas tecnologias.
Deste modo, a educação contemporânea será mais eficaz no seu papel social se for pensada e
implementada como sendo intercultural e comprometida com o desenvolvimento social num
contexto de abordagem sistêmica que se baseia na interação entre os componentes do PEA.
Por isso, a escola actual tem o grande desafio de proporcionar aos professores em exercício e
os recém-formados formações contínuas de forma adaptá-los de ferramentas que lhes
permitem garantir uma melhor qualidade de ensino em todos níveis.
22

BIBLIOGRAFIA
AGUIAR, M. Psicologia aplicada à administração. Uma abordagem interdisciplinar. São
Paulo: Saraiva, 2006.
ALMEIDA, S. Aprendizagem colaborativa como método de apropriação do conhecimento
químico em sala de aula. Dissertação de mestrado. Universidade Federal de Goiás,
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