Você está na página 1de 31

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E

TECNOLÓGICA
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO
CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIAS AGROPECUÁRIAS
LABORATÓRIO DE MORFOLOGIA E PATOLOGIA ANIMAL
SETOR DE FARMACOLOGIA

Relatório do período: 02/2022 a 01/2023

RELATÓRIO ANUAL

Nome do Bolsista: Gabriela Correa Leôncio

Curso e N° Matrícula: Medicina Veterinária/00117130575

Orientador: Marinete Pinheiro Carrera

Título do Projeto: Dependência química e memória: Efeito do tratamento crônico


com morfina na morfologia dendrítica de estruturas do sistema de recompensa
cerebral.

Título do Plano de Trabalho: Alterações da arborização dendrítica dos neurônios


do circuito de recompensa cerebral resultante de processos de aprendizagem e do
tratamento com morfina

Fonte financiadora da Bolsa: UENF


1. ETAPAS PROPOSTAS NO PLANO DE TRABALHO

1.1. REALIZAÇÃO DO EXPERIMENTO COMPORTAMENTAL 1


Esta etapa foi realizada, e seus resultados estão expressos no item
5.1.1 do presente relatório.

1.2. REALIZAÇÃO DO EXPERIMENTO COMPORTAMENTAL 2


Está etapa foi realizada, e seus resultados estão expressos no item 5.2
do presente relatório, com exceção dos grupos que recebem o tratamento
15 minutos após a arena (VEI-15’, MOR-PARCIAL-15’ e MOR-TOTAL-15’),
devido a inclusão de um grupo novo não proposto no plano de trabalho, o
grupo VEI-MOR, para verificar o efeito de uma única exposição à morfina
em um ambiente habituado, o resultado deste grupo representado pelo item
5.2 deste relatório. Os grupos que recebem o tratamento 15 minutos após a
arena, estão incluídos, como perspectiva de continuidade do trabalho para o
próximo plano de trabalho, representado pelo item 8.2 deste relatório.

1.3. REALIZAÇÃO DA COLORAÇÃO DE GOLGI E ANALISE DA


MORFOLOGIA DENDRÍTICA DOS EXPERIMENTOS 1 E 2
A análise da morfologia do Experimento 1 foi realizada, e seus
resultados estão expressos no item 5.1.2, deste relatório. A análise da
morfologia dendrítica do experimento 2, ainda está em andamento, devido a
um maior tempo gasto na análise morfológica do córtex pré-frontal do
experimento 1. Houve a necessidade se incluir parâmetros não propostos
no plano de trabalho, como, a divisão da análise da morfologia dendrítica do
córtex em dendritos apicais e basais, e a analise de mais de uma camada
do córtex (Camadas 2/3 e Camadas 5/6). As análises da morfologia
dendrítica do experimento 2 está proposta como perspectiva de
continuidade do trabalho para o próximo plano de trabalho, representados
pelo item 8.1 deste relatório.
1.4. APRESENTAÇÃO E SUBMISSÃO DE TRABALHOS E RESUMOS
Esta etapa foi realizada, e está representada pelo item 9 do
presente relatório.

2. INTRODUÇÃO

A dependência de opioides é uma doença decorrente do uso crônico de


opioides, caracterizada pela prioridade dada ao uso em detrimento de outras
atividades e a persistência do uso apesar dos danos ou consequências
negativas (WHO, 2019), mofina é um agonista opioide é capaz de gerar
dependência. A gênese da dependência envolve mecanismos de
aprendizagem associativa se dá pela formação de memorias associadas à
droga (Everitt e Robbins, 2001), onde pistas e contextos são associados ao uso
de drogas. Acredita-se que memórias persistentes e indesejadas são os
principais contribuintes para o vício em drogas e o problema crônico de recaída
ao longo da vida do paciente (Sorg, 2012).

A administração repetida de drogas psicotrópicas pode resultar em um tipo


de aprendizagem denominada sensibilização comportamental, que é
caracterizada pelo aumento progressivo de uma determinada resposta
comportamental e/ou fisiológica quando a mesma dose da droga é
administrada repetidamente (Robinson e Berridge, 2001). Em ratos, a
sensibilização pode ser observada através da hiperatividade, principalmente
pelo aumento da locomoção (Matos et al., 2010; Dias et al., 2010). Um outro
tipo de aprendizagem é a habituação, sendo uma aprendizagem não
associativa na qual uma resposta inata (não reforçada) a um estímulo diminui
após apresentações repetidas ou prolongadas desse estímulo (Rankin et al.,
2009). Em roedores de laboratório, um método de se observar a habituação é a
colocação do animal em uma arena experimental por sessões diárias ao longo
de um período de dias. A diminuição da atividade locomotora/exploratória ao
longo dos dias é indicativo do desenvolvimento da habituação (Leussis e
Bolivar, 2006).
A sensibilização comportamental constitui um modelo de plasticidade neural
produzindo adaptações neuroquímicas no sistema de recompensa cerebral
(Robinson e Berridge, 2001). Essas adaptações têm sido fundamentais para a
compreensão do uso de drogas e dependência. Esse circuito é ativado em
resposta ao uso drogas, no qual uma área do encéfalo chamada de área
tegmental ventral (VTA) produz dopamina e libera em outra parte do encéfalo,
o núcleo accumbens (NAc), dando origem a sentimentos de prazer e
recompensa. O córtex pré-frontal é uma região do circuito que envia projeções
para o VTA controlando através de feedback os impulsos para obter prazer por
meio de ações que podem ser potencialmente perigosas e imprudentes, mas
esse feedback parece ser comprometido em indivíduos que se tornam viciados
em drogas (Kosten e George, 2002). Após repetidas exposições, os neurônios
pararam de disparar durante a entrega previsível da recompensa, em vez
disso, passaram a disparar quando foram expostos a estímulos contextuais que
foram preditivos da recompensa (Roitman et al., 2004).

A plasticidade sináptica, um possível substrato para a aprendizagem, foi


demonstrada nos circuitos neurais de recompensa e pode contribuir para a
aprendizagem de comportamentos de abuso de drogas. A dopamina regula a
plasticidade sináptica excitatória, aumentando e diminuindo a força sináptica
dos neurônios por meio de LTP e LTD (De Roo et al, 2008). Drogas de abuso
podem cooptar esses mecanismos de plasticidade sináptica no circuito e
recompensa alterando a força das conexões sinápticas (Kauer e Malenka
2007). Os dendritos são processos elaborados que se ramificam do corpo
celular dos neurônios e formam o local de comunicação sináptica entre as
células dentro de uma rede. São cobertos por os espinhos dendríticos que
representam os botões terminais (entrada pós-sináptica) onde as conexões
sinápticas excitatórias são formadas. Tais estruturas possuem um papel
significativo no processamento de informações que ocorre em neurônios
individuais, bem como nos mecanismos de indução de plasticidade local.

Trabalhos mostram que a morfina é capaz de produzir alterações na


morfologia dendrítica do núcleo accumbens e do córtex pré-frontal (Robinson e
Kolb, 1999b; Robinson et al., 2002, Spiga et al., 2005; Diana et al., 2006; Pal e
Das, 2013; Leite-Morris et al., 2014; Kobrin et al., 2016). Assim, as alterações
dendríticas podem ser chaves para os mecanismos funcionais e
comportamentais persistentes produzidos por morfina.

3. OBJETIVOS

3.1. Gerais

O objetivo foi verificar o efeito do tratamento com morfina na consolidação


de uma aprendizagem não associativa e suas implicações na plasticidade
sináptica vista através da complexidade da arborização dendrítica dos
neurônios do núcleo accumbens e do córtex pré-frontal medial.

Para se estudar o efeito da morfina na consolidação de uma aprendizagem


não associativa, foi utilizado um protocolo de condicionamento Pavloviano de
traço verificando-se o desenvolvimento da sensibilização locomotora e também
o efeito da habituação nesse desenvolvimento.

Para se estudar as alterações dendríticas foi utilizado a técnica histológica


de Golgi-Cox que é considerada uma das técnicas mais confiáveis para
mostrar arborização dendrítica, com baixa interferência de estruturas de fundo
(“low interference level from background structures”) e esse método tem a
vantagem de marcar/colorir vários tipos neuronais em comparação com outros
métodos de coloração e, além disso, toda a árvore dendrítica dos neurônios
corticais pode ser claramente visualizada (Kang et al., 2017).

3.2. Específicos

 Verificar o efeito da morfina no desenvolvimento da sensibilização


locomotora utilizando-se um protocolo de condicionamento Pavloviano
de traço.

 Verificar o efeito do desenvolvimento da sensibilização locomotora


produzida por morfina na morfologia dendrítica dos neurônios do núcleo
accumbens e córtex pré-frontal medial.
 Verificar o efeito da habituação no desenvolvimento da sensibilização
locomotora e na morfologia dendrítica dos neurônios do núcleo
accumbens e córtex pré-frontal medial.

4. METODOLOGIA

4.1. Animais

Foram utilizados ratos machos Wistar albinos provenientes do Biotério


Central da UENF, mantidos em gaiolas individuais de plástico até o final dos
experimentos, pesando entre 200 e 300g com comida e água disponíveis
livremente. O biotério permaneceu com uma temperatura constante de 22 +
2°C e ciclo de claro/escuro de 12/12h. Os experimentos comportamentais
ocorreram entre 12:00 e 14:00h. Antes do início dos experimentos os ratos
foram manipulados diariamente por 5 minutos durante 7 dias, para minimizar os
efeitos do estresse. Todos os procedimentos deste relatório foram aprovados
pelo Comitê de Ética de Uso de Animais (CEUA / Protocolo 461) da UENF.

4.2. Fármaco

Foi utilizado o fármaco sulfato de morfina (Dimorf® 10 mg/ml; Cristália,


Brasil), na dose de 10 mg/kg administrado por via subcutânea. Como veículo
foi utilizado a solução salina (NaCl 0,9%) no volume de 1ml/kg.

4.3. Protocolo de condicionamento Pavloviano de traço

4.3.1. Ambiente experimental

Os experimentos foram realizados em quatro salas com iluminação


vermelha, temperatura controlada (22 ± 2°C) e um ventilador que funcionou
como ruído de fundo quando ligado. Cada sala continha uma arena quadrada
com dimensões de 60x60x45cm na cor preta e câmeras posicionadas acima de
cada arena, acopladas a um computador compatível, contendo o programa
EthoVision (NOLDUS), que quantificou a locomoção em distância percorrida
(m).

4.3.2. Delineamento Experimento 1

O experimento consistiu de uma única sessão na arena. Os animais


receberam solução salina e imediatamente foram colocados na arena
experimental durante 5 minutos e sua locomoção foi registrada. Imediatamente
após o fim da sessão, os ratos foram eutanasiados.

A tabela 1 mostra o delineamento do experimento 1.

Tabela 1: Delineamento do experimento 1

Tratamento Farmacológico

Grupo Imediatamente Pré-


Imediatamente Pós-arena
arena

VEICULO-1
Veiculo Eutanásia
(n=6)

4.3.3. Delineamento Experimento 2

O experimento consistiu em 2 fases, a fase de tratamento farmacológico


com duração de 5 dias e o teste final no dia consecutivo ao último dia da fase
de tratamento farmacológico.

a) Fase de tratamento farmacológico: Os animais receberam salina e foram


imediatamente colocados na arena por 5 minutos, para o registro da
locomoção. Imediatamente após o término da sessão, os animais
receberam os tratamentos: veículo (salina) ou morfina 10 mg/kg (MOR
10 mg/kg) de acordo com seu grupo pertencente e retornaram para as
suas gaiolas-viveiros. Os grupos foram os seguintes:

 VEÍCULO (n=7): recebeu veículo antes e após a sessão na arena.

 VEI-MOR (n=7): recebeu veículo após a arena nos 4 primeiros dias e


morfina 10 mg/kg no 5º dia.

 MOR-PARCIAL (n=7): recebeu veículo após a arena nos 2 primeiros


dias e morfina 10 mg/kg nos 3 últimos dias.

 MOR-TOTAL (n=7): recebeu morfina 10 mg/kg após a arena.

b) Teste final: Todos os animais receberam salina, serão colocados na


arena e após a sessão serão eutanasiados.

A tabela 2 apresenta o delineamento do experimento 2


Tabela 2: Delineamento experimento 2.

Tratamento Farmacológico

1º - 2º dia 3º - 4º dia 5º dia Teste Final


Grupo

I-Pré- I-Pós- I-Pré- I-Pós- I-Pré- I-Pós- I-Pré- I-Pós-


arena arena arena arena arena arena arena arena

VEICULO
Veiculo Veiculo Veiculo Veiculo Veiculo Veiculo Veiculo Eutanásia
(n=7)

VEI-MOR
Veiculo Veiculo Veiculo Veiculo Veiculo Morfina Veiculo Eutanásia
(n=7)

MOR-
PARCIAL
Veiculo Veiculo Veiculo Morfina Veiculo Morfina Veiculo Eutanásia

(n=7)

MOR-
TOTAL Veiculo Morfina Veiculo Morfina Veiculo Morfina Veiculo Eutanásia

(n=7)

4.4. Análise da morfologia dendrítica

4.4.1. Técnica de Golgi-cox

Foi utilizada a técnica de coloração do tecido neural de Golgi-Cox com


base no protocolo descrito por Zhong et al. (2019), com modificações. Após a
finalização da etapa comportamental, os animais foram eutanasiados por meio
da administração intraperitoneal de uretana 30% (Sigma, ST. Louis, Mo, USA).
Utilizando uma guilhotina para roedores (Stoelting Co., Wood Dale, Illinois,
USA) os corpos decapitados na base do crânio, logo atrás das orelhas, em
seguida a calota craniana foram seccionados, o encéfalo removido, lavado com
água destilada e imerso na solução de trabalho. A solução de trabalho é
composta por 5 partes de solução de dicromato de potássio 5% (Sigma), 5
partes de cloreto de mercúrio 5% (Sigma), 4 partes de cromato de potássio 5%
(Sigma) e 10 partes de água destilada, a solução de trabalho foi preparada com
5 dias de antecedência, e mantida no escuro até o dia de sua utilização. Os
encéfalos permaneceram na solução de trabalho ao longo de três semanas, em
temperatura ambiente e em tubos tipo Falcon de 50ml protegidos da exposição
luminosa, devido à fotossensibilidade da solução. Após o período, os encéfalos
foram transferidos para a solução de crioproteção (sacarose 20% + glicerina)
que foi trocada após 24 horas, e em seguida permaneceram na nova solução
por mais 48 horas a 4 ° C. Os encéfalos foram removidos da solução de
crioproteção, colocados em formas, embebidos pelo meio de congelamento
Tissue-Tek Counpound ®, congelados com nitrogênio líquido e seccionados
em fatias 100 μm de espessura, em um criostato (Leica Biosystems). Após, os
cortes foram fixados em lâminas previamente gelatinizadas com sulfato de
cromo e potássio e cobertos com papel filme até o momento das lavagens.
Para o córtex pré-frontal medial os cortes serão feitos entre as coordenadas
estereotáxicas de 3.72 mm a 2.52 mm do bregma, e para o núcleo accumbens
entre as coordenadas estereotáxicas de 2.28 mm a 1.28 mm do bregma
(Paxinos e Watson, 2007). As lavagens das lâminas com os cortes foram feitas
na seguinte sequência: lavagem com água destilada por um minuto, incubação
no hidróxido de amônia (Sigma) por trinta minutos, lavagem com água
destilada por um minuto, incubação na solução de tiossulfato de sódio 5%
(Sigma) por dez minutos, lavagem com água destilada por um minuto. A
desidratação das lâminas foi feita através de banhos de álcool etílico (Synth)
em diferentes concentrações (50%, 70%, 80%, 90%, 100%) por um minuto em
cada concentração e duas repetições da concentração de 100%. Após, foram
colocadas em uma solução de 50% álcool etílico e 50% xilol por um minuto e
diafanizadas em três banhos de xilol por três minutos cada, em seguida as
lâminas foram montadas com a lamínula utilizando o meio de montagem DPX
Mountant for histology (Sigma) e mantidas no escuro até a avaliação
microscópica.

5.3.2 Avaliação da Complexidade dendrítica

As imagens dos neurônios foram obtidas através de um microscópio óptico


de campo claro © Leica Microsystems. Foram analisados 5 neurônios
piramidais das camadas ll e lll do córtex pré-frontal, 5 neurônios piramidais das
camadas V e VI do córtex pré-frontal e 5 neurônios espinhosos médios do
núcleo accumbens por animal.

A análise da complexidade da arborização dendrítica foi feita por meio dos


parâmetros de densidade das espinhas dendríticas, número de dendritos,
comprimento dendrítico (μm) e o número de interseções por raio, através da
análise de Sholl. A análise dos parâmetros de número de dendritos,
comprimento dendrítico e número de interseções por raio foi feita utilizando a
distribuição Fiji do software Image J, sendo mensurados através do
rastreamento semiautomático dos dendritos utilizando o plugin NeuronJ, dentro
de um raio de 150 μm, para uma padronização dos resultados. A análise de
Sholl foi feita utilizando o plugin Neuroanatomy, no qual número de interseções
por raio, foi dado através da quantidade de vezes que os dendritos interceptam
raios circunscritos ao corpo neuronal, equidistantes 10 μm.

As espinhas foram quantificadas no software Leica X (LAS X), através da


coleta da densidade de espinhas de dois segmentos de cada nível de dendritos
(primários, secundários e terciários) de cada neurônio.

4.5. Análise Estatística

Os resultados comportamentais foram analisados utilizando Análise de


Variância (ANOVA) de medidas repetidas. Nas análises onde se obtiveram
valores de F de acordo com os critérios estatísticos de p < 0.05, as diferenças
entre os grupos foram testadas através do teste de Tukey.

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Experimento 1 - Efeito da novidade na complexidade da arborização


dendrítica dos neurônios do córtex pré-frontal medial e núcleo
accumbens.

Esse experimento teve como objetivo obter valores controles dos


parâmetros de avaliação da arborização dendrítica. Para isso, os animais foram
expostos uma única vez à arena experimental.
5.1.1 Análise comportamental experimento 1

A Fig. 1 apresenta a locomoção dos animais nessa única sessão (19,75


+ 3,80; média + desvio padrão).

Figura 1: Média e Erro Padrão da Média da locomoção de ratos expostos à uma única sessão
na arena experimental.

5.1.2 Análise da morfologia dendrítica Experimento 1

Foram analisados os neurônios piramidais presentes nas camadas 2-3 e


nas camadas 5-6 do córtex pré-frontal medial a Fig. 2 representa alguns tipos
de neurônios piramidais presentes em cada camada. A contagem de número
de dendritos e de comprimento dendrítico foi dividida em dendritos apicais que
emergem do ápice do corpo celular dos neurônios piramidais, e dendritos
basilares que emergem da base do corpo celular. A Fig. 3 representa os tipos
de dendritos presentes no neurônio piramidal.

Figura 2: Alguns tipos de neurônios piramidais com os corpos celulares distribuídos entre as
camadas 2-6 do córtex pré-frontal medial. L1: Camada cortical 1; L2: Camada cortical 2; L3:
Camada cortical 3; L5: Camada cortical 5; L6A: Camada cortical 6A; L6B: Camada cortical 6B.
Retirado de Radnikow, G and Feldmeyer, D. Layer- and Cell Type-Specific Modulation of
Excitatory Neuronal Activity in the Neocortex. Frontiers in Neuroanatomy,v. 12, 2018.

Apicais

Basilares
Figura 3: Reconstrução dos dendritos por rastreamento de um neurônio piramidal do córtex
pré-frontal medial corado com Golgi-Cox. O neurônio piramidal é composto por dendritos
apicais e dendritos basilares.

A Fig. 4 apresenta o comprimento dendrítico (A) e o número de


dendritos (B) de neurônios piramidais das camadas 2-3 e 5-6 do córtex pré-
frontal medial.

Figura 4: Média e Erro Padrão da Média do comprimento dendrítico (A) e do número de


dendritos (B) de ratos expostos à uma única sessão na arena experimental.

Foi realizada a análise de Sholl (Fig. 5) a fim de se estudar a maneira


pela qual o número de ramificações varia com a distância do corpo celular. A
Fig. 6 apresenta o número total de interseções (A) e o número total de
interseções por raios (B) das camadas 2-3 e 5-6 do córtex pré-frontal medial.
Figura 5: Analise de Sholl. Círculos circunscritos ao corpo celular, equidistantes 10 um, cada
cruzamento entre o dendrito e um circulo representa um ponto de interseção. Os círculos estão
dispostos pelos dendritos com raios entre 10 a 150 um.
Figura 6: Média e Erro Padrão da Média do número total de interseções (A) e do número total
de interseções por raios (B) de ratos expostos à uma única sessão na arena experimental.

A densidade de espinhas dendríticas foi realizada quantificando-se o


número de espinhas de 2 segmentos basais de cada nível de dendritos
primário, secundário e terciário representado pela Fig. 7.

A Fig. 8 apresenta a densidade de espinhas dendríticas totais (A) e a


densidade de espinhas dendríticas por segmentos (B) das camadas 3-4 e 5-6
do córtex pré-frontal medial.
Espinhas dendríticas

Primário

Secundário

Terciário

Figura 7: Níveis de segmentos dos dendritos basais e espinhas dendríticas. Os dendritos que
se originaram diretamente do corpo celular foram considerados como dendritos primários, os
que se originaram dos primários foram considerados secundários e os que se originaram dos
secundários e daí por diante foram considerados dendritos terciários.

Figura 8: Média e Erro Padrão da Média da densidade de espinhas dendríticas totais (A) e da
densidade de espinhas dendríticas por segmentos (B) de ratos expostos à uma única sessão
na arena experimental.
A análise do núcleo accumbens foi realizada em neurônios espinhosos
médios (Fig.9). A Fig. 10 apresenta o comprimento dendrítico (A) e o número
total de dendritos (B) do neurônio espinhoso médio do núcleo accumbens.

Figura 9: Neurônio espinhoso médio do núcleo acumens. A: fotomicrografia


do neurônio espinhoso médio corado com Golgi-Cox. B: Traçados obtidos
através do rastreamento semimanual do neurônio espinhoso médio.

Figura 10: Média e Erro Padrão da Média do comprimento dendrítico (A) e do número de
dendritos (B) de ratos expostos à uma única sessão na arena experimental.

A Fig. 11 apresenta o número total de interseções (A) e o número total


de interseções por raios (B) do neurônio espinhoso médio do núcleo
accumbens.
Figura 11: Média e Erro Padrão da Média do número total de interseções (A) e do número total
de interseções por raios (B) do NAc de ratos expostos à uma única sessão na arena
experimental.

A Fig. 12 apresenta a densidade de espinhas dendríticas totais (A) e a


densidade de espinhas dendríticas por segmentos (B) dos neurônios
espinhosos médios do núcleo accumbens.
Figura 12: Média e Erro Padrão da Média da densidade de espinhas dendríticas totais (A) e da
densidade de espinhas dendríticas por segmentos (B) do NAc de ratos expostos à uma única
sessão na arena experimental.

5.2 Experimento 2

Efeito da morfina em um ambiente habituado na complexidade da


arborização dendrítica dos neurônios do córtex pré-frontal medial e do núcleo
accumbens.

A Fig. 13 apresenta a atividade locomotora durante a fase de indução do


experimento 2. Para a análise da locomoção total usou-se a ANOVA de
medidas repetidas de dois fatores. Os resultados obtidos mostraram que houve
interação grupos X dias [F (12, 88) = 2,20; p<0,01], houve efeito dos grupos [F
(3, 22) = 14.32; p<0,01] e houve também efeito dos dias de tratamento [F (5,
88) = 6,0; p <0,05]. Para analisar a interação grupos X dias utilizou-se a
ANOVA de um fator seguida do teste de Tukey. Os resultados mostraram que
no dia 1 [F (3, 22) = 0,31; p>0,05] e 2 [F (3, 22) = 2,31; p>0,05], não houve
diferença entre os grupos. Entretanto, nos dias 3 [F (3, 22) = 5,50; p<0,01], 4 [F
(3, 22) = 7.30; p<0,01] e 5 [F (3, 22) = 11,0; p<0,01], os resultados mostraram
que o grupo MOR-TOTAL apresentou atividade locomotora maior que os outros
grupos (p<0,05). Os resultados também mostram que somente no grupo MOR-
TOTAL houve diferença significativa entre o primeiro dia e o último dia da fase
de indução [F (4, 30) = 21,0; p<0,01], o que sugere que houve desenvolvimento
de uma resposta locomotora sensibilizada.

Os resultados comportamentais do experimento 2 mostraram que a


administração de morfina 10,0 mg/kg produziu o desenvolvimento de uma
resposta locomotora sensibilizada observada no grupo MOR-TOTAL. Esses
resultados estão de acordo com resultados da literatura científica que mostram
que a morfina administrada imediatamente após uma sessão rápida na arena
(5 minutos) atua nos mecanismos de consolidação da memória acentuando o
efeito da novidade (primeira sessão) (Leite Junior et al., 2019; de Mello Bastos
et al., 2020, Ferreira et al., 2020).
Figura 13: Média e Erro Padrão da Média da atividade locomotora durante 5 dias da fase de
indução. **Indica locomoção maior que dos demais grupos. # indica locomoção maior do dia 5
do que do dia 1 (p < 0,05; ANOVA por medidas repetidas, seguida do teste post hoc de Tukey).

A Fig. 14 apresenta a atividade locomotora do teste final, sexto dia do


experimento 2. A ANOVA de um fator mostrou que houve efeito dos grupos [F
(3, 22) = 12.23; p<0,01] e o teste de Tukey mostrou que o grupo MOR-TOTAL
apresentou atividade locomotora maior que os outros grupos (p<0,05).

Os resultados mostraram que os animais que receberam morfina


durante os 5 dias da fase de indução apresentaram aumento da locomoção
quando testados na arena somente com veículo. Esses resultados corroboram
dados do nosso laboratório que mostraram o efeito da substância psicomotora
apomorfina (Santos et al., 2015; Santos et al., 2018) e do opióide morfina
(Oliveira et al., 2019; Ferreira et al., 2020) na consolidação de uma
aprendizagem através da utilização do protocolo Pavloviano de traço.

Figura 14: Média e Erro Padrão da Média da atividade locomotora durante o teste final.
**Indica locomoção maior que dos demais grupos (p < 0,05; ANOVA de um fator seguida do
teste post hoc de Tukey).

6. CONCLUSÕES

 O tratamento com morfina 10 mg/kg durante 5 dias consecutivos


produziu o desenvolvimento de uma resposta locomotora sensibilizada.
 O tratamento com morfina produziu a consolidação do efeito da
novidade (primeiro dia da fase de indução) utilizando-se o protocolo
Pavloviano de traço.
 Estabeleceu-se parâmetros da morfologia dendrítica de neurônios
piramidais do córtex pré-frontal e de neurônios espinhosos do núcleo
accumbens em ratos expostos a uma única sessão na arena
experimental.
 Os próximos passos do estudo visam a análise da arborização
dendrítica nos grupos que receberam o tratamento com morfina ou
veículo e que foram expostos à arena experimental por 6 dias
consecutivos.

7. REFERÊNCIAS

de Matos, L. W., Carey, R. J., & Carrera, M. P. (2010). Apomorphine


conditioning and sensitization: the paired/unpaired treatment order as a new
major determinant of drug conditioned and sensitization effects. Pharmacology,
biochemistry, and behavior, 96(3), 317–324

De Roo, M., Klauser, P., Garcia, P. M., Poglia, L., & Muller, D. (2008). Spine
dynamics and synapse remodeling during LTP and memory
processes. Progress in brain research, 169, 199–207.
https://doi.org/10.1016/S0079-6123(07)00011-8

Diana, M., Spiga, S., & Acquas, E. (2006). Persistent and reversible morphine
withdrawal-induced morphological changes in the nucleus accumbens. Annals
of the New York Academy of Sciences, 1074, 446–457.
https://doi.org/10.1196/annals.1369.045

Dias, F. R., Carey, R. J., & Carrera, M. P. (2010). Apomorphine-induced


context-specific behavioural sensitization is prevented by the D1 antagonist
SCH-23390 but potentiated and uncoupled from contextual cues by the D2
antagonist sulpiride. Psychopharmacology, 209(2), 137–151.
https://doi.org/10.1007/s00213-009-1768-0

Everitt, B. J., Dickinson, A., & Robbins, T. W. (2001). The neuropsychological


basis of addictive behaviour. Brain research. Brain research reviews, 36(2-3),
129–138. https://doi.org/10.1016/s0165-0173(01)00088-1

Kang, H. W., Kim, H. K., Moon, B. H., Lee, S. J., Lee, S. J., & Rhyu, I. J. (2017,
June 30). Comprehensive Review of Golgi Staining Methods for Nervous
Tissue. Applied Microscopy. Korean Society of Electron Microscopy.
https://doi.org/10.9729/am.2017.47.2.63

Kauer, J. A., & Malenka, R. C. (2007). Synaptic plasticity and addiction. Nature
reviews. Neuroscience, 8(11), 844–858. https://doi.org/10.1038/nrn2234

Kobrin, K. L., Moody, O., Arena, D. T., Moore, C. F., Heinrichs, S. C., & Kaplan,
G. B. (2016). Acquisition of morphine conditioned place preference increases
the dendritic complexity of nucleus accumbens core neurons. Addiction
biology, 21(6), 1086–1096. https://doi.org/10.1111/adb.12273

Kosten, T. R., & George, T. P. (2002). The neurobiology of opioid dependence:


implications for treatment. Science & practice perspectives, 1(1), 13–20.
https://doi.org/10.1151/spp021113

Leite-Morris, K. A., Kobrin, K. L., Guy, M. D., Young, A. J., Heinrichs, S. C., &
Kaplan, G. B. (2014). Extinction of opiate reward reduces dendritic arborization
and c-Fos expression in the nucleus accumbens core. Behavioural brain
research, 263, 51–59. https://doi.org/10.1016/j.bbr.2013.12.041

Pal, A., & Das, S. (2013). Chronic morphine exposure and its abstinence alters
dendritic spine morphology and upregulates Shank1. Neurochemistry
international, 62(7), 956–964. https://doi.org/10.1016/j.neuint.2013.03.011

Rankin, C. H., Abrams, T., Barry, R. J., Bhatnagar, S., Clayton, D. F., Colombo,
J., Coppola, G., Geyer, M. A., Glanzman, D. L., Marsland, S., McSweeney, F.
K., Wilson, D. A., Wu, C. F., & Thompson, R. F. (2009). Habituation revisited:
an updated and revised description of the behavioral characteristics of
habituation. Neurobiology of learning and memory, 92(2), 135–138.
https://doi.org/10.1016/j.nlm.2008.09.012

Robinson, T. E., Gorny, G., Savage, V. R., & Kolb, B. (2002). Widespread but
regionally specific effects of experimenter- versus self-administered morphine
on dendritic spines in the nucleus accumbens, hippocampus, and neocortex of
adult rats. Synapse (New York, N.Y.), 46(4), 271–279.
https://doi.org/10.1002/syn.10146

Robinson, T. E., & Kolb, B. (1999). Morphine alters the structure of neurons in
the nucleus accumbens and neocortex of rats. Synapse (New York,
N.Y.), 33(2), 160–162. https://doi.org/10.1002/(SICI)1098-
2396(199908)33:2<160::AID-SYN6>3.0.CO;2-S

Robinson, T. E., & Berridge, K. C. (2001). Incentive-sensitization and


addiction. Addiction (Abingdon, England), 96(1), 103–114.
https://doi.org/10.1046/j.1360-0443.2001.9611038.x

Roitman, M. F., Stuber, G. D., Phillips, P. E., Wightman, R. M., & Carelli, R. M.
(2004). Dopamine operates as a subsecond modulator of food seeking. The
Journal of neuroscience : the official journal of the Society for
Neuroscience, 24(6), 1265–1271. https://doi.org/10.1523/JNEUROSCI.3823-
03.2004

Spiga, S., Puddu, M. C., Pisano, M., & Diana, M. (2005). Morphine withdrawal-
induced morphological changes in the nucleus accumbens. The European
journal of neuroscience, 22(9), 2332–2340. https://doi.org/10.1111/j.1460-
9568.2005.04416.x

Sorg B. A. (2012). Reconsolidation of drug memories. Neuroscience and


biobehavioral reviews, 36(5), 1400–1417.
https://doi.org/10.1016/j.neubiorev.2012.02.004.

WHO (2019). International Classification of Diseases for Mortality and Morbidity


Statistics. Eleventh Revision.
Zhong, F., Liu, L., Wei, J. L., & Dai, R. P. (2019). Step by Step Golgi-Cox
Staining for Cryosection. Frontiers in neuroanatomy, 13, 62.
https://doi.org/10.3389/fnana.2019.00062

8. PERSPECTIVAS DE CONTINUIDADE OU DESDOBRAMENTO DO


TRABALHO, NO CASO DE SOLICITAÇÃO DE RENOVAÇÃO

8.1 - Avaliação da complexidade da morfologia dendrítica dos neurônios do


córtex pré-frontal medial e do núcleo accumbens dos animais submetidos
ao teste de indução de 5 dias + teste final, com o tratamento imediatamente
após a arena (animais do experimento 2).

8.2 - Realizações dos experimentos comportamentais de teste de indução


de 5 dias + teste final, com o tratamento 15 minutos após da exposição da
arena experimental. Além de avaliação da complexidade da morfologia
dendrítica dos neurônios do córtex pré-frontal medial e do núcleo
accumbens desses animais.

9. PARTICIPAÇÃO EM CONGRESSOS E TRABALHOS PUBLICADOS OU


SUBMETIDOS E OUTRAS ATIVIDADES ACADÊMICAS E DE PESQUISA

9.1 Participação e apresentação de trabalho no XIV Congresso Fluminense de


Iniciação Científica e Tecnológica, com o trabalho intitulado “Alterações da
arborização dendrítica dos neurônios do circuito de recompensa cerebral
resultante de processos de aprendizagem e do tratamento com morfina” no
período de 20 a 24 de junho de 2022.
9.2 Participação, apresentação de trabalho e premiação no I Congresso Sul-
Brasileiro em Neurociências, com o trabalho intitulado “ Morfina e Plasticidade
Dendrítica: efeito na consolidação de uma resposta locomotora sensibilizada”
durante os dias 10,11 e 12 de novembro de 2022.
9.3 Participação da palestra do CRMV-SP, intitulada “Responsabilidade Técnica
em Biotérios" em 26 de Outubro de 2022.

10. DATA E ASSINATURA DO BOLSISTA (ASSINATURA DIGITALIZADA)

Campos dos Goytacazes, 27 de Janeiro de 2023.

Gabriela Correa Leôncio.


11. DATA E ASSINATURA DO ORIENTADOR (ASSINATURA
DIGITALIZADA)

Campos dos Goytacazes, 30 de janeiro de 2023.

Profa. Dra. Marinete Pinheiro Carrera

Você também pode gostar