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Morfina e Plasticidade dendrítica: efeito na consolidação de uma resposta

locomotora sensibilizada

Gabriela Correa Leoncio; Marinete Pinheiro Carrera


A dependência por opióides é uma doença crônica decorrente do uso
compulsivo, sem propósitos terapêuticos e que desafia o autocontrole. O abuso
de substâncias opioides como a morfina produz alterações morfológicas nas
árvores dendríticas, que é uma forma de plasticidade neural envolvida na
formação e consolidação da memória. Como toda a substância que produz
dependência, a morfina aumenta a liberação de dopamina no núcleo
accumbens (NAc), sendo esse o mecanismo primordial para a dependência. O
objetivo do trabalho foi verificar o efeito da morfina (MOR) na consolidação de
uma aprendizagem não associativa e na arborização dendrítica dos neurônios
do NAc. Para isso, ratos Wistar machos foram submetidos a um protocolo
Pavloviano de condicionamento de traço, no qual receberam veículo (VEI) ou
MOR 10 mg/kg imediatamente após o término da sessão de 5 minutos na
arena experimental, sendo a atividade locomotora registrada (fase de indução).
Os tratamentos foram administrados por 5 dias consecutivos e os grupos foram
os seguintes: VEI que recebeu VEI todos os dias; MOR-PARCIAL que recebeu
VEI nos 2 primeiros dias e MOR nos 3 últimos dias; e MOR-TOTAL que
recebeu MOR todos os dias. No sexto dia (teste final), os animais receberam
os tratamentos imediatamente antes do início da sessão de 5 minutos na arena
experimental. Nesse dia, metade do grupo VEI recebeu VEI (grupo VEI/VEI) e
a outra metade recebeu MOR (grupo VEI/MOR). Os grupos MOR-TOTAL e
MOR-PARCIAL receberam MOR 10 mg/kg. Após o término do teste final
realizou-se a técnica histológica de Golgi-Cox para a avaliação da morfologia
dendrítica. Os neurônios foram analisados através do rastreamento
semiautomático de seus dendritos, por meio dos parâmetros de comprimento
dendrítico, número de dendritos e interseções por raio na análise de Sholl. Os
resultados mostraram que houve um aumento progressivo da locomoção para
o grupo MOR-TOTAL a partir do segundo dia da fase de indução e se manteve
até o final do experimento, mostrando que o tratamento com MOR produziu o
desenvolvimento da sensibilização locomotora. Já o grupo MOR-PARCIAL
apresentou aumento da locomoção em comparação ao grupo VEI apenas no
teste final, sugerindo que a habituação atenuou a sensibilização locomotora. O
grupo MOR-TOTAL apresentou aumento da arborização dendrítica no NAc
para os três parâmetros analisados. Tomados juntos, os resultados mostraram
que a plasticidade dendrítica produzida por morfina está relacionada com a
consolidação de processos de aprendizagens visto através do desenvolvimento
da sensibilização comportamental.

Palavras-chave: Dependência química; Morfina; Sensibilização


comportamental; Habituação; Análise dendrítica; Núcleo Accumbens.

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