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UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL E SUDESTE DO PARÁ

INSTITUTO DE ESTUDOS EM DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO E REGIONAL


FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DE MARABÁ
CURSO DE BACHARELADO EM AGRONOMIA

FABIANA RODRIGUES DE ALMEIDA


DANIEL CASTRO DE OLIVEIRA
DHESLEY DE ALMEIDA AMARAL
REBECA FREITAS DE CASTRO QUEIROZ

CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO (LEI N.º 12.651/2012)


E DIREITO AMBIENTAL ECONÔMICO

Marabá – PA
2022
FABIANA RODRIGUES DE ALMEIDA
DANIEL CASTRO DE OLIVEIRA
DHESLEY DE ALMEIDA AMARAL
REBECA FREITAS DE CASTRO QUEIROZ

PANORAMA SOBRE A GESTÃO E O USO DOS RECURSOS MINERAIS E


ENERGÉTICOS NO BRASIL

Trabalho avaliativo da disciplina de Gestão de


Recursos Naturais, do curso de Bacharelado
em Agronomia, da Universidade Federal do
Sul e Sudeste do Pará, como requisito para
obtenção de nota.

Docente: Simone Nogueira

Marabá – PA
2022
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..................................................................................................................................6
2. OBJETIVO..........................................................................................................................................7
4. USO DOS RECURSOS NATURAIS MINERAIS E ENERGÉTICOS E SUAS CONSEQUÊNCIAS
9
5. FORMAS DE MANEJO SUSTENTÁVEL......................................................................................14
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................23
7. REFERÊNCIAS................................................................................................................................23
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1. INTRODUÇÃO

Em toda a história da humanidade, rochas e bens minerais constituíram-se em elementos


essenciais para a sobrevivência do homem. No início, eram pedaços de rocha usados para a
defesa contra animais e grupos antagônicos, e as cavernas para refúgio grupal em diversos
períodos da pré-história: Idade da Pedra Lascada ou Paleolítico; Idade da Pedra Polida ou
Neolítico; Idade dos Metais (cobre, bronze, estanho, ferro), do Diamante e Ouro. Desde o início
da era cristã, o aproveitamento dos bens minerais foi se desenvolvendo até seu uso mais
intensivo na segunda Revolução Industrial (século XVIII), principalmente pelo aperfeiçoamento
de novas ligas metálicas (SILVA, 2019).
Por suas dimensões continentais e diversificada geologia, o Brasil se constitui com
enorme vocação mineral e grande produtor de insumos básicos para as indústrias, provenientes
da mineração. Atualmente, figura no cenário internacional ao lado de países com tradicional
vocação mineira, tais como África do Sul, Austrália, Canadá, China e Estados Unidos da
América (EUA).
As indústrias de transformação mineral ocupam um importante papel na economia
brasileira. O ferro, por exemplo, é o principal minério em se tratando de exportação, e no
ranking geral de exportações só perde para a soja, sendo o segundo mais exportado. Apesar de
seu importante auxílio na economia brasileira, a exploração mineral causa um grande risco
ambiental e social, pois resulta num processo de desmatamento, destruição e contaminação de
ecossistemas, além de agredir a sociedade com invasões em áreas indígenas, terras particulares e
exploração ao trabalhador, (SILVA, 2019).
Entretanto, o país carece de diretrizes que possam elevá-lo a uma posição de maior
destaque no setor mineral internacional, ao mesmo tempo em que acelerem o seu
desenvolvimento, aliado à defesa e à segurança de sua população.
No desenvolvimento do trabalho, discorre-se sobre as regiões/áreas favoráveis a conter
depósitos econômicos, os diversos instrumentos jurídicos para cumprimento da outorga de
exploração, o combate à invasão garimpeira, os necessários estudos geológicos em áreas
indígenas e em faixa de fronteira, a questão de segurança das barragens e a destinação do rejeito
das minas, visando ao uso e à exploração sustentáveis.
A preocupação com o desenvolvimento não pode deixar de considerar a segurança
daqueles que habitam o território brasileiro, seja no que se refere à segurança interna, seja com
relação à defesa nacional contra ameaças externas ao país. Aliado a isso, uma das maiores
barreiras do desenvolvimento de um país é a sua capacidade de prover energia para os setores
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produtivos, que alavancam seu crescimento econômico. Entender e compreender as políticas de


geração, distribuição e de tarifação se torna importante para poder identificar os impactos
gerados pelo uso da energia na sociedade.

2. OBJETIVO

O presente trabalho busca identificar a utilização e propagação dos Recursos minerais e


energéticos no Brasil, regiões com potencial mineral e os problemas que obstruem o seu
desenvolvimento. Apresentar a gestão dos recursos e consequências de seu uso no âmbito local,
regional e global. E as formas de manejo sustentável desses recursos minerais, manejo,
legislação e diretrizes pautadas nas agendas 2021e 2030 do Brasil.

3. PANORAMA SOBRE A QUANTIDADE E PROPAGAÇÃO NO PAÍS DOS


RECURSOS MINERAIS E ENERGÉTICOS

O registro geológico do Brasil evidencia ambientes férteis em todo o tempo geológico, do


Arqueano ao Holoceno, contendo importantes acumulações de bens minerais, algumas das quais
já transformadas em minas. Sumariamente, em termos geotectônicos, pode-se dividir o Brasil
em duas partes: o Amazônico (Oeste) e o Atlântico (Leste), tendo como elemento divisor a faixa
de dobramentos Paraguai-Araguaia. Dentre várias outras, duas características geotectônicas
maiores diferenciam os dois blocos (MELFI, 2016).
Pode-se resumir as características geográficas e de conhecimento geológico/exploratório
desses dois tratos do território nacional da seguinte forma: Brasil Amazônico: 60% do território
nacional, floresta tropical, infraestrutura viária e energética muito limitada, baixa população,
conhecimento geológico/metalogenético muito básico, poucas minas de porte significativo,
garimpos ativos ou em extinção, potencial para depósitos superficiais ou em subsolo. Brasil
Atlântico: 40% do território nacional, vegetação de cerrado, caatinga, resíduos da mata atlântica
e campos sulinos; densamente povoado, infraestrutura viária e energética razoável, maior
conhecimento geológico/metalogenético, oportunidade para reabertura de minas abandonadas e
para descobertas em subsuperfície.
A geologia do Brasil, com amplos escudos antigos, é similar à de países também com
áreas continentais, como a Austrália e o Canadá. Esses, porém, realizaram seus potenciais em
metais preciosos (Ouro-Au, Prata-Ag) e metais base (Cobre-Cu, Zinco-Zn, Chumbo-Pb e
Niquel-Ni), que constituem as principais commodities minerais, o que não ocorreu com o Brasil.
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O Brasil, até o momento, realizou, essencialmente, seu potencial em Ferro-Fe, Manganês-Mn,


Alumínio-Al, Estanho-Sn e Nióbio-Nb, (MELFI, 2016)..
Segundo o DNPM (comunicação pessoal de Walter Lins Arcoverde, Diretor do
Departamento Nacional da Produção Mineral), estão cadastradas no órgão 10.841 “minas”,
incluindo toda e qualquer substância mineral e de qualquer porte. Dessas, 98,1% representam
produtos para a construção civil (britas, areias, cascalhos, argilas), além de água mineral. Apenas
1,4% das 10.841 “minas” representam minas de commodities minerais de grande e médio porte,
ou seja, minas verdadeiras e significativas na concepção internacional. Dentre as substâncias
minerais comercializadas pelo Brasil, aquelas com maiores saldos superavitários na balança
comercial são Ferro, Caulim e Bauxita (Al2O5) que representam, em valor, mais de 90% das
exportações de commodities minerais (só o Fe representa 82%). Os maiores saldos deficitários
são devidos ao Potássio, Carvão, Fosfato, Zinco e Enxofre, que representam, em valor, cerca de
90% do total de minérios importados.
Tratando-se dos Recursos Energéticos no país, sua matriz energética é muito diferente da
mundial. Por aqui, apesar do consumo de energia de fontes não renováveis ser maior do que o de
renováveis, usamos mais fontes renováveis que no resto do mundo. Somando lenha e carvão
vegetal, hidráulica, derivados de cana e outras renováveis, nossas renováveis totalizam 48,3%,
quase metade da nossa matriz energética, dados obtidos através do Balanço Energético Nacional,
(BARRETO, 2013).
Na Administração Pública brasileira, o Ministério de Minas e Energia é a instituição
responsável por formular os princípios básicos e definir as diretrizes da política energética
nacional. Como subsídio, o MME promove, por meio de seus órgãos e empresas vinculadas,
diversos estudos e análises orientadas para o planejamento do setor energético. Na sequência das
mudanças institucionais ocorridas no setor energético ao longo dos últimos 15 anos, foi criada,
em 2004, a Empresa de Pesquisa Energética – EPE vinculada ao MME. A EPE é uma empresa
pública, instituída nos termos da Lei n° 10.847, de 15 de março de 2004, e do Decreto n° 5.184,
de 16 de agosto de 2004. Sua finalidade é prestar serviços na área de estudos e pesquisas
destinados a subsidiar o planejamento do setor energético, tais como energia elétrica, petróleo e
gás natural e seus derivados, carvão mineral, fontes energéticas renováveis e eficiência
energética, dentre outras. A Lei n° 10.847, em seu Art. 4º, inciso II, estabelece entre as
competências da EPE a de elaborar e publicar o Balanço Energético Nacional – BEN.
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4. USO DOS RECURSOS NATURAIS MINERAIS E ENERGÉTICOS E SUAS

CONSEQUÊNCIAS

O processo de mineração envolve as atividades de pesquisa, extração, transporte,


processamento, transformação mineral e comercialização do produto final. Para a gestão,
quando descobertos a partir de pesquisas precisas e estudo preliminares feitas por mapeamento
geológico e/ou por levantamentos aerogeofísicos em escalas regionais, os locais dos minerais são
categorizados primeiramente como estoques, que após definidos os teores mínimos que
viabilizariam sua extração dariam lugar aos recursos, e estes, por sua vez, quando devidamente
localizados e viabilizados economicamente, dariam lugar às reservas de exploração (FARIAS,
2002). E dentre os métodos mais utilizados para explorar tais recursos encontra-se o método de
lavra (conjunto de operações que têm como objetivo o aproveitamento industrial de jazida, desde
a extração de substâncias minerais úteis até o seu beneficiamento), classificada em lavra
subterrânea e lavra a céu aberto. As lavras a céu aberto extraem o minério através de escavações
na superfície. Já em relação a lavra subterrânea a exploração do recurso mineral ocorre na parte
subterrânea do solo.
Em relação aos minerais energéticos, os mesmos podem ser explorados a partir de
métodos de perfuração de rochas e bombeamento (quando na superfície) ou em plataformas de
extração (quando no oceano).
O uso do carvão mineral está relacionado às suas propriedades, como o poder calorífico
que possibilita a geração de energia por meio da queima. De acordo com o Departamento
Nacional de Produção Mineral (DNPM), os carvões que possuem menor poder calorífico são
destinados à geração de eletricidade. Já os carvões de maior poder calorífico, são utilizados para
a produção de ferro metálico e aço, como também em construções civis. Esses últimos, por causa
de sua combustão lenta, também se destinam ao uso doméstico. Já o Petróleo é utilizado
principalmente na forma de combustíveis automotivos, como a gasolina e o óleo diesel, e
também sendo queimado no funcionamento das usinas termoelétricas.
A exploração mineral é praticada por uma gama variada de companhias e indivíduos:
prospectores, Companhias Juniores de Exploração e Companhias Mineiras, Intermediárias e
Sêniors (majors). Os recursos alocados provêm de duas fontes principais; 1- financiamento tipo
equity obtido nas bolsas de valores sediadas no Canadá, USA, Austrália, Inglaterra e África do
Sul, que representa a principal fonte de recursos levantados pelas juniors; e, 2- fundos
provenientes de operações mineiras, que constituem as fontes dominantes das majors, embora
essas possam usar, também, os fundos das bolsas de valores (MELFI et al., 2016).
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Sob essa conjectura, há uma vasta quantidade de minas no Brasil, quantificadas em um


número de cerca de 3354 minas, sendo que 159 são de grande porte, segundo o Instituto
Brasileiro de Mineração (IBRAM). Assim, a facilidade na realização do procedimento de
mineralização de forma equivocada se dá por vezes pela existência de minas ilegais, mas
também, principalmente, pela falta de fiscalização em determinados locais, sendo possível
utilizar este último como uma das justificativas para a ocorrência de tantos desastres ambientais
causados por mineradoras no Brasil.
Os principais estados brasileiros detentores de reservas de minério de ferro são: Minas
Gerais (72,5% das reservas e teor médio de 46,3% de Fe), Mato Grosso do Sul (13,1% e teor
médio de 55,3%) e Pará (10,7% e teor médio de 64,8%). Em contrapartida pelo estudo, os
estados com maiores problemas são Minas Gerais e Pará, que são os maiores produtores de
substâncias minerais metálicas, como ouro, zinco, chumbo, minério de ferro e bauxita, que é o
minério do alumínio, cujos problemas são mais complicados (MELFI et al., 2016).
De todo minério de extraído de Minas gerais, cerca de 68% são destinados a exportações,
representando a pauta de exportações da RMBH em 2012, onde se obteve um crescimento médio
anual de 22% entre 2007-2012 (em 2007 significavam 50% das exportações da RMBH)
(IBRAM, 2015). Já em relação ao Pará, os dados revelam que dos US$ 15,608 bilhões em
exportações totais do estado em 2018, as Indústrias de Mineração e Transformação Mineral
responderam por 88% deste valor, onde juntas, exportaram US$ 13,725 bilhões, fazendo do setor
mineral o grande vetor de crescimento do comércio exterior paraense, segundo o sindicato das
indústrias minerais do Pará (SIMINERAL,2019)
O carvão mineral no Brasil abastece a economia, em especial as usinas termelétricas que
consomem cerca de 85% da produção. Já a indústria de cimento no país é abastecida com
aproximadamente 6% desse carvão. Restando 4% para produção de papel celulose e apenas 5%
nas indústrias de alimentos, cerâmicas e grãos (GOMES et al., 2003). Já as exportações de
petróleo brasileiro corresponderam a 31% da produção nacional entre 2005 e junho de 2022 e
nesse mesmo período, as importações chegaram a 14%, em média. No ano de 2020, durante a
pandemia, esses números chegaram a alcançar 47% e 5%, respectivamente. Desde 2013, quando
a produção nacional de petróleo apresentou um crescimento acentuado, o volume exportado já
aumentou em cerca de 3,8 vezes e o importado caiu aproximadamente 33%. Apesar de ser
considerado uma só commodity, cada tipo de petróleo tem qualidades distintas, sendo necessário
importar uma parcela para compor um blend mais otimizado para cada perfil de refinaria
existente no país (Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás-IBP,2022)
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Nos últimos 11 anos, há um crescimento muito expressivo no valor da produção mineral


no Brasil, tendo sido de R$ 12 bilhões em 2000 para R$ 54 bilhões em 2008, chegando a R$ 105
bilhões em 2012. Dois fatores explicam esse crescimento: o aumento da produção em
decorrência da expansão da demanda mundial por minérios e o significativo aumento de preços
de commodities no mercado internacional, particularmente a partir da entrada da China no
cenário internacional como uma potência emergente e fortemente demandante do minério de
ferro produzido em Minas Gerais, que contém maior grau de pureza do que suas próprias
reservas.
Em suma, é de conhecimento amplo que a atividade mineral proporciona renda, emprego
e receitas advindas do comércio, mas por outro lado, se desregulada, é capaz de gerar danos
irreversíveis em termos ambientais, pois além disso também envolvem usualmente mecanismos
de gestão de conflito diretamente ligados ao território. Se por um lado a atividade pode agregar
renda, por outro o conflito se exacerba por conta da necessidade de fontes de água, instalações
para direcionamento de rejeitos e impactos sobre vias de transporte.
Consequenciais de uso mineral
Os impactos causados pela mineração, associados à competição pelo uso e ocupação do
solo, geram conflitos socioambientais pela falta de metodologias de intervenção, que
reconheçam a pluralidade dos interesses envolvidos. Os conflitos gerados pela mineração,
inclusive em várias regiões metropolitanas no Brasil, devido à expansão desordenada e sem
controle dos loteamentos nas áreas limítrofes, exigem uma constante evolução na condução
dessa atividade para evitar situações de impasse (ALMEIDA JUNIOR, 2017)
Em geral, a mineração provoca um conjunto de efeitos não desejados que podem ser
denominados de externalidade, e algumas dessas externalidades são: alterações ambientais,
conflitos de uso do solo, depreciação de imóveis circunvizinhos, geração de áreas degradadas e
transtornos ao tráfego urbano. Estas externalidades geram conflitos com a comunidade, que
normalmente têm origem quando da implantação do empreendimento, pois o empreendedor não
se informa sobre as expectativas, anseios e preocupações da comunidade que vive nas
proximidades da empresa de mineração (PORTELA, 2015)

Desse modo, os principais problemas ambientais associados a essa atividade são:

● Poluição e contaminação dos recursos hídricos: ocorre, principalmente, devido


à formação de lama e dissolução de produtos químicos
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● Degradação da paisagem: a atividade mineradora, além de modificar a


paisagem, principalmente em lavra de céu aberto, provocando impactos visuais, acaba também
por retirar a identidade do local no que diz respeito ao ecossistema, afugentando animais e
retirando a cobertura vegetal.

● Poluição do ar e poluição sonora: alguns métodos de exploração de minérios


provocam poluição do ar e também poluição sonora, devido às explosões nas minas.

● Alteração geológica: A abertura de cavas nas áreas de mineração provoca


alterações na geologia das áreas.

● Processos erosivos: em muitas áreas em que é retirada a cobertura vegetal, bem


como a formação de lama, ocorre o favorecimento de voçorocas e assoreamentos.

Em relação a exploração de ouro, as principais consequências são: desmatamentos e


queimadas; alteração nos aspectos qualitativos e no regime hidrológico dos cursos de água;
queima de mercúrio metálico ao ar livre; desencadeamento dos processos erosivos; mortalidade
da ictiofauna; fuga de animais silvestres; poluição química provocada pelo mercúrio metálico na
hidrosfera, biosfera e na atmosfera.

O Brasil vivenciou dois grandes desastres ambientais associados à atividade


mineradora nos últimos anos. O primeiro, na cidade de Mariana em Minas Gerais, em 2015, e o
segundo, em Brumadinho também nesse estado, em 2019. Nessas duas cidades, barragens de
rejeitos foram rompidas, deixando as cidades sob a lama, provocando dezenas de mortes e
afetando toda a biodiversidade da área. Rios e solo foram contaminados, animais perderam-se
em meio à lama, famílias perderam suas casas, meios de sustento. Sem falar nos anteriores a
esses, como o vazamento de rejeitos de bauxita da barragem da mineradora norueguesa Hydro
Alunorte no Nordeste do Pará. Ainda, no Pará, a exploração mineral derruba árvores protegidas
por lei - como a castanheira, seringueiras, cedro etc. - contamina ecossistemas desconhecidos
cientificamente, como igarapés e lagos, resultando, consecutivamente, em problemas sociais
grave.

Diversos estudos ambientais indicam que muitos dos materiais gerados pela mineração
são rejeitos, estes muitas vezes erroneamente descartados. Na produção de ouro, por exemplo,
99,9% de todo material produzido não é aproveitado, sendo muitas vezes depositado de forma
deliberada no leito de rios ou em áreas onde as águas das chuvas escoam para a sedimentação de
cursos d'água. Na extração de cobre, por sua vez, menos de 1% do que é extraído costuma ser
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devidamente aproveitado, ao passo que o restante é lixo. Assim, os principais problemas


oriundos da mineração podem ser englobados em quatro categorias: poluição da água, poluição
do ar, poluição sonora, e subsidência do terreno (ALMEIDA JUNIOR, 2017).

Consequências dos usos dos minerais energéticos

As operações da indústria do petróleo estão sujeitas a acidentes desde as suas fases


iniciais de exploração, quando os primeiros poços são perfurados, até as fases finais do processo,
quando o óleo é transportado. Na exploração dos recursos energéticos da área submarina
adjacente ao Brasil, a Petrobras tem grande atuação, pois, além da busca de jazidas de petróleo,
produz, refina, transporta e comercializa esses recursos. A empresa possui excelente registro de
segurança nas suas operações, uma vez que não ocorreu até hoje qualquer acidente de grandes
proporções, causador de degradação do meio ambiente nas regiões de mar profundo (MELFI et
al., 2016).

Um contingente responsável pela segurança pessoal, patrimonial e do meio ambiente faz


parte de toda tripulação de sondas e navios transportadores de óleo e gás. Possui também um
grupo de estudos das condições geológicas próximas ao fundo do mar, responsável pelas
investigações da segurança técnica das áreas, antes que as perfurações sejam executadas

No entanto, ainda sim o uso e a exploração do petróleo podem provocar diversas


catástrofes ambientais, especialmente em caso de vazamento no meio ambiente. Uma vez que
grande parte das plataformas de extração de petróleo está localizada em alto mar, os impactos
ambientais causados pelo petróleo podem tomar proporções avassaladoras. Após um
derramamento de petróleo em rios ou mar, as substâncias voláteis intoxicam a atmosfera e
matam todos os organismos que respirarem esse ar contaminado e, além disso, o vazamento de
petróleo também prejudica as comunidades litorâneas que utilizam a pesca como meio de
sobrevivência. Isso porque a poluição das águas pode causar graves problemas de saúde para a
população, enquanto a morte de peixes e crustáceos impedem os pescadores de exercerem suas
atividades. A exemplo disso pode ser citado um derramamento no mar ocasionado em janeiro de
2012, devido à uma operação de transbordo de uma monoboia da Transpetro, onde o mesmo
atingiu a praia de Tramandaí no RS. O acidente derramou cerca de 1,2 milhões de litros de óleo
no mar e causou sérios impactos. Em 2014, a mesma região foi atingida por cerca de 4 mil litros,
ocasionados pelo mesmo problema, mais um rompimento dos mangotes, que é um tipo de duto
submarino.
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5. FORMAS DE MANEJO SUSTENTÁVEL

Manejo

Legislação e diretrizes pautadas nas Agendas 2021 e 2030


Nos anos 60 e 70, surge a questão ambiental oriunda do crescente debate acerca dos
avanços de empreendimentos de produção em larga escala como o agronegócio, crescimento
econômico, uso exploratório de recursos naturais no Brasil. A industrialização culminou em um
processo de devastação que atingia não somente a natureza, como também populações nativas.
Profissionais, agências estatais e ONG’s começaram a se mobilizar para mitigar os riscos à saúde
dos trabalhadores e às comunidades vizinhas às fábricas e empreendimentos poluentes
(BARROS, 2017).
Surge então em 1972, promovida pela Organização das Nações Unidas – ONU, uma
conferência para discutir acerca do meio ambiente, em Estocolmo capital da Suécia, tendo em
vista que haviam questões ambientais que se espalhavam por todo o globo terrestre e precisavam
ser resolvidas internacionalmente (LOPES, 2006).
Ao longo dos anos foram então criadas diversas instituições de controle ambiental
visando a redução dos conflitos sociais e a mitigação de danos ambientais. Surge o
licenciamento ambiental, política nacional para avaliar os impactos causados ao meio ambiente,
exigindo estudos e audiências públicas para o licenciamento de atividades potencialmente
poluidoras.
Criaram-se normas federais que foram convertidas em resoluções do Conselho Nacional
do Meio Ambiente – CONAMA, leis de ação civil pública, para promover disciplina e
responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de
valores artísticos, estéticos, históricos. Bem como fundos públicos de multas e compensações
aos danos ambientais (BRASIL, 1988).
Já em 1988, com a criação da nova Constituição Federal, tem-se um capítulo importante
discorrendo sobre meio ambiente visando atender as reivindicações de movimentos sociais
realizados na década de 80. A economia nacional volta-se para a exportação de matérias-primas,
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o que contribui para um aumento em conflitos socioambientais, pois verifica-se a expansão da


fronteira agrícola e mineral e a ocupação de territórios pertencentes a comunidades rurais e
povos tradicionais (BARROS, 2017).
Ocorre assim o crescimento econômico nacional, porém, em contrapartida, acarretam-se
desigualdades econômicas, sociais e ambientais. Nota-se um acréscimo no extrativismo mineral
que hoje se utiliza de novas modalidades produtivas e tecnológicas. Além disso, as práticas
mineradoras comprometem o modo de vida e acessos a recursos territoriais anteriormente
usufruídos por grupos sociais.
Para reparar os danos, faz-se necessário entender o meio ambiente e sua definição, bem
como compreender o que foi descrito por Boff (1988, pg 73) onde afirma que “o ser humano
precisa da natureza para o seu sustento e ao mesmo tempo a natureza, marcada pela cultura,
precisa do ser humano para ser preservada e para poder manter ou recuperar seu equilíbrio”. O
meio ambiente pode ser definido como o conjunto de todo o patrimônio natural ou físico (água,
ar, solo, energia, fauna, flora), artificial (edificações, equipamentos e alterações produzidas pelo
homem) e cultural (costumes, leis, religião, criação artística, linguagem, conhecimentos) que
possibilite o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas.
Em 1970 intensifica-se o interesse dos internacional e a preocupação jurídica do ser
humano com a qualidade de vida e a proteção ao meio, quando se constata o processo de
degradação ambiental e toma-se consciência que os recursos naturais são finitos. A Conferência
das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, em junho de 1972,
simboliza, internacionalmente, a estruturação deste novo olhar. A Declaração de Estocolmo foi
apontada como o marco de nascimento do Direito Ambiental internacional, buscando estabelecer
o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito fundamental do indivíduo,
equiparando-o a outros direitos já consagrados como a liberdade e a igualdade.
Nessa conferência, criou-se também o PNUMA – Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente, a agência do Sistema ONU responsável por monitorar a ação internacional e
nacional para a proteção do meio ambiente no contexto do desenvolvimento sustentável, tendo
seu escritório no Brasil a partir de 2004.
No Brasil, as primeiras legislações ambientais surgem durante o período da ditadura
militar, visando a redução de danos causados aos recursos naturais pela política
desenvolvimentista vigente, que trabalhava com aberturas de estradas, estimulava a imigração e
criação de gado na Amazônia, além da instalação de indústrias poluentes, construção de
barragens e exploração de minérios entre outras.
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Após a participação nacional na Conferência de Estocolmo, foi criado então no Brasil a


SEMA - Secretaria de Meio Ambiente, para ocupar-se com a questão ambiental. Paulatinamente
surgiram outros movimentos e organizações, instituições de pesquisa voltadas à proteção do
meio ambiente.
Ao final do século XX e início do século XXI, diversos fatores contribuíram para um
desenvolvimento rápido na mineração, como a consolidação de um novo padrão de interação
entre as complexas infra-estruturas da sociedade e ao comportamento humano, que culminou
com a aquisição em massa de minérios metálicos e não-metálicos para a produção de novos
produtos eletrônicos. A revolução verde, dentre outros aspectos, suscitou a propagação do
agronegócio, promovendo uma produção crescente de agroquímicos e crescente demanda por
novos minerais não metálicos (SEONE et al, 2011).
A atividade mineradora traz inúmeros impactos negativos ao meio ambiente, dentre eles
o desmatamento, poluição e assoreamento de cursos d’agua, poluição sonora, e outros. Por isso,
tal atividade deve passar por intenso controle regulatório por parte do Estado e da sociedade, em
suas diversas etapas. De acordo com a Resolução 1/86 (CONAMA) deve ser considerada
impacto ambiental “qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio
ambiente, afetando a biota, as condições estéticas e a qualidade dos recursos ambientais”.
São responsáveis por regular as atividades mineradoras a Constituição Federal, o Código
de Mineração e Leis específicas, além de atos normativos do Departamento Nacional de
Produção Mineral – DNPM, Ministério de Minas e Energia - MME e Ministério do Meio
Ambiente (CONAMA).
“O Código de Mineração está regulamentado pelo Decreto-Lei no
227, de 28 de fevereiro de 1967, que estabelece regras que estão
voltadas à indústria de produção mineral. O Código conceitua as
jazidas e as minas, estabelece os requisitos e as condições para a
obtenção de autorizações, concessões, licenças e permissões,
explicita os direitos e deveres dos portadores de títulos minerários,
determina os casos de anulação, caducidade dos direitos minerários
e regula outros aspectos da indústria mineral. Dispõe, ainda, sobre
a competência da agência específica do Ministério de Minas e
Energia, o Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM,
na administração dos recursos minerais e na fiscalização da
atividade mineral no País” (DNPM, 2010).

Os recursos minerais e do subsolo são considerados propriedades distintas das do solo


para efeito de exploração ou aproveitamento, e pertencem à União (art. 20, IX, CF), garantida ao
concessionário a propriedade do produto da lavra (art. 176, §§1, 2 3 e 4 da CF). Mesmo sendo
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bem da União, aos Estados, Municípios e órgãos da administração direta da União se devem a
participação do resultado da exploração dos minérios localizados em seus territórios.
Mesmo o proprietário particular do solo não tendo, pela legislação a propriedade sobre o
subsolo, tem direito à participação nos resultados e à indenização pela área afetada. Caso este se
oponha a autorizar as atividades em área de sua propriedade, o empreendedor detentor da
outorga mineral pode ingressar com uma ação judicial de servidão minerária.
A Lei nº. 8.901, de 30 de julho de 1994, disciplina essa participação do proprietário do
solo. Segundo esta, a participação será de 50% do valor total devido aos Estados, Distrito
Federal, Municípios e órgãos da administração direta da União, a título de compensação
financeira pela exploração de recursos minerais. Tal compensação financeira classifica-se como
CFEM - Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais, estipulada como de até
3% (por cento) sobre o valor do faturamento líquido resultante da venda do produto mineral.
Desta forma, o minerador ou empresa de mineração pagará ao proprietário do solo metade do
que paga a título de CFEM.
A União é a detentora da competência constitucional privativa de legislar sobre jazidas,
minas, outros recursos minerais e metalurgia (art 22, XII, CF). Entretanto, a União, o Estado, os
municípios e Distrito Federal tem competência concorrente para legislar sobre meio ambiente e
controle da poluição (art 24, VI, CF).
Compete ainda à União estabelecer áreas e condições para exercício da atividade
garimpeira, em forma associativa (art 21, XXV, CF) e a todos os níveis da federação favorecer a
organização da atividade garimpeira em cooperativas, levando em conta a proteção do meio
ambiente e a promoção econômico-social dos garimpeiros (art 174,§3, CF).
A exigência do licenciamento ambiental na mineração é estabelecida pela Resolução
CONAMA 237/97, que relaciona alguns empreendimentos e atividades, por meio de um rol
exemplificativo, para os quais o licenciamento é obrigatório, e dentre esses está a mineração:
Art. 2º [...]
§1º Estão sujeitos ao licenciamento ambiental os empreendimentos
e as atividades relacionadas no Anexo 1, parte integrante desta
Resolução.
ANEXO 1
ATIVIDADES OU EMPREENDIMENTOS SUJEITOS AO
LICENCIAMENTO AMBIENTAL
Extração e tratamento de minerais
- pesquisa mineral com guia de utilização;
- lavra a céu aberto, inclusive de aluvião, com ou sem
beneficiamento;
- lavra subterrânea com ou sem beneficiamento;
- lavra garimpeira;
18

- perfuração de poços e produção de petróleo e gás natural.

A exigência da elaboração do Estudo Prévio de Impacto Ambiental - EPIA, previsto no


art. 225, §1º, IV, da Constituição Federal, deve considerar se a atividade é potencialmente
causadora de significativa degradação ambiental, ou seja, se se destaca pelo grau de ofensividade
ao meio ambiente. Nos casos em que não há obrigatoriedade do estudo prévio, outros estudos
ambientais serão solicitados.
O garimpo, em sua forma tradicional, tornou-se ilegal a partir da Constituição de 1988 e
de leis complementares correspondentes. Com base na constituição e na lei 7.805 de 18/07/89, a
lavra garimpeira somente pode ser realizada em “áreas de garimpagem”, assim instituídas pelo
DNPM após avaliação prévia dos Estudos de Impacto Ambiental pelo IBAMA. A garimpagem
fora destas áreas é considerada criminosa pela referida lei, sujeitando o infrator a pena de
reclusão.
De acordo com o Decreto nº 97.632/89, os empreendimentos de mineração estão
obrigados, quando da apresentação do Estudo de Impacto Ambiental - EIA e do Relatório de
Impacto Ambiental - RIMA, a submeter o Plano de Recuperação de Área Degradada - PRAD à
aprovação do órgão de meio ambiente competente.
A ausência de licença caracteriza crime previsto na Lei n.º 9605/98, que dispõe sobre as
sanções penais e administrativas para as condutas lesivas ao Meio Ambiente.
Art. 55. Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais
sem a competente autorização, permissão, concessão ou licença, ou
em desacordo com a obtida:
Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem deixa de
recuperar a área pesquisada ou explorada, nos termos da
autorização, permissão, licença, concessão ou determinação do
órgão competente.

Um dos princípios do Direito Ambiental é o da responsabilização dos causadores de


danos ambientais, também podendo ser nomeado como princípio da recuperação da qualidade
ambiental, ou da recuperação da área degradada. Com efeito, este encontra-se expresso na
Constituição da República Federativa do Brasil e na Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que
institui a Política Nacional do Meio Ambiente, quando esta estabelece, por meio de seu art. 2º,
que essa Política tem como objetivo a preservação, melhoria e a recuperação da qualidade
ambiental, atendidos alguns princípios, dentre eles o da recuperação de áreas degradadas. A
CF/88, em seu art. 225, § 2º, estabelece que:
Art. 225. [...]
19

§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a


recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com a solução
técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.

O art. 225, §1ª, III, da CF, garante a proteção de áreas naturais e veda a sua utilização de
forma que comprometa a integridade desses atributos. Só é permitida a exploração mineral em
unidades de conservação se houver autorização legal e não pode ser explorada em espaços
especialmente protegidos se houver comprometimento da integridade os atributos (art.22, §1, III,
CF).
Nas unidades de proteção integral, a Lei do Sistema nacional de Unidades de
Conservação - SNUC, Lei 9985/2000, em seu art.7º, §1º, proíbe o uso direto de recursos naturais
nessas unidades. Quanto às unidades de uso sustentável, deve ser analisada a compatibilidade da
exploração de recursos minerais com o regime jurídico de cada uma das categorias de unidade
desses grupos.
LEI Nº 9.985, DE 18 DE JULHO DE 2000.
Art. 2º Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
IX - uso indireto: aquele que não envolve consumo, coleta, dano
ou destruição dos recursos naturais;
X - uso direto: aquele que envolve coleta e uso, comercial ou não,
dos recursos naturais;
Art. 7º As unidades de conservação integrantes do SNUC dividem-
se em dois grupos, com características específicas: I - Unidades de
Proteção Integral; II - Unidades de Uso Sustentável.
§ 1º O objetivo básico das Unidades de Proteção Integral é
preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos
seus recursos naturais, com exceção dos casos previstos nesta Lei.
§ 2º O objetivo básico das Unidades de Uso Sustentável é
compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de
parcela dos seus recursos naturais.
Art. 8º O grupo das Unidades de Proteção Integral é composto
pelas seguintes categorias de unidade de conservação:
I - Estação Ecológica;
II - Reserva Biológica;
III - Parque Nacional;
IV - Monumento Natural;
V - Refúgio de Vida Silvestre.
Art. 14º Constituem o Grupo das Unidades de Uso Sustentável as
seguintes categorias de unidade de conservação:
I - Área de Proteção Ambiental;
II - Área de Relevante Interesse Ecológico;
III - Floresta Nacional;
IV - Reserva Extrativista;
V - Reserva de Fauna;
VI – Reserva de Desenvolvimento Sustentável; e
VII - Reserva Particular do Patrimônio Natural.
20

A lavra e a pesquisa de recursos minerais em terras indígenas só podem ser realizadas


com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas (art. 231, §3, CF).
Por força da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho - OIT, interpretação
semelhante no sentido da obrigatoriedade da consulta também é cabível quando afetadas outras
comunidades tradicionais, como os quilombolas por exemplo.
Em se tratando de recursos energéticos, o Decreto nº 2.457, de 14 de janeiro de 1998,
revogado pelo Decreto nº 3.520, de 2000, dispõe sobre a estrutura e funcionamento do Conselho
Nacional de Política Energética - CNPE e dá outras providências. De acordo com o Art. 1º, este
Conselho foi criado para a formulação de políticas e diretrizes de energia destinadas a:
“I - promover o aproveitamento racional dos recursos energéticos
do País, em conformidade com o disposto na legislação aplicável e
com os seguintes princípios:
a) preservação do interesse nacional;
b) promoção do desenvolvimento sustentado, ampliação do
mercado de trabalho e valorização dos recursos energéticos;
c) proteção dos interesses do consumidor quanto a preço,
qualidade e oferta dos produtos;
d) proteção do meio ambiente e promoção da conservação de
energia;
e) garantia do fornecimento de derivados de petróleo em todo o
território nacional, nos termos do § 2º do artigo 177 da
Constituição Federal;
f) incremento da utilização do gás natural;
g) identificação das soluções mais adequadas para o suprimento de
energia elétrica nas diversas regiões do País;
h) utilização de fontes renováveis de energia, mediante o
aproveitamento dos insumos disponíveis e das tecnologias
aplicáveis;
i) promoção da livre concorrência;
j) atração de investimentos na produção de energia;
l) ampliação da competitividade do País no mercado internacional;
II - assegurar, em função das características regionais, o
suprimento de insumos energéticos às áreas mais remotas ou de
difícil acesso do País, submetendo as medidas específicas ao
Congresso Nacional, quando implicarem criação de subsídios,
observado o disposto no parágrafo único do artigo 73 da Lei nº
9.478, de 1997;
III - rever periodicamente as matrizes energéticas aplicadas às
diversas regiões do País, considerando as fontes convencionais e
alternativas e as tecnologias disponíveis;
IV - estabelecer diretrizes para programas específicos, como os de
uso do gás natural, do álcool, de outras biomassas, do carvão e da
energia termonuclear;
V - estabelecer diretrizes para a importação e exportação, de
maneira a atender às necessidades de consumo interno de petróleo
e seus derivados, gás natural e condensado, e assegurar o adequado
funcionamento do Sistema Nacional de Estoques de Combustíveis
e o cumprimento do Plano Anual de Estoques Estratégicos de
21

Combustíveis, de que trata o artigo 4º da Lei nº 8.176, de 8 de


fevereiro de 1991.”

A Lei nº 9.478, de 6 de agosto de 1997, dispõe sobre a política energética nacional, as


atividades relativas ao monopólio do petróleo, institui o Conselho Nacional de Política
Energética e a Agência Nacional do Petróleo e dá outras providências. O Capítulo III trata da
Titularidade e do Monopólio do Petróleo e do Gás Natural, na sua Seção I aborda o Exercício do
Monopólio, definindo que, conforme o Art. 3º, “pertencem à União os depósitos de petróleo, gás
natural e outros hidrocarbonetos fluidos existentes no território nacional, nele compreendidos a
parte terrestre, o mar territorial, a plataforma continental e a zona econômica exclusiva.”
No Capítulo IV da referida Lei, aborda-se a Agência Nacional Do Petróleo, Gás Natural
E Biocombustíveis – ANP, cuja Seção 1, dispõe da Instituição e das Atribuições, onde no Art. 7º
declara que “Fica instituída a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíves -
ANP, entidade integrante da Administração Federal Indireta, submetida ao regime autárquico
especial, como órgão regulador da indústria do petróleo, gás natural, seus derivados e
biocombustíveis, vinculada ao Ministério de Minas e Energia”.
No estado do Pará, Lei n° 7.570, de 22 de novembro de 2011 definiu a criação da
Secretaria de Estado de Indústria, Comércio e Mineração - SEDEME, e outras providências. O
capítulo II trata da finalidade e das funções básicas, onde no Art. 2º fica instituído que a
Secretaria de Estado de Indústria, Comércio e Mineração deve, entre outros:
I - planejar, propor e executar planos e programas relacionados à
indústria, comércio, serviços e recursos minerais, inclusive em
ação coordenada com demais órgãos do Poder Executivo Estadual;
II - promover e apoiar a pesquisa nas áreas geológicas e minerais
no Estado do Pará;
III - fomentar a verticalização da cadeia produtiva mineral no
Estado do Pará [...]

A Agenda 21 é um processo e instrumento de planejamento participativo para o


desenvolvimento sustentável e que tem como eixo central a sustentabilidade, compatibilizando a
conservação ambiental, a justiça social e o crescimento econômico. O documento é resultado de
vasta consulta à população brasileira, sendo construída a partir das diretrizes da Agenda 21
global. Trata-se, portanto, de instrumento fundamental para a construção da democracia ativa e
da cidadania participativa do País (SERAFIM; CHAVES, 2005).
Deu-se, em 1992, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, Brasil, passando a ser conhecida como Cúpula da
Terra, ou, simplesmente, Rio-92, que gerou a Agenda 21, que estabelece um programa de ação
22

global, disposto em 40 capítulos; a Declaração do Rio, disposta em 27 princípios pelos quais


deve ser conduzida a interação dos humanos com o planeta; a Declaração de Princípios sobre
Florestas; a Convenção da Diversidade Biológica; a Convenção-Quadro sobre Mudanças
Climáticas (SERAFIM; CHAVES, 2005).
Esses documentos, particularmente a Agenda 21 e a Declaração do Rio, definiram os
contornos das políticas essenciais para alcançar um modelo de desenvolvimento sustentável que
se adequasse às necessidades dos países pobres e reconhecesse os limites do desenvolvimento,
de forma a atender às necessidades globais. Em 2002, a cúpula mundial sobre desenvolvimento
sustentável reuniu-se em Joanesburgo, África do Sul, a denominada Rio + 10, onde foi feita uma
revisão dos progressos alcançados desde a implantação da Agenda 21 e de outras deliberações da
Rio-92, levando à renovação dos compromissos políticos para se alcançar o desenvolvimento
sustentável (SERAFIM; CHAVES, 2005).
Para o desenvolvimento dos trabalhos propostos pela mesma foram estabelecidas cinco
estratégias e propostas de ações. A primeira estratégia visa regular o uso e a ocupação do solo
por meio de métodos e técnicas de planejamento ambiental, incluindo as diversas formas de
zoneamento, a articulação e o gerenciamento de unidades espaciais de importância para a
biodiversidade e para a conservação dos recursos naturais, tais como: corredores ecológicos,
unidades de conservação, ecossistemas terrestres, costeiros e marinhos e as bacias hidrográficas
(NOVAES, 2000).
Uma das propostas correntes com os recursos minerais e energéticos foi denominada de
Identificação da capacidade de exploração da Plataforma Continental Jurídica Brasileira – PCJB,
cujo objetivo é proporcionar subsídios à análise da viabilidade econômica dos possíveis
empreendimentos de exploração das jazidas e estabelecer prioridades, cotas e cronogramas de
exploração dos recursos minerais, visando à utilização sustentável do recurso (NOVAES, 2000).
A publicação do Plano Nacional de Mineração 2030 (PNM − 2030) representa mais uma
etapa das atribuições do Ministério de Minas e Energia para formulação de políticas e
planejamento dos setores energético e mineral. O PNM-2030 apresenta as diretrizes gerais para
as áreas de geologia, recursos minerais, mineração e transformação mineral, inclusive
metalurgia. De acordo com a Lei no 10.683, de 2003, são de competência do Ministério:
I. geologia, recursos minerais e energéticos;
II. aproveitamento da energia hidráulica;
III. mineração e metalurgia; e
IV. petróleo, combustíveis e energia elétrica, inclusive nuclear.
23

O objetivo do Plano Nacional de Mineração 2030 (PNM – 2030) é nortear as políticas de


médio e longo prazos que possam contribuir para que o setor mineral seja um alicerce para o
desenvolvimento sustentável do País nos próximos 20 anos.
Nos grandes desafios específicos para o desenvolvimento de recursos minerais, algumas
prioridades são consideradas. Entre eles, a continuidade dos projetos especiais de estudos de
minerais estratégicos para a economia nacional. Primeiramente, em face do crescimento do
agronegócio brasileiro previsto para as próximas décadas, torna-se imperativo o
desenvolvimento de políticas de recursos minerais focadas nos agrominerais, principalmente
potássio e fosfato.
Aqui se incluem os recursos de calcário para uso corretivo de solos, bem como rochas e
minerais para aplicação em remineralização dos solos, processo conhecido como rochagem,
importante tanto para o agronegócio como para a agricultura familiar. Torna-se necessário,
ainda, o desenvolvimento de alvos para a identificação de jazidas (agregados e argilas) de
materiais para construção civil, face ao crescimento expressivo deste segmento no Brasil.
Como recurso energético o grande desafio é a produção e uso limpo do carvão mineral
por meio de: desenvolvimento de tecnologias limpas na cadeia produtiva; desenvolvimento
tecnológico e inovação aplicado à cadeia produtiva carbonífera, em especial para geração
termelétrica, siderúrgica e carboquímica; e desenvolvimento de tecnologias para recuperação do
passivo ambiental da bacia carbonífera de Santa Catarina.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se que os recursos existentes devem ser racionalmente usufruídos, promovendo a


eficiência no uso e investindo em ciência e tecnologia. Pouco se conhece sobre a reserva de
minerais na crosta terrestre, pesquisas devem ser aprofundadas a respeito. Mesmo sendo um
desafio, se faz necessário pensar de forma sustentável em meio a uma sociedade consumista,
visando o bem estar desta e das gerações futuras. Conhecer a Amazônia em toda sua
complexidade física e biológica é fundamental para que a utilização de seus recursos realmente
possa significar evolução econômica e social da população do Brasil, e da própria humanidade.
Ademais, talvez a avidez por lucros a curto prazo e a qualquer preço desses tempos de
globalização econômica insensível venha a contribuir para acelerar o saque de seu patrimônio
mineral e energético.
24

7. REFERÊNCIAS

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Almas – BA, UFRB 2017.

BARRETO, D. et al. Planejamento e Gestão dos Recursos Energéticos. Engenharia


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BARROS, Juliana Neves. Legislação ambiental aplicada à mineração. Cruz das Almas, BA:
UFRB 2017. 86p.; il.

BOFF, Leonardo. Nova era: a civilização planetária. 3a ed. São Paulo: Ática, 1998, p. 73.

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Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D2457impressao.htm>. Acesso
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FARIAS, Carlos Eugênio Gomes. Mineração e Meio Ambiente no Brasil. Centro de Gestão e
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monopólio do petróleo, institui o Conselho Nacional de Política Energética e a Agência Nacional
do Petróleo e outras providências. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9478compilado.htm>. Acesso em: 30 set, 2022.

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sobre dilemas da participação. Horizontes Antropológicos, 12(25), 31-64.
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Janeiro: Academia Brasileira de Ciências, 2016.

NOVAES, W. (Coord.); RIBAS, O.; NOVAES, P. da C. Agenda 21 Brasileira - Bases para


discussão. Brasília: MMA/PNUD, 2000. 196 p.

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Básica, 2005. 304 p. (Coleção explorando o ensino, v. 8).

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de 2019.

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Mineral no Brasil: Novas Perspectivas. Ouro Preto, Brasil. 2014. Disponível em:
<www.adimb.com.br/simexmin2014>. Acesso em: 28 de setembro de 2022.

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