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O silêncio monástico

Um dos elementos essenciais para que realmente exista a vida monástica é o silêncio; não
aquele silêncio caracterizado pela mera ausência de palavras, mas o silêncio que tem uma
finalidade. Para um monge, o silêncio deve proporcionar a escuta da palavra de Deus que lhe fala
ao coração, pois é no silêncio que escutamos a voz do Transcendente. Nosso pai São Bento, em
sua santa regra, dedica todo o capítulo VI a esse tema. Logo no início do texto podemos observar
a importância do silêncio para as nossas vidas; é feita a exortação para se guardar a fala até das
coisas boas e mais ainda das ruins, pois não é no muito falar que fugiremos do pecado. Como diz
o livro dos Provérbios, “a morte e a vida estão no poder da língua" (Pr 18,21). São Bernardo, em
seus escritos, faz um comentário, aconselhando os monges a ter cuidado com a língua, porque,
mesmo sendo um órgão tão pequeno, pode nos levar para o inferno.
Mas o que é o silêncio? Onde é a sua origem, e aonde ele nos conduz? Qual é a graça que
dele emana? De um lado, o silêncio se exprime diante da Beleza contemplada. Ele habita o
coração no mais profundo amor. Exprime da melhor forma a contrição. Ele abre o caminho para
a oração. E nos conduz no mistério de Deus revelando sua presença oculta. Por outro lado,
também exprime as maiores dores, marca o sofrimento sentido através da provação da solidão e
da ausência, esconde a revolta, o rancor, a inveja, a amargura, exprime a indiferença e oculta a
dúvida.
O silêncio pode ser falso, quando é birrento, carrancudo, taciturno; ou ainda rígido,
meramente disciplinar ou sistemático; ou simplesmente inércia. Quanto a esse tipo de silêncio, só
nos resta lutar contra ele e tentar expulsá-lo, como se ele fosse aquele “demônio que mantinha
um homem mudo”, relatado no Evangelho de São Mateus (Mt 9, 32).
O silêncio verdadeiro é aberto, pacífico, benevolente! Então, ele pode alegrar, construir,
dinamizar e conduzir a alma a uma vida de total interioridade; ele pode trazer a calmaria ao
coração e elevar o espírito na oração; e ainda mergulhar o nosso corpo na paz. Como não amar e
desejar esse silêncio, do qual nós já pressentimos sua riqueza e sua força? Mas onde encontrar o
silêncio justo e verdadeiro, o silêncio bom e belo do qual nossa alma sedenta tanto deseja
conhecer o caminho e a fonte?
O verdadeiro silêncio habita o coração de Deus. Para conhecê-lo, portanto, é preciso
contemplá-lo n’Ele. Deus é silencioso, mas também é palavra. Essa é a grande maravilha que
habita em nosso coração. A palavra de Deus está revestida de silêncio, brota d’Ele e a Ele
conduz. E seu silêncio exprime o seu mais profundo amor. “Deus só pode ser bem compreendido
no silêncio interior”, escreve o beato monge beneditino Columba Mamior.

Ir. Policarpo Varela, O. Cist. (Mosteiro de Jequitibá/BA – 01/07/2021).

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