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net/publication/280744349
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Amurabi Oliveira
Federal University of Santa Catarina
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OLIVEIRA , Amurabi
amurabi_cs@hotmail.com
Universidade Federal de Santa Catarina
ABSTRACT The need to materialize the Sociology of the Sociology - and, with this,
to reflect on own development of particular scientific field - has moved a significant
number of studies and investigations into the Sociology of Education in the Brazilian
ATOS DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO - PPGE/ME
ISSN 1809-0354 v. 9, n. 2, p. 289-315, mai./ago. 2014
DOI http://dx.doi.org/10.7867/1809-0354.2014v9n2p289-315
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context. This article is part of this debate, considering the existing literature, which
has as its main analytical bifurcation production of researchers dedicated to the
Sociology of Education, we selected the research groups registered in the National
Council for Scientific and Technological Development (CNPq) as sources of
information about institutionalizing of the Sociology of Education in Brazil, aiming to
characterize and analyze the groups involved directly or indirectly to this area of
knowledge. Important issues related to the identity of the Sociology of Education in
Brazil, therefore, emerge from the quantitative-qualitative approach that marks this
study and assist us in our mapping exercise reflective of the characteristics of theses
research groups, such as the prevalence of Sociology while area; federal institutions
of higher education as key areas for development of the Sociology of Education;
geospatial distribution of these research groups and the highlight for the Southeast,
Northeast and South region, and the heterogeneity of lines of research and training
paths academic researchers that make up our corpus study .
KEYWORDS: Sociology of Education. Scientific Field. Research Groups. CNPq.
INTRODUÇÃO
quais esta ciência adentra por meio das Universidades (MICELI, 1989; LIEDKE
FILHO, 2003). Em todo o caso, é inegável o papel que as Faculdades de Direito
tiveram nesse momento, na profusão de ideias e conceitos sociológicos (CÂNDIDO,
2006). Ainda sobre a presença da Sociologia nos cursos de formação de
professores, é válido ressaltar que sua introdução nos currículos desses representou
uma busca pela modernização (SARANDY, 2007), esse novo modelo de sociedade
emergente, demandava um novo professor. Segundo Nagle (1974, p. 219):
Chama atenção o destaque que alguns autores passam a ter nesse momento,
como Durkheim e Spencer, o que pode ser atestado pelas inúmeras referências
existentes nos primeiros manuais de Sociologia produzidos entre os anos de 1920 e
1940 (MEUCCI, 2011). As teorias evolucionistas ganham notoriedade, o que não
implicou em uma transposição automática destas, houve sim uma adaptação à
realidade social e ao cenário intelectual brasileiros (VILLAS BÔAS, 2006).
Interessa-nos aqui destacar que a introdução da Sociologia no cenário
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1 No ano de 1932 o então presidente Getúlio Vargas, juntamente com o ministro do recém-
criado Ministério da Educação e Saúde Pública, dirige-se à Associação Brasileira de Educação –
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ABE, que agregava tanto pensadores católicos quanto liberais, e pede que seja redigido um
documento que sirva de base para a educação nacional. Esse documento é apresentado meses
depois na forma do Manifesto da Educação Nova, assinado por 26 intelectuais. Centrava-se em
questões que demarcavam uma ruptura dentro da ABE, ao defender a educação pública, e o direito
biológico à educação, e ainda questões como a laicidade, gratuidade, obrigatoriedade e a
coeducação, demarcando uma separação entre católicos e liberais nas questões educacionais, e
trazendo a questão das desigualdades para o bojo das questões (MARTINS; WEBER, 2010). Esse
documento, assim como o movimento que o dinamizou, tem sido alvo de inúmeras análises, por
vezes controversas entre autores brasileiros.
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2 Em 2014 as discussões voltadas para as questões educacionais se desdobraram por meio de dois
espaços distintos, um GT denominado Novas Configurações do Ensino Superior na Sociedade
Contemporânea, coordenado pelos professores Carlos Benedito Martins (UnB) e Clarissa Eckert
Baeta Neves (UFRGS), e um Simpósio de Pesquisas Pós-Graduadas (SPG) intitulado Ciências
Sociais e Educação: dilemas e possibilidades na produção do conhecimento, coordenado pelos
professores Neusa Gusmão (UNICAMP) e Amurabi Oliveira (UFAL).
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METODOLOGIA DA PESQUISA
6 Todas as buscas foram realizadas utilizando-se da opção “frase exata” com o intuito de evitar
a dispersão dos resultados sobre áreas diversas.
7 Considerando que os grupos de pesquisa deste diretório são alimentados continuamente,
faz-se importante datar as nossas buscas. Elas foram realizadas entre janeiro e fevereiro de 2014.
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Escola”
10 “Observatório 2 1 1 _____ 1
sociológico”
11 “Sociologia da 13 0 13 7 6
8
Educação”
TOTAL _____ 1.057 875 182 87 103
Fonte: Os autores (2014).
8 Esta última busca foi realizada no Censo 2010 do DGP do CNPq: ao utilizarmos a palavra-
chave “Sociologia da Educação”, obtivemos 13 achados, dos quais 7 grupos já se encontravam
replicados em buscas anteriores e 6 novos grupos foram selecionados.
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Para que se possa compreender como se deu nossa análise dos dados deve-
se considerar os limites impostos pelo instrumento de coleta. Apesar de ser tido
como uma vitrine da produção acadêmica há, por vezes, imprecisões no
preenchimento dos dados nos grupos de pesquisa referentes principalmente às
palavras-chaves utilizadas para a descrição das linhas de pesquisa, bem como seus
objetivos. Em todo o caso, compreendemos que o percurso metodológico assumido,
ainda que com suas limitações, nos apresenta um interessante panorama acerca da
realidade da Sociologia da Educação no Brasil enquanto campo acadêmico. Para
tanto, após o levantamento dos dados selecionamos aspectos que se mostraram
mais emblemáticos nesse processo. Ressalta-se que 78 (76%) grupos encontravam-
se atualizados no momento em que realizamos o levantamento, 24 (23%)
desatualizados9 e 1 (1%) aguardando certificação da instituição.
O primeiro dos aspectos analíticos que levantamos remete à área definida
Mais que isso, dado que das 93 instituições públicas, 82 (79%) são
universidades, compreendemos também que estas instituições mostram-se centrais
para a produção do conhecimento em Sociologia da Educação, o que acompanha
uma tendência mais geral existente no Ensino Superior brasileiro e sua relação com
o desenvolvimento da pesquisa.
Apesar dessa ligação visceral com a estrutura universitária, 35 (34%) grupos
não indicaram vínculo institucional com Programas de Pós-Graduação, 28 (27%)
possuíam vínculo com programas em Sociologia/Ciências Sociais, 28 (27%) com
programas em Educação e 12 (12%) com outros Programas10. Esse dado aponta
para uma mudança sutil com relação ao cenário apontado por Weber (1992), quando
indicou a existência de apenas quatro programas em Sociologia/Ciências Sociais
com linhas de pesquisa em Sociologia da Educação. Em todo o caso, devemos ter
em consideração ainda a rápida expansão da pós-graduação na última década no
Brasil que possibilitou uma ampliação das temáticas pesquisadas e discutidas nesse
nível de ensino, e que essa ligação não implica que a Educação se constitua,
necessariamente, como uma linha de pesquisa dentro de tais programas.
Em termos de distribuição geográfica, 38 (37%) grupos localizam-se no
Sudeste, 33 (32%) no Nordeste, 19 (18%) no Sul, 7 (7%) no Centro-Oeste e 6 (6%)
no Norte. Apesar de não ser surpreendente a concentração de tais grupos de
pesquisa do Sudeste, chama a atenção o fato de que a região Nordeste tenha sido
aquela que apresentou o segundo maior número de grupos, ultrapassando a região
Sul. Entretanto, devemos complexificar tais dados, tendo em vista que a existência
de um expressivo número de grupos de pesquisa não indica, necessariamente, que
há um campo consolidado de pesquisa.
Desdobrando e aprofundando esta questão, mostra-se significativo que, dos
33 grupos de pesquisa do Nordeste, 12 (36%) surgiram após 2010, ao passo que no
Sudeste foram 10 (26%) dos 38, no Sul apenas um (5%) dos 19 surgiram nesse
período, no Centro-Oeste foram três (42%) dos sete, e no Norte quatro (57%) dos
sete. Obviamente que para compreendermos melhor este cenário temos que ter em
10 São eles: Educação Física (3), Direito (3), Filosofia (2), Psicologia (1), Ciências da Religião
(1), Gestão Urbana (1) e Engenharia (1).
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vista a dualidade dos princípios de domínio do campo científico, em que pesem tanto
os recursos científicos propriamente ditos, em sua maioria na forma de capital
incorporado, e os recursos financeiros necessários (BOURDIEU, 2008).
No cenário nacional, apenas quatro (4%) dos grupos haviam surgido até os
anos de 1980. Nos anos de 1990 surgem 16 (16%), demarcando um aumento de
400% no total de grupos, o que, em nossa interpretação, liga-se à consolidação do
processo de redemocratização do país no qual a Educação passa a ser pensada
como um elemento fundamental (WEBER, 1996), demandando uma nova
abordagem em torno desse objeto, relacionando-o com os aspectos sociais e
políticos vivenciados no Brasil.
Um bom indicativo sobre o progressivo amadurecimento da Sociologia da
Educação no Brasil é encontrado no trabalho de Takagi (2013) que, ao analisar os
programas dessa disciplina na USP, aponta para um predomínio quase exclusivo de
literatura estrangeira, afirmando que até o início dos anos de 1970 havia uma única
referência a um autor brasileiro, tratava-se de um artigo de Luiz Pereira. Ainda
segundo a autora:
11 Os limites desta análise precisam ser apontados: o mapeamento das linhas que se ligam à
Sociologia da Educação levou em consideração a menção direta a esta área do conhecimento. Sabe-
se que a perspectiva sociológica não é expressa somente pela presença desta menção e, neste
sentido, cabe assinalar que estamos a tratar de uma relação direta, o que não pode ser
compreendido como a única expressão da Sociologia da Educação nestas linhas de pesquisa.
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12 Nesta categoria “Outras áreas”, destacam-se: História (com 28 ocorrências), Filosofia (com
25), Educação Física (24), Psicologia (16), Economia (12), Comunicação (8), Direito (7).
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deste campo: dos 584 doutores identificados neste levantamento, 229 (39%)
apresentam uma formação “híbrida” ou interdisciplinar; obtendo seus diversos níveis
de formação (graduação, mestrado e doutorado) em áreas do conhecimento
diversas entre si. Destes 229, 71 (31%) manifestam este hibridismo por meio da
interlocução entre Ciências Sociais e Educação e 158 (69%) o expressam por meio
de interlocuções heterogêneas com outras áreas.
Chamamos uma especial atenção para aqueles que realizam parte de sua
formação nas Ciências Sociais e parte na Educação, pois estes percursos
acadêmicos parecem estar lastreados pela ideia de que ao se procurar debater a
temática educacional é necessário recorrer, por vezes, a Programas de Educação,
dado o ainda pequeno número de Programas nas Ciências Sociais com linhas de
Pesquisa em Educação13, ao mesmo tempo, em que se recorre a Programas em
Ciências Sociais para que por meio das ferramentas teóricas e metodológicas de tais
ciências se possa abordar o objeto educacional. Este percurso realizado por alguns
pesquisadores transparece as disputas estabelecidas no campo acadêmico em torno
tanto dos objetos legítimos de serem pesquisados, quanto das abordagens teóricas
e metodológicas (BOURDIEU, 2011).
Notadamente os diálogos que se estabelecem entre estes dois campos são
marcados por inúmeras tensões, e mesmo por distinções nos seus modos de
operacionalizar a investigação científica. Barbosa (2012, p. 92-93) busca elucidar as
diferenças existentes entre a Sociologia da Educação praticada por sociólogos e
educadores da seguinte forma:
13 Segundo o levantamento realizado por Lima e Cortes (2013) junto aos Programas de Pós-
Graduação em Sociologia existentes atualmente no Brasil, há um total de 95 linhas de pesquisas,
das quais, apenas quatro se dedicam à questão educacional.
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Essa não é uma posição assumida sem controvérsias, dado o que afirmamos
até aqui em torno da diversidade da Sociologia da Educação existente no Brasil.
Entretanto não deixa de ser verdadeiro que há modos distintos de se produzir
conhecimento nesse campo, e justamente pelo reconhecimento dessas diferenças é
que pontes entre a Sociologia e a Educação têm sido criadas, que se materializam
nas trajetórias acadêmicas nos agentes sociais engajados nesse campo.
Por fim, vale a pena ressaltar que o exercício de caracterização dos grupos
de pesquisa no âmbito da Sociologia da Educação, enfrentado neste artigo,
representa um esforço no sentido de ampliar o conhecimento sobre o
desenvolvimento da Sociologia da Educação no Brasil, reconhecendo sua
dinamicidade e pluralidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
AMURABI OLIVEIRA
REFERÊNCIAS
BARBOSA, M. L.; CANEDO, M. L.; XAVIER, A. Entrevista com Maria Ligia Barbosa.
Revista Luso-Brasileira de Sociologia da Educação. v 3, n. 5, p. 90-96, 2012.
ORTIZ, R. Ciências Sociais e Trabalho Intelectual. São Paulo: Olho d'Água, 2002.
Papirus, 1996.