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2. A Cuca, 1924
A composição A Cuca traz uma figura
presente no folclore brasileiro e no
À esquerda a tela A negra (1923) e à direita o quadro Antropofagia (1929) imaginário da população. Segundo a
também exibem o recurso do gigantismo na pintura lenda, conta-se que a cuca era uma
10 obras modernistas de Tarsila do Amaral bruxa má com corpo de jacaré que
O modernismo brasileiro foi um período em que os artistas estavam raptava as crianças desobedientes.
bastante interessados em trazer uma renovação para a arte do país. Pintado em cores vibrantes e tropicais,
Buscando inspiração nas vanguardas europeias, eles produziram obras que a tela remete à infância; exibe alguns
dialogavam com a cultura nacional e quebravam os padrões estéticos até animais e uma natureza viva. Pertence A Cuca (1924)
então vigentes. à fase modernista Pau-Brasil, que
Um dos grandes nomes do período foi Tarsila do Amaral, uma figura antecede o movimento antropofágico.
decisiva na consolidação dessa vertente artística no Brasil. Essa é uma criação de 1924, tem 73 x 100 cm, foi feita usando tinta a óleo
Confira dez importantes obras modernistas de Tarsila que apresentamos e encontra-se no Museu de Grénoble, na França.
por ordem cronológica.
3. São Paulo (Gazo), 1924 Foi idealizada pensando na cultura
A obra São Paulo (Gazo) também brasileira e exibe uma pessoa sentada
integra a fase Pau-Brasil de em posição reflexiva. A figura
Tarsila, sendo um dos marcos do apresenta grandes distorções e está
período. inserida em uma paisagem
Nessa fase, a artista explora tipicamente brasileira, mais
elementos urbanos e a especificamente nordestina. Expõe
modernização das cidades em intensamente as cores da bandeira do
contraste com as paisagens Brasil.
tropicais e a valorização da fauna e Esse quadro foi o impulso para uma
flora. nova fase no modernismo brasileiro: o
De acordo com o historiador e movimento antropofágico.
artista Carlos Zilio: Abaporu foi produzida em 1928 com a
Em trabalhos como esse, Tarsila
São Paulo - Gazo (1924) técnica óleo sobre tela e mede 85 x
situa a percepção do Brasil a partir 72 cm. Encontra-se atualmente no Abaporu (1928)
da ótica aberta pela industrialização. Museu de Arte Latino-Americana de
Esse é um óleo sobre tela de 1924, com tamanho de 50 x 60 cm e pertence Buenos Aires (MALBA).
a uma coleção particular.
4. Morro da Favela, 1924 6. Urutu (O ovo), 1928
Morro da Favela pertence ao período A obra Urutu - também conhecida
Pau-Brasil. Retrata uma favela com como O ovo - é cheia de simbolismos.
casinhas coloridas, árvores e pessoas. Apresenta uma cobra, que é um
É um obra de denúncia social, pois animal bastante temido e que possui a
nessa época a população pobre foi capacidade de deglutição. Há também
obrigada a ceder espaço nos grandes um enorme ovo, significando o
centros e se deslocar para zonas nascimento de uma ideia, de um
periféricas. Foi nesse momento que projeto novo.
houve um grande aumento das favelas Esses símbolos relacionam-se
no país. diretamente com o movimento Urutu - O Ovo (1928)
Morro da Favela (1924) Apesar da crítica, Tarsila consegue modernista que estava nascendo no
retratar essa realidade de maneira leve, país, especialmente com a
sugerindo harmonia uma idealização fase antropofágica. Tal fase propunha "ingerir" as ideias das vanguardas
do morro como um lugar idílico. A composição data de 1924, tem 64 x 76 artísticas que ocorriam na Europa e transformá-las em uma nova arte
cm e pertence a uma coleção particular. preocupada com a cultura nacional.A tela foi feita em 1928. Pintada em
5. Abaporu, 1928 tinta a óleo, mede 60 x 72 cm e integra o acervo da Coleção Gilberto
Uma das obras mais conhecidas de Tarsila é, sem dúvida, Abaporu. O Chateaubriand, no Museu de Arte Moderna (MAM), do Rio de Janeiro.
nome é uma junção das palavras tupis aba (homem), pora (gente)
e ú (comer), significando portanto homem que come gente, ou
antropófago.
7. A Lua, 1928 9. Operários, 1933
No quadro A Lua, a artista apresenta Na década de 30, com a imigração
uma paisagem noturna com cores e o impulso capitalista, muitas
saturadas e formas sinuosas. A lua e o pessoas desembarcaram em
cacto aparecem de maneira bastante centros metropolitanos - sobretudo
estilizada. São Paulo - vindas de diversas
A composição, produzida em 1928, partes do Brasil a fim de suprir a
pertence à fase antropofágica de necessidade de mão de obra
Tarsila e mede 110 x 110 cm. barata que as fábricas exigiam.
Em 2019 foi adquirida pelo Museu de Nessa época, Tarsila inicia sua Operários (1933)
Arte Moderna de Nova York (MoMa) última fase modernista, chamada
pelo valor exorbitante de 20 milhões de de Fase Social, na qual explora
dólares (cerca de 74 milhões de reais). A Lua (1928) temas de cunho coletivo e social.
A famosa galeria emitiu uma nota demonstrando satisfação com a aquisição Aqui ela questiona as adversidades vindas da industrialização, a
e expressou apreço pelo trabalho da pintora dizendo: concentração de riquezas nas mãos de poucos e a exploração a que muitos
Tarsila é uma figura de fundação para a arte moderna no Brasil e uma estão sujeitos. A pintora realiza então a tela Operários, na qual exibe o
protagonista central nos intercâmbios transatlânticos e culturais deste rosto de diferentes pessoas, de várias etnias, mas que possuem em comum
movimento. uma expressão de exaustão. Nessa composição, a massa de gente
aparece como o retrato dos trabalhadores fabris da época. Esse é um
trabalho de 1933, com 150 x 205 cm e que está localizado no Palácio Boa
8. Antropofagia, 1929
Vista, em Campos do Jordão.
Em Antropofagia, Tarsila uniu duas
obras produzidas anteriormente: A 10. Segunda Classe, 1933
Negra (1923) e Abaporu (1928). Nessa A tela Segunda Classe também
tela, a artista funde as duas figuras, pertence à fase social.
como se eles possuíssem dependência Aqui, Tarsila retrata pessoas em
mútua. uma estação de trem. Ao fundo, há
Aqui a imagem da negra é apresentada a figura de uma mulher com uma
com a cabeça diminuída, fazendo par criança de colo e um homem idoso.
com a cabeça de Abaporu. Os seres Do lado de fora do vagão, quatro
encontram-se emaranhados como se mulheres, três homens e cinco
fossem um só e integram-se à crianças apresentam feições S
Antropofagia (1929) egunda Classe (1933)
natureza. cansadas e sem esperanças.
Rafael Cardoso, historiador de arte, define a obra da seguinte maneira: A cena retrata uma realidade muito comum no período, o êxodo rural, que
Em Antropofagia as coisas não se transformam. Elas apenas são; é a migração do campo para as cidades de indivíduos que partem em
subsistem, com uma terrível e sólida permanência que as ancora no chão. busca de melhores condições de vida e oportunidades.
O quadro foi pintado em 1929, é um óleo sobre tela com dimensão de As cores escolhidas na composição são acinzentadas e não tem mais a
126 x 142 cm e pertence à Fundação José e Paulina Nemirovsky, em São intensidade e vida das outras fases modernistas da pintora.
Paulo. Essa é uma obra produzida com a técnica de óleo sobre tela, possui 110 x
151 cm e faz parte do acervo de uma coleção particular.