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GRUPO II

Texto A

Portugueses eram melhores navegadores.


Espanhóis foram mais conquistadores
Leonídio Paulo Ferreira 6 fevereiro 2019

Os alemães dão uns belos juízes: três portugueses entre os sete grandes
navegadores da humanidade. É o que afirma o magnífico museu da navegação que
existe em Hamburgo, grande cidade portuária. Lá estão à entrada os bustos de
Bartolomeu Dias, de Vasco da Gama e de Fernão de Magalhães. Também os do viking
5 Leif Eriksson, do chinês Zheng He, do italiano Cristóvão Colombo e do inglês James
Cook. Nenhum espanhol!
Durante os séculos XV e XVI, os portugueses foram muito bons em algumas
coisas: navegar, guerrear, criar filhos com mulheres de outras raças, comerciar de tudo
um pouco, traficar escravos. De umas podemos orgulhar-nos ainda hoje, de outras não.
10 Mas sim, como navegadores não havia igual. Nenhum mar ficou por explorar, nenhuma
terra por descobrir, tirando os polos. Não é por acaso que mesmo os historiadores
anglo-saxónicos falam de Portugal como o primeiro grande império marítimo: já
tínhamos começado a povoar a Madeira e os Açores, também Cabo Verde e São
Tomé, já Gil Eanes, Nuno Tristão, Diogo Cão e Bartolomeu Dias tinham descido toda a
15 costa ocidental africana e ainda nem sequer Colombo tinha chegado às Antilhas.
Ora, falemos de Colombo. O francês Erik Orsenna dedica-lhe A Empresa das
Índias, livro que mostra como o italiano (de Génova) aprende cartografia e navegação
em Portugal e só se apresenta aos Reis Católicos quando D. João II não acredita no
seu projeto de chegar à Ásia navegando para Ocidente (nunca chegaria lá, e teve sorte
20 de as Américas estarem no meio do caminho). Já Fernão de Magalhães, que navegou
ao serviço de Portugal até ao Oriente pela rota do cabo da Boa Esperança, pôs os
seus conhecimentos ao serviço de Carlos V, depois de se zangar com D. Manuel I. […]
Magalhães mostrou sempre ser um navegador extraordinário. Partiu de
Espanha em 1519 e não só descobriu a passagem para o Pacífico em terras hoje
25 argentinas e chilenas (o estreito de Magalhães) como convenceu a tripulação a cruzar
o maior de todos os oceanos. Teve de se impor e não poucas vezes usou a força
contra quem desanimava e o contrariava.
Foi morto nas Filipinas em 1521, ilhas que seriam depois espanholas e
batizadas em homenagem ao filho de Carlos V, e a viagem de regresso foi comandada
30 por Juan Sebastián Elcano. Basco, portanto espanhol, Elcano não ousou voltar pelo
caminho do Pacífico, atravessou sim os mares controlados por Portugal. Desobedeceu
às ordens e arriscou ser capturado, mas em 1522 desembarcou em Espanha,
completando a circum-navegação. Morreu poucos anos depois no Pacífico, tal como
Magalhães. Era um homem do mar e justo herói espanhol. […]
3535 Tem havido uma pequena polémica em torno de Magalhães e Elcano nos
jornais portugueses e espanhóis. Mas sem sentido. Portugal e Espanha foram
grandíssimos naqueles séculos, um mais com navegadores, o outro mais com
conquistadores (Hernán Cortés e Francisco Pizarro). Basta olhar para a geografia e
para a história de cada um dos países para se perceber essa diferença de destino. E
40 lembro que se Luís Vaz de Camões fala de “mares nunca antes navegados” no poema
épico que define Portugal,
já Ortega y Gasset diz que a Espanha “é a poeira que se levanta em turbilhão no
caminho da história, depois de um grande povo por ele ter passado a galope”.

in DN.pt, https://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/leonidio-paulo-ferreira/interior/os-portugueses-sao-os-
melhores-navegadores-de-sempre-e-nao-so-magalhaes-10544397.html
[com supressões e consult. em 10-02-2019]

1. Indica se os excertos apresentados correspondem a opiniões (O) ou factos (F).

1.1. “Os alemães dão uns belos juízes” (l. 1) ______


1.2. “Lá estão à entrada os bustos de Bartolomeu Dias, de Vasco da Gama e de
Fernão de Magalhães.” (ll. 3 e 4) ______
1.3. Durante os séculos XV e XVI, os portugueses foram muito bons em algumas
coisas: […] De umas podemos orgulhar-nos ainda hoje, de outras não (ll. 7-9)
______
1.4. “O francês Erik Orsenna dedica-lhe A Empresa das Índias, livro que mostra como o
italiano (de Génova) aprende cartografia e navegação em Portugal” (ll. 16-18)
______

2. Tendo em conta o texto, indica se as afirmações são verdadeiras (V) ou falsas (F).
2.1. A postura dos portugueses também pode ser alvo de crítica. ______
2.2. Houve simultaneidade na povoação de São Tomé e das Antilhas. ______
2.3. De acordo com o texto, os portugueses fizeram, com sucesso, algumas atividades
de que não se podem envaidecer. ______
2.4. No entender do autor, a polémica que tem surgido nos jornais portugueses e
espanhóis em torno de Magalhães e Elcano é muito pertinente e justificada.
______

3. Seleciona as opções que completam as frases, de acordo com o sentido do texto.


3.1. A “diferença de destino”, que Leonídio Paulo Ferreira menciona na linha 39,
(A) corrobora que os espanhóis suplantaram os portugueses na arte náutica.
(B) atesta que a história espanhola e a portuguesa e as condições geográficas
são similares.
(C) foi evitada pelos monarcas de Portugal e de Espanha.
(D) que fez dos portugueses navegadores e dos espanhóis conquistadores, é
justificada pelo posicionamento territorial e pela história.

3.2. Com a frase que termina o texto (“a Espanha ‘é a poeira que se levanta em
turbilhão no caminho da história, depois de um grande povo por ele ter passado a
galope’”), Ortega y Gasset
(A) coloca os portugueses numa posição cimeira.
(B) enaltece os espanhóis em detrimento dos portugueses.
(C) assume uma posição imparcial, não opinando.
(D) conclui o texto com um excerto expositivo.
Texto B

89 mais magoa.
Em tão longo caminho e duvidoso
Por perdidos as gentes nos julgavam,
As mulheres cum choro piadoso,
Os homens com suspiros que arrancavam.
Mães, esposas, irmãs, que o temeroso
Amor mais desconfia, acrecentavam
A desesperação e frio medo 92
De já nos não tornar a ver tão cedo. Nestas e outras palavras que diziam
De amor e de piadosa humanidade,
90 Os velhos e os mininos os seguiam,
Qual vai dizendo: “Ó filho, a quem eu tinha Em quem menos esforço põe a idade.
Só pera refrigério e doce emparo Os montes de mais perto respondiam,
Desta cansada já velhice minha, Quase movidos de alta piedade;
Que em choro acabará, penoso e amaro, A branca areia as lágrimas banhavam,
Porque me deixas, mísera e mesquinha? Que em multidão co elas se igualavam.
Porque de mi te vas, ó filho caro,
A fazer o funéreo enterramento 93
Onde sejas de pexes mantimento!” Nós outros, sem a vista alevantarmos
Nem a mãe, nem a esposa, neste estado,
91 Por nos não magoarmos, ou mudarmos
Qual em cabelo: “Ó doce e amado esposo, Do propósito firme começado,
Sem quem não quis Amor que viver possa, Determinei de assi nos embarcarmos,
Porque is aventurar ao mar iroso Sem o despedimento costumado,
Essa vida que é minha e não é vossa? Que, posto que é de amor usança boa,
Como, por um caminho duvidoso, A quem se aparta, ou fica, mais magoa.
Vos esquece a afeição tão doce nossa?
Nosso amor, nosso vão contentamento Luís Vaz de Camões, Os Lusíadas
(Canto IV, est. 89-93). Porto: Porto Editora, 2011
Quereis que com as velas leve o vento?”

4. Contextualiza este excerto na estrutura interna da obra épica camoniana.


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5. Explica os sentimentos das várias personagens expressos na estância 89.


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6. Atenta no discurso direto das estâncias 90 e 91.
6.1. Expõe o(s) argumento(s) utilizado(s) pela mãe e pela esposa.
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7. Seleciona a opção que completa a frase.


7.1. Na estância 93, Vasco da Gama não permite as usuais despedidas,
(A) revelando frieza e distanciamento emocional.
(B) de modo a não intensificar o sofrimento, tanto dos que ficavam como dos que
partiam e para impedir eventuais desistências dos nautas relativamente à partida.
(C) evitando cruzar o olhar com “a mãe” e “a esposa”, somente para não agravar a dor
dos que estão em terra.
(D) apesar da discordância dos restantes marinheiros que, porém, respeitaram a
decisão.

8. Faz a escansão do verso que a seguir se apresenta.

“Porque me deixas, mísera e mesquinha?”

Texto C

9. Lê, atentamente, o poema de Fernando Pessoa que a seguir se apresenta.

Mar Português

Ó mar salgado, quanto do teu sal


São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
5 Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena?
Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
10 Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Fernando Pessoa, Mensagem. Porto: Porto Editora, 2016

9.1. Redige um pequeno texto correto, bem estruturado e com correção linguística e
ortográfica, de 40 a 70 palavras, no qual comentes a última sextilha do poema.
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GRUPO III

1. Indica o tempo e o modo das formas verbais destacadas nas frases que se seguem.

A) “já tínhamos começado a povoar a Madeira e os Açores” (l. 13)


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B) “Tem havido uma pequena polémica em torno de Magalhães e Elcano nos jornais
portugueses e espanhóis.” (ll. 35-36)
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2. Associa cada oração sublinhada (coluna A) à sua classificação (coluna B).

Coluna A Coluna B
A. “Fernão de Magalhães, que navegou ao
serviço de Portugal até ao Oriente pela rota do
cabo da Boa Esperança,” (ll. 20-21) (1) Oração coordenada copulativa
B. “não só descobriu a passagem para o Pacífico (2) Oração coordenada disjuntiva
em terras hoje argentinas e chilenas (o
(3) Oração subordinada adverbial final
estreito de Magalhães) como convenceu a
tripulação a cruzar o maior de todos os (4) Oração subordinada adverbial
oceanos.” (ll. 24-26) concessiva
C. “ilhas que seriam depois espanholas e (5) Oração subordinada adjetiva relativa
batizadas em homenagem ao filho de Carlos restritiva
V” (ll. 28-29) (6) Oração subordinada adjetiva relativa
D. “Basta olhar para a geografia e para a história explicativa
de cada um dos países para se perceber essa
diferença de destino.” (ll. 38-39)

A. B. C. D.

3. Segue as instruções e reescreve as frases:


3.1. “Confia-me o leme do navio!” – pediu o marinheiro a Vasco da Gama.
a. Substituição do complemento direto por um pronome pessoal.
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b. Substituição do complemento direto e indireto por pronomes pessoais.


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3.2. Os marinheiros desejarão sucesso para a viagem.


a. Substituição do complemento direto por um pronome pessoal.
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b. Substituição do complemento direto por um pronome pessoal + reescrita da frase


na negativa.
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4. Estabelece a ligação entre as expressões sublinhadas na Coluna A e a respetiva


função sintática (Coluna B).

Coluna A Coluna B

A. “Lá estão à entrada os bustos de 1. Predicativo do sujeito


Bartolomeu Dias, de Vasco da Gama e de
2. Complemento direto
Fernão de Magalhães. (ll. 3 e 4)
3. Complemento indireto
B. “e teve sorte de as Américas estarem no 4. Complemento oblíquo
meio do caminho” (ll. 19 e 20)
5. Modificador
C. “Partiu de Espanha em 1519” (ll. 23 e 24) 6. Modificador restritivo do nome
7. Modificador apositivo do nome
D. “a viagem de regresso foi comandada por
8. Complemento agente da passiva
Juan Sebastián Elcano.” (ll. 29 e 30)
9. Sujeito

A. B. C. D.

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