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Figura da capa:
Pixabay.
Editor:
Marcelo França de Oliveira
Conselho Editorial
H62999 História, gênero e materiais didáticos / Julia Silveira Matos e Gianne Zanella
Atallah (Orgs). [ edição eletrônica ] Porto Alegre: Mundo Acadêmico, 2021.
174p.
Bibliografia
ISBN: 978-65-89475-12-5
INTRODUÇÃO ....................................................................................6
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GÊNERO: UM DIÁLOGO RELEVANTE NO
ENSINO DE HISTÓRIA
INTRODUÇÃO
Historicamente as disciplinas escolares como atualmente
concebemos, organização de um conjunto de saberes, iniciam seu
processo de idealização como nos afirma Fonseca (2006) somente
durante o período da Idade Média. Assim, os suportes que tinham o
interesse de manter o discurso do passado, além da manutenção de
uma moral e sentimento de civilidade foram largamente utilizados.
Sendo assim, segundo Jörn Rusen “a escrita da história era orientada
pela moral e pelos problemas práticos da vida, e não pelos problemas
1 Historiadora, mestre em História pelo Programa de Pós-graduação em História da Universidade
Federal do Rio Grande – FURG.
2 Licencianda em História pela Universidade Federal do Rio Grande – FURG, bolsista FAPERGS.
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Desencadeava-se uma luta que, mesmo com distintas caras e expressões, poderia ser
sintetizada como a luta pelo direito de falar por si e de falar de si. Esses diferentes gru-
pos, historicamente colocados em segundo plano pelos grupos dominantes, estavam e
estão empenhados, fundamentalmente, em se auto representar. (LOURO, 2008, p. 20).
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Sua importância deriva de seu caráter global, abrangentes de todos os aspectos con-
cernentes à organização da educação nacional, e de seu caráter operacional, já que
implica a definição de ações, traduzidas em metas as serem atingidas em prazos de-
terminados dentro do limite global de tempo abrangido pelo Plano que a própria LDB
definiu para um período de dez anos. (SAVIANI, 1998, p. 3).
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Páginas – Objetivos e
Nível escolar Gênero
Habilidades
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giosa, étnica, de gênero, cor e raça, na perspectiva dos direitos humanos e da intercul-
turalidade, da valorização e acolhimento das diferenças. (BNCC, 2016, p. 296)
As questões que nos levam a pensar a História como um saber necessário para a for-
mação das crianças e jovens na escola são as originárias do tempo presente. O passa-
do que deve impulsionar a dinâmica do ensino-aprendizagem no Ensino Fundamental
é aquele que dialoga com o tempo atual. (BNCC, 2018, p. 397)
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A reforma, sem a participação dos professores, é limitada deste o seu início. O currícu-
lo deve ser pensado e proposto tomando-se sempre como referência a escola em suas
práticas reais, considerando-se os saberes produzidos pelos professores, as intenções
da formação e as condições em que ela se processa. (SILVA, 2018, p. 13)
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CONCLUSÃO:
Essa pesquisa se encontra em andamento por isso ainda não
possuímos dados conclusivos a respeito da análise pretendida, dessa
forma sinalizamos que através dos estudos realizados percebemos
a relevância do debate de gênero e entendermos que a pertinência
da discussão e o aprofundamento da questão dentro dos manuais
didáticos. Assim nos levam a outras discussões e reflexões sobre
temáticas que ainda estão omitidas, mas se fazem presentes nosso
cotidiano. Uma vez, que o silenciamento, de determinados temas,
como por exemplo, a sexualidade, que permanecem nos livros
contribuem para a manutenção de uma cultura predominantemente
machista e preconceituosa. Tendo em vista, que o tema é abrangente,
no primeiro momento pretendemos analisar os editais responsáveis
pela elaboração dos manuais didáticos, relacionados à educação básica
de ensino médio. De que forma os conceitos referentes. Analisar os
conceitos a relação homem e mulher, as relações históricas dos grupos
esquecidos da nossa sociedade são abordadas nos editais e também
pretendemos analisar de que forma é abordada a temática sexualidade.
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REFERÊNCIAS
FONTE:
BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica. Edital de Convocação
04/2015 – CGPLI. Edital de convocação para o processo de inscrição e avaliação de
obras didáticas para o programa nacional do livro didático PNLD 2018. Brasília, 2015.
Disponível em: https://www.fnde.gov.br/index.php/programas/programas-do-livro/
consultas/editais-programas-livro/item/7932-pnld-2018 . Acesso em: 10 junho de
2019.
BIBLIOGRAFIA:
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Livros didáticos entre textos e imagens. In:
______ O saber histórico na sala de aula. 11. Ed. São Paulo: Contexto, 2010.
BURKE, Peter. A escrita da história: Novas perspectivas. Tradução: Magda Lopes. Editora
UNESP. São Paulo, 2011
FONSECA, Thais Nivia de Lima e. História & Ensino de História. 2.ed., Belo Horizonte:
Autêntica, 2006
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OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de. Livros didáticos de História: pesquisa, ensino e
novas utilizações deste objeto cultural.2011
PINSKY, Carla Bassanezi. Gênero. In: __________ (Org). Novos temas nas aulas de
História. 2ª ed. São Paulo: Editora Contexto, 2010, p.29-54
SAVIANI, Dermeval. Da Nova LDB ao Novo Plano Nacional de Educação: Por outra
Política Educacional. Campinas-SP. Ed. Autores Associados, 1998.
SCOTT, Joan. Gênero: Uma categoria útil para análise histórica. Vol.20 (2). Julho/
dezembro. Traduzido, 1995. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.
php/185058/mod_resource/content/2/G%C3%AAnero-Joan%20Scott.pdf . Acesso
em: 10 de junho de 2019.
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A RELAÇÃO ENTRE ENSINO E PESQUISA
NO CONTEXTO DO ENSINO DA HISTÓRIA
DO ESTADO DE GOIÁS E DA CIDADE DE
CATALÃO
1 A Professora Márcia Pereira dos Santos é Doutora em História pela Universidade Estadual
Paulista – UNESP/Franca (2007) e é docente da Universidade Federal de Goiás desde 1998. É,
atualmente, Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em História – Mestrado Profissional
da UFG/Regional Catalão, cuja área de concentração é “História, Cultura e Formação de
Professores”. É, também, Coordenadora de área de História do PIBID (Programa de Bolsa de
Iniciação a Docência) da mesma universidade. Pesquisadora de História Cultural, desenvolveu
trabalhos tematizando a cultura popular, o mundo rural, as festas rurais e, atualmente, se ocupa
da relação entre ensino de história e cultura. A Professora é pesquisadora do grupo de pesquisa
NIESC e, ainda, membro da Società Internazionale di Studi Francescani – Assisi – Itália, por sua
pesquisa sobre o culto popular a Santo Antônio no Brasil. E-mail: marcia_santos@ufcat.edu.br
2 A pesquisadora Jaciely Soares da Silva é formada em História pela Universidade Federal de
Goiás – UFG/CAC (2012), mestre em História pela Universidade Federal de Uberlândia (2014),
atualmente é doutoranda pela mesma universidade e pesquisa a história de Catalão através do
culto ao Santo Antero. Desenvolveu projetos sobre Ensino de História durante os anos de 2009 e
2011, sendo bolsista pelo Programa de Bolsa e Licenciatura – PROLICEN durante os respectivos
anos. E-mail: jacielysoares@gmail.com
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obstante isso, não se valiam de seus trabalhos nas salas de aula em que
atuavam, ainda que o tema ‘Estado’ e ‘Cidade’ constasse do currículo
mínimo. Com isso, a pesquisa, ao fazer tal diagnóstico, de dissociação entre
pesquisa e ensino, tomou outro direcionamento, pautando-se, agora, pela
necessidade de propor a elaboração de materiais didáticos que, apoiando-
se em pesquisas já produzidas, bem como em novas pesquisas, pudessem
atender às demandas do ensino de história. Dessa forma, apresentamos
aqui as conclusões a que chegamos.
O CONTEXTO DE PESQUISA
O trabalho com os Estágios Supervisionados em História,
no Município de Catalão, realizados no período de 2007 a 2008,
apresentou-nos a demanda escolar pela presença de conhecimentos
históricos sobre o estado de Goiás e a cidade Catalão. Essa demanda
nos levou a formular as indagações: Quais as principais representações
de história e de memória do Estado de Goiás e da cidade de Catalão
têm sido produzidas por historiadores? Que história e que memória
têm sido ensinada? Será que ensino e pesquisa estão associados no
cotidiano das salas de aula da disciplina história? A partir dessas
perguntas elaboramos o projeto de pesquisa: “As representações de
memória e de história de Goiás no ensino de história em Catalão” e
partir deste se desenvolveu, em 2009, um plano de trabalho de mesmo
título. Em 2011 foi desenvolvido um outro plano de trabalho: “Visões
do Lugar: representação de memória e de história de Catalão em
pesquisas históricas do curso de história do CAC – UFG, no período de
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1995 a 2001”. Trabalho este que foi financiado em sua totalidade pelo
Programa de Bolsa de Licenciatura – PROLICEN – UFG, que custeou
uma bolsa de estudos para a aluna envolvida no projeto.
Em busca de respostas às perguntas que tínhamos fomos,
então, problematizar o estado da reflexão historiográfica em Goiás
e percebemos que as pesquisas regionais e/ou locais têm reescrito
a história de Goiás e Catalão. Com diferentes abordagens, como
veremos adiante, notamos que uma multiplicidade de temas, objetos,
documentos e perspectivas teóricas, tem alicerçado uma verdadeira
metamorfose sobre o que se sabe sobre o passado vivido em Goiás - e
isso também porque pesquisamos a história de Goiás.
Ou seja, nossa preocupação com os estudos sobre Goiás e Catalão
também nasceram da experiência de pesquisa, vez que, a professora-
orientadora, ainda no Mestrado, problematizou a história de Catalão,
(SANTOS, 2001) e no Doutorado a de Goiás, (SANTOS, 2007). Esses
estudos nos conduziram a uma autorreflexão de que, embora tenhamos
produzido história de Goiás e Catalão, também incorremos na mesma
atitude de produzi-las sem intentar que alcançassem a sala de aula
do ensino fundamental e médio, o que, bem sabemos, é comum
na cultura de pesquisa histórica em nosso país. Nesse caso, mesmo
trazendo para o debate as representações de memória e de história
de Goiás e Catalão na historiografia, percebemos que o que também
precisava ser debatido era o papel do professor pesquisador, haja vista
um círculo vicioso de dissociação entre o que se pesquisa e o que se
ensina. Havia pois, e usamos para análise nosso próprio exemplo, uma
distância grande entre o saber acadêmico e o saber escolar, este último
ainda necessitando ser explorado.
Assim, naquele momento, assumimos o desafio de enfrentar o
debate sobre a relação ensino e pesquisa, no intuito de propor reflexões
sobre a produção do conhecimento histórico que tem por objeto Goiás
e Catalão e o seu possível uso no ensino básico. Nesse contexto, em
que a educação em geral, e o ensino de história em particular, vivem
uma situação de dramático descaso, se considerarmos a popularização
midiática de avaliações ruins da educação brasileira em todos os
níveis, repensar conceitos de história e memória e buscar alternativas
para o ensino aprendizagem da história de Goiás e Catalão se tornam
o sentido do trabalho do profissional de história, atuante nessa região,
que não há de separar sua prática de pesquisa do seu exercício docente.
Se acreditarmos que há premência em reavaliar os sentidos do
passado, até então elaborados como explicação histórica da história
de Goiás e Catalão, é preciso que isso seja enfrentado com o objetivo
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[...] reafirmar sua importância no currículo não se prende somente a uma preocupação
com a identidade nacional, mas, sobretudo no que a disciplina pode dar como contri-
buição específica no desenvolvimento dos alunos como sujeitos conscientes, capazes
de entender a história como conhecimento, como experiência e prática de cidadania.
(PCNs – História, 2001, p.30).
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A PROBLEMÁTICA TEÓRICA
A questão teórica orientadora da presente discussão partiu,
portanto, da necessária distinção entre História e Memória (LE GOFF,
2003). Isso porque entendemos que tais formas de interpelação
do passado vêm sendo propostas na historiografia em geral como
“idênticas” (SEIXAS, 2001a), o que, defendemos, se se mantém, impede
que as imagens do passado, ora como memória, ora como história,
sejam questionadas e problematizadas na pesquisa e no ensino. Dessa
maneira, é preciso questionar como tais noções têm chegado à sala de
aula e, mesmo, como são apropriadas por professores e alunos.
Muitas vezes sedimentados em visões tradicionais do passado
como pronto e acabado, os conceitos de história e de memória têm
servido a perspectivas de celebração – comemoração do passado,
reforçando uma noção de história feita por grandes homens e fatos
e, mesmo, cristalizando uma memória em monumentos e “lugares de
memória” (NORA, 1993) que dificultam a compreensão do passado,
seja ele como história ou como memória, na sua dinamicidade.
Assim, nota-se, no âmbito das demandas atuais do estudo
do passado (SEIXAS, 2001) uma premente necessidade de se
problematizar essa abordagem e repensar os sentidos de passado que
têm sido compostos e ‘repassados’ em sala de aula. E, no caso de nossa
discussão, que memória e que história de Goiás têm sido ensinada em
nossas escolas.
Vimos que no contexto da historiografia goiana, especialmente
a mais recente, há um esforço em discutir as noções de passado e
questionar as imagens que tais noções tecem/constroem de Goiás.
Alguns estudos, como de Itami Campos (2003), Nasr F. Chaul (1997),
Barsanulfo Gomides Borges (2000), entre outros, têm sido saudados
como esforços de uma (re) interpretação da história goiana que rompe
com as tradicionais visões de uma história evolutiva que identificava
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3 Essa imagem da cidade é construída a partir da memória de crimes bárbaros que abalaram a
cidade, como o crime do Antero, farmacêutico local torturado e morto por jagunços pelas ruas
da cidade nos anos 1930, que se tornou uma marco na história do lugar. CF GOMES, Luis P.,
CHAUL, Nars F., BARBOSA, Juarez Costa. História Política de Catalão. Goiânia: Editora UFG, 1994.
4 Ao todo foram selecionadas 10 escolas estaduais com ensino fundamental e médio para
levantamento de dados, cujos nomes foram preservados a pedido das instituições. E, em cada
escola, selecionamos 2 professores ou professoras de história para coleta de dados, cujos nomes
também foram preservados, a pedido dos mesmos.
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A HISTÓRIA DE GOIÁS
Os autores e obras selecionadas foram: Luis Palacín e Maria Augusta
de Sant’ Anna Moraes, “História de Goiás” publicada em 2001; Nasr
Fayad Chaul “Coronelismo em Goiás: estudo de casos e famílias”,
publicado em 1998, Paulo Rodrigues Ribeiro “Sombras no silêncio da
noite: imagens da mulher goiana no século XIX”, publicado em 2001;
Barsanufo Gomides Borges “Goiás nos quadros da economia nacional:
1930-1960” publicado em 2000; e, por fim, o estudo A construção de
Goiânia e a transferência da Capital de Nasr Fayad Chaul, publicado
em 1999.
As conclusões a que chegamos nos permitem evidenciar as
perspectivas históricas que esses autores assumem para elaborar a
história de Goiás. Nosso objetivo maior com as leituras foi sintetizar as
discussões e problematizá-las como propostas teórico-metodológicas
que pudessem subsidiar novos materiais didáticos para o ensino básico
que pretende discutir a história de Goiás
É interessante considerar que a história de Goiás oferece
ao historiador várias possibilidades de caminhar pelo território.
Barsanufo Gomides Borges (2000) propõe estudos que têm como
ponto de partida análises das questões econômicas do Brasil e Goiás.
O autor estabelece um paralelo entre o desenvolvimento interiorano,
levando em consideração as conjunturas sociais a partir do progresso
ocorrido mediante a economia e o desenvolvimento do litoral,
expressando uma preocupação, em contar a história de Goiás pelo
prisma econômico. Isso, quando levada em consideração a tendência
com que o capitalismo foi se articulando ao longo dos anos, não se
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A HISTÓRIA DE CATALÃO:
No caso da história de Catalão, é preciso levar em conta a pouca
produção publicada sobre o lugar. Não considerando aqui, pois não
era nosso objeto de estudo, as obras dos memorialistas locais, o estudo
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Historiografia sobre
Ano Demais assuntos Total de defesas
Catalão
1995 02 04 06
1996 14 04 18
1997 04 11 15
1998 01 03 04
1999 12 26 38
2000 07 07 14
2001 08 10 18
N. Total 48 65 113
Fonte: FREITAS, Eliane M. (org.) Produzindo História, pensando o local: a produção monográfica dos
alunos do Curso de História CAC/UFG ( 1995-2001). Uberlândia: Aspectus, 2002.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O passado, condição de identidade de indivíduos e sociedades,
não pode, na atualidade, ser tomado como algo fixo e acabado, como
uma verdade única que independe da ação dos sujeitos históricos.
Esse passado é construído e tecido a partir das demandas do tempo
presente (BLOCH, 2001), e nas respostas que os pesquisadores vão
encontrando para tais demandas. Na linha discutida por Marc Bloch
é preciso propor-se à pesquisa histórica em busca dos homens que
fazem a história. Significa encontrar os vestígios, as marcas desses
homens, não como provas de sua existência, mas como o rastro de
suas experiências que nos chamam a atenção e que nos filiam à prática
daqueles que têm na defesa do homem o sentido de seus trabalhos.
A paixão pelo passado, razão pela qual nos dedicamos à história,
não pode, no entanto, abster-se de um olhar crítico e problematizador
que desconstrua ídolos e verdades e que coloque em cena a grande
dinâmica da história como transformação, como o queria o fundador
dos Annales.
Nesse mesmo impulso, não podemos nos satisfazer com
memórias cristalizadas, catalisadoras de um passado único e
total, porque a dinâmica da memória impõe questionar tempo,
sujeitos, práticas de memória e de esquecimento que suscitam
questões múltiplas para o pesquisador preocupado com os
sentidos do passado e sua importância no presente, pois
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REFERÊNCIAS:
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de história: fundamentos e métodos. –
3. ed. – São Paulo: Cortez, 2009.
BARRETO, Paulo Duarte. FREITAS, Eliane Martins de. Relatório Final - 2010/2011 -
PROLICEN. Ensino de História e Relações de Gênero: as relações de gênero nos livros
didáticos de história e nas análises monográficas produzidas pelos alunos da CAC/
UFG. Digi.19 fls. Catalão: UFG/CAC, 2011.
BLOCH, Marc. Apologia da História: ou ofício de historiador. Trad. André Teles. Rio de
Janeiro: Jorge Zarah Ed. 2001.
CAMPOS, Francisco Itami. Coronelismo em Goiás. 2. Ed. Goiânia: Editora Vieira, 2003.
GOMES, Luis P., CHAUL, Nars F., BERBOSA, Juarez Costa. História Política de Catalão.
Goiânia: Editora UFG, 1994.
_______. MORAES, Maria Augusta Sant’Anna. História de Goiás. 6º ed. Goiânia: Ed. Da
UCG, 2001.
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PEREIRA, Eliane M. C. Goiânia, Filha mais moça e bonita do Brasil. In. RODRIGUES,
Tarcisio, et al. Goiânia: cidade pensada. Goiânia: Ed. da UFG, 2002. pp. 13-69.
SILVA, Jaciely Soares da. SANTOS, Márcia Pereira dos. Relatório Final PROLICEN - UFG
2009-2010: A representação de memória e de história de Goiás no ensino de história
em Catalão. Digi. 29 fls. Catalão: UFG/CAC, 2010.
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ENSINAR A ENSINAR HISTÓRIA: OS MANUAIS
DESTINADOS AOS PROFESSORES E AS
METODOLOGIAS DE ENSINO
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[...] pouco interesse demonstrado, até estes últimos vinte anos, pelos manuais antigos
e pela sua história decorre não somente das dificuldades de acesso às coleções, mas
também de sua incompletude e sua dispersão. Ou talvez, ao contrário, devido à grande
quantidade de sua produção, a conservação dos manuais não foi corretamente assegu-
rada (CHOPPIN, 2002, p. 8).
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fazer entrar a pedagogia implicava transferir o poder de elaboração dos programas para
os pedagogos ou, em instância futura, substituir a geração de professores autodidatas
pela geração de formados nas faculdades de filosofia - instruídos em ciência da história
e em ciência(s) da educação (FREITAS, 2004. p. 173).
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o aprender História como condição de formação para a cidadania concreta e não abs-
trata, aprender a partir de temas e problemas que incorporem elementos da realidade
social de alunos e professores; a aprendizagem que contribua para que o aluno se
identifique como sujeito da história e da produção do conhecimento histórico; apren-
der desenvolvendo a compreensão histórica da realidade social, tendo como base os
procedimentos históricos, incorporando temas da história local e levando-se em conta
as relações entre a micro e a macro história (SCHMIDT, 2008, p. 18).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho se inscreve no campo da história das disciplinas
escolares, entendendo que “a história dos conteúdos é evidentemente
seu componente central” (CHERVEL, 1990, p. 185). Dessa forma,
procuramos identificar o conteúdo da Didática da História presente
nos manuais destinados a professores de História, aqui definidos como
manuais dedicados a “ensinar a ensinar” História.
A compreensão de existência da disciplina de Didática da
História no Brasil é inferida dos trabalhos desenvolvidos por Schmidt
(2008; 2012) e Urban (2009), que explicitam a existência de um código
disciplinar da Didática da História no Brasil. Tal código está relacionado
a existência dos manuais destinados a professores enquanto “textos
visíveis”.
Foi possível observar a existência de um conjunto de estudos
que se dedicam a pensar a história do ensino de História a partir dos
manuais destinados a professores enquanto fontes privilegiadas. Estes
estudos permitem reafirmar a importância dos manuais enquanto
objetos que permitem desvelar formas de ensinar e aprender História
em diferentes contextos.
Nas pesquisas realizadas (RODRIGUES JUNIOR. 2015;
RODRIGUES JUNIOR; GARCIA, 2016) foi possível identificar os
manuais de Didática da História enquanto um tipo específico de
literatura didática dedicada a “ensinar a ensinar” História. Essa
literatura se propôs a instaurar “ordens”, entendidas neste estudo
como diferentes formas de propor o ensino da disciplina de História.
Dessa forma, os manuais se configuram enquanto fonte privilegiada
para compreender os processos de “ensinar a ensinar” História no
Brasil.
REFERÊNCIAS
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BUFREM, Leilah Santiago; GARCIA, Tânia Maria Braga; SCHMIDT, Maria Auxiliadora.
Os manuais destinados a professores como fontes para a História das formas de
ensinar. Revista HISTEDBR, Campinas, n. 22, p. 120 –130, jun. 2006.
CHARTIER, Roger. A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os
séculos XIV e XVIII. Brasília: Editora da UNB, 1998.
CHEVALLARD, Yves. La transposición didáctica: del saber sábio al saber enseñado. Buenos
Aires: Aique, 2005.
CHOPPIN, Alain. História dos livros e das edições didáticas: sobre o estado da arte.
Educação e Pesquisa, 2004, vol.30, n. 3.
________. O manual escolar: uma falsa evidência histórica. In: História da Educação,
ASPHE/FAE/UFPEL, Pelotas, v. 3, n. 27 p. 9-75, Jan/Abr 2009.
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_________. A pedagogia da história de Murilo Mendes (São Paulo, 1935). In: Saeculum -
Revista de História [11]; João Pessoa, ago/dez 2004.
_________. História do Brasil para crianças: o livro escolar nos primeiros anos da
República e a iniciativa de Joaquim Maria de Lacerda. In: Cadernos de História da
Educação – n. 6 – jan./dez. 2007. p. 121-132.
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escolares em España, Portugal y América Latina (Siglos XIX Y XX). Madrid: Universidad
Nacional de Educación a Distancia, 2005.
MUNAKATA, Kazumi. Livro didático: alguns temas de pesquisa. In: Revista Brasileira de
História da Educação, Campinas-SP, v. 12, n. 3 (30), p. 179-197, set./dez. 2012.
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SILVA, Vivian Batista da. Uma história das leituras para professores: análise da produção
e circulação de saberes especializados nos manuais pedagógicos (1930-1971). Revista
Brasileira de História da Educação, Maringá, n. 6, p. 29-57, 2003.
SILVA, Vivian Batista da. Saberes em viagem nos manuais pedagógicos: construções da
escola em Portugal e no Brasil (1870-1970). Tese (Doutorado em Educação) - Programa
de Pós-Graduação em Educação da Universidade de São Paulo, 2006.
60
O CONCEITO DE CULTURA NOS LIVROS
DIDÁTICOS DE HISTÓRIA PARA O ENSINO
MÉDIO–PNLD 2012: UM DIÁLOGO COM AS
TEMÁTICAS AFRICANA E AFROBRASILEIRA
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1. INTRODUÇÃO
O texto apresentado no Guia de Livros Didáticos, no Programa
Nacional do Livro didático, em 2012, aponta:
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3 Licenciado em História pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Educação, Arte e
História da Cultura pela Universidade Mackenzie. Professor de História na rede particular de
ensino. Advogado.
4 Conforme registra o SIMAD – Sistema do Material Didático, cujo acesso se dá pelo Portal do
FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, foi acoleção com maior distribuição
na Rede Estadual de Ensino do Estado de Mato Grosso.
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Algumas sociedades africanas formaram grandes reinos [...]. Outras eram agrupamen-
tos muito pequenos de pessoas que caçavam e coletavam o que a natureza oferecia
ou plantavam o suficiente para o sustento da família e do grupo. Mas todas, das mais
simples às mais complexas, se organizavam a partir da fidelidade ao chefe e das re-
lações de parentesco. (Marina de Mello e Souza. África e Brasil africano. São Paulo:
Ática, 2006, p. 31).
• Compare as diferentes formas de organização política das sociedades africanas.
• Explique a semelhança nas formas de organização política das sociedades, apon-
tada pela autora do texto, comentando o papel do mansa, no Mali, do obá, em Ifé,
e do manicongo, no Congo. (MORAES, 2010, p. 67).
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era rarefeito, e o escravo (grifo nosso) tornou-se a mercadoria mais valiosa e lucrativa.
[...]. Até o século XVIII, as regiões do golfo de Benin (ou a costa da Mina) e de Angola
(que ficou conhecida como costa dos Escravos (grifo nosso)) foram as que mais for-
neceram escravos (grifo nosso) para o continente americano, aquecendo o comércio
atlântico. No século XIX, a costa oriental tornou-se a maior exportadora de escravos
(grifo nosso). [...] Esse comércio significava acúmulo de poder e luxo para os reinos
africanos, que tratavam de conquistar mais escravos (grifo nosso) por meio de guerras
[...]. No século XVII, foram organizadas, no interior do continente, feiras nas quais os
comerciantes [...] negociavam escravos (grifo nosso). Mas era na nas cidades da costa
que ocorria o comércio ativo, e onde os escravos (grifo nosso) eram embarcados prin-
cipalmente para a América. A intensa atividade comercial e os altos lucros fizeram da
escravidão (grifo nosso) e do tráfico dos escravos (grifo nosso) uma lucrativa atividade
econômica até o século XIX. [...] Em diversos locais, houve resistência à escravidão
(grifo nosso), gerando movimentos e conflitos, o que não evitou a escravização (grifo
nosso) e a exportação de cerca de 10 milhões de africanos (MORAES, 2010, p.177-
178).
seria importante que as narrativas presentes nos livros didáticos lidassem não apenas
com o negro escravo, o negro que vive em condições precárias de sobrevivência, mas
também a riqueza e problemas apresentados por sua cultura, por sua atuação social,
ou seja, com a multiplicidade de posições que ocupa ao longo da história (OLIVEIRA,
M. A. de, 2000, p. 170. In: JESUS, Nauk Maria de, 2007, pgs. 46-47).
embora a figura de Zumbi tenha ganhado destaque nas discussões (...) as imagens ca-
nonizadas da Princesa Isabel e Joaquim Nabuco continuam a ocupar especial destaque
nos livros didáticos. A história dos quilombos no Brasil permanece numa página ainda
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a ser escrita nos livros didáticos. Mesmo a história do quilombo de Palmares carece de
maiores informações e explicações.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do que foi exposto, na coleção História Global: Brasil e
Geral, do autor Gilberto Cotrim, percebemos que há momentos em
que orienta os alunos a pensar historicamente, a reconhecerem as
diferentes experiências históricas das sociedades e, com base nesse
entendimento, a compreenderem as situações reais da cultura africana
e afrobrasileira. Por outro lado, constatamos também a manutenção
da historiografia tradicional, através de termos preconceituosos.
Na coleção História: das cavernas ao terceiro milênio, das autoras
Patrícia Ramos Braick e Myriam Becho Mota, a História e Cultura da
África e dos afrodescendentes são apresentadas através de atividades
com teor de atiçar reflexão e atitude crítica aos alunos, buscando
pensar como se caracterizou e/ou caracteriza as relações entre o Brasil
e a África e as influências dos africanos na cultura brasileira.
Por fim, constatamos na coleção História: Geral e Brasil, do autor
José Geraldo Vinci de Moraes que a História e a cultura da África,
bem como dos afrodescendentes, são direcionadas a apresentar a
diversidade cultural e as formas de resistência; Entretanto, algumas
passagens ainda retratam os povos africanos como vitimizados,
mercadorias, coisas.
REFERÊNCIAS
BRAICK, Patrícia Ramos. História: das cavernas ao terceiro milênio. Patrícia Ramos
Braick, Myriam Becho Mota. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2010 – MP.
COTRIM, Gilberto. História Global: Brasil e Geral: volume 2 - 1. ed. São Paulo: Saraiva,
2010 (MP).
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LIMA, Mônica. A África na Sala de Aula. Nossa História. Rio de Janeiro, ano 1, n° 4,
fevereiro de 2004.
MORAES, Geraldo Vinci de. História: Brasil e Geral: ensino médio. Volume 1 - 1. ed.
São Paulo: Saraiva, 2010.
OLIVA, Anderson Ribeiro. A história africana nas escolas brasileiras. Entre o prescrito e
o vivido, da legislação educacional aos olhares dos especialistas (1995-2006). História.
São Paulo, vol. 28, n. 2, p. 143-172, 2009.
PANTOJA, Selma; ROCHA, Maria José (orgs.). Rompendo Silêncios: História da África
nos currículos da educação básica. Brasília: DP Comunicações, 2004.
VIEIRA, Paulo Alberto dos Santos. Africanidades e Educação em Mato Grosso. /Paulo
Alberto dos Santos Vieira; Ângela Maria dos Santos; Maristela Abadia Guimarães;
Jacqueline da Silva Costa (orgs.). Cuiabá: KCM Editora, 2009.
70
UM OLHAR SOBRE A ATENÇÃO DADA PELOS
GÊNEROS AO LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA
NA SALA DE AULA
INTRODUÇÃO
Tomando por base o trabalho em sala de aula, durante duas décadas,
é notória a diferença perpetrada pelos aprendentes com relação ao seu
material escolar dentro da sala de aula. Principalmente com relação
1 Possui graduação em História, Licenciatura Plena, pela Universidade Federal do Rio Grande
(1991). Especialista em Ciências Sociais na Educação, pela Universidade da Região da Campanha
– URCAMP (2003). Mestrado Profissional em História, pela Universidade Federal do Rio Grande
– FURG. Professor de História, atuando na rede pública do Estado do Rio Grande do Sul, na
Escola Estadual de Ensino Médio Marechal Mascarenhas de Moraes, em Rio Grande (durante um
tempo que o tempo deixa de ser contado); historiaverissimo@yahoo.com.br.
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Entre as produções existentes, a maioria tem como base a análise do próprio livro e
de seus conteúdos. Os estudos analisam, fundamentalmente, seus discursos textuais
e iconográficos, e de que forma difundem conhecimentos científicos atualizados ou
ultrapassados (FERNANDES, 2004, p. 533).
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Se o problema, neste mundo fluido das rápidas mudanças, é sobreviver, então nin-
guém pode se permitir o luxo de ficar fixo a vida toda no mesmo esquema de valores.
Manter-se fiéis à lógica da continuidade, apegar-se às regras como método para formar
uma identidade forte, não é mais aconselhável para ninguém, pelo menos neste mundo
líquido. Aquilo que está acontecendo em nível social é uma mudança tão abrangente
e tão radical que envolve os dados básicos que nortearam a sociedade por muitos
séculos. São as estruturas “sólidas” que estão se derretendo, aquelas estruturas que,
por muito tempo, forneceram o pano de fundo cultural, institucional e até psicológico
para a formação da identidade pessoal. (CUGINI, 2008, p. 168).
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‘seu filho (a)’. Está correto. Todos nós desejamos. Contudo, para essa
mesma maioria, não importa como os seus estão aprendendo ou se
estão realmente aprendendo, Mais uma parcela do pensamento de
‘Gabriel Pensador’, ajudando na devida ilustração do contexto:
2. NA ESCOLA
O ambiente escolar é uma aventura, uma descoberta constante.
Observando meninos e meninas, moços e moças, homens e mulheres,
na maioria das vezes cometemos o erro de tratá-los como seres ‘sem
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Dentro de um armário de cozinha na casa de minha avó, que esvaziávamos para colocar
à venda, encontrei um caderninho cheio de recortes e anotações à mão, encapado com
uma figura recortada de revista. Imaginei que fosse mais um caderno de receitas. As
páginas bastante amareladas e já quebradiças, a letra que eu já conhecia como sendo
da vó (Deh Capella, 2011).
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A primeira página traz floreios coloridos e uma figurinha colada, logo acima do texto:
‘Que edificante modelo o da Sagrada Família. S. José, chefe, labuta com santo interesse
para o sustento dos entes que Deus lhe confiou. Nossa Senhora cuida com diligência
de seu querido lar e afazeres domésticos. O Menino Jesus obedece e trabalha com
simplicidade e amor’. Este modelo de Família deveria ser imitado por todos os cristãos,
só assim reinaria paz, amor e felicidade nos lares (Deh Capella, 2011).
Viramos a página, cujo verso está lotado de pequenos recortes de receitas. A página
seguinte traz a definição de Economia seguida da explicação do que é Economia Do-
méstica, que é a seguinte: ‘É tudo o que se refere ao lar, dentro ou ao redor da casa;
desde os cuidados que devem ser dispensados aos animais domésticos que habitam
em o nosso quintal até os arranjos da habitação. O principal fim da Economia Domés-
tica é atrair a mulher para o lar, sua principal função social’. (...) O caderninho explica
exatamente o que a mulher tem a ver com isso: ‘Por excelente que seja a educação
científica, literária e artística de uma jovem, ou a sua profissão, ofício ou negócio, não
servirá ela para mulher casada (dona de casa) se não tiver os indispensáveis no ma-
trimônio para governo de casa do que tudo quanto lhe possam ensinar nas escolas. O
valor do dinheiro e a sua aplicação; o valor nutritivo dos alimentos, e a melhor maneira
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Procuramos tratar os temas de forma objetiva, criando oportunidades para que você
possa sempre relacionar o passado com o presente e debater os assuntos. Acredita-
mos que o estudo de História feito dessa forma nos ajuda a compreender cada vez
mais o nosso mundo, o mundo em que vivemos. (…) Sua atenção e emprenho em
cada uma das seções que compõem os vários capítulos desta obra poderão potencia-
lizar um maior conhecimento do passado, do presente, dos seres humanos e de nós
mesmos. Com esta coleção, estamos oferecendo a você os fundamentos da disciplina
de História, a base que você precisa para desenvolver seus estudos e sua cidadania
(VICENTINO, 2010, p. 3).
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CONCLUSÃO
É inegável a validade do Livro Didático. Mesmo quando usado
como ‘receita pronta’, distribuído nas escolas públicas por um sistema
consumista e, consequentemente, tornando-o quase sem valor para
os educandos e seus responsáveis. Mesmo quando não oferece nada
além daquilo que o sistema exige que deva ser oferecido. Mesmo como
ferramenta inútil, por ficar em uma mochila ou jogado em algum
canto de alguma peça, e dali retirado para ser posto fora (e não será no
lixo reciclado).
São igualmente inegáveis as percepções diferenciadas pelos
Gêneros com ralação aos seus livros. Por experiência, na reclusão de
uma mesmice perpetrada, podemos classificar a atenção e o cuidado
constituídos pelo Gênero Feminino e pelo Gênero Masculino. Mas
o aproveitamento deve ocorrer uniforme. Sendo necessário cortar o
assistencialismo didático: garantindo a dignidade do poder de compra.
Que venham livros que o professor deseje usar. Porém, nenhum
profissional de sala de aula pode mencionar uma única vez que não
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REFERÊNCIAS
BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2005.
COTRIM, Gilberto, História Global: Brasil e Geral. São Paulo: Editora Saraiva, 2009.
Volume Único.
DEMO, Pedro. Pesquisa Participante: saber pensar e intervir juntos. Brasília: Liber Livro
Editora, 2ª edição 2008.
GABRIEL PENSADOR. Estudo Errado. In: Ainda É só o Começo. Sony Music, 1994.
1CD. (ca. 59:08 min.). Faixa 6 (5 min. 13 s) <http://pt.wikipedia.
org/wiki/Gabriel_o_Pensador > Acesso em: 24.02.2013.
MATOS, Júlia Silveira. Tendência e Debates: Da Escola dos Annales à História Nova.
Historiae, Rio Grande, 1 (1): p. 113-130, 2010.
PANAZZO, Silvia; VAZ, Maria Luísa. Navegando pela História. São Paulo: Quinteto
Editorial, 2006. 5ª série (6°ano).
88
A REPRESENTAÇÃO DA IMIGRAÇÃO ALEMÃ
NOS LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA:
IMAGENS E RELAÇÕES DE GÊNERO
INTRODUÇÃO:
A disciplina de História já percorreu vários caminhos, com
diversas concepções e tendências. Após a redemocratização do Brasil,
a partir da segunda metade da década de 80, começa a se ter uma
maior preocupação em reconhecer professores e alunos como sujeitos
da História e da produção do conhecimento histórico.
Diante disso, o livro didático se tornou hoje uma ferramenta
pedagógica de amparo para os professores, mas passível de
questionamentos quanto aos seus conteúdos. Por seu papel e função
como parte da história do cidadão brasileiro por várias décadas, ele
abre um amplo campo de possibilidades de estudo.
Neste trabalho, pretende-se abordar aspectos relativos aos livros
didáticos utilizados nas redes de ensino, focando a análise na relação
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Torna-se factível compreender que o saber expresso no livro didático não deve ser
considerado nem universal, nem a palavra definitiva, mas resultado de saberes histó-
ricos negociados entre vários agentes, visando atender interesses também diversos.
A editora, a empresa publicadora, é a figura jurídica titular dos direitos autorais. É ela
que possui o contrato do autor para negociar a obra, quer com o governo, quer com o
mercado de livrarias e outras instituições. (PILETTI: 2011, pg.2 - Manual do professor).
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Vieram imigrantes para o Brasil desde o século XIX até meados do século XX, princi-
palmente italianos, portugueses, espanhóis, alemães, poloneses, libaneses, japoneses
entre outros. Os imigrantes eram atraídos pela oferta de terras no Brasil e pela oportu-
nidade de melhorar de vida. Eles deixaram seus países para escapar da miséria e, em
alguns casos, para fugir de guerras. (THAHIRA: 2011).
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Diferentemente dos historiadores, os alunos nas escolas não buscam gerar o ‘novo’
conhecimento por meio de evidências e narrativas históricas, mas geram novas com-
preensões históricas pessoais. Assim, uma das formas como os alunos e professores
confere significado ao passado é pensar acerca da construção de narrativas ou versões
deste passado. (SCHMIDT, 2009, p.45)
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A manutenção dos hábitos e dos costumes alemães dependia das mulheres, as quais,
através da “prendas domésticas” ofereciam um conforto difícil de ser mantido sem a
figura feminina. Apesar disso, o que se observa é que somente os homens são respon-
sáveis pelo desenvolvimento da região. A própria representação da imagem das mulhe-
res de origem alemã como “trabalhadeira”, diferentemente “trabalhadores”, contribui
para a invisibilidade da contribuição feminina (DEL PRIORE, 2004, p.289)
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Sempre que possível, ressaltamos o caráter subjetivo das imagens, chamando a aten-
ção dos alunos para o fato de que elas sempre expressam um ponto de vista, e que
este é necessariamente histórico, isto é, relativo ao seu tempo e ao seu lugar. (PILETTI,
Manual do professor, p. 7)
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CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Vive-se hoje em uma época de globalização, tanto da economia
quanto das tecnologias e informações que vêm sendo modificadas
constantemente e refletem diretamente na cultura da sociedade.
A educação deve progredir no mesmo ritmo, acompanhando os
progressos e trabalhando para diminuir as desigualdades.
Para isso, é necessária uma educação para a diversidade, voltada
para a pluralidade cultural, percebendo o outro como legítimo outro,
o qual possui uma história, uma cultura, uma etnia. Desse modo, em
qualquer lugar onde estivermos, existirão pessoas ou grupos de pessoas
que possuem uma história, uma cultura, uma etnia, sendo nosso
papel de educadores direcionar a educação no sentido do caminho
da diversidade, engajando as pessoas no mundo das diferenças,
preparando-as para serem cidadãos legítimos.
Para FREIRE (1978), não basta ao homem reconhecer-se enquanto
indivíduo pertencente a um determinado grupo social e, assim, ser
um mero “herdeiro” das condições em que se encontra no mundo,
sejam elas boas ou ruins. Para ele, o fundamental é que esse indivíduo
se reconheça e se constitua como sujeito no mundo, corresponsável,
portanto, pela construção das condições do mundo em que vive, e
não um objeto, à mercê de situações que, sendo dadas ou herdadas,
não podem ser modificadas.
É justamente esta diversidade que se forma em nosso país que
entrelaça as diferentes culturas através da educação. A educação, por
sua vez, permite justamente o reconhecimento e a valorização destes
indivíduos da diversidade para que sejam cidadãos participativos
e atuantes na formação justa e democrática do nosso país. Através
da educação, os sujeitos diversos formam a sua identidade e são
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FONTES:
PILETTI, Felipe. História do Rio Grande do Sul: 4º ou 5º ano. São Paulo: Editora Ática,
2011.
THAHIRA, Rosane Cristina (org.). História: 5º ano. São Paulo: Editora Moderna, 2011.
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FILHO, Amílcar Torrão. Uma questão de gênero: onde o masculino e o feminino se cruzam.
Cadernos Pagu(24). Janeiro –junho de 2005, pp.127-152.
104
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LUCA, Tânia Regina de & MIRANDA, Sônia Regina. O livro didático de história hoje:
um panorama a partir do PNLD. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 24, nº 48,
p.123-144 – 2004.
RÜSSEN, Jörn. No caminho para uma pragmática da cultura histórica. IN: Aprendizagem
histórica: fundamentos e paradigmas. Curitiba: W.A. Editores, 2012, pp. 129-140.
SCOTT, Joan W. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e Realidade,
vol. 16, nº 2, Porto Alegre, jul./dez. 1990, p.5.
SILVA, Edlene Oliveira. Relações entre imagens e textos no ensino de História. Saeculum
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SOUZA, Lilian Aparecida. Uma abordagem sobre a ação docente e a utilização de fontes
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STAMATTO, Maria Inês Sucupira. Livros didáticos de História: o passado sempre presente,
2009. História e Ensino: Londrina, 2009.
SEMPRE PRESENTE. História & Ensino. Londrina, Vol. 15, pp. 131-158, ago.2009.
105
O LIVRO DIDÁTICO E SUAS POSSIBILIDADES:
UMA ANÁLISE DE COMO AS MULHERES DO
SÉCULO XX SÃO APRESENTADAS NA OBRA
DE SCHIMIDT
1 Mestra em História - FURG, professora da Rede Municipal de Ensino de Três de Maio. E-mail:
kmkucharski@hotmail.com.
2 Schmidt, Mario Furley.Nova História Crítica- 8ª série. 2. ed. rev.São Paulo: Nova Geração, 2002
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Para a escola primária, introduziam-se muitos elementos da Escola Nova, como o pla-
nejamento por unidades temáticas o que trouxe modificações na publicação dos ma-
nuais escolares já que a divisão dos capítulos deveria acompanhar os temas propostos
na grade curricular. (Idem, p.137).
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Não publicamos livros para fazer crer nisso ou naquilo, mas para despertar nos estu-
dantes a capacidade crítica de ver além das aparências e de levar em conta múltiplos
aspectos da realidade. Nosso grande ideal não é o de Stálin ou de Mao-Tsé Tung. Mas
o de Kant: que os indivíduos possam pensar por conta própria, sem serem guiados por
outros. (disponível em; www.historiaemperspectiva.com/2011/08/rede-globo-quis-
-proibir-veiculacao-do.html. Acesso em: 16/02/2013 -14h.)
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Não foram apenas as saias que subiram e os cabelos que encurtaram. Com tantos
homens engajados nos campos de batalha, milhões de mulheres arrumaram empregos
nas fábricas, nas lojas, nos escritórios. Estavam ficando mais conscientes de seus
direitos, mais livres. (SCHIMIDT, 2002, p.32)
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No imaginário das elites, o trabalho braçal, antes realizado em sua maior parte pelos
escravos, era associado à incapacidade pessoal para desenvolver qualquer habilidade
intelectual ou artística e à degeneração moral. [...] a operária, a lavadeira, a doceira,
a empregada doméstica [...] as várias profissões femininas eram estigmatizadas e as-
sociadas a imagens de perdição moral, de degradação e de prostituição. ( FONSECA,
1997, p.518)
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Mas, infelizmente, apesar de tudo isso a sociedade continuava machista. A maioria dos
homens não aceitava a independência feminina. Queriam esposas submissas. Escra-
vizadas mentalmente, temendo a liberdade, muitas mulheres ainda aceitavam velhos
papéis. (SCHIMIDT, 2002, p. 116).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após uma analise sobre o livro didático Nova História Crítica do
9º ano, pode-se constatar que o autor destaca, em vários momentos de
sua obra, a temática sobre o gênero feminino. Nesse sentido, ele aborda
a participação da mulher enquanto sujeito histórico principalmente
através de imagens. Sendo que, nos textos em que a mulher é
mencionada, o autor também denuncia a opressão masculina sobre
as mesmas.
Entretanto, o estudo demonstra que algumas imagens de mulheres
servem muitas vezes apenas como ilustração no livro. Dessa forma,
entende-se que essas imagens não se relacionam de forma significativa
com os textos e muito menos com os exercícios apresentados nesse
livro didático.
Assim, percebo que em muitos momentos, caberia ao professor
aprofundar melhor a questão de gênero apresentadas nesse livro
didático em suas aulas de História. Sendo também fundamental para
uma melhor compreensão dos alunos, relacionarmos o modo de vida
das mulheres do passado com o modo de vida das mulheres do presente.
Mostrando assim, a longa trajetória das mulheres para conquistarem o
seu espaço na história da sociedade. Dialogando principalmente com
os alunos que essa luta continua até os dias atuais.
Por fim, podemos considerar que o professor deve utilizar o livro
didático de História com um recurso que também possibilita uma
reflexão sobre a questão do gênero em sala de aula. Cabe ao educador
estimular o senso crítico dos seus educandos sobre a obra, assim como,
relacionar a condição feminina do passado com as problemáticas
contemporâneas enfrentadas pela mulher.
115
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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FREIRE, Paulo. Educação e mudança. 12. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
______. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
Livro didático reprovado pelo MEC continua sendo usado em salas de aula do Brasil-http://
oglobo.globo.com/educacao/livro-didatico-reprovado-pelo-mec-continua-sendo-
usado-em-salas-de-aula-do-brasil-4153370. Acesso em 18 Fev. 2013- 19h.
MONTEIRO, Ana Maria. Professores de História: entre saberes e práticas. Rio de Janeiro:
MAUAD X, 2007.
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MAUAD X, 2007.
PINSKY, Carla Bassanezi (org). Novos temas nas aulas de história. São Paulo: Contexto,
2009.
SCHIMIDT, Maria Auxiliadora & CAINELLI, Marlene. Ensinar História. 2 ed. São Paulo:
Scipione, 2009.
116
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______. A Rede Globo quis proibir a veiculação do livro “Nova História crítica” nas
escolas. Por que? in: História em Perspectiva. 4 Ago.2011. <WWW.historiaemperpectiva.
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14h.
STAMATTO, Maria Inês. Livros Didáticos de História: o passado sempre presente. In:
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VIÉGAS, Aline. Complexidade: uma palavra com muitos sentidos. In: FERRARO JR.,
Luis Antônio. (Org.). Encontros e caminhos: formação de educadoras (es) ambientais e
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117
A REPRESENTAÇÃO DO GÊNERO NOS LIVROS
DIDÁTICOS DE HISTÓRIA DA RSE
118
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Este estudo busca fazer uma análise de como o gênero está presente
nas relações humanas e consequentemente acaba gerando um sentido
a organização e à percepção do conhecimento histórico.
Ao direcionar os estudos à questão de gênero observamos que
esta temática faz parte de uma “construção social”, portanto faz-se
necessário pensar que a organização social de gênero é muito instável
e por consequência depende das variadas determinações e relações
de poder. Perceber essas relações e suas respectivas construções de
gêneros, pode nos apontar a várias possibilidades de mudanças de
paradigmas já devidamente estabelecidos e legitimados.
Segundo Maria Odila Leite da Silva Dias, em Teoria e métodos dos
estudos feministas: perspectiva histórica e hermenêutica do cotidiano,
aponta que os primórdios dessa temática foram colocados através da
Escola dos Annales.
Com a preocupação de resgatar a imagem das mulheres como
sujeitos históricos válidos Lucien Febvre e Marc Bloch, ampliaram
as possibilidades para a história das mulheres, proporcionando “o
desenvolvimento de conceitos capazes de relacionar o cotidiano dos
seres individuais e concretos aos sistemas abstratos e aos processos
históricos em que estavam inseridos”.2
Esse novo olhar proporcionou um campo fértil para o estudo da
história das mulheres.
A história das mulheres nasceu junto com o movimento
feminista, de acordo com Michelle Perrot, “o desenvolvimento de uma
antropologia histórica onde o estudo da família e os papéis sexuais
estavam em primeiro plano”.
Quando os historiadores sociais passam a observar novos objetos
de estudo, o gênero acabou revelando novas temáticas para serem
abordadas como: o estudo das mulheres, das crianças, as famílias e as
ideologias presentes nos gêneros.
As primeiras manifestações feministas estão cercadas no
movimento voltado para estender o direito de voto às mulheres. No
entanto, inicia-se na década de 1960, preocupações em teorizar esse
tema, surgindo estudiosas e militantes que buscavam problematizar
o conceito de gênero. Militantes feministas que estavam inseridas
no mundo acadêmico, vão trazer para o interior das universidades e
escolas, as temáticas que agora se tornavam cada vez mais questões a
2 DIAS, Maria Odila Leite da Silva. Teoria e métodos dos estudos feministas: perspectiva
histórica e hermenêutica do cotidiano. In: COSTA, Albertina de Oliveira & BRUSCHINI, Cristina
(org.) Uma questão de gênero. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos; São Paulo: Fundação Carlos
Chagas, 1992, p. 47.
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[...] dar visibilidade e voz aos grupos sociais no interior das sociedades ou a povos
com cultura diferente da ocidental: povos muitas vezes silenciados e excluídos da me-
mória histórica. (Rota Machado, 2009, p. 39).
3 A Nova História é uma corrente historiográfica que, de acordo com Burke (1992), conquistou
espaço na historiografia com os escritos de Le Goff da década de 1970 e 1980, principalmente
os três volumes “novos problemas”, “novas abordagens” e “novos objetos”. Aos poucos,
também conquista espaço entre os historiadores e consequentemente influencia na maneira de
pensar e elaborar o conhecimento histórico a ser ensinado em sala de aula. Assim, a partir das
décadas de 70 e 80, novos olhares foram direcionados para a escrita da História, buscando um
direcionamento para as análises culturais dos acontecimentos históricos, assim como a utilização
de novas fontes e outras vozes antes não ouvidas. Ou seja, na Nova História, o historiador faz
parte do movimento da História trazendo uma multiplicidade de enfoques. É uma história
problema que pretende uma nova maneira de pensar, sentir e fazer História, estendendo-se
da produção acadêmica para o contexto escolar, principalmente nas discussões sobre os novos
direcionamentos na elaboração do currículo escolar.
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CONCLUSÃO
Dos sete capítulos que se constrói o livro didático, seis fazem
referência a mulher, como sujeito ativo do processo histórico.
Os registros dessas ações são sempre vestígios tênues do que foram,
de fato, esses momentos, sendo possível resgatar essas memórias,
passamos a analisar e refletir sobre elas, à luz das novas descobertas e
ressignificar o passado histórico.
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FONTES
ZENUN, Katsue Hamada e. História: ensino fundamental, 8º ano. / Katsue Hamada e
Zenun e Mônica Markunas. 2ª edição. Brasília: Cisbrasil – CIB, 2011.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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Paulo: Cortez, 2011.
_______. A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos
XIV e XVIII. Trad. Mary Del Priore. Brasília: EdUnb, 1999.
_______. Cultura escrita, literatura e história. Tradução Ernani Rosa. Porto Alegre:
ARTMED Editora, 2001.
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histórica e hermenêutica do cotidiano. In: COSTA, Albertina de Oliveira & BRUSCHINI,
Cristina (org.). Uma questão de gênero. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos; São Paulo:
Fundação Carlos Chagas, 1992.
LE GOFF, Jacques. A História Nova. In: LE GOFF, Jacques. A história nova. 4 ed. São
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LOURO, Guacira Lopes; FELIPE, Jane; GOELLNER, Silvana Vilodre (Org.). Corpo, gênero
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2008.
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PINSKY, Jaime. O ensino de História e a criação do fato. ver. e atual. – São Paulo:
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Porto Alegre, v. 16, n. 2, p. 5-22, jul./dez. 1990.
THOMPSON, J.B. Ideologia e cultura moderna: teoria social crítica na era dos meios de
comunicação de massa. Petrópolis: Vozes, 1998.
128
TEATRO OPERÁRIO, LIVRO DIDÁTICO E
CONSCIÊNCIA HISTÓRICA
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é uma categoria geral que não apenas tem relação com o aprendizado e o ensino de
história, mas cobre todas as formas de pensamento histórico; através dela se experien-
cia o passado e se o interpreta como história. (...) É uma combinação complexa que
contém a apreensão do passado regulada pela necessidade de entender o presente e de
presumir o futuro. (RÜSEN, 2010, p.36).
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Nessa utilização, o termo “gênero” não implica necessariamente uma tomada de posi-
ção sobre a desigualdade ou o poder, nem tampouco designa a parte lesada (e até hoje
invisível). Enquanto o termo “história das mulheres” proclama sua posição política ao
afirmar (contrariamente às práticas habituais) que as mulheres são sujeitos históricos
válidos, o termo “gênero” inclui as mulheres sem lhes nomear, e parece assim, não
constituir uma forte ameaça.
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(...) naturaliza os gêneros e os locais que cada um ocupa em uma sociedade.que esse
material se abstém de análises mais complexas capazes de revelar a textura das rela-
ções de poder e seu papel na construção daquilo que normalmente é entendido como
masculino e feminino(p.103).
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CONCLUSÃO
Após essa breve discussão sobre duas ferramentas educativas,
elementos do processo de construção de um aprendizado histórico, e
da formação de uma consciência histórica em diferentes momentos e
espaços sociais, é possível perceber que a produção do conhecimento
humano não é passiva, e nem mesmo desprovida de intenções.
Afinal, a educação é ideológica, pois carregada de sentidos e visões de
mundo (GADOTTI, 1989, p.15), e é, portanto,um espaço de poder, e
como tal reflete modos de ser e estar de determinados grupos sociais.
Bem como as ferramentas utilizadas para o processo educativo são
produtos e também produtores de uma cultura, possibilitando aos
sujeitos instrumentos capazes de orientar suas escolhas, justificar
suas posturas e atuar conscientemente na sociedade. As questões de
gênero também estão presentes no processo educativo, e a forma
como são apresentadas e representadas por tais ferramentas, moldam
os comportamentos, estabelecendo normas, reproduzindo modelos
de feminino e masculino, tanto em sua narrativa quanto em suas
práticas. Além de também refletirem as sociedades da qual são
produtos, expressando a consciência histórica de quem as produziu.
O teatro operário, a partir da sua organização e execução – do texto
ao corpo cênico, temas, personagens, cenários - não apenas refletia
as relações entre homens e mulheres de seu meio, como também
visava ditar as posturas condizentes com sua classe. O silenciamento
das mulheres e a predominância dos homens nos espaços de lazer
e educação, como o teatro, revelam as tensões existente na vida do
operariado riograndino, os embates diários travados por aqueles(as) que
não aceitavam passivamente os papeis pré-estabelecidos. Muitas vezes
143
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144
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REFERÊNCIAS:
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CHARTIER, Roger. Por uma sociologia histórica das práticas culturais. In: A História
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Bertrand Brasil, 1990, p. 13-28. Ebook acessado em www.4shared.com, em 14/11/2012.
PROTO, Leonardo Venicius P.; SILVEIRA, João Paulo de P. O Gênero no livro didático
de História: Arranjos de poder e consciência histórica. Revista Sapiência: sociedades,
saberes e práticas educacionais. . UEG/UnU Iporá, v. 1, n. 1, p. 102-112 – jan/jun 2012.
____________. O livro didático ideal. In: BARCA, Isabel MARTINS, Estevão de R.;
SCHMIDT, Maria A; (Orgs). . JörnRüsen e o ensino de História. pp. 109-128. Curitiba:
Editora UFPR, 2010.
SCOTT, Joan. . Gênero: uma categoria útil da análise histórica. Educação& Realidade,
Vol.20, N.2, Porto Alegre, jul/dez. 1995.Disponível em: http://www.ufrgs.br/edu_
realidadeAcessado em 10/10/12 ás 16h.
_____________. História das Mulheres. In: BURKE, Peter. (Org.) A escrita da História:
novas perspectivas. Trad. De Magda Lopes. pp.65-98. São Paulo: Editora Unesp,2011.
146
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SILVEIRA, Marcos César Borges. O teatro operário em Rio Grande na época das
primeiras chaminés (1900-1920). In: ALVES, Francisco das Neves (org.) O mundo do
trabalho na cidade de Rio Grande. pp.57-84. Rio Grande: FURG, 2001.
FONTE PRIMÁRIA:
BRAICK,Patrícia Ramos; MOTA, Myriam Becho. História: das cavernas ao terceiro
milênio.pp. 41-472ª edição. São Paulo: Moderna, 2006.
147
A QUESTÃO DE GÊNERO NO LIVRO
DIDÁTICO NO PERÍODO DA DITADURA
MILITAR
OBJETIVO
O objetivo é buscar através da análise dos referidos livros
didáticos como foi construída a consciência social em relação à
questão de gênero nesse período, principalmente do gênero feminino,
1Mestre em História, pelo Programa de Pós-graduação em História da FURG; Professora e
Supervisora Escolar na Rede Estadual de Ensino do RS. e-mail:dinorahmatte@yahoo.com.br.
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REFERENCIAL TEÓRICO
A análise dos conteúdos dos livros de História “Compendio de
História do Brasil de Borges Hermida, 1968”; “História Geral de Osvaldo
Rodrigues de Souza, 1978”; “História econômica e administrativa d
Brasil de R. Haddock Lobo, 1969” são uma amostra de como a questão
de gênero era abordada ou não em livros de História do Brasil e
História Geral nos livros didáticos utilizados no período da ditadura
militar. Os referidos livros faziam parte do Ensino Fundamental,
Ensino Médio Cientifico e Ensino Médio Técnico.
Segundo Fonseca por didatização entendemos a simplificação
que o conhecimento acadêmico passa até se tornar palatável
para os alunos da educação básica (FONSECA, 2010, p.53). Assim
sendo muitas coisas ficam omitidas dessa historização simplificada
normalmente por interesses que caracterizam uma época.
Para Proto e Silveira (p.104)
“didatizar significa também silenciar acerca de determinados temas. O silêncio, um
dispositivo de poder, cria, reforça e reproduz estereótipos. Aceitando que o livro de
história é um artefato discursivo capaz de (re) produzir saberes que orientam os su-
jeitos sobre o passado, entendemos que o comum silêncio desse material em relação
às questões dos gêneros omite a historicidade das relações de poder e dos arranjos
sociais responsáveis por “engendrar” os sujeitos.”
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“ela teve a infelicidade de se refugiar na Inglaterra junto a sua prima Isabel que, depois
de mantê-la presa durante 19 anos, executou-a. Isabel temia que os católicos fossem
substituí-la por Maria Stuart”.
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DESENVOLVIMENTO
Para a produção do referido artigo foi feito previamente a leitura
de três livros didáticos utilizados em sala de aula na cidade de Santa
Vitória do Palmar. Dois dos referidos livros foram de uso escolar da
autora: No ensino de 1º grau o livro de História do Brasil de Borges
Hermida, no curso Técnico de Contabilidade em nível de 2º grau o
livro História econômica e Administrativa do Brasil. O Livro História
Geral–da pré-história aos últimos fatos de nossos dias era utilizado nos
cursos de 2º grau denominados Científico.
Após essa leitura, e a análise de diversos artigos que contextualizam
a ditadura militar e a abordagem da mesma nos livros didáticos, assim
como a participação da mulher e a sua apresentação nesse período
nos livros utilizados nas escolas, serviu para a observação da sua
invisibilidade nos livros didáticos e a construção de uma consciência
étnica do papel que as mulheres brancas e as negras ocupavam na
sociedade e também a utilização da história tradicional para a
abordagem da valorização dos vultos históricos e principalmente
militares na formação do Brasil.
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CONCLUSÃO
É possível perceber através das leituras a significância dos livros
didáticos na (re) construção de uma cultura.
Devido a sua abrangência e os diversos caminhos de influência
que passam na construção desse material de uso nacional, sejam
elas dos interesses políticos, econômicos, nacionais e internacionais,
tendência histórica do autor, da editora e dos próprios professores
ao adotarem determinado livro em detrimento de outros, estão
construindo ou reconstruindo a história de uma sociedade.
Através dele as diversidades culturais, a construção de uma
identidade, os saberes históricos e toda a gama de informação que
constituem a formação cultural de um povo podem ser valorizadas ou
não e mesmo serem omitidas.
Sendo assim o livro didático é algo comprometido com a ideologia
dominante e através dele os valores de uma época são perpetuados de
forma explicita ou implícita na educação.
Concluímos que a questão de gênero presente nos livros estudados
enaltece a figura masculina como detentora dos predicados necessários
para o engrandecimento da nação, dotado de valores que não são
condizentes com o gênero feminino, ainda mais se ele é atravessado
pela negritude.
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REFERÊNCIAS:
CHARTIER, R. A história cultural. Entre práticas e representações. Lisboa:DIFEL.1986.
FONSECA, S.G. Didática e prática de ensino de história. São Paulo: Papirus, 2003.
HERMIDA, Antonio José Borges. Compendio de História do Brasil. 53ªed. São Paulo.
Companhia Editora Nacional.1968, p.340.
PROTO. Leonardo Venicius Parreira. SILVEIRA. João Paulo de Paula. O gênero no livro
didático de História: Arranjos de Poder e Consciência Histórica. Revista Sapiência:
sociedade, saberes e práticas educacionais-UEG/UnU Iporã v.1, n. 1, p.102-112 – jan/
jun 2012 ISSN: 2238-3565
SOUZA. Osvaldo Rodrigues de. História Geral da Pré-História aos últimos fatos de nossos
dias. 17ªed.rev. e atualizada. São Paulo: Ática, 1978, p.369.
154
AS QUESTÕES DE GÊNERO NA PERSPECTIVA
DIDÁTICA DA HISTÓRIA INTEGRADA
INTRODUÇÃO
Se a incorporação dos assuntos ligados às questões de gênero
ainda são um desafio nas produções acadêmicas das Ciências
1 Graduado em História/Bacharelado-ICHI pela Universidade Federal do Rio Grande (1995);
Graduado em História/Licenciatura Plena - ICHI pela Universidade Federal do Rio Grande
(1997); Especialista em Educação Brasileira (1999); Mestre em História/ PPGH-ICHI pela
Universidade Federal do Rio Grande (2015). Docente pela Rede Estadual do Governo do Estado
do Rio Grande do Sul e Docente pela Rede Pública da Prefeitura Municipal de Rio Grande.
E-mail: teixeirarogerio@ymail.com.
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A velha História de fatos e nomes já foi substituída pela História Social e Cultural; os
estudos das mentalidades e representações estão sendo incorporados; pessoas co-
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muns já são reconhecidas como sujeitos históricos; o cotidiano está presente nas aulas
e o etnocentrismo vem sendo abandonado em favor de uma visão mais pluralista(p.07).
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As concepções de gênero tanto são produto das relações sociais quanto produzem e
atuam na construção destas relações, determinando experiências, influindo nas con-
dutas e práticas e estruturando expectativas. Um “olhar de gênero” não só procura
o que há de cultural nas percepções das diferenças sexuais como também a
influência das idéias criadas a partir destas percepções na constituição das relações
sociais (grifo da autora) em geral(p.34).
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Parece estar bem claro, mas não custa enfatizar: na perspectiva de gênero, o
objetivo da investigação não precisa ser necessariamente a categoria empírica
“mulher”(“ou homem”). Na constituição das relações e significados de gênero, vários
elementos estão envolvidos: os símbolos, as normas sociais,a organização política,
econômica e social e a subjetividade (p.40).
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A orientação temporal da vida tem dois aspectos, um interno e outro externo. O as-
pecto externo da orientação por via da história revela a dimensão temporal da vida
prática (grifo do autor), descobrindo a temporalidade das circunstâncias incluídas na
atividade humana. O aspecto interno da orientação por via da história revela a dimen-
são temporal da subjetividade humana (grifo do autor), outorgando autocompreensão
e conhecimento das características temporais dentro das quais aqueles tomam a
forma de identidade histórica, ou seja, uma consistência construtiva das dimensões
temporais da personalidade humana (BARCA; MARTINS; SCHIMIDT: 58).
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Em certa medida essa tradição encontra-se presente nas obras que fazem uma
opção pela abordagem da chamada História integrada, isto é, pelo tratamento da
História da civilização ocidental de modo articulado com os conteúdos de História
do Brasil e História da América.
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Prioriza-se, desse modo, a compreensão do processo histórico global, tendo por eixo
condutor uma perspectiva de tempo cronológica e sucessiva, definida a partir da
evolução européia.
Integram-se, a apartir desse epicentro, as demais culturas não européias pelo viés
cronológico.
Esse é o grupo hegemônico, dentro do qual insere-se a maior parte das coleções(p.139).
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Não obstante, essas reflexões ainda passam longe do saber histórico apresentadas
pelos livros didáticos trabalhados nas escolas brasileiras. Muito embora o material
didático de história dos nossos dias apresente melhoras significativas se comparado
àqueles de viés economicista e ou meramente factualista de outrora, as identidades
de gênero seguem quase ignoradas. Aliás, seguem dentro da trivialidade homens
e mulheres (p.103).
Contudo, conceitualmente falando, esse tipo de narrativa não diz respeito aos
gêneros; não se trata simplesmente de apresentar a oposição, submissão e resistência,
mas de problematizar e decodificar as formas do(s) masculino(s) e feminino(s) ao
longo da história enquanto quadros classificatórios construídos a partir de arranjos
de poder e que não são dadas a priori( p.104).
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Foi a participação das mulheres nas discussões políticas. Na fase inicial, muitas
mulheres participaram ativamente da revolução. Em pé de igualdade com os homens,
estavam presentes nas jornadas militares, manifestações, debates políticos e festas,
especialmente no período de maior radicalização da revolução (p.46).
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Nesse mesmo ano foram criados diversos comitês em defesa dos direitos dos
homossexuais. Entre eles destacaram-se os comitês de estudantes homossexuais
estabelecidos durante o mês de maio de 1968 na França e o Gay Liberation Front, nos
Estados Unidos.Nas décadas seguintes, os homossexuais também conquistam a
aprovação de leis como a criminalização da homofobia (perseguição aos homosse-
xuais) e o direito à legalização das uniões homossexuais (p.175).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não resta dúvidas de que a incorporação das questões de gênero
com as demais esferas da vida social para uma compreensão global e
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Janeiro: MAUAD X, 2010.
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