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SUMÁRIO
Apresentação
1.Introdução
2. O contexto de produção do artigo de opinião em real circulação
2.1 O conteúdo temático
2.2 A esfera de circulação
2.3 A finalidade
2.4 Interlocutores e papeis sociais
2.5 O suporte
2.6 As vozes
2.7 Quadro síntese das condições de produção do artigo de opinião
2.8 A estrutura composicional
2.9 Os tipos de argumentos
2.10 As marcas de estilo
3. O artigo de opinião na esfera do vestibular
3.1 O conteúdo temático
3.2 A finalidade
3.3 Os interlocutores
3.4 A esfera e o suporte
3.5 A estrutura composicional
3.6 As marcas de estilo
3.7 Os tipos de argumentos mais utilizados
4. Os critérios de avaliação da redação no Vestibular da UEM e no PAS-UEM
7. Texto com nota máxima
Referências
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1.INTRODUÇÃO
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um determinado gênero de sua esfera real de circulação, neste caso o artigo de
opinião da esfera do jornalismo e o levamos seja para a escola ou para a prova
de redação, o gênero adapta-se a essas influências e transforma-se. Não será
mais o mesmo, pois as representações do próprio produtor irão se modificar.
Exatamente por isso, este livre pretende contribuir com o estudo do gênero artigo
de opinião na esfera do vestibular.
Compreender como essa esfera (re)significa os gêneros do discurso é
fundamental, não apenas para auxiliar os próprios vestibulandos a participarem
dessa prática social, como também para ajudar os professores em formação
inicial e continuada a construírem materiais de ensino adequados à esse novo
contexto, já que os efeitos dos estudos bakhtinianos e a incorporação de seus
postulados no ensino ainda não se mostram plenamente introduzidos nas salas
de aula.
No caso do artigo de opinião, apesar de encontrarmos referências
teóricas sobre o gênero e várias pesquisas já realizadas, nenhuma delas
debruçou-se especificamente sobre o artigo de opinião escrito na esfera do
vestibular. Entendemos, portanto, ser importante a todos envolvidos com essa
questão compreenderem como esse gênero se configura para alcançar a nota
máxima e, também, quais são os motivos que levam os alunos a zerarem seus
textos.
O livro faz parte de uma série que contemplará os gêneros listados no
vestibular da UEM. É destinado tanto aos professores em geral, aos professores
em formação inicial, ao vestibulandos como aos alunos da pós-graduação e
comunidade externa.
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2. O CONTEXTO DE PRODUÇÃO DO ARTIGO DE OPINIÃO EM REAL
CIRCULAÇÃO
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2.1 O conteúdo temático
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lugar às informações divulgadas pelos tablets, smartphones e redes sociais, nem
sempre confiáveis.
De qualquer forma, trata-se de uma esfera pública importante, que dá
acesso ao público, em geral, do que ocorre no país e no mundo, podendo ser
um relevante instrumento de participação e inserção social.
2.3 A finalidade
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Ohuschi (2011) aponta que o artigo de opinião tem como finalidade a
busca por um posicionamento frente a problemas sociais controversos, exigindo,
para tal, uma sustentação e uma tomada de posições no decorrer do texto,
demonstrando como essa finalidade do gênero direciona as estratégias
linguístico-discursivas que estruturam tanto a organização do texto como os
elementos linguísticos nele empregado.
Barbosa (2006) e Hila (2008), também defendem que a finalidade do
artigo de opinião é a de influenciar o pensamento dos destinatários (os leitores),
isto é, construir ou transformar (inverter, reforçar, enfraquecer) a posição desses
destinatários sobre uma questão controversa de interesse social e,
eventualmente, mudar o comportamento deles.
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Nos jornais de grande circulação, a posição social ocupada pelo
articulista é, normalmente, vinda do campo político, comercial, industrial e
administrativo, sendo comuns textos assinados por presidentes, donos de
associações, empresários, dentre outros (ocasionalmente aparecem articulistas
do campo científico). Exatamente por isso, o produtor assue o papel social , além
de articulista, de especialitsa em uma dada matéria ou assunto.
Porém, não podemos deixar de levar em conta a empresa jornalística,
pois mesmo sendo assinado por uma pessoa, a publicação do artigo passa por
aprovação prévia (o jornal seria, assim, um leitor e autor interposto entre o
articulista e os leitores). Isso quer dizer que há relativa coerção da empresa em
relação ao que será publicado.
O interlocutor do artigo são pessoas que, frequentemente, leem
determinado jornal ou revista e estão de alguma forma interessadas na questão
polêmica, seja porque as afeta diretamente, seja porque se interessam pela
discussão dos assuntos em pauta na sociedade. Por isso mesmo, assumem o
papel social de leitores engajados nos temas escolhidos pelos autores.
Uber (2008) ,ao definir o interlocutor do artigo de opinião, sustenta que o
leitor desse gênero é, geralmente, alguém que lê revistas e jornais os quais o
apresentam e que possui o interesse em ter ciência dos acontecimentos em
torno de seu meio. Esse indivíduo atribui importância às questões controversas,
já que elas, direta ou indiretamente, influenciam sua maneira de viver e ver o
mundo.
Rodrigues (2005) assevera que o artigo de opinião traz consigo leitores
que pertencem a um grupo privilegiado e de classe elitizada, uma vez que, nos
jornais os quais as classes populares possuem acesso, não há presença de
artigos de opinião.
2.5 O suporte
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que os jornais já possuem versão on-line (webjornalismo). Esse suporte digital,
aliás, modifica, inclusive, a propria maneira do leitor ler o jornal, na medida em
que se depara com links e hiperlinks, que não exigem mais uma leitura linear
como no jornal impresso.
Um ponto a ser ressaltado sobre o suporte é o fato desse agir sobre o
conteúdo ideológico do texto. Sendo um gênero primordialmente argumentativo,
o articulista geralmente assume a responsabilidade pelas opiniões vinculadas à
sua produção, contudo ele está inscrito e cerceado pelo posicionamento
ideológico do suporte do seu artigo. Assim, escrever um artigo em um jornal de
grande circulação nacional como a folha de São Paulo e escrever um artigo em
uma revista eletrônica voltada para jovens certamente refletirá posições
ideológicas tanto do suporte como nos interlocutores a que se destinam.
2.6 As vozes
A questão das vozes, aliás, tem grande relevância nesse gênero, pois o
articulista embora defenda seu posicionamento ancora-se, seja para concorda
com ele ou discordar, nas palavras de outros, que se transformam
dialogicamente para se transformarem em “palavra pessoal-alheia” (BAKHTIN,
2003, p. 405). O articulista busca nas vozes ou na palavra do outro argumentos
para dar credibilidade à sua posição ou mesmo para refutá-los.
Rodrigues (2005), analisando exemplares de artigos publicados na Folha
de são Paulo, esclarece que a posição do articulista se constrói pelo tratamento
que dá as diferentes vozes (outros acentos de valor) incorporadas ao seu texto.
A autora categoriza as vozes, no artigo, em dois movimentos, a partir da relação
dialógica com enunciados já ditos e com enunciados posteriores (modo de
orientação para o interlocutor).
O primeiro movimento é denominado de movimento dialógico de
assimilação, constituído pela incorporação de outras vozes ao discurso do autor,
avaliadas positivamente, para construção de seu ponto de vista e, consequente,
engajamento do leitor. O segundo, movimento dialógico de distanciamento que
se dá também pela incorporação de outras vozes ao texto, mas agora para
desqualificá-las.
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Leite (2009), ao tratar sobre vozes explica que em todo enunciado e,
portanto, em todo gênero as vozes determinam o que é dito e podem ser
categorizadas em três tipos: voz do autor, vozes das personagens e vozes
sociais. A voz do autor, no artigo de opinião, é a do articulista, especialista que
está na origem da produção do texto e que a usa para tecer comentários, inserir
sua posição pessoal e sua avaliação do que e enunciado.
As vozes dos personagens seriam daqueles que participam da trama
narrativa, em gêneros da ordem do narrar. No caso do argumebtar, seriam as
vozes de autoridades, classes, testemunhos que são trazidas ao texto para
reforçar a posição do articulista.
Por fim as vozes sociais, que são aquelas representadas por grupos ou
instituições sociais, as quais são instâncias externas que também avaliam
ideologicamente o tema tratado. Por exemplo, a voz dos políticos, dos
estudantes, dos empresários, dos sindicatos, dos marginalizados. Elas podem
estar mais ou menos explícitas no texto, mas sempre contribuem para a
formação discursiva do objetivo do articulista.
Dessa forma, compreender o funcionamento as vozes no artigo de opinião
é, sobretudo, entender a própria arquitetônica do texto, ou seja, o modo como o
articulista constrói sua posição de modo a engajar totalmente o leitor em seu
propósito enunciativo.
Uber (2008), por sua vez, define que a estrutura composicional do artigo
de opinião contém os itens apresentados a seguir, também expostos de maneira
semelhante por Barbosa (2006) como característicos do gênero:
1. Contextualização e/ou apresentação da questão que está sendo discutida;
2. Explicitação do posicionamento assumido;
3. Utilização de argumentos para sustentar a posição assumida;
4. Consideração de posição contrária e antecipação de possíveis argumentos
contrários à posição assumida;
5. Utilização de argumentos que refutam a posição contrária;
6. Retomada da posição assumida;
7. Possibilidades de negociação;
8. Conclusão (ênfase ou retomada da tese ou posicionamento defendido).
Quadro 2. Elementos estruturais do artigo de opinião. (UBER, 2008 e BARBOSA, 2006).
Boff (2009) propõe que o gênero artigo de opinião seja estruturado pelos
seguintes elementos:
a) situação-problema: aqui, o autor insere a questão que será debatida, a fim
de explicitar ao seu leitor sobre o que será apresentado nas demais partes do texto.
Além disso, visa-se contextualizar o assunto que será tratado mediante afirmações
gerais e/ou específicas. O autor, nesse momento de sua produção, também pode
destacar o objetivo de sua argumentação que virá a seguir, bem como a importância
de se discutir o tema em questão;
b) discussão: nesse período do texto, são expostos os argumentos e é
construída a opinião do autor sobre a questão analisada. Para tanto, geralmente, o
autor se utiliza de fatos concretos, dados e exemplos para, de fato, convencer seu
interlocutor de que seu ponto de vista é o mais adequado. Além disso, há
possibilidade de se encontrar sequências narrativas, descritivas, explicativas e entre
outras;
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c) solução-avaliação: por fim, o autor explicita a sua resposta à questão
apresentada e pode reafirmar sua posição assumida ou redigir uma apreciação do
assunto abordado. Não é adequado um simples resumo ou mera paráfrase das
afirmações anteriores.
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tendo em vista que não é necessária apenas a exposição de uma opinião acerca
de um tema polêmico e atual, mas também se devem apresentar os motivos
pelos quais levaram o autor a acreditar que a sua perspectiva é a mais coerente
e aceitável para tal temática.
Fiorin (2015), pautando-se em Parelman e Tyteca (2005), explica que
estes postulam que os argumentos são classificados em dois grupos: os de
ligação, que relacionam elementos distintos em uma relação solidária e os de
dissociação, que cindem elementos de um conjunto solidário. Tal relação de
ligação serve à elaboração de três tipos de argumentos: i) os quase lógicos; ii)
os que se fundam na estrutura do real; e iii) os que fundam a estrutura do real.
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todo, uma propriedade pertencente a uma ou mais partes constitutivas. Em
contraste, a inclusão é quando se atribui uma propriedade do todo a uma ou mais
partes que o constituem. Eles são considerados argumentos quase lógicos,
porque são perpassados pelas concepções e juízos de valor de cada época.
Já o argumento por semelhança, argumentum a pari ou simili, ou até
mesmo regra da justiça, vale-se do princípio da identidade. Isso, pelo fato de
propor a semelhança de tratamento entre casos semelhantes, contradizendo a
lógica de “dois pesos, duas medidas”. Fiorin (2015) explana que, dependendo
do contexto, esse argumento pode ser entendido como conservador ou como um
argumento em defesa da igualdade. De modo semelhante, porém restrito à
comparação de ações realizadas por pessoas, Abreu (2001) aponta este
argumento como “pelo exemplo”, o qual, de certa forma, une tanto aquilo que é
apresentado por Fiorin (2015) como argumento por semelhança, como a regra
do precedente, a qual também supõe a identidade de duas situações e que
possui, como uma única diferença, o fato de que uma precedente estabelece o
tratamento daquela segunda.
Em contraste, o argumentum a contrario ou argumento pela oposição é a
situação inversa ao do argumento por semelhança, uma vez que há a defesa de
que se um contexto é visualizado sob uma forma específica, o contexto contrário
a esse deve ser considerado de maneira diversa.
Por fim, o argumento dos inseparáveis é aquele em que se relaciona, de
maneira indissociável, dois contextos, considerando uma ligação intrínseca entre
os dois.
Fiorin (2015) sustenta que o princípio da não contradição afirma que algo
“não pode ser e não ser ao mesmo tempo.” (p. 139) Além disso, calcado nos
estudos de Parelman e Tyteca, o estudioso assevera que é preciso diferenciar a
contradição e a incompatibilidade, explanando que a contradição é “a oposição
de uma ideia e de sua negação” (p. 139), enquanto a incompatibilidade se apoia
na noção de sistema em que duas proposições podem se negar logicamente e,
portanto, não podem coexistir, ou até mesmo não possuir relação entre si. Eles
se dividem em: autofagia e retorsão, reductio ad absurdum e em argumento
probabilístico.
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O argumento de autofagia e retorsão visa explorar todas as
consequências de uma proposição, a fim de evidenciar a sua incompatibilidade.
Já o reductio ad absurdum (redução ao absurdo) ou reductioad
impossibilem (redução ao impossível) ou, então, o argumento apagógico, de
acordo com Fiorin (2015), trata da ação de tomar uma proposição como verdade
apenas com o intuito de tirar conclusões absurdas dela e revelar a sua falsidade.
Por sua vez, Abreu (2001) apresenta este argumento o caracterizando como
“ridículo”, propondo os mesmos princípios levantados por Fiorin (2015), mas de
outra maneira. Segundo esse autor, adota-se um argumento temporariamente e
se valendo da ironia, a fim de que se extraia dele todas as possibilidades de
conclusão, inclusive aquelas que o reduzirão a uma situação de ridículo, de
incoerência.
Por fim, o argumento probabilístico apela à maioria, ou seja, ao “clamor
popular”, ao “bom senso”, considerando a proposição da maioria
verdade/preferível em detrimento da minoria.
Implicação e concessão
Causalidade
Causalidade e sucessão
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Os fatos
Argumento do sacrifício
Argumentum ad consequentiam
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indesejáveis ou pela reação em cadeia que a opção por ela no presente
desencadeará no futuro.
O argumento da ultrapassagem também é voltado ao futuro; porém, esse
tipo de argumento propõe que determinada ação é uma etapa a ser vencida. Isso
se deve em consequência da ideia de que, assim, haverá continuidade de um
processo que será finalizado ou de um objetivo que será alcançado futuramente.
Argumentos de coexistência
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Os argumentos indutivos
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Como foi perceptível, há várias técnicas argumentativas que buscam
justificar os motivos pelos quais a tomada de um determinado ponto de vista é o
mais correto ou o mais coerente a se fazer. Essas técnicas foram identificadas
em todo o corpus analisado, sendo algumas delas mais recorrentes e outras
inexistentes ou pouco utilizadas pelos escritores dos textos, ou seja, os
candidatos a uma vaga na universidade.
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Uber (2008), por sua vez, confere destaque especialmente aos
operadores argumentativos, que se fazem presentes principalmente nos
momentos de introdução e acréscimo de argumentos, na indicação de oposição
a uma afirmação anterior e na conclusão. A estudiosa também assegura que
cada articulista mantém uma característica peculiar para redigir o seu artigo e
que a construção desse discurso é, em sua maioria, feito em terceira pessoa.
Assim, para demarcar a sua intencionalidade, o sujeito faz uso de alguns tempos
verbais e advérbios, questionamentos, hipérboles, palavras enfáticas e de
modalizadores.
Boff (2009) explica que, variante o público o qual o artigo se destinará, o
articulista pode fazer uso de uma linguagem, denominada por ela, como
“comum”, o qual abarca um “conjunto de palavras, expressões e construções
mais usuais, com uma sintaxe acessível ao leitor comum” (p. 04) ou até ou por
uma linguagem mais cuidada, que abrange “um vocabulário mais preciso e raro,
com uma sintaxe mais elaborada que a comum” (p. 04).
Além disso, explana que, para abordar a problemática e os argumentos,
o tempo utilizado predominantemente pelo autor do texto é o presente do
indicativo. Entretanto, também se pode utilizar o pretérito quando se deseja
explicar ou apresentar dados ou evidências. a estudiosa afirma que tanto a
primeira quanto a terceira pessoa do discurso podem ser utilizadas para a
construção de um artigo de opinião. Evidencia-se, também, o uso de operadores
argumentativos (mas, entretanto, porém, portanto, além disso etc.) e dêiticos
(este, agora, hoje, neste momento, ultimamente, recentemente, ontem, há
alguns dias, antes de, de afora em diante), tendo em vista o intuito de manter a
coerência temática e a coesão do texto
Outro importante elemento constitutivo do artigo em circulação real é a
presença de algumas figuras de linguagem como a ironia, especialmente,
segundo Rodrigues (2004) quando se quer tralhar como o movimento dialógico
de distanciamento, pois o objetivo , neste caso, é desautorizar o ponto de vista
do outro. Nesse caso, como recursos de estilo observam-se as figuras de
linguagem, o uso de expressões negativas e uso das aspas.
O discurso relatado indireto é bem mais presente nos artigos que os
diretos, isso porque a finalidade deste gênero se volta mais para a análise e
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comentário. Para Bakhtin/Voloshinov (1996) esse tipo de discurso revela a
transmissão analítica do discurso de outrem. A forma de manifestar a apreciação
valorativa de quem escreve, nos últimos anos, vem sendo posta nos artigos pela
1ª. pessoa do plural ou do singular, pela assinatura e pelo pé biográfico. Dessa
maneira os artigos tendem a colocar uma posição explícita de autoria que,
conforme Rodrigues (2004) é, na realidade, uma grande máscara interpelativa
de outas vozes sociais.
A questão das vozes, na perspectiva dialógica dalinguagem inaugurada
por Bakhtin, traz à tona o conceito de polifonia que se apresenta quando “o autor
pode fazer falar várias vozes ao longo de seu texto” (CHARAUDEAU e
MAINGUENEAU, 2004, p. 384), indicando o dialogismo entre as diferentes vozes
da sociedade. Na realidade, a constituição do conceito de polifonia textual vai
além do próprio artigo de opinião, passando a ser uma característica
apresentada em todos os gêneros discursivos.
No caso do artigo de opinião, a questão a citação de discursos alheios é
quase sempre muito presente, mas, Linhares (2010) ressalta que não se possível
evidenciar estilos estáveis desse gênero, pois cada articulista traz também seu
estilo individual de escrita e este, sem dúvida, se sobrepõe ao próprio estilo do
gênero.
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3. O gênero artigo de opinião em situação de vestibular
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por exemplo, esferas acadêmicas da sociologia, da filosofia, do direito, entre
outras. Dessa forma, será possível o trabalho para além do senso comum.
Em um projeto de iniciação científica, desenvolvido em 2017, Lucca e
Paulino (2017 ), tiveram como objetivo caracterizar o gênero artigo de opinião
em situação de vestibular. Para isso, analisaram ao analisaram 50 redações que
obtiveram nota máxima ou quase máxima do vestibular de verão da Uem de
2014 , com o intuito de caracterizar esse gênero.É sobre isso que se tratam as
próximas seções.
Trata-se, portanto, de um tema atual que envolve um grupo, uma vez que
engloba os praticantes desse ato, os lojistas e os demais indivíduos os quais
usufruem dos shopping-centers e, sobretudo de uma temática polêmica que
exige o posicionamento do escritor, visto que, para muitos, os praticantes do
rolezinho são negativos ao ambiente encontrado no shopping-center e, por
consequência disso, devem ser banidos do estabelecimento; por outro lado,
muitos acreditam que os rolezeiros não são prejudiciais ao local e que há uma
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certa segregação ocasionada pelos demais frequentadores dos shopping-
centers, o que não é correto, sob a ótica desses defensores.
3.2 A finalidade
3.3 Os interlocutores
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contexto real de produção. Comprova-se assim, o que Bakhtin (2003) explica
sobre o fato de o gênero adaptar-se à situação e à esfera no qual se insere. E
mais, conforme o filósofo, o destinatário exerce o maior controle sobre aquilo que
é dito o que também se comprova, pois, no caso do vestibular, toda orientação
valorativa do vestibulando é orientada pela imagem que ele faz do corretor de
redação e não pela posição social que ele deveria assumir.
Ao nosso ver, o fato de o vestibulando não ser um especialista e nem se
dirigir a um destinatário próximo daquele que efetivamente lê jornais, acaba por
aproximar muito esse gênero da relação dialógica expressa na dissertação
escolar. Além disso, diferentemente do articulista, o vestibulando não é uma
autoridade ou um especialista sobre o assunto que avalia, nem tão pouco
escolheu o próprio tema.
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educativas, os novos anseios e até algumas práticas autônomas, na suas bases
burocráticas, continua fortemente gerida pelos interesses do Estado e por
aqueles que detém os recursos, no caso, os professores que elaboram as
provas. Paralelamente a esse aspecto, é mister ressalte-se que as bases
filosóficas, de orientação preponderantemente lógica (ainda vigentes em muitas
provas) (HILA,2007, p.841).
A autora ainda assevera que essa esfera acaba por gerar estruturas
estereotipadas no discurso porque é movida por imagem normativa do
destinatário, o que faz com que muitos textos apresentem ideias de senso
comum. O vestibulando não consegue fazer uma representação histórica-social
de outro leitor que não o corretor. O fato de que os textos foram escritos em uma
situação de vestibular também altera o seu suporte, dado que os artigos
encontram-se na folha do caderno da versão definitiva da prova, e não em jornais
ou revistas, sejam eles impressos ou virtuais, o que faz com que não haja relação
alguma entre suporte e o conteúdo do texto, diferentemente do artigo de opinião
em seu suporte real.
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Retomada da tese 19
Negociacão 32
Conclusão 41
Assinatura 48
Quadro 7: elementos estruturaria encontrados nas redações
Notamos que, apesar de não serem previstos em nenhuma das
discussões levantadas pelos teóricos da área, o título e a assinatura são dois
elementos que foram atendidos por quase todas as 50 redações, tendo apenas
uma delas não apresentado o título. Eles fizeram-se presentes em uma
grandiosa parcela dos textos, visto que se exigiu a existência de ambos no
comando de produção. A contextualização e a presença da tese nos textos foram
muito comuns, assim como pode ser visualizado no fragmento retirado da
redação nº 47, onde o(a) autor(a) contextualiza e posiciona-se diante da temática
em questão:
“Os shoppings são locais de lazer, compras e diversão muito visitados pelo amplo
espaço e segurança oferecidos, por isso defendo a proibição de rolezinhos nesse
ambiente. [...]”
35
“[...] Em um país que busca a redução da desigualdade de classes, haveria de surgir
políticas de apoio aos rolezinhos, para que além da desigualdade econômica, a
desigualdade social também seja reduzida. [...]”
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3.6 As marcas de estilo
No que diz respeito ao estilo linguístico do gênero artigo de opinião,
pudemos levantar os elementos a seguir, de acordo com a sua ocorrência nas
redações:
Elementos do estilo Recorrências nas redações
Uso da primeira pessoa do singular 42
Uso da terceira pessoa 08
Presente do indicativo 15
Presente do subjuntivo 10
Formas do pretérito 25
Formas do futuro 10
Presença de citações indiretas (vozes) 46
Presença de modalizadores do tipo “é 35
preciso”
Presença de operadores argumentativos 50
explícitos
Presença de expressões de juízo e valor 47
indicando posição do autor
Quadro 8: elementos do estilo presentes nas redações.
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e o “eles” de quem se fala, cuja posição é marcada como sendo a de jovens de
periferia com uma realidade social distinta.
Ainda de acordo com Hila (2008), o artigo de opinião costuma apresentar
marcas tanto do presente do indicativo quanto do subjuntivo, a fim de demarcar
a introdução de argumentos. Contudo, o que percebemos foi que o uso das
formas no pretérito se sobressaiu ao das formas de presente do subjuntivo.
Dessa forma, os produtores utilizaram-se do presente do indicativo em situações
de argumentação e explicitação da tese; de formas como pretérito para
contextualizar ou relatar situações, e de formas do futuro para introduzir
propostas de negociação.
Um outro ponto que acreditamos ser pertinente salientar é a presença dos
operadores argumentativos e das formas de modalizar o discurso, dois
elementos também bastante significativos para a elaboração do gênero. Tanto
um, quanto outro foram encontrados em grande parte das redações dos
candidatos. Expressões valorativas que denotam juízos de valor também
diferenciam essas redações, como por exemplo: “considero absurda a proibição”
(redação 5); “acredito fortemente”(redação 34); “triste a posição daqueles
que..”(redação 18), entre outras.
39
se vale do princípio da identidade, visto que propõe a semelhança de tratamento
entre casos semelhantes, contradizendo a lógica de “dois pesos, duas medidas”.
O uso do argumento ad consequentiam, também conhecido por
argumento pragmático ou de consequência, é aquele no qual a defesa utiliza
como justificativa os efeitos produzidos por determinada ação (FIORIN, 2015).
Nas redações analisadas, esse argumento evidencia, sobretudo posições
contrárias aos rolezinhos que explicitam as consequências negativas desse
movimento, sejam elas individuais, efeitos produzidos contra o próprio autor, ou
coletivas, quando os efeitos dos rolezinhos afetam o grupo social ao qual ele
pertence.
O uso do argumento ad hominem, por sua vez, apela para a
desvalorização da figura do outro como recurso argumentativo para valorizar sua
posição. No contexto em questão, o outro desvalorizado por esse argumento
foram os frequentadores dos rolezinhos, os jovens da periferia, cuja imagem foi
construída como sem cultura, sem educação e sem respeito ao patrimônio
privado. É um recurso interessante, apesar de ter sido pouco utilizado, pois
entendemos que revela bastante da posição social do produtor e do seu
posicionamento diante da temática.
Acreditamos que, de todos os argumentos utilizados, a ocorrência maior
da argumentação pautada nas relações de causa e consequência demonstram
como o artigo de opinião em situação de vestibular se aproxima da estrutura da
dissertação. De fato, por ambos os textos serem de caráter argumentativo, há a
confusão (notada, sobretudo, nas atividades que desenvolvemos no Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência) durante a produção dos dois
textos. Além disso, o uso do argumento a pari indica para uma argumentação
ainda oriunda do senso comum, em que se vale de situações e preceitos
genéricos para avaliar e justificar posicionamentos e ações. Isso posto, parece-
nos que os vestibulandos continuam escrevendo dissertações, embora o
comando explicite o gênero artigo de opinião.
Ao nosso ver, as produções não apresentam marcações discursivas,
estruturais ou estilísticas satisfatórias para a classificação das produções como
artigos de opinião, nem prototípicos, nem reconfigurados pelo contexto de
produção. Em vez disso, o que percebemos é a redação de dissertações
40
escolares reestruturadas e atendendo a alguns elementos obrigatórios,
expressos no comando de produção da prova. Isso se deve, acreditamos, ao
fato de que não há, por parte dos candidatos, a consideração da finalidade e de
papeis sociais distintos durante a escritura, descaracterizando expressivamente
o gênero artigo de opinião.
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cartas. Nos demais, dificilmente o aluno consegue assumir posições sociais
diferentes a de aluno, ou mesmo quando assume, não consegue mobilizar
recursos argumentativos e linguísticos coerentes a essa posição social, o que
confirma que a esfera Vestibular, coercitiva por natureza, dificulta o trabalho com
alguns gêneros do discurso. Isso pode explicar o porquê de exames como o
ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), utilizado por muitas universidades,
valha-se das tipologias textuais e não dos gêneros discursivos, pois, adaptar os
gêneros a uma esfera cujas relações de poder são muito fortes, acaba por
apagar as próprias finalidades deles, o que nos leva a repensar até que ponto a
inserção dos gêneros discursivos nessa esfera é realmente relevante, na medida
em que as melhores redações nos provam que são, na verdade, boas
dissertações escolares.
É necessário reforçar que, embora os artigos de opinião, em sua grande
maioria, tenham sido constituídos de argumentos ou até mesmo de contra-
argumentos, a sustentabilidade dos argumentos utilizados, em muitos casos,
não ultrapassou o senso comum, o que contradiz com o fato de que o articulista
deve dominar a temática a qual está submetido a opinar. Essa incongruência
desconfigura, em parte, o gênero em questão e, em muitos casos, evidencia que
os candidatos não sabem ao certo discernir o gênero artigo de opinião da
tipologia textual dissertação-argumentativa. Por fim, essa pesquisa nos
comprova que as reações-respostas dos melhores candidatos não evidenciam a
internalização do gênero artigo de opinião, mas o camuflam, o que não deixa de
ser uma resposta àqueles que são responsáveis pelos programas de redação
nos diferentes vestibulares do país.
REDAÇÃO
Os textos a seguir abordam o tema da prática do rolezinho em shopping-
centers. Tomando-os como apoio, redija os gêneros textuais solicitados.
TEXTO 1
Rolezinho é a ocupação de um templo de consumo
Rosana Pinheiro-Machado*
TEXTO 2
Tal como são, os ‘rolezinhos’ atentam contra direitos coletivos
Mauro Rodrigues Penteado*
Por mais que nos solidarizemos com nossa juventude humilde que busca
espaços para se relacionar e dar vazão ao seu amor e alegria, não é possível
apoiá-la nessa onda recente de ‘rolezinhos’ marcados em shopping-centers e
outros locais privados com destinação específica.
É triste a ausência de opção de lazer para nossos jovens de camadas
mais pobres. No entanto, os ‘rolezinhos’, tal como vêm sendo marcados, atentam
contra os direitos individuais e coletivos assegurados pela Constituição Federal.
Isso sem falar no direito também constitucionalmente garantido à propriedade e
à livre iniciativa. Daí porque estão corretas as liminares concedidas pelo
Judiciário aos shoppings, as quais estabeleceram multas aos participantes.
Os shoppings são empreendimentos privados abertos ao público
especificamente para compras, lazer, diversão, passeio. A maioria deles tem
cinemas e praças de alimentação. Nenhum deles tem ainda uma praça de
‘rolezinho’, modalidade de diversão muitas vezes conturbada, promovida por
jovens infratores. Essa atividade fere o legítimo direito de pais, mães e filhos a
um lazer sossegado e seguro que se crê encontrar no ambiente privado e
protegido dos shoppings.
Se o poder público não disponibiliza, como deveria, espaços próprios para
o saudável congraçamento e encontro entre jovens, nem por isso os brilhantes
moços que os organizam deixam de ter alternativas interessantes. E todas elas
são garantidas pela Constituição.
A lei garante que “todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em
locais abertos ao público, independentemente de autorização, bastando prévio
aviso à autoridade”. Ora, por que não fazer uns ‘rolezinhos’ no sambódromo ou
em outros locais públicos? Os convocados pela internet não vão faltar. Meninos
e meninas levam o som, comidinhas e bebidinhas (sem álcool, de preferência,
45
senão tumultua e nem namoro acontece). Aí a festa ‘rola’ de forma ‘legal’, no
duplo sentido. Juridicamente, basta os organizadores enviarem cópia da
convocação à Prefeitura e à Secretaria de Segurança.
*Mauro Rodrigues Penteado é advogado, árbitro e professor de direito
comercial da USP.
Texto adaptado de <www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/01/1397335-
opiniao-tal-como-sao-os-rolezinhos-atentam-contra-direitoscoletivos.shtml>.
Acesso em 20/03/2014.
ANÁLISE
I. As condições de produção
O único elemento das condições de produção determinado pelo comando
da prova de redação foi o papel social do produtor do texto. Nota-se que o
candidato que produziu essa redação não explicitou seu papel social de
frequentador de shopping center ou outro indício desse lugar social. Via de regra,
orienta-se os candidatos para que explicitem esse papel social (podendo,
inclusive, agregar outros, como “frequentador de shopping center e advogado”,
“frequentador de shopping center e psicólogo”, desde que façam sentido com a
argumentação) nos gêneros pertinentes, incluindo-se o artigo de opinião nesses
gêneros
A título de exemplo, o texto de apoio 2 da prova de redação traz a
assinatura do seu produtor e, ao final, o seu lugar social, ou seja, de que campo
da sociedade ele participa e qual a sua propriedade para tratar do tema. Sendo
Mauro Rodrigues Penteado da esfera jurídica, convidado a opinar sobre os
rolezinhos, seu papel social proveniente dessa área permeia toda a sua
argumentação assegurada em aspectos jurídicos que sustentam sua opinião da
ilegalidade dos rolezinhos. No caso do artigo produzido no vestibular, a
argumentação segue a mesma linha, porém a única indicação de seu produtor é
assinatura com o nome fictício Carlos, sem seu papel social.
A finalidade do artigo produzido atende àquela prototípica do gênero: todo
o texto opina e argumenta em defesa de um ponto de vista sobre o tema
apontado pelo comando, o que será explicitado no tópico dessa análise referente
à organização textual e estilo linguístico. Os demais elementos das condições
de produção (papel social do interlocutor, suporte e esfera de circulação) não
foram mencionados no comando, portanto não foram referidos no texto. O papel
47
social simulado dos interlocutores não foi descrito, delimitando apenas os
interlocutores reais, ou seja, os corretores da banca. Assim também com o
suporte, não foi mencionado nenhum suporte fictício, restando apenas a folha de
redação. A esfera de circulação, por fim, foi a real, acadêmica em situação de
avaliação.
Os comandos da prova de vestibular, como dito, passaram a incorporar
elementos simulados das condições de produção como forma de orientar os
candidatos e aproximar o gênero de sua esfera de circulação real. No caso em
que esses são apontados no comando, sugere-se ao candidato que tenha-os
mente ao produzir seu texto. Se, por exemplo, no comando dessa prova fosse
simulado que os leitores do artigo seriam os colegas de sala ou que o suporte
seria uma revista de circulação nacional, o candidato deveria adequar seu
discurso, como vocabulário e argumentos, a cada situação específica. Um texto
que circula no jornal escolar e aquele que circula nacionalmente não costuma
ser produzido da mesma forma. O mesmo com o papel social do produtor. Se
quem escreve é um advogado, seus argumentos devem ser condizentes com
esse papel.
Quanto ao tema, o escolhido pela equipe de elaboração da prova foi de
caráter polêmico, um tema que foi bastante debatido pela esfera jornalística em
2014, o que condiz com o que até aqui foi mencionado acerca do conteúdo
temática do gênero. O candidato respeitou o tema e posicionou-se diante dele,
uma vez que o comando solicitava adotar uma posição contrária ou favorável.
Esse é outro aspecto que deve ser atentado pelo candidato: se o comando
solicita uma posição, ele deve-se posicionar. Um erro comum que deve ser
evitado é a tentativa de defender os dois lados da problemática. Nessa redação,
o candidato deixou clara sua posição contrária no trecho “considero essa prática
inconstitucional, conturbadora”. Ele só mencionou a posição favorável aos
rolezinhos para rebatê-la, para argumentar o porquê de não concordar com o
movimento.
48
pelo título, elemento característico e, como determinado no comando,
obrigatório, nomeando seu texto de “Rolezinhos e direito ao lazer”. Em seguida,
iniciou o primeiro parágrafo com uma breve e objetiva contextualização sobre a
temática, também elemento prototípico do gênero e a forma mais indicada para
iniciar o texto.
Analisado como movimento social por uns e baderna por outros, o rolezinho é
o encontro de jovens da classe baixa em shoppings.
49
argumentação e sugere-se aos candidatos que a façam na produção do artigo e
demais gêneros argumentativos.
50
produtor deve apresentar soluções reais para a problemática. Já no artigo de
opinião, a tentativa de conciliação é um recurso argumentativo para atenuar a
diferença de posições, como no caso apresentado, em que o candidato propõe
uma solução apenas para reforçar seu argumento e eximir um grupo social da
responsabilidade sobre os problemas enfrentados pelas classes mais baixas.
O candidato conclui o seu texto retomando toda a sua argumentação. Ele
demonstra solidariedade aos problemas enfrentados pelos jovens de classe
social mais baixa, mas reforça sua posição contrária. Por fim, retoma sua
proposta de conciliação para concluir o seu artigo, valendo-se da máxima dos
direitos iguais.
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Dos elementos linguísticos apontados por Hila (2008), quatro deles se
destacam na redação selecionada. Dois deles são o discurso em terceira pessoa
e o uso do tempo verbal do presente do indicativo. Ao longo de todo o artigo, o
candidato utilizou a primeira pessoa do singular apenas na explicitação da sua
tese. No restante do texto, predomina o uso da terceira pessoa flexionada no
presente do indicativo, como nas afirmações “os shoppings são conhecidos
como locais seguros e protegidos, destinados a compras e lazer” e “os rolezinhos
são contra, digo, contrários aos direitos da Constituição, sejam individuais sejam
coletivos”.
Em Projeto de Iniciação Científica realizado com base nos cinquenta
melhores artigos de opinião produzidos na prova de redação do vestibular,
entretanto, notou-se a presença numerosa de textos com predomínio da primeira
pessoa do singular e maior ainda o número de produções em que a primeira e a
terceira pessoa são utilizadas de forma equivalente. A utilização de formas
verbais pretéritas também foi grande. Portanto, fica à escolha do candidato a
pessoa do discurso e o tempo verbal que predominará no texto, de acordo com
o grau de pessoalidade que ele deseja imprimir ao artigo e o tipo de argumento
que será construído.
Uma marca linguística bastante característica foi a presença de
operadores argumentativos para introduzir argumentos e organizar o texto. Na
redação, destacam-se os operadores argumentativos oposição de ideias
contrárias, como “porém”, “entretanto”, “contudo” e “mas”. Há também a
presença do operador argumentativo “além disso”, que soma o segundo
argumento ao primeiro. Os operadores argumentativos são variados e sua
utilização varia conforme o nível de argumentação do produtor. Seu uso, porém,
é indispensável na produção de um bom artigo.
Outro traço argumentativo linguístico-discursivo é a presença dos
modalizadores. Na redação do candidato nota-se o uso do modalizador “é
lamentável”, forma que demonstra subjetividade, uma avaliação do produtor
acerca da situação ou fato a que se refere o modalizador. O uso do verbo “dever”,
em duas passagens do texto, também caracteriza modalização do discurso pelo
produtor, indicando a necessidade, a obrigatoriedade de que certa ação ou
situação aconteça como proposto. Também a modalização varia conforma as
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escolhas linguísticas do produtor do texto e seu desejo de demonstrar
apreciação, opinião acerca de fatos e situações, sendo outras possibilidades as
formas “é preciso”, “é necessário” e similares, além de formas adverbiais como
“possivelmente”, ”provavelmente”, “necessariamente”, “felizmente”,
“naturalmente” e similares.
Outros elementos, como a presença de citação, de discurso relatado
indireto e de verbos introdutórios de discurso relatado não foram utilizados nesse
artigo em razão, novamente, das escolhas do candidato. Como esse não
argumentou a partir, por exemplo, do argumento de autoridade, não houve
citação, assim como não houve discurso relatado pelo produtor não ter elaborado
um argumento como o de ilustração ou de analogia em que relatasse uma
situação pessoal. A ausência de figuras de linguagem, sobretudo a ironia, é
motivada pela didatização do gênero pela esfera avaliativa, a qual aproxima as
características do artigo de opinião àquelas do texto dissertativo-argumentativo.
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