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THERASUIT E PEDIASUIT: RECURSO TERAPÊUTICO APLICADO EM CRIANÇA

COM PARALISIA CEREBRAL


Therasuit and Pediasuit: and therapeutic resource applied on child with Cerebral
Palsy

Delidia Silva de oliveira Barbosa¹, Claudini Bastos Arthuso²

1. Filiação institucional/Pós-graduanda em curso de pós-graduação em Fisioterapia


Neurofuncional Adulto e Pediátrica (Unidade/ Inspirar/ Bauru/ SP/ Brasil)
delidia.fisio@gmail.com

RESUMO

Introdução; a Paralisia Cerebral (PC) é uma das principais causas de incapacidade


crônica na infância tendo como sequela desordens motoras geralmente associadas aos
distúrbios de sensibilidade, percepção, cognição, comunicação e comportamento.
Atualmente são inúmeras abordagens de tratamento disponíveis aplicadas para reabilitação
desses pacientes. Um dos protocolos mais aplicados atualmente encontram-se o Therasuit
e o Pediasuit. Objetivo; revisar na literatura atual o efeito dos recursos terapêuticos
Therasuit e Pediasuit quando aplicados em criança com PC, tais como evolução da resposta
motora, coordenação motora e marcha Metodologia: Foi realizada revisão de literatura por
meio de pesquisa em base de dados na internet. Resultados; os métodos Therasuit e
Pediasuit mostraram-se eficazes em criança com PC, apontando melhora da função motora
grossa, postura e marcha. Conclusão: Therasuit e Pediasuit foram apontados como um
importante recurso terapêutico quando associados à terapia intensiva e a gaiola funcional,
contudo novos estudos são necessários.

Palavra-chave: Paralisia Cerebral, Therasuit. Pediasuit, Veste terapêutica

ABSTRACT

Introduction; Cerebral Palsy (CP) is one of the main causes of chronic disability in
childhood, with motor disorders generally associated with disorders of sensitivity, perception,
cognition, communication and behavior. There are currently numerous treatment approaches
available for the rehabilitation of these patients. One of the most applied protocols today is
Therasuit and Pediasuit. Objective; to review in the current literature the effect of Therasuit
and Pediasuit therapeutic resources when applied to children with CP, such as evolution of
motor response, motor coordination and gait Methodology: A literature review was carried
out by means of a database search on the internet. Results; the Therasuit and Pediasuit
methods were shown to be effective in children with CP, showing improvement in gross
motor function, gait and posture. Conclusion: Therasuit and Pediasuit were identified as an
important therapeutic resource when associated with intensive care and the functional cage,
however, further studies are needed.

Keyword: Cerebral Palsy, Therasuit. Pediasuit, Therapeutic garment


1 INTRODUÇÃO

A paralisia cerebral (PC) ou encefalopatia crônica não progressiva é


caracterizada pelo déficit de postura e movimento, devido à lesão no encéfalo ainda
em desenvolvimento. Esta lesão pode acometer o cérebro em qualquer fase do
desenvolvimento, podendo ocorrer durante os períodos pré, peri e pós natal, devido
a fatores, tais como anóxia e hipóxia (POSSEL, et al. 2018).
A PC afeta as funções neuromusculares, esqueléticas e neurossensoriais,
gerando diferentes tipos de incapacidade, dependendo da distribuição topográfica
gerada pela lesão (SERRANO-GÓMEZ, et al. 2016). As alterações motoras e a
gravidade do distúrbio variam conforme o grau da lesão do encéfalo, ocasionando
disfunções mais leves até casos mais graves e incapacitantes (BUDTINGER, et. al.
2018).
Em relação à topografia, a PC pode ser classificada em hemiplegia, com
comprometimento em somente um hemicorpo; diplegia, com comprometimento nos
membros superiores e inferiores, sendo os membros inferiores mais acometidos; e
tetraplegia ou quadriplegia, que acomete globalmente os membros superiores e
inferiores (MENEGASSI, et al. 2019). Quando há comprometimento extrapiramidal, a
distonia, a atetose e a ataxia podem estar presentes como principais distúrbios do
movimento. Quando a lesão acomete o sistema piramidal, a espasticidade é a sua
principal manifestação clínica, representando 75% do total de casos registrados
(MENEGASSI, et al. 2019).
Tendo em vista que o quadro clínico da criança com PC é composto por
hipotonia axial (principalmente de tronco) e espasticidade na musculatura
apendicular (membros) o controle adequado do tronco é um dos principais
envolvidos no processo de diagnóstico e reabilitação de pacientes neurológicos
(NEVES, 2013).
A presença de comorbidades tais como, persistência dos reflexos primitivos
sialorréia, disfagia, dificuldade de comunicação através da fala, diminuição da
coordenação motora global e fina tem como consequência a presença de déficit no
desenvolvimento das habilidades funcionais e interferem nas aquisições e
desempenho de marcos motores básicos como o rolar, sentar, engatinhar e andar
(DE OLIVEIRA, et al. 2018).
Embora a patologia de base não tenha caráter progressivo, as manifestações
clínicas podem mudar ao longo da vida. Durante o curso da doença pode se
acentuar a debilidade das funções do corpo e estruturas, entre elas, diminuição da
força muscular, mobilidade articular, controle motor e mau alinhamento, o que
acarreta em limitação de suas habilidades e funções além de comprometer o
desenvolvimento adequado de posturas e movimento (BAILLES, et. al. 2010).
Nesses casos a fisioterapia atua com objetivo de melhorar os padrões de
movimento e aperfeiçoar a capacidade funcional da criança (BAILLES, et. al. 2011).
Desta forma, durante o processo de reabilitação é importante que o terapeuta
promova alinhamento corporal afim de que a criança experencie movimentos
próximos aos normais, diminuindo assim a interferência de padrões patológicos de
movimento (NEVES, et. al. 2013).
Os protocolos de Terapia Neuro Motora Intensiva (TNMI) Therasuit e
Pediasuit, são métodos baseados em princípios tais como treino de força em
crianças típicas ou seja, é um programa estruturado com o intuito de promover o
crescimento e o desenvolvimento da criança (AZEVEDO, 2014).
Esse método teve origem nos Estados Unidos da América, onde a criança
participa de um programa intensivo de fisioterapia e nele faz uso de uma veste
ortótica conhecido como Método Therasuit®. Tal veste foi elaborada baseada nas
vestes dos astronautas russos, na época criada para combater os efeitos negativos
da falta de gravidade. Nos anos 90 esse vestuário foi criado e usado em crianças
com disfunções neuromusculares (DE OLIVEIRA, et. al. 2019), porém somente em
2002 foi desenvolvido e registado na “FDA” (Food and Drug Administration) em
Michigan (USA), pelo casal Izabela e Richard Koscielny, fisioterapeutas e pais de
uma criança com Paralisia Cerebral (AZEVEDO, 2014).
O método e a vestimenta visam manter o alinhamento corporal durante a
execução dos exercícios. O alinhamento se dá por meio de cordas elásticas presas
ao traje (órtese proprioceptiva dinâmica, chamada de “suit”) através de ganchos. Os
exercícios intensivos têm como objetivo desenvolver a motricidade, força muscular,
equilíbrio, coordenação motora e flexibilidade (DA SILVA, et. al. 2014). Também
desempenha um papel fundamental na função sensorial e vestibular, bem como na
adequação dos tônus.
Os protocolos de atendimento são divididos em três partes: o sistema de
polias, a veste e o spider, realizados na Universal Exercise Unit (UEU) ou “gaiola
(MELLÒ, et al. 2017). A terapia ocorre dentro de uma gaiola de metal tridimensional,
as cordas elásticas utilizadas permitem a criança segurança e equilibro para
trabalhar em diversas posturas (PIOVEZANI, et al. 2017).
O protocolo do método “Therasuit” é descrito como sendo um programa típico
de exercício intensivo efetuado de 3 a 4 horas por dia, 5 dias por semana, durante 4
semanas (MÉLO, et al., 2017). Na 1ª semana, o trabalho é focado na diminuição dos
tônus, diminuindo padrões de movimento patológicos e no aumento dos padrões
ativos e apropriados de movimento e ganho de força geral. Na 2ª semana há o
trabalho de ganho de força em grupos musculares específicos responsáveis pela
função. Na 3ª semana foca-se no aumento de força e resistência alcançadas pela
criança para melhorar o seu nível funcional ao sentar, engatinhar e andar
(AZEVEDO, 2014).
O método “Pediasuit” também descrito como um programa de terapia
intensiva visa criar uma unidade de suporte para alinhar o corpo baseado nos
padrões fisiológicos e reduzindo sinergias patológicas, restaurando as sinergias
musculares normais, cargas à musculatura antigravitacional são aplicadas afim de
modular as entradas aferentes vestíbulo-proprioceptivo. O indivíduo participa
ativamente das atividades trabalhando contra a resistência aplicada pela veste. As
atividades propostas durante as sessões regulares de fisioterapia contemplam
exercícios de fortalecimento muscular associadas a atividades funcionais. Cada
Protocolo Pediasuit contempla 4 semanas de tratamento, realizado 5 dias por
semana com 4 horas de duração por sessão/dia. 20 sessões, totalizando 80 horas
em 4 semanas (BORGES, 2012). Praticamente não existe diferença entre o método
Therasuit e Pediasuit, a não ser a nomenclatura utilizada.
O protocolo Therasuit/Pediasuit vem sendo aplicado como uma ferramenta
importante na reabilitação de pacientes com disfunções neurológicas, entretanto sua
aplicabilidade necessita de mais pesquisas para avaliação dos seus resultados.
Frente ao exposto, o objetivo do presente estudo foi revisar na literatura os ganhos
motores e funcionais após intervenção através da aplicação dos protocolos
Therasuit e Pediasuit associado à Terapia Neuro Motora Intensiva (TNMI) em
crianças com diagnóstico de Paralisia Cerebral (PC).
2 METODOLOGIA / METODO

Trata-se de uma revisão de literatura, realizada por meio de pesquisa em


dados na internet nos sites Scielo, PubMed e Google acadêmico, no período de
julho de 2019 a dezembro de 2019. Para seleção dos artigos, utilizou-se o período
de publicação específico de 2010 à 2019, com periódicos limitados as línguas
portuguesa, espanhola e inglesa, em estudos com seres humanos. Os descritores
utilizados foram: Paralisia Cerebral, Protocolo Therasuit e Pediasuit, Reabilitação
Neurológica. Critérios de inclusão, artigos cujos resumos tratavam sobre a aplicação
da Terapia Neuromotora Intensiva nos protocolos Therasuit e Pediasuit e seus
recursos aplicados em crianças com Paralisia Cerebral, sendo o foco no ganho da
função motora grossa, composição corporal, melhora da marcha e postura. Após
uma segunda leitura, consideraram-se os critérios de exclusão: os artigos que não
citavam a Paralisia Cerebral em crianças, de revisão bibliográfica e artigos de
acesso restrito. Assim, partir da estratégia de seleção foi utilizado neste estudo um
total de 26 artigos.

3 RESULTADOS

A paralisia cerebral (PC) é uma patologia com incidência de 1 a 2/1.000


nascidos vivos da população mundial segundo a OMS (Organização Mundial da
Saúde), acarretando em dificuldades motoras e funcionais que comprometem o
desenvolvimento motor e tem impacto em vários aspectos da vida da criança
(RIGHI, et.al. 2017)
Os métodos Therasuit e Pediasuit, vem sendo utilizado como recurso
terapêutico a fim de minimizar as dificuldades motoras impostas pelas doenças
neuromusculares. Buscando resultados sobre a eficácia do protocolo em pacientes
com paralisia cerebral, estudos foram conduzidos com o objetivo de levar uma visão
prática do método (CORREA, COFITO, 2015).
No estudo de caso descritivo do tipo qualitativo, de Serrano-Gomes et. al
(2016), um indivíduo de 4 anos com diagnóstico de ECNP do tipo hemiparesia
espástica à direita, nível funcional GMFCS I, discrepâncias no comprimento dos
membros inferiores e quadro clínico com padrões atípicos de movimento para a
idade, principalmente aos que se relacionavam aos determinantes a marcha. O
mesmo recebeu tratamento pelo método TNMI com o protocolo Therasuit, sendo 3
horas por dia, 4 vezes por semana durante oito semanas. Tal protocolo foi
modificado e estabelecido devido a questões particulares relacionada a família do
indivíduo estudado.
Como instrumentos de avaliação para balizar resultados da intervenção, o
GMFM e Escala de Berg foi aplicado antes e após a intervenção. Após a intervenção
foi possível observar melhora na função motora grossa, especificamente nas
dimensões D e E da escala GMFM88. Observou-se também melhora no padrão de
marcha no contato inicial e suporte de peso. Além disso, a escala de Berg foi
aplicada e constatou-se melhora do equilíbrio global.
Da Silva (2014), observou em um estudo de caso do tipo descritivo, criança
de 3 anos com diagnóstico de ECNP do tipo diplegia espástica, nível funcional
GMFCS II. A intervenção deu-se através da aplicação do protocolo de TNMI
Therasuit e o instrumento GMFM aplicado antes e depois da intervenção afim de
balizar os ganhos após processo de reabilitação. O paciente em questão mostrou
melhora do quadro motor, onde seu escore total passou de 48,47% para 53,85% na
avaliação final. A Baropometria também foi um instrumento utilizada na avaliação
inicial e final. Através deste exame é possível identificar as alterações biomecânicas
nos pés nas posições ortostática, estática e dinâmica. O resultado foi satisfatório já
que no início do tratamento o pé em plano anterior recebia carga de 58% e o
posterior 42% e ao final, pós intervenção, apresentou carga de 49% no plano
anterior e 51% no posterior. Desta forma foi possível afirmar que houve melhora de
distribuição de carga na região plantar, postura e controle motor.
No Estudo de caso de De Oliveira (2019), com indivíduo de 7 anos,
diagnóstico de ECNP do tipo quadriparesia com tônus mistos, nível GMCS IV, o
paciente foi submetido a 4 módulos de TNMI com protocolo Therasuit e intervalos de
4 meses entre eles, durante o ano de 2016 à 2017. O processo foi realizado em três
etapas: avaliação inicial, intervenção e reavaliação, em uma clínica particular -
Centro de Apoio Terapêutico - Cláudia Alcântara, localizada na cidade de Santos/SP.
O instrumento utilizado para a avaliação foi o GMFM88. Foi possível constatar que o
paciente apresentou melhora quantitativa após a aplicação do primeiro protocolo
Therasuit, tendo melhora nas dimensões B e D (sentado e em pé). O escore total
obteve aumento de 22% em sua pontuação. Após 4 meses foi submetido a segundo
módulo de TNMI Therasuit. O escore total da avaliação inicial foi de 38 pontos e 39
pontos na avaliação final (3,8% de aumento), obtendo melhoras significativas nas
dimensões B e C. No terceiro módulo de TNMI Therasuit, aplicado no ano de 2017,
o escore total da avaliação foi de 42 pontos na avaliação e 41 pontos na reavaliação,
ou seja, diminuição de 4,2%. Nas dimensões A (deitar e rolar) e E (andar, correr e
pular) houve aumento da pontuação, porém houve diminuição nas dimensões B e C.
Foi analisado ainda um laudo médico em que relata que A.C.S teve infecções de
vias aéreas superiores durante o período deste protocolo, o que pode ter interferido
de forma negativa nos resultados finais do terceiro protocolo em relação ao
segundo. Após 4 meses foi submetido ao quarto protocolo, onde obteve um escore
de 43 pontos na pré avaliação e 45 pontos na avaliação final (8,6% de aumento).
Neste protocolo houve melhora nas dimensões A e D (em pé). A pontuação total das
quatro intervenções as quais o paciente foi submetido mostraram melhora de 43, 4%
na pontuação total, já que os escores passaram de 31 para 45 pontos de escore
total. Pode-se afirmar através da avaliação dos resultados do GMFM que a criança
submetida a intervenção baseada no método Therasuit apresentou melhora da
coordenação motora grossa.
O estudo relatou que foram observados efeitos positivos nas aquisições da
função motora da criança com PC, em que obtiveram melhora na pontuação do
instrumento GMFM nas dimensões A (deitar e rolar), B (sentar), D (em pé) e na E
(andar, correr e pular) que se mantiveram ou aumentaram até a última aplicação do
quarto módulo, evidenciando um aprendizado motor das tarefas realizadas na
intervenção.
Já Piovezani (2017), também em estudo de caso, uma criança de 6 anos e 7
meses, com diagnóstico de ECNP (atrofia cerebelar) do tipo ataxia, nível funcional
GMFCS III, submetida a intervenção com o método de TNMI com protocolo
Pediasuit, relatou aumento do escore total quando avaliada pelo instrumento
GMFM88, sendo mais evidente na dimensão D (em pé) escore inicial 43,6% e final
69,23%, com aumento de 25,36% após intervenção.

Neste estudo, além de aplicado o GMFM também foi utilizado o instrumento


QCC – Questionário do Cuidador da Criança, aplicado em forma de entrevista aos
cuidadores. A criança avaliada apresentou bons resultados na coordenação motora
grossa. Os domínios avaliados que apresentaram melhora foram os relacionados a
posicionamento e transferência, já nos itens relacionados a cuidado pessoal o
escore manteve-se o mesmo antes e após intervenção. As modificações sutis no
QCC não podem passar conclusões concretas em relação à percepção do cuidador.
A mãe da criança respondeu o questionário (QCC) referindo melhora discreta,
relatando ser mais fácil retirá-la do carro após o tratamento. Tal fato reflete a
melhora na capacidade da criança em ficar em pé.

Menegassi, et al. (2019), relatou a melhora do alinhamento corporal e a


informação sensorial proveniente do Pediasuit. Neste estudo observou-se que houve
melhora na estabilidade proximal e distal em crianças com ataxia e discinesia após o
uso de uma vestimenta de lycra por um período de seis horas diárias, durante seis
semanas. Tal fato ajuda na organização motora promovendo melhorar da
estabilidade da criança.

Por sua vez, Azevedo (2014) em estudo de caso, com um paciente de 3 anos,
com diagnóstico de ECNP do tipo tetraparesia espástica, GMFCS nível IV, avaliada
pelo instrumento GMFM88, destaca que após o término do protocolo do método
Therasuit, verificou-se aumento de percentil na dimensão A- (deitar e rolar) de
27,45%, para 43,13%.

Em estudo de caso realizado por Baille et. al. (2010), com duas crianças com
8 (indivíduo 1) e 7 anos (indivíduo 2) de idade, ambas diagnóstico de ECNP do tipo
diplegia espástica e classificadas com nível GMFCS III foram submetidas ao método
Therasuit. Cada criança apresentava objetivos funcionais distintos, deste modo o
participante 1 tinha como objetivo deambular sem o meio auxiliar (muleta
canadense) na comunidade e adquirir maior independência nas tarefas de
autocuidado, melhorando sua independência nas AVDs. O participante 2 tinha como
objetivos funcionais levantar-se do chão e deambular sem bastão a curtas
distâncias.
O desempenho motor das crianças que receberam a intervenção foi medido
pelo instrumento PEDI, GMFM (dimensões D e E) e análise tridimensional da
marcha. O instrumento PEDI tem por finalidade avaliar aspectos funcionais do
desenvolvimento em três áreas de desempenho: auto-cuidado, mobilidade e função
social. Tal avaliação foi realizada por meio de entrevista com pais/cuidadores aptos
a fornecer informações relacionadas ao desempenho da criança em casa. O
indivíduo 1 obteve melhora de 5% em seu escore no domínio de auto cuidado e
habilidade funcional. Já o indivíduo 2, obteve melhora de 1,1% no escore
relacionado ao domínio auto cuidado e habilidade funcional.
O resultado do instrumento PEDI sofre interferência da grande expectativa
dos pais (cuidadores) o que pode influenciar no resultado final da intervenção. As
famílias relatem diferenças mais visíveis, mas não pontuam mudanças mais sutís.
Avaliados pelo instrumento GMFM, dimensões D e E, o indivíduo 1, mostrou
melhora nas dimensões D (em pé) (escore inicial de 74% / escore final 77%) e E
(andar, correr e saltar) (escore inicial 56% /escore final 57%). O indivíduo 2 obteve
melhora apenas na dimensão D (em pé) (escore inicial 59% / escore final 64%). Os
escores obtidos nas dimensões D e E, não foram tão grandes como o esperado pelo
terapeuta, Após intervenção houve uma ligeira melhora no quadro geral global, nas
habilidades funcionais e na força. Não houve mudança a nível GMFM 66. Para
quantificar alterações e desempenho da marcha e padrões de movimento, o analise
tridimensional da marcha registrou o movimento durante a caminhada, pré e pós o
programa de TNMI. O fortalecimento muscular obtido através do método
proporcionou um melhor desempenho da marcha, aumento da velocidade da
marcha (alteração de até 0,18 m / s28), aumento da cadência (aumento de 6 e 8
passos / min6,28), melhora da velocidade de cadência, simetria, movimento articular
e postura.
No em tanto Neves (2012), em um estudo de caso, com uma criança diplégica
espástica e nível funcional GMFCS II, também se mostrou promissor. Neste caso foi
aplicado o protocolo do método Pediasuit por 70 horas, buscando identificar a
evolução neuromotora e melhora da marcha. Os métodos de avaliação utilizados
foram o GMFM para quantificar a capacidade motora, a goniometria do tornozelo
para determinar a ADM articular e o DEXA para avaliar a composição corporal.
Todos os instrumentos foram aplicados antes e após a intervenção.
Os resultados encontrados foram de melhora do percentual do GMFM com
escore inicial 66% e escore final 77,2% pós intervenção, com aumento de 11,2% na
pontuação total. Já o instrumento DEXA mostrou aumento de massa gorda (total -
0,093), aumento de 0,453 de massa magra e aumento de 0,005 de massa óssea.
Os exercícios intensos com contrações musculares durante a terapia promoveram
crescimento da massa óssea aumentando sua densidade, e diminuição da
densidade mineral óssea (DMO). A Goniometria mostrou bons resultados com
aumento da ADM bilateral de tornozelo. Este estudo pode afirmar que houve
melhora significativa na função motora, composição corporal e amplitude de
movimento de tornozelo em resposta ao protocolo Pediasuit. Tal resultado gerou
impacto positivo na marcha do paciente, apresentando melhora clínica importante
nos aspectos: tempo de marcha (inicial 5 minutos e final 30 minutos) e velocidade de
marcha; inicial em 1 quilômetro por hora e posterior ao tratamento em 1,6
quilômetros por hora.
Budtinger (2018) relata um estudo de dois casos, ambos com diagnóstico de
PC, sendo J.S (9 anos) apresentando quadro de tetraparesia espástica GMFCS III, e
R.P. (5 anos), diparesia espástica, GMFCS II. O estudo foi realizado na APAE/RS –
na cidade de Porto Alegre onde foi aplicado o método Pediasuit como modalidade
de tratamento. Ambos obtiveram melhora da função motora grossa que foi avaliada
através do instrumento GMFM. O primeiro indivíduo apresentou melhora em todas
as dimensões do GMFM além da melhora da pontuação total que passou de 43,82
para 56,24 Já o segundo indivíduo submetido ao método de tratamento intensivo,
melhorou as dimensões B, D e E, obteve escore total inicial de 80,29 e escore total
de 85,08 pontos na avaliação final. Os resultados apontam que houve melhora de
12,42% (J.S.) e 4,79% (R.P.) no escore total dos indivíduos que foram submetidos
ao protocolo, mostrando melhora no desempenho motor. A TNMI associada ao
Pediasuit, promoveu um estímulo aferente sobre o sistema nervoso proprioceptivo,
procurando recuperar o atraso motor decorrente da PC.
Em estudo com criança com tetraparesia espástica, nível funcional GMFCS
IV, Azevedo (2014) relata que obteve melhora somente na dimensão A com
aumento no escore final de 15,68%. Nas outras dimensões o escore manteve-se
devido ao nível de comprometimento motor (nível IV).

No em tanto Melo, (2017), em um estudo retrospectivo, analisou três anos de


prontuários e registros médicos de um Centro Brasileiro de Referência em Terapia
Neuromotora Intensiva (TNMI) que utiliza o protocolo Therasuit. As crianças foram
classificadas funcionalmente através da escala GMFCS e seu desempenho motor
avaliado através do GMFM. Com base nos dados em prontuário foram selecionadas
53 crianças, entre 1 e 15 anos de idade e diagnóstico médico de ECNP. A maioria
das crianças (43,40%) apresentavam comprometimento motor grave, sendo
classificadas como nível GMFCS V. Das 53 crianças 39,62% apresentavam
tetraparesia espástica e 35,85% diparesia espástica. As 53 crianças foram
submetidas a 3-4 horas por dia, 5 vezes por semana, por um período de 4 semanas,
com um total de 60 a 80 horas de exercício por módulo. Destas 53 crianças, 43
completaram 2 módulos. Não houve correlação entre idade e desempenho motor
obtido através do GMFM, Considerando que neste estudo a maioria da amostra
incluiu crianças com GMCS IV e V, o maior efeito observado nelas pela aplicação do
método de tratamento foram nas dimensões A (deitar e rolar), com melhora de
18,65% no primeiro módulo de atendimento e de e B (sentar). No primeiro módulo a
dimensão A (escore inicial 55,85% / escore final 77,45%) e B (escore inicial 19,16% /
escore final 22,50%), e sendo no segundo módulo na dimensão A (escore inicial
74,5% / escore final 84,31%) e B (escore inicial 23,33% / escore final 25%).

Esses resultados confirmam os efeitos positivos do TNMI e podem refletir a


interferência do fator idade nas possibilidades de ganhos motores. No primeiro
módulo, crianças de menor idade tiveram melhores resultados no GMFM.
Considerando que a maioria da amostra tem menos de 7 anos, a partir dessa idade
ocorre o que chamamos de “platô funcional”.
O tratamento com o protocolo Pediasuit, potencializa a função motora grossa
de criança com PC, relata BORGES (2012), após um estudo que analisou 8
prontuários da Clínica Criar, na cidade de Brasília entre março de 2011 e março de
2012. A amostra composta por oito crianças com idade entre 3 e 10 anos, com
diagnósticos de ECNP, topografia e quadro clínico (ver tabela 1, e classificação
GMFCS níveis II, III e IV.

CRIANÇA SEXO IDADE GMFCS TIPOS DE PC E ALTERAÇÕES:

TOPOGRAFIA MOVIMENTO
1 F 8 III DIPLEGIA ATETÓIDE
2 M 4 IV QUADRIPLEGIA MISTA
3 M 5 IV QUADRIPLEGIA ESPÁSTICA
4 M 3 III QUADRIPLEGIA ESPÁSTICA
5 M 6 II HEMIPLEGIA ESPÁSTICA
6 M 10 III QUADRIPLEGIA MISTA
7 M 9 II DIPLEGIA MISTA
8 M 6 III QUADRIPLEGIA ESPÁSTICA
Tabela 1 – Caracterização das crianças estudadas
As mesmas foram classificadas pelo GMFCS. Para avaliação da evolução dos
pacientes foi utilizado o instrumento GMFM afim de avaliar e mensurar a capacidade
motora das crianças com PC e detectar suas principais alterações. Todos (8
prontuários) obtiveram ganho no desempenho da função motora grossa geral,
mudanças em três das cinco dimensões, A (sentar), B (sentar), C (engatinhar,
ajoelhar). Da amostra com 8 crianças, 3 se destacaram com evoluções expressivas
(paciente número 5, 7 e 8) O paciente número 5 (hemiplegia espástica nível II
GFMCS) obteve o melhor resultado em todas as dimensões A, B, C, D, E, com
escore inicial total 73 e escore 83 após intervenção com ênfase na dimensão E
(escore inicial 44 e 65 escore final, 21% de aumento), paciente número 7 (diplegia
mista nível II) escore inicial 57 e escore final 67 totais, sendo o maior ganho na
dimensão C, passando de escore 15 inicial para escore final de 35, com melhora de
21%, e paciente número 8 (quadriplegia espástica nível III) com escore inicial 59 e
escore final 67 totais, sendo destaque na dimensão C escore inicial 71 e escore final
85, melhora de 14%. Os participantes obtiveram uma melhora estatisticamente
significativa após o uso do protocolo de TNMI Pediasuit, na função motora grossa,
com variação média do escore final de 53,08% para 55,14%.
De Oliveira (2018) relata em um estudo observacional longitudinal de caráter
quantitativo, onde 13 crianças com diagnóstico de ECNP foram avaliadas através do
instrumento GMFM e DEXA e submetidas a tratamento pelo protocolo Pediasuit.
Destas, 7 apresentavam quadro de quadriplegia e 6 eram diplégicas. O tratamento
fisioterapêutico foi traçado e aplicado de acordo com as necessidades de cada
indivíduo, estabelecidas por meio de metas funcionais observadas na avaliação da
GMFM-88. Após a intervenção. Os pacientes quadriplégicos apresentam ganhos
significativos no score GMFM88 na dimensão A- (deitar e rolar) com p= 0,017 total,
B- (sentar) p= 0,043 total. Os diplégicos apresentaram ganhos significativos na
dimensão D- (em pé) com p=0,043 total, com prováveis repercussões positivas
sobre composição corporal.

Em comparação dos ganhos percentuais do GMFM entre os dois grupos


(diplégico e quadriplégico), houve diferença estatisticamente significativa na
dimensão A do GMFM, na qual os quadriplégicos tiveram ganhos superior aos
diplégicos nesta dimensão. Com os resultados obtidos com a TNMI Pediasuit, De
Oliveira afirma que o método é seguro para obtenção de ganhos na função motora e
manutenção, melhora a composição corporal.
A diferença de achados entre os grupos pode ser justificada pelo fato de o
grupo diplégico já tinham previamente experimentado estas posturas mais baixas,
partindo de valores mais elevados, ou seja, já havia ocorrido um aprendizado e
desempenho nestas atividades por parte deste grupo, as quais foram aprimoradas
durante o módulo.
Neves (2013) em estudo observacional longitudinal no centro de pesquisa
Vitória de Curitiba - PR. Fizeram parte deste estudo 22 crianças com idade entre 3 a
8 anos, com diagnóstico de ECNP, classificados pela GMFCS entre os níveis II e V.
Essa população recebeu intervenção pelo protocolo Pediasuit e foram avaliados pelo
GMFM e eletrogoniometria afim de identificar oscilações de tronco.
Como resultados das avaliações GMFM inicial e final, os escores totais
passaram de 33,71% para média de 41,32% de escore final após intervenção.
Observou-se que as 22 crianças obtiveram melhora quantitativa na dimensão A
(Deitar e Rolar) que teve média de escore inicial de 56,14%, passando para 66,96%
ao final do tratamento.
Já Possel (2018) em ensaio clínico prospectivo longitudinal quantitativo no
Centro de Reabilitação Neuromotora Vitória na cidade de Curitiba-PR. Neste estudo
foram avaliadas com 23 crianças de ambos os sexos, com idade de 2 à 12 anos e
níveis GMFCS II, III, IV e V. A maior parte das crianças avaliadas pertencem ao nível
GMFCS V (83%), duas crianças com GMFCS IV (9%), uma criança com GMFCS III
(4%) e uma com GMFCS II.

Idade N° DE CRIANÇAS (%) TOPOGRAFIA GMFCS

18 (78%) QUADRIPLEGIA V (83%)


2 à 15 ESPÁSTICA IV (9%)
Anos III (4%)
5 (22%) DIPLEGIA II (4%)
ESPÁSTICA
Tabela 3 – Caracterização das crianças estudadas
Após ser submetidas a TNMI com protocolo Pediasuit, os resultados
apresentaram diferença nas dimensões A (escore inicial 51% / escore final 63%) e B
(escore inicial 13,3% / escore final 15%) da GMFM, proporcionando evolução no
desempenho motor grosso das crianças da amostra. No estudo de Possel (2018),
não houve a avaliação sequente dos módulos realizado pelas crianças, apenas um
único módulo foi estudado, sem considerar o histórico da realização da TNMI por
esses pacientes. Isso possivelmente justifica o pouco ganho motor nas dimensões
C, D e E, que incluem atividades que necessitam de maior treino motor.
Considerando a idade média da amostra sendo 6,69 anos, e o grau predominante de
nível V (GMFCS).
Da Silva (2014), em seu estudo relata que, a terapia com roupa elástica na
diplegia espástica, sua utilização promove estímulos proprioceptivos e no sistema
nervoso, que favorecem a restauração do atraso no desenvolvimento motor da
criança.
Segundo Neves (2013), em seu estudo sobre a TNMI no controle de tronco de
crianças com PC, sendo níveis entre II e V (GMFCS), seus resultados foram
pequenos, pois controle postural, a evolução para sentar-se e a marcha são
adquiridas após o terceiro mês em diante. De Oliveira (, em seu estudo de caso,
com uma criança de 7 anos, Quadriplégica e tonos mistos, foram aplicados 4
protocolos de Therasuit, com intervalos de 4 meses entre eles, houve um aumento
nas pontuações do GMFM entre os protocolos. Comprovando que a atividade
intensa e prolongada surge maior efeito e tem um papel importante no aprendizado
motor.

4. DISCUSSÃO

A influência gerada pelo método Therasuit, aplicada intensivamente no


tratamento de indivíduos com PC tem um papel importante na neuroplasticidade
produzindo mudanças e crescimento nas estruturas neurais, levando a um melhor
desempenho funcional que perdura por alguns meses após a realização da atividade
motora intensa. O método Therasuit enfatiza não apenas a ativação muscular
seletiva, mas também atividades funcionais e de transição que exigem a
coordenação de vários segmentos e articulações do corpo (AZEVEDO, 2014).
No entanto Possel (2018), relata que as mudanças na coordenação motora
dos pacientes que utilizam os métodos Therasuit/Pediasuit explica-se devido a três
conceitos: o efeito da roupa elástica gera uma tensão resistida nos músculos que
acarreta em aumento da propriocepção e alinhamento biomecânico; o treinamento
das habilidades motoras; e a participação motora ativa do paciente durante a
terapia, com treinamento muscular, movimentos concêntricos e excêntricos trazem
ganhos na performance funcional, força muscular e habilidades motoras.
De acordo com Da Silva (2017), o método Therasuit apresenta bons
resultados, algo que foi observado nos estudos, principalmente quando o mesmo
está associado à terapia intensiva e a gaiola funcional. Desta forma, uma vez que o
corpo esteja em alinhamento, com o suporte e pressão exercida em todas as
articulações, a terapia intensiva tem o propósito de reeducar o cérebro para
reconhecer padrões de movimentos corretos e a atividade muscular adequada. Tal
condição, considera que o indivíduo com distúrbio neurológico realiza movimentos
estereotipados com ambas as extremidades (superior e inferior) devido ao tônus
musculares e falta de coordenação. Corrêa (2015) relata que ambos os Métodos,
Therasuit e Pediasuit, permitem o isolamento do grupo muscular desejado. Além
disso, a gaiola de metal tridimensional e as cordas elásticas utilizadas com ao traje
associado aos exercícios específicos realizados, permitem a seletividade do
movimento do paciente para isolar uma extremidade da outra e movê-la de forma
independente e funcional.
Observou-se em alguns estudos que em crianças com tetraparesia, a
instalação do quadro espástico nos membros ocorre após um período curto de
hipotonia, de modo geral entre um e três meses. Os tônus baixos permanecem no
tronco, associado à fraqueza proximal e hipertonia acentuada dos membros, o que
resulta em significante instabilidade de tronco, alinhamento inadequado e repertório
postural muito limitado (SOUZA, et al, 2014). O método Therasuit visa combater os
efeitos do desuso e da imobilização, tendo como objetivo aumentar a força e a
resistência, controlar os grupos musculares que aumentaram a sua força, permitindo
que a criança melhore as suas habilidades funcionais, visando a independência
motora. Os autores do Método descrevem-no como sendo eficaz porque diminui
padrões de movimento pobres ou patológicos, promove o aumento da força,
aumento do controle e coordenação muscular, aumento da resistência e
aprimoramento das habilidades funcionais (CORRÊA, COFFITO, 2013).
Como foi observado nos estudos, dentre os instrumentos mais utilizados para
avaliação e quantificação dos resultados obtidos antes e após intervenção pelos
métodos Therasuit e Pediasuit constam o Gross Motor Function Measure -GMFM,
Gross Motor Funcion Classification System – GMFCS (DE PINA, et, al. 2017).
A influência gerada pelo método Therasuit, aplicada intensivamente no
tratamento também promove progresso nas diferentes fases da marcha, função
motora e padrões fundamentais, o que se reflete nos resultados da avaliação final
pela GMFM88 (SERRANO-GOMES et. al. 2016). Resultados semelhantes mostrou
Bailes (2010), a outros estudos onde observou-se melhora significativa nos escores
do instrumento GMFM quando aplicado nas crianças que realizaram terapia
intensiva com a veste. Através do estudo também foi possível constatar que após os
intervalos de quatro meses (fase de manutenção) entre as aplicações da terapia
intensiva, não houve declínio e sim melhora no escore total.
Piovezani (2017), afirma que alguns estudos podem apresentar problemas em
relação aos resultados obtidos após intervenção pelo método TNMI. Tais problemas
incluem a avaliação da função motora apenas pelo GMFM que pode não ter sido o
método mais eficiente para detectar todos os ganhos motores do paciente, pois
instrumentos para avaliação do equilíbrio e a análise da marcha poderiam detectar
mudanças mais sutis, porém importantes para a funcionalidade.
Por esse motivo, são utilizados outros recursos, a fim de verificar a eficácia e
a qualidade do movimento com objetivo de mensurar resultados funcionais obtidos
após intervenção baseada nos conceitos da TNMI, como avaliação da composição
óssea corporal, e a medida da massa óssea do conteúdo corporal de gordura e
massa magra (CHAVES, et al. 2018).
A influência gerada pelo método Therasuit, aplicada intensivamente no
tratamento promove progresso nas diferentes fases determinantes da marcha,
função motora e padrões fundamentais (SERRANO-GOMES, et. al. 2016). Para a
análise da marcha nos estudos mencionados utilizou a Dual-energy X-ray
Absorptiometry (DEXA), a Baropometria, também é uma forma de mensurar ganhos,
através da plataforma que visa detectar alterações posturais na posição estática,
disfunções no equilíbrio e estabilidade (DA SILVA, et. al. 2014).
Azevedo (2014), relata que dentro das principais vantagens do método
Therasuit encontra-se a estimulação tátil proprioceptiva em todo o corpo,
proporcionada pelo uso da vestimenta durante a realização das atividades que atua
diretamente no sistema sensorial auxiliando a resolução de problemas com origem
motora. Além do estímulo tátil, também é possível a adequação da contração
muscular proporcionado pelo alinhamento corporal que fornecerá informações
adequadas para a execução de uma função a ser aprendida (AZEVEDO, 2014).
Geralmente a criança com déficit neuromotor usa mecanismos compensatórios para
superar o poder da gravidade. Assim, a repetição na realização dessa compensação
cria desequilíbrios musculares, deformidades, aumento da hipertonia e prejudica a
funcionalidade da criança (FORTI-BELLANI, et. al. 2011), já que a postura corporal
engloba alguns conceitos de equilíbrio, coordenação neuromuscular e adaptação, as
respostas posturais automáticas são reguladas de acordo com as necessidades de
interação entre os sistemas de organização postural (equilíbrio, neuromuscular e
adaptação) e o meio ambiente (DA SILVA, et. al. 2014).
Os protocolos Therasuit e Pediasuit, facilitam a reabilitação nos distúrbios
neurológicos em criança com PC, que manifesta sintomas como diminuição de
amplitude de movimento, fraqueza muscular, dificuldades no movimento contra a
gravidade, manutenção da postura e outras deficiências nas atividades motoras
(CORRÊA, COFFITO, 2013). Já Possel (2018) afirma em seu estudo que, essas
mudanças na coordenação motora dos pacientes que utilizam o método Pediasuit,
se dá por que o método utiliza três conceitos: o efeito da roupa elástica, que gera
uma tensão resistida nos músculos, com aumento da propriocepção e alinhamento
biomecânico, o treinamento das habilidades motoras, e a participação motora ativa
do paciente durante a terapia, com treinamento muscular, movimentos concêntricos
e excêntricos trazem ganhos na performance funcional, força muscular e habilidades
motoras.
Em um analise feito por De Oliveira (2018) relatou que, a inatividade e
dificuldades motoras podem acarretar alterações de composição corporal, com
diminuição da massa magra, principalmente nas crianças com maiores
comprometimentos motor. A TNMI pode indicar um efeito positivo na manutenção
desse parâmetro em crianças com comprometimento mais grave, provavelmente
pelo efeito ocasionado pelo treino de força. Essa pode ser uma vantagem desse
método em relação a outras formas de intervenção, além dos ganhos motores, a
TNMI favorece a composição corporal dos pacientes com ganhos significativos e
massa gorda e massa magra nos quadriplégicos, o que é extremamente relevante
ao considerar que esses pacientes podem apresentar expressivamente perdas ao
longo do tempo. Considerando que o déficit de massa magra pode ocasionar
limitação de suas funções motoras e atividades funcionais, aumentando seu grau de
comprometimento.
Bailes (2010), ao relacionar uma avaliação subjetiva do grau de
comprometimento motor com os níveis do GMFCS, observou que as crianças
classificadas com limitação leve pertenciam aos níveis I e II. Nesse sentido, verifica-
se confiabilidade no uso do GMFCS na rotina clínica, uma vez que fornece
informação precisa a respeito do desenvolvimento e do prognóstico da função
motora grossa nessas crianças.
Em relação aos níveis funcionais, os autores demonstram que não há um
consenso, para melhora do indivíduo submetido ao tratamento de Therasuit, no
estudo de Dias (2010), ele destaca que o nível funcional pode interferir nos ganhos
motores, pois as crianças quadriplégicas nível V (GMFCS) apresentam desempenho
funcional inferior em todas as dimensões, o grau de comprometimento neuromotor
interfere funcionalmente no desempenho motor. Houve semelhança no estudo de
Freitas (2019), descreve que o nível funcional pode ser um empecilho, pois quanto
maior o comprometimento motor e deficiências físicas, maior será a presença de
fatores limitantes que podem restringir a capacidade funcional, o controle voluntário
do movimento e das habilidades para manter posturas antigravitacionais de cabeça
e tronco. Todas as áreas da função motora estão limitadas, por esse motivo
apresentam efeitos mais discretos no tratamento terapêutico isso demonstra um
quadro menos favorável de habilidades funcionais ao longo do tempo, o que dificulta
ganhos mais expressivos em termos quantitativos. Comparadas a crianças com
níveis de menor comprometimento (FREITAS, 2019). Por sua vez Melo (2017)
acredita que os níveis de comprometimento contribuem para melhora, relata em seu
estudo que as alterações observadas após a aplicação do protocolo terapêutico
Therasuit em crianças com paralisia cerebral, foi eficaz na obtenção de habilidades
motoras grosseiras. Observou que a mudança é mais visível em crianças
severamente comprometidas e espástica.
De acordo com a idade das crianças avaliadas pelos estudos citados,
Rosembaum ou apud Arthuso C.B., (2014) observaram que o pico de
desenvolvimento das crianças com paralisia cerebral avaliadas por instrumento
validado (GMFM) analisando-se as curvas de desenvolvimento, ocorre por volta dos
7 anos de idade, independente do seu nível funcional (GMFCS). Tal fato pode
justificar que alguns estudos não apontam ganhos significativos em crianças
estudadas nesta faixa etária.
Desta forma, mostra-se mais eficiente o tratamento precoce já que o mesmo
tem a capacidade de iniciar ou reforçar vias motoras funcionais no começo do
desenvolvimento antes que estas caiam em desuso. A prevenção vem sempre como
primeira opção, seja esta neural ou física, sendo que o resultado final é sempre bem
mais sucedido que, corrigir mais tarde (DA SILVA, et. al. 2018).

5. CONCLUSÃO

Concluindo-se então que, através dos autores citados que, a Terapia


Neuromotora Intensiva (TNMI) utilizando os protocolos Therasuit e Pediasuit e suas
adversidades de recursos, promove o reforço muscular, resistência, flexibilidade,
equilíbrio, coordenação e o desenvolvimento motor. Trata-se de um método seguro
para obtenção de ganhos de função motora grosa e manutenção, melhora a
composição corporal e da postura. É um importante recurso terapêutico,
principalmente quando é associado à terapia intensiva e a gaiola funcional. Uma das
dificuldades encontradas foi por que o método exige a formação específica dos
terapeutas e apresenta um custo elevado para a família dos pacientes. Contudo,
novos estudos são necessários.

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