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DOS RESÍDUOS
QUÍMICOS GERADOS
EM LABORATÓRIO
DE ANÁLISES AMBIENTAIS*
A
sociedade atual vive uma crise que parece estar longe de ser resolvida:
a produção de resíduos a partir de processos industriais, agropecuári-
os e domésticos. Este pode ser considerado um problema socioambi-
ental, pois a destinação final inadequada destes resíduos com características
estudos, Goiânia, v. 42, n. 4, p. 433-448, out/dez. 2015.
foram quantificados, uma vez que estes são de uso contínuo e acabam por gerar pequena
quantidade de resíduo devido a otimização na preparação.
Para caracterização qualitativa avaliou-se previamente, o tipo de amostra coletada
(água ou efluente), os reagentes químicos utilizados como produtos de limpeza das
vidrarias e os reagentes utilizados em cada análise de acordo com o método adotado.
Os RQA não foram quantificados individualmente em termos das substâncias
presentes, mas apenas do volume final gerado compreendendo a mistura reacional e a
amostra. Neste estudo não foram caracterizadas as possíveis novas substâncias quími-
cas formadas após as interações entre os reagentes, mas apenas aquelas inicialmente
conhecidas e que são utilizadas para análise de cada parâmetro.
A caracterização quantitativa dos resíduos foi realizada mediante aferição de todo
volume (para líquidos) e massa (para sólidos e semissólidos) dos resíduos gerados nas
análises durante o período de desenvolvimento deste estudo. 435
Esta quantificação foi realizada aferindo-se os volumes e massas, utilizando-se
equipamentos volumétricos e balanças analíticas, respectivamente. Cada volume e massa
foi associado à caracterização qualitativa do resíduo gerado, possibilitando conhecer a
relação quantidade/qualidade do mesmo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
das empresas contratantes e que podem poluir o meio ambiente em caso de destinação
inadequada e sem tratamento.
Os RQA provenientes dos procedimentos de análises realizadas no laboratório
classificam-se em sólidos e líquidos, de acordo com o tipo de análise a ser realizada.
As características qualitativas e quantitativas destes resíduos variam principalmente em
função do método analítico adotado e da quantidade de análises realizadas. Um total de
25 (vinte e cinco) diferentes parâmetros de análise foram considerados para o estudo,
o que contabilizou um valor estimado de 13.308 análises anuais.
Dentro os parâmetros analisadas no LAA, os que mais se destacaram pela quantidade
realizada foram: DQO (n= 507); ferro (n= 312); alcalinidade total (n = 307); dureza
total (n= 293) e cloro (n= 279).
A primeira posição atribuída a DQO deve-se ao fato de que a mesma é um parâmetro
eficiente no controle de poluição por resíduos industriais. Ao mesmo tempo é preocupante 437
devido sua análise, apesar do LAA utilizar o método colorimétrico que reduz o volume
consideravelmente (cerca de 30 mL/amostra) frente ao método de refluxo aberto titulo-
métrico (cerca de 500 mL/amostra), requer o uso de reagente perigosos e tóxicos como
o ácido sulfúrico (H2SO4), dicromato de potássio (K2Cr2O7) e sais de mercúrio II (Hg2+).
A Tabela 3 a seguir apresenta os resultados obtidos no período de estudo considerado
de acordo com a quantidade de análises realizadas e com o método analítico adotado
para cada parâmetro considerado.
DBO Titulométrico 33
Fenol Colorimétrico 26
Nitrato Colorimétrico 85
Nitrito Colorimétrico 78
Nitrogênio amoniacal
Titulométrico 108
(Destilação)
Nitrogênio amoniacal Método de Nessler 112
OC Titulométrico 266
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OD Titulométrico 108
Sulfato Colorimétrico 79
Sulfeto Colorimétrico 71
Surfactante Colorimétrico 37
Volume
Parâmetro total de
Reagentes/Soluções
analisado resíduos
(L)
439
continua...
Volume total
Reagentes/Soluções Parâmetro analisado de resíduos
(L)
Volume total
Reagentes/Soluções Parâmetro analisado de resíduos
(L)
Amostra / Reagente Sulfaver [Cloreto de bário (BaCl2),
Sulfato 1,09
Ácido cítrico (C6H8O7)] / Solução padrão de sulfato
Amostra / Reagente Sulfide 1 [Ácido sulfúrico (H2SO4) e
Água (H2O)] / Reagente Sulfide 2 [Dicromato de potássio Sulfeto 2,32
(K2Cr2O7) e Água (H2O)]
Amostra / Azul de metileno (C16H18ClN3S) / Clorofórmio
(CHCl3) / Solução de lavagem / Ácido sulfúrico (H2SO4) / Surfactante 7,08
Hidróxido de sódio (NaOH)
TOTAL (trimestral) 306,15 L
Estimativa anual 1.224,60 L
440
Durante a realização deste estudo observou-se a geração de elevada e diversificada
quantidade de RQA líquidos (tabela 4), pois são 68 diferentes substâncias químicas, com
uma estimativa de geração anual de 1.224,60 L de resíduos. Em caso de armazenamento
para posterior tratamento, estes irão requerer 21 bombonas de 60 L.
Em relação aos resíduos líquidos (Figura 1) o maior percentual encontrado foi de
87,32% e corresponde aos resíduos líquidos provenientes de análises químicas (RQA),
já os resíduos líquidos de limpeza de vidrarias (REA) e de amostra excedente (RLV)
totalizaram 6,23% e 6,45% respectivamente do volume total gerado.
Tabela 5: Caracterização qualitativa e quantitativa dos RQA sólidos gerados na realização das análises
Tratamento e disposição
Excedente de Amostra
Do excedente de amostra as seguintes formas de tratamento são sugeridas:
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Para frascos que contém amostra de água de jusante de rio (água antes de receber
o efluente tratado) e água mineral por se tratar de água ausente de resíduos químicos
e para amostras de água tratada, água de montante de rio (água depois de receber o
efluente tratado) e efluente tratado, quando o tratamento for considerado eficiente, ou
seja, aprovado dentro dos padrões estabelecidos por lei.
Para frascos que contém amostra de água de rio conservada com ácido sulfúrico P.A (1 mL
442 de ácido para 2 L de amostra), por ser um resíduo ácido e solução diluída (MACHADO, 2005).
Incineração
Diluir até obter uma solução com 50% de água e ajustar o pH (neutralizar) entre
6 e 8 é uma sugestão para soluções ácidas concentradas (MACHADO, 2005). Sendo
assim é uma forma de tratamento para: solução de ácido nítrico 1:1 e, solução de ácido
sulfúrico 20%.
Para a solução de ácido clorídrico (200 mL de ácido para 2 L de água), vide expli-
cação citada anteriormente (em excedente de amostra).
inorgânico e a parte líquida deve ser neutralizada e descartada via sistema público de
saneamento (SCHNEIDER, 2007). Deve-se evitar o uso de solução sulfocrômica para
limpeza de vidraria nos laboratórios, podendo ser substituída pela solução sulfonítrica (1
a 2 partes de ácido sulfúrico para 3 partes de ácido nítrico) ou por uma solução alcoólica
de hidróxido de potássio 5%, (5g de KOH em 100 mL de etanol) (LASSALI, 2003).
Blendagem e incineração
Os papéis de filtro usados para as análises de fenol e fósforo devem ser submetidos
à blendagem e posteriormente enviado a incineração, pois este é o método indicado
para resíduos sólidos tóxicos (PENATTI et al., 2009).
Diluição e neutralização
Para resíduo sólido de análise de OG, a celite retida no papel de filtro junto ao resíduo
sólido proveniente de amostra (que é conservada com H2SO4 P.A.) deve ser diluída com
o mesmo volume de água e neutralizada, este é o procedimento para resíduos ácidos
sólidos ou em pastas (MACHADO, 2005).
Surfactantes/detergentes: para essa análise são gerados dois tipos de resíduos sepa-
radamente (complexo entre detergente e o corante azul de metileno com clorofórmio e
a solução de lavagem). Para solução de lavagem usada para essa análise (solução ácida
diluída) deve ser neutralizada e descartada via esgoto (PENATTI, 2009), Dureza total:
como para resíduo químico contendo Ni-EDTA deve-se corrigir pH, filtrar, neutralizar e
descartar na pia, logo para Ca-EDTA e Mg-EDTA cabe esse método de tratamento (SCH-
NEIDER, 2007), para dureza, Ca-EDTA também adotasse este método de tratamento.
Diluição, neutralização e aterro industrial
É preciso corrigir o pH, precipitar com hidróxido e filtrar. A parte sólida deve ser
444 encaminhada ao aterro industrial por se tratar de um sal inorgânico e a parte líquida
deve ser neutralizada e descartada via sistema público de saneamento segundo tabelas
do anexo 4 e 5 (SCHNEIDER, 2007). O que pode ser aplicado às análises: DQO, Ni-
trogênio Orgânico, Ferro total, Fósforo, Sulfeto e Sulfato.
O tratamento dos resíduos líquidos de laboratório para soluções ácidas deve pro-
mover diluição e neutralização e o decantado e o sobrenadante devem ser incinerados
(PENATTI et al., 2009). O que pode ser aplicado às análises de sílica e nitrato.
Destilação e incineração
Para fenóis deve-se adotar o mesmo tratamento e disposição final de resíduos que
para solventes orgânicos halogenados (PENATTI, 2009). Para os surfactantes/detergentes,
adotar tratamento e disposição final de resíduos para solventes orgânicos halogenados,
neste caso cabe promover destilação e incineração, ou seja, para íon complexo, entre o
detergente e o corante azul de metileno com clorofórmio P.A. (PENATTI et al., 2009).
Precipitação
OC: agentes oxidantes como permanganatos podem ser reduzidos por hipossul-
fito de sódio e o excesso de hipossulfito deve ser eliminado com H2O2. Para finalizar,
deve-se diluir e descartar na pia (LASSALI, 2003).
Os resíduos gerados no laboratório de análise ambiental (LAA) em estudo foram
classificados em excedentes de amostra (REA), resíduos de limpeza das vidrarias (RLV)
e resíduos químicos provenientes das análises (RQA), tanto sólidos, semissólidos e
líquidos. Cada um destes apresentaram qualidade e quantidades específicas, sendo os
RQA líquidos os que apresentaram o maior volume, 306,15 L, no período de realização
do estudo requerendo portanto atenção especial.
Os RLV totalizaram 21,87 L, enquanto os REA 24,0 L no período em estudo. Já
os RQA sólidos e semissólidos gerados na realização dos procedimentos analíticos
totalizaram a massa de 311,64 g.
Embora a NBR 10.004 não mencione diretamente os resíduos gerados em LAA,
ela abrange determinados líquidos cujas particularidades tornem inviáveis o seu lan-
çamento na rede pública de esgotos ou corpos hídricos. Neste caso, tanto os resíduos
caracterizados neste estudo, como diversos outros, oriundos da análise de outros parâ-
metros não caracterizados neste estudo, podem se enquadrar neste perfil, merecendo
então gerenciamento especial.
De forma geral, é de fundamental importância o correto gerenciamento destes re-
estudos, Goiânia, v. 42, n. 4, p. 433-448, out/dez. 2015.
síduos, uma vez que possuem substâncias ácidas (ácidos nítrico, clorídrico, sulfúrico,
solução sulfocrômica), solventes orgânicos (acetona e hexano), amostras de águas ou
efluentes contaminados, além de diversos reagentes e soluções considerados tóxicos,
devido a presença de íons como Hg2+, Ba2+, Cr3+, CN-, entre outros.
CONCLUSÃO
Referências
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 10.004: Classificação dos
resíduos sólidos. Rio de Janeiro, 2004.
APHA – American Public Health Association; AWWA – American Water Works As-
sociation & WPCF – Water Pollution Control Federation. Standard Methods for the
Examination of Water and Wastewater, 21st ed. Washington, DC, 2005.
ASHBROOK, P.C.; REINHARDT, P.A. Harzadous waste in academia, Environmen-
tal Science & Tecnology, v. 19, n. 2, p.1150-1155, 1985.
BAIRD, C. Química Ambiental. Porto Alegre: Brookman, 2ª ed, 2002.
Brasil – Resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) n° 430 de
13 de maio de 2011. Disponível em: http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.
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CETESB, Guia Técnico, Manual de Produtos Químicos. Disponível em http://www.
cetesb.sp.gov.br/userfiles/file/emergencias-quimicas/g_tecnico.pdf. Acesso em: 23
mar. 2015.
FISPQ, Ficha de Informação de Segurança de Produto Químico. Disponível em http://
sistemasinter.cetesb.sp.gov.br/produtos/ficha_completa1.asp?consulta=1%20-%20
DECENO. Acesso em 23 mar. 2015.
IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Pesquisa Nacional de Saneamen-
to básico, 2000. Disponível em http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
estudos, Goiânia, v. 42, n. 4, p. 433-448, out/dez. 2015.