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Capítulo IV – Efeitos Térmicos em Reatores Ideais

IV. 1 – A Equação da Energia Interna


Consideremos um volume V qualquer de um fluido em escoamento, inteiramente imerso
no fluido e movendo-se em cada um dos seus pontos com a velocidade global do fluido, v . A
aplicação do Primeiro Princípio da Termodinâmica a esse volume conduz a:

d • •
(U + Wcin ) = W e + Q (IV. 1)
dt

Onde:
U: energia interna associada a V no instante t;
Wcin : energia cinética de V no instante t;

W e : trabalho realizado pelo exterior sobre V por unidade de tempo;

Q : calor fornecido pelo exterior do volume V por unidade de tempo.

V S

τ
!
! v
n Linha de corrente

Figura IV. 1 Volume de controle.

Introduzindo a energia interna por unidade de massa do fluido, u, ter-se-á:

U = ∫ ρ ⋅ u dV (IV. 2)
V

1
1
Wcin = ∫ ρ ⋅ v 2 dV (IV. 3)
V
2


onde ρ é a massa especifica do fluido e v = v .

O trabalho realizado pelo exterior sobre V, para os casos mais freqüentes em engenharia
química, é igual à soma dos trabalhos das forças de gravidade:


 
W e,1 = ∫ ρ ( g ⋅ v ) dV (IV. 4 a)
V

- Trabalho das forças da superfície (atrito) sobre a superfície externa de V:


 
W e,2 = ∫ "# τ ⋅ n ⋅ v $% dS
( ) (IV. 4 b)
S

r
Introduzindo o vetor densidade de corrente, q , será por outro lado temos:


 
Q = − ∫ q ⋅ n dS ( ) (IV. 5)
S

r
Sendo n a normal unitária exterior a S, a superfície que em cada instante delimita o volume V.

Substituindo (IV. 2) a (IV. 5) em (IV. 1), ter-se-á:

d " 1 %      
dt
∫ $# ρ ⋅ u + 2 ρ ⋅ v 2
' dV =
&
∫ ρ ( g ⋅ v ) dV + ∫ )*(τ ⋅ n ) ⋅ v +, dS − ∫ (q ⋅ n ) dS (IV. 6)
V V S S

2
Ou aplicando o teorema da divergência:

d " 1 %    
' dV = ∫ *+ρ g ⋅ v + div τ ⋅ v − div q ,- dV
2

dt
∫#$ ρ ⋅ u +
2
ρ ⋅ v
&
( ) ( ) () (IV. 7)
V V

Nas equações anteriores τ é o tensor tensão para o fluido que, como é conhecido, é um
tensor simétrico.
A equação (IV. 7) é uma forma macroscópica da equação de balanço de energia para
fluidos em escoamento.
Normalmente, o tensor tensão é suposto ser da forma:

τ = − pI + Δ (IV. 8)

onde I é o tensor unitário, p é a pressão dinâmica e Δ o tensor desviante. Atendendo à


 
identidade tensorial div pI ⋅ v = div p ⋅ v . Introduzindo (IV. 8) e (IV. 7) obtém-se:
( ) ( )

d " 1 %     
' dV = ∫ +,ρ g ⋅ v − div p ⋅ v + div Δ ⋅ v − div q -. dV
2

dt
∫ $# ρ ⋅ u + 2 ρ ⋅ v &
( ) ( ) ( ) () (IV. 9)
V V

Que é uma nova forma macroscópica da equação do balanço de energia. Sabendo que
d ∂   ∂ 
dt
∫ F dV = ∫ ∂t F dV + ∫ F (v ⋅ n ) dS = ∫ ∂t F dV + ∫ div ( F ⋅ v ) dV , temos:
V V S V

∂# 1 & # 1 &
∫ ∂t %$ ρ ⋅ u + 2 ρ ⋅ v 2 (' dV + ∫ div %$ ρ ⋅ u + 2 ρ ⋅ v 2 (' ⋅v dV =
V V (IV. 10)
    
∫ ,-ρ g ⋅ v − div p ⋅ v + div Δ ⋅ v − div q ./ dV
( ) ( ) ( ) ()
V

3
As equações (IV. 9) e (IV. 10) são as formas macroscópicas da equação do balanço de
energia. Como a equação (IV. 10) é válida seja qual for o volume V de fluido considerado, ela é
equivalente a:

∂# 1 & # 1 &      
% ρ ⋅ u + ρ ⋅ v ( = −div % ρ ⋅ u + ρ ⋅ v ( ⋅ v + ρ g ⋅ v − div p ⋅ v + div Δ ⋅ v − div q
2 2

∂t $ 2 ' $ 2 '
( ) ( ) ( ) () (IV. 11)

Para aplicações em engenharia química é preferível escrever as equações de balanço de


energia em termos da entalpia. Supondo que a aproximação de quasi – equilíbrio é válida, ter-se
á:

u = h − pV e (IV. 12)

onde h é a entalpia por unidade de massa do fluido e V e é o volume específico do fluido

( V e = 1 ). Então, a equação (IV. 11) pode ser escrita como:


ρ

∂$ 1 ' $ 1 ' 
& ρ ⋅ h − p + ρ ⋅ v ) + div & ρ ⋅ h − p + ρ ⋅ v ) ⋅ v =
2 2

∂t % 2 ( % 2 ( (IV. 13)
    
+ρ g ⋅ v − div p ⋅ v + div Δ ⋅ v − div q
( ) ( ) ( ) ()

ou simplificando, temos:

∂$ 1 ' $ 1 '     
& ρ ⋅ h − p + ρ ⋅ v ) + div & ρ ⋅ h + ρ ⋅ v ) ⋅ v = +ρ g ⋅ v + div Δ ⋅ v − div q
2 2

∂t % 2 ( % 2 (
( ) ( ) () (IV. 14)

A densidade de corrente de calor é normalmente traduzida em termos da lei de Fourier,


que para um fluido isotópico toma a forma:


q = −k ⋅ grad T( ) (IV. 15)

4
Onde k é a condutividade térmica do fluido. Assim, ter-se-á para (IV. 14):

∂$ 1 ' $ 1 ' 
& ρ ⋅ h − p + ρ ⋅ v ) + div & ρ ⋅ h + ρ ⋅ v ) ⋅ v =
2 2

∂t % 2 ( % 2 ( (IV. 16)
  
+ρ g ⋅ v + div Δ ⋅ v + div k ⋅ grad T
( ) ( ) { ( )}

As equações anteriores são válidas tanto para sistemas formados por um só componente,
como para sistemas multi – componentes, com ou sem transformação química. É preciso,
contudo chamar a atenção para o fato que o termo h, a entalpia por unidade de massa do fluido é,
como se sabe dado pela expressão:

h = ∑ wi ⋅hi (IV. 17a)

1 wi
=∑ (IV. 17b)
ρ ρi
V = ∑ wi ⋅Vi (IV. 17c)

onde os hi são as entalpias parciais mássicas dos componentes da mistura, tomando como

referência os elementos que formam esses componentes. Por outras palavras, em hi está

embutida a entalpia de formação do componente i.

Uma das formas das equações do balanço de energia mais utilizada é:

∂ $ 1 ' $ 1 ' 
) dV = − ∫ & ρ ⋅ h + ρ ⋅ v ) ⋅ v.n dS
2 2

∂t
∫ &% ρ ⋅ h − p + 2 ρ ⋅ v ( 2
( )
V S % ( (IV. 18)
    
+ ∫V ρ ( g ⋅ v ) dV + ∫ ( Δ ⋅ v ⋅ n ⋅ dS + ∫ k ⋅ grad T .n dS
) ( )
S S

5
Nesta equação, além dos termos da entalpia e da troca de calor com o exterior, figuram:

• Termo da variação da energia cinética e de pressão do sistema, a saber:

∂ $ 1 2
'
∫ &%− p + 2 ρ ⋅ v ) dV (IV. 19a)
∂t V (

• Termo de troca de energia cinética com o exterior:

"1 2
%  
∫ $# 2 ρ ⋅ v '& (v ⋅ n ) dS (IV. 19b)
S

• Termo referente ao trabalho produzido pelo exterior sobre o sistema, devido à agitação
mecânica e ao atrito contra as paredes do reator:

 
∫ (Δ ⋅ v ) ⋅ n dS (IV. 19c)
S

• Termo referente ao trabalho das forças gravitacionais:

 
∫ ρ ( g ⋅ v ) dV (IV. 19d)
V

Normalmente os termos (IV. 19 a-d) são desprezíveis se comparados aos termos de


entalpia e troca térmica, sendo que com isso a equação (IV. 18) reduz-se a:

∂ !! !
∂t
∫ ρ ⋅ h dV = − ∫ ρ ⋅ h ⋅ (v.n ) dS + ∫ k ⋅ grad (T ) ⋅ n dS (IV. 20)
V S S

6
IV. 2 – Efeito da temperatura nas reações químicas

A temperatura afeta as constantes de equilíbrio, taxas de reações, seletividade em reações


múltiplas, condições de operação e tamanhos de reatores. Conhecendo-se a taxa de reação, pode-
se traçar gráficos de fA versus T utilizando a taxa como parâmetro. Para uma reação irreversível,
temos:

1,0
fA

-rA =1 -rA =10


-rA =100

T
Figura IV. 2. Curva fA versus T para uma reação irreversível.

7
Para o caso de reações reversíveis, a curva fA versus T são distintas para os casos de
reações exotérmicas e endotérmicas. Nas figuras a seguir apresentamos as curvas para ambos os
casos, em equilíbrio:

exotérmica

fA eq endotérmica

Temperatura

Figura IV. 3. Curva fA eq versus T para o equilíbrio químico (endotérmicas e exotérmicas).

Curva de equilíbrio
fA

Reação exotérmica
reversível

Figura IV. 4. Curva fA versus T para uma reação reversível exotérmica.

8
1,0

Curva de equilíbrio
Endotérmica
reversível

fA

-rA =1 -rA =10 -rA =100

Figura IV. 5. Curva fA versus T para uma reação reversível endotérmica.

Analisando as figuras (IV. 2) a (IV. 5) observamos que o comportamento de uma reação


endotérmica reversível se aproxima ao de uma reação irreversível com o aumento de T. Já para o
caso exotérmico, com o aumento de T nos aproximamos da condição de equilíbrio.

IV. 3 – Balanço de Energia para o Reator Tanque Contínuo

Com a aplicação da hipótese de mistura perfeita na equação (IV. 20) temos:

∂ ∂$ ' ∂
∂t
∫ ρ ⋅ h dV = ∂t &%ρ ⋅ h ∫ dV )( = ∂t ( ρ ⋅ h ⋅V ) , $ρ ,h' = cte
% ( (IV. 20a)
V V

  • •

∫ ρ ⋅ h ⋅ ( v.n ) dS = ∫ div (
p ⋅ h ⋅ v ⋅ dV )
= ρ ⋅ h ⋅ V − ρ 0
⋅ h0
⋅ V 0
S

 • •
− ∫ ρ ⋅ h ⋅ v.n dS = ρ0 ⋅ h0 ⋅ V 0 − ρ ⋅ h ⋅ V
( ) (IV. 20b)
S

9
Onde o índice 0 se refere à alimentação e onde as propriedades da de saída foram tomadas como
sendo iguais as da mistura racional no tanque.

Finalmente se desprezarmos os efeitos de condução térmica nos pontos de alimentação e a


!
saída, o termo ∫ k ⋅ grad (T ) ⋅ n dS será igual à quantidade de calor trocada entre o reator e o
S

exterior através do sistema de troca térmica.

! •
⎡• ⎤
∫ k ⋅ grad T( )
⋅ n dS = Q , ⎢Q < 0, calor fornecido ao exterior ⎥
⎣ ⎦
(IV. 21)
S

Então para o reator tanque com mistura perfeita, a equação do balanço de energia toma a
forma:

∂ • • •
( ρ ⋅ h ⋅V ) = ρ0 ⋅ h0 ⋅ V0 − ρ ⋅ h ⋅ V+ Q (IV. 22)
∂t

Note-se que na equação (IV. 22) o efeito térmico associado à transformação química não
aparece explicitamente. Esta equação pode ser ainda escrita na forma:

dH • • •
= Q+ H 0 − H (IV. 23)
dt

A entalpia de um sistema com transformação química será normalmente função da


composição do sistema e da temperatura ( H = H ( ni , T ) ). Deste modo, temos:

n
⎛ ∂H ⎞ ⎛ ∂H ⎞
dH = ∑ ⎜ ⎟ dni + ⎜ ⎟ dT (IV. 24)
i =1 ⎝ ∂ni ⎠ P ,T , n ⎝ ∂T ⎠ P ,ni
j ≠i

10
Consideremos primeiramente a variação de H com a composição. A entalpia de um
sistema a temperatura constante será:

n
H ( ni , T ) = ∑ ni ⋅ hi ( n j , T ) (IV. 25)
i =1

onde hi é a entalpia parcial molar do componente i (estamos supondo que no estado de referência
a entalpia dos elementos é zero e a das substâncias compostas é igual à entalpia de formação,

∂H
= hi ). Sendo assim, ter-se-á:
∂ni T ,n j

n n
∂H
∑ dni = ∑ hi ⋅ dni (IV. 26)
i =1 ∂ni ni , P i =1

Em relação à variação da entalpia com a temperatura, nós definiremos capacidade


calorífica do sistema por:

n
⎛ ∂H ⎞
Cp = ⎜ ⎟ ou C p = ∑ ni ⋅ C pi (IV. 27)
⎝ ∂T ⎠ P ,ni i =1

A equação do balanço de energia será:

n
dni " n % dT • n • n •

∑ h ⋅ dt
i
+ $
$ ∑ ni
⋅C '
pi '
= Q + ∑ n i0 ⋅ h − ∑ n i ⋅ h
i0 i
(IV. 28)
# & dt
i=1
 i=1  
i=1    

i=1 
• •
dH
H0 H
dt

Repare-se que nas somas em i é necessário estender a soma a todos os elementos do


sistema mesmo aqueles que não intervêm na reação.

11
Consideremos por enquanto apenas o regime permanente do reator. Então ter-se-á:

• n • n •
Q+ ∑ ni 0 ⋅ hi 0 − ∑ ni ⋅ hi = 0 (IV. 29)
i =1 i =1

• •
Por outro lado, considerando a equação do balanço de massa ( ni 0 − ni + ri ⋅V = 0 ),

multiplicando-a por hi e fazendo a somatória em i, temos:

n • n • n

∑n i0 ⋅ hi − ∑ n i ⋅hi + ∑ hi ⋅ ri ⋅V = 0 (IV. 30)


i=1 i=1 i=1

Subtraindo (IV. 30) de (IV. 29) ter-se-á:

• n • n
Q + ∑ ni 0 ⋅ ( hi 0 − hi ) − ∑ hi ⋅ ri ⋅V = 0 (IV. 31)
i =1 i =1

Se no sistema tiver lugar apenas uma reação independente, temos ri = υi ⋅ r e


n
ΔH R = ∑υi ⋅ hi , têm-se:
i =1

• n •
Q + ∑ ni 0 ⋅ ( hi 0 − hi ) − ΔH R ⋅ r ⋅V = 0 (IV. 32)
i =1

• • n
Se considerarmos ni 0 = V0 ⋅ Ci 0 e C p 0 = ∑ Ci 0 ⋅ C pi , onde C p 0 é o calor especifico por
i =1

unidade de volume da alimentação, temos:

• •
Q + V 0 ⋅ C p 0 (T0 − T ) − ΔH R ⋅ r ⋅V = 0 (IV. 33)

12
A equação (IV. 33), tal como está escrita, equivale a supor que para passar do estado

inicial (alimentação ni 0 , T0 ) ao estado final, nós aquecemos (ou resfriamos) a alimentação de T0 a
T, temperatura na qual a reação tem lugar. A equação do balanço de energia deve ser resolvida
simultaneamente com a equação do balanço de massa. A equação (IV. 33) pode ainda ser escrita
da seguinte forma:

L + (T0 − T ) + J ⋅τ ⋅ r = 0 (IV. 34)

onde:


Q
L= •
(IV. 35a)
V0 ⋅ C p 0

−ΔH R
J= (IV. 35b)
Cp0

Por conseguinte, no projeto de um CSTR nós teremos, em principio, que resolver


simultaneamente as equações de balanço de massa e energia. Estas equações, como vimos acima,
podem apresentar-se de diversas formas. Para um sistema operando em regime permanente, as
formas mais gerais das equações são:

• • ⎛ R ⎞
ni 0 − ni + ⎜ ∑υij ⋅ rj ⎟ ⋅V = 0 (IV. 36)
⎝ j =1 ⎠

• n • R
Q+ ∑ ni 0 ⋅ ( hi 0 − hi ) + ∑ ( −ΔH R ) j ⋅ rj ⋅V = 0 (IV. 37)
i =1 j =1

A resolução simultânea dos balanços de massa e energia trata-se fundamentalmente da


resolução de um sistema com R + 1 equações (onde R é o número de reações independentes do

13
sistema) com R + 1 incógnitas: R valores de graus de avanço ( ε i ) e a temperatura T. Se o número

de reações independentes for 1 e supondo que o fluido é incompressível, teremos um sistema de 2


equações:

CA0 − CA + rA ⋅τ = 0 (IV. 38)

• •
Q + V 0 ⋅ C p 0 (T0 − T ) − ΔH R ⋅ r ⋅V = 0 (IV. 39)


Nestas equações τ ( = V V0 ) é o tempo médio de residência e rA ( = υ A ⋅ r ) é a taxa de

reação medida em relação ao reagente limite A. Em relação ao cálculo de Q (calor trocado entre
o reator e o exterior por unidade de tempo), é interessante notar os diferentes tipos de sistemas de
aquecimento ou resfriamento nos CSTR.

1° Caso: A troca de calor se dá através de uma manta de aquecimento ou resfriamento com


capacidade calorífica suficiente para aquecer ou resfriar a mistura de reação.

TC
TC 0
ρ,T , Cp

Figura IV. 6 – CSTR com manta de aquecimento.

14
2° Caso: A troca de calor é feita pela serpentina.

T0

Tc 0 Tc

Figura IV. 7 – CSTR com serpentina.

3° Caso: A mistura reacional circula através de um trocador de calor externo e troca calor
sensível com a própria mistura no reator.

T0

TC

Figura IV. 8 – CSTR com trocador externo.

15

Consideremos, por exemplo, o sistema de resfriamento por serpentina. Se Q for a
quantidade de calor trocado entre o sistema e o exterior, temos para este caso:

• •
Q = − V c ⋅ C pc ⋅ (TC − Tc 0 ) (IV. 38)


Repare que, se o reator fornecer calor ao exterior, teremos um valor de Q negativo. Na

equação (IV. 38) o termo vc refere-se à vazão do fluido térmico na serpentina e C pc ao seu calor

especifico. Para o fluido circulando na serpentina, temos:

(
V c ⋅C pc ⋅ dTC = U ⋅ T − TC ⋅ dA ) (IV. 39)

onde U é o coeficiente global de transferência de calor (seção constante) e A é área de troca


⎛T −T ⎞ U⋅A
térmica. Por integração, obtêm-se: ln ⎜⎜ Cs
⎟⎟ = − • . Substituindo esta expressão na
⎝ T − Tc0 ⎠ V ⋅Cc pc

equação (IV. 39), tem-se então:

⎡ ⎛ ⎞⎤
• • ⎢ ⎜ U ⋅ A ⎟⎥
Q = − v c ⋅C pc ⋅ ⎢1− exp ⎜ − • (
⎟⎥ T − Tc0 ) (IV. 40)
⎢ ⎜ V c ⋅C ⎟⎥
⎣ ⎝ pc ⎠⎦

A equação (IV. 40) é normalmente expressa de forma simplificada, assumindo algumas


hipóteses, como a de que U é um valor constante. Com isso, podemos reescrevê-la da seguinte
forma:


Q = − χ ' (T − Tc 0 ) (IV. 41)

onde χ ' é uma constante característica do sistema.

16
IV. 3. 1 – Reações Exotérmicas em Reatores de Mistura Perfeita

Como vimos na seção anterior, para a determinação do ponto de operação de um reator


CSTR não-isotérmico é necessário resolver simultaneamente os balanços de massa e energia. A
grande dificuldade encontrada nesta resolução diz respeito aos casos que envolvem reações
exotérmicas, pois para estas é possível obter-se mais de uma solução. De forma a ilustrar melhor
esta peculiaridade, analisemos a figura a seguir:

Balanço de massa
fA

Balanço de energia

A
B

T0
T
Figura IV. 9 – Possíveis soluções do balanço de massa e energia para o CSTR.

A figura (IV. 9) ilustra três possíveis soluções para os balanços de massa e energia,
representadas pelos pontos A, B e C. O ponto A representa o ponto de operação para o caso em
que a curva resultante do balanço de energia (equação IV. 41) apresenta uma inclinação negativa,
ou seja, corresponde ao caso de uma reação endotérmica. Já o ponto B é correspondente ao caso
em que se está operando na forma isotérmica.
Por outro lado, o ponto C representa o caso de uma exotérmica. Analisando os três casos
apresentados, nota-se que apenas para o caso C, reação exotérmica, existe a possibilidade de
haver mais de uma solução para os balanços de energia e massa, dependendo do valor inicial da
temperatura inicial ou da inclinação da reta. Isto se deve ao fato de que, para uma dada
temperatura de alimentação, a intersecção da linha de balanço de energia com a linha em forma

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de S do balanço de massa pode ocorrer em mais de um ponto. A figura (IV. 10) representa bem
este caso em que há mais de uma intersecção entre as curvas do balanço de massa e energia:

Balanço de massa

Balanço de energia
fA

T0
T
Figura IV. 10 – Três soluções possíveis para o balanço de massa e energia para o CSTR não-
isotérmico, para uma reação exotérmica irreversível.

A grande questão sobre as três soluções distintas para os balanços de massa e energia de
uma reação exotérmica irreversível que ocorre num CSTR não – isotérmica é descobrir qual é a
diferença entre elas? Será que todas são estáveis? Vamos analisar cada um destes pontos que
constam na figura (IV. 10):

• Ponto A: se houver um aumento na temperatura, haverá um aumento na conversão também,


mas este aumento não será suficiente para manter a nova temperatura pelo balanço de energia,
pois a curva do balanço de energia está acima da do balanço material. Por outro lado, se
houver uma redução da temperatura, haverá uma redução de conversão, mas a nova
conversão aumentará a temperatura devido ao balanço de energia. Portanto, pode-se afirmar
quer este ponto é estável, do ponto de vista energético.

18
• Ponto B: se aumentarmos a temperatura do sistema, haverá um aumento também na
conversão, sendo que o calor gerado neste aumento de conversão levará o sistema a uma
temperatura maior ainda, sendo que o sistema passa a operar no ponto de operação C, ou seja,
este ponto é instável. Já se diminuirmos a temperatura, o sistema passará a operar no ponto A.

• Ponto C: este ponto tem as mesmas características do ponto A.

A mesma análise feita acima, para uma reação exotérmica irreversível, pode ser feita para
o caso reversível.

B
fA

Balanço de energia
Balanço de massa

T0
T
Figura IV. 10 – Três soluções possíveis para o balanço de massa e energia para o CSTR não-
isotérmico, para uma reação exotérmica reversível.

19
IV. 4 – Balanço de Energia para o Reator Tanque Descontínuo

Consideremos a equação do balanço de energia:

∂ !! !
∂t
∫ ρ ⋅ h dV = − ∫ ρ ⋅ h ⋅ (v.n ) dS + ∫ k ⋅ grad (T ) ⋅ n dS (IV. 20)
V S S

Aplicando o balanço de energia a um reator tanque descontinuo, desconsiderando os


efeitos cinéticos, potenciais e atrito, temos:

d !
dt
∫ ρ ⋅ h dV = ∫ k ⋅ grad (T ) ⋅ n dS (IV. 42)
V S

Se considerarmos a hipótese de mistura perfeita, temos:

d ( ρ hV ) •
=Q (IV. 43)
dt

Podemos escrever a equação acima em termos da entalpia:

dH •
=Q (IV. 44)
dt

Contudo, devemos notar que o efeito térmico associado à reação química não parece
explicitamente. Mas, por outro lado, temos:

dH dn dT
= ∑ hi i + ∑ ni C pi (IV. 45)
dt i dt i dt

20
A definição de taxa especifica da reação nos diz que:

dni dξ ⎛ ⎞
= ∑υij = ⎜ ∑υij R j ⎟ ⋅V (IV. 46)
dt i dt ⎝ j ⎠

Portanto, podemos escrever a equação (IV. 45) como:

dH dT
= V ⋅ ∑ hi ∑υij ⋅ R j + ∑ niC pi (IV. 47)
dt i j i dt

Sabendo que ( ΔH R ) j = ∑υij hi , temos:


i

dH dT
= V ⋅ ∑ ( ΔH R ) j R j + ∑ niC pi (IV. 48)
dt j i dt

Portanto, a equação do balanço de energia será dada por:

dT •
V ⋅ ∑ ( ΔH R ) j R j + ∑ ni C pi =Q (IV. 49)
j i dt

Para o caso de uma única reação química, a equação (IV. 49) se reduz a:

dT •
V ⋅ r ⋅ ΔH R + C p = Q , onde C p = ∑ ni ⋅ C pi (IV. 50)
dt

onde a capacidade calorífica é função da temperatura e do número de moles.

21
Atendendo a definição de taxa especifica de reação, e supondo que ΔH e £ P são
constantes, a equação (IV. 50) pode ser integrada, o que nos leva a seguinte definição:

t •
ΔH R ⋅ (ξ ) + C P (T − T0 ) = ∫ Q ⋅dt (IV. 51)
t0

Para o caso de regime adiabático, temos:

−ΔH R
T = T0 + ⋅ξ (IV. 52)
CP

IV. 5 – Balanço de Energia Aplicado ao Reator Tubular Pistão

No tratamento do PFR feito nos capítulos anteriores supomos que o reator trabalhava em
regime isotérmico, isto é, que a sua temperatura era constante em todos os pontos. Sendo assim,
para o projeto dos reatores apenas a equação do balanço de massa era suficiente:


R
d ni
= ri ⋅ A ( j = 1, R ) , onde ri = ∑υij ⋅ R j (IV. 53)
dz j =1

A resolução do balanço de massa trata-se de um sistema de R (número de reações


simultâneas independentes) equações diferenciais ordinárias simultâneas. Vamos agora aplicar ao
reator tubular a equação do balanço de energia (IV. 20). Para isso, vamos supor que o reator se
encontra em regime permanente, e que os efeitos da energia cinética, potencial e de atrito são
desprezíveis. Consideremos a figura a seguir:

22
A

entrada R saída

dS = 2π R ⋅ dz
dz dV = A ⋅ dz

Figura IV. 10 – Reator PFR

∂ !! !
∂t
∫ ρ ⋅ h dV = − ∫ ρ ⋅ h ⋅ (v.n ) dS + ∫ k ⋅ grad (T ) ⋅ n dS (IV. 20)
V S S


Em regime permanente, têm-se: ρ ⋅ h ⋅ dV = 0 . Por outro lado, podemos escrever o
∂t V∫
termo:

!!
− ∫ ρ ⋅ h ⋅ v.n dS = −⎡⎣ ρ ⋅ h ⋅ v − ρ ⋅ h ⋅ v ⎤⎦ ⋅ A = −A⋅
(
d ρ⋅h ⋅v ) dz
( ) ( ) z+Δz
( z
) dz
(IV. 54)
S

O termo de troca térmica será igual a:

  •
∫ (q ⋅ n ) ⋅ dS = q ⋅ 2π ⋅ R ⋅ dz = β ⋅ dz ou Q = β ⋅ dz (IV. 55)
S

Na equação (IV. 55) supôs-se que a condução de calor no fluido é desprezível, R é o raio
do tubo, β é a quantidade de calor trocada entre o sistema e o exterior por unidade de
comprimento do tubo. Se o reator fornecer calor ao exterior, β será negativo. Levando em conta
o rearranjo dos termos, representadas pelas equações (IV. 54) e (IV. 55), podemos escrever a
equação do balanço de energia será:

d
−A
dz
( ρ ⋅ h ⋅ v ) dz + β dz = 0 (IV. 56)

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Ou, escrevendo de outra forma, temos:


d dH
A ( ρ ⋅ h ⋅ v ) = β ou =β (IV. 57)
dz dz

Caso o reator não esteja operando em regime permanente, teremos:

∫ ρ ⋅ h ⋅ dV = ∫ ρ ⋅ h ⋅ A ⋅ dz
V z
(IV. 58)

E a equação do balanço de energia será:

∂ ∂
A ( ρ ⋅ h) = − A ( ρ ⋅ h ⋅ v) + β (IV. 59)
∂t ∂z

É claro que, de uma maneira geral, β poderá ser função de z. Note que mais uma vez que
o efeito térmico devido à reação química não aparece explicitamente na equação de balanço de
energia. Considerando o caso de simples de apenas uma reação química, têm-se:

• •
ρ ⋅ h ⋅ A ⋅ v = H (fluxo entálpico) e V=A.v (vazão volumétrica) (IV. 60).

Então:

• ⎛ • • • ⎞ •
dH ⎜∂H dn ∂H dT ⎟ d ni • dT
= ∑⎜ • ⋅ i+ ⋅ = ∑ h + ∑ C n i⋅ (IV. 61)
dz ⎟⎟ i
i pi
dz ⎜ ∂ ni dz ∂T dz i dz
⎝ T ,n j ni ⎠

Substituindo (IV. 61) em (IV. 57), temos:


dn • dT
∑ hi ⋅ dzi + ∑i C pi ni ⋅ dz = β (IV. 62)

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A equação de balanço de massa é:


d ni
= A ⋅υi ⋅ r = A ⋅ ri (IV. 63)
dz

Pelo que, substituindo a equação de balanço em (IV. 62), chegamos a:

• dT
∑C pi ni ⋅ = −r ⋅ A ⋅ ( ∑υi hi ) + β (IV. 64)
i dz

Ou, atendendo à definição de entalpia da reação será:

• dT
∑C
i
pi ni ⋅
dz
= r ⋅ A ⋅ ( −ΔH R ) + β (IV. 65)

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