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Expectativas de Paulo em relação à liderança Cristã:

Paulo compreendia que Timóteo era um jovem capaz de exercer a liderança


cristã à semelhança de si mesmo. Paulo almejava que Timóteo
desempenhasse papéis que são fundamentais para o crescimento da igreja.
De uma forma semelhante, o escritor de tantas cartas neotestamentárias
também deixa no texto sagrado suas expectativas para com as pessoas que
exerceriam liderança no seio da igreja. Entre estas expectativas,
reconhecidamente ele buscava crentes com competência, caráter e
compaixão.[22]

1. Competência
Uma pessoa competente, na prática, é alguém que desempenha algum
encargo com excelentes eficiência e eficácia. No campo das ideias, é alguém
altamente conhecedor de um assunto. Em várias passagens, Paulo, apóstolo
de Jesus Cristo, mostra que um bom líder deve buscar ser sempre
competente.[23]

Todo líder deve ter características básicas para exercer tal posição. Ter a
disposição de hospedar, aptidão para ensinar e administração familiar são
fundamentais (1Tm 3.2,4) para aquele que almeja o episcopado (1Tm 3.1).
Todas essas são características visíveis para que a igreja perceba se a pessoa
tem condições, ou seja, competência para o cargo que deseja. Não obstante,
o candidato não deve ser recém-convertido (1Tm 3.6), sendo antes
experimentado (1Tm 3.10). A razão é clara e expressa no texto bíblico: para
que não se ensoberbeça e caia na mesma condenação em que caiu o
Diabo (1Tm 3.6).

São várias as passagens que o escritor foca as competências do ensino, ordem


e exortação: ordene e ensine estas coisas (1Tm 4.11); dedique-se à leitura
pública da Escritura, à exortação e ao ensino (1Tm 4.13); Dê-lhes estas
ordens, para que sejam irrepreensíveis (1Tm 5.7); Ensine e recomende
essas coisas (1Tm 6.2); Ordene… Ordene-lhes… (1Tm 6.17-18); Pregue a
palavra, esteja preparado a tempo e fora de tempo, repreenda, corrija,
exorte com toda a paciência e doutrina (2Tm 4.2); roguei-lhe que
permanecesse em Éfeso para ordenar a certas pessoas… (1Tm 1.3); obreiro
que não tem do que se envergonhar e que maneja corretamente a palavra da
verdade (2Tm 2.15). Todo líder deve saber ensinar, repreender e dar ordens
sempre que necessário. Estas são características inegociáveis para liderar os
filhos de Deus à santidade.

O ensino de um bom líder não tem conteúdo qualquer. Seja diligente nessas
coisas; dedique-se inteiramente a elas, para que todos vejam o seu
progresso. Atente bem para a sua própria vida e para a doutrina,
perseverando nesses deveres, pois, agindo assim, você salvará tanto a si
mesmo quanto aos que o ouvem (1Tm 4.15,16). O próprio ensino está
intrínseco à vida do pregador, que guarda a sã doutrina imaculada em seu
coração, mas também a confia a homens que saberão igualmente
compartilhá-las: Guarde este mandamento imaculado e irrepreensível, até a
manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo (1Tm 6.14); Timóteo, guarde o
que lhe foi confiado (1Tm 6.20); E as palavras que me ouviu dizer na
presença de muitas testemunhas, confie-as a homens fiéis que sejam também
capazes de ensinar outros (2Tm 2.2); Quanto a você, porém, permaneça nas
coisas que aprendeu e das quais tem convicção, pois você sabe de quem o
aprendeu (2Tm 3.14).

Paulo combateu o bom combate (2Tm 4.7) e diz para Timóteo fazer o
mesmo: Timóteo, meu filho, dou-lhe esta instrução, segundo as profecias já
proferidas a seu respeito, para que, seguindo-as, você combata o bom
combate (1Tm 1.18); Combata o bom combate da fé (1Tm 6.12). Na
realidade, todo cristão que zela por este título (cristão) e especialmente por
esta função (líder), deve estar ciente da batalha e preparado para a guerra que
tem como cabeça e vencedor Jesus Cristo. Nesta peleja todo crente deve
buscar a justiça, a piedade, a fé, o amor, a perseverança e a mansidão (1Tm
6.11). Essa busca é mais uma competência do homem, devendo ser ela
notória na vida dos líderes.

A busca também deve ser por conhecimento:[24] Saiba disto: nos últimos
dias sobrevirão tempos terríveis (2Tm 3.1). Sem a informação que a Palavra
de Deus dá, haverá pouca eficiência tanto no ensino, como no proceder do
líder. No caso, não haverá reconhecimento do tempo de Deus e o proceder
do homem que em nada é capaz de agradar a Deus (Rm 3.11-12) Ademais,
como ele será capaz de exortar seus irmãos na fé se não poderá distinguir
entre o certo e errado que a Palavra de Deus revela? Não pode haver
negligência nos estudos, tampouco no dom ou dons que Deus dá àqueles que
são dEle: Não negligencie o dom que lhe foi dado por mensagem profética
com imposição de mãos dos presbíteros (1Tm 4.14).

Em suma, tudo que for da alçada do cristão, que seja feito (Ec 9.10). Deus
sem dúvida tem uma direção específica para cada um de seus filhos. Se assim
não fosse, não seríamos diferentes membros no Corpo. 2Timóteo 4.5 conclui
a competência que um cristão deve exercer: Você, porém, seja moderado em
tudo, suporte os sofrimentos, faça a obra de um evangelista, cumpra
plenamente o seu ministério.

2. Caráter
A bíblia portuguesa traduz δοκιμὴν algumas vezes como “caráter aprovado”
(cf. Fp 2.22-ARA; Rm 4.5-NVI). O dicionário da Bíblia Almeida diz que
caráter é o “conjunto de qualidades boas.” Segundo o dicionário Webster,
caráter “é as qualidades peculiares, impressas por natureza ou hábito em uma
pessoa.”[25] O caráter de uma pessoa torna-se visível por suas corriqueiras
ações, especialmente aquelas tomadas sobre estresse. Se o dicionário
Webster estiver certo quanto ao caráter ser algo da natureza, podemos
concluir que sem a mão de Deus no processo de edificação ele dificilmente
pode ser mudado.

Entretanto Deus quer que tenhamos o caráter dEle e Paulo, através de seus
inspirados escritos nos mostra muitas vezes o que Ele espera e contribui em
nós.

Reconhecer a própria identidade é o primeiro passo para o agir de Deus na


transformação do caráter. Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os
pecadores, dos quais eu sou o pior (1Tm 1.15). Se não nos vemos como
agentes passíveis de pecado, mesmo que já justificados, acabamo-nos por
desperdiçar bênçãos e motivos para orar e desfrutar da comunhão com Deus.

O crente deve ser aprovado por Deus: Procure apresentar-se a Deus


aprovado (2Tm 2.15). O líder tem que preencher certos requisitos de caráter
para desempenhar a função de liderança: É necessário, pois, que o bispo seja
irrepreensível, marido de uma só mulher, moderado, sensato, respeitável,
não deve ser apegado ao vinho, nem violento, mas sim amável, pacífico e
não apegado ao dinheiro. Também deve ter boa reputação perante os de
fora, para que não caia em descrédito nem na cilada do Diabo (1Tm
3.2,3,7). A diaconia, que também exerce liderança na igreja, não deve ser
nem mais nem menos santa do que os bispos ou presbíteros: Os diáconos
igualmente devem ser dignos, homens de palavra, não amigos de muito
vinho nem de lucros desonestos. Devem apegar-se ao mistério da fé com a
consciência limpa (1Tm 3.8-9). Tal exigência de caráter não se restringe ao
homem, mas é também especificada em alguns detalhes à mulher: As
mulheres igualmente sejam dignas, não caluniadoras, mas sóbrias e
confiáveis em tudo (1Tm 3.11). Suas vestimentas são levadas em conta: da
mesma forma, quero que as mulheres se vistam modestamente, com decência
e discrição, não se adornando com tranças e com ouro, nem com pérolas ou
com roupas caras (1Tm 2.9). Sua compreensão no papel de mulher e esposa
também reflete seu caráter, que não deve ser machista, tampouco
feminista: A mulher deve aprender em silêncio, com toda a sujeição (1Tm
2.11). Num culto público ela deve reconhecer seu lugar e importância: Não
permito que a mulher ensine, nem que tenha autoridade sobre o homem.
Esteja, porém, em silêncio (1Tm 2.12).

Um crente de (bom) caráter sabe que brigar não é uma opção: Ao servo do
Senhor não convém brigar mas, sim, ser amável para com todos, apto para
ensinar, paciente (2Tm 2.24). Isso não torna o crente um covarde, pois Deus
não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de
equilíbrio (2Tm 1.7), tampouco parcial, como quem a si próprio se
beneficia: procure observar essas instruções sem parcialidade; e não faça
nada por favoritismo (1Tm 5.21). Ele sempre se destacará como um exemplo
em áreas relevantes dentro do Reino de Deus: Ninguém o despreze pelo fato
de você ser jovem, mas seja um exemplo para os fiéis na palavra, no
procedimento, no amor, na fé e na pureza (1Tm 4.12). Ao mesmo tempo que
ele se afasta da imoralidade, ele se aproxima do Ser moral.

O caráter de alguém que busca a Deus demonstra respeito aos chefes, todos
os que estão sob o jugo da escravidão devem considerar seus senhores como
dignos de todo o respeito (1Tm 6.1) e suporta os mais variados sofrimentos
em detrimento do rei Jesus: Suporte comigo os meus sofrimentos, como bom
soldado de Cristo Jesus (2Tm 2.3). Gratidão transborda no coração de uma
pessoa de (bom) caráter: tendo o que comer e com que vestir-nos, estejamos
com isso satisfeitos (1Tm 6.8), mesmo quando aos olhos de muitos ele parece
miserável.

Enfim, tais homens de caráter são dignos de levantar suas mãos aos céus e
dizer a Deus: “estou limpo.” Eles oram por seus adversários e se preocupam
com a condição de seus corações: Quero, pois, que os homens orem em todo
lugar, levantando mãos santas, sem ira e sem discussões (1Tm 2.8). As
próprias palavras de Paulo concluem a utilidade e necessidade de uma
condição pura perante Deus e os homens, num reino onde, enquanto aqui na
terra, há cidadãos celestes de bom e mau caráter: Numa grande casa há vasos
não apenas de ouro e prata, mas também de madeira e barro; alguns para
fins honrosos, outros para fins desonrosos. Se alguém se purificar dessas
coisas, será vaso para honra, santificado, útil para o Senhor e preparado
para toda boa obra (2Tm 2.20-21).

3. Compaixão
Ninguém nunca teve mais compaixão que o próprio Cristo. Tendo Jesus
como alvo inequívoco, Paulo também sugere que todos os crentes sejam
compassivos e apresentem misericórdia, mesmo quando diante, por
exemplo, de instruções exortativas: o objetivo desta instrução é o amor que
procede de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé
sincera (1Tm 1.4).

Ser misericordioso, ou demonstrar compaixão é, à priori, refletir a


misericórdia do próprio Deus que por razões exclusivas de Sua parte,
escolheu-nos à vida eterna: Mas por isso mesmo alcancei misericórdia, para
que em mim, o pior dos pecadores, Cristo Jesus demonstrasse toda a
grandeza da sua paciência, usando-me como um exemplo para aqueles que
nele haveriam de crer para a vida eterna (1Tm 1.16). A escolha divina não
nos libertou de dificuldades na terra, mas nos garantiu que quando
vivêssemos piedosamente seríamos perseguidos: fato, todos os que desejam
viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos (2Tm 3.12). Todo
crente deve orar por toda gente, isso significa os parentes, amigos,
adversário, chefes e reis! Antes de tudo, recomendo que se façam súplicas,
orações, intercessões e ações de graças por todos os homens (1Tm 2.1).
A compaixão que Deus espera do crente, especialmente do líder cristão,
também reflete no zelo pelo idoso, não repreenda asperamente o homem
idoso, mas exorte-o como se ele fosse seu pai; trate os jovens como a
irmãos (1Tm 4.1) e pureza pelas idosas e moças, as mulheres idosas, como
a mães; e as moças, como a irmãs, com toda a pureza (1Tm 4.2). As viúvas
que tem real necessidade não podem ser negligenciadas e neste quesito,
Paulo chama à atenção das mulheres: Se alguma mulher crente tem viúvas
em sua família, deve ajudá-las (1Tm 5.16); Trate adequadamente as viúvas
que são realmente necessitadas (1Tm 4.3).

A falta de compaixão aos próprios familiares é visto como algo pior que a
apostasia, tamanha falta que é: Se alguém não cuida de seus parentes, e
especialmente dos de sua própria família, negou a fé e é pior que um
descrente (1Tm 5.8). Um coração insensato à necessidade humana alheia
desqualifica a fé do cristão e por consequência, prejudica o ministério da
Igreja em proclamar as virtudes do Reino de Jesus Cristo.

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Parte do Artigo escrito por Thiago Zambelli e publicado originalmente no


Blog PenseBíblia sob o título Três expectativas para um líder cristão em 1 e
2 Timóteo

[22] Este trabalho visa analisar estes três valores segundo as cartas de I e II
Timóteo. Todavia, a preocupação não é ser exaustivo quanto a apresentação
destas qualidades nas cartas, mas provar que havia, por parte de Paulo, uma
genuína expectativa sobre o líder cristão.

[23] A identificação do que é ser competente não é de fácil visualização, pois


muitas vezes é um reflexo do próprio caráter da pessoa. Todavia o
significado de alguns verbos, mesmo que de forma tênue, ajuda-nos a separar
melhor o que é caráter e o que é competência.

[24] Leia conhecimento como a informação posta em prática.


[25] Webster’s 1828 Dictionary. E-sword Version 9.5.1, 2009. CD-ROM.

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