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INTRODUÇÃO
Diz Merleau-Ponty “vamos tentar precisar essa ideia da Natureza pedindo ajuda
às ciências. Mas de que modo o filósofo deve interrogar a ciência?” (MERLEAU-
PPONTY, 2000, p.136).
Deve-se deixar claro de início dois pontos essenciais para entendemos o diálogo
merleau-pontiano com as ciências. Primeiro: Merleau-Ponty qualifica o seu tempo como
moderno, ou melhor, ele diz que tal modernidade se configurou no final do século XIX.
A ciência clássica é toda aquela que se apoia na metafísica cartesiana. No começo do
livro Conversas de 1948, ele dá vários exemplos, das diferenças entre a ciência clássica
e moderna, a saber, alguns: a percepção para os clássicos é algo que se reduz à relação
aparência e realidade (Merleau-Ponty, 2004, p. 05), sendo que não a tem como base do
conhecimento, ao contrário dos modernos. Os modernos consideram suas leis e suas
teorias não como imagem exata, tal como os clássicos, mas sim como esquemas
passíveis de correção (Merleau-Ponty, 2004, p. 05); a ciência clássica faz a separação
entre espaço e tempo, a ciência moderna não.
Acredito que o diálogo travado com as ciências tem como intenção primeira
explicitar as consequências filosóficas dos estudos científicos para suas investigações
em torno do ser-bruto. Como segunda intenção, cabe aqui fazer uma citação, em torno
da relação entre filosofia e ciência vinda também do livro Conversas, um pouquinho
longa, porém extremamente pertinente, a saber:
A ciência foi e continua sendo a área na qual é preciso apreender o que é uma
verificação [...]. Porém, a questão que o pensamento moderno coloca em
relação à ciência não se destina a contestar sua existência ou a fechar-lhe
qualquer domínio. Trata-se de saber se a ciência oferece ou oferecerá uma
representação do mundo que seja completa, que se baste, que se feche de
alguma maneira sobre si mesma, de tal forma que não tenhamos mais
nenhuma questão válida a colocar além dela. Não se trata de negar ou de
limitar a ciência; trata-se de saber se ela tem o direito de negar ou de excluir
como ilusórias todas as pesquisas que não procedem como ela por medições,
comparações e que não sejam concluídas por leis, como as da física clássica
[...] (Merleau-Ponty, 2000, p. 06).
Referencia bibliográficas:
____________. Corpo. São Paulo: Globo, 2009. (Coleção Filosofia frente & verso)