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N°4

Debate DEZEMBRO JANEIRO FEVERE RO 1988


Cz$ 80 00

Sindical

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ÍNDICE Debate
Sindical
4 As comissões de fábrica e sua
importância na luta operária A revista Debate Sindical é uma publicação
do Centro de Estudos Sindicais (CES) de São
Paulo. Rua Major Quedinho, 300, sala 15, Bela

12 Os novos estatutos sindicais e


a democratização das entidades
Vista, fone 37-7300, CEP 01050, São Paulo,
CGC 54.609.953/0001-80.
Coordenador do CES:
Eduardo Debrassi

18 Cinco experiências de trabalho


com a imprensa nos sindicatos
Jornalista Responsável:
Altamiro Borges
Colaboram nesta edição:

23 Causas e conseqüências da
recessão na economia do país
Roseli Figaro
Dennis de Oliveira
Juarez Tadeu de P Xavier
Agenor da Silva
Umberto Martins

29 0 protesto brasileiro contra a


execução de Sacco e Vanzetti
Clovis Moura
José Carlos Ruv

Diagramação e arte:

34
Domingos de Abreu Miranda
O nascimento do reformismo e Capa:
sua interferência no Brasil Bernardo Joffily

Observação:

42 Cartas: sindicatos avaliam o Os artigos publicados no refletem obrigatoria-


mente o ponto de vista do Centro de Estudos
conteúdo da Debate Sindical Sindicais.

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Nome:
Sindicato .
Cargo:
Endereço .
Cidade . Bairro .
Estado . CEP . Data:
Companheiro
sindicalista
quarto número da revista popular foi pequena, tímida,
O Debate Sindical aparece aquém das possibilidades e
quando a Constituinte entra na necessidades. Existe o anseio de
fase final e decisiva da votação mudanças na base - nas fábricas,
em plenário. O embate promete empresas, fazendas, bairros. Há
ser dos mais duros. Do lado da também o grande
reação, a gritaria contra algumas descontentamento do povo com a
resoluções progressistas aprovadas situação atual do país, com seus
na Comissão de Sistematização. graves problemas econômicos,
Os patrões esperneiam e se sociais e politicos. Mas estes
articulam para derrotar a sentimentos ainda foram pouco
estabilidade parcial no emprego, o canalizados, de forma organizada
pagamento das horas-extras em compacta, para o interior da
dobro, o irrestrito direito de Constituinte.
greve. Os latifundiários, tendo k
frente a terrorista UDR, querem Na guerra da votação em
bombardear qualquer referência plenário, quem tiver mais força
reforma agrária. Há ainda o leva. No caso do movimento
ataque ao parlamentarismo, como sindical, ou ele se articula para
sistema mais democrático de fazer valer suas teses, ou os
governo, ao mandato de quatro empresários golpeiam as recentes
anos para Sarney, etc. velhas conquistas dos
E do lado dos trabalhadores... trabalhadores. Esse é o momento
Pelo menos até agora a pressão decisivo. Depois não adianta
organizada do movimento sindical chorar...

DEBATE SINDICAL 3
Como
nascem e
atuam as
comissões
de fábrica
Altamiro Borges *

* Diretor do Centro de Estudos Sindicais e


jornalista responsável pela revista Debate Sindical.

1 'm rápido balanço da situação do debilidades'.


movimento operário e sindical brasi- Entre as debilidades, uma se destaca:
leiro nos últimos anos traz a tona duas a pequena organização nos locais de
evidências. Primeira, a de que houve trabalho. Exatamente onde os traba-
um sensível avanço nas lutas e na orga- lhadores passam a maior parte do seu
nização dos trabalhadores. De um sin- tempo ativo e sentem de forma mais
dicalismo imobilizado e corroído pelo direta a contradição capital-trabalho,
peleguismo, conseqüência do longo ainda não foram construídas sólidas
período autoritário do regime militar, fortalezas de luta contra a exploração e
passamos para uma fase de maior dina- os sindicatos não criaram raízes pro-
mismo dos sindicatos, de vastos ciclos fundas. Essa lacuna é perigosa e pode,
grevistas e de retomada das articula- inclusive, gerar uma falsa imagem de
ções intersindicais. Segundo, a de que, força. Está comprovado que a ausência
apesar do ascenso, ainda há enormes de organização nas empresas torna o

arl

DEBATE SINDICAL
movimento operário e sindical bas- No sentido de superar essa grave
tante frágil e vulnerável. debilidade, lideranças Operárias e sin-
A experiência da década de 60 é bas- dicais têm se preocupado mais com a
tante ilustrativa. Apesar do grande penetração nos locais de trabalho. E
número de greves e da presença mar- nessa tarefa árdua,- um instrumento se
cante do sindicalismo no cenário poli- mostra muito eficaz: as comissões de
tico, quando a reação desfechou seu empresas, mais conhecidas corno
golpe militar os trabalhadores não Conlissrie.s. de fiihricaN.
tiveram como resistir. A apatia foi Esse artigo visa mostrar a importân-
grande. Faltou, entre outras coisas, a cia fundamental desse organismo.
organização na base, num movimento como nasce e atua. Também enfren-
que pecou pelo cupulismo e pelo rebo- tará as questões polêmicas. como a
quismo diante da burguesia. Pagamos relação das comissões com os sindica-
caro por isso! tos e sua postura diante dos patrões.

DEBATE SINDICAL 5
o estudo das comissões de fábrica
N necessário, antes de tudo, estabe-
lecer uma definição precisa de seu con-
A experiência recente demonstra que
organizações desse tipo são muito eficien-
tes na luta cotidiana contra a exploração,
teúdo. Essa questão preliminar é impor- na guerra de guerrilhas da ação sindical.
tante porque existem diversas formas de Por ser um organismo amplo, ela tem
organizações nos locais de trabalho e elas condições de unir os trabalhadores de
merecem distinção. Uma delas é o uma empresa em torno de reivindicações
pequeno núcleo de ativistas que, na clan- imediatas e específicas e de vigiar as irre-
destinidade ou semilegalidade, procura gularidades existentes. Sua ação possibi-
encaminhar as lutas nas empresas. Seus lita também um conhecimento mais
membros não têm estabilidade no detalhado da produção e dos métodos de
emprego, não são reconhecidos pela dire- dominação capitalista - informações que
cão da firma e nem eleitos pelos funcioná- o sindicato não tem acesso.
rios. Em função disso, sua ação
limitada. Batizaremos esse núcleo de
"grupo de fábrica". Além disse, a comissão pode se tornar 1
uma importante ferramenta para o forta-
lecimento do sindicato. Nas fábricas onde
Já a comissão de fábrica expressa um
atuam tende a crescer o número de sindi-
estágio mais avançado. É quando um
calizados e participação dos operários nas
grupo de fábrica ou outro tipo de organi-
asssembléias da categoria e outras ativi-
zação tem força suficiente para obrigar o
dades sindicais. Tendo o respaldo das
patrão a reconhecer formalmente a comissões, o sindicato, que conta com um
existência de um organismo interno clas- número reduzido de diretores afastados
sista, cedendo estabilidade a seus inte-
da produção, ganha um reforço decisivo
grantes e outros meios de vinculação com
no seu trabalho de mobilização e uni fi ca-
o coletivo fabril - como quadro de avisos, cão do conjunto da categoria.
sala de reuniões, negociações constantes,
etc.
Uma forma mais democrática
Sob essa ótica, a comissão de fábrica
representa o conjunto dos trabalhadores de representação classista
de uma mesma empresa - sejam sindicali-
zados ou não. Ela não se confunde com A comissão ainda é uma forma bas-
uma comissão de greve, que aparece no tante democrática de representação ope-
momento do confronto e depois sucumbe rária. O controle dos representantes sobre
diante da violência patronal. Seu caráter os representantes se dá de forma direta,
deve ser permanente, com estatutos defi- no dia-a-dia do processo produtivo. A
A comissão de fábrica nindo seu funcionamento. Os integrantes medida que o trabalhador elege um com-
da Mafersa nasce após desse organismo são eleitos por todos os panheiro da mesma seção seu vínculo fi ca
intenso processo de luta trabalhadores, que também decidem as maior. Isto também agiliza o processo de
e conta com a atuação formas para comandar e controlar sua luta, uma vez que, estruturada nas seções
dos cipeiros atuação. das empresas, a comissão pode responder
imediatamente a qualquer problema que
surja - como, por exemplo, o despotismo
de um chefe.

Por último, como organismo de luta no


coração da exploração, a fábrica, possibi-
lita a elevação do nível de consciência da
classe. Sua ação prática torna mais visível
a engrenagem da moderna empresa capi-
talista. Esta, além de fragmentar em cen-
tenas de partes a produção industrial,
procura introduzir no meio operário a
ideologia burguesa baseada na competi-
ção e concorrência entre os trabalhado-
res. Para isso, ela cria váris qualificações,
faixas salariais diferenciadas e ergue uma
burocrática hierarquia. Os regulamentos
internos e a estrutura repressiva existem
para preservar a autoridade absoluta da
burguesia na fábrica.

6 DEBATE SINDICAL
A maioria das comissões
surge em período de greve

Exatamente devido a esse grande


potencial, os patrões colocam uma série
de obstáculos para impedir o surgimento
das comissões e, quando isso se torna ine-
vitável, fazem de tudo para dominá-las.
Para o capitalista, a empresa é um local
sagrado. Ele não admite quelnadadispute
seu poder de mando. Por isso, todo o
processo de organização interna dos tra-
balhadores é penoso, exige abnegação,
persistência e habilidade.
Na maioria dos casos existentes, as
comissões surgem a partir de lutas concre-
tas. Dificilmente são fruto de negociações
de bastidores com empresários. Elas tam-
bém aparecem onde já existe um nível
mínimo de organização, seja através de
grupos clandestinos de fábricas, das
Cipas atuantes ou de um diretor sindical
de base organizador.
Segundo inúmeras pesquisas, a maioria
das comissões legalizadas nasce em perío-
dos de greves. Prova disso se deu com a
retomada do movimento paredista em
1978. Nos aproximadamente 103 acordos
salariais feitos nas greves de maio e junho
deste ano, boa parte se efetuou via comis-
sões internas de trabalhadores. Nesse pro-
cesso, cerca de 35 empresas reconheceram
as comissões - sendo que em 13 delas seus empresa e que seus integrantes gozem de
integrantes obtiveram estabilidade de um estabilidade. Nestas ocasiões também
a dois anos. No ano seguinte, com o ocorre do patrão estar interessado em
ascenso do movimento grevista (cerca de encontrar rapidamente um interlocutor
430 paralisações, envolvendo mais de 3 válido para pôr fim ao movimento dos
milhões de trabalhadores), a luta pelas grevistas aguerridos. Esse interesse
comissões ganhou maior peso - e vitórias. momentâneo pode ser inteligentemente
Um estudo de 1984 mostra, mais uma aproveitado pelos sindicatos.
vez, que as comissões são fruto dos con- O grupo de fábrica - que deve almejar,
frontos de classe. Segundo o levanta- acima de tudo, a conquista de seu reco-
mento, das 22 comissões de fábrica nhecimento - é outra arma fundamental.
pesquisadas, englobando 90 mil metalúr- Na ação diária ele vai ampliando seus
gicos e vidreiros, 17 foram arrancadas a espaços no interior da empresa. Cada
partir de greves. As outras cinco também pequena luta - e vitória - é um novo estí-
surgiram sob forte pressão - mas não via mulo e reforço, servindo para ganhar o
greve. coletivo para a idéia da organização.
Na luta pela legalização das comissões Muitos desses "grupos" fazem seus pró-
de fábricas, vários instrumentos são utili- prios jornais para aumentar a comunica-
zados. Nessa tarefa, o sindicato tem papel ção horizontal na empresa, divulgando a
de destaque. Abandonando o comporta- idéia da comissão de fábrica. Depen-
mento paternalista de "resolver o pro- dendo de sua força no momento do cho-
blema pelo trabalhador", ele pode se que o grupo aparece como interlocutor do
tornar uma importante alavanca para a coletivo fabril e joga na mesa a reivindica-
organização interna. Muitas entidades ção do reconhecimento.
sindicais, inclusive, utilizam-se do Da mesma forma podem atuar as Cipas
momento de confronto, da greve, para (Comissões Internas de Prevenção de
exigir que uma comissão de trabalhado- Acidentes). Apesar de menosprezada por
res participe das negociações com a inúmeros sindicalistas, esse organismo

DEBATE SINDICAL 7
útil na organização interna. Seus inte- como pode ser golpeada. Sua única defesa
grantes contam corn alguma segurança no se dá através da consulta permanente a
emprego e, além disso, tem um certo res- base, via assembléias regulares e outros
paldo - ja que são eleitos. Muitas comis- instrumentos, e do processo constante de
sões de fábrica tiveram sua origem em mobilização do coletivo. Como já foi
Cipas atuantes. dito, a comissão nasce no bojo da luta.
lefl=tr.e1231927=0.227.=^ 3.1920•711MIZEI

Vale acrescentar: ela só se consolida e


Os truques dos patrões e cumpre seu papel através da continuidade
da mobilização.
as formas de superá-los Nesse sentido, a comissão deve tomar o
cuidado de não tratar os problemas ape-
Reconhecida a comissão dc fábrica. nas pela via da negociação por cima, apre-
.omeça uma nova fase - não menos árdua sentando soluções de forma paternalista.
e complexa. A elaboração dos estatutos, a Isto vicia a base que passa a delegar todos
eleição dos integrantes, o processo de os poderes ao novo organismo e se man-
construção, etc., refletirão a correlação de tem isenta das lutas. A apatia e a visão
forças no interior da empresa. O empresá- imediatista na resolução dos problemas
rio, mesmo cedendo a legalidade, não podem, rapidamente, minar a representa-
abandona o jogo. Tenta, de todas as tividade da comissão - tornando-se alvo
maneiras, interferir no rumo do novo fácil dos patrões.
organismo. Seu objetivo é domesticar a Para garantir respaldo, a comissão pre-
comissão, aproveitando-se de sua existên- cisa ser eleita pelo voto direto e secreto de
cia para "melhorar o ambiente de traba- todos os trabalhadores da empresa -
lho" e aumentar a produção. Caso não inclusive dos não sindicalizados. Além
consiga, trata de desgastá-la,-ettstrui-la. disso, ela deve ter representação em todas
Qualquer erro de cálculo na atuação da as seções da fábrica. Alguns estatutos
comissão pode ser fatal. prevêem ainda a revogabilidade do man-
Essa disputa exige uma compreensão dato dos membros da comissão, como
clara do verdadeiro papel da comissão de forma mais ágil e democrática de destituir
fábrica. Um principio importante é de que um integrante que não cumpra suas fun-
esse novo organismo é apenas um inter- ções ou seja corrompido.
mediário entre os trabalhadores e a dire- Fora das normas estatutárias, várias
ção da empresa. A comissão em si não comissões também procuram criar "rede
resolve os problemas internos e nem serve de apoiadores" nas seções para ampliar
de "moleque de recados", avisando as seu raio de ação e esforçam-se em manter
chefias sobre a existência de irregularida- o coletivo fabril bem informado, seja
des. Seu papel é o de mobilizar o coletivo através de boletins periódicos, murais
fabril e o fárum soberano para decidir as internos e outros veículos.
reivindicações, e as formas de luta é a
assembléia de todos os trabalhadores. Qual a relação entre
Desta forma, evita-se o cupulismo,
dificulta-se a ação burocratizante e a
comissões e o sindicato?
cooptação por parte das empresas. Tendo Na discussão do papel da comissão de
como norma a consulta permanente, seja fábrica um ponto gera grande polêmica
nas seções ou em toda a firma, a comissão no meio sindical. Qual a relação da comis-
fortalece a organização interna e exercita são com o sindicato da categoria? Alguns
a democracia. sindicalistas defendem o total atrela-
Na discussão dos estatutos da comissão mento, numa relação de dependência da
essa questão fica clara. A empresa pro- comissão para como sindicato. Outros
cura evitar o contato do novo orgão com advogam a autonomia completa, numa
o conjunto dos trabalhadores. Tenta defesa que beira a tese do sindicalismo
adaptar a comissão a estrutura da firma, paralelo ou do sindicato por empresa.
introduzindo chefias, burocratizando seu Nem mesmo as centrais sindicais (CGT
trabalho e hierarquizando as instâncias e CUT) tem pontos de vistas definidos
do "processo de reclamação". Seu obje- com relação a esta questão - apesar das
tivo é tirar toda a autonomia do orga- inúmeras resoluções por escrito de seus
nismo operário, utilizando-o para encontros e congressos. Na CUT, por
legitimar as chefias e a hierarquia interna. exemplo, notam-se claramente duas posi-
A experiência concreta demonstra que ções. Nos sindicatos que estão vinculados
sem o respaldo da base, a comissão é vul- a central predomina a tese da subordina-
nerável. Tanto pode ser cooptada, pas- ção. Isto ocorre na entidade dos metalúr-
sando a defender os interesses patronais, gicos de São Bernardo. No estatuto da

DEBATE SINDICAL
Na empresa capitalista o
operário passa a maior
parte do seu tempo
ativo e sente de forma
mais direta a exploração
capitalista

comissão da Ford fica evidente o interesse novo organismo para "rechaçar esse sin-
da direção do sindicato de tutelar suas dicato oficial, desmoralizá-la e quebrar
atividades. sua estrutura" - conforme declararam na
0 artigo 4? desse estatuto fixa que os época. Com o tempo, a comissão - que se
dois diretores sindicais que atuam na comportava como um sindicato paralelo -
empresa são membros natos da comis- caiu no isolamento. Seus integrantes
são de fábrica, sendo-lhes reservado os foram demitidos e não houve grande
cargos de coordenador e vice-coordena- resistência na base.
dor do organismo. Ou seja: os trabalha-
dores não tem o direito de eleger seus A ligação precisa ser
representantes. Além disso, o artigo 15?
vincula a comissão à própria estrutura política e não orgânica
sindical em vigor, ao permitir que o sindi-
cato "avoque a representação dos operá- Diante dessa controvérsia, qual pos-
rios da empresa na discussão de assuntos tura adotar? No nosso entender,
que sejam objeto de atuação da comissão nenhuma das duas citadas. A do atrela-
de fábrica". Desta forma, caso houvesse mento total leva a perda de iniciativa por
intervenção do sindicato o novo orga- parte dos trabalhadores, castra sua orga-
nismo ficaria subordinado à Junta do nização autônoma no local de trabalho.
Ministério do Trabalho. Além disso; pode afastar a comissão da
A outra posição, não por acaso, existe
nos sindicatos onde a CUT está na oposi- base e retirar a representatividade que
angariada na ação cotidiana, nas consul-
ção. Neles os ativistas dessa central tas regulares e democráticas. Por último,
defende a total desvinculação, chegando a dá brechas a atitudes autoritárias da dire-
pregar que o novo organismo "se contra- ção sindical, que pode manipulá-la em
põe ao sindicato" - segundo um folheto da interesse próprio.
Oposição Sindical Metalúrgica de São Já a da autonomia completa pode ter
Paulo. Para esses setores, a comissão como conseqüência nefasta a pulveriza-
uma alternativa que nega o sindicato cão da categoria, a formação de centenas
como elo aglutinador da categoria. de pequenos e inexpressiveis sindicatos
Alguns chegam a confundir as comissões por emporesa. Negando o sindicato como
com os sovietes russos (órgãos do poder elo unificar da categoria e contrapondo-
proletário), estreitando o papel desses se a ele nas lutas unitárias, a comissão
organismos no estágio atual. pode servir aos interesses patronais de
Na comissão de fábrica da Asama, dividir os trabalhadores. Não á para
registrada em maio de 83, predominou menos que setores empresariais também
essa visão. Seus organizadores, que mili- defende a total desvinculação, como
tavam na Oposição Sindical Metalúrgica ocorreu nas negociações dos estatutos da
da capital paulista, pretendiam utilizar o comissão de fábrica da Mapri, em 1986, e

DEBATE SINDICAL 9
na frustrada tentativa da multinacional de uma dada empresa a margem do pro-
alemã de criar o seu "Sistema de Repre- cesso de luta mais amplo.
sentação dos Empregados da Volkswa- Ainda sobre esse ponto, vale um alerta.
gem", em 1980. A organização na empresa pode represen-
Na nossa opinião, sindicato e comissão tar a renovação dos sindicatos, mas ela
de fábrica não se opõem; mas se articulam não deve ser vista apenas como um meio,
e completam. A comissão agrupa os tra- uma tática para conseguir outros objeti-
balhadores em torno dos interesses vos - como a conquista da direção de um
comuns dentro das fábricas; o sindicato sindicato. A organização na base é uma
engloba o conjunto dos trabalhadores de tarefa permanente, seja dos dirigentes sin-
uma mesma categoria. A comissão deve dicais ou dos ativistas de oposição. Isto
ter autonomia para consultar o coletivo porque só com a organização na base é
fabril e mobilizá-lo na conqujsta de que os trabalhadores avançarão nas suas
reivindicações específicas e imediatas. Ao lutas contra a exploração capitalista.
mesmo tempo, ela precisa respeitar as
decisões soberanas do conjunto da
categoria. Burguesia tenta domesticar
Mesmo na ação interna, a comissão o novo organismo operário
tem necessidade de manter vínculos com o
sindicato - mas não de subordinação. É
útil que a entidade sindical a acompanhe A definição clara diante das questões
nas negociações, preste assessoria econô- expostas torna-se vital para o desenvolvi-
mento das comissões de fábrica quando se
mica e jurídica nos casos mais complica-
observa a conduta da burguesia. Como já
foi dito, num primeiro momento ela pro-
cura impedir a organização interna.
Quando isso se mostra infrutífero, ela
muda de posição. Seu objetivo passa a ser
o de domesticar o novo organismo. Nesse
terreno, ela gera confusão e ate consegue
Alums êxitos. Não é outra a razão de
atualmente setores empresariais inclusive
tomarem a iniciatica de propor o reconhe-
cimento) das comissões.
A burguesia conta com a experiência
internacional. Na Alemanha, por exem-
plo. órgãos similares as comissões, os cha-
mad os "Conselhos de Estabelecimento",
prestam grande serviço na administração
do capitalismo. Segundo estimativas
recentes, existem cerca de 25 mil empresas
com conselhos. Estes atuam como sindi-
catos paralelos. De acordo com os estatu-
tos. o conselho não pode participar das
Nos momentos de greves e "nem trair os segredos da
dos. A relação não será orgânica, mas empresa quando em conversação com o
choque (na foto, a greve
deve ser política. sindicato". Seu papel é o de "zelar pela
do Pólo em ('amaçari),
Afora isso, a comissão de fábrica tem paz social" na fabrica e servir como orga-
os trabalhadores
um papel de destaque no fortalecimento nismo de colaboração entre capital e tra-
mostram sua força e dos sindicatos. A generalização dessa balho". Ou seja: servem para perpetrar a
dão passos no rumo da experiência pode significar a transforma- exploração capitalista pra iludir os operá-
organização ção do sindicalismo, com sua maior rios. O mesmo exemplo é seguido por
democratização e enraízamento nos outros países, como Holanda . Bélgica e
locais de trabalho. A pressão organizada Suécia, todos no rastro do ilusório regime
da base tem for - 0 para dar um novo da "a ut ogestão".
impulso aos sindicatos. Quando a direção Foi com base nessa experiência que a
sindical estiver comprometida com as Volkswagem tentou organizar em 1980,
lutas da classe haverá integração política na sua unidade do ABC paulista (na
entre a comissão e o sindicato. Quando época com 41 mil operários), o seu "Sis-
não, a comissão terá o papel de fortalecer tema de Representação dos Emprega-
a entidade para renová-la. A atitude isola- dos". A multinacional alemã aproveitou-
cionistas. além de facilitar a vida dos buro- se do fato do Sindicato dos Metalúrgicos
cratas sindicais, coloca os trabalhadores de São Bernardo encontrar-se sob inter-

lo DEBATE SINDICAL
venção do Ministério do Trabalho, após a' momento, criam-se as condições para o
greve de 41 dias, para apresentar sua pro- golpe fatal, como ocorreu na M WM na
posta audaciosa. Como deixou claro, seu Caterpillar, na Siemens e em outros
objetivo era "promover a integração e locais.
harmonia no ambiente de trabalho". Mesmo resistindo a idéia do reconheci-
Segundo o regulamento interno imposto mento das comissões, os empresários
sem qualquer consulta aos operários, os sabem que contam com uma margem de
sistema não possuia autonomia. "Perderá manobra para manipular o novo orga-
o mandato aquele que se aproveitar da nismo. Osmar Valentin, gerente de rela-
posição que lhe foi confiada para fins ções industriais da Ford e um dos
diferentes do previsto nesta resolução", especialistas no assunto é um dos repre-
ameaçava um de seus capítulos. sentantes patronais que defende que "a
A iniciativa, que também visava enfra- comissão interessa a direção da empresa
quecer e dividir o sindicato, não prospe- principalmente para disciplinar os confli-
rou. No primeiro embate, a comissão tos internos". Murilo Macedo, ex-
patronal se colocou contra os trabalhado- ministro do Trabalho do regime militar,
res, defendendo a redução dos salários em também advogava essa tese: "as comissões
abril de 81. Um plebiscito interno, organi- possibilitam a diplomacia sindical e a
zado pelo sindicato, disse não ao corte aplicação dos instrumentos amortecedo-
salarial e desmascarar o tal "Sistema de res de mediação e arbitragem".
Representação". Eles também têm consciência de que o
organismo de fábrica, dirigido de forma
errada, pode dividir a categoria e enfraque-
Atenção diante de todas cer os sindicatos. Na discussão dos estatu-
tos das comissões, várias empresas
as armadilhas e manobras colocam obstáculos aolvínculo com o sin-
dicato. Roberto Della Manna, homem
Mas a burguesia não recuou. Tirou forte da Fiesp (Federação das Indústrias
ensinamentos e passou a agir com maior de São Paulo), até admite a existência das
sagacidade. Em alguns casos chegou a comissões, "desde que não por via sindi-
confundir comissões nascidas em comba- cato, q que séria uma ingerência".
tivos processos de luta. Pouco depois de Pesquisa feita em 1982 mostrava que 849
formada a comissão de fábrica da MWM, dos gerentes de recursos humanos eram
importante metalúrgica da Zona Sul da favoráveis a constituição de comissões.
capital paulista, o assessor jurídico da "mas por fora dos sindicatos".
empresa, Fleury Logulo, elogiou sua Diante de tantas armadilhas e manbo-
atuação: "a comissão funciona bem. As ras, os trabalhadores conscientes preci-
reivindicações já chegam filtradas à dire- sam ficar atentos. Além da ferrenha luta
ção da empresa e isso ajuda". Os pró- pelo reconhecimento das comissões,
prios integrantes do organismo operário, como organismo útil de organização, é
tempos após diriam estranhar o clima de necessário zelar pelo patrimônio da
"paz" no interior da fábrica. "A gente até classe, definindo claramente seu papel.
desconfia de tanta liberdade", afirma- seus limites e. suas perspectivas.
vam. Não era sem motivo. Quando a Bibliografia Alvaro Moises - Editora Polis.
* O que são comissões de fábrica - Ricardo
comissão tentou puxar uma greve por Antunes e Arnaldo Nogueira - Editora
Os Sindicatos e a Transição Democrá-
tica: o que pensam os interessados - Coor-
aumento salarial, todos os seus integrantes Brasilienes - Coleção Primeiros Passos. denado por Roque Aparecido - Editado
foram demitidos. * A tomada da Ford O nascimento dc um pelo Ibrart.
sindicato livre - José Carlos Aguiar Brito - * Representacion y Conflito en dos lOrmas
Desse processo - e de outros - ficou a Editora Vozes. de Organizaccion Sindical: y Sod cato
* Processo e Relações do Trabalho no Bra-
lição. A burguesia investe no sentido de sil - Capitulo 10: Comissões de Fabrica e
- Silvia Gerchman - luperj (de/embro dc
1984).
aproveitar dos novos organismos operá- Autonomia dos Trabalhadores - Roque A organi/ação dos trabalhadores nos
rios, inclusive para aumentar a produtivi- Aparecido da Silva - Editora Atlas. - locais de trabalho: os casos da
Comissões de Fábrica em São Paulo yolks. M WM. etc. - Coordenado por
dade. "Ela quer ter lucros com a comissão Caderno 6 da coleção "Reconstrução das Roque Aparecido.
isso é feito com uma sutileza incrível. lutas Operárias". Debates sobre o movimento opera rio -
Ela proura usar a comissão para melhorar A Estratégia da Recusa - Amnéris Coletânea I - Editado pela "Reconstru-
Maroni - Editora Brasiliense. ção".
contato com os operários, para dimi- Resoluções do Ill Congresso do Movi- Estatutos de Comissões de Fábrica -
nuir a insatisfação e para descobrir os mento de Oposição Sindical Metalúrgica - tado pelo núcleo 13 de Maio.
problemas antes deles explodirem na São Paulo (maio de 1986).
Comissões de Fábrica - José Ibrahin -
OBS: Na coleta de material sobre as comis-
sões de fábricas também foram consulta-
forma de revolta", comenta um membro Editora Global. dos artigos dos semanários Movimento e
da comissão de fábrica da Ford do Ipi- * A Classe Operária no Brasil (1889-1930 - Tribuna Operária. Além disso. foram fella,
Documentos) - Paulo Sérgio Pinheiro e entrevistas com os integrantes das comis-
ranga. Ao mesmo tempo, ela tenta buro- Michael Hall - Editora Alfa-Omega. sões de fábrica da Ford (lpiranga). Volk.
cratizar a comissão, afastá-la da base c !* Sindicatos e Democratização - Ricardo (São Bernardo). Maori. MWM. Malersa.
criar a ilusão da "paz social". NeK Maranhão - Editora Brasiliense. Columbia e Santa Marina - todas de Silo
Greve de Massa e Crise Política - Jose Paulo.

DEBATE SINDICAL 11
Novos estatutos
e a democracia
nos sindicatos
o processo de abertura política no
Roseli Figaro * N fim do regime militar, o movimen-
to sindical obteve algumas alterações na
legislação que rege a vida de suas
Recentemente alguns sindicatos brasileiros entidades.
passaram a discutir seus estatutos internos.
Murilo Macedo, ministro do Trabalho,
Aproveitando-se das limitadas alterações na na época, baixou, em dezembro de 84, a
legislação sindical, procuram democratizar as portaria de n? 3.280 que revogou a insti-
entidades para aumentar seu respaldo na tuição do estatuto padrão: "Fica revo-
base. Agora, com a possibilidade da gada a portaria n? 126/58, que institui
modelos-padrk de estatuto social para
Constituinte aprovar a autonomia sindical, entidades sindicais". Em seu artigo 2?
esse debate tende a ganhar corpo. Nesse designava: "Os estatutos sociais das enti-
artigo apresentamos um pequeno painel das dades sindicais serão elaborados segundo
disposições legais vigentes, devendo ser
mudanças já efetuadas nos estatutos. submetidos à aprovação da assembléia
geral ou conselho de representantes".
• Assessora de Imprensa do Sindicato dos lAeroviários de Sao Paulo
Sem dúvida, um avanço frente A impo-
sição quarentona da CLT. No entanto,
restrito, pois continuava exigindo sua
submissão à legislação em vigor e, por-
tanto, a superioridade da CLT em relação
aos estatutos sociais. De fato, o que se
obteve de novo foi a possibilidade de tra-
zer o debate da questão - atrela mento dos
sindicatos ao Estado - à tona.
Em 28 de março de 85, o já ministro da
"Nova República", Almir Pazzianoto,
revogou a portaria n? 3.437 de dezembro
de 74 e estabeleceu a portaria de n? 3.117,

2 DEBATE SINDICAL
que regulamenta:"as eleições sindicais, de alterações estatuta riais em apenas três
observadas as exigências de cunho geral entidades sindicais de trabalhadores
constantes na CLT, processar-se-ão na rurais: a Federação dos Trab. da Agricul-
forma do que vierem a dispôr os Estatutos tura no Estado de S. Paulo - Fetaesp; o
aprovados pelas assembléias gerais das Sind. de Trab. Rurais de Araras e Região;
associações profissionais e sindicatos, ou e o Sind. dos Trab. Rurais de Mirasol.
Conselhos de Representantes das Federa- Dos sindicatos urbanos, 158 haviam efe-
ções e Confederações." Isto possibilitou a tuado alterações, sendo que destes, 95%
diretoria da entidade e a categoria discuti- são sindicatos de trabalhadores e o res-
rem e regulamentarem o processo eleito- tante são sindicatos de empregadores.
ral de seu orgão de classe, claro que
sempre dentro dos marcos da CLT. Do sindicato livre para
No entanto, segundo declarações do
Diretor de Divisão de Assunto Sindicais o tutelado pelo governo
da DRT/ SP, Jorge Mishino, poucos sin-
dicatos efetivaram mudanças em seus
estatutos, o que levou o Ministro a cance- A liberdade e autonomia sindical, tão
lar a portaria 3.117 e a baixar outra, a de reivindicada pelo movimento sindical, já
n9 2712/86, que determinava às entidades foi realidade em nosso país. Faz-se neces-
que até o momento não haviam efetuado sário historiarmos, rapidamente, esse
alterações em seus Estatutos que deve- período para que possamos compreender
riam reger-se por "Instruções ministeriais melhor a estrutura sindical hoje implan-
a serem baixadas no prazo de 90 dias". tada no Brasil.
Finalmente, em 30 de abril de 1985 o As entidades autonomas nasceram da
Ministério do Trabalho, Almir Pazzia- necessidade do movimento real da classe
noto, baixa a portaria 3.150, que regula as operária em organizar suas lutas em prol
eleições das entidades sindicais que não das reivindicações da classe. Eram as
introduziram alterações sobre o tema em "uniões profissionais". "associações de
seus estatutos. ajuda mútua", federações regionais, cen-
No fundamental, a portaria 3.150 é trais sindicais, etc. O sindicalismo era pra-
mais flexível no que diz respeito ao quó- ticado horizontalmente. O Estado não
rum necessário para uma chapa vencer o exercia, através da legislação, qualquer
pleito escrutínio. Ou seja, modifica a por- interferência no corpo orgânico das enti-
centagem de votos necessários relativa- dades. Era livre a organização de Uniões
mente ao número total de votos por ramo de categoria, possibilitando
apurados, diferentemente da portaria várias entidades numa mesma profissão -
anterior. reflexo do nível de consciência e desenvol-
Até a data da nossa entrevista (5/ 6/ 87), vimento da classe operária e do
Jorge Mishino apresentou-nos o registro capitalismo em nosso país.

DEBATE SINDICAL 1
A relação mantida até então, por parte formas de intervenção no movimento,
do Estado, com os organismos de traba- que lhes garantisse o controle absoluto da
Ifiadores era policial. A repressão direta, a situação. E de 1931 o primeiro decreto lei
cassação dos direitos politicos, o exílio e a que introduz o controle do Estado nas
extradição de lideranças sindicais, eram entidades dos trabalhadores.
corriqueiras. Além, da intervenção e
fechamento dos sindicatos, respaldados Estado Novo impõe regras
no art. 12 do decreto lei 4.269 de 1921.
É um período de grande ebulição poli- cupulistas e autoritárias
tica no país. Os trabalhadores, depois da
experiência assimilada com a greve geral Lindolfo Collor, Ministro do Traba-
de 1917, na capital paulista, e do grande lho, Indústria e Comércio, do governo de
entusiasmo causado pela revolução prole- Getúlio Vargas, foi responsável pelo
tária na Rússia, passaram a dar maior Decreto 19.770 - publicado em
consequência ao seu movimento. Deixam 15 /3 '1931, que estabelecia a lei de sindi-
de lado as concepções anarquistas e pro- calização e impunha a tutela do Estado ao
curam um novo rumo, que lhes propi- sindicalismo brasileiro. Estabeleceu, no
ciasse acumular forças, ampliar a fundamental, que o sindicato para existir
participação e obter conquistas concretas deveria ter seus estatutos aprovados pelo
na melhoria de vida e trabalho, que justi- Ministério do Trabalho. Além de ter
ficassem a continuidade do movimento. anualmente suas contas e atividades vis-
Na década de 20, fruto dessa luta, o toriadas pelas autoridades, seu artigo 5'?
trabalhador viu traduzir-se em leis anti- definia as entidades sindicais "como
gas reivindicações, tais como: a lei n? órgãos consultivos e técnicos no estudo e
solução,pelo governo federal, dos proble-
mas que, economica e socialmente, se
relacionassem com os interesses da
classe". E em seu artigo 6'? definia o sindi-
cato "como órgão de colaboração com o
poder público."
Sergio Amad Costa, no livro "Estado
e Controle Sindical no Brasil", comenta:
"nestes dois artigos fica evidente a inten-
ção de transformar os sindicatos em enti-
dades assistenciais, amenizando seu
caráter de luta e canalizando, também,
para dentro do aparato estatal, os confli-
tos sociais. Isto porque os sindicatos pas-
savam, por determinação legal, a ser
órgãos consultivos e técnicos do governo
federal, caracterizados como entidades de
colaboração com o poder público"
Capciosamente, o governo de Getúlio,
impôs o sindicalismo oficial aos trabalha-
Assembléia na porta da dores, em contraposição aos sindicatos já
3.724, de 15 de fevereiro de 1919, que
Fiat de Betim (MC): existentes, a partir do momento que regu-
amparava os operários vitimados em-aci-
lamentou, através do decreto, que as leis
novas formas para ouvir dentes de trabalho; a lei Elov Chaves de
editadas em beneficio dos trabalhadores
as trabalhadores e 242 1923 e a lei 16.027, de :30 041923,
só seriam aplicadas mediante o reconheci-
lefinir os rumos da luta que regulamentava, respectivamente, as mento oficial da entidade. Foram assim
io dia-a-dia. pensões e as caixas de aposentadoria para impostas pelo governo as entidades ofi-
os ferroviários e o conselho Nacional do ciais e com elas vimos o nascimento de
Trabalho; e o decreto ri(! 4.982 de 1925, uma nova casta de dirigentes sindicais - os
regulamentado pelo decreto 1-1(! 17.496 de chamados ministerialistas, ou pelegos.
30 10 26, que estabelecia no país o
regime de férias - 15 dias anualmente, aos Ern 1943, todo o conjunto de leis de
empregados e operários de estabeleci- controle sindical elaborado na década de
mentos comerciais, industriais e 30, culminando com a criação do imposto
bancários. sindical em 1939, foi compilado na velha e
Essas conquistas renovaram o ímpeto conhecida Consolidação das Leis do Tra-
de participação dos operários nas entida- balho - CLT. Institucionaliza-se uma
des, chamando a atenção das classes nova forma do Estado abordar o movi-
dominantes para a necessidade de novas mento operário.

DEBATE SINDICAL
A CLT traduz a modernização do número de membros das diretorias das
Estado, no que diz respeito ao aparato entidades sindicais. A proposta dos meta-
das classes dominantes na repressão as lúrgicos era a criação de um Conselho
lutas dos trabalhadores. Além do instru- com status de diretoria com 105 mem-
mento repressivo direto, polícialesco, bros, representando, as grandes empresas
introduziu-se a atuação política e legal do metalúrgicas da Capital.
Poder, na relação sindicato-patrão- Segundo o advogado, especialista em
Estado legislação sindical e trabalhista, Dr. José
A CLT serviu tão bem ao poder que Carlos da Silva Arouca, "a tentativa de
mesmo no decorrer do período politico alteração do número de membros de uma
mais democrático - de 45/64 -, não foi diretoria sindical não está de acordo com
alterada e, continuou a bem servir aos a legislação e não dá estabilidade aos
general durante os 21 anos de regime mili- membros que vierem a integrá-la. A por-
tar no Brasil. A "Nova República" acenou taria que dava estabilidade aos Conselhos
com mudanças, mas de concreto (além Consultivos, baixada pelo ex-Delegado
das portarias já analisadas), o que é pro- Regional do Trabalho, José Carlos Stein,
posto pelo governo e mesmo o que se tem foi contestada pelo Ministério do Traba-
apresentado A. Constituinte por parte do lho e não chegou a vigorar. Sem dúvida,
Ministério do Trabalho, não trará a liber- seria uma grande conquista do movi-
dade e a autonomia sindical aspirada mento sindical".
pelos trabalhadores sem quebrar o que
lhes é fundamental: a unidade de suas
entidades representativas.

Mecanismos para ampliar


a consulta a categoria

Das entidades do Estado de São Paulo


que efetuaram mudanças em seus estatu-
tos, escolhemos algumas experiências. A
partir delas podemos analisar e obter um
quadro mais concreto do que de fato se
fez e pode-se fazer para avançar a legisla-
ção sindical.

Procuramos conhecer as alterações nos


estatutos dos Sindicato dos Mertalúrgi-
cos de S. Bernardo do Campo e Diadema;
do Sindicato dos Jornalistas Profissio- sindical, é interessante ser analisado, pois
nais o Estado de S. Paulo; do Sindicato levantou a discussão da ampliação do
dos Trab. na Ind. de Panificação e Con-
feitaria de S. Paulo; do Sindicato dos
Bancários de S. Paulo; e do Sindicato dos O Dr. Jose Carlos da Silva Arouca,
Metalúrgicos de S. Paulo. Cabe ressaltar, assessorou a diretoria do Sindicato dos
mais uma vez, que as alterações permiti- Trabalhadores em Ind. de Panificação e
das por lei referem-se aos dispositivos do Confeitaria de S. Paulo, também conhe-
processo eleitoral desde que não firam o cido por Sindicato dos Padeiros, na
Titulo V da CLT. mudança de seus estatutos. Analisando-
o,podemos observar que a diretoria do
O Sindicato dos Metalúrgicos de São Sindicato preferiu continuar conferindo
Paulo teve, pelo que se tem notícia, o ao presidente da entidade a responsabili-
processo mais conturbado na tentativa de dade para "organizar e presidir o processo
alteração de seus estatudos. O maior sin- eleitoral", conforme seu art. 104. E ainda,
dicato da América Latina, às vesperas das por seu art. 107, "cabe ao congresso anual
eleições para renovação de sua diretoria, que anteceder o término de uma gestão
foi abordado por uma massa de ativistas aprovar o calendário eleitoral da enti-
descontentes, respaldados por uma par- dade, prevendo: data de publicação do
cela de diretores dissidentes, com propos- edital que convoca o pleito; dias e horá-
tas de alteração em seus estatutos. Apesar rios de votação; critério de apuração,
do conturbado processo e das várias opi- etc".
niões que se tem sobre ele no movimento As alterações nos Estatudos do Sindi-

DEBATE SINDICAL 1
II

cato dos Padeiros caminharam mais no vigor, resolve: reformar seu Estatuto no
sentido de aprofundar a regulamentação que tange ao Processo Eleitoral,
dos direitos e deveres dos sócios assim democratizando-o, dentro dos para-
como de uma série de normas disciplina- metros legais, e, manter o modelo-padrão
res que regulam as assembléias, e o rela- da Portaria 126 /58 ante a impossibilidade
cionamento do sócio com a , entidade. legal de modificar o estatuto dentro dos
Prevê e regula o Conselho Consultivo, as padrões que considera compatível ao sin-
comissões de empresa, e as delegacias dicalismo livre".
sindicais.
Processo eleitoral será
Já o Sindicato dos Metalúrgicos de S.
Bernardo do Campo e Diadema, presi- definido em assembléia
uido na época das alterações estatutárias
por Jair Meneguelli, preferiu restringir ás
mudanças nos estatutos exatamente no Sendo assim, os metalúrgicos do polo
que permite a portaria 3.117 de 28 de industrial mais importante do país, defi-
O Sindicato dos março de 1985, do Ministério do Trabalho. niram seu processo eleitoral introduzindo
Metalaúrgicos de E. na justificativa esclarece: "que a revo- de novo a obrigatoriedade do presidente
gação da aludida portaria ( 126/ 58) , não do Sindicato convocar Assembléia da
Osasco foi um dos categoria para definição do processo elei-
primeiros a alterar o encerra o sistema corporativo sindical no
Brasil, vez que o título V- da Organização toral, deliberando sobre: data, duração
estatuto, que passou da votação, "e se for o caso" de comissão
pela aprovação do Sindical- da Consolidação das Leis do
Trabalho (arts. 511 a 610) continua em eleitoral. Define também, que a assem-
congresso bléia poderá optar pela presidência do
pleito: se será exercida pelo presidente do
sindicato, ou pela comissão eleitoral.
NI
TRA ADORES NRS INNSTR
5 IDICATC oos ELÉTRICO Avança ainda no sentido da democracia
M ANICPS E OE MAT sindical, quando estabelece condições
iguais na utilização dos recursos materiais
do sindicato para as chapas concorrentes,
no que diz respeito a: divulgação, locais
para reuniões, guarda de material, pro-
moções de debates, etc. E cabe à assem-
bléia da categoria estabelecer o montante
gasto no processo eleitoral.

Nos dias que antecederem à eleição da


DOS
METALÚRGICOS DE SASC nova diretoria do Sindicato dos Metalúr-
gicos de São Bernardo e Diadema, entre-
.
SINDICATO
vistamos o seu atual presidente Vicente de
Paula, que nos afirmou: "achamos que
errado apenas 24 diretores num sindicato,
mas pela atual legislação a alteração
numérica é falsa porque o Conselho não
3-orIN tem estabilidade. Os estatutos impõem o
I Win presidencialismo, mas achamos que a
diretoria deve ser um colegiado, dando
valor de voto aos suplentes".

O Sindicato dos Bancários de São


Paulo também realizou mudanças em
seus Estatutos há pouco tempo. Tivemos

1111111 dill oportunidade de acompanhar de perto o


processo que foi amplo e aberto à partici-
pação da categoria. Introduziu mudan-
ças, além do processo eleitoral, na
representatividade do Sindicato, refor-
çado por delegacias sindicais, criando
novas subsedes, criando a comissão elei-
toral para dirigir o pleito e abordando a
estrutura vertical do sindicalismo, a partir

6 DEBATE SINDICAL
' PELR DEMOCRATIZACÃO DO 3INDICATO
COP11531i0 t FÁBR1CR »P
EL A UN O DOS ET • ifaC61

do reconhecimento do direito do sindi- com sua categoria profissional. (Capítulo A luta pela democracia
cato filiar-se a uma Central Sindical. I, art? 39, item IV). E, de burlar a estrutura nos sindicatos esbarra
vertical do sindicalismo brasileiro através em grandes obstáculos,
do item VI do mesmo art. 39 que dispõe: como no caso dos
Romper a acomodação para "representar a categoria nos congressos, metalúrgicos de S.
arejar as entidades conferências e encontros de âmbito muni- Paulo
cipal, estatual, nacional e internacional,
na conformidade da legislação vigente".
Mas, da rápida pesquisa que fizemos Em fevereiro de 86, a assembléia geral
nos estatutos das entidades sindicais do da categoria alterou as disposições estatu-
Estado de S. Paulo, que efutaram mudan- tárias no que se refere a regulamentação
ças, pudemos observar que o Sindicato do processo eleitoral. O processo eleito-
dos Jornalistas Profissionais no Estado ral, aprovado, estabelece no fundamental
de S. Paulo, de maneira corajosa, apro- que: sera convocada assembléia para ins-
veitou o momento de abertura política tauração do processo eleitoral e disporá
que vivíamos no final da década de 70 e sobre a eleição de uma Comissão eleitoral
efetuou profundas mudanças em seus de dirigirá o pleito; definição da data e
Estatutos. Tanto é que o Sindicato dos apuração do pleito.
Jornalistas não tem seu estatuto regis- Toda a estrutura sindical viciada ao
trado pelo Ministério do Trabalho. Ele
encontra-se, segundo seu ex-diretor, e um atrelamento e à tutela do Estado criou
dos participantes do processo de altera- uma certa acomodação das diretorias sin-
ções, Pedro de Oliveira,apenas depositá- dicais, que na prática tem impedido que se
rio na DRT/SP. Isto porque não traz em avance politicamente na legislação.
seu conteúdo o termo: colaboração com Mesmo a interferência na Constituinte
o Estado... tem Se dado de maneira assistemática e
em pequena porporção. Visto que ainda
O Sindicato teve a ousadia de mudar o pequeno o número de entidades que fize-
termo já citado e imposto pela legislação ram alterações em seus • estatutos, os
como de fundamental importância para a exemplos que se têm são honrosos e bali-
designação de outro conteúdo, qual seja, sam as possibilidades existentes quanto
o de "representar junto ao Estado, como democratização da entidade em favor de
órgão técnico e consultivo, no estudo e uma maior interferência das bases das
solução dos problemas que se relacionam categorias nas entidades.

DEBATE SINDICAL
VAMOS GARANTIR O ACORDO!

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18
DEBATE SINDICAL
A luta de idéias
e a força do
jornal sindical
Dennis de Oliveira e Juarez Tadeu Paula Xavier *

No capitalismo, sistema baseado na mento do movimento sindical, houve


exploração assalariada, o processo de uma valorização da imprensa nos sindica-
luta de classe é inevitável, profundo e per- tos. Muitas entidades passaram a editar
manente. Independe da vontade dos jornais, boletins, murais, cartazes. Alguns
homens. E fruto da própria natureza eco- inclusive avançam para a utilização de
nômica do sistema, da contradição irre- videos e de outros veículos de comunica-
conciliável entre capital e trabalho. A luta ção com suas bases. Segundo levanta-
de classe está presente em todos os níveis mento feito pelos alunos das Escola de
da sociedade. Ela se reproduz, segundo Comunicação e Artes da LISP, apresen-
Friederich Engels, na esfera econômica, tando o 2(? Encontro Nacional de Profis-
política e ideológica. sionais de Comunicação Sindical
O sindicato, como instrumento de luta (outubro de 86), cerca de 10 milhões de
dos trabalhadores contra a exploração, impressos sindicais são distribuídos men-
desenvolve suas atividades nestas três salmente pelo país afora. Isto equivale a
frentes. No terreno econômico, mobili- 10% do total de material impresso no
zando as bases por melhores salários e Brasil.
condições de trabalho. No politico, Entretanto, apesar desses avanços,
denunciando as arbitrariedades do ainda há muitos entraves a superar.
Estado burguês e batalhando por avanços Expressiva parcela de sindicalistas ignora
democráticos e sociais que abram espaço a importância da luta no terreno das
para o desenvolvimento das lutas dos tra- idéias - deixando o campo livre para a
blahadores. E no ideológico, contrapon- ideologia burguesa. Alguns, alegando
do-se as idéias burguesas presentes entre falta de recursos, não priorizam a edição
os exploradores. de boletins, jornais e outros materiais. A
Nessa matéria divulgamos algumas comunicação com a base se dá de maneira
experiências da ação sindical no terreno irregular. Mesmo nos sindicatos que
da luta de idéias. Nela fica patente a investem nessa área, é pequena a discus-
importância da imprensa nos sindicatos. são e elaboração para produzir impressos
Esta cumpre inúmeros papéis, entre eles: melhores - tanto no conteúdo como na
denuncia a exploração e opressão patro- forma. Muitos jornais sindicais se restrin-
nal; serve para mobilizar as categorias nas gem ao mero papel de "informativos", * Dennis é jornalista,
lutas concretas do dia-a-dia; ajuda na for- não aproveitando todo seu potencial. redator do jornal
mação da consciência de classe; desmas- Não temos dúvidas. Para fortalecer e "Comboio" do
cara as informações deturpadas da dinamizar os sindicatos é fundamental Sindicato dos
imprensa burguesa; e, o que é de grande que A questão da comunicação com a base Caminhoneiros de SA
Paulo. Juarez
valia, constitui-se num instrumento de seja tratada com mais carinho. Essa é uma assessor de imprensa
organização coletiva. poderosa arma, que precisa ser melhor do Sindicato dos
Nos últimos anos, com o fortaleci- utilizada! Securitários (SP).

DEBATE SINDICAL
"Folha Bancária" penetra na base
osélNegrão é o jornalista responsá- João José Negrão conta que "a Folha
vel pelo maior jornal sindical da Bancária, pela sua estruturação, já é um
atualidade: o "Folha Bancária". Este órgão jornal estabelecido, ou seja, enraizado na
tem uma tiragem diária de 80 mil exem- categoria. O fato dele ser diário dá uma
plares (chegando a 120 mil em época de enorme importância tanto na mobiliza-
campanhas salariais). Para a sua confec- cão como no enraizamento do sindicato
ção, o Sindicato dos Bancários de São na categoria".
iindicato dos Bancários Paulo conta com oito jornalistas, senclo
cinco para texto, dois diagramadores, e
:omprou rotativa para
um ilustrador, além de seis pessoas na 0 jornal tem uma importância tão
tumentar o volume de grande para o Sindicato que toda a
composição e os gráficos. Os jornalistas
mpressos. Em 86 foram trabalham em dois turnos de seis horas e o reunião da diretoria conta com a partici-
iistribuidos 18 milhões fechamento do diário se dá entre 17 e 20 pação de um representante da equipe do
le "Folhas Bancárias" jornal. "Assim, comenta Negrão, evita-se
horas.
a prática de vir pacotes fechados da dire-
toria para nós, aproximando o relaciona-
mento nosso com a diretoria do
sindicato".

Entre os problemos do jornal, Negrão


cita a seleção das colaborações, pois a
freqüência do órgão fez crescer bastante a
participação da categoria.

Quanto a situação atual da imprensa


sindical brasileira, o jornalista da Folha
Bancária acha que a maior causa das suas
deficiências é a baixa compreensão dos
dirigentes sindicais que desprezam o
papel da imprensa na politização da cate-
goria. "Por isso, a renovação de muitas
diretorias sindicais corresponde a um
crescimento da imprensa sindical no seu
conjunto".

Finalmente, João José Negrão consi-


dera que uma diretoria comprometida
com a lutas dos trabalhadores sempre tem
em mente a incrementação da imprensa
sindical.

A "Realidade" do campo paulista


osé Carlos trabalhou na assessoria tece no interior, muito menos se tratará
de imprensa da Federação dos Tra dos problemas dos trabalhadores rurais".
balhadores na Agricultura de São Paulo.
a FETAESP, de 1979 até maio deste ano. Com essa constatação, José Carlos
Nestes oito anos de convívio com a esmerou-se por mandar exemplares do
imprensa sindical rural, José Carlos faz jornal da FETAESP, o "Realidade
duas considerações bastante importantes Rural" para as empresas de comunicação
A primeira é que existe por parte da e os partidos politicos com a finalidade de
grande imprensa um pouco caso com os mostrar um "outro lado do país".
fatos ocorridos fora das grandes regiões Outra consideração que o assessor faz é
metropolitanas. "0 interior é ignorado que "é muito difícil desmontar a máquina
pela grande imprensa". comenta Jose Carlos publicitária da grande imprensa e seus
"Assim, se não se trata do que acon- reflexos no conjunto da população".

DEBATE SINDICAL
Sendo assim, José Carlos considera que o
jornalista sindical deve ter consciência do
seu papel, ou seja, de que terá a tarefa de
desmontar todo esse aparato na catego-
ria, levando o trabalhador a ter uma
consciência política.
Por isso, José Carlos acha que o jornal
sindical não é um mero espaço para jogar
matéria. Ele deve ter uma linha determi-
nada, posições marcantes, ou seja, ter per-
sonalidade, sem, contudo, ser sempre
panfletário. José Carlos comenta que sua
experiência na assessoria da Federação
foi bastante positiva pois, graças ao
órgão, a Federação cresceu e ganhou
força tanto junto à categoria, como na
sociedade. A participação da categoria no
jornal evidenciou-se pelo grande número
de cartas enviadas com de`núncias, criti-
cas, sugestões.

V !

Aeroviário" enfrenta empresas


oseli Figa o é a jornalista responsá- fite frente e verso. O outro é o jornal "0
vel pelo Departamento de Imprensa Aeroviário", mensal, formato tablóide, 8
do Sindicato dos Aeroviários do Estado páginas, dez mil exemplares que circula
de São Paulo há dois anos e meio. O em todo o Estado.
departamento conta ainda com a partici-
pação de dois outros profissionais, Valé- Segundo ela, "leva para a prod ução do
ria Costa, diagramadora e arte finalista, e grandes sindicatos (metalúrgicos de São
Luiz Carlos Leite, fotográfo. Todo o tra- Paulo, metalúrgico de São Bernardo,
balho da assessoria é dirigido por um con- bancários de São Paulo), a imprensa sin-
selho editorial composto por um diretor dical é bastante débil. Isso como um
de cada empresa, num total de cinco, e o reflexo da fraca ligação dos sindicatos
responsável pelo departamento de com suas bases". A implantação da asses-
imprensa. soria nos Aeroviários foi fruto da renova-
São dois os veículos de informação uti- cão sindical ocorrida em 1984. 0
lizados pela entidade. Um é o boletim "0 sindicato não contava com um veículo de
Aeroviário", semanal com sete mil exem- informação periódico. "Nosso papel,
plares, distribuido principalmente na comenta Roseli, foi elaborar um plano
capital e no Aeroporto Internacional de que previa a edição de um boletim sema-
Guarulhos, editado na forma de folha sul- nal e um jornal mensal, além de nos pre-
ocuparmos em montar uma estrutura
minima para a produção destes
materiais".
Muitas dificuldades foram superadas,
mas a própria diretoria do sindicato
entendeu a importância da comunicação
sindical para a organização da categoria e
democratização da entidade. Porém,
Roseli afirma que ainda há muitas debili-
dades: "A primeria delas é a falta de recur-
sos. Uma gráfica própria do sindicato
com equipamentos mais modernos.
Maiores investimentos de recursos finan-
ceiros, pois a cada mês a produção de um
jornal fica mais cara. Outra grande difi-
culdade é o contacto com a categoria. As
empresas não permitem que entremos
para que possamos acompanhar de perto
os problemas dos aeroviários".

DEBATE SINDICAL
Urbanitários dinamizam imprensa
esde julho passado, a Federação dos
D Trabalhadores nas Indústrias Urb-
anas do Estado de Km Paulo vem dinami-
dente da Federação, Rubens Fandino,
pretende mudar esse quadro. O projeto
aumentar a tiragem do boletim e editar
zando seu departamento de imprensa. um jornal tablóide.
Antes ela se comunicava com as direçõe s. Segundo Lejeune Mato Grosso, asses-
das sete entidades filiadas unicamente sor sindical da Federação, a dinamização
através de circulares. Agora possuí um da imprensa trouxe resultados positivos.
boletim semanal, impresso em sulfite, "Na base eletricitaria da capital, por
duas cores, com 10 mil exemplares. Como exemplo, a receptividade do boletim é
vârios dos sindicatos filiados possuem excelente. Os trabalhadores estão seden-
seus próprios boletins, o da Federação é tos de informações, principalmente nessa
afixado nas sedes do interior, mas o fase da vida econômica e política do país".
grosso é distribuído pelos dirigentes da Para ele, o conjunto do sindicalismo bra-
entidade na capital paulista - onde a sileiro ainda não dá a devida importância
comunicação sindical é mais débil. para a imprensa sindical. "Essa frente de
A Federação representa 80 mil traba- luta é tratada de forma amadora, sem
lhadores no Estado, reunindo o pessoal recursos", afirma.
dos setores de energia elétrica, gds e puri- E concluí: "Hoje é inadmissível uma
ficação de Agua e esgoto. O peso da cate- entidade, mesmo Com poucos sócios, não
goria é estratégico. lima greve do setor de ter o seu boletim ou jornal. Se a diretoria
energia, por exemplo, paralisaria total- deseja ser vanguarda da categoria nas
mente sete Estados a região centro Sul. suas lutas é fundamental que ela conte
Apesar dessa importância, -a- comunica- com um instrumento de comunicação
ção horn a base é pequena. O novo presi- . com a base".

Experiência nova no "Securitário"


á um ano, aproximadamente, de- curtos, no entanto, sem banalizá-la.
H senvolvo a atividade de assessoria
do Sindicato dos Securitários de Sao
No curto espaço de tempo que estamos
aqui, surgiram alguns elementos que nos
Paulo. Logo no inicio, apresentamos um permitem analisar a potencialidade da
plano de trabalho que se ancorava nos imprensa sindical em nossa base. Elemen-
seguintes pressupostos: organizar uma tos como a democratização das decisões
imprensa sindical que tenha como centro da diretoria e, conseqüentemente, da
da sua preocupação a elevação do nível de estrutura da entidade - assim como a
consciência política, social e sindical dos enorme contribuição dada à organização
trabalhadores; criar um instrumento que da categoria na sua mobilização.
fosse a expressão viva dos anseios da cate- Mas, no meu ponto de vista, a maior
goria, mantendo a sua periodicidade. Isto contribuição dada pela imprensa sindical
não acontecia com o jornal do sindicato é a de criar condições do sindicato se
que era publicado em grandes intervalos enraizar dentro das empresas. Ela, bem
de tempo. utilizada, sustentará as atividades dos tra-
0 piano previa um jornal mensal de balhadores no local de trabalho, inclusive
intervenção política - que hoje é editado sendo sustentada por este trabalho.
em formato meio ofício com I2_páginas e Finalmente, é impossível falar das
em duas cores - e um boletim semanal potencialidades da imprensa sindical sem
informativo em tamanho ofício, com uma falar das suas dificuldades atuais. Elas
tiragem que varia de 10 mil a 20 mil exem- aparecem em duas formas. Uma de natu-
plares. Além disso, procuramos criar rareza material, onde se trabalha com
boletins específicos para as grandes uma infraestrutura minima. A outra, já
empresas. Apesar da mudança da direto- mais complexa, de ordem-política - fun-
ria, o plano no conjunto foi realizado e, dada na grande incompreensão dos sindi-
mais recentemente,ampliado. Atualmente calistas da importância da imprensa
estamos estudando uma forma de melho- sindical, a dificuldade de entender que o
rar a eficácia informativa do sindicato trabalhador para se mobilizar precisa
com novos veículos, a exemplo do vídeo, estar informado.
e melhorar a linguagem do nosso material (Juarez Tadeu de Paula Xavier, assessor
escrito, com informação objetiva e textos do Sindicato dos Securitários)

DEBATE SINDICAL
As causas e as
conseqüências
da recessão
Agenor da Silva e Umberto Martins

A economia brasileira voltou a apre- cresceu 10,3% em 1986, segundo o


sentar sérios sinais de crise e reces- IBGE, caiu em junho deste ano com-
são, depois de experimentar um parado ao mesmo mês do ano pas-
pequeno período de relativo cresci- sado. O fantasma do desemprego
mento a partir do segundo semestre ronda os lares dos operários. O que
de 1984. A produção industrial, que explica essas oscilações violentas no
nível de atividade produtiva tão carac-
* Agenor da Silva, economista, presidente do
Centro de Estudos e Pesquisas Sindicais (CEPS). ter ísticas do modo de produção
Umberto Martins, membro do Grupo de
Economia do CEPS e jornalista da Tribuna Operária.
capitalista?

DEBATE SINDICAL 23
esnorteado perante os grandes prob- teúdo do Plano Bresser revela-se, desta
D lemas nacionais, o governo Sarney
lançou o chamado Plano Bresser - ou
forma, não somente antioperário como
igualmente antinacional, uma vez que, áo
Cruzado III - propagandeando que iria lado do arrocho salarial, agrava a
evitar o caos econômico, debelar a crise e dependência a que o Brasil é submetido
a recessão. Os trabalhadores foram convi- pelo capital estrangeiro.
dados a dar mais uma cota de sacrifícios, E de se perguntar as razões da impotên-
aceitando o arrocho salarial embutido no cia do governo em enfrentar a crise e solu-
plano. cionar os grandes problemas nacionais de
Afirmou-se que "os salários estavam acordo com as necessidades e expectati-
muito altos na época do Plano Cruzado, vas do povo.
instituído em março de 1986", e ainda que
"agora, quando a inflação do primeiro As crises econômicas são
semestre de 1987 corroeu o poder de com-
pra dos salários, a economia pode retor- inevitáveis no capitalismo
nar à normalidade, bastando conter a
inflação".
O ministro Bresser Pereira argumentou Na verdade, há uma série de fatores que
também que a economia havia crescido explicam o atual quadro da economia
demasiadamente, sendo necessário contê- brasileira. Mas, em primeiro lugar, é pre-
la. "Precisamos reduzir o crescimento" ciso destacar que a crise econômica e o
esta foi a palavra de ordem assumida pelo conseqüente processo recessivo são inevi-
governo. Contraditoriamente, a diminui- táveis nos marcos do capitalismo,
cão da atividade econômica criaria as constituindo-se mesmo em formas de
bases para a estabilidade. existência e desenvolvimento do sistema.
No entanto, o grande - e até agora Desde 1825, quando eclodiu a primeira
exclusivo - "mérito" do Cruzado III foi crise econômica do capitalismo, periodi-
mesmo o arrocho salarial. A inflação, camente o processo produtivo entra em
embora tenha declinado em relação aos convulsão. Inicialmente, o intervalo entre
níveis do primeiro semestre deste ano, uma e outra crise era de 10 a 12 anos, mas
mantém-se em patamares elevados. A o período do ciclo foi se encurtando na
recessão não cedeu, ao contrário foi agra- medida em que se desenvolvia o capita-
vada pelas medidas destinadas a conter o lismo, de forma que hoje a cada cinco ou
consumo interno. sete anos a economia mundial ingressa em
Logrou-se ainda, é certo, aumentar as processos de crise, cada vez mais agudos.
exportações e, daí, gerar um excedente A rigor, a partir da crise de 1974 o
maior para ser enviado ao exterior, processo produtivo não mais apresentou
garantindo os lucros dos banqueiros uma recuperação significativa. O período
estrangeiros e das multi nacionais. O con- de queda da atividade econômica juntou-
se à nova crise de 1980-82 e, logo após
uma leve e breve recuperação, estalou
outra crise internacinal em 1984-85.
A crise é, portanto, uma lei do capita-
lismo e expressa as enormes contradições
deste modo de produção. O objetivo da
atividade econômica no sistema é o lucro,
e para atingi-lo os capitalistas procura-
ram, ao mesmo tempo aumentar a prod u -
cão e restringir ao mínimo possível os
salários dos trabalhadores.

As profundas contradições
do sistema de exploração

Este processo já carrega uma contradi-


ção interna entre o que é produzido pela
sociedade e a capacidade de consumo dos
trabalhadores, dada pelo poder aquisitivo
dos salários. Periodicamente, as merca-
dorias produzidas não encontram com-
pradores, há um estrangulamento das

24 DEBATE SINDICAL
EMPREGO

relações de troca, dando lugar a uma crise crises, o que se vê é a contradição entre a Resultado imediato da
de superprodução que compromete os produção social e a apropriação capita- recessão: aumento das
grandes lucros da burguesia. lista chegar à explosão violenta. A circu- filas de desempregados e
lação de mercadorias é momentaneamen- da fome do povo
Além disto, o processo produtivo não te paralisada. O meio de circulação, o
se desenvolve de forma harmônica e pro- dinheiro, torna-se um obstáculo à própria
porcional, existindo no capitalismo uma circulação - todas as leis da produção e da
acirrada contradição entre a organização circulação são viradas ao avesso. A coli-
do trabalho dentro de cada unidade pro- são econômica atinge o auge: o modo de
dutiva - sendo que em cada empresa o produção revolta-se contra o modo de
capitalista trata de organizar sua produ- troca, as forças produtivas revoltam-se
ção movido pela necessidade de obter o contra o modo de produção para o qual se
lucro máximo - e a anarquia imperante na tornaram demasiado grandes."
economia como um todo devido
concorrência entre os empresários. O E acrescentava: "0 conjunto dos meca-
colossal desenvolvimento das forças pro- nismos do modo de produção capitalista
dutivas (tecnologia, produtividade do tra- recusa-se a funcionar, sob a pressão das •
balho), ao mesmo tempo que exige uma forças produtivas que ele próprio criou. O
maior organização e concentração da modo de produção é impotente para
produção, entra em profundo conflito transformar essa massa de meios prod u-
com as leis que regulam o sistema capita- cão em capital - ficam inativos, e é por
lista, as relações de exploração em que se esta razão que o exército industrial de
baseia e o lucro como objetivo final da reserva permanece também inativo.
atividade econômica. Meios de produção e de riqueza geral
existem em excesso. Mas 'a superabun-
Friederich Engels, filósofo e econo- dância torna-se a fonte da penúria e da
mista alemão (1820-1895), observou o miséria' (Fourier), porque é precisamente
seguinte a respeito deste fenômeno: "Nas ela que impede a transformação dos

DEBATE SINDICAL
meios de produção e de subsistência em foi a elevação unilateral das taxas de juros
capital, pois, na sociedade capitalista, os que recaem sobre as dívidas externas, que
meios de produção não podem ser aciona- giravam em torno de 5 a 7% ao ano e
dos a não ser que, previamente, tenham se atingiram mais de 20%.
tornado capital - meios para a exploração
da força de trabalho humana". Em consequência, países como o Brasil
foram forçados a realizar ajustes econô-
Na atualidade, por conta do grau de micos que implicaram numa grande con-
monopolização alcançado pela economia tenção do consumo interno, por via do
capitalista, novos fenômenos, como a arrocho salarial, com a finalidade de
inflação, se somam à crise, agravando as gerar recursos para enviar ao exterior.
mazelas deste modo de produção. Os Nossa dívida externa pulou de cerca de 50
monopólios preferem aumentar seus pre- bilhões de dólares para mais de 100
ços mesmo nos momentos de queda do bilhões de dólares em apenas quatro anos.
consumo, como ocorre hoje no Brasil,
fazendo com que o processo recessivo seja
acompanhado de aumentos generaliza- Recessão impõe severos
dos de preços, ao contrário do que ocorria
antes da 11 Guerra Mundial. sacrifícios para o povo
No Brasil, outro fator de pertubação do
Impôs-se ao povo um enorme sacrifí-
cio. A produção industrial mais de 15%
em dois anos. O consumo declinou 20%.
A aquisição de cimento no país - impor-
tante indicador do nível de atividade eco-
nômica - desceu 25,9% entre 1980 e 1984.
A utilização da capacidade instalada na
indústria mecânica passou de 80% em
1980 para 57(/(- em meados de 1983. 'A
produção de bens de capital regrediu 45,2
entre 1982 e 1983, sendo que a importação
de máquinas e equipamentos para a
industria reduziu-se de 4,4 bilhões de
dólares em 1980 para US$ 2,3 bilhões em
1984, causando grandes dificuldades para
recuperação do nível de produção.

No que diz respeito aos aspectos


sociais, as estatísticas são ainda mais alar-
mantes: o desemprego, segundo informa-
ções colhidas pelo IBGE, pulou do nível
de 3% da população economicamente
ativa em 1970 para 7,5% em 1981. As
condições de vida da população pioraram
de modo quase indescritível.

processo produtivo é o caráter depen- A contra partida de todo esse aperto na


dente da economia, forçada a transferir vida dos trabalhadores, expressou-se nos
uma boa parcela dos seus excedèntes (ou elevados saldos positivos de nossa
lucros) para o exterior, a fim de remune- balança comercial (diferença entre expor-
rar o capital estrangeiro. Tal sangria de tações e importações), que alcançaram
riquezas, que reduz a capacidade de inves- 12,5 bilhões de dólares em 1985 e garanti-
timentos no próprio país, é intensificada ram a transferência líquida de mais de 40
nos momentos de dificuldades econômi- bilhões de dólares ao exterior entre 1983-
cas a nível mundial. 1986.
A crise de 1980-81, por exemplo, pro- O gerente e xerife destes mecanismos de
vocou efeitos danosos sobre a economia trasferência de riquezas ao exterior, como
brasileira. Neste período os estrangeiros todos sabem, foi o famigerado FMI,
estavam premidos pela crise e aumenta- organismo que representa os interesses
ram significativamente a exploração dos associados dos países imperialistas e, em
países dependentes. O fato mais gritante particular, os da oligarquia financeira

26 DEBATE SINDICAL
Foto: Ailton S. Leite
internacional. O Fundo impôs - e ainda
impõe - receitas que inevitavelmente
exigiram a diminuição do consumo
interno, além de cortes nas despesas
públicas com efeitos deliberadamente
recessivos.

A mesma lógica perversa volta a ser apli-


cada atualmente. Os fatos ocorridos
durante o ano passado mostraram clara-
mente que apenas uma pequena elevação
no consumo interno, obtida através da
luta decidida dos trabalhadores por
melhores salários, estava inviabilizando o
atendimento do apetite dos bancos inter-
nacionais por grandes lucros no Brasil. As
melhorias das condições de vida do povo
brasileiro estão intimamente ligadas ao
fim da exploração do país pela comuni-
dade financeira internacional.

No entanto, o governo procura ajustar


as coisas internamente de forma a acele-
rar um acordo com os banqueiros estran-
geiros, submetendo-se às condições por
eles impostas no sentido de garantir eleva-
dos superávites comerciais e transferir
enorme quantidade de riquezas ao exte-
rior para pagar os juros da dívida externa.

Plano Bresser encarna a


orientação dos credores

O chamado Plano Bresser é, em muitos


aspectos, encarnação de uma orientação
com este sentido antinacional. Consolida
um brutal arrocho salarial - o maior da
história do país -, busca combater o défi- exagero, como o atual carro-chefe da Na ambi0o dos bancos
cit público com os mesmos instrumentos crise mundial. Naquele país, o deficit estrangeiros, emu° do
recomendados pelo FMI (corte na folha comercial atinge a casa dos 170 bilhões e Citibank, não importa
de pagamentos, investimentos e gastos dólares anuais, já havendo indícios de que a divida externa
sociais, fundamentalmente). Por outro nova aceleração da inflação, observando- seja paga com a miséria
lado, incentiva as exportações, ao intro- se ao mesmo tempo a diminuição do dos brasileiros
duzir uma nova maxidesvalorização do rítmo de produção.
cruzado e promover variações cambiais -
diárias - superiores à taxa de inflação. Neste contexto de crise, surgem pro-
postas aparentemente novas para contor-
Novamente, os dados são eloquentes. nar as pertubações do sistema produtivo e
Já em junho, o saldo comercial voltou a readequar as coisas de forma a garantir a
superar o patamar de mais de um bilhão acumulação do capital em novas bases.
de dólares ao mês - resultado repetido nos São soluções apresentadas especialmente
três meses seguintes. Enquanto isto, do para a dívida externa, sem di:Rida o prin-
lado dos trabalhadores, conforme estatís- cipal foco de problemas econômicos no
ticas divulgados pela Fiesp, em julho a mundo hoje.
industria paulista demitiu mais de 40 mil
operários. No primeiro semestre deste Propagandeia-se aos quatro cantos a
ano, o comércio de eletrodomésticos caiu transformação da dívida em investimen-
34,5%. tos diretos na economia (ou conversão em
capital de risco, representado pela aquisi-
0 desempenho da economia norte- ção ou instalação de empresas com títulos
americana pode ser considerado, sem da dívida).

DEBATE SINDICAL 27
se a cada 10 anos. Em cada crise, a socie-
dade se asfixia sob o fardo das suas
própria forças produtivas e dos produtos
que não pode utilizar. E choca-se, impo-
tente, contra esta contradição absurda: os
produtores nada têm a coit.,7 — .r porque
há falta de consumidores.

"A força de expansão dos meios de pro-


dução fez romperem-se as cadeias que
limitavam o modo de produção capita-
lista. A sua libertação de tais entraves é a
única condição para um desenvolvimento
ininterrupto da forcas produtivas, progre-
dindo a um ritmo cada vez mais rápido e,
por conseqüência, para um aumento pra-
ticamente ilimitado. E isto não é tudo. A
apropriação social dos meios de produ-
ção elimina não somente a inibição artifi-
cial da produção atualmente em vigor,
mas também o desperdício de forças pro-
dutivas e de produtos que, hoje, é o coro-
lário indiscutível da produção capitalista,
que atinge o seu paroxismo nas épocas de
crise.

"Passar das condições


animais para as humanas"

"Ademais, liberta uma massa de meios


de produção e de produtos para a coletivi-
Sob a receita do FV11,
Tal saída, porém, apenas agravaria o dade, eliminando a dilapidação estúpida
governo incentiva as
quadro de dependência, aumentando o representada pelo luxo das classes domi-
grau de desnacionalização das economias nantes e seus prepostos politicos. A possi-
exportações para elevar dependentes, além de não implicar neces-
o saldo da balança bilidade de assegurar, através da
sáriamente em novos investimentos (dado produção social, a todos os membros da
comercial que se trata de pagamentos contra débitos sociedade uma vida não só inteiramente
já contraídos) nem, muito menos, na satisfatória do ponto de vista material e
redução da trasferência de recursos ao que a cada dia se enriquece mais, mas
exterior, que, ao contrário, pode até garantindo-lhe ainda o desenvolvimento
aumentar, não obstante a mudança de e o exercício livres e completos das suas
forma (em vez de juros remessa de lucros). qualidades físicas e intelectuais - esta pos-
sibilidade existe hoje pela primeira vez,
A crise patenteia a necessidade das mas existe.
operários e demais trabalhadores lutarem
por um novo sistema social. Com efeito,
ela não é senão a expressão da impotência "Com a apropriação dos meios de pro-
da burguesia como classe dominante
dução pela sociedade, a produção de mer-
diante dos desafios introduiidos na socie- cadorias é eliminada e, com ela,
dade moderna pelo desenvolvimento da elimina-se o domínio do produto sobre o
r
humanidade. a crise do modo de produ- produtor. A anarquia no interior da pro-
dução social é substituída pela organiza-
c5o capitalista, ii mad uro e cad uco, q tie
aponta a necessidade de se conquistar o cão planificada consciente. A luta pela
sistema socialista. existência individual chega ao fim. Assim,
pela primeira vez o homem separa-se, em
E ainda Engels quem diz: "Se o fracasso certo sentido, definitivamente, do reino
politico e intelectual da burguesia já não animal: passa de condições animais de
é, de forma alguma, um segredo para ela existência para condições verdadeira-
mesma, o seu fracasso econômico repete- mente humanas".

28 DEBATE SINDICAL
SACCO
E
VANZETTI
Um crime que gerou
protestos no Brasil
Clovis Moura *

Clóvis Moura 6 sociólogo e escritor, autor de vários livros antra os quais


examinador `de pós-graduaçáo da USP, "Sacco e Vanzetti: o protesto brasileiro"

DEBATE SINDICAL 29
carregando aquela elevada importância
E o
stamos vendo tanscorrer, neste ano,
sexAgesimo aniversário de um dos
crimes jurídicos mais odiosos, praticados
\

para a época.

pela Justiça dos Estados Unidos. Trata-se \ A eficácia, rapidez e coordenação de


do assassinato de dois lutadores anarquis- Movimentos do crime faziam crer que se
tas Sacco e Vanzetti, executados na tratava de um dos muitos assaltos pratica-
cadeira elétrica, pela simples razão de dos por profissionais, planejado antecipa-
lutarem por melhores dias para os traba- damente nos seus mínimos detalhes, com
lhadores e a construção de uma sociedade a possível participação ou conivênciá de
mais justa, segundo o seu ideário politico. funcionários da própria firma.
A Justiça americana necessitava do Após o assalto, um outro carro passou
bodes expiatórios para justificar a onda e os ladrões-assassinos transferiram para
de repressão desencadeada contra os tra- ele o dinheiro roubado. O crime, come-
balhadores em conseqüência do aumento tido na cidade de South Braintree, Estado
das suas lutas e a antevéspera da crise do de Massachusets, abalou a opinião
capitalismo que atingiria profundamente pública e despertou a indignação dos
a economia americana, criando uma onda empresários locais que se sentiam insegu-
de desemprego sem precedentes. ros A medida que esse tipo de assalto se
amiudava. Para satisfazer esta exigência
Para conseguirem esses objetivos, for-
jam uma farsa policial acusando-os de um
da classe média norte-americana e das
crime de assalto seguido de assassinato. O
suas elites de poder, a polícia estadual
crime do qual eles foram acusados era entrou imediatamente em ação para ten-
tar prender os criminosos.

Trama macabra da policia


contra a luta operária

Fm lace das características do assalto, a


polícia ligou-o a outro que antecedera, em
circunstâncias parecidas, na cidade de
Brigdewater não muito distante. Havia,
por outro lado, necessidade de uma solu-
cão rápida para esses dois assaltos, pois a
inquietação social manifestava-se de
forma crescente. Como as testemunhas
achassem que o criminoso desse outro
crime era presumivelmente um italiano, e,
como nos dois foi usado um automóvel, a
polícia estabeleceu um silogismo elemen-
tar, segundo o qual o assassino devia ser
italiano que possuia automóvel.

A polícia localizou, em seguida, um ita-


típico do período que anteceu a depressão liano chamado Boda, que possuia auto-
nos Estados Unidos e trazia no seu bojo móvel. Ficou de vigia. Como Sacco e
um conjunto de contradições cada vez Vanzetti. Boda era, também, um operário
mais agudas. Refletiam as contradições italiano de idéias avançadas: um anar-
que se aguçavam entre o capital e o traba- quista. Acontece que, dias antes, um ope-
lho, o desânimo e a marginalização, em rário anarquista, depois de ter sido preso,
nível de criminalidade, de melhores de havia sido atirado pela polícia do décimo
ex-trabalhadores, agora desempregados. andar de um edifício. Em vista disto,
No dia 15 de abril de 1920, o pagador da Sacco e Vanzetti solicitaram o automóvel
firma Slater & Merril, quando transpor- de Boda para que pudessem avisar todos
tava o total da folha de pagamento os seus companheiros a fim de que se
daquele estabelecimento, a qual ascendia protegessem contra possíveis prisões.
a quinze mil setecentos e setenta d6lares, Naquele tempo os emigrantes anarquistas
foi assassinado. Um guarda também foi eram violenta e constantemente persegui-
morto na ocasião. Foram assassinados dos pela polícia política norte-americana.
friamente, segundo as testemunhas, por
dois indivíduos que fugiram em seguida, Ao deixarem a garagem, onde foram

30 DEBATE SINDICAL
devolver o carro, tomaram um bonde: os
agentes de polícia que os seguiram
prenderam-nos imediatamente sem que
IN
ff.a MOUN4CILITRA A TRIlluNA IL
PATTI. -- di it

houvesse resistência. Estava armada a


tragédia de suas vidas. A polícia tinha um
prato cheio: Sacco e Vanzetti eram operá- 1 10 march E Sam e Yana d c
IA TIIIIIOSA CAMARA BA MIME'
115 MINN 1161111.116. — .5 NNW NUM NUM.
MINIM — •11•161112.1111 minus.

rios, estrangeiros e anarquistas. Isto era o 7. 'r


bastante para usá-los como bodes expia-
tórios. Estavam de antemão condenados
morte.

Trabalhadores brasileiros
se unem na solidariedade

Diante da injustiça de classe, ergueu-se 8 •


um amplo movimento de defesa e solida- ' ■
TR "" -7...4.7"'"nn:= amigo:mac VAT0171.

Isom mmr.le am,16.0* pr. Fr. Try


riedade aos dois trabalhadores presos.
Todas as chicanas jurídicas foram feitas
contra eles, inclusive a intimidação de tes-
temunhas. Finalmente, em 14 de junho de
1921 foram condenados a morrer na
cadeira elétrica. Os trabalhadores do
mundo inteiro protestaram. No Brasil os
trabalhadores se uniram em um amplo
movimento de solidariedade proletária
b.+ 111. or
em prol da libertação de Sacco e Vanzetti. 1 11161 1-ACT, , -„

Os trabalhadores não ficaram insensí-


veis ao crime politico e, superando as Nasce o Comitê Popular
divergências ideológicas que podiam
separá-los, ingressaram nessa campanha Pró-Sacco e Vanzetti
pelo resgate dos dois prisioneiros. No
Brasil o movimento operário ascendia de
nível e aumentava de qualidade. A greve Esse movimento de solidariedade se
de 1917, em São Paulo, quando os operá- amplia à medida que se aproxima a data
rios praticamente ocuparam a cidade, foi das execuçães. No Rio de Janeiro, onde as
o seu ápice, embora o movimento grevista grandes decisões políticas eram tomadas,
continuasse nos anos subseqüentes. inicia-se, em 1922, um amplo movimento
de solidariedade aos dois operários italia-
nos. Essa primeira etapa terminará com
Em relação a Sacco e Vanzetti e o nosso 4m grande comício na praça Maua. A
movimento operário há um fato relevante Federação dos Trabalhadores do Rio de
a destacar: o Partido Comunista do Brasil Janeiro lançou, então, o seguinte mani-
fora fundado em 1922, depois de uma festo convocatório:
acirrada luta ideológica com os anarquis-
tas. Mas isto não afetará a unidade de "Aos trabalhadores e ao povo:
comunistas e anarquistas na luta pela Quando os camaradas dos Estados
libertação de Sacco e Vanzetti. 0 jornal Unidos da America do Norte apelaram
mensário "Movimento Comunista", para o proletariado internacional que se
datado de fevereiro de 1922, noticiava a manifestasse sobre a condenação dos tra-
realização de comícios de protestos pro- balhadores Nicolau Sacco e Bartolomeu
movidos pela Federação Operária do Rio Vanzetti, indicados a serem carbonizados
de Janeiro e estampava uma proclamação na infame cadeira elétrica, tinha a certeza
do Centro Comunista daquela cidade que ninguém os desampararia nessa
denunciando o caráter de classe do pro- humana campanha que devia fazer recuar
cesso movido pela justiça americana con- os assassinos juízes norte-americanos a
tra os dois operários italianos. No mesmo soldo do capitalismo.
número esse mensário divulgava uma
mensagem do Partido Comunista dos Todos os operários se lançaram à luta.
Estados Unidos agradecendo a solidarie- Em breve, no mundo, os protestos surgi-
dade. ram de toda a parte. O Brasil, que se acha

DEBATE SINDICAL 31
no continente americano, não podia pas- multidão parada. Um grupo de trabalha-
sar despercebido nesta justa cruzada." dores da construção civil, que convidava
Em outubro de 1921, no Rio de os seus colegas a paralisarem o trabalho,
Janeiro, criou-se o Comitê Popular de também foi preso.
Agitação Pró-Sacco e Vanzetti, com No Rio de Janeiro a situação não era
ramificação em vários Estados. Comícios diferente. Um clima de tensão apoderara-
são programados. 0 jornal A Plebe publi- se da cidade. A União dos Operários em
cou artigos em defesa de Sacco e Vanzetti. Fábricas de Tecidos do Rio e Petropólios
O Ateneu libertário da Cultura Social e a lançou um vibrante manifesto no qual
Federação Operária de São Paulo tam- dizia:
bém realizam vários atos.
"Camaradas:
Hoje é o dia designado pela justiça
No dia das execuções, norte-americana para o assassínio de nos-
greves em vários Estados sos companheiros Sacco e Vanzetti.
Talvez a estas horas estejam sendo ele-
trocutados nossos irmãos de sofrimento e
No dia da execução de Sacco e Van- não é possível que os trabalhadores do
zetti, houve um comício na praça do Rio de Janeiro, principalmente os das
Patriarca do qual participou "toda a
classe operária desta capital". conforme
noticiou um jornal da época. No mesmo
falaram vários oradores que condenaram
a injustiça que se estava praticando nos
Estados Unidos. Os trabalhadores que
compareceram à hora habitual, aos seus
serviços, foram convidados pelos colegas
a aderirem ao movimento de protesto. No
Brás a maioria das fábricas foi imediata-
mente fechada, prosseguindo o trabalho
de algumas delas até As onze, quando os
operários abandonaram o serviço e
dirigiram-se à praça do Patriarca.
Na Lapa houve conflitos sérios entre
trabalhadores e policais que foram "aos
poucos serenados". No lpiranga esses
conflitos se repetiram: em frente à
Fábrica Nami Jaffet um piquete convi-
dava os colegas a participarem da greve
de solidariedade. A diretoria da empresa,
no entanto, chamou a polícia que efetuou
várias prisões no local. Entre os presos
estavam três jovens operárias que se
"mostraram rebeldes ao pedido de disper-
são do feito pelas autoridades". Depois de
permanecerem algumas horas na delega- Charae do Jornal "A Manhã"
cia "foram postas em liberdade". O movi- fábricas de tecidos, permaneçam indife-
mento ganhava maiores proporções à rentes à injustiça que representa o assassí-
medida que se aproximava a hora das nio legal de dois trabalhadores inocentes.
execuções. Na estamparia A Liberty, na Os nossos camaradas de Petropólis, como
rua Piratininga, a polícia agiu com violên- protesto pela desumanidade da 'justiça'
cia, alegando o comportamento alta- norte-americana, paralisaram o movi-
mente incoveniente de alguns grevistas. mento em todas as fábricas de lã, seda e
As onze horas foram pedidos reforços algodão, ontem, segunda-feira, e perma-
para as fábricas Matarazzo, na Agua necerão parados hoje, como demonstra-
Branca, e Crespi, na Moóca. ção de protesto A iniqüidade e de
solidariedade aos dois condenados pelo
A noite foi grande a aglomeração de único crime de desejarem o bem-estar da
populares em frente aos placares dos jor- humanidade. Aqui no Rio, infelizmente,
nais, nos quais eram afixadas notícias das só uma fábrica de tecidos paralisou
agências internacionais. Essa notícias ontem: e hoje continuará parada. E pre-
eram discutidas acaloradamente pela ciso que os companheiros de todas as

32 DEBATE SINDICAL
fábricas sem distinção de credos politicos, tecidos Petropolitana, Petrópolis Indus-
acompanhem o movimento mundial de trial e Corneta do Alto da Serra, alastrou-
protesto contra a selvageria dos expoen- se imediatamente à quase totalidade dos
tes dos dollars. estabelecimentos congêneres e de outros,
É necessário que os operários em fábri- culminando essa movimentação no dia da
cas de tecidos não trabalhem hoje, 23 de execução, com a adesão dos trabalhado-
agosto de 1927, como um protesto A. ele- res de todos os ramos da indústria todo o
trocussão de Sacco e Vanzetti, acompa- comércio e de empregados em bondes e
nhando o protesto altivo dos camaradas condutores de veículos.
da Fábrica Aurora, aqui do Rio. A União
Após a paralisação de todas as fábricas,
dos Operários em Fábricas de Tecidos do
inclusive as oficinas da Estrada de Ferro
Rio e Petrópolis. Que nenhum operário Leopoldina e do Alto da Serra, constru-
trabalhe hoje em sinal de protesto pelo
ção civil, bondes, veículos e o fechamento
assassínio de dois inocentes, vítimas do
do comérico, verdadeira multidão
capitalismo. dirigiu-se ao local do comício que haviam
programado.
Todas categorias aderem
Os discursos foram inflamados e vio-
ao protesto em Petrópolis lentos, atacava-se abertamente o imperia-
lismo norte-americano e o seu sistema
Se esta era a situação no setor têxtil, o interno de repressão política. Segundo
movimento de solidariedade dos operá- um jornal que registrou o acontecimento
rios da indústria mobiliária era bem mais "aos gritos de vivas à memória de Sacco e
intenso. Atendendo ao apelo da Comis- Vanzetti e de guerra aos assassinos, de
são Executiva dos Trabalhadores da vivas à solidariedade operária e de guerra
Indústria Mobiliária, os trabalhadores ao código infame das leis celeradas, reite-
dessa categoria também pararam o traba- rando levar a efeito um boicote aos pro-
lho na véspera da execução. dutos norte-americanos, aquela massa se
Os principais estabelecimentos do setor dispersou, sem registrar-se qualquer inci-
não funcionaram, especialmente as dente". Outras manifestações no resto do
grande empresas. Não funcionaram em Brasil registraram o protesto dos traba-
conseqüência da greve, as empresas Lean- lhadores ao assassínio jurídico da justiça
dro Martins & Cia, C. Daubisch, Hirt & das classes dominantes dos Estados
Cia., Companhia Betenfeld, Moreira Unidos.
Mesquita, Ruggier, Reed Star, Viúva
Magalhães & Cia., Salvador Storino &
Cia., Marcenaria Auler, "A Nossa Casa", 60 anos após o crime, a
Casa Fonseca & Albino, Veiga & Pinto, homenagem dos operários
Acácio & Santos, Sequeira & Cia., F.
Criramo & Irmão, Otto Schutt & Filho, J.
Ramalho, Vicente Miraglia, E. Jatocoz Sessenta anos passados do crime, a
Fabrega, Gimenez de Souza, J. Palermo classe operária do mundo inteiro ainda
& Cia., Casa Verde, Marcenaria Brasil, reverencia a memória desses dois heróis
Firmino & Cia., Casa Edson e muitas Trinta anos depois do crime a viúva Sacco
outras. entrou com um pedido de reabertura do
processo. Inutilmente. Não foi conside-
Esses trabalhadores, à medida que dei- rado pela justiça americana. Sabino
xavam os seus locais de trabalho, Sacco, irmão de Bartolomeu, fez um
dirigiam-se para a sede da sua Comissão pedido de reabilitação no ano de 1973.
Executiva. O movimento vai aumentando
medida que o tempo passa, pois nin- Mas a justiça americana, mais uma vez,
guém sabia, ao certo, a hora em que os negou-se a rever o caso. Como a farsa não
dois seriam executados. podia ser mantida por mais tempo a
reabilitação dos dois operários executa-
Se o setor têxtil não reagiu como se dos não saiu através da revisão do pro-
esperava, no Rio de Janeiro, o mesmo cesso, mas através de decisão do
não aconteceu em Petrópolis. Apesar de governador de Massachusts, isto é, auto-
ter sido lançado um manifesto em ridade idêntica a que cinqüenta anos
comum, em Petrópolis é que se concen- antes assinara a sentença fatal. Com este
trará o protesto dos têxteis brasileiros. gesto de prestigitação política o hímen
Iniciada com vigor a greve de protesto, no complascente da justiça dos Estados Uni-
dia 22, pelos operários das fábricas de dos continua virgem.

DEBATE SINDICAL 33
34 DEBATE SINDICAL
José Carlos Ruy *

ual é o objetivo do movimento ope-


rário? Ele limita-se apenas à con-
Dando prosseguimento à série quista de melhoras imediatas na situação
sobre a ação das diversas dos trabalhadores ou, mais do que isso,
correntes político-sindicais na pretende suprimir o capitalismo e
história do sindicalismo brasileiro, colocar, em seu lugar, uma ordem econô-
Debate Sindical publica a primeira mica,politica e social superior? A resposta
parte do artigo sobre o a esta pergunta permite distinguir os
reformismo. Nos números reformistas dos revolucionários - os pri-
anteriores foram abordados o meiros querem mudanças lentas que
anarquismo e o peleguismo. melhorem a situação dos trabalhadores
sem coleoar em risco o sistema capitalista.
Também serão analisadas as
As principais teses do reformismo.
ações do sindicalismo cristão e ainda muito em voga em setores do movi-
dos comunistas. mento dos trabalhadores, são a idéia de
um desenvolvimento pacifico, evolutivo.
gradual, rumo ao socialismo ; a super
valorização da democracia burguesa,
através da idea de que a extensão da
democracia permitirá resolver por nego-
ciação, no âmbito do Estado, os conflitos
entre as classes; a subestimação ou aban-
" Jornalista. Trabalhou no semanário dono da luta revolucionária, trocada pela
Movimento e na Editora Abril. Atualmente via eleitoral e parlamentar, preconizando
trabalha no jornal Retrato do Brasil e na busca do socialismo através de uma
Nova Cultural. maioria parlamentar; a colaboração de

DEBATE SINDICAL 3!
classes; subestimação ou mesmo aban-
dono da luta de classe; o abandono, em
alguns setores, da tese de que a classe
(AN T 4

operária tem um papel dirigente na luta


contra o capitalismo; a tese da conserva-
ção e "domesticação" do Estado burguês
atual e a defesa de seu uso em benefício
dos trabalhadores.
Idéias desse tipo surgiram no final do
século passado, no movimento operário
europeu. Nos anos 20 e 30 deste século, e NOT
TI ON
logo após a II Grande Guerra, formaram

REVOLUTION
os programas trabalhista e social-
democrata para governar os países indus-
trializados, e mesmo alguns partidos
comunistas (o americano, principal-
mente) foram contagiados por elas.
Depois do XX Congresso do PCUS, em
1956, contudo, essas teses empolgaram
grandes partidos comunistas do oci-
dente, que abandonaram a via revolucio- VOTE

UROHA
nária, animados pela política de
coexistência pacífica e defesa da via parla-
mentar de Krushev.

Reflexo do aparecimento Cartaz dos trabalhistas ingleses (1923)


da "aristocracia operária" para os operários; a Bélgica imitou-a,
entre 1894 e 1903; a Suíça, em 1890; a
O reformismo surgiu no movimento Inglaterra, antes de 1900, já tinha avan-
operário europeu no último quartel do çada legislação fabril.
século passado como reflexo do apareci- Contudo, o objetivo real dessas primei-
mento de uma "aristocracia operária" ras medidas foi "contrastar o avanço do
que, beneficiária do crescimento do capi- socialismo, procurando criar a dependê-
talismo monopolista, julgava-se interes- ncia do trabalhador ao Estado" (1). A
sada em sua defesa e desenvolvimento. atuação social do Estado cresceu princi-
Ao lado disso, os próprios estados capita- palmente depois da crise dos anos 20 e 30
deste século, e após a II Grande Guerra,
"Líderes operários" e listas mais desenvolvidos passaram a res- essa política foi formulada pelos traba-
burgueses se unem no ponder. através de leis sociais, a algumas
demandas operárias. As leis sociais de lhistas ingleses, cujo slogan "participação
primeiro governo justa de todos" resume "eficazmente o
Bismark, aprovadas entre 1883 e 1889,
trabalhista inglês, em conceito de universalismo da contribui-
foram a primeira intervenção de um
1924. Nenhuma medida estado, a Prussia. instituindo o seguro cão que é fundamento de welfare state"
é tomada para resolver obrigatório contra doenças, a velhice e a (2).
a situação de miséria invalidez. Entre 1891 e 1898, a Dinamarca Essas medidas, junto com o desenvolvi-
dos trabalhadores também adotou um programa de pensão mento do capitalismo monopolista, o for-
talecimento do mercado de ações, a
conquista do sufrágio universal mascu-
lino, a legalização de partidos operários e
o fim dos obstáculos ao funcionamento
dos sindicatos , medidas que generaliza-
ram-se pela Europa, entre o final do
século e a década de 1930, levou muitos
teóricos a pensarem que o capitalismo
havia atingido um estágio de estabilidade
e de legalidade cujo desenvolvimento
levaria, sem rupturas, ao socialismo.
O primeiro e mais importante teórico
do reformismo foi Eduard Bernstein, do
Partido Social Democrata alemão
(SPD), que escreveu, em 1899, o livro
Socialismo evolucionário, onde defen-

6 DEBATE SINDICAL
deu teses reformistas e a necessidade de
revisão do marxismo. Bernstein dizia que,
ao contrário das previsões de Marx, de
aumento da proletarização e da miséria, o
número dos ricos cresciam, as sociedades
por ações dividiam e democratizavam a
renda do capital em um sem número de
médios e pequenos acionistas e, por isso, a
idéia da revolução proletaria deveria ser
abandonada, substituida pela luta
parlamentar.
0 revisionismo de Bernstein refletiu a
burocratização e aburguesamento do
SPD, que o próprio Engels denunciou em
1887. Em 1891, Engels ridicularizou a
ênfase na luta parlamentar, dizendo que o
parlamento "é a folha de parreira do
absolutismo" (3). Anos depois, Engels, a
maior autoridade viva do movimento
operário depois do desaparecimento de
Karl Marx, reclamava aos dirigents do
partido alemão o uso fraudulento que era Após a morte de Engels, em 1895, o 1.ênin, o grande líder do
feito de seus escritos para justificar o reformismo aprofundou-se. Bernstein revolução socialista de
reformismo e o oportunismo. Extraiam publicou as suas idéias na Neue Zeit, um 17, desmascarou as tes e !
de sua "Introdução" ao livro de Marx jornal socialista, uma série de artigos conciliadoras dos
Lutas de Classe na França, disse ele, entre 1897 e 1898 que encontrou forte
reformistas
"tudo o que possa servir de defesa da apoio entre os dirigentes sindicais do par-
tática pacífica e contrária a todo preço tido. A esquerda social-democrata, con-
violência". Em outra ocasião, queixou-se tudo, respondeu imediatamente
Kaustky que o Vorwarts, jornal do ofensiva reformista, e Rosa de Luxem-
SPD, divulgou "um trecho de minha burgo acusou-o, numa série de artigos
Introdução, publicado sem conhecimento mais tarde reunidos no livro Reforma
meu, truncado de tal maneira que apareço Social ou Revolução, de desviar a luta
nele como um adorador pacifico da legali- operária da disputa pelo poder e dirigi-la
dade custe o que custar" (4). Os protestos na busca de melhorias econômicas imc-
de Engels foram em vão, e até hoje os diatas. Ele acusou-o de suavirar as con-
reformistas usam de forma truncada e tradições do capitalismo, e, principal-
fraudulenta sua "Introdução" para justifi- mente. denunciou que a "direita
car a revisão do marxismo. revisionista de abandonar o objetivo final
socialista equivale a renunciar ao próprio
movimento socialista" (5).

Lênin condena a prática


da colaboração de classes
Contudo , a critica mais contundente e
severa do reformismo foi feita por
"A idéia fundamental do oportunismo,
escreveu ele, é a colaboração de classes"
(6), e sua base social era a "aristocracia
operúria" e o desenvolvimento dos mono-
pólios capitalistas que exploram os países
coloniais: "certos estratos da classe operá-
ria (a burocracia do movimento operário,
a aristocracia operária, As quais coube
uma pequena partícula dos lucros deriva-
dos da exploração das colônias e da posi-
cão privilegiada de suas "pátrias" no
mercado mundial) bem como os even-
tuais companheiros de viagem pequeno-
Engels ridiculariza a ênfase ao parlamento burgueses, membros dos partidos

DEBATE SINDICAL 3
novembro de 1918, que acabou com a
monarquia na Alemanha, o Partido
Social Democrata "sob a direção dos sin-
dicalistas reformistas, iria caracterizar-se
pela sua posição de freio ao movimento
revolucionário. Durante os primeiros
meses, sua ação foi conscientemente diri-
gida no sentido de esvaziar as rebeliões
sem se opor frontalmente a elas, impe-
dindo a sua confrontação com as forças
reacionárias". Diante dos conselhos ope-
rários que se formaram, a exemplo dos
soviétes, "sua força foi concentrada em
transformá-los num órgão auxiliar do
poder constituido legalmente, impedindo
que se colocassem como centro do
governo", uma política oposta O dos bol-
cheviques, vitoriosa justamente por
reivindicar "todo o poder aos soviétes" e
transformá-los num órgão de poder que
destruiu a república burguesa na Russia.
A política reformista do SPD terminou
por fazê-lo "cúmplice historicamente da
repressão da qual foram vitimas Rosa
Luxemburgo e Liebknecht em janeiro de
1919 e em março outro dirigente sparta-
quista, Leo Jogiches. A revolução refluiu e
a direita, então, ganhou força" (9).

Primeiro grupos e idéias


dos reformistas no Brasil

Escrevendo sobre o movimento operá-


rio brasileiro do começo do século,
Estados capitalistas Edgard Carone chamou a atenção para o
tentam afastar o risco caminho mais apropriado para a luta con- fato de o reformismo tinha uma "ação
da revolução através de tra o capitalismo, e transforma, disse mais ampla do que se pensa" (10). Alguns
Lenin, "a necessária utilização do parla- jornais reformistas existiam já desde Os
medidas .paliativas,
mentarismo burgas e da legalidade bur- últimos anos do império, mas foi após a
como o governo ingres
guesa na fetichização dessa legalidade" proclamação da República que o movi-
que ordenou a (8) - isto é, transformam a legalidade mento operário cresceu, sob direção de
reparação de estradas na numa força exterior que domina e conduz chefes reformistas. A partir de 1890, ex is-
década de 20 seus defensores. tiam três grupos principais, baseados no
A burocracia do movimento operário, Rio de Janeiro - o frágil partido Operário
apontada por Lenin, exprimiu-se princi- dirigido por Gustavo de Lacerda, que
palmente no gigantismo do SPD, que o "defendia a criação de cooperativas em
fez abandonar qualquer veleidade revolu- vez de sindicatos militantes e considerava
cionária que ainda tivesse. O apego a greve uma arma ineficiente, utilizável
livresco à ortodoxia transformou o mar- somente em último recurso". (11) Organi-
xismo "não num instrumento de análise zado para disputar a eleição para a
da realidade, e sim num símbolo que Assembléia Constituinte, em 1890, o par-
caracterizava ideologicamente o proleta- tido desapareceu após a derrota e seu jor-
riado em oposição à burguesia. O partido nal, Voz do Povo, faliu devido a disputas
se transformou numa poderosa máquina internas.
política corn suas associações paralelas, O outro grupo foi o Partido Operário
os sindicatos que dominava , seus jornais, dirigido por Luiz França e Silva, que
sua ação cultural e, na Area do lazer, sua publicou o jornal Eco Popular, onde
presença nas administrações locais, de tal defendia a concessão de direitos aos ope-
forma que a burguesia contava já ao final rários através de negociações e pregava
do século XIX com este parceiro forte colaboração de classes. Em março de
mas integrado". Depois da revolução de 1890, seu jornal pregava que a presença de

DEBATE SINDICAL
representantes operários "no seio da
representação nacional (o parlamento)
seria a expressão mais verdadeira do novo
sistema de governo, isto é, dos grandes
princípios da Escola democrática; seria a
confraternização das classes, ate então
divididas, para o engradecimento da
Pátria livre". (12) Noutra edição, o jornal
garantiu que "o Partido Operário não sig-
nifica governo dos operários, pois ele,
devido A nossa má educação política, e
aos preconceitos da sociedade em que
temos vivido, não tem homens ilustres em
grande número e nem pessoal técnico
para assumir tão grande responsabilidade"
(13)

Aliança com a burguesia


para salvar o capitalismo

Finalmente, o outro grupo operário


surgido em 1890 foi o Partido Operário
organizado pelo tenente da ma rinha Jose
Augusto Vinhaes. "Militar de idéias
socializantes" (14), ele foi apoiado por
Deodoro da Fonseca e conseguiu eleger-
se deputado A Constituinte Republicana.
Sua principal base política eram os ferro-
viários da Central do Brasil, e sua atuação
reformista transparece no acordo que fez
com o governo para atenuar o artigo do
Código Penal que definia a greve como
crime. No Congresso, ele acusou as Repú-
blica de esquecer as reivindicações operá-
rias: "0 povo está cansado de ser
espezinhado. Tem o direito de exigir neste
regime que se diz democrático que a lei
seja igual pra todos, que não haja aqui
uma justiça para o pobre e outra para o
rico. E é exatamente porque não se faz esta
justiça que ele pergunta e com toda a
razão se está ou não em um pa ís democrá-
tico que deve expandir o verdadeiro
direito de igualdade" (15).

Outro grupo de reformistas que deve


ser referido eram os positivistas, que
defendiam a extensão dos direitos sociais
á classe operária para "incorporar o pro-
letariado à sociedade moderna", con-
forme exigia a doutrina comteana (16).
Boris Fausto considera que tanto politi-
cos como Vinhaes como os reformistas
comteanos foram os antepassados dos
trabalhistas, que emergiram na era operá-
ria após 1930, com a subida de Getúlio
Vargas (que tinha uma sólida e rigorosa
formação positivista) ao poder. dado em 1895 por Silveri° Fontes, consi-
Além desses grupos, existiram em São derado o pioneiro do marxismo no Brasil,
Paulo o Centro Socialista de Santos, fun- que defendia a luta tenaz "para que sejam

DEBATE SINDICAL
socialistas, representam o apoio social e defendem, na Câmara dos Deputados, os 4
principal dessas tendências oportunistas e direitos operários. Nicanor Nascimento
são os veículos da influência burguesa disse na Camara, durante a greve de 1917,
sobre o proletariado" (7). Para esses, a que é útil aos proeltdrios "o contato com
legalidade é intocável e o parlamento o politicos, porque os seus interesses não
mais rápidos os efeitos do movimento são de natureza política. O que eles preci-
evolucionista científico". que reorganize a sam é defender os interesses economicos
nova sociedade, mas rejeita qualquer de classe". Quando os politicos falham,
"agitação revolucionária", impraticáveis diz ele, "dá-se o que agora se vê: estamos
segundo eles no Brasil de então (17). criando, determinando, a explosão dos
impulsos violentos, e mais, colocando o
As limitações do Brasil de então foram operário sofredor, que relcama só o que
também justificativa para o reformismo justo e honesto, ao serviço das paixões
de outro grupo, organizado em torno de violentas dos agitadores e fanáticós que
Antonio Piecarolo e de sua atividade jor- (...) aproveitam a exaltação das popula-
nalistica (18). Militante socialista na Ita. ções mais humildes e roubadas para pro-
lia, Piccarolo veio ao Brasil para dirigir o duzierem abalos sociais desordenadores
jornal Avanti!, do Partido Socialista; ele e, por vezes, anti-sociais" (19).
defendia um programa reformista, fez a
apologia da colaboração de classes, pedia Maurício de Lacerda, na mesma oca-
o desenvolvimento do capitalismo, prin- sião, seguia o mesmo raciocínio, e pedia
cipalmente no campo, e foi contra as gre-
um estado que fosse o garantidor da
ves operárias e a revolução bolchevique. ordem e da propreidade e o mediador,
pelo reconhecimento das reclamações
Valorização do parlamento operárias e pela regulamentação dos pro-
blemas trabalhistas. "0 Estado - disse ele
e duro combate As greves num discurso de 17 7 1917 - tem de se
colocar, se quiser paz social como um
mediador entre os interesses dos patrões,
Após 1902, os anarquistas tendem a de um lado, e as reivindicações e interes-
ocupar a cena, assumindo a vanguarda do ses não menos legítimos dos operários, do
movimento operário da época. A atuação outro. Se se colocar do ponto de vista
reformista continua, entretanto. Parla- patronal, só atendendo as suas vantagens
mentares "trabalhistas" como Nicanor ou desvantagens, provocará fatalmente o
Nascimento ou Maurício de Lacerda conflito, não entre o proletariado e o

s.11

Reformistas brasileiros
criticaram a greve de 17
em São Paulo. dizendo
que ela servia "as
paixões violentas dos
agitadores e fanáticos"

O DEBATE SINDICAL
patrão, mas entre o proletariado e o pró- Welfare State: Estado de Item Estar. Ver Regonini.
iloria. ‘erhete "Estado de Bem Estar - . Dicionário de Trabalhadores cariocas
prio Estado, tornando aliado dos patrões Politica. exigem seus direitos
na causa, e será responsável por uma na Constituinte de 34:
Engels. Friedrich. "En torno a la critica del proyeto de
grave agitação revolucionária" (20). programa socialdetnocrata dc 1891". citado por 1 ("tilin. El pressão ao parlamento
marxismo y el Estado. Editorial Progresso. Moscou. sem o abandono da
1980. p. 11. mobilização da base
Na República Velha, portanto, o refor-
Idem. p. 20 e 21.
mismo foi resultado seja de influências Luxemhurgo. Rosa. "Reforma Social ou resolucilo".
estrangeiras, seja da própria situação in Textos escolhidos, Editorial Estampa. 1 ishoa. 1977. p.
social e política do Brasil. O primeiro caso 102.
Gruppi. Luciano. O pensamento de l,nin. l i die6e.
vísivel na atuação de Antonio Piccarolo, (iraal. RE. 1979. p. 119.
que traz para o movimento operário bra- Wm. 118.
Idem. 116
sileiro as disputas européias. No segundo Almeida. Angela Mendes. A Republica de Weimar e a
caso, os primeiros partidos operários e ascensão do muismo. Editora Brasiliense. SP. 1982. ps.
socialistas são resultado da radicalização 52 e 62.
Carone. Edgard. "Introduc5o iii Estudo do !nos
jacobina pequeno burguesa da primeira operario no Brasil' . 118 77 -1914). in Ensaios de
década republicana, em que os setores Opinião. V. 10. Fditora Pa, e 1 erra. R.I. 19 7 9.
II) Eausto. BOris, Trabalho Frbano e conflito social
mais radicais na defesa da república pre- (1890-1920). Dire!. R.I. 1977. p. 44.
conizavam reformas sociais mais profun- 12) Cerqueira Iiilho. Gisalio. As influëneias das idéias
socialistas no pensamento politico brasileiro - 1890-1922.
das e viam seja no Parlamento, seja na SP. I'd içiies I ovo la. 1978. p 3 ( .
organização e educação do povo, o cami- (erqueira p. 36-37
Fausto. p. 45.
nho para obtê-las (21). Essas correntes idem. p. 46 e 47.
darão também origem aos trabalhistas Wm. p.48.
que atuarão no movimento operário a Idem. p.98.
NI Hecker. Frederico Alexandre de Moracs. Socialismo
partir dos anos 1930. eni São Paulo - A at nação de Antonio Piccarolo,disserta-
c:io de niu.strado em histi)ria social. I'SP. 1956. 1111111itl.
(ornes. Angela Maria de (' astro. Burguesia e Traba-
lho, politica e legislação social no Brasil, 1917-1937, I di .
131111.10 (, R A ETA tora Campus. R.I. 1979. p. 70.
Idem. p. 72.
I) Goifi. (,ta \o. s erhete "listado Contemporaneo - . in
llohhio. Norberto. Dicionário de Política. Fditora 1.'1113. Ver ()Limo/. Suet\ Robles Reis de. Os Radicais da
Republica. I do ora Brasiliense. SP. 1956.
Brasilia. 1986.

DEBATE SINDICAL , 4'


CARTAS
"Revista ampla" socialista". (Benjamin Ferreira de Federação Cristã
Barros, diretor do S.T.I. Energia
"Parabenizo os companheiros Elétrica de São Paulo). "Ao recebermos a revista Debate
pela publicação da revista Debate Sindical, entusiasmou-nos tanto as
Sindical. Fla traz para o seio da Divulgação fraca matérias nela publicadas que
classe operaria a discussão procuramos adquirir mais II
aprofundada de assuntos de grandc A revista Debate Sindical veio exemplares que foram distribuídos
interesse , tanto no campo sindical para ficar. Pe lo seu conteúdo e sua entre os demais diretores para
como nas questões políticas gerais. forma acessível, ela é uma estudos e debates. Os sindicalistas
lendo o número 3. também me importante arma nas mãos dos estão de parabéns pois, através da
chamou atenção a amplitude da dirigentes c ativistas sindicais. Debate Sindical, a classe estará
revista que entrevistou constituintes Auxília na construção de um mais unida pela solidariedade e
de diversas correntes políticas". sindicalismo classista, seat pela perfeita unidade. procurando
(Renato Artur do Nascimento. peleguismo, atraso e posições realizar as aspirações justas dos
secretário-geral do Sindicato dos sectárias. Nas suawdginas temos trabalhadores. Votos de franco
Metalúrgicos do Rio de Janeiro) um somatório de idéias, propostas progresso para Debate Sindical".
c experiências que nos ajudam a (Federação de Trabalhadores
Assinatura no ABC construir um sindicato avançado. Cristãos do Estado de São Paulo).
Infelizmente o trabalho de
"Solicitamos assinatura da divulgação da revista ainda é Na zona rural
revista Debate Sindical". (Sindicato pequeno . Nosso compromisso
dos Trabalhadores nas Indústrias ajudar a superar esssa debilidade". "Solicitamos 50 revistas Debate
Metalúrgicas de São Bernardo e (Adroaldo de Almeida, vice- Sindical". (Federação dos
Diadema). presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura do
Metalúrgicos de Caxias do Sul e Estado de Goiás).
Valor da história região - Rio Grande do Sul).
Santa Catarina
"Para nos, recém eleitos para o Utilidade "Agradecemos pelo recebimento
sindicato, a revista Debate Sindical da revista Debate Sindical.
é um importante instrumento. Fla "Queremos parabenizá-los pela Aproveitamos para confirmar
nos aiuda a aperfeiçoar o iniciativa de criação dessa nosso interesse em continuar a
conhecimento sindical. Serve tanto publicação , que com certeza sera recebê-la e colocamo-nos
para os dirigentes como para Os de grande utilidade para as disposição para auxiliar em sua
afivistas da base. São de grande entidades sindicais". (Sindicato dos divulgação dentro dessa
valor as matérias sobre a historia Protéticos Dentários do Estado de Fundação". (Fundação
das lutas dos trabalhadores. São Paulo). Educacional da Região de
Através da experiência do passado Joinville/ SC).
podemos melhorar nossa pratica Material do CES
para o futuro". (Eugênio Sávio Apostilas
Lobo, vice-presidente do Sindicato "Solicitamos cópia do estatuto
dos Metalúrgicos de Betim e desse centro de estudos, a remesa "Através da revista Debate
de revistas e informativos Sindical , tomamos conhecimento
Igarapé, Minas (;erais).
elaborados pelo ('ES. hem como a maior das atividades dessa
assinatura anual da revista Debate entidade. Interessa-nos não só a
Linguagem fácil Sindical. Ficamos ao inteiro dispor assinatura da revista bem como as
para fortalecermos a luta e apostilas do curso básico de
"Venho parabenizar a equipe de organização dos trabalhadores". sindicalismo do CES". (Beilton
iornalismo e redação do ('ES pela (Sindicato dos Médicos do Estado Freire da Rocha, secretário-geral
divulação da revista Debate da Paraiba). do Sindicato dos Médicos de
Sindical - um órgão com opiniões e Pernambuco).
reportagens profundas e com uma Valiosa obra
linguagem de compreensão fácil Deputados
pelos trabalhadores. Debate Recebemos dessa entidade um
Sindical tem sido uni instrumento número desta valiosa obra, a "Solicitamos assinatura da
de incentko aos trabalhadores em revista Debate Sindical , com o qual revista Debate Sindical".
busca de suas conquistas. aiudando trabalhamos e já fizemos sete (Biblioteca Pedro Aleixo -
na organização e mobilização para assinaturas". (Genésio da Costa Câmara dos Deputados -
uma sociedade mais justa e Nunes - Teresina - Piaui). Brasília! 1W)

2 DEBATE SINDICAL
CAMPOS DO JORDÃO
construção habitacional
utilizando madeira
de reflorestamento

Campos do bra() tem projeto


habitacional para
a população carente
empresa municipal de habitação
RUA MANOEL PEREIRA ALVES, N.0 250 — CAMPOS DO JORDÃO - SP

E" L E I N.o 1 3 6 8 / 8 3 D E 2 6 / 0 7 / 8 3 — C. G. C. 51.615.532/0001-74


Constituinte Pra Valer
Tem Que Ter

calimacari
o
EQUIPE LUIZ CAETANO
O POVO NO PODER

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