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Sindical
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ÍNDICE Debate
Sindical
4 As comissões de fábrica e sua
importância na luta operária A revista Debate Sindical é uma publicação
do Centro de Estudos Sindicais (CES) de São
Paulo. Rua Major Quedinho, 300, sala 15, Bela
23 Causas e conseqüências da
recessão na economia do país
Roseli Figaro
Dennis de Oliveira
Juarez Tadeu de P Xavier
Agenor da Silva
Umberto Martins
Diagramação e arte:
34
Domingos de Abreu Miranda
O nascimento do reformismo e Capa:
sua interferência no Brasil Bernardo Joffily
Observação:
Nome:
Sindicato .
Cargo:
Endereço .
Cidade . Bairro .
Estado . CEP . Data:
Companheiro
sindicalista
quarto número da revista popular foi pequena, tímida,
O Debate Sindical aparece aquém das possibilidades e
quando a Constituinte entra na necessidades. Existe o anseio de
fase final e decisiva da votação mudanças na base - nas fábricas,
em plenário. O embate promete empresas, fazendas, bairros. Há
ser dos mais duros. Do lado da também o grande
reação, a gritaria contra algumas descontentamento do povo com a
resoluções progressistas aprovadas situação atual do país, com seus
na Comissão de Sistematização. graves problemas econômicos,
Os patrões esperneiam e se sociais e politicos. Mas estes
articulam para derrotar a sentimentos ainda foram pouco
estabilidade parcial no emprego, o canalizados, de forma organizada
pagamento das horas-extras em compacta, para o interior da
dobro, o irrestrito direito de Constituinte.
greve. Os latifundiários, tendo k
frente a terrorista UDR, querem Na guerra da votação em
bombardear qualquer referência plenário, quem tiver mais força
reforma agrária. Há ainda o leva. No caso do movimento
ataque ao parlamentarismo, como sindical, ou ele se articula para
sistema mais democrático de fazer valer suas teses, ou os
governo, ao mandato de quatro empresários golpeiam as recentes
anos para Sarney, etc. velhas conquistas dos
E do lado dos trabalhadores... trabalhadores. Esse é o momento
Pelo menos até agora a pressão decisivo. Depois não adianta
organizada do movimento sindical chorar...
DEBATE SINDICAL 3
Como
nascem e
atuam as
comissões
de fábrica
Altamiro Borges *
arl
DEBATE SINDICAL
movimento operário e sindical bas- No sentido de superar essa grave
tante frágil e vulnerável. debilidade, lideranças Operárias e sin-
A experiência da década de 60 é bas- dicais têm se preocupado mais com a
tante ilustrativa. Apesar do grande penetração nos locais de trabalho. E
número de greves e da presença mar- nessa tarefa árdua,- um instrumento se
cante do sindicalismo no cenário poli- mostra muito eficaz: as comissões de
tico, quando a reação desfechou seu empresas, mais conhecidas corno
golpe militar os trabalhadores não Conlissrie.s. de fiihricaN.
tiveram como resistir. A apatia foi Esse artigo visa mostrar a importân-
grande. Faltou, entre outras coisas, a cia fundamental desse organismo.
organização na base, num movimento como nasce e atua. Também enfren-
que pecou pelo cupulismo e pelo rebo- tará as questões polêmicas. como a
quismo diante da burguesia. Pagamos relação das comissões com os sindica-
caro por isso! tos e sua postura diante dos patrões.
DEBATE SINDICAL 5
o estudo das comissões de fábrica
N necessário, antes de tudo, estabe-
lecer uma definição precisa de seu con-
A experiência recente demonstra que
organizações desse tipo são muito eficien-
tes na luta cotidiana contra a exploração,
teúdo. Essa questão preliminar é impor- na guerra de guerrilhas da ação sindical.
tante porque existem diversas formas de Por ser um organismo amplo, ela tem
organizações nos locais de trabalho e elas condições de unir os trabalhadores de
merecem distinção. Uma delas é o uma empresa em torno de reivindicações
pequeno núcleo de ativistas que, na clan- imediatas e específicas e de vigiar as irre-
destinidade ou semilegalidade, procura gularidades existentes. Sua ação possibi-
encaminhar as lutas nas empresas. Seus lita também um conhecimento mais
membros não têm estabilidade no detalhado da produção e dos métodos de
emprego, não são reconhecidos pela dire- dominação capitalista - informações que
cão da firma e nem eleitos pelos funcioná- o sindicato não tem acesso.
rios. Em função disso, sua ação
limitada. Batizaremos esse núcleo de
"grupo de fábrica". Além disse, a comissão pode se tornar 1
uma importante ferramenta para o forta-
lecimento do sindicato. Nas fábricas onde
Já a comissão de fábrica expressa um
atuam tende a crescer o número de sindi-
estágio mais avançado. É quando um
calizados e participação dos operários nas
grupo de fábrica ou outro tipo de organi-
asssembléias da categoria e outras ativi-
zação tem força suficiente para obrigar o
dades sindicais. Tendo o respaldo das
patrão a reconhecer formalmente a comissões, o sindicato, que conta com um
existência de um organismo interno clas- número reduzido de diretores afastados
sista, cedendo estabilidade a seus inte-
da produção, ganha um reforço decisivo
grantes e outros meios de vinculação com
no seu trabalho de mobilização e uni fi ca-
o coletivo fabril - como quadro de avisos, cão do conjunto da categoria.
sala de reuniões, negociações constantes,
etc.
Uma forma mais democrática
Sob essa ótica, a comissão de fábrica
representa o conjunto dos trabalhadores de representação classista
de uma mesma empresa - sejam sindicali-
zados ou não. Ela não se confunde com A comissão ainda é uma forma bas-
uma comissão de greve, que aparece no tante democrática de representação ope-
momento do confronto e depois sucumbe rária. O controle dos representantes sobre
diante da violência patronal. Seu caráter os representantes se dá de forma direta,
deve ser permanente, com estatutos defi- no dia-a-dia do processo produtivo. A
A comissão de fábrica nindo seu funcionamento. Os integrantes medida que o trabalhador elege um com-
da Mafersa nasce após desse organismo são eleitos por todos os panheiro da mesma seção seu vínculo fi ca
intenso processo de luta trabalhadores, que também decidem as maior. Isto também agiliza o processo de
e conta com a atuação formas para comandar e controlar sua luta, uma vez que, estruturada nas seções
dos cipeiros atuação. das empresas, a comissão pode responder
imediatamente a qualquer problema que
surja - como, por exemplo, o despotismo
de um chefe.
6 DEBATE SINDICAL
A maioria das comissões
surge em período de greve
DEBATE SINDICAL 7
útil na organização interna. Seus inte- como pode ser golpeada. Sua única defesa
grantes contam corn alguma segurança no se dá através da consulta permanente a
emprego e, além disso, tem um certo res- base, via assembléias regulares e outros
paldo - ja que são eleitos. Muitas comis- instrumentos, e do processo constante de
sões de fábrica tiveram sua origem em mobilização do coletivo. Como já foi
Cipas atuantes. dito, a comissão nasce no bojo da luta.
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DEBATE SINDICAL
Na empresa capitalista o
operário passa a maior
parte do seu tempo
ativo e sente de forma
mais direta a exploração
capitalista
comissão da Ford fica evidente o interesse novo organismo para "rechaçar esse sin-
da direção do sindicato de tutelar suas dicato oficial, desmoralizá-la e quebrar
atividades. sua estrutura" - conforme declararam na
0 artigo 4? desse estatuto fixa que os época. Com o tempo, a comissão - que se
dois diretores sindicais que atuam na comportava como um sindicato paralelo -
empresa são membros natos da comis- caiu no isolamento. Seus integrantes
são de fábrica, sendo-lhes reservado os foram demitidos e não houve grande
cargos de coordenador e vice-coordena- resistência na base.
dor do organismo. Ou seja: os trabalha-
dores não tem o direito de eleger seus A ligação precisa ser
representantes. Além disso, o artigo 15?
vincula a comissão à própria estrutura política e não orgânica
sindical em vigor, ao permitir que o sindi-
cato "avoque a representação dos operá- Diante dessa controvérsia, qual pos-
rios da empresa na discussão de assuntos tura adotar? No nosso entender,
que sejam objeto de atuação da comissão nenhuma das duas citadas. A do atrela-
de fábrica". Desta forma, caso houvesse mento total leva a perda de iniciativa por
intervenção do sindicato o novo orga- parte dos trabalhadores, castra sua orga-
nismo ficaria subordinado à Junta do nização autônoma no local de trabalho.
Ministério do Trabalho. Além disso; pode afastar a comissão da
A outra posição, não por acaso, existe
nos sindicatos onde a CUT está na oposi- base e retirar a representatividade que
angariada na ação cotidiana, nas consul-
ção. Neles os ativistas dessa central tas regulares e democráticas. Por último,
defende a total desvinculação, chegando a dá brechas a atitudes autoritárias da dire-
pregar que o novo organismo "se contra- ção sindical, que pode manipulá-la em
põe ao sindicato" - segundo um folheto da interesse próprio.
Oposição Sindical Metalúrgica de São Já a da autonomia completa pode ter
Paulo. Para esses setores, a comissão como conseqüência nefasta a pulveriza-
uma alternativa que nega o sindicato cão da categoria, a formação de centenas
como elo aglutinador da categoria. de pequenos e inexpressiveis sindicatos
Alguns chegam a confundir as comissões por emporesa. Negando o sindicato como
com os sovietes russos (órgãos do poder elo unificar da categoria e contrapondo-
proletário), estreitando o papel desses se a ele nas lutas unitárias, a comissão
organismos no estágio atual. pode servir aos interesses patronais de
Na comissão de fábrica da Asama, dividir os trabalhadores. Não á para
registrada em maio de 83, predominou menos que setores empresariais também
essa visão. Seus organizadores, que mili- defende a total desvinculação, como
tavam na Oposição Sindical Metalúrgica ocorreu nas negociações dos estatutos da
da capital paulista, pretendiam utilizar o comissão de fábrica da Mapri, em 1986, e
DEBATE SINDICAL 9
na frustrada tentativa da multinacional de uma dada empresa a margem do pro-
alemã de criar o seu "Sistema de Repre- cesso de luta mais amplo.
sentação dos Empregados da Volkswa- Ainda sobre esse ponto, vale um alerta.
gem", em 1980. A organização na empresa pode represen-
Na nossa opinião, sindicato e comissão tar a renovação dos sindicatos, mas ela
de fábrica não se opõem; mas se articulam não deve ser vista apenas como um meio,
e completam. A comissão agrupa os tra- uma tática para conseguir outros objeti-
balhadores em torno dos interesses vos - como a conquista da direção de um
comuns dentro das fábricas; o sindicato sindicato. A organização na base é uma
engloba o conjunto dos trabalhadores de tarefa permanente, seja dos dirigentes sin-
uma mesma categoria. A comissão deve dicais ou dos ativistas de oposição. Isto
ter autonomia para consultar o coletivo porque só com a organização na base é
fabril e mobilizá-lo na conqujsta de que os trabalhadores avançarão nas suas
reivindicações específicas e imediatas. Ao lutas contra a exploração capitalista.
mesmo tempo, ela precisa respeitar as
decisões soberanas do conjunto da
categoria. Burguesia tenta domesticar
Mesmo na ação interna, a comissão o novo organismo operário
tem necessidade de manter vínculos com o
sindicato - mas não de subordinação. É
útil que a entidade sindical a acompanhe A definição clara diante das questões
nas negociações, preste assessoria econô- expostas torna-se vital para o desenvolvi-
mento das comissões de fábrica quando se
mica e jurídica nos casos mais complica-
observa a conduta da burguesia. Como já
foi dito, num primeiro momento ela pro-
cura impedir a organização interna.
Quando isso se mostra infrutífero, ela
muda de posição. Seu objetivo passa a ser
o de domesticar o novo organismo. Nesse
terreno, ela gera confusão e ate consegue
Alums êxitos. Não é outra a razão de
atualmente setores empresariais inclusive
tomarem a iniciatica de propor o reconhe-
cimento) das comissões.
A burguesia conta com a experiência
internacional. Na Alemanha, por exem-
plo. órgãos similares as comissões, os cha-
mad os "Conselhos de Estabelecimento",
prestam grande serviço na administração
do capitalismo. Segundo estimativas
recentes, existem cerca de 25 mil empresas
com conselhos. Estes atuam como sindi-
catos paralelos. De acordo com os estatu-
tos. o conselho não pode participar das
Nos momentos de greves e "nem trair os segredos da
dos. A relação não será orgânica, mas empresa quando em conversação com o
choque (na foto, a greve
deve ser política. sindicato". Seu papel é o de "zelar pela
do Pólo em ('amaçari),
Afora isso, a comissão de fábrica tem paz social" na fabrica e servir como orga-
os trabalhadores
um papel de destaque no fortalecimento nismo de colaboração entre capital e tra-
mostram sua força e dos sindicatos. A generalização dessa balho". Ou seja: servem para perpetrar a
dão passos no rumo da experiência pode significar a transforma- exploração capitalista pra iludir os operá-
organização ção do sindicalismo, com sua maior rios. O mesmo exemplo é seguido por
democratização e enraízamento nos outros países, como Holanda . Bélgica e
locais de trabalho. A pressão organizada Suécia, todos no rastro do ilusório regime
da base tem for - 0 para dar um novo da "a ut ogestão".
impulso aos sindicatos. Quando a direção Foi com base nessa experiência que a
sindical estiver comprometida com as Volkswagem tentou organizar em 1980,
lutas da classe haverá integração política na sua unidade do ABC paulista (na
entre a comissão e o sindicato. Quando época com 41 mil operários), o seu "Sis-
não, a comissão terá o papel de fortalecer tema de Representação dos Emprega-
a entidade para renová-la. A atitude isola- dos". A multinacional alemã aproveitou-
cionistas. além de facilitar a vida dos buro- se do fato do Sindicato dos Metalúrgicos
cratas sindicais, coloca os trabalhadores de São Bernardo encontrar-se sob inter-
lo DEBATE SINDICAL
venção do Ministério do Trabalho, após a' momento, criam-se as condições para o
greve de 41 dias, para apresentar sua pro- golpe fatal, como ocorreu na M WM na
posta audaciosa. Como deixou claro, seu Caterpillar, na Siemens e em outros
objetivo era "promover a integração e locais.
harmonia no ambiente de trabalho". Mesmo resistindo a idéia do reconheci-
Segundo o regulamento interno imposto mento das comissões, os empresários
sem qualquer consulta aos operários, os sabem que contam com uma margem de
sistema não possuia autonomia. "Perderá manobra para manipular o novo orga-
o mandato aquele que se aproveitar da nismo. Osmar Valentin, gerente de rela-
posição que lhe foi confiada para fins ções industriais da Ford e um dos
diferentes do previsto nesta resolução", especialistas no assunto é um dos repre-
ameaçava um de seus capítulos. sentantes patronais que defende que "a
A iniciativa, que também visava enfra- comissão interessa a direção da empresa
quecer e dividir o sindicato, não prospe- principalmente para disciplinar os confli-
rou. No primeiro embate, a comissão tos internos". Murilo Macedo, ex-
patronal se colocou contra os trabalhado- ministro do Trabalho do regime militar,
res, defendendo a redução dos salários em também advogava essa tese: "as comissões
abril de 81. Um plebiscito interno, organi- possibilitam a diplomacia sindical e a
zado pelo sindicato, disse não ao corte aplicação dos instrumentos amortecedo-
salarial e desmascarar o tal "Sistema de res de mediação e arbitragem".
Representação". Eles também têm consciência de que o
organismo de fábrica, dirigido de forma
errada, pode dividir a categoria e enfraque-
Atenção diante de todas cer os sindicatos. Na discussão dos estatu-
tos das comissões, várias empresas
as armadilhas e manobras colocam obstáculos aolvínculo com o sin-
dicato. Roberto Della Manna, homem
Mas a burguesia não recuou. Tirou forte da Fiesp (Federação das Indústrias
ensinamentos e passou a agir com maior de São Paulo), até admite a existência das
sagacidade. Em alguns casos chegou a comissões, "desde que não por via sindi-
confundir comissões nascidas em comba- cato, q que séria uma ingerência".
tivos processos de luta. Pouco depois de Pesquisa feita em 1982 mostrava que 849
formada a comissão de fábrica da MWM, dos gerentes de recursos humanos eram
importante metalúrgica da Zona Sul da favoráveis a constituição de comissões.
capital paulista, o assessor jurídico da "mas por fora dos sindicatos".
empresa, Fleury Logulo, elogiou sua Diante de tantas armadilhas e manbo-
atuação: "a comissão funciona bem. As ras, os trabalhadores conscientes preci-
reivindicações já chegam filtradas à dire- sam ficar atentos. Além da ferrenha luta
ção da empresa e isso ajuda". Os pró- pelo reconhecimento das comissões,
prios integrantes do organismo operário, como organismo útil de organização, é
tempos após diriam estranhar o clima de necessário zelar pelo patrimônio da
"paz" no interior da fábrica. "A gente até classe, definindo claramente seu papel.
desconfia de tanta liberdade", afirma- seus limites e. suas perspectivas.
vam. Não era sem motivo. Quando a Bibliografia Alvaro Moises - Editora Polis.
* O que são comissões de fábrica - Ricardo
comissão tentou puxar uma greve por Antunes e Arnaldo Nogueira - Editora
Os Sindicatos e a Transição Democrá-
tica: o que pensam os interessados - Coor-
aumento salarial, todos os seus integrantes Brasilienes - Coleção Primeiros Passos. denado por Roque Aparecido - Editado
foram demitidos. * A tomada da Ford O nascimento dc um pelo Ibrart.
sindicato livre - José Carlos Aguiar Brito - * Representacion y Conflito en dos lOrmas
Desse processo - e de outros - ficou a Editora Vozes. de Organizaccion Sindical: y Sod cato
* Processo e Relações do Trabalho no Bra-
lição. A burguesia investe no sentido de sil - Capitulo 10: Comissões de Fabrica e
- Silvia Gerchman - luperj (de/embro dc
1984).
aproveitar dos novos organismos operá- Autonomia dos Trabalhadores - Roque A organi/ação dos trabalhadores nos
rios, inclusive para aumentar a produtivi- Aparecido da Silva - Editora Atlas. - locais de trabalho: os casos da
Comissões de Fábrica em São Paulo yolks. M WM. etc. - Coordenado por
dade. "Ela quer ter lucros com a comissão Caderno 6 da coleção "Reconstrução das Roque Aparecido.
isso é feito com uma sutileza incrível. lutas Operárias". Debates sobre o movimento opera rio -
Ela proura usar a comissão para melhorar A Estratégia da Recusa - Amnéris Coletânea I - Editado pela "Reconstru-
Maroni - Editora Brasiliense. ção".
contato com os operários, para dimi- Resoluções do Ill Congresso do Movi- Estatutos de Comissões de Fábrica -
nuir a insatisfação e para descobrir os mento de Oposição Sindical Metalúrgica - tado pelo núcleo 13 de Maio.
problemas antes deles explodirem na São Paulo (maio de 1986).
Comissões de Fábrica - José Ibrahin -
OBS: Na coleta de material sobre as comis-
sões de fábricas também foram consulta-
forma de revolta", comenta um membro Editora Global. dos artigos dos semanários Movimento e
da comissão de fábrica da Ford do Ipi- * A Classe Operária no Brasil (1889-1930 - Tribuna Operária. Além disso. foram fella,
Documentos) - Paulo Sérgio Pinheiro e entrevistas com os integrantes das comis-
ranga. Ao mesmo tempo, ela tenta buro- Michael Hall - Editora Alfa-Omega. sões de fábrica da Ford (lpiranga). Volk.
cratizar a comissão, afastá-la da base c !* Sindicatos e Democratização - Ricardo (São Bernardo). Maori. MWM. Malersa.
criar a ilusão da "paz social". NeK Maranhão - Editora Brasiliense. Columbia e Santa Marina - todas de Silo
Greve de Massa e Crise Política - Jose Paulo.
DEBATE SINDICAL 11
Novos estatutos
e a democracia
nos sindicatos
o processo de abertura política no
Roseli Figaro * N fim do regime militar, o movimen-
to sindical obteve algumas alterações na
legislação que rege a vida de suas
Recentemente alguns sindicatos brasileiros entidades.
passaram a discutir seus estatutos internos.
Murilo Macedo, ministro do Trabalho,
Aproveitando-se das limitadas alterações na na época, baixou, em dezembro de 84, a
legislação sindical, procuram democratizar as portaria de n? 3.280 que revogou a insti-
entidades para aumentar seu respaldo na tuição do estatuto padrão: "Fica revo-
base. Agora, com a possibilidade da gada a portaria n? 126/58, que institui
modelos-padrk de estatuto social para
Constituinte aprovar a autonomia sindical, entidades sindicais". Em seu artigo 2?
esse debate tende a ganhar corpo. Nesse designava: "Os estatutos sociais das enti-
artigo apresentamos um pequeno painel das dades sindicais serão elaborados segundo
disposições legais vigentes, devendo ser
mudanças já efetuadas nos estatutos. submetidos à aprovação da assembléia
geral ou conselho de representantes".
• Assessora de Imprensa do Sindicato dos lAeroviários de Sao Paulo
Sem dúvida, um avanço frente A impo-
sição quarentona da CLT. No entanto,
restrito, pois continuava exigindo sua
submissão à legislação em vigor e, por-
tanto, a superioridade da CLT em relação
aos estatutos sociais. De fato, o que se
obteve de novo foi a possibilidade de tra-
zer o debate da questão - atrela mento dos
sindicatos ao Estado - à tona.
Em 28 de março de 85, o já ministro da
"Nova República", Almir Pazzianoto,
revogou a portaria n? 3.437 de dezembro
de 74 e estabeleceu a portaria de n? 3.117,
2 DEBATE SINDICAL
que regulamenta:"as eleições sindicais, de alterações estatuta riais em apenas três
observadas as exigências de cunho geral entidades sindicais de trabalhadores
constantes na CLT, processar-se-ão na rurais: a Federação dos Trab. da Agricul-
forma do que vierem a dispôr os Estatutos tura no Estado de S. Paulo - Fetaesp; o
aprovados pelas assembléias gerais das Sind. de Trab. Rurais de Araras e Região;
associações profissionais e sindicatos, ou e o Sind. dos Trab. Rurais de Mirasol.
Conselhos de Representantes das Federa- Dos sindicatos urbanos, 158 haviam efe-
ções e Confederações." Isto possibilitou a tuado alterações, sendo que destes, 95%
diretoria da entidade e a categoria discuti- são sindicatos de trabalhadores e o res-
rem e regulamentarem o processo eleito- tante são sindicatos de empregadores.
ral de seu orgão de classe, claro que
sempre dentro dos marcos da CLT. Do sindicato livre para
No entanto, segundo declarações do
Diretor de Divisão de Assunto Sindicais o tutelado pelo governo
da DRT/ SP, Jorge Mishino, poucos sin-
dicatos efetivaram mudanças em seus
estatutos, o que levou o Ministro a cance- A liberdade e autonomia sindical, tão
lar a portaria 3.117 e a baixar outra, a de reivindicada pelo movimento sindical, já
n9 2712/86, que determinava às entidades foi realidade em nosso país. Faz-se neces-
que até o momento não haviam efetuado sário historiarmos, rapidamente, esse
alterações em seus Estatutos que deve- período para que possamos compreender
riam reger-se por "Instruções ministeriais melhor a estrutura sindical hoje implan-
a serem baixadas no prazo de 90 dias". tada no Brasil.
Finalmente, em 30 de abril de 1985 o As entidades autonomas nasceram da
Ministério do Trabalho, Almir Pazzia- necessidade do movimento real da classe
noto, baixa a portaria 3.150, que regula as operária em organizar suas lutas em prol
eleições das entidades sindicais que não das reivindicações da classe. Eram as
introduziram alterações sobre o tema em "uniões profissionais". "associações de
seus estatutos. ajuda mútua", federações regionais, cen-
No fundamental, a portaria 3.150 é trais sindicais, etc. O sindicalismo era pra-
mais flexível no que diz respeito ao quó- ticado horizontalmente. O Estado não
rum necessário para uma chapa vencer o exercia, através da legislação, qualquer
pleito escrutínio. Ou seja, modifica a por- interferência no corpo orgânico das enti-
centagem de votos necessários relativa- dades. Era livre a organização de Uniões
mente ao número total de votos por ramo de categoria, possibilitando
apurados, diferentemente da portaria várias entidades numa mesma profissão -
anterior. reflexo do nível de consciência e desenvol-
Até a data da nossa entrevista (5/ 6/ 87), vimento da classe operária e do
Jorge Mishino apresentou-nos o registro capitalismo em nosso país.
DEBATE SINDICAL 1
A relação mantida até então, por parte formas de intervenção no movimento,
do Estado, com os organismos de traba- que lhes garantisse o controle absoluto da
Ifiadores era policial. A repressão direta, a situação. E de 1931 o primeiro decreto lei
cassação dos direitos politicos, o exílio e a que introduz o controle do Estado nas
extradição de lideranças sindicais, eram entidades dos trabalhadores.
corriqueiras. Além, da intervenção e
fechamento dos sindicatos, respaldados Estado Novo impõe regras
no art. 12 do decreto lei 4.269 de 1921.
É um período de grande ebulição poli- cupulistas e autoritárias
tica no país. Os trabalhadores, depois da
experiência assimilada com a greve geral Lindolfo Collor, Ministro do Traba-
de 1917, na capital paulista, e do grande lho, Indústria e Comércio, do governo de
entusiasmo causado pela revolução prole- Getúlio Vargas, foi responsável pelo
tária na Rússia, passaram a dar maior Decreto 19.770 - publicado em
consequência ao seu movimento. Deixam 15 /3 '1931, que estabelecia a lei de sindi-
de lado as concepções anarquistas e pro- calização e impunha a tutela do Estado ao
curam um novo rumo, que lhes propi- sindicalismo brasileiro. Estabeleceu, no
ciasse acumular forças, ampliar a fundamental, que o sindicato para existir
participação e obter conquistas concretas deveria ter seus estatutos aprovados pelo
na melhoria de vida e trabalho, que justi- Ministério do Trabalho. Além de ter
ficassem a continuidade do movimento. anualmente suas contas e atividades vis-
Na década de 20, fruto dessa luta, o toriadas pelas autoridades, seu artigo 5'?
trabalhador viu traduzir-se em leis anti- definia as entidades sindicais "como
gas reivindicações, tais como: a lei n? órgãos consultivos e técnicos no estudo e
solução,pelo governo federal, dos proble-
mas que, economica e socialmente, se
relacionassem com os interesses da
classe". E em seu artigo 6'? definia o sindi-
cato "como órgão de colaboração com o
poder público."
Sergio Amad Costa, no livro "Estado
e Controle Sindical no Brasil", comenta:
"nestes dois artigos fica evidente a inten-
ção de transformar os sindicatos em enti-
dades assistenciais, amenizando seu
caráter de luta e canalizando, também,
para dentro do aparato estatal, os confli-
tos sociais. Isto porque os sindicatos pas-
savam, por determinação legal, a ser
órgãos consultivos e técnicos do governo
federal, caracterizados como entidades de
colaboração com o poder público"
Capciosamente, o governo de Getúlio,
impôs o sindicalismo oficial aos trabalha-
Assembléia na porta da dores, em contraposição aos sindicatos já
3.724, de 15 de fevereiro de 1919, que
Fiat de Betim (MC): existentes, a partir do momento que regu-
amparava os operários vitimados em-aci-
lamentou, através do decreto, que as leis
novas formas para ouvir dentes de trabalho; a lei Elov Chaves de
editadas em beneficio dos trabalhadores
as trabalhadores e 242 1923 e a lei 16.027, de :30 041923,
só seriam aplicadas mediante o reconheci-
lefinir os rumos da luta que regulamentava, respectivamente, as mento oficial da entidade. Foram assim
io dia-a-dia. pensões e as caixas de aposentadoria para impostas pelo governo as entidades ofi-
os ferroviários e o conselho Nacional do ciais e com elas vimos o nascimento de
Trabalho; e o decreto ri(! 4.982 de 1925, uma nova casta de dirigentes sindicais - os
regulamentado pelo decreto 1-1(! 17.496 de chamados ministerialistas, ou pelegos.
30 10 26, que estabelecia no país o
regime de férias - 15 dias anualmente, aos Ern 1943, todo o conjunto de leis de
empregados e operários de estabeleci- controle sindical elaborado na década de
mentos comerciais, industriais e 30, culminando com a criação do imposto
bancários. sindical em 1939, foi compilado na velha e
Essas conquistas renovaram o ímpeto conhecida Consolidação das Leis do Tra-
de participação dos operários nas entida- balho - CLT. Institucionaliza-se uma
des, chamando a atenção das classes nova forma do Estado abordar o movi-
dominantes para a necessidade de novas mento operário.
DEBATE SINDICAL
A CLT traduz a modernização do número de membros das diretorias das
Estado, no que diz respeito ao aparato entidades sindicais. A proposta dos meta-
das classes dominantes na repressão as lúrgicos era a criação de um Conselho
lutas dos trabalhadores. Além do instru- com status de diretoria com 105 mem-
mento repressivo direto, polícialesco, bros, representando, as grandes empresas
introduziu-se a atuação política e legal do metalúrgicas da Capital.
Poder, na relação sindicato-patrão- Segundo o advogado, especialista em
Estado legislação sindical e trabalhista, Dr. José
A CLT serviu tão bem ao poder que Carlos da Silva Arouca, "a tentativa de
mesmo no decorrer do período politico alteração do número de membros de uma
mais democrático - de 45/64 -, não foi diretoria sindical não está de acordo com
alterada e, continuou a bem servir aos a legislação e não dá estabilidade aos
general durante os 21 anos de regime mili- membros que vierem a integrá-la. A por-
tar no Brasil. A "Nova República" acenou taria que dava estabilidade aos Conselhos
com mudanças, mas de concreto (além Consultivos, baixada pelo ex-Delegado
das portarias já analisadas), o que é pro- Regional do Trabalho, José Carlos Stein,
posto pelo governo e mesmo o que se tem foi contestada pelo Ministério do Traba-
apresentado A. Constituinte por parte do lho e não chegou a vigorar. Sem dúvida,
Ministério do Trabalho, não trará a liber- seria uma grande conquista do movi-
dade e a autonomia sindical aspirada mento sindical".
pelos trabalhadores sem quebrar o que
lhes é fundamental: a unidade de suas
entidades representativas.
DEBATE SINDICAL 1
II
cato dos Padeiros caminharam mais no vigor, resolve: reformar seu Estatuto no
sentido de aprofundar a regulamentação que tange ao Processo Eleitoral,
dos direitos e deveres dos sócios assim democratizando-o, dentro dos para-
como de uma série de normas disciplina- metros legais, e, manter o modelo-padrão
res que regulam as assembléias, e o rela- da Portaria 126 /58 ante a impossibilidade
cionamento do sócio com a , entidade. legal de modificar o estatuto dentro dos
Prevê e regula o Conselho Consultivo, as padrões que considera compatível ao sin-
comissões de empresa, e as delegacias dicalismo livre".
sindicais.
Processo eleitoral será
Já o Sindicato dos Metalúrgicos de S.
Bernardo do Campo e Diadema, presi- definido em assembléia
uido na época das alterações estatutárias
por Jair Meneguelli, preferiu restringir ás
mudanças nos estatutos exatamente no Sendo assim, os metalúrgicos do polo
que permite a portaria 3.117 de 28 de industrial mais importante do país, defi-
O Sindicato dos março de 1985, do Ministério do Trabalho. niram seu processo eleitoral introduzindo
Metalaúrgicos de E. na justificativa esclarece: "que a revo- de novo a obrigatoriedade do presidente
gação da aludida portaria ( 126/ 58) , não do Sindicato convocar Assembléia da
Osasco foi um dos categoria para definição do processo elei-
primeiros a alterar o encerra o sistema corporativo sindical no
Brasil, vez que o título V- da Organização toral, deliberando sobre: data, duração
estatuto, que passou da votação, "e se for o caso" de comissão
pela aprovação do Sindical- da Consolidação das Leis do
Trabalho (arts. 511 a 610) continua em eleitoral. Define também, que a assem-
congresso bléia poderá optar pela presidência do
pleito: se será exercida pelo presidente do
sindicato, ou pela comissão eleitoral.
NI
TRA ADORES NRS INNSTR
5 IDICATC oos ELÉTRICO Avança ainda no sentido da democracia
M ANICPS E OE MAT sindical, quando estabelece condições
iguais na utilização dos recursos materiais
do sindicato para as chapas concorrentes,
no que diz respeito a: divulgação, locais
para reuniões, guarda de material, pro-
moções de debates, etc. E cabe à assem-
bléia da categoria estabelecer o montante
gasto no processo eleitoral.
6 DEBATE SINDICAL
' PELR DEMOCRATIZACÃO DO 3INDICATO
COP11531i0 t FÁBR1CR »P
EL A UN O DOS ET • ifaC61
do reconhecimento do direito do sindi- com sua categoria profissional. (Capítulo A luta pela democracia
cato filiar-se a uma Central Sindical. I, art? 39, item IV). E, de burlar a estrutura nos sindicatos esbarra
vertical do sindicalismo brasileiro através em grandes obstáculos,
do item VI do mesmo art. 39 que dispõe: como no caso dos
Romper a acomodação para "representar a categoria nos congressos, metalúrgicos de S.
arejar as entidades conferências e encontros de âmbito muni- Paulo
cipal, estatual, nacional e internacional,
na conformidade da legislação vigente".
Mas, da rápida pesquisa que fizemos Em fevereiro de 86, a assembléia geral
nos estatutos das entidades sindicais do da categoria alterou as disposições estatu-
Estado de S. Paulo, que efutaram mudan- tárias no que se refere a regulamentação
ças, pudemos observar que o Sindicato do processo eleitoral. O processo eleito-
dos Jornalistas Profissionais no Estado ral, aprovado, estabelece no fundamental
de S. Paulo, de maneira corajosa, apro- que: sera convocada assembléia para ins-
veitou o momento de abertura política tauração do processo eleitoral e disporá
que vivíamos no final da década de 70 e sobre a eleição de uma Comissão eleitoral
efetuou profundas mudanças em seus de dirigirá o pleito; definição da data e
Estatutos. Tanto é que o Sindicato dos apuração do pleito.
Jornalistas não tem seu estatuto regis- Toda a estrutura sindical viciada ao
trado pelo Ministério do Trabalho. Ele
encontra-se, segundo seu ex-diretor, e um atrelamento e à tutela do Estado criou
dos participantes do processo de altera- uma certa acomodação das diretorias sin-
ções, Pedro de Oliveira,apenas depositá- dicais, que na prática tem impedido que se
rio na DRT/SP. Isto porque não traz em avance politicamente na legislação.
seu conteúdo o termo: colaboração com Mesmo a interferência na Constituinte
o Estado... tem Se dado de maneira assistemática e
em pequena porporção. Visto que ainda
O Sindicato teve a ousadia de mudar o pequeno o número de entidades que fize-
termo já citado e imposto pela legislação ram alterações em seus • estatutos, os
como de fundamental importância para a exemplos que se têm são honrosos e bali-
designação de outro conteúdo, qual seja, sam as possibilidades existentes quanto
o de "representar junto ao Estado, como democratização da entidade em favor de
órgão técnico e consultivo, no estudo e uma maior interferência das bases das
solução dos problemas que se relacionam categorias nas entidades.
DEBATE SINDICAL
VAMOS GARANTIR O ACORDO!
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palavras de Hugo
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18
DEBATE SINDICAL
A luta de idéias
e a força do
jornal sindical
Dennis de Oliveira e Juarez Tadeu Paula Xavier *
DEBATE SINDICAL
"Folha Bancária" penetra na base
osélNegrão é o jornalista responsá- João José Negrão conta que "a Folha
vel pelo maior jornal sindical da Bancária, pela sua estruturação, já é um
atualidade: o "Folha Bancária". Este órgão jornal estabelecido, ou seja, enraizado na
tem uma tiragem diária de 80 mil exem- categoria. O fato dele ser diário dá uma
plares (chegando a 120 mil em época de enorme importância tanto na mobiliza-
campanhas salariais). Para a sua confec- cão como no enraizamento do sindicato
ção, o Sindicato dos Bancários de São na categoria".
iindicato dos Bancários Paulo conta com oito jornalistas, senclo
cinco para texto, dois diagramadores, e
:omprou rotativa para
um ilustrador, além de seis pessoas na 0 jornal tem uma importância tão
tumentar o volume de grande para o Sindicato que toda a
composição e os gráficos. Os jornalistas
mpressos. Em 86 foram trabalham em dois turnos de seis horas e o reunião da diretoria conta com a partici-
iistribuidos 18 milhões fechamento do diário se dá entre 17 e 20 pação de um representante da equipe do
le "Folhas Bancárias" jornal. "Assim, comenta Negrão, evita-se
horas.
a prática de vir pacotes fechados da dire-
toria para nós, aproximando o relaciona-
mento nosso com a diretoria do
sindicato".
DEBATE SINDICAL
Sendo assim, José Carlos considera que o
jornalista sindical deve ter consciência do
seu papel, ou seja, de que terá a tarefa de
desmontar todo esse aparato na catego-
ria, levando o trabalhador a ter uma
consciência política.
Por isso, José Carlos acha que o jornal
sindical não é um mero espaço para jogar
matéria. Ele deve ter uma linha determi-
nada, posições marcantes, ou seja, ter per-
sonalidade, sem, contudo, ser sempre
panfletário. José Carlos comenta que sua
experiência na assessoria da Federação
foi bastante positiva pois, graças ao
órgão, a Federação cresceu e ganhou
força tanto junto à categoria, como na
sociedade. A participação da categoria no
jornal evidenciou-se pelo grande número
de cartas enviadas com de`núncias, criti-
cas, sugestões.
V !
DEBATE SINDICAL
Urbanitários dinamizam imprensa
esde julho passado, a Federação dos
D Trabalhadores nas Indústrias Urb-
anas do Estado de Km Paulo vem dinami-
dente da Federação, Rubens Fandino,
pretende mudar esse quadro. O projeto
aumentar a tiragem do boletim e editar
zando seu departamento de imprensa. um jornal tablóide.
Antes ela se comunicava com as direçõe s. Segundo Lejeune Mato Grosso, asses-
das sete entidades filiadas unicamente sor sindical da Federação, a dinamização
através de circulares. Agora possuí um da imprensa trouxe resultados positivos.
boletim semanal, impresso em sulfite, "Na base eletricitaria da capital, por
duas cores, com 10 mil exemplares. Como exemplo, a receptividade do boletim é
vârios dos sindicatos filiados possuem excelente. Os trabalhadores estão seden-
seus próprios boletins, o da Federação é tos de informações, principalmente nessa
afixado nas sedes do interior, mas o fase da vida econômica e política do país".
grosso é distribuído pelos dirigentes da Para ele, o conjunto do sindicalismo bra-
entidade na capital paulista - onde a sileiro ainda não dá a devida importância
comunicação sindical é mais débil. para a imprensa sindical. "Essa frente de
A Federação representa 80 mil traba- luta é tratada de forma amadora, sem
lhadores no Estado, reunindo o pessoal recursos", afirma.
dos setores de energia elétrica, gds e puri- E concluí: "Hoje é inadmissível uma
ficação de Agua e esgoto. O peso da cate- entidade, mesmo Com poucos sócios, não
goria é estratégico. lima greve do setor de ter o seu boletim ou jornal. Se a diretoria
energia, por exemplo, paralisaria total- deseja ser vanguarda da categoria nas
mente sete Estados a região centro Sul. suas lutas é fundamental que ela conte
Apesar dessa importância, -a- comunica- com um instrumento de comunicação
ção horn a base é pequena. O novo presi- . com a base".
DEBATE SINDICAL
As causas e as
conseqüências
da recessão
Agenor da Silva e Umberto Martins
DEBATE SINDICAL 23
esnorteado perante os grandes prob- teúdo do Plano Bresser revela-se, desta
D lemas nacionais, o governo Sarney
lançou o chamado Plano Bresser - ou
forma, não somente antioperário como
igualmente antinacional, uma vez que, áo
Cruzado III - propagandeando que iria lado do arrocho salarial, agrava a
evitar o caos econômico, debelar a crise e dependência a que o Brasil é submetido
a recessão. Os trabalhadores foram convi- pelo capital estrangeiro.
dados a dar mais uma cota de sacrifícios, E de se perguntar as razões da impotên-
aceitando o arrocho salarial embutido no cia do governo em enfrentar a crise e solu-
plano. cionar os grandes problemas nacionais de
Afirmou-se que "os salários estavam acordo com as necessidades e expectati-
muito altos na época do Plano Cruzado, vas do povo.
instituído em março de 1986", e ainda que
"agora, quando a inflação do primeiro As crises econômicas são
semestre de 1987 corroeu o poder de com-
pra dos salários, a economia pode retor- inevitáveis no capitalismo
nar à normalidade, bastando conter a
inflação".
O ministro Bresser Pereira argumentou Na verdade, há uma série de fatores que
também que a economia havia crescido explicam o atual quadro da economia
demasiadamente, sendo necessário contê- brasileira. Mas, em primeiro lugar, é pre-
la. "Precisamos reduzir o crescimento" ciso destacar que a crise econômica e o
esta foi a palavra de ordem assumida pelo conseqüente processo recessivo são inevi-
governo. Contraditoriamente, a diminui- táveis nos marcos do capitalismo,
cão da atividade econômica criaria as constituindo-se mesmo em formas de
bases para a estabilidade. existência e desenvolvimento do sistema.
No entanto, o grande - e até agora Desde 1825, quando eclodiu a primeira
exclusivo - "mérito" do Cruzado III foi crise econômica do capitalismo, periodi-
mesmo o arrocho salarial. A inflação, camente o processo produtivo entra em
embora tenha declinado em relação aos convulsão. Inicialmente, o intervalo entre
níveis do primeiro semestre deste ano, uma e outra crise era de 10 a 12 anos, mas
mantém-se em patamares elevados. A o período do ciclo foi se encurtando na
recessão não cedeu, ao contrário foi agra- medida em que se desenvolvia o capita-
vada pelas medidas destinadas a conter o lismo, de forma que hoje a cada cinco ou
consumo interno. sete anos a economia mundial ingressa em
Logrou-se ainda, é certo, aumentar as processos de crise, cada vez mais agudos.
exportações e, daí, gerar um excedente A rigor, a partir da crise de 1974 o
maior para ser enviado ao exterior, processo produtivo não mais apresentou
garantindo os lucros dos banqueiros uma recuperação significativa. O período
estrangeiros e das multi nacionais. O con- de queda da atividade econômica juntou-
se à nova crise de 1980-82 e, logo após
uma leve e breve recuperação, estalou
outra crise internacinal em 1984-85.
A crise é, portanto, uma lei do capita-
lismo e expressa as enormes contradições
deste modo de produção. O objetivo da
atividade econômica no sistema é o lucro,
e para atingi-lo os capitalistas procura-
ram, ao mesmo tempo aumentar a prod u -
cão e restringir ao mínimo possível os
salários dos trabalhadores.
As profundas contradições
do sistema de exploração
24 DEBATE SINDICAL
EMPREGO
relações de troca, dando lugar a uma crise crises, o que se vê é a contradição entre a Resultado imediato da
de superprodução que compromete os produção social e a apropriação capita- recessão: aumento das
grandes lucros da burguesia. lista chegar à explosão violenta. A circu- filas de desempregados e
lação de mercadorias é momentaneamen- da fome do povo
Além disto, o processo produtivo não te paralisada. O meio de circulação, o
se desenvolve de forma harmônica e pro- dinheiro, torna-se um obstáculo à própria
porcional, existindo no capitalismo uma circulação - todas as leis da produção e da
acirrada contradição entre a organização circulação são viradas ao avesso. A coli-
do trabalho dentro de cada unidade pro- são econômica atinge o auge: o modo de
dutiva - sendo que em cada empresa o produção revolta-se contra o modo de
capitalista trata de organizar sua produ- troca, as forças produtivas revoltam-se
ção movido pela necessidade de obter o contra o modo de produção para o qual se
lucro máximo - e a anarquia imperante na tornaram demasiado grandes."
economia como um todo devido
concorrência entre os empresários. O E acrescentava: "0 conjunto dos meca-
colossal desenvolvimento das forças pro- nismos do modo de produção capitalista
dutivas (tecnologia, produtividade do tra- recusa-se a funcionar, sob a pressão das •
balho), ao mesmo tempo que exige uma forças produtivas que ele próprio criou. O
maior organização e concentração da modo de produção é impotente para
produção, entra em profundo conflito transformar essa massa de meios prod u-
com as leis que regulam o sistema capita- cão em capital - ficam inativos, e é por
lista, as relações de exploração em que se esta razão que o exército industrial de
baseia e o lucro como objetivo final da reserva permanece também inativo.
atividade econômica. Meios de produção e de riqueza geral
existem em excesso. Mas 'a superabun-
Friederich Engels, filósofo e econo- dância torna-se a fonte da penúria e da
mista alemão (1820-1895), observou o miséria' (Fourier), porque é precisamente
seguinte a respeito deste fenômeno: "Nas ela que impede a transformação dos
DEBATE SINDICAL
meios de produção e de subsistência em foi a elevação unilateral das taxas de juros
capital, pois, na sociedade capitalista, os que recaem sobre as dívidas externas, que
meios de produção não podem ser aciona- giravam em torno de 5 a 7% ao ano e
dos a não ser que, previamente, tenham se atingiram mais de 20%.
tornado capital - meios para a exploração
da força de trabalho humana". Em consequência, países como o Brasil
foram forçados a realizar ajustes econô-
Na atualidade, por conta do grau de micos que implicaram numa grande con-
monopolização alcançado pela economia tenção do consumo interno, por via do
capitalista, novos fenômenos, como a arrocho salarial, com a finalidade de
inflação, se somam à crise, agravando as gerar recursos para enviar ao exterior.
mazelas deste modo de produção. Os Nossa dívida externa pulou de cerca de 50
monopólios preferem aumentar seus pre- bilhões de dólares para mais de 100
ços mesmo nos momentos de queda do bilhões de dólares em apenas quatro anos.
consumo, como ocorre hoje no Brasil,
fazendo com que o processo recessivo seja
acompanhado de aumentos generaliza- Recessão impõe severos
dos de preços, ao contrário do que ocorria
antes da 11 Guerra Mundial. sacrifícios para o povo
No Brasil, outro fator de pertubação do
Impôs-se ao povo um enorme sacrifí-
cio. A produção industrial mais de 15%
em dois anos. O consumo declinou 20%.
A aquisição de cimento no país - impor-
tante indicador do nível de atividade eco-
nômica - desceu 25,9% entre 1980 e 1984.
A utilização da capacidade instalada na
indústria mecânica passou de 80% em
1980 para 57(/(- em meados de 1983. 'A
produção de bens de capital regrediu 45,2
entre 1982 e 1983, sendo que a importação
de máquinas e equipamentos para a
industria reduziu-se de 4,4 bilhões de
dólares em 1980 para US$ 2,3 bilhões em
1984, causando grandes dificuldades para
recuperação do nível de produção.
26 DEBATE SINDICAL
Foto: Ailton S. Leite
internacional. O Fundo impôs - e ainda
impõe - receitas que inevitavelmente
exigiram a diminuição do consumo
interno, além de cortes nas despesas
públicas com efeitos deliberadamente
recessivos.
DEBATE SINDICAL 27
se a cada 10 anos. Em cada crise, a socie-
dade se asfixia sob o fardo das suas
própria forças produtivas e dos produtos
que não pode utilizar. E choca-se, impo-
tente, contra esta contradição absurda: os
produtores nada têm a coit.,7 — .r porque
há falta de consumidores.
28 DEBATE SINDICAL
SACCO
E
VANZETTI
Um crime que gerou
protestos no Brasil
Clovis Moura *
DEBATE SINDICAL 29
carregando aquela elevada importância
E o
stamos vendo tanscorrer, neste ano,
sexAgesimo aniversário de um dos
crimes jurídicos mais odiosos, praticados
\
para a época.
30 DEBATE SINDICAL
devolver o carro, tomaram um bonde: os
agentes de polícia que os seguiram
prenderam-nos imediatamente sem que
IN
ff.a MOUN4CILITRA A TRIlluNA IL
PATTI. -- di it
Trabalhadores brasileiros
se unem na solidariedade
DEBATE SINDICAL 31
no continente americano, não podia pas- multidão parada. Um grupo de trabalha-
sar despercebido nesta justa cruzada." dores da construção civil, que convidava
Em outubro de 1921, no Rio de os seus colegas a paralisarem o trabalho,
Janeiro, criou-se o Comitê Popular de também foi preso.
Agitação Pró-Sacco e Vanzetti, com No Rio de Janeiro a situação não era
ramificação em vários Estados. Comícios diferente. Um clima de tensão apoderara-
são programados. 0 jornal A Plebe publi- se da cidade. A União dos Operários em
cou artigos em defesa de Sacco e Vanzetti. Fábricas de Tecidos do Rio e Petropólios
O Ateneu libertário da Cultura Social e a lançou um vibrante manifesto no qual
Federação Operária de São Paulo tam- dizia:
bém realizam vários atos.
"Camaradas:
Hoje é o dia designado pela justiça
No dia das execuções, norte-americana para o assassínio de nos-
greves em vários Estados sos companheiros Sacco e Vanzetti.
Talvez a estas horas estejam sendo ele-
trocutados nossos irmãos de sofrimento e
No dia da execução de Sacco e Van- não é possível que os trabalhadores do
zetti, houve um comício na praça do Rio de Janeiro, principalmente os das
Patriarca do qual participou "toda a
classe operária desta capital". conforme
noticiou um jornal da época. No mesmo
falaram vários oradores que condenaram
a injustiça que se estava praticando nos
Estados Unidos. Os trabalhadores que
compareceram à hora habitual, aos seus
serviços, foram convidados pelos colegas
a aderirem ao movimento de protesto. No
Brás a maioria das fábricas foi imediata-
mente fechada, prosseguindo o trabalho
de algumas delas até As onze, quando os
operários abandonaram o serviço e
dirigiram-se à praça do Patriarca.
Na Lapa houve conflitos sérios entre
trabalhadores e policais que foram "aos
poucos serenados". No lpiranga esses
conflitos se repetiram: em frente à
Fábrica Nami Jaffet um piquete convi-
dava os colegas a participarem da greve
de solidariedade. A diretoria da empresa,
no entanto, chamou a polícia que efetuou
várias prisões no local. Entre os presos
estavam três jovens operárias que se
"mostraram rebeldes ao pedido de disper-
são do feito pelas autoridades". Depois de
permanecerem algumas horas na delega- Charae do Jornal "A Manhã"
cia "foram postas em liberdade". O movi- fábricas de tecidos, permaneçam indife-
mento ganhava maiores proporções à rentes à injustiça que representa o assassí-
medida que se aproximava a hora das nio legal de dois trabalhadores inocentes.
execuções. Na estamparia A Liberty, na Os nossos camaradas de Petropólis, como
rua Piratininga, a polícia agiu com violên- protesto pela desumanidade da 'justiça'
cia, alegando o comportamento alta- norte-americana, paralisaram o movi-
mente incoveniente de alguns grevistas. mento em todas as fábricas de lã, seda e
As onze horas foram pedidos reforços algodão, ontem, segunda-feira, e perma-
para as fábricas Matarazzo, na Agua necerão parados hoje, como demonstra-
Branca, e Crespi, na Moóca. ção de protesto A iniqüidade e de
solidariedade aos dois condenados pelo
A noite foi grande a aglomeração de único crime de desejarem o bem-estar da
populares em frente aos placares dos jor- humanidade. Aqui no Rio, infelizmente,
nais, nos quais eram afixadas notícias das só uma fábrica de tecidos paralisou
agências internacionais. Essa notícias ontem: e hoje continuará parada. E pre-
eram discutidas acaloradamente pela ciso que os companheiros de todas as
32 DEBATE SINDICAL
fábricas sem distinção de credos politicos, tecidos Petropolitana, Petrópolis Indus-
acompanhem o movimento mundial de trial e Corneta do Alto da Serra, alastrou-
protesto contra a selvageria dos expoen- se imediatamente à quase totalidade dos
tes dos dollars. estabelecimentos congêneres e de outros,
É necessário que os operários em fábri- culminando essa movimentação no dia da
cas de tecidos não trabalhem hoje, 23 de execução, com a adesão dos trabalhado-
agosto de 1927, como um protesto A. ele- res de todos os ramos da indústria todo o
trocussão de Sacco e Vanzetti, acompa- comércio e de empregados em bondes e
nhando o protesto altivo dos camaradas condutores de veículos.
da Fábrica Aurora, aqui do Rio. A União
Após a paralisação de todas as fábricas,
dos Operários em Fábricas de Tecidos do
inclusive as oficinas da Estrada de Ferro
Rio e Petrópolis. Que nenhum operário Leopoldina e do Alto da Serra, constru-
trabalhe hoje em sinal de protesto pelo
ção civil, bondes, veículos e o fechamento
assassínio de dois inocentes, vítimas do
do comérico, verdadeira multidão
capitalismo. dirigiu-se ao local do comício que haviam
programado.
Todas categorias aderem
Os discursos foram inflamados e vio-
ao protesto em Petrópolis lentos, atacava-se abertamente o imperia-
lismo norte-americano e o seu sistema
Se esta era a situação no setor têxtil, o interno de repressão política. Segundo
movimento de solidariedade dos operá- um jornal que registrou o acontecimento
rios da indústria mobiliária era bem mais "aos gritos de vivas à memória de Sacco e
intenso. Atendendo ao apelo da Comis- Vanzetti e de guerra aos assassinos, de
são Executiva dos Trabalhadores da vivas à solidariedade operária e de guerra
Indústria Mobiliária, os trabalhadores ao código infame das leis celeradas, reite-
dessa categoria também pararam o traba- rando levar a efeito um boicote aos pro-
lho na véspera da execução. dutos norte-americanos, aquela massa se
Os principais estabelecimentos do setor dispersou, sem registrar-se qualquer inci-
não funcionaram, especialmente as dente". Outras manifestações no resto do
grande empresas. Não funcionaram em Brasil registraram o protesto dos traba-
conseqüência da greve, as empresas Lean- lhadores ao assassínio jurídico da justiça
dro Martins & Cia, C. Daubisch, Hirt & das classes dominantes dos Estados
Cia., Companhia Betenfeld, Moreira Unidos.
Mesquita, Ruggier, Reed Star, Viúva
Magalhães & Cia., Salvador Storino &
Cia., Marcenaria Auler, "A Nossa Casa", 60 anos após o crime, a
Casa Fonseca & Albino, Veiga & Pinto, homenagem dos operários
Acácio & Santos, Sequeira & Cia., F.
Criramo & Irmão, Otto Schutt & Filho, J.
Ramalho, Vicente Miraglia, E. Jatocoz Sessenta anos passados do crime, a
Fabrega, Gimenez de Souza, J. Palermo classe operária do mundo inteiro ainda
& Cia., Casa Verde, Marcenaria Brasil, reverencia a memória desses dois heróis
Firmino & Cia., Casa Edson e muitas Trinta anos depois do crime a viúva Sacco
outras. entrou com um pedido de reabertura do
processo. Inutilmente. Não foi conside-
Esses trabalhadores, à medida que dei- rado pela justiça americana. Sabino
xavam os seus locais de trabalho, Sacco, irmão de Bartolomeu, fez um
dirigiam-se para a sede da sua Comissão pedido de reabilitação no ano de 1973.
Executiva. O movimento vai aumentando
medida que o tempo passa, pois nin- Mas a justiça americana, mais uma vez,
guém sabia, ao certo, a hora em que os negou-se a rever o caso. Como a farsa não
dois seriam executados. podia ser mantida por mais tempo a
reabilitação dos dois operários executa-
Se o setor têxtil não reagiu como se dos não saiu através da revisão do pro-
esperava, no Rio de Janeiro, o mesmo cesso, mas através de decisão do
não aconteceu em Petrópolis. Apesar de governador de Massachusts, isto é, auto-
ter sido lançado um manifesto em ridade idêntica a que cinqüenta anos
comum, em Petrópolis é que se concen- antes assinara a sentença fatal. Com este
trará o protesto dos têxteis brasileiros. gesto de prestigitação política o hímen
Iniciada com vigor a greve de protesto, no complascente da justiça dos Estados Uni-
dia 22, pelos operários das fábricas de dos continua virgem.
DEBATE SINDICAL 33
34 DEBATE SINDICAL
José Carlos Ruy *
DEBATE SINDICAL 3!
classes; subestimação ou mesmo aban-
dono da luta de classe; o abandono, em
alguns setores, da tese de que a classe
(AN T 4
REVOLUTION
os programas trabalhista e social-
democrata para governar os países indus-
trializados, e mesmo alguns partidos
comunistas (o americano, principal-
mente) foram contagiados por elas.
Depois do XX Congresso do PCUS, em
1956, contudo, essas teses empolgaram
grandes partidos comunistas do oci-
dente, que abandonaram a via revolucio- VOTE
UROHA
nária, animados pela política de
coexistência pacífica e defesa da via parla-
mentar de Krushev.
6 DEBATE SINDICAL
deu teses reformistas e a necessidade de
revisão do marxismo. Bernstein dizia que,
ao contrário das previsões de Marx, de
aumento da proletarização e da miséria, o
número dos ricos cresciam, as sociedades
por ações dividiam e democratizavam a
renda do capital em um sem número de
médios e pequenos acionistas e, por isso, a
idéia da revolução proletaria deveria ser
abandonada, substituida pela luta
parlamentar.
0 revisionismo de Bernstein refletiu a
burocratização e aburguesamento do
SPD, que o próprio Engels denunciou em
1887. Em 1891, Engels ridicularizou a
ênfase na luta parlamentar, dizendo que o
parlamento "é a folha de parreira do
absolutismo" (3). Anos depois, Engels, a
maior autoridade viva do movimento
operário depois do desaparecimento de
Karl Marx, reclamava aos dirigents do
partido alemão o uso fraudulento que era Após a morte de Engels, em 1895, o 1.ênin, o grande líder do
feito de seus escritos para justificar o reformismo aprofundou-se. Bernstein revolução socialista de
reformismo e o oportunismo. Extraiam publicou as suas idéias na Neue Zeit, um 17, desmascarou as tes e !
de sua "Introdução" ao livro de Marx jornal socialista, uma série de artigos conciliadoras dos
Lutas de Classe na França, disse ele, entre 1897 e 1898 que encontrou forte
reformistas
"tudo o que possa servir de defesa da apoio entre os dirigentes sindicais do par-
tática pacífica e contrária a todo preço tido. A esquerda social-democrata, con-
violência". Em outra ocasião, queixou-se tudo, respondeu imediatamente
Kaustky que o Vorwarts, jornal do ofensiva reformista, e Rosa de Luxem-
SPD, divulgou "um trecho de minha burgo acusou-o, numa série de artigos
Introdução, publicado sem conhecimento mais tarde reunidos no livro Reforma
meu, truncado de tal maneira que apareço Social ou Revolução, de desviar a luta
nele como um adorador pacifico da legali- operária da disputa pelo poder e dirigi-la
dade custe o que custar" (4). Os protestos na busca de melhorias econômicas imc-
de Engels foram em vão, e até hoje os diatas. Ele acusou-o de suavirar as con-
reformistas usam de forma truncada e tradições do capitalismo, e, principal-
fraudulenta sua "Introdução" para justifi- mente. denunciou que a "direita
car a revisão do marxismo. revisionista de abandonar o objetivo final
socialista equivale a renunciar ao próprio
movimento socialista" (5).
DEBATE SINDICAL 3
novembro de 1918, que acabou com a
monarquia na Alemanha, o Partido
Social Democrata "sob a direção dos sin-
dicalistas reformistas, iria caracterizar-se
pela sua posição de freio ao movimento
revolucionário. Durante os primeiros
meses, sua ação foi conscientemente diri-
gida no sentido de esvaziar as rebeliões
sem se opor frontalmente a elas, impe-
dindo a sua confrontação com as forças
reacionárias". Diante dos conselhos ope-
rários que se formaram, a exemplo dos
soviétes, "sua força foi concentrada em
transformá-los num órgão auxiliar do
poder constituido legalmente, impedindo
que se colocassem como centro do
governo", uma política oposta O dos bol-
cheviques, vitoriosa justamente por
reivindicar "todo o poder aos soviétes" e
transformá-los num órgão de poder que
destruiu a república burguesa na Russia.
A política reformista do SPD terminou
por fazê-lo "cúmplice historicamente da
repressão da qual foram vitimas Rosa
Luxemburgo e Liebknecht em janeiro de
1919 e em março outro dirigente sparta-
quista, Leo Jogiches. A revolução refluiu e
a direita, então, ganhou força" (9).
DEBATE SINDICAL
representantes operários "no seio da
representação nacional (o parlamento)
seria a expressão mais verdadeira do novo
sistema de governo, isto é, dos grandes
princípios da Escola democrática; seria a
confraternização das classes, ate então
divididas, para o engradecimento da
Pátria livre". (12) Noutra edição, o jornal
garantiu que "o Partido Operário não sig-
nifica governo dos operários, pois ele,
devido A nossa má educação política, e
aos preconceitos da sociedade em que
temos vivido, não tem homens ilustres em
grande número e nem pessoal técnico
para assumir tão grande responsabilidade"
(13)
DEBATE SINDICAL
socialistas, representam o apoio social e defendem, na Câmara dos Deputados, os 4
principal dessas tendências oportunistas e direitos operários. Nicanor Nascimento
são os veículos da influência burguesa disse na Camara, durante a greve de 1917,
sobre o proletariado" (7). Para esses, a que é útil aos proeltdrios "o contato com
legalidade é intocável e o parlamento o politicos, porque os seus interesses não
mais rápidos os efeitos do movimento são de natureza política. O que eles preci-
evolucionista científico". que reorganize a sam é defender os interesses economicos
nova sociedade, mas rejeita qualquer de classe". Quando os politicos falham,
"agitação revolucionária", impraticáveis diz ele, "dá-se o que agora se vê: estamos
segundo eles no Brasil de então (17). criando, determinando, a explosão dos
impulsos violentos, e mais, colocando o
As limitações do Brasil de então foram operário sofredor, que relcama só o que
também justificativa para o reformismo justo e honesto, ao serviço das paixões
de outro grupo, organizado em torno de violentas dos agitadores e fanáticós que
Antonio Piecarolo e de sua atividade jor- (...) aproveitam a exaltação das popula-
nalistica (18). Militante socialista na Ita. ções mais humildes e roubadas para pro-
lia, Piccarolo veio ao Brasil para dirigir o duzierem abalos sociais desordenadores
jornal Avanti!, do Partido Socialista; ele e, por vezes, anti-sociais" (19).
defendia um programa reformista, fez a
apologia da colaboração de classes, pedia Maurício de Lacerda, na mesma oca-
o desenvolvimento do capitalismo, prin- sião, seguia o mesmo raciocínio, e pedia
cipalmente no campo, e foi contra as gre-
um estado que fosse o garantidor da
ves operárias e a revolução bolchevique. ordem e da propreidade e o mediador,
pelo reconhecimento das reclamações
Valorização do parlamento operárias e pela regulamentação dos pro-
blemas trabalhistas. "0 Estado - disse ele
e duro combate As greves num discurso de 17 7 1917 - tem de se
colocar, se quiser paz social como um
mediador entre os interesses dos patrões,
Após 1902, os anarquistas tendem a de um lado, e as reivindicações e interes-
ocupar a cena, assumindo a vanguarda do ses não menos legítimos dos operários, do
movimento operário da época. A atuação outro. Se se colocar do ponto de vista
reformista continua, entretanto. Parla- patronal, só atendendo as suas vantagens
mentares "trabalhistas" como Nicanor ou desvantagens, provocará fatalmente o
Nascimento ou Maurício de Lacerda conflito, não entre o proletariado e o
s.11
Reformistas brasileiros
criticaram a greve de 17
em São Paulo. dizendo
que ela servia "as
paixões violentas dos
agitadores e fanáticos"
O DEBATE SINDICAL
patrão, mas entre o proletariado e o pró- Welfare State: Estado de Item Estar. Ver Regonini.
iloria. ‘erhete "Estado de Bem Estar - . Dicionário de Trabalhadores cariocas
prio Estado, tornando aliado dos patrões Politica. exigem seus direitos
na causa, e será responsável por uma na Constituinte de 34:
Engels. Friedrich. "En torno a la critica del proyeto de
grave agitação revolucionária" (20). programa socialdetnocrata dc 1891". citado por 1 ("tilin. El pressão ao parlamento
marxismo y el Estado. Editorial Progresso. Moscou. sem o abandono da
1980. p. 11. mobilização da base
Na República Velha, portanto, o refor-
Idem. p. 20 e 21.
mismo foi resultado seja de influências Luxemhurgo. Rosa. "Reforma Social ou resolucilo".
estrangeiras, seja da própria situação in Textos escolhidos, Editorial Estampa. 1 ishoa. 1977. p.
social e política do Brasil. O primeiro caso 102.
Gruppi. Luciano. O pensamento de l,nin. l i die6e.
vísivel na atuação de Antonio Piccarolo, (iraal. RE. 1979. p. 119.
que traz para o movimento operário bra- Wm. 118.
Idem. 116
sileiro as disputas européias. No segundo Almeida. Angela Mendes. A Republica de Weimar e a
caso, os primeiros partidos operários e ascensão do muismo. Editora Brasiliense. SP. 1982. ps.
socialistas são resultado da radicalização 52 e 62.
Carone. Edgard. "Introduc5o iii Estudo do !nos
jacobina pequeno burguesa da primeira operario no Brasil' . 118 77 -1914). in Ensaios de
década republicana, em que os setores Opinião. V. 10. Fditora Pa, e 1 erra. R.I. 19 7 9.
II) Eausto. BOris, Trabalho Frbano e conflito social
mais radicais na defesa da república pre- (1890-1920). Dire!. R.I. 1977. p. 44.
conizavam reformas sociais mais profun- 12) Cerqueira Iiilho. Gisalio. As influëneias das idéias
socialistas no pensamento politico brasileiro - 1890-1922.
das e viam seja no Parlamento, seja na SP. I'd içiies I ovo la. 1978. p 3 ( .
organização e educação do povo, o cami- (erqueira p. 36-37
Fausto. p. 45.
nho para obtê-las (21). Essas correntes idem. p. 46 e 47.
darão também origem aos trabalhistas Wm. p.48.
que atuarão no movimento operário a Idem. p.98.
NI Hecker. Frederico Alexandre de Moracs. Socialismo
partir dos anos 1930. eni São Paulo - A at nação de Antonio Piccarolo,disserta-
c:io de niu.strado em histi)ria social. I'SP. 1956. 1111111itl.
(ornes. Angela Maria de (' astro. Burguesia e Traba-
lho, politica e legislação social no Brasil, 1917-1937, I di .
131111.10 (, R A ETA tora Campus. R.I. 1979. p. 70.
Idem. p. 72.
I) Goifi. (,ta \o. s erhete "listado Contemporaneo - . in
llohhio. Norberto. Dicionário de Política. Fditora 1.'1113. Ver ()Limo/. Suet\ Robles Reis de. Os Radicais da
Republica. I do ora Brasiliense. SP. 1956.
Brasilia. 1986.
2 DEBATE SINDICAL
CAMPOS DO JORDÃO
construção habitacional
utilizando madeira
de reflorestamento
calimacari
o
EQUIPE LUIZ CAETANO
O POVO NO PODER