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CLAUDIO FERRAZ
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O principal desafio quando falamos de políticas públicas é saber o que funciona e por que
funciona. No debate brasileiro há muito achismo e ideologia, e pouco uso de dados e evidência
robusta
A adoção de políticas baseadas em evidências empíricas está crescendo no mundo todo. Infelizmente o Brasil ainda encontra-se na lanterna,
tanto em avaliação das suas políticas públicas como no uso de evidência para subsidiá-las. Diversas discussões recentes como a redução da
maioridade penal, a reforma trabalhista, subsídios a montadoras de automóveis, ou a reforma do financiamento de campanhas políticas se
dão no vácuo de evidências e avaliações.
A partir de hoje começo a escrever esta coluna no Nexo onde discutirei temas atuais relacionados a políticas públicas. O foco será em
aspectos econômicos e evidências empíricas do Brasil e do mundo. A discussão incluirá temas variados, tais como redução da pobreza,
melhoria da qualidade da educação, controle da corrupção, aumento da produtividade das empresas, melhoria na qualidade da saúde, e
redução da criminalidade e violência.
O principal desafio quando falamos de políticas públicas é saber o que funciona e por que funciona. No debate brasileiro há muito achismo e
ideologia, e pouco uso de dados e evidência robusta. O que quero dizer com evidência robusta? Para falar sobre impactos de políticas
públicas precisamos falar de causa e efeito. Ou seja, precisamos atribuir a uma política alguma ação que faz com que as pessoas mudem de
comportamento após uma intervenção. O principal desafio do trabalho empírico é isolar essa relação de causa-efeito. Em estudos
controlados feitos em laboratório, essa análise é feita por meio de experimentos. Nas ciências sociais, por outro lado, isolar essa relação de
causa-efeito é mais difícil. Como podemos fazer isso?
Uma primeira forma de fazê-lo é trazer o laboratório para o mundo real. Um crescente número de estudos utiliza experimentos
randomizados para identificar os efeitos de políticas públicas quando alguns indivíduos (ou unidades como escolas ou municípios) recebem
uma política e outros não, e isso é feito de forma randomizada (ou seja, por meio de um sorteio). Quando fazemos a escolha de beneficiários
de uma política por meio de um sorteio, garantimos que as pessoas que recebem a política se parecem em tudo, exceto na política que
receberam, com aquelas que não receberam. Assim podemos medir os efeitos e atribuí-los à política.
Em outras situações o próprio governo usa sorteios para implementar políticas quando há uma grande demanda por um serviço, mas os
recursos ou vagas do programa são limitados. No Brasil, por exemplo, a Controladoria Geral da União (a CGU) fiscaliza municípios desde
2003 e seleciona, por meio de um sorteio a cada ano, 60 cidades para serem fiscalizadas (http://www.cgu.gov.br/assuntos/auditoria-e-
fiscalizacao/programa-de-fiscalizacao-em-entes-federativos). Esse sorteio gera um experimento natural que permite a comparação de
municípios fiscalizados com aqueles não fiscalizados para avaliar se as fiscalizações são efetivas na redução da corrupção
(https://blogs.iadb.org/desarrolloefectivo_en/2018/02/07/5417/) em governos municipais.
Esse caso da CGU é um exemplo do que pode ser feito quando, apesar de suas vantagens, não é possível trazer o laboratório para a vida real.
Muitas vezes, políticas são implementadas com outras motivações e a escolha de beneficiários de forma randomizada não é factível, seja por
motivos éticos ou por questões políticas. Como podemos então avaliar essas políticas? Diversas situações do mundo real se assemelham a um
experimento de laboratório, onde temos pessoas ou lugares que obtêm uma política enquanto outros não. Os economistas chamam situações
como essas de experimentos naturais (http://www-personal.umich.edu/~jdinardo/ne7.pdf). Nesses casos podemos, muitas vezes, usar as
unidades que não adotaram a política como um grupo de comparação. O importante é que exista um grupo de comparação que nos permita
medir os efeitos da política desejada (contrário ao uso das comparações antes e depois que são feitas corriqueiramente por políticos ou meios
de comunicação).
Outro desses experimentos naturais ideais aconteceu em Miami em 1980. Em poucos meses, aproximadamente 125.000 imigrantes
chegaram à cidade de barco fugindo de Cuba. O economista David Card (http://davidcard.berkeley.edu/), professor da Universidade da
Califórnia-Berkeley, utilizou as cidades vizinhas como grupo de comparação para responder o que acontece com os salários dos
trabalhadores locais quando há uma grande imigração de trabalhadores pouco qualificados vindos de fora. Para a surpresa de muitos
economistas, e numa controvérsia que resiste até hoje (https://www.cgdev.org/blog/what-mariel-boatlift-cuban-refugees-can-teach-us-
about-economics-immigration), ele não encontrou efeitos nos salários locais decorrente desse grande movimento migratório.
Todas as metodologias para a avaliação de políticas são amplamente conhecidas por pesquisadores brasileiros e os dados existentes no Brasil
permitem estudos da mais alta qualidade. No entanto, a maioria das políticas públicas implementadas no país não são avaliadas, e quando o
são, os resultados não são utilizados. Um exemplo recente aconteceu no Rio de Janeiro com o Programa Renda Melhor Jovem que, apesar de
ter sido avaliado, com resultados significativos para a redução do abandono escolar, foi descontinuado pelo governo estadual
(https://extra.globo.com/noticias/economia/economia-com-suspensao-do-renda-melhor-jovem-se-perdera-com-repetencia-de-alunos-
19697763.html) sem que a avaliação fosse sequer discutida.
Já é hora de o Brasil trazer as evidências empíricas para o centro do debate político. E que políticas públicas não sejam implementadas ou
descontinuadas sem que a sociedade saiba quais seriam ou foram seus impactos reais. Espero que esta coluna contribua para essa discussão.
Claudio Ferraz é professor da Cátedra Itaú-Unibanco do Departamento de Economia da PUC-Rio e diretor científico do JPAL
(Poverty Action Lab) para a América Latina. É formado em economia pela Universidade da Costa Rica, tem mestrado pela
Universidade de Boston, doutorado pela Universidade da Califórnia em Berkeley e foi professor visitante na Universidade
Stanford e no MIT. Sua pesquisa inclui estudos sobre as causas e consequências da corrupção e a avaliação de impacto de
políticas públicas.
Ele escreve quinzenalmente às quintas-feiras.
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Xavier) DENIS R. BURGIERMAN (HTTPS://WWW.NEXOJORNAL.COM.BR/COLUNISTAS/AUTHOR/DENIS-R.-BURGIERMAN) A arma da pessoa boa e a arma
da pessoa ruim (https://www.nexojornal.com.br/colunistas/2018/A-arma-da-pessoa-boa-e-a-arma-da-pessoa-ruim)
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Burgierman) HUMBERTO LAUDARES (HTTPS://WWW.NEXOJORNAL.COM.BR/COLUNISTAS/AUTHOR/HUMBERTO-LAUDARES) Inté
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intervéns, mas eles intervêm (bem mais) (https://www.nexojornal.com.br/colunistas/2018/Eu-intervenho-
tu-interv%C3%A9ns-mas-eles-interv%C3%AAm-bem-mais)
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Schwarcz)