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Daniel Campinho, Francisca Silva,
Joana Falcão e Sofia Simões

MICRO
PLÁSTICOS
um macroproblema microscópico

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Para todos aqueles que ainda querem salvar o planeta.

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Prefácio
Ao longo dos últimos anos, os microplásticos tornaram-se
uma ameaça cada vez mais iminente aos nossos oceanos, à
nossa biodiversidade e, mais recentemente, à nossa saúde.
Apesar da sua pequena dimensão, estes pequenos poluentes
têm efeitos negativos inimagináveis, muitos dos quais
vamos expor neste livro.
O nosso objetivo com isto não é causar pânico nem muito
menos eliminar o plástico de forma absoluta do nosso
quotidiano, mas sim alertar os leitores para o impacto que
estas partículas podem ter nos ecossistemas e a crise
ambiental que estão a criar, algo que, mais cedo ou mais
tarde, irá resultar em consequências no nosso estilo de vida.
A escolha deste tema não foi fácil, mas pareceu-nos
acertada para este projeto. É um problema que vai afetar
maioritariamente a nossa geração, sendo um assunto cujo
impacto futuro e atual é, na nossa opinião, subestimado.
Assim sendo, não poderia ter sido mais do nosso interesse
tanto social como pessoal ter realizado esta pesquisa e criar
um livro que pudesse ser utilizado para educar tantos outros
como nós.

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No início do projeto, definimos objetivos sociais,
profissionais e pessoais que tínhamos a expectativa de
conseguir alcançar. Pudemos realizar experiências no
âmbito da degradação dos microplásticos, a partir das quais
tiramos conclusões e aprendemos mais acerca do tema
escolhido para assim produzir e fornecer um livro com
informação científica que consideramos rigorosa e fiável.
Conseguimos isto também devido à oportunidade que
tivemos de trabalhar em primeira mão e conversar com
cientistas e investigadores de grande reconhecimento
nacional.
Também alcançamos outro dos nossos objetivos, pois
tendo refletido sobre potenciais problemas e medidas
nacionais que podem ser tomadas, chegamos a alguns
recursos eficazes e projetos pioneiros que talvez possam
servir para abrandar a crise dos microplásticos.
Assim sendo, consideramos a investigação na área dos
microplásticos desafiante, inovadora e interessante.
E esperemos que o leitor, ao longo deste livro, sinta
precisamente isso.

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Índice

Introdução
Problemas
Resolução
- Inovação científica com o uso da genética
- Legislação
- Consumidor
- Reciclagem
- Conclusão
Produto
Parte Experimental
- Experiência das plantas
- Experiências realizadas em laboratório
- 1ª experiência : 60
- 2ª experiência: 65
- 3ª experiência: 75
- 4ª experiência: 79
Visitas efetuadas
Conclusão
Agradecimentos
Bibliografia

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Introdução
Os microplásticos podem ser definidos como polímeros
sintéticos que podem possuir dimensões de 5 milímetros
até 1 picómetro. Atualmente, no nosso planeta, o peso dos
microplásticos espalhados pelo mundo equivalem a 80
milhões de baleias azuis, a 1 bilião de elefantes ou a 25.000
Empire State Buildings. Estas pequenas partículas são
derivadas dos plásticos (considerado um recurso não
renovável) e surgiram com o propósito primordial de serem
as substâncias mais resistentes e menos biodegradáveis
possíveis, criando desde já um problema colossal na sua
biosustentabilidade.

- Amostra de microplásticos encontrados numa praia (BBC News Archive)

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Apesar dos microplásticos serem um produto inevitável do
uso plástico, como é que estas partículas sintéticas
surgiram?

O primeiro material de plástico,


conhecido como parkesine, foi
desenvolvido no século XIX, por
Alexander Parkes, o metalúrgico
inglês (à direita - Wikipedia). O
parkesine (produzido a partir de
madeira/palha) é uma matéria
orgânica derivada da celulose
que, quando aquecida, se tornava
moldável e quando arrefecia mantinha a forma pretendida.
Este inventor, com o objetivo inicial de substituir a
borracha, acabou por descobrir aquilo que seria um dos
materiais mais produzidos do mundo.

Posteriormente, em 1869, John


Wesley Hyatt (à esquerda -
Wikipedia) descobriu a celulóide.
Esta é um composto constituído por
nitrato de celulose e cânfora
(substância cerosa), que tinha como
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fim substituir o marfim e, através deste, foi descoberto um
material sólido e flexível. No século XX (de 1900 a 1945),
com a Primeira e Segunda Guerra Mundial, ocorreram
grandes avanços científicos e tecnológicos. Foi neste
período de tempo onde ocorreu a produção daquele que foi
o primeiro termorrígido de baquelite, o primeiro plástico
(uma resina sintética, resistente ao calor, que resulta da
junção do fenol com o formaldeído, formando um polímero
chamado polifenol - este acabou por servir para o fabrico de
moedas, no decurso da Segunda Guerra Mundial, nos
Estados Unidos).

Passados alguns anos destas descobertas, ocorreu um


gigante progresso no desenvolvimento de material plástico e
este começou cada vez mais a ser visto como um material de
características apelativas, não só do ponto de vista
industrial como também do quotidiano. Atualmente, os
plásticos são feitos a partir de combustíveis fósseis, sendo
extremamente prejudiciais para o nosso planeta.

O plástico, por ser um material resistente, inerte, leve e


impermeável, passou a ser fabricado em massa. Desde 1950,
o ser humano produziu 8,3 biliões de toneladas de plástico,
dos quais apenas 9% desses resíduos foram reciclados. Do

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restante, 12% foi incinerado e 79% acabaram em aterros e
no meio ambiente. A poluição que o plástico causa tem
provocado graves efeitos no nosso ambiente, na paisagem,
na biota e até mesmo na saúde humana, sendo inevitável o
reconhecimento da sua manifestação e das suas graves
consequências a nível global.

Este veneno ambiental pode


surgir em vários tamanhos,
formas e cores, encontra-se
em todo o lado e acabou por
se tornar o material mais
utilizado para os utensílios do
Homem.

Mas qual será o motivo desta grande adesão? As grandes


indústrias viram neste material uma forma de produzir e
lucrar mais, incorporando-o em tudo o que seja
embalagens, máquinas, garrafas e roupa e ignorando que
poderiam estar a criar um dos maiores, se não o maior
problema que o mundo está e irá atravessar no hodierno.

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Os microplásticos são um grande problema para o nosso
mundo, uma vez que são recursos não degradáveis, logo,
não são decompostos pelas bactérias e fungos de uma forma
rápida e "verde". Estes seres heterotróficos não contêm no
seu organismo enzimas que degradam/oxidam estas
micropartículas (formulações químicas) produzidas pelas
indústrias. A decomposição de plástico dura 400 anos, logo,
este processo físico e químico é muito demorado, sendo
exatamente por esse motivo que existe um excesso de
partículas em decomposição no ambiente, seja no biociclo
marinho, fluvial ou terrestre. A acumulação destas
partículas na cadeia alimentar faz com que haja um
desequilíbrio nas relações tróficas entre os seres vivos,
colocando o ecossistema em perigo e podendo levar à
extinção de inúmeras espécies.

O consumo crescente, o despejo incorreto e a durabilidade


dos plásticos leva a que estes se acumulem no meio
ambiente, provocando alterações nas paisagens e causando
danos nos processos biológicos e biogeoquímicos.

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- Excesso de resíduos microplásticos em ambiente marítimo
(CNN News - Richard Miller)

O plástico é atualmente um material fundamental para o


progresso da humanidade e do mercado. Sendo assim, o
plástico é um material formado pela união de polímeros
(macromoléculas resultantes da união de muitas unidades
de moléculas pequenas - monómeros). A produção do
plástico provém de um processo químico, chamado de
polimerização, que pode ser definido como a ligação dos
monómeros constituintes, que leva à formação de
macromoléculas.

Este componente pode ser categorizado de várias formas,


desde o tamanho à estrutura molecular formadora.

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Na estrutura molecular, podemos dividir os polímeros em
três grupos: os termoplásticos, os termofixos e os
termorrígidos. Os termoplásticos são macromoléculas que,
sob aquecimento, não alteram a sua fórmula química,
apresentando uma viscosidade e podendo ser novamente
moldadas com o resfriamento. O polipropileno (PP), o
polietileno de alta densidade (PEAD), o polietileno de baixa
densidade (PEBD), o polietileno tereftalato (PET), o
poliestireno (PS) e o policloreto de vinila (PVC) são
exemplos de termoplásticos. Os termofixos são aqueles que,
quando submetidos a altas temperaturas e, após já terem
arrefecido, não fundem. As resinas fenólicas, epóxi e
poliuretanos são exemplos de termofixos. Já os
termorrígidos podem definir-se como polímeros cuja rigidez
não se altera com a temperatura.

A nível do tamanho, os plásticos podem ser caracterizados


como:
- macroplásticos
- mesoplásticos
- microplásticos
- nanoplásticos
Os microplásticos foram encontrados pela primeira vez no
meio ambiente em 1970 e rapidamente se tornaram numa

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situação alerta, tendo em conta os danos que poderiam
causar à vida na Terra. Estas pequenas partículas podem ser
caracterizadas em dois tipos: os primários e os secundários.
Os microplásticos primários resultam de resíduos
industriais, residuais e de transporte marítimo. O seu
formato é de esferas (pellets) e são muito utilizados na
produção de produtos de higiene, como sabonetes,
esfoliantes e pastas de dentes, sendo posteriormente
acumulados nos nosso meio ambiente através dos esgotos e
das descargas residuais. Os secundários resultam da
fragmentação de plásticos de dimensões maiores e podem
chegar a tamanhos muito menores, através de processos
químicos, físicos e biológicos.

Apesar dos microplásticos terem um curto tempo de


descoberta e investigação, os seus impactos no nosso
planeta são notórios e alarmantes. Tendo isto em conta, de
que forma é que os microplásticos podem danificar a
Natureza e todos os seres vivos do planeta?

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Problemas
Quando nos debruçamos sobre a problemática dos
microplásticos, são vários os dilemas que se erguem e,
apesar destes serem todos diferenciados, apresentam,
coletivamente, um risco catastrófico para o bem estar de
todas as comunidades vivas e para o planeta Terra.

O seu tamanho microscópico é também uma barreira,


sendo que descarta logo qualquer uso de filtros no processo
de purificação de águas e compostos (filtros de pequena
seletividade ficam obstruídos muito rapidamente). O facto
destes serem muito recentes na história da produção de
materiais também é um fator importante, sendo que os
efeitos dos microplásticos no nosso ambiente a longo termo
ainda são desconhecidos.

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- Formação de microplásticos esquematizada (Unesp Jovens)

Sendo assim, torna-se claro que, para analisar a


problemática dos microplásticos, teremos de também
investigar as fontes emissoras de desperdício plástico
antecedente à formação destes compostos microscópicos.

A produção de plásticos é dotada de uma grande variedade


de substâncias e propriedades, tornando o problema de
filtração e eliminação de substâncias microplásticas muito
mais árduo, sendo que é bastante complicado adotar uma
mesma estratégia que unifique o processo de remoção
destes.

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Mesmo assim, o maior problema associado a esta crise
surge com a criação de ainda mais substâncias
microplásticas, fomentada pela dependência das sociedades
modernas atuais neste tipo de polímeros, como já foi
mencionado através de estatísticas na Introdução.

- Consumo de plástico por setor (Plastics Europe)

A sujeição a este tipo de polímeros possui dois


intervenientes maioritários que se conectam
mutuamente:

- As empresas e indústrias que, como constatam que o


uso destas substâncias gera mais rendimento indireto
(pois a sua manufactura é mais barata), as utilizam na
produção e embalamento de qualquer produto.
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Estas corporações também são culpadas por não
incorporarem metodologias ambientalmente sustentáveis
na fabricação do produto, resultando também em grandes
descargas poluentes nos rios e mares.

- O consumidor que, movido por razões económicas ou


de preferências pessoais, irá comprar ou utilizar
inconscientemente produtos que não cumprem
requisitos de sustentabilidade básicos no âmbito da crise
microplástica. Muitas vezes, é também predominante a
criação de microplásticos simplesmente no embalamento
de outros produtos, o que é diretamente um desperdício.

Mas de que maneiras é que o consumidor, de uma forma


direta ou indireta, polui o ambiente com microplásticos?

- Durante a lavagem e secagem de roupa, acontece um


choque mecânico que faz com que as fibras têxteis que
compõem as nossas roupas libertem partículas
microplásticas que seguem pelo sistema de esgoto até aos
oceanos. Sendo considerado como uma das maiores
fontes de resíduos plásticos no mar e atmosfera, este
fenómeno pode até acontecer em tecidos naturais como

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derivados puros do algodão (que acaba por libertar micro-
compostos ligeiramente e consideravelmente mais
biodegradáveis).

- O desperdício na lavagem de roupas esquematizado (Deco Proteste)

- A maior parte dos produtos


cosméticos e de higiene
pessoal possuem microbeads
que se infiltram no esgoto, sendo
muito pequenas para ser filtradas,
como exemplificado na figura à
direita (ABAE - jovens repórteres
para o ambiente).

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- O abandono de material usado em atividades
piscatórias nas costas portuguesas pode ser também
uma grande causa de desperdício. Chamado de “pesca-
fantasma”, estes equipamentos podem ser desintegrados
e os seus constituintes serem libertados para os oceanos.

- A compra excessiva de produtos ao invés do seu


reuso ou reparo. Nas últimas décadas, o sistema
económico atual proporcionou um estilo de uso único, ou
seja, o desacreditamento do arranjo ou reaproveitamento
de objetos partidos ou desatualizados. Por contrapartida,
apoiou a compra de novos produtos, fator que também
foi impulsionado pelo baixo preço de produção desse
novo produto e, por outro lado, pelo alto preço de
reparação - isto leva a maiores gastos plásticos e à
posterior degradação dos microplásticos.

Mas, em geral, a maior parte do desperdício humano


que não sofre um processo de reciclagem completo
acaba por ser desintegrado e transformado em
microplásticos.

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“Esta crise microplástica já não é reversível. O
plástico já está no ambiente e não há uma forma
viável nem possível de retirarmos tudo. É, neste
momento, inegável que toda a gente possui
microplásticos no seu organismo”
- Dra Irina Moreira

A desinformação também se torna um grande problema:

“As notícias faladas não são suficientes para o


conhecimento das massas do problema.”
- Dra Irina Moreira

Numa questão que só pode ser resolvida com a mudança


de atitude das massas, a falta de consciencialização é
uma das maiores barreiras para a sua resolução.

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Resolução

Tendo em conta o grande impacto causado pelos


microplásticos, é mais que normal que a comunidade
científica tenha investido, ao longo dos últimos anos, na
procura de métodos que possam salvar ou retardar os
impactos destes componentes na nossa Natureza.

Em geral, podemos caracterizar a metodologia da


resolução da temática dos microplásticos em quatro
vertentes:

- inovação científica com o uso da genética

- legislação

- consumidor

- reciclagem

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3.1.
Inovação científica com
o uso da genética

Em 2016, foi divulgada na revista "Science" uma


nova bactéria, Ideonella sakaiensis, com uma capacidade
que poderia ser fundamental para a resolução do problema
dos microplásticos. Esta bactéria é capaz de degradar as
moléculas e digerir plástico do tipo poli (tereftalato de
etileno), conhecido como PET (polímero termoplástico),
sendo, por isso, um boa alternativa para eliminar esta
substância, de uma maneira que, em si mesma, também
seria bastante sustentável.

- Ideonella Sakairensis ao microscópio (DP institution)

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Mas, qual é a explicação científica por detrás desta
inovação?

Estas bactérias (seres procariontes) possuem enzimas de


degradação, as quais foram geneticamente modificadas para
possuir uma sequência genética diferente que faz com que
degradem os fetalados/monómeros, compostos dos
plásticos.

Estas enzimas também aumentam a quantidade de


biofilme (substância responsável por uma maior aderência
entre as bactérias e uma substância em questão). Assim
sendo, com o aumento deste, ocorre uma ligação facilitada
entre a bactéria e o plástico, formando uma comunidade
que facilita a degradação.

A bactéria modificada possui duas enzimas para este


processo de degradação e processamento: PETase e a
MHETase. Com a finalidade de perceber de uma forma mais
clara o comportamento dinâmico da enzima, foi executado
um trabalho laboratorial que consiste na comparação da
enzima PETase a outras enzimas muito parecidas do ponto
de vista molecular, mas que não são dotadas da capacidade
de degradar plástico.

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Aquando a realização desta, percebeu-se que a enzima
interage melhor com o polímero e tem,
subconsequentemente, muita facilidade a nível molecular
de deteriorar o plástico.
Eis a reação química:

(politereftalato de etileno)n + H2O → (politereftalato de


etileno)n-1 + MHET

A PETase catalisa assim a hidrólise de plástico PET para


monoetil-2-hidroxietiltereftalato (MHET) monomérico.
Embora seja considerado um processo eficaz, esta enzima
não faz desaparecer o polímero na sua totalidade. As
moléculas que sobram deste fenômeno de degradação
podem sofrer um processo de modificação em matéria-
prima para a fabricação de outros produtos (como, por
exemplo, componentes fármacos ou biocombustíveis).

Durante a evolução dos estudos da PETase e das suas


características e capacidades, os investigadores
fundamentaram uma grande similaridade com uma enzima
geneticamente antiga, a cutinase. Esta enzima, que se
apresenta como um verniz natural que cobre as folhas das

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plantas, é usada por certos organismos patogênicos para
romper a barreira de cutina presente nas mesmas folhas,
aumentando a taxa de aproveitamento de nutrientes da
plantas pelo agente patogénico.

Com o objetivo de entender totalmente a razão que


justifica a capacidade de degradação do PET, os
investigadores pretendiam transformar esta mesma enzima
PET numa cutinase. Isto provava assim a similaridade
genética total, e, por sua vez, a afinidade de procedimentos
entre a enzima PET e a outra, que está mais que estudada,
facilitando assim o esclarecimento das características da
PETase.

- Esquema biológico da Cutinase e da PETase (MDPI - tese de


comparação “The Current State of Research on PET Hydrolyzing Enzymes
Available for Biorecycling")

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Porém, ao tentar suprimir a capacidade de degradação de
plástico que difere a PETase da cutinase, o que iria
supostamente diminuir a eficácia desse processo, acabou
por ser produzida uma PETase ainda mais ativa. Este fator é
explicado pela facilidade de ligação entre a enzima
modificada e o polímero e pelas interações químicas entre
ambos os componentes, o que acaba por favorecer esta
mutação à original enzima PETase.

Este é um exemplo de avanço científico fundamental na


descoberta de uma solução fiável para a resolução do
problema do excesso de plástico.

“Para degradar os plásticos, estas bactérias são a


melhor solução neste momento.”
- Dra Irina Moreira

Com a utilização desta bactéria e a sua transição de


laboratórios de investigação para as indústrias, a
degradação do plástico iria tornar-se muito mais
abrangente. As empresas poderiam executar este processo
de uma maneira bastante eficiente e “verde”, já que não

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produz nenhuma substância que seja prejudicial. Devido ao
seu reduzido preço, também poderiam ser permitidas
legislações que impusessem a sua obrigatoriedade em todas
as produções com componentes plásticos, sendo assim
executada uma solução excelente (e até “milagrosa”) para a
destruição de resíduos microplásticos.

Mas, apesar destes grandes pontos positivos, há também


informações que temos de considerar como relevantes e que
podem afetar a eficiência do processo:

- Por razões comerciais e lucrativas, a bactéria não é


vendida. É apenas disponibilizada a sequência genética de
DNA que codifica a enzima de degradação, o que dificulta o
processo, tendo de se recorrer a métodos de alteração
genética bastante mais dispendiosos.

- Este processo é relativamente mais lento, comparado a


outros métodos que, a nível de sustentabilidade, não são tão
ideais. Para testar o tempo de degradação de material
plástico pelas bactérias de degradação, foi feita uma
experiência pelo grupo Kohei Oda, do Instituto de
Tecnologia de Kyoto, em que um filme fino de plástico, com

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60 microgramas, demorou seis semanas a ser degradado
por estes mesmos agentes.

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3.2.
Legislação

Como foi afirmado pela Dr.ª Irina Moreira:

"A indústria, hoje em dia, gira muito à volta do


consumo, e é bastante lucrativo, mas também
bastante anti-sustentável. As empresas não
mudam sozinhas.”

Tendo isto em conta e, concluindo que a temática dos


microplásticos é um tema urgente e preocupante, é
fundamental a criação de novas comissões nos diferentes
governos dos vários países produtores. É também essencial
que se formem diferentes ligações internacionais que
sirvam como um espaço aberto para facilitar o diálogo
acerca deste tema. Assim, seriam estabelecidas novas regras
e leis que permitiriam um maior controlo e supervisão de
empresas e indústrias que estejam na raiz do problema.

Aqui estão alguns exemplos de medidas que já foram


aprovadas por alguns países e que visam combater a
formação excessiva de microplásticos:

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- Em muitos países, incluindo os Estados Unidos, a
Inglaterra e a Escócia, foi proibida a utilização de
microplásticos em produtos de cuidados pessoais, como
cremes e esfoliantes.

- Para além disto, alguns países europeus implementaram


restrições à produção de plásticos descartáveis, como copos
e talheres de plástico, tendo como objetivo reduzir a
quantidade de plástico que acaba nos aterros e nos oceanos.

- Por último, ao redor do mundo, foram implementadas leis


para regular as lavandarias industriais, que podem libertar
microfibras de plástico no meio ambiente. Estas leis exigem
que estes centros de lavagem de têxteis utilizem sistemas de
filtragem para evitar a libertação de microplásticos na água.

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3.3.
Consumidor

A maior parte dos resíduos microplásticos derivam


de descartes humanos, que muitas vezes são desnecessários
e puramente desperdício.

- Gráfico de desperdício plástico, de 1950 a 2014, por milhões de


toneladas (DW Organization)

A sensibilização e presença de informação cientificamente


correta para a população é fundamental, sendo que pode
elucidar o consumidor geral na escolha de produtos mais
“verdes” e sustentáveis e na implementação de práticas que
não acentuem ainda mais o problema microplástico no
nosso planeta.
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Também é importante referir que, como muitas mudanças
em massa, esta mudança começa em nós. Tendo isto em
conta, eis 10 medidas que todos, como cidadãos, podemos
passar a tomar para reduzir o descarte microplástico:

1. Utilizar sacos reutilizáveis para fazer compras em vez


de sacos plásticos descartáveis.
2. Usar garrafas de água reutilizáveis em vez de garrafas
de plástico descartáveis.
3. Evitar produtos de higiene pessoal com
microplásticos na sua composição (a aplicação “Beat
The Microbead” permite, ao fazer scan do código de
barras de um produto, dizer se este mesmo possui ou
não níveis elevados de plásticos na sua composição)

- Exemplo e logótipo da

aplicação “Beat The

Microbead”

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4. Evitar usar palhinhas de plástico e usar alternativas
reutilizáveis como palhinhas de vidro ou metal, ou
simplesmente beber diretamente.
5. Utilizar recipientes de vidro ou aço inoxidável para
armazenar alimentos em vez de recipientes plásticos.
6. Evitar comprar alimentos e produtos embalados
excessivamente em plástico.
7. Escolher produtos com embalagens recicláveis ou
compostáveis.
8. Utilizar sacos de microfibras na lavagem de roupas
para evitar a libertação desta para o sistema de águas
e posterior deposição nos oceanos
9. Comprar roupas feitas de fibras naturais em vez de
sintéticas.
10. Reciclar sempre que for possível, e tudo o que for
possível.

“ A indústria agrada o consumidor, este também é


fundamental nesta mudança. Temos que
estabelecer uma pressão, mostrar o que queremos,
mas nem sempre é o caminho mais fácil.”
- Dra Irina Moreira

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3.4.
Reciclagem

Como foi anteriormente referido, a reciclagem do plástico


tem um papel fundamental para a resolução do problema da
acumulação excessiva de microplásticos no nosso mundo.
Ao reciclarmos, estamos a evitar que o plástico consumido
acabe em aterros sanitários ou na natureza sendo
reutilizado para novos produtos e evitando a produção de
mais plástico. Mas como é que isto está interligado com os
microplásticos?

Ora, ao diminuir o plástico nos aterros e na natureza, o


número de partículas que se desagregam dos plásticos
nesses locais vai diminuir, e estes contaminam os rios,
mares, solos, Com isto, diminui assim a taxa de
microplásticos no nosso planeta. Também o facto de estes
materiais reciclados serem reutilizados faz com que a
produção de plástico sintético no nosso planeta diminua,
diminuindo também diretamente a quantidade de
microplásticos na Terra. Logo, o processo de reciclagem é
crucial para esta “luta” contra a poluição ambiental que
vivemos.

41
No processo de reciclagem
existem três grandes fases: a
separação, a revalorização e a
transformação. Na separação
é feita uma certificação que o
material reciclado está em
- Esquema do ciclo do
condições para permanecer
plástico
no processo, e uma separação de resíduos de acordo
(Plastic in Sightings) com o
seu material. Na revalorização, o material anteriormente
selecionado sofre um conjunto de processos mecânicos,
químicos e/ou energéticos, que faz com que este se
transforme em matéria prima. Depois desta transformação,
esta matéria-prima é transformada num novo produto,
derivado de material sustentável.

42
- Ciclo de reutilização do plástico (Recicloteca)

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Assim, a reciclagem é uma atividade que deve ser feita por
todos nós e incentivada pelos meios de comunicação e
educação. Ao instruirmos e sensibilizarmos a população
sobre a importância de reciclar, estaremos a contribuir para
um mundo mais limpo e sustentável. Como resolução do
problema abordado, decidimos, enquanto grupo, assistir ao
processo de separação e trituração do plástico (processos
que fazem parte da reciclagem do plástico). Sendo assim, no
dia 27 de dezembro de
2022, fomos visitar a
Recuplás - Reciclagem
de Plásticos (à
esquerda), um centro de
reciclagem em Areias São
Vicente, Barcelos, que
aceitou fazer-nos uma
visita guiada pelas
instalações e explicar um
pouco desses dois processos que eram lá são feitos. A
responsável pela visita começou por nos mostrar como era
feita a recolha, separação e trituração do desperdício pós-
industrial limpo, ou seja, não contaminado, um processo
extremamente importante para garantir que o lixo não
acaba no nosso ambiente e, eventualmente, dentro do

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nosso organismo. À medida que a visita decorreu, houve
factos que nos deixaram um pouco chocados, como, por
exemplo, o facto de cada saco que lá estava presente pesar
entre 800 e 1000 kg, contendo milhões destas partículas
poluentes. A responsável pela visita começou por nos
mostrar como era feita a recolha, separação e trituração do
desperdício pós-industrial limpo, ou seja, não contaminado,
um processo extremamente importante para garantir que o
lixo não acaba no nosso ambiente e, eventualmente, dentro
do nosso organismo. À medida que a visita decorreu, houve
factos que nos deixaram um pouco chocados, como, por
exemplo, o facto de cada saco que lá estava presente pesar
entre 800 e 1000 kg, contendo milhões destas partículas
poluentes..

- Amostras de plástico triturado - Pequena porção da quantidade


de sacos cheios de lixo lá presentes

45
- Comparação do tamanho de um membro e de um
saco contendo plástico triturado

Isto apenas nos deixou mais cientes da imensa quantidade


de lixo produzida diariamente, uma quantidade que
nenhum de nós imaginava ser possível provir de tão
“poucas” indústrias em vários
pontos do país. Também
pudemos ver todos os tipos de
plásticos, polímeros, PVC e
embalagens que o centro
aceitava, visto que este tem
poucas exceções, e a sua
dimensão reduzida depois do
processo de trituração. A
responsável explicou-nos que,

46
depois de tudo o que faziam lá, este lixo tratado poderia ser
utilizado para produção de uma variedade de produtos,
como, por exemplo, paletes de plástico ou tubos de
pistoleiros. No final, deixaram-nos levar amostras dos
plásticos triturados, alguns já considerados microplásticos,
o que nos foi extremamente útil e necessário para as
experiências que serão mais tarde referidas.

- Exemplos de vários resíduos plásticos na Recuplás

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Conclusão

Em conclusão, é possível diminuir a acumulação de


microplásticos no nosso planeta com estas resoluções. Com
a mudança de variados fatores em diferentes facetas da
nossa sociedade, (apesar de ser extremamente inexequível a
remoção de microplásticos já libertados), poderemos evitar
que, no futuro, se tenha de lidar com este problema de uma
maneira tão urgente.

“Não falta investigação, materiais e soluções a serem


desenvolvidas e que podem substituir o plástico,
acabando com o problema. Temos de pensar no
amanhã”
- Dra Irina Moreira

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4
Produto
Quando soubemos que para este projeto era necessário
desenvolver um produto, surgiram diversas ideias em cada
elemento do grupo. Depois de muito debater, percebemos
que todos tínhamos uma ideia em comum: queríamos algo
sustentável e que fizesse com que cada pessoa ao nosso
redor se juntasse a este grande movimento humanitário que
tem o objetivo de salvar o nosso planeta. A partir daqui,
tentamos procurar todo o tipo de produtos usados no nosso
quotidiano que continham microplásticos para perceber se
tinham uma solução ou alternativa. Foi aqui que o nosso
grupo ficou muito chocado e sensibilizado pelo facto de, até
na higiene pessoal, como em esfoliantes, sabonetes, pastas
de dentes e etc. estarem presentes estas pequenas
partículas. Como anteriormente já foi referido, a utilização
destes produtos de higiene, que contêm microplásticos na
sua constituição, leva à contaminação dos esgotos e,
consecutivamente, dos mares e rios. Assim sendo, achamos
que seria uma boa ideia produzir algo tão simples que faz
parte do nosso quotidiano, mas que é dos maiores poluentes
49
para o planeta. Assim, no dia 3 de fevereiro de 2023,
deslocamo-nos ao Groupe GM - Cosmética Portugal, a
empresa de Neiva (Viana do Castelo) onde desenvolvemos o
nosso produto, o qual era um ponto essencial no trabalho.

- Imagem do edifício do Groupe GM

50
Após entrarmos, forneceram-nos batas, luvas e toucas de
cabelo, pois íamos para uma zona de produção onde a
higiene é algo imprescindível.

- Alunas responsáveis pelo projeto de bata, luvas e touca

Antes de chegarmos à nossa zona de trabalho, que era uma


espécie de réplica da zona “real” com máquinas industriais,
duas das responsáveis explicaram-nos um pouco sobre o
que lá era feito.

51
- Réplica de produção de sabonetes

Depois desse momento, passamos para o motivo da nossa


visita: fazer o nosso produto. Através da ajuda das duas
responsáveis iniciais, pudemos criar um sabonete que nos
foi garantido de ser classificado como “isento de
microplásticos”. Pretendíamos fazer algo que utilizasse a
menor quantidade de plástico possível e que, idealmente,
nem sequer o possuísse na sua constituição (algo que,
segundo a nossa pesquisa, parecia inevitável). No entanto,
as funcionárias, que nos acompanharam ao longo do
processo, garantiram-nos que o sabão que estávamos a
produzir era livre de polietilenos (polímero quimicamente
mais simples, sendo o plástico mais frequentemente

52
produzido), o que nos deixou extremamente aliviados e
satisfeitos com o que tínhamos criado.

- “Microbeads” de polietileno (Conceitos do Mundo)

Desde o início que queríamos que


o nosso produto possuísse algo que
nos distinguia e que não fosse “só
mais um”. Um dos aspetos que
realizamos para cumprir esse
nosso objetivo foi colocar a água
termal das Termas do Eirogo de
Barcelos.
- Água das termas

53
Esta ideia baseou-se puramente no facto destas serem da
família de um dos membros deste grupo, por isso, fizemos
com que fosse incluída, em vez de água “normal”.
Obviamente, o outro aspeto que nos diferencia é o facto de
não possuir microplásticos, algo já mencionado. Deste
modo, segue-se a lista de ingredientes para o nosso sabão:

- sabão base 80:20 EDTA Free RSPO MB


- perfume (“Fresh SPA”)
- água termal
- dissolvine
- dióxido de titânio

- Ingredientes com as respectivas medidas para desenvolver o sabonete

54
Inicialmente, colocamos a base do sabão numa máquina
que o iria transformar em tiras compressas, uma vez que
este se encontrava granulado.

- Compilação de imagens da máquina que transformou a base do sabão em


tiras compressas

55
Após este processo, medimos cuidadosamente todos os
produtos que íamos utilizar e, no fim, juntamos ao sabão a
água termal, o perfume escolhido por nós, o dióxido de
titânio (substância composta que funciona como corante) e
ainda dissolvine (produto químico que controla a
reatividade dos iões metálicos).

- Conjunto de processos para criar a mistura para o sabonete

56
A seguir, a mistura criada foi colocada novamente na
máquina que, desta vez, a transformou em tiras mais coesas
e ainda mais espessas.

- Máquina transformadora

Em seguida, começamos a fazer, manualmente, esferas a


partir da mistura.

- Esferas a partir de uma mistura de sabonete

57
Estas esferas que foram criadas são colocadas numa
máquina de compressão, para ficarem com a forma do
sabão. Para cada sabão final eram necessárias duas esferas
da mistura, as quais eram compressas em forma de sabão e,
posteriormente, colocadas em cima uma da outra na mesma
máquina - deste modo, o sabão final estaria completamente
consistente e sem espaços vazios.

- Máquina de compressão

Ao todo, conseguimos produzir 20 sabonetes nessa tarde,


tornando esta visita um sucesso.

58
5
Parte experimental

5.1. Experiência das plantas

Foi diante da ampla pesquisa realizada que encontramos


um estudo que, levado a cabo por uma equipa de
pesquisadores da Universidade de Massachusetts Amherst
da Universidade Shandong, na China, conseguiu comprovar
que os microplásticos presentes no nosso solo podem
reduzir a biomassa total das plantas e afetar
consideravelmente o seu crescimento e eficiência celular.

Decidimos levar a cabo esta experiência, que foi iniciada no


dia do 1º ponto de situação (30/11/2023) e executada
durante três meses (02/03/2023). Foram plantados, em
pequenos vasos, dois rebentos de brócolos (previamente
identificados) , que foram expostos às mesmas condições de
luz e períodos de rega, tendo como única diferença o tipo de
água utilizada

59
(água da torneira num dos rebentos e água com
microplásticos no outro).

Com o passar de apenas algumas semanas, começou a ser


notória a diferença de crescimento entre os dois indivíduos.
A planta poluída com os microplásticos começou a ficar
desnutrida e seca, enquanto que a planta de controlo
manteve-se constante no seu crescimento. É relevante
referir que, ao longo desta experiência, foram também
encontradas influências indiretas dos microplásticos que
afetaram intensamente a morte da planta regada com estas
partículas. Nessa planta foi possível observar uma
deposição constante de microplásticos que causou uma
camada impermeável que diminuía a capacidade de
infiltração de nutrientes para a planta.

- Resultado da
experiência
. regada normalmente
(esquerda)
. regada com a solução de
microplásticos (direita)

60
5.2. Experiências realizadas em
laboratório

Uma grande parte deste projeto baseava-se na parte


laboratorial da investigação. Assim sendo, além da
experiência na qual observamos o crescimento de brócolos
em 2 vasos com diferentes condições (terra normal vs. terra
poluída com microplásticos), decidimos fazer outras quatro
experiências:
- observação da flutuação de microplásticos em água do mar
(água com sal)
- procura e observação de microplásticos presentes em
areia recolhida de um local próximo da escola
- extração de microplásticos de cosméticos (mais
especificamente, de esfoliantes)
- representação das correntes marinhas que
consequentemente arrastam os microplásticos e averiguar a
influência da salinidade neste percurso.
As duas primeiras experiências foram realizadas no
laboratório da escola e com os materiais disponíveis neste.
As duas últimas foram realizadas na Universidade Católica
do Porto.

61
1ª experiência :

objetivo: analisar o comportamento dos microplásticos em


ambiente marinho

funcionamento: simulação de um meio marinho (água


salgada), onde será colocada uma quantidade de fragmentos
microplásticos, posteriormente analisando o que acontece

material utilizado:
- 2 copos de precipitação
- 1 espátula
- sal
- água filtrada
- microplásticos
- varetas

62
protocolo:

1º - Acrescentar sal a um copo de precipitação com água


filtrada e mexer durante 2 minutos.

- Copo de precipitação com água e sal dissolvido.

2º - Com a espátula, acrescentar microplásticos ao copo.

63
3º - Mexer com a vareta, tentando dissolvê-los ou empurrá-
los para o fundo.

- Copo de precipitação com microplásticos a flutuar na água com sal dissolvido

4º - Observar o que acontece.

- código QR de um vídeo com o resultado final da experiência

64
- Conclusão:
Conseguimos perceber que não existe qualquer
miscibilidade ou dissolução das substâncias microplásticas
nas águas dos dois meios, apresentando até, de certa forma,
uma reação inesperada de hidrofobia (causado
maioritariamente pela incapacidade de submersão destas
pequenas estruturas).

Tendo em conta esta conclusão, é possível constatar


diferentes perigos que estas estruturas podem ter em meios
naturais, fora do nosso laboratório:

- as águas tornam-se visivelmente mais poluídas


- como estes componentes tornam-se imiscíveis com a
água e extremamente pequenos é difícil a sua
filtração
- a flutuação dos mesmos pode ser confusa para os
seres vivos, que os confundem com alimento

Esta atividade laboratorial acaba por comprovar aquilo que


observamos na experiência das plantas anteriormente
referida. Nesta, na planta regada com água e microplásticos,
conseguimos observar que, no seu solo, os microplásticos

65
não deixavam passar a água, funcionando como uma
barreira, já que estas partículas não se dissolvem na água.

66
2ª experiência:

objetivo: observação e identificação de microplásticos


numa amostra de areia

material utilizado:

- Legenda do material utilizado

- microscópio (1)
- lupa (2)
- 28 g de sal (3)
- vareta (4)
- colher (5)
- placa de petri (6)
- recipiente (7)

67
- proveta 100 ml (8)
- amostras de sedimentos recolhidos num local próximo da
escola (9)
- água (10)
- gobelé
- papel de filtro
- funil

protocolo:
1º - Com uma colher, dispor sedimentos numa placa de
Petri e observar a amostra ao microscópio.

- Observação dos microplásticos ao microscópio

68
2º - Colocar sedimentos numa placa de petri e observar
com uma lupa.

- Observação dos sedimentos com a lupa

3º - Colocar sedimentos num recipiente até perfazer 100


ml.

- Colocar areia no recipiente

69
- Recipiente com sedimentos de areia

3º - Adicionar 140 ml de água com uma proveta ao


recipiente.

- 140 ml de água na proveta

70
- Colocar os 140 ml de água no recipiente com sedimentos

4º - Fechar o recipiente e agitar bem.

código QR de um vídeo a agitar o recipiente

71
5º - Verter parte do líquido que está acima dos resíduos
sólidos para uma placa de Petri.

- Colocar o líquido na placa de petri.

6º - Observar ao microscópio o que está presente na placa.

- Observação ao microscópio

72
7º - Com uma colher, adicionar 28 g de sal ao recipiente e
voltar a agitá-lo.

28 g de sal

- Colocar o sal no recipiente

73
8º - Verter devagar o restante líquido que está acima dos
resíduos sólidos para um gobelé através de um funil com o
interior revestido de papel de filtro.
9º - Retirar o papel de filtro e o que este filtrou.
10º - Observar ao microscópio o papel de filtro.

- Observação de microplásticos no papel de filtro

74
- Explicação:
Iniciamos com um recipiente com água, onde lhe é
adicionado sal para a tornar mais densa e diminuir o espaço
intermolecular. Quando foi adicionada a areia em análise,
esta fica depositada no fundo do recipiente, e os seus
microplásticos separam-se e ascendem para cima da água.
Este fenómeno pode ser explicado pelo facto de, ao ser
adicionado sal na água, este irá conferir mais densidade a
esta solução. Como os microplásticos são menos densos que
a água e que a areia, perante estas condições, acabam por
ascender. Foi fundamental para a sua identificação a
utilização do papel de filtro, isolando estas estruturas.

- Praia poluída (Wikipedia)

75
- Conclusão:
Esta experiência é uma fiel representação daquilo que
acontece nos oceanos, podendo concluir que os
microplásticos encontram-se sempre em cima de todas as
soluções aquosas.
É com este tipo de atividades laboratoriais que realmente
tomamos consciência da amplitude da problemática dos
microplásticos, que se encontram muitas vezes presentes
em locais deveras inesperados e que aparentam estar
despoluídos.

76
3ª experiência:

objetivo: extração de microplásticos de cosméticos

material utilizado:
- solução de esfoliante (2 g de esfoliante com 400 ml de
água quente)
- sistema de vácuo
- filtros adequados ao tamanho dos microplásticos
- pinça

- Sistema de vácuo

77
protocolo:

1º - Colocar um filtro adequado no sistema de filtração.

2º - Pipetar 10 ml da solução de esfoliante no funil de


filtração.

- Pipeta com 10 ml da solução de esfoliante

3º - Ligar a bomba de vácuo.

- Sistema de vácuo a trabalhar

78
4º - Observar o filtro.

- Filtro com microplásticos

- Filtro com microplásticos

79
- Explicação:
O processo de remoção dos microplásticos foi facilitado
pela bomba de vácuo, que possui uma grande capacidade de
remover impurezas, e a utilização de um filtro, que permite
a separação das mesmas das outras substâncias presentes
no produto.

- Conclusão:
No final da experiência, foi possível analisar, no filtro da
bomba de vácuo utilizada, pequenos aglomerados de
microplásticos, anteriormente presentes nos artigos de
cosmética que foram sujeitos a esta atividade.
Mesmo que seja uma realidade inconcebível e
desconhecida para maior parte da população, pudemos
comprovar a presença de microplásticos em cosméticos e
produtos de higiene pessoal.
Com esta experiência, também nos foi possível
compreender de uma forma mais realista a quantidade de
microplásticos que realmente chega aos oceanos pelo
sistema de saneamento público, resultante do uso constante
destes produtos por quase todos os cidadãos.

80
4ª experiência:

objetivo: verificar a influência da salinidade na formação


de correntes marinhas

- correntes marinhas (Ciência TILT - UOL)

material utilizado:
- 2 gobelés.
- água da torneira
- sal
- 2 cubos de gelo
- corante vermelho
- caneta de acetato
- colher

81
protocolo:

1º - Adicionar 200 ml de água da torneira


a 2 gobelés.

2º - Colocar uma colher de sal num deles


e identificá-lo com uma caneta de acetato.

3º - Com uma colher, agitar bem até estar todo o sal


dissolvido.

4º - Colocar um cubo de gelo corado de vermelho em cada


gobelé e esperar que este derreta completamente

- Dois copos de precipitação com um cubo de gelo corado

82
5º - Observar o que acontece

- Gelo corado a derreter nos dois copos de precipitação

- Copo de precipitação sem sal a derreter

- Dois copos de precipitação com o gelo corado derretido

83
- Explicação:
Ao colocar o cubo de gelo na água salgada, a água libertada
pelo cubo (corada de vermelho) tem tendência a ficar à
superfície (formando uma camada), porque é menos densa
do que a que se encontrava no gobelé. Por outro lado, no
gobelé de água “doce”, apenas vai haver a influência da
temperatura da água. A massa fria que vem do gelo vai
afundar (ou seja, a cor vermelha vai ficar no fundo), o que
explica as correntes frias de profundidade encontradas.

- Conclusão:
Esta experiência serviu de explicação para os grandes
aglomerados de resíduos plásticos, as denominadas “ilhas
de plástico”.

A maior causa deste fenómeno são as correntes marítimas.


Nesta atividade laboratorial, a água a diferentes
temperaturas permite exemplificar as correntes de água fria
e de água quente, quer em águas fluviais ou marítimas.

As ilhas de plástico mais conhecidas são a Grande Mancha


de Lixo do Pacífico (Havaí - Califórnia) e o remoinho de lixo
do Atlântico Norte (Europa - América do Norte).

84
Ambos são compostos por uma grande quantidade de
plásticos, microplásticos e outros detritos flutuantes que se
acumulam nessas regiões devido maioritariamente às
correntes marítimas.

Como a ação destas correntes é estritamente natural e


fundamental para o funcionamento terrestre, é necessário
utilizar este exemplo de ilhas de plástico para a população
tomar consciência do desequilíbrio causado pela ação
humana e o seu excesso na utilização de plástico nas
indústrias e no quotidiano.

85
86
6
Visitas efetuadas

Nenhum de nós é especializado neste assunto e pouco


sabíamos sobre este no início do ano letivo, quando a
professora Tânia sugeriu o projeto. Todos nós
compreendemos então que a melhor forma de desenvolver o
livro seria ouvir e aprender sobre o tema a partir de pessoas
que realmente percebem e lidam constantemente com os
elementos ligados a este, como plástico, poluição, bactérias,
desenvolvimento de soluções, pesquisa e tantas coisas mais.
Assim sendo, fizemos algumas visitas que consideramos
importantes para um melhor desenvolvimento do livro e
maior compreensão do tema. Deste modo, realizamos 4 que
consideramos cruciais. Tendo sido já mencionadas 2 delas,
aqui fica o registo das restantes, que foram ambas no Porto,
mais especificamente, na Universidade Católica do Porto
(Escola Superior de Biotecnologia).

87
- visita à Escola Superior de Biotecnologia da
Universidade Católica do Porto

No dia 19 de dezembro de 2022, deslocamo-nos à


Universidade Católica do Porto. Quando chegamos lá,
dirigimo-nos à Escola Superior de Biotecnologia, para nos
encontrarmos com uma das suas professoras. Essa
professora seria a Dr.ª Irina Moreira (professora doutorada
em Biotecnologia pela Universidade Católica Portuguesa e
licenciada em Biologia pela Universidade do Porto) com a
qual tivemos a oportunidade de falar e questionar acerca da
temática. Explicamos-lhe o nosso projeto, colocamos-lhe
algumas dúvidas e esta demonstrou, desde o início, enorme
curiosidade e interesse por este, fornecendo-nos
informações e até a sua própria opinião no assunto. Após
uma longa conversa, a Drª guiou-nos pelos laboratórios,
explicando um pouco mais sobre o seu trabalho, pois, sendo
especialista na remoção de poluentes e na biodegradação de
contaminantes emergentes, existiam elementos em comum
nos nossos temas. Também nos demonstrou como é que
certos aparelhos podiam ser aplicados a experiências
relacionadas com o assunto, como incubadoras Shaker para
crescimento de bactérias, as quais podiam ser testadas mais
tarde para degradação de plásticos.

88
- Laboratórios da Universidade Católica do Porto

- Bactérias num laboratório na Universidade Católica do Porto

89
- Fotos tiradas na primeira visita à Universidade Católica do Porto

90
- 2ª visita à Escola Superior de Biotecnologia da
Universidade Católica do Porto

Esta segunda visita foi proporcionada pelo próprio Colégio


para a disciplina de Biologia. No início do dia, fizemos e
vimos algumas atividades relacionadas com o nosso tema,
(uma das razões pela qual estávamos tão ansiosos por esta
visita). Depois de uma breve apresentação sobre
microplásticos e o seu contributo para o gigante problema
que é a poluição, seguimos para as experiências (as quais
foram realizadas e explicadas no capítulo “Experiências
Realizadas”):
→ influência da salinidade na formação de correntes marinhas

→ procura de microplásticos em amostras de sedimentos

→ filtração de microplásticos presentes em cosméticos (solução

esfoliante)

91
- Fotos tiradas na 2ª visita à Universidade Católica do Porto

92
7
Conclusão
Apesar de algumas opiniões divergentes, é irrefutável que
os microplásticos apresentam uma ameaça gigante para
todas as facetas de funcionamento do planeta Terra. O que
é certo é que, como foi explorado ao longo deste livro, não
faltam soluções que, não resolvendo a totalidade do
problema, auxiliam numa atenuação do mesmo, sendo a
implementação destes mais que necessária.
Ao longo deste trabalho, acabamos por perceber que o que
falta não é progresso científico constante e produção de
novas ideias, mas sim vontade e ambição para executar
estas mesmas soluções.
Tendo isto em conta, cabe aos governos de todas as nações,
apesar dos diversos interesses económicos, priorizarem o
próprio ambiente em que habitam.
Cabe às indústrias, apesar de diversas poupanças e
convenientes associados à poluição, sobrepor o bem estar
do planeta e caminhar para uma produção mais verde.
E cabe a todos nós, como cidadãos, termos um
comportamento sustentável, sendo que, na maior parte das

93
vezes, este é adotado por pequenos hábitos ou recusa de
certos materiais, não se tornando difícil ou dispendioso.
Com este livro aprendemos muito enquanto habitantes
deste mundo. Aprendemos que os seus recursos são finitos
e limitados e que temos de respeitar aquilo que o nosso
planeta nos dá. Assustamo-nos e ficamos sem palavras para
os problemas que as nossas gerações futuras vão
ultrapassar, causadas pelo nosso egoísmo, ganância e
ambição desmedida. Estamos a erradicar a qualidade de
vida dos nossos futuros filhos, netos, bisnetos, etc. e,
verdadeiramente, estamos a matar o nosso planeta, aquele
nos acolheu e protegeu sempre durante toda a nossa vida.

É possível mudar, basta o mundo querer.

Mais altruísmo.
Mais solidariedade.
Mais amor.

Não somos dignos da Terra…

94
The greatest threat to our planet is the belief
that someone else will save it.
- Robert Swan

95
96
8
Agradecimentos
A execução deste livro não seria possível sem o
conjunto de pessoas a seguir apresentados, que merecem os
devidos agradecimentos:

- À Professora Tânia Cardoso e ao Colégio


Didálvi, por sugerir o projeto e a realização deste livro e
por nos ter proporcionado uma segunda visita à
Universidade Católica, onde mais aspetos do nosso tema
foram abordados.

- À Drª Irina Moreira, pela sua amabilidade e


disponibilidade para nos ajudar com dúvidas, fornecimento
de teses e até a uma primeira visita à Universidade Católica,
onde tivemos a oportunidade de conhecer os laboratórios do
estabelecimento.

- À Universidade Católica e aos seus docentes,


pela informação na visita e pelas responsáveis que nos
tiraram dúvidas extra e nos demonstraram outra

97
experiência relacionada com o nosso projeto.

- Às responsáveis do Groupe GM (mais


especificamente, à Sra Maria Lobo Maia), por nos terem
ajudado a produzir o sabonete como produto do nosso
projeto e por toda a assistência ao longo da realização do
mesmo.

- Às nossas famílias, que se disponibilizaram para


nos transportar onde precisávamos quanto tal não era
exequível com recurso a transportes públicos.

- À Sra Diana Nogueira, que, sendo experiente


nesta área, nos disponibilizou várias teses e documentação
científica que nos ajudou a aumentar o rigor científico deste
livro.

- À Sra Deolinda Falcão, que se demonstrou


disponível para dar contactos e ajudar em visitas quando foi
necessário.

- À equipa Recuplás, pelo acesso e visita às suas


infraestruturas e pela constante simpatia e disponibilidade,

98
fornecendo informações a nível prático de grande
valor para este projeto.

99
100
9
Bibliografia
- BOTELHO, M. J., Silva, T. F. S., & Costa, M.
F. (2018) - “Microplastics in marine environment: a review
of the emerging threats, identification of knowledge gaps
and prioritization of research needs in Portugal”

- BESSA, F., Barría, P., Neto, J. M., Frias, J. P.


G. L., & Sobral, P. (2019) - “”Microplastics along a
coastal gradient in the North Atlantic: using lagrangian
simulations to track pathways of plastic pellets in surface
waters.”

- CORREIA, M., Ferreira, J. L., Ramos, T. B.,


& Fernandes, T. (2019) - “Microplastics in the Atlantic
and Arctic Oceans: implications for marine ecosystems and
food webs. Marine Environmental Research”

- DANTAS, D. V., Barletta, M., Costa, M. F., &


Duarte, A. C. (2018) - “The present and future of

101
microplastic pollution in the marine environment.
Marine Pollution Bulletin”

- GAGO, J., Carretero, O., Filgueiras, A. V., &


Vinas, L. (2019) - “A review on microplastic
contamination, Implications for organisms and ecosystem
processes”

- OLIVEIRA, M., & Ribeiro, T. (2018) -


“Microplastics in coastal sediments from the Portuguese
central west coast”

- CASTANETA, Grover; GUTIERREZ, Abel F;


NACARATTE, Fallón y MANZANO, Carlos A. -
“Microplásticos: un contaminante que crece en todas las
esferas ambientales.”

- MONTNAGER, Cassiana C -
“MICROPLASTICS: ENVIRONMENTAL OCCURRENCE
AND ANALYTICAL CHALLENGES”

- FERREIRA, C. S. S., Ramos, T. B., & Pereira,


M. F. R. (2018) - “Microplastics as vectors of pollutants in

102
aquatic environments: a review. Marine Pollution Bulletin,
133, 79-90"

- PEREIRA, S. S., Silva-Correia, J., Oliveira,


M., & Sousa, R. A. (2019) - “Presence of microplastics in
water, sediment, and fish from a river basin in northern
Portugal” - Universidade do Minho.

- SILVA, C. J., Cunha, S. C., & Fernandes, J. O.


(2019) - “Microplastics in fish from the North Atlantic: a
case study with commercially important species from
Portugal.”

103
104
Daniel Campinho, Francisca Silva,
Joana Falcão e Sofia Simões

105
106

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