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ST6 – Gênero, Mulheres e Representação Política

PERFIL DAS DEPUTADAS FEDERAIS DA REGIÃO SUDESTE ELEITAS EM


2018
Alana Carolina Kopczynski 1
Alexandra Lourenço2

Palavras-chave: Gênero; Mapeamento; Representatividade política.


O presente estudo tem como objetivo o mapeamento dos perfis das candidatas a
deputada federal eleitas em 2018 na região sudeste do Brasil, bem como a análise desses
dados buscando problematizar, a partir da análise de gênero como categoria histórica, a
disparidade na ocupação das cadeiras entre homens e mulheres na Câmara dos Deputados.
Os dados foram coletados no Portal da Câmara dos Deputados.
As conquistas das mulheres no âmbito político e representativo são recentes, como
por exemplo a conquista do voto feminino no Brasil em 1932 resultado de incessantes e
árduas movimentações internacionais e nacional das mulheres em busca do direito ao
voto, mas mesmo sendo um passo importante para emancipação das mulheres ainda
estava longe de alcançar a paridade de gênero, pois o voto, além de ser facultativo era
restrito a uma categoria específica de mulheres (ALVES, 2016, p. 160).
Só em 1946 é que o voto foi instituído como obrigatório a todas as categorias de
mulheres, enquanto homens já eram maioria na ocupação de espaços de poder. Portanto,
percebe-se que há um grande déficit histórico na participação ativa em espaços de
representação política entre homens e mulheres.
Essa pesquisa busca discutir a disparidade na ocupação das cadeiras da Câmara
com base na perspectiva de gênero, ou seja, a partir de uma análise dos papeis sociais
estabelecidos à homens e mulheres ao longo de processos histórico. Foram coletados os
dados através do Portal da Câmara dos Deputados referentes ao perfil das 28 deputadas
federais que foram eleitas na região sudeste do Brasil no ano de 2018, referente à 56º
legislatura. Neste perfil consideramos a faixa etária, naturalidade, nível educacional, raça,
profissão anterior ao primeiro mandato e partido político ao qual estavam vinculadas.
De 565 deputados eleitos no ano de 2018, 84 são mulheres, somando 15% da
totalidade de deputados federais eleitos no Brasil, toda via, elas compõem
aproximadamente 52% da população brasileira (PNAD, 2010) e 44% do eleitorado

1
Graduanda em História na Universidade Estadual do Centro-Oeste, e-mail: alanacmk@gmail.com
2
Doutora em Ciência Política pela Universidade Nova de Lisboa, e-mail: alels1@hotmail.com
brasileiro (BRASIL, 2017, s/p). Essas estatísticas representam que espaços públicos de
poder, como o campo político, ainda são ocupados majoritariamente por homens.
O sociólogo Pierre Bourdieu, problematiza a questão da naturalização da
determinação dos espaços ocupados por homens e mulheres a partir de uma construção
histórica e social, mas que permeiam a visão social subjetiva e atribui a esse sistema a
ideia de ordem social,
a ordem social funciona como uma imensa máquina simbólica que
tende a ratificar a dominação masculina sobre a qual se alicerça: a
divisão sexual do trabalho, distribuição bastante estrita das atividades
atribuídas a cada um dos sexos, de seu local, seu momento, seus
instrumentos; é a estrutura do espaço, opondo o lugar de assembleia ou
de mercado, reservados aos homens, e a casa reservada as mulheres
(BOURDIEU, 2017, p. 24)

Essa divisão sexual faz parte de esquemas de pensamento (BOURDIEU, 2020, p.


22), e, portanto, adquirem legitimação desses papeis, inclusive da dominação masculina
sob corpos femininos construída social e historicamente participando, como cita
Bourdieu, de uma ordem social.
A socióloga Heleith Saffioti afirma que as “as mulheres são “amputadas”,
sobretudo no desenvolvimento do uso da razão e no exercício do poder. Elas são
socializadas para desenvolver comportamentos dóceis [...] (SAFFIOTTI, 2015, p. 37) e
homens são socializados e estimulados ao exercício da virilidade, força, agressividade e
a racionalidade, isso ao longo da história e devido aos fatores culturais e sociais da divisão
dos papeis associados ao homem e a mulher.

Resultado dos dados obtidos


Na Região Sudeste, de acordo com dados disponibilizados pelo Tribunal Superior
Eleitoral, 31% das candidaturas de 2018 para o cargo de deputado federal eram de
mulheres e desse total 57% eram mulheres brancas, 26% pardas, 16% pretas e 1%
corresponde às mulheres amarelas e indígenas. Com relação às mulheres eleitas nessa
região no mesmo ano, elas ocupam 15% do total de cadeiras na Câmara dos Deputados,
um número pouco significativo para a representatividade feminina no parlamento, tendo
em vista que deputadas brancas representam 57% do total de mulheres eleitas, enquanto
as mulheres pretas e pardas representam 28% e 14% respectivamente.
Essa questão está relacionada a história de opressão e exclusão sofrida pelas
mulheres pretas ou não-brancas, Lélia Gonzales que é antropóloga, filósofa e professora
exemplifica a condição da mulher negra no Brasil:
Quanto a mulher negra, que se pense em sua falta de perspectivas
quanto à possibilidade de novas alternativas. Ser negra e mulher no
Brasil, repetimos, é ser objeto de tripla discriminação, uma vez que os
estereótipos gerados pelo racismo e sexismo a colocam no nível mais
alto de opressão (GONZALES, 2020, p. 59)

Dentre os quatro Estados que compõe a região Sudeste no Brasil, Minas Geais ocupa o
primeiro lugar entre os Estados com menor representação feminina no campo da política,
somando 7% das cadeiras, seguido por São Paulo com 15% das cadeiras ocupadas por mulheres,
seguido por Rio de Janeiro e Espirito Santo que somam 19% e 25% respectivamente.
Sobre a faixa etária 7% das mulheres possui entre 25 e 30 anos, 28% das mulheres
possuem entre 31 e 40 anos, 18% possui entre 41 e 50, 25% possui entre 51 e 60 anos, 14% possui
entre 61 e 70 anos e 4% somam as mulheres entre 71 e 80 anos, bem como 4% mulheres com
mais de 81 anos. A deputada mais nova é Tabata Amaral (PDT – SP) com 27 anos e no seu
primeiro mandato como deputada federal, a deputada eleita mais idosa é Luiza Erundina (PSOL
– SP) com 86 anos e no 6º mandato como deputada federal.
Dos dados coletados de 28 mulheres apenas 7% possuem o nível educacional até o ensino
médio, enquanto 93 % possuem o Ensino Superior completo, visto que o nível educacional é
fundamental para o bom exercício do cargo.
A naturalidade das deputadas se concentra majoritariamente na região Sudeste (85%),
seguido pela região Sul (7%) e Norte e Nordeste somando 4% cada. Das 28 deputadas 11 são
naturais do Estado do Rio de Janeiro, 8 são do Estado de São Paulo, 3 são do Espirito Santo, 2 de
Minas Gerais, 2 do Paraná, 1 de Paraíba e 1 do Pará.
Das 28 deputadas 7 eram advogadas antes de assumir o mandato, outras 7 eram servidoras
públicas, 4 eram professoras, 2 eram cantoras evangélicas. E 6 delas estão divididas cada uma
como médica, arquiteta, gerente de projetos, escritora, ativista e técnica-administrativa.
Para análise da classificação do espectro ideológico dos partidos das deputadas eleitas as
pesquisadoras, a partir de leituras sobre, utilizaram 3 perspectivas: a primeira delas é baseada na
pesquisa de Tarouco e Madeira (2015) que desenvolvem a classificação a partir da análise dos
cientistas políticos Wiesehomeier e Benoit e, conjuntamente, o uso dos resultados obtidos do
encontro da Associação Brasileira de Ciência Política (2010) (MACIEL; ALARCON;
GIMENES, 2017). Outra perspectiva adotada para a caracterização foi a análise a partir da
atuação dos parlamentares, bem como seus posicionamentos na votação das pautas na Câmara
dos Deputados (SCHEFFER, 2018); a terceira perspectiva adotada foi com relação aos partidos
que não foram citados nas pesquisas acima, nesse caso o critério adotado para a classificação foi
a consulta ao histórico do partido, bem como seus posicionamentos.
Dado isso, 54% dos partidos são clafissicados como de direita (PSL, PSC,
REPUBLICANOS, DEM, NOVO, PL, PSD e PROS), 32% de esquerda (PT, PC do B, PSOL,
PDT e PSB) e 14% classificados como centro (MDB, PODEMOS, PSDB e AVANTE).

Conclusão
Não é razoável que mulheres ainda ocupem espaços como minoria sendo que
constituem pouco mais que a metade da população brasileira, mas reconhecendo esse
fenômeno como resultado de processos históricos baseados na hierarquia das relações
entre homens e mulheres, bem como nas relações generificadas que promovem a divisão
dos papéis sociais entre os sexos.
Em 2009 houve uma reformulação na legislação brasileira que prevê a cota
partidária de gênero de 30% nas candidaturas do sistema proporcional. Era uma forma de
reconhecimento da necessidade de buscar formalmente, políticas de incentivo a maior
igualdade de representação de gênero. Afinal, “as estratégias de discriminação positiva
[...] são explicitamente elaboradas para beneficiar mulheres como um estágio temporário
até que a paridade de gênero seja atingida nos órgãos legislativos e eletivos” (NORRIS,
2013, p.19).
Atualmente existem diversos movimentos e organizações sociais que buscam
socializar, estimular e fortalecer a categoria de mulheres no campo da política, seja
através de financiamento de campanha, seja através de cursos direcionados, informativos
e etc., alguns deles são: Instituto Alzira, Instituto Marielle Franco, Elas no Poder, Me
Farei ouvir e diversos outros. A representação feminina no campo político é de suma
importância, uma vez que as demandas relacionadas as mulheres sejam levantadas e
defendidas.

Referências
ALVES, Elizete Lanzoni. Mulher e sua Efetiva Participação Política no Estado
Democrático de Direito. Resenha Eleitoral, Florianópolis, v. 20, n. 1, p. 153-169, 2016.
BOURDIEU, Pierre. A Dominação Masculina. 18. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2020.
BRASIL, Tribunal Superior Eleitoral. Participação feminina na política é tema de
debate promovido pela Escola Judiciária Eleitoral (EJE/TSE). S/p, 30 mar. 2017.
Disponível em: <https://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2017/Marco/participacao-
feminina-na-politica-e-tema-de-debate-promovido-pela-escola-judiciaria-eleitoral-eje-
tse>. Acesso em: 18 fev. 2021.
CÂMARA DOS DEPUTADOS DO BRASIL. Disponível em: <http://
https://www.camara.leg.br/deputados>. Acesso em 18 de fevereiro de 2021.
GONZALES, Lélia. Por um feminismo afro latino americano. 1. ed. Rio de Janeiro:
Zahar, 2020.
MACIEL, Ana Paula Brito; ALARCON, Anderson de Oliveira; GIMENES, Éder
Rodrigo. Partidos políticos e espectro ideológico: parlamentares, especialistas, esquerda
e direita no Brasil. Revista Eletrônica de Ciência Política, [s. l.], v. 8, n. 3, 2017.
NORRIS, Pippa. O recrutamento político. Revista de Sociologia e Política, Curitiba, v.
21, n. 46, p. 11-32, 2013.
IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), 2010. Disponível em:
https://www.ibge.gov.br/. Acesso em 24 de fevereiro de 2021.
SCHEEFFER, Fernando. A Alocação dos partidos no espectro ideológico a partir da
atuação parlamentar. E-legis, Brasilia, n. 27, p. 119-142, 2018.
SAFFIOTI, Heleith. Gênero Patriarcado Violência. 2. ed. São Paulo: Expressão Popular,
2015.

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